CAPÍTULO 23

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Shozzotink preocupava-se em adquirir conhecimentos com aquele parto humano. Seu escopo de pesquisador lhe dava diretrizes. Os astronautas da Kentaur tomaram aquele como evento máximo da viagem. Em meio a tanta destruição eis que o nascimento se faz presente. A sala verberava em murmúrios, burburinho e, na baixa luz, o piscar de luzes que determinavam que esse ou aquele equipamento estava em pleno funcionamento. Sob permissão, gravavam o parto de Tereza.

A mãe usava o método Le Boyer para parto sem dor. Sua preparação fora adequada. Ao mesmo tempo o investigador Álvarez anotava alterações orogênicas sem tirar os olhos das imagens que vinham da sala cirúrgica. Segundo ele a orogenia observada indicava o conjunto de processos que mantinham em ação a formação de cadeias de montanhas; o importante das anotações sugeria que isso era produzido pelos dobramentos e falhas da crosta terrestre; pela deformação da continental.

Placas tectônicas colidiam e na consequência, a formação de , outros continentes e terras . Por isso previa-se a ocorrência de a qualquer momento um ato anômalo. Esses afazeres o mantinham ocupado.

Através do vidro Tereza enviou um beijo a Clóvis que não cabia em si de contentamento.

No compartimento jupiteriano Shozzotink perguntava a Ruy Hernandez:

- Acontecimento ímpar.

- Novidade para vocês? - perguntou Ruy Hernandez através do aparelho tradutor, mostrando um ar cansado. Ele demonstrava parecer mais velho do que era.

- É novidade, sim... - respondeu o outro, - se bem que as fêmeas lesracomianas têm parto similar. Acredito que a Natureza direcionou-se nesse sentido de forma idêntica na nossa constelação, pelo menos. O par macho de Tereza deve ter seus planos de glória.

- Acredito que sim... - disse Ruy Hernandez, - acredito que sim, se bem que o futuro da criança coincide com o nosso, sei lá onde. Ela nasce e nós renasceremos, espero. A história do filho de Clóvis começa com um caminho atulhado de adversidades.

- Porém com a grandeza do espaço... - Shozzotink reforçou a oferta. - Daremos o apoio que necessitarem... – Lembrou-se repentinamente, - ainda sobra a opção de construírem uma colônia em Lesracom. Seria uma honra para todos nós, apesar de que seria, também, um tremendo sacrifício da parte de vocês. Algo como essa cúpula de proteção contra as nossas intempéries. Evidentemente, por outro lado, como vivemos em um sistema construído sobre a paz, a vida de vocês será muito mais fácil. Estaremos na retaguarda.

- Parecida com aquela de Marte... Robert Silverberg nos fala dela. Obrigado, Shozzotink. Muito gentil. Não está descartada essa possibilidade. O Navegador, porém, assinala um planeta similar ao nosso em outro quadrante. O planeta onde ele teve a primeira infância. Faremos, acredito, uma tentativa nesse sentido.

A imagem de Tereza na tela era plácida e tranquila. Esperava apenas que a natureza seguisse seu curso e, a natureza estava em seu favor.

No outro gabinete José Luiz entrou para falar com o Navegador que permanecia absorto olhando para Hi Su em seus movimentos médicos. A beleza da amada tinha que ser contemplada em todo momento.

- Precisamos falar... – José Luiz disse ao Navegador. Este virou, lentamente, e pôs-se atento.

- Sobre?

- Sobre os testes que fiz com alguns selecionados para as vagas de viajantes... – ele enfatizou a palavra 'selecionados'.

- Sim?

- Acredito que a Indígena corre risco grave, se se mantiver a ideia de levar os habitantes do patamar na mesma viagem e em lugar limitado.

O Navegador sentou-se adequadamente em sua poltrona ergonômica. Os argumentos lhe interessavam, pois, tinha ideia formada sobre a questão. Precisava de apoio. Virou a cabeça olhando José Luiz bem diretamente.

O VOO DA INDÍGENAWhere stories live. Discover now