O VOO DA INDÍGENA

By CoelhoDeMoraes

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O planeta Terra em desequilíbrio. Os derradeiros habitantes precisam partir; explorar outro mundo? partir p... More

CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPITULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPITULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
Capítulo 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
CAPÍTULO 50 - CAPÍTULO FINAL

CAPÍTULO 46

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By CoelhoDeMoraes


Enquanto o Navegador trocava de roupa, preparando-se para a comemoração no palácio, alhures, os astronautas ouviram a chegada dos carros de neve prometidos por Halep; os carros contornavam o local e pararam, rapidamente, com as frentes voltadas para o clarão ao fundo, no painel do horizonte que deveria ser Matúar. Limitaram-se a esperar, como parecia ser a ordem natural das coisas naquele lugar.

O jovem comandante, de seu pequeno quarto no casulo, olhava os movimentos quando, subitamente, sua visão escureceu e como que uma vertigem alcançou-o, com tremores a subir pelo corpo que pareciam ondas quentes de lavas. O corpo esquentava febril, a cabeça passou a se tornar pesada e, de maneira admirável, centenas de hexágonos regulares coligados formavam colmeias douradas em fundo verde, em um delírio óptico deslumbrante. Mas isso não agradava, inteiramente, ao Navegador. As estruturas brilhavam à sua frente e o fundo mudava de escuro para claro, e, isso o deixava cada vez mais tonto, possuído por ânsias. A falta de sentidos, inexplicável àquela hora, tomou-o de forma absoluta. Teve que se segurar às bordas da cama. Sentiu a presença de alguém no quarto. Para não tombar, sem forças, no chão tentou se segurar no ar como se ali houvesse escada, mas os braços de Hi Su o acompanharam. Várias imagens balançavam-se à frente do Navegador e, de lá do fundo do nada, um brilho bastante intenso pulsava, crescia, agigantava-se, paulatinamente intenso, até alcançar proporções majestáticas; fachos luminosos provinham do brilho que crescera. Parecia agora, uma estrela, de proporções definidas.

Lembrou as obras de Gide para a Divina Comédia.

Os mostradores ligados à GnUmUs, terminais que controlavam os vários astronautas, nada marcavam. Marcavam, apenas, as alterações em seu encéfalo. A imagem emitia calor. Somente o Navegador percebia isso, pois, lhe era íntimo e pessoal. A brancura intensa da estrela atingiu brilhos incandescentes, sem sombras. O Navegador tropeçava sobre Hi Su que tentava segurá-lo com enorme dificuldade. O cérebro do comandante embaralhava-se e lá no polvorinho de símbolos e interligações e conexões, se iam formando palavras sem nexo, ou, então, palavras quebradas, estruturas sem começo sem fim, nuvens de letras, imagens centralizadas, hexágonos polígonos que se mesclavam mutuamente em coloridos desmesurados..

Então surgiu uma primeira letra, depois dois sinais sonoros, e, uma última letra. Um Delta e um Sigma que se multiplicaram em outros sinais que lhes pareciam similares. Na última das letras a cabeça do jovem se manifestava a estourar com tanta desigualdade de noções e lógica. Latejava, fortemente, e ondas de torpor que lhe tomavam do corpo. Em segundos safou-se das mãos de Hi Su, mas, bateu-se contra as paredes do casulo quase perdendo, definitivamente, os sentidos. Levantou-se, largou das bordas da cama, novamente, e, levou as mãos às têmporas. Forçava, ao mesmo tempo, a mente para compreender a conformação dos sinais. Aplicou todo seu poder de concentração a fim de exterminar a dor que o acometia. A dor demonstrava originar-se de fonte externa muito forte.

Repentinamente a letra Tau surgiu enorme, em seguida, três sinais fortíssimos que abalaram o cérebro do comandante, deixando-o quase louco; depois a letra Sigma brilhou intensamente na tela que se modificava de cores constantemente. Ecran negro, depois coberto de estrelas, depois azul como que frisado de mares terrestres; o prata, as letras já mostradas transformavam-se em vocábulos variados de origens múltiplas tanto em dialetos quanto idiomas; centenas milhares de outras letras surgiram como se fossem oriundas de alfabetos diferenciados de todas as partes do universo. A dor angustiante atravessou pela última vez seu cérebro. Certamente uma dor simbólica. Agora, em situação atenuada. O Navegador, agora, ouvia uma grita sonorosa, com ecos e repetições; novas palavras e sinais surgiram, mas, estavam incompreensíveis. Palavras intrincadas, obscuras, em idiomas desconhecidos ou mal pronunciados; era uma conformação incoerente que lembrava o Verbo, que lembrava o Logos, a Ação, o Drama, o Movimento, porém, isso tudo eram conceitos que jorravam da cabeça do Navegador. Só podiam ser conceitos baseados em sua vida. Baseados na sua vivência acadêmica. Algo como a lacaniana tábula rasa... a mesma que lembrava a tabula rasa onde se inscreveria, pela primeira vez, a simbologia da letra. Surtos amplificados de luzes passaram rapidamente. Deixaram-no mais tonto, mais fraco, e as palavras passavam como jorro e os olhos tentavam acompanhar tudo aquilo, piorando o quadro de ânsia e náusea.

O Navegador transpirava.

Caiu desmaiado, mas, estava nos braços de Hi Su, com a cabeça em seu colo. A jovem pousou a cabeça do amado sobre travesseiros e perdeu-se a procurar toalhas e panos adequados. Mergulhou panos, ataduras e toalhas na água do lavatório. Água para amenizar as dores e a febre do Navegador, pensava ela, pousando aqueles tecidos todos sobre a testa do jovem. O Navegador, então, mais calmo, sentou-se sobre a cama; com as mãos voltou a segurar a cabeça. Ainda levou um tempo acomodando-se a remorar de todas as cenas que lhe atingiram, fazendo-o participar daquilo quase sem consciência. Percebeu que o surto alterou seu estado material. Parecia muito cansado.

*

Acabou de se arrumar, rapidamente, com ajuda de Hi Su, e, saiu, pálido, do quarto. Os astronautas o esperavam e estranharam a situação, porém, a um sinal de Hi Su eles se calaram. O palácio os esperava e, no momento, aquilo era o mais importante.

O homem de Zurmi partira, carregando víveres, coberto de agasalhos, em direção de algumas atrasadas tribos do Leste, disse ele, ao mesmo tempo em que desejava boa sorte aos astronautas. Iria ele para tribos que viviam nos arredores, nas lonjuras, bem longe das civilizadas cidades do setentrião. As tribos, segundo o homem zurmiano, eram atrasadas na tecnologia, mas, amplas e doces no trato humano. O homem poderia ter a sorte de se dar muito bem com aqueles povos, uma vez que eram gente de cultura preservada; apesar de levarem pensamentos tradicionais do antigo reino, marcavam presença pela docilidade do trato e pela paz constante. Para isso o homem teria que ultrapassar a região de estranhos animais pentápodes que sempre procuravam pasto e alimentação. Em meio às regiões glaciais os animais caminhavam em bando e, naturalmente, não dispensariam uma joia apetitosa e quente que era o corpo do homem. Uma presa muito fácil de lidar. Todavia o homem de Zurmi preferiu morrer por intermédio dos animais que a natureza criara, disse ele, em vez de se humilhar-se perante os vencedores da odiosa guerra; e, ainda, correr o perigo de ser descoberto pelo Cardeal Halep pondo em risco a vida dos astronautas que o acoitaram.

Meia hora terrestre depois o grupo da Indígena adentrava a fortaleza real de Matúar, perceberam, em meio a convidados, bumbos tronitroantes e cantoria sem fim.

*

GnUmUs ganhara trabalho extra.

O computador da nave em órbita, ligado a terminais que se conectavam aos casulos, recebia página e páginas do que era o diário de Cária. Percebeu que ali continha o germe da tridimensão, saltando, no entanto para um espaço quadridimensional. Dados muito estranhos para um computador terrestre. Um computador rápido, porém, programado para teorias euclidianas e einstenianas. Nada mais do que isso. Estava habituado a viver e calcular e experimentar em um espaço tridimensional, como todos. O que vinha, naquele momento, para seu disco rígido, ia além das expectativas. Percebeu que haveria muito que estudar.

GnUmUs partiu da reta. Por um ponto, infinitas retas. Por dois pontos uma única reta. Repetia ele as lições do primário. A entidade geométrica de uma dimensão - comprimento - a . Depois... depois vasculhava em seus meandros, os saberes das duas dimensões, comprimento e largura e chegava à área, o . Sim, coisas simples para um computador que viajou 16 mil anos se autoprogramando, preservando as vidas à sua responsabilidade, porém, GnUmUs desejava repostas aos novos fundamentos. Seguindo raciocínio lógico e simples, aprendendo que a pirâmide se fazia em três dimensões - comprimento, largura e altura. Tais princípios o levariam além, com absoluta certeza.

A quarta dimensão era algo factível ou apenas um sonho? À partir do 3 tudo começava a se repetir. 3+1 levava ao 4. A quarta dimensão poderia não existir e ser apena sobreposição de 3 e 1. Não se sairia do lugar. Ou, por outro lado, estava além dos balbucios dos três primeiros números e nada teria a ver com o resto deles; nem números, nem Pitágoras, nem no pensamento material. Conjecturas.

No entanto, será que, acostumados às dimensões sempre repetidas e provadas, não se notava o que se ia além? O olhar era plural? A mente funcionava com dimensões? A dimensão não seria, apenas, a propriedade de qualquer sistema de equações? GnUmUs não cansava de elaborar problemas cobrando-se respostas. Podem possuir infinitas dimensões, tais equações? A geometria nos dá lados e arestas e beiradas e formas diferenciadas. O espaço, além de quatro dimensões, fica chamado de hiperespaço para uma questão de definições, mas, não de certezas absolutas. O que trará os estudos de Cária, estudos perdidos em um planeta atrasado? Se transpusermos a coisa com mais de quatro dimensões podemos buscar um hipersólido? Isso corresponderá a algo real no espaço, espaço este que parecerá ser apenas curvo? Em universalidades infinitas essa curva tem algum sentido? Perguntas.

GnUmus não conseguia imaginar o espaço com mais de três dimensões. Tanto em Júpiter quanto na Terra, os físicos trabalhavam com os mesmos dados. Alguns valores mais eficientes que outros, mas não saíam desse planejamento. Difícil imaginar qualquer sem dimensão alguma, uma reta infinita em uma única dimensão.

GnUmUs se dizia: - O ponto ou a reta são abstrações matemáticas. No entanto, a natureza possuía exemplos próximos destas abstrações: com um pouco de raciocínio se tratava apenas de adequações e não de verdades estabelecidas. Um observador via a estrela como apenas um ponto que brilhava no espaço. Nada mais. Uma fonte pontual de luz. Dependeria do espaço entre estes objetos, homem e estrela? Aproximando-se da estrela, aquilo que era ponto, se tornava miríades de pontos.

GnUmUs buscou apoio em Einstein. Foi atrás de mais dados que relevasse seu pensamento e raciocínio nas leis físicas. Reestudou a . E viu que a questão era o tempo. Não uma aresta ou parede, mas o tempo, as três dimensões e o intimamente ligados, formando o espaço-tempo. O espaço-tempo como objeto.

Seria esse o caminho?

Necessário então seria descartar alguns conceitos ou afirmativas sem provas. A questão do hiperespaço, por exemplo, seria descartada. Elemento hipotético que somente servia para que os escritores de ficção resolvessem o problema das longas distâncias... a viagem mais rápida que a luz. Para se acessar o hiperespaço era sempre necessário ter outra carta na manga. Um artifício que cobrisse a falha do primeiro artifício. O 'se' dos especuladores. Se fosse possível, se... se... e esqueciam que esse 'se' nada mais era que aquilo que nunca era provado e nem era para ser provado. Era apenas uma possibilidade.

A viagem de 16 mil anos mostrou isso.

O que Cária desejava então? Propor uma matéria mais leve que a mente, também posta em dúvida pelos neurocientistas?

As distâncias astronômicas foram galgadas com esforços ilimitados de GnUmUs que transformou cada matéria à disposição em energia. Energia sempre que vinha de alguma fonte de matéria. Do caos fez-se a luz. O caos como matéria. A luz como energia. Se há uma luz que esclarece tudo e, é o caminho do mundo, esta veio do caos.

A impossibilidade de viajar mais rápido que a luz ficou patente. Era um desafio que pairava no terreno da teoria. O hiperespaço era usado como um recurso fantasioso por autores, que se queriam aristotélicos, contudo, esquecendo que Aristóteles presava real e profundamente, a verossimilhança.

A com a ou mesmo a fabulosa , criaram a ilusão do possível. Tudo parecia cabalmente explicado, mas a explicação pairava longe. Era truque de ficcionista. Era mentira. Tais viagens hiperespacias não passavam de uma tecnologia ficcional. Era impossível alcançar as profundezas do universo sem morrer antes. Era necessário usar artifícios tecnológicos crescentes.

O que desejava Cária?

O que propunha, enfim?

jRa-


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