Nos dois primeiros dias, Harry apenas pensou que deveria dar um espaço de tempo a Louis para que pensasse no que sentia e no que tinha feito. Não somente no beijo, mas aquilo envolvia um grau de ponderamento muito maior do que uma atração física movida pela curiosidade: ele realmente procurou por Harry justamente quando o moreno alto o tinha claramente dispensado. Styles não queria pressionar, sabia como era se sentir daquele jeito, embora sua sexualidade sempre tivesse sido muito clara pra ele, mas lembrava dos anos em que realmente queria fugir daquilo. Sua adolescência havia sido um inferno em termos de aceitação, pois ele queria qualquer coisa, menos aquele sentimento de não pertencer.
Em compensação, seu problema terminava aí. Mas não o de Louis. Tomlinson era recém casado, provavelmente cheio de planos e não parecia que aquela havia sido uma relação curta. Não sabia da história dele com Eleanor, mas só de imaginar que ele tomou a decisão de firmar um compromisso sério com ele, ela certamente não era qualquer uma em sua vida e Harry tinha um sentimento forte indicando que precisava desesperadamente respeitar aquilo.
Tentava desanuviar seu pensamento, concentrar-se no fato de que sua irmã Gemma estava chegando à cidade com a sobrinha de Harry: ele era padrinho da menina e ela insistiu para passar seu aniversário com o tio. Estava na floricultura e olhou no relógio percebendo que era hora do almoço. Ele não queria ligar para Louis, mas não estava mais aguentando a falta de notícias. Aquele era o terceiro dia sem nenhuma palavra de Tomlinson e, todas as vezes que pensava nele, sentia seu estômago revirar-se de ansiedade.
Olhou novamente para o relógio e decidiu pegar o lírio azul que tinha no canto da loja e fazer uma surpresa para Louis, precisava vê-lo, precisava olhar em seus olhos e ter certeza se aquilo era o começo ou o começo do fim. Estava inquieto, simplesmente não aguentava mais.
Entrou no carro colocando o lírio no banco do carona e dirigindo até o centro comercial onde sabia que Louis trabalhava. Claro que o trânsito estava caótico, mas ele já estava tão acostumado com aquela bagunça no centro de Londres que deixou de se importar. Não demorou muito para chegar, mas demorou cerca de dez minutos apenas para achar uma vaga para estacionar.
Quando entrou no prédio onde haviam vários escritórios, ele se deu conta de que não fazia a menor ideia de onde Louis poderia de fato trabalhar. A recepcionista central do prédio olhava pra ele ao lado do segurança e sorriu ao vê-lo carregando uma flor. Ele se aproximou sorrindo sem jeito e ela achou que, quem quer que fosse que aquele homem estava procurando, era uma mulher de sorte.
- Bom dia. – Ele disse simpático. – Eu gostaria de ver Louis Tomlinson. – O sorriso dela não desapareceu, mas diminuiu. Ela arqueou as sobrancelhas pensando mesmo que estava bom demais para aquele homem ser hétero.
- Claro, só um momento. – Ela respondeu fazendo uma breve consulta em seu computador. – Ele está no oitavo andar, sala seis.
- Obrigado. – Ele sorriu mostrando as covinhas e ela pareceu sofrer ainda mais.
Harry pegou o elevador e em poucos minutos já estava no andar correto e buscando o número da sala de Louis. As pessoas passavam por ele apressadas, algumas olhavam sem dar atenção, mas outras realmente o encaravam e, em seguida, prestavam atenção no singelo vaso com uma única flor que ele carregava. Ele sentiu correr em seu corpo aquela vontade de ver Louis e poder beijá-lo de novo. Assim que chegou na sala correta, viu o nome de Louis na porta entre-aberta.
- Oi. – Ele disse ao ver Louis em pé perto de sua mesa. O homem arregalou os olhos azuis surpresos ao ver Harry ali.
- Harry! – Assim que Styles abriu mais a porta, ouviu a voz de Eleanor, que entrou em seu campo de visão no momento em que ele deu o primeiro passo para dentro da sala. – Lírios!
- É. – Harry disse um pouco chocado, sentindo-se absolutamente inconveniente, mas disfarçou.
- São minhas flores preferidas. – Ela disse mas Styles já sabia. Ela se aproximou mais e deu um beijo na bochecha dele tirando o vaso de suas mãos. – Azul... – Ela comentou olhando Louis. – Amor, você sabe o que lírios significam?
- Não, eu não sei. – Louis pigarreou com um sorriso montado olhando pra ela.
- Harry? – Ela perguntou a Styles que, instintivamente respondeu olhando para Tomlinson.
- Significam "eu te desafio a me amar". – Harry disse e Eleanor fez um comentário qualquer que ele não prestou atenção, apenas focou no fato de que Louis parecia petrificado olhando pra ele, assustado até.
- Gentil da sua parte ter trazido. – Eleanor continuou.
- São para Louis, mas já que gosta tanto, tenho certeza que ele não vai se importar em repassar o presente. – Harry disse educado e viu o belo sorriso da moça se abrir.
- Não precisa, acho que vai ficar muito melhor aqui no escritório, assim ele pode lembrar de mim toda vez que olhar! – Ela disse colocando a flor na mesa de Louis, ao lado da planta carnívora.
- Obrigado, Harry. – Louis disse baixinho, sem jeito com a situação. Styles não respondeu nada.
- Harry, acho ótimo que esteja aqui. – Eleanor disse voltando sua atenção ao homem de cabelos longos. – Estou indo à trabalho para Amsterdã por cerca de três ou quatro dias, talvez mais. – Ela explicou e Louis se aproximou dela tocando-a no ombro, como se quisesse interrompê-la, sabendo perfeitamente o que ela iria dizer. – Eu realmente não posso cancelar ou deixar de ir, foi de última hora. Louis e eu compramos ingressos para essa peça de teatro no centro e ele está louco pra ir! – Ela continuou e Louis apenas massageou as têmporas olhando pela janela. – Quem sabe você poderia ir com ele no meu lugar, assim ao menos não será um desperdício...
- Ahn... – Harry disse olhando para Louis que não parecia ter coragem de encará-lo. Eleanor tinha uma certa expectativa no olhar e Harry achou que ela realmente tinha jeito de quem de convencia as pessoas a fazer tudo que ela quisesse. – É claro. Seria um prazer... – Ele respondeu recebendo um sorriso aberto da mulher. – Se você quiser, Louis, é claro.
- Por mim, está ótimo. – Tomlinson respondeu incerto e, recebendo um abraço da esposa, ele olhou Harry que virou o rosto, preferindo não ver a cena.
- Maravilhoso! Te vejo em casa, então? – Ela disse falando com Louis.
- Claro, até mais tarde. – Ela tentou dar um selinho nele, mas Louis virou o rosto recebendo um beijo na bochecha. Ela não pareceu se importar, mas Tomlinson realmente não sentia-se confortável mais em fazer aquilo na frente de Harry.
- Obrigada, Harry. – Ela abraçou Styles rapidamente.
- Não há nada que agradecer. – "Não há nada mesmo", pensou Harry ao retribuir o abraço.
- Tchau pra vocês. – Ela deixou a sala quase saltitando deixando os dois sozinhos. No momento em que a porta bateu o silêncio tomou conta por breves segundos.
Louis aproximou-se de Harry e percebeu que não havia nada naquele homem que ele não gostasse. A situação era estranha mas ao mesmo tempo, ele tinha aquele sentimento de que não havia nada que ele pudesse fazer a respeito. Ficou três dias concentrado no trabalho, mas aquela maldita planta em seu escritório o fazia lembrar-se de Styles a cada milésimo de sua existência. E agora, com ele bem ali à sua frente, não conseguia pensar em nada que não fosse beijá-lo de novo, mesmo sabendo que era a coisa mais errada que poderia acontecer.
- Como está? – Harry perguntou inseguro, colocando as mãos nos bolsos de trás do jeans.
- Confuso. – Louis foi sincero e Harry estava surpreso com aquela resposta. Não imaginou que ele fosse realmente responder a verdade, talvez um "bem, e você?" fosse menos pesado, mas no entanto Louis deu outro passo na direção dele.
- Eu sei, eu imaginei. – Harry respondeu baixinho. – Eu sei que precisa de um tempo pra pensar e eu quero respeitar isso, eu só estou aqui hoje porque... – "Queria mais do que tudo no mundo te ver e saber como você está lidando com tudo", mas isso ficou apenas no pensamento de Harry. – Porque queria deixar claro que está tudo bem entre a gente e eu não tenho intenção de atrapalhar seu casamento.
- Você não atrapalha em nada. – Louis disse com um sorriso de canto. – Pelo contrário...
- Não queria te deixar confuso. – Harry disse apesar de ter gostado de ouvir aquilo. – Louis, eu não sou esse tipo de cara que faz isso.
- Eu sei. – Louis disse abrindo ainda mais o sorriso. – Deu pra perceber que não é.
- O que quer fazer? – Harry perguntou um pouco tímido, percebendo que Louis o achou meio amador quando se tratava de relacionamento.
- O que VOCÊ quer fazer? – Para surpresa de Harry, Louis deu a entender que aquilo de alguma forma estava nas mãos de Harry.
- Eu? – Styles sorriu mais aberto. – Eu sou solteiro, Louis. Eu sou gay e bem resolvido com isso... – Ele fez uma pausa e Louis baixou os olhos por um segundo achando que realmente não era justo deixar que Harry lhe desse as respostas. – Eu sei o que eu quero... – Foi a vez de Harry dar um passo na direção do outro, estavam a poucos centímetros de distância. – E você? Sabe?
Louis não respondeu de imediato, apenas encarou aqueles olhos verdes esperando que alguma solução lhe caísse do céu ou simplesmente porque era uma das coisas mais lindas que existia se perder naqueles mares verdes cercados por cabelos bagunçados e ao mesmo tempo tão certos no lugar. Ele nunca se sentiu daquela forma por ninguém, achou que tinha se apaixonado muitas vezes e sabia como lidar com o sentimento, mas aparentemente quando ele pensou ter todas as respostas, a vida literalmente mudou todas as perguntas.
- Eu gostei de te beijar. – Louis disse e Harry segurou o sorriso, ficou sem graça e encarou os próprios pés deixando seus cabelos caírem nos olhos. – Foi bom.
- Bom como? – Harry perguntou e sutilmente segurou um dos dedos das mãos de Louis, acariciando as pontas e, aos poucos, subindo mais até quase entrelaçar seus dedos nos dele. – Bom assim tipo "ok, matei a curiosidade" ou bom tipo "quero de novo"? – Styles perguntou olhando para a boca de Louis e se aproximando cada vez mais, vendo que ele apenas sorria, roçando seu nariz no dele.
- Eu não tenho certeza, acho que precisamos fazer mais uma vez pra eu confirmar. – A voz de Louis era sussurrada, ele sentia a respiração de Styles tocar seu rosto conforme ele abaixava-se devagar para alcançar sua boca devido a diferença de altura.
Faltando milímetros para que seus lábios se tocassem, uma batida na porta do escritório de Louis fez os dois se afastarem como se não se conhecessem. Harry respirou fundo com o susto, quase sentiu seu coração sair atravessando seu peito. Tomlinson, por sua vez, paralisou por poucos segundos passando uma das mãos pelo rosto.
- Entre. – Ele disse pigarreando, ajeitando a postura e tentando manter a feição séria.
- E aí, Louis. – Niall entrou ajeitando a gravata e olhou para Harry surpreso. – Olá, como vai? Desculpe, não sabia que estava com clientes, Louis.
- Niall, este é Harry Styles. – Louis sorriu apresentando-os no momento em que os dois trocaram cumprimentos. – Hazza, esse é meu supervisor, Niall Horan.
- Só vim avisar que a reunião da uma hora vai começar em quinze minutos e eu preciso que esteja lá. – Niall disse olhando para Louis, mas já se preparando para sair.
- Estarei lá. – Louis respondeu tranquilo, fingindo que não tinha esquecido daquilo mesmo que reunião alguma lhe passasse pela cabeça.
- Prazer, Harry. – Niall disse já se retirando.
- Igualmente. – Styles respondeu educado e, assim que o loiro fechou a porta, ele sorriu para Louis que quase gargalhou.
Os dois voltaram a se aproximar e então Harry percebeu que era sua deixa para ir embora, afinal percebeu que Louis estava ocupado. Ele respirou fundo e Tomlinson apenas continuava encarando-o como se perguntasse a si mesmo o que estava acontecendo em sua cabeça já que não conseguia parar de pensar naquele homem.
- Eu vou indo então. – Harry disse sorrindo feliz o suficiente porque ao menos tinham planos de verem-se novamente. – Me ligue pra falar sobre esse negócio de teatro.
- Pode deixar. – Louis disse tocando as pontas dos cabelos de Styles sobre seus ombros. – Tem certeza que quer ir?
- Com você? – Harry sorriu perguntando. – Qualquer lugar. – Ele complementou pensando que deveria sair correndo dali antes que trancasse a porta e jogasse Louis em cima da mesa o fizesse até mesmo esquecer seu nome.
Ele tentou se afastar, mas Louis o segurou pela mão, fazendo seus corpos voltarem a se aproximar, Styles apenas riu sentindo-se um completo adolescente pela forma com que Louis não tirava os olhos dele. De maneira não tão inesperada assim, porque ele até já estava imaginando aqui, Tomlinson o segurou pelo queixo e ficou na ponta dos pés beijando-o mais calmo dessa vez, sentindo a textura de seus lábios e deixando que a língua quente do outro invadisse sua boca. Os movimentos eram tão calmos e sutis que Louis soube naquele momento que não havia mais como voltar atrás naquele magnetismo criado entre os dois, aquela atração vinda de lugar nenhum mas que parecia não estar deixando nada passar.
Suas bocas quase funcionavam como imã, como se fosse necessária uma força especial para que se soltassem. A forma carinhosa com que Styles beijava os lábios molhados de Louis deixava transparecer todo aquele amor crescendo dentro dele, aquela paixão enlouquecedora que ele sabia que valeria qualquer esforço para se fazer total e completa. Ele desceu os lábios para morder o queixo de Tomlinson e seu pescoço, sentindo seu cheiro e o gosto de sua pele, o segurava pela cintura cada vez mais apertado e percebia que ele retribuía seu abraço, entregando-se aos poucos àquela sensação que não era apenas demonstrada fisicamente, mas também que ele alimentava mesmo com seu cérebro dando voltas e lhe repetindo inconscientemente o quanto aquilo era errado e não deveria estar acontecendo.
Harry mordia a orelha de Louis e sentia que estava perdendo o controle sobre quando de fato deveria parar, não apenas devido a situação de ambos, mas também pelo lugar onde estavam. O problema é que a cada segundo que passava, aquilo estava se transformando em algo cada vez mais difícil de segurar, impedir e principalmente evitar.
- Você é o homem mais lindo que eu já vi. – Harry sussurrava no ouvido do outro enquanto beijava seu pescoço e sentia Louis puxar seus cabelos como se quisesse controlar como queria ser tocado.
- Você está me enlouquecendo... – Louis mal conseguia falar. Apenas afastou a boca de Styles para longe de si e pensou no quanto aquela parte específica do corpo do outro era capaz de fazê-lo sentir-se tão excitado. Olhou para sua própria cintura e aquilo de certa forma o assustou e Harry percebeu.
- Desculpe, eu sei que precisa pensar sobre isso. – Harry disse falando baixo e tentando fazer o oxigênio voltar a circular em sua cabeça. – Sei que estar com um homem é algo que provavelmente nunca passou pela sua cabeça. – Ele finalizou compreensivo dando um beijo na testa de Louis. – Mas estou pronto quando estiver.
Louis o viu se afastando aos poucos, queria dizer que amava o toque de suas mãos grandes, seu cheiro, o jeito como ele o beijava e principalmente a devoção que demonstrava ao olhar pra ele.
- Eu te ligo. – Foi a resposta dele ao ver Harry andando devagar até a porta, de costas, ainda sem tirar os olhos dele.
- Vou esperar. – Harry disse trocando um último olhar com Louis e enfim saindo da sala fechando a porta atrás de si.
Louis apoiou-se em sua mesa encarando seu reflexo no vidro da janela que tinha em sua sala e, por mais que estivesse rindo pra si mesmo, sabia muito bem o tamanho do rolo em que estava se metendo.
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- Eu acho que isso realmente não está bom. – Liam dizia falando com Zayn em seu escritório enquanto ambos olhavam para a tela do computador. Um dos estagiários montou a plataforma de um site para uma empresa que vendia sapatos. – Quer dizer, esse menu de escolhas não está bom, não é prático.
- Bem, eu até concordo, porém acho que não vamos ter tempo de pedir que esse projeto seja refeito. – Zayn respondeu sentando-se na mesa de Liam de frente pra ele.
- Eu posso fazer eu mesmo, arrumar essa parte. – Liam ofereceu-se. – Eu não me importo.
- Nossa, você realmente está determinado. – Zayn respondeu estudando a expressão facial de Liam, que parecia mesmo ser um cara exigente no trabalho.
- Esse site é de sapatos femininos. – Liam disse rindo. – E de mulher, eu entendo. – Ele disse com um ar prepotente. Zayn cruzou os braços e apenas riu.
- Ah é mesmo? – Malik provocou. – E por que está solteiro?
- Justamente porque eu não sou o cara que se apega, entende? – Liam disse levantando-se, ficando de frente para o outro, como se estivesse explicando algo importante para alguém. – Eu gosto de aventuras, eu pego mas não me apego. – Payne usou a clássica frase dos homens cafajestes.
- Sei. – Zayn disse não dando muita credibilidade.
Malik levantou-se e Liam apenas o observou por alguns segundos. Zayn parecia tratá-lo como se ele fosse um adolescente que precisava provar para os amigos que pegava um número muito maior de mulheres como se isso fosse algum tipo de atestado de masculinidade.
- E quanto a você? – Liam perguntou como se quisesse prolongar o assunto. – Você é solteiro?
- Sou. – Zayn respondeu ajeitando alguns de seus arquivos de cima da mesa que havia trazido para mostrar a Liam. E não respondeu mais nada, Liam apenas olhava pra ele esperando que ele continuasse conversando.
- E por que? – Liam tinha esse problema em simplesmente não calar a boca justamente quanto tinha um brecha da outra pessoa. Ele circulou sua mesa e ficou ainda mais próximo de Malik. – Não encontrou a mulher ideal ou também está curtindo a vida?
- Não acredito que vou encontrar qualquer idealidade em mulher alguma, Payne. – Zayn riu respondeu à pergunta de maneira divertida. Liam obviamente não entendeu o contexto subjetivo por trás do gênero naquela resposta.
- Eu te entendo. – Liam disse e Zayn realmente pensou que não, ele não entendia, mas resolveu não interromper. – Eu já cheguei a pensar que realmente se eu gostasse de homem, talvez a vida seria mais fácil. – Payne disse rindo, em tom de piada e Zayn quase gargalhou.
- Não, sua vida não seria mais fácil. – Malik foi convicto. – Acredite.
- Não se preocupe, não acho que eu seja gay ou algo do tipo. – Liam disse brincando.
- Não estou preocupado. – Zayn disse olhando para Liam de canto e ainda sustentando o sorriso.
Malik sempre soube entender bem o que as pessoas queriam e meias-palavras funcionavam muito bem com ele, ele era ótimo de ler nas entrelinhas. O silêncio entre eles o fez prestar um pouco mais de atenção em Liam e ele teve certeza que Payne iria continuar o assunto a qualquer momento. Ele só estava esperando o momento em que ele finalmente decidisse o que dizer pra começar, ele conhecia muito bem aquele olhar que Liam estava sustentando naquele momento, como se estivesse tentando resolver uma equação dificílima dentro de seu cérebro e estivesse ligeiramente frustrado porque não chegava à resposta que queria.
- Mas... – E lá estava Liam voltando a quebrar o silêncio. Zayn apenas segurou o riso e voltou a olhar pra ele, prestando atenção. – Tipo assim, eu não sou gay nem nada, só pra deixar claro...
- Já está claro, já. – Zayn disse achando graça daquela compensação toda de Liam, como se seu cérebro estivesse lhe dando imagens que ele não queria ver.
- Então tipo, não pensa que eu sou gay por dizer essas coisas, porque eu tenho certeza que eu não sou. – Payne continuava e Zayn apenas concordou com a cabeça.
- Aham, tudo bem. – Malik respondeu tentando tranquilizá-lo.
- Mas acho que é normal que todo mundo em alguma altura da vida pense que precisa estar com a mente aberta para experimentar coisas novas. – Liam dizia querendo dar um tom acadêmico àquilo. – Essa semana, por exemplo, conheci um amigo do Louis que é gay e a gente ficou trocando ideia sobre isso.
- Ah é mesmo? – Agora Malik realmente parecia interessado no assunto.
- É, eu perguntei algumas coisas pra ele, não lembro, pois eu estava bêbado. – Liam tentou puxar pela memória, mas apenas ouviu o riso abafado de Zayn. – Mas me fez pensar também, pois essa última mulher com quem eu estava saindo me deu muitas dores de cabeça...
- Payne... – Zayn se aproximou do outro, tentando parecer um pouco mais sério, mas ainda mantinha o tom de voz gentil. – Não é assim que sexualidade funciona. Não é uma escolha, não é como se você acordasse de manhã e pensasse "hm, acho que vou sair com homens já que meus relacionamentos com mulheres não dão certo". – Zayn sorriu de canto e, pela primeira vez, viu Liam sorrir destravado, achando realmente graça naquilo. – Você gosta ou não... Simples assim.
- Tá, mas... Sei lá... – Liam não tinha um bom argumento pra rebater aquilo.
- Você não decide a atração por ninguém, você nasce programado pra isso, não é uma decisão racional. – Zayn continuava, percebendo que Liam prestava atenção. – Se você não está tendo relacionamentos bem sucedidos com mulheres, acredite, isso não tem nada a ver com sua sexualidade. – Zayn concluiu tocando em um dos ombros do outro. – Vai saber quando estiver pronto, não se pressione.
Zayn se afastou preparando-se para pegar as pastas que trouxe e deixar o escritório. Sentia os olhos de Liam em cima dele e, por alguma razão, percebeu que o olhar era mais invasivo do que o normal. Era estranho como algumas pessoas tinham mesmo esse poder, de olhar pra você tão profundamente que eram capazes de fazer a outra pessoa sentir-se fisicamente desconfortável, sem saber como se posicionar ou como se estivesse absolutamente nua na frente dele. Por alguns segundos, foi exatamente assim que Malik se sentiu, não sabendo qual era a real intenção de Payne por trás daquele olhar.
- Te vejo na reunião? – Zayn disse quase alcançando a porta. Liam estava encostado em sua própria mesa com as mãos nos bolsos da calça social cinza escuro.
- Aham. – Foi a resposta de Payne, que mantinha aquele olhar curioso. – Já já estou indo pra lá. – Ele concluiu e em seguida, ouviu Malik batendo a porta atrás de si.
Liam franziu o cenho pensando melhor sobre tudo que tinha ouvido e falado. Ele nunca tinha pensado que teria uma conversa daquelas com uma pessoa que mal conhecia, mas mexeu com ele os conselhos dados por Zayn e as opiniões dele. Num primeiro momento, Liam pensou que aquele homem era inteligente pra caralho. Segundo, ele tinha mãos frias e era assustador conseguir sentir aquilo por um simples toque em seu ombro e, terceiro, era perturbador para Liam ter reparado no quanto os cílios daquele homem eram longos e som de sua risada era único.
- O que eu não faria por uma dose de uísque... – Liam disse para si mesmo enquanto buscava seu terno pendurado atrás da cadeira, vestindo-o em seguida para ir a tal reunião.