CAPÍTULO 5

20 1 0
                                    

- Senhores. Eis, definitivamente, o nosso Navegador.

O casal nem havia posto os pés na sala refrigerada de um dos núcleos de pesquisa quando o diretor do CR iniciou sua fala com essa frase que pareceu exageradamente solene para a ocasião. Hi Su olhou para seu companheiro e estava feliz. Os quarenta cientistas aplaudiram. O Navegador sorriu como se perguntasse algo a si mesmo, tentando inventar uma pergunta original. Ele trazia papeis e mídias. Cada vez mais informações. Cumprimentaram-no fraternalmente.

A mesa acrílica passou a luzir em vários monitores. O plano da mesa se tornou forrado de imagens. O Navegador adaptava, sem parar, séries intermináveis de pendrives e mídias antigas como CDs e DVDs e até mesmo fitas. Era o que tinham, naquele momento.

O que mais chamou atenção foram relatórios sobre o clima e a desintegração das calotas polares. Sobre essas imagens o diretor do CR disse:

- Bem... é isso. Não podemos abusar do antigo tempo burocrático. As mudanças se dão a todo momento, e, teremos de acelerar os processos e programas da Indígena, - ele apertou alguns botões aleatórios. – Pedi para que o Navegador trouxesse relatórios que Álvarez preparou. Novos relatórios. Aqui está um dos títulos: Mudança climática provoca aumento do nível do mar; já esperávamos que ocorresse em algumas partes do mundo.

- Isso já sabemos, - foi a chancela unânime.

- Sim... vejam mais... Em outras partes o nível do oceano na verdade diminuiu.

- O aumento não é igual em toda região. Há um sistema compensatório, - disse o Navegador, - algo similar ao dilúvio é impossível.

- Exato, - explicava o diretor do CR, - quando apresentada como um globo, a Terra parece redonda e lisa. Para qualquer pessoa de pé na praia, o oceano parece plano... chato... Mas essa percepção é enganosa.

- Na realidade, - o Navegador retomou da palavra, - a água dos oceanos se move para todos os lados, mas não se fala aqui das ondas e correntes, mas das variações em grande escala no nível das águas.

- Essas matérias saíam a todo instante, em grande quantidade, nos jornais alemães, - completou Hi Su. – Os cientistas desse país foram unânimes na confirmação.

- São pesquisas de um antigo oceanógrafo chamado Stammer, que era diretor do Centro para Pesquisa Marinha e Climática da Universidade de Hamburgo, - confirmou Ruy Hernandez. – É dele que dispomos a maioria dos dados.

Os cientistas preocuparam-se. Suas poltronas moveram-se. Tomaram melhor posição para observar os monitores. Algumas luzes perderam o brilho e poucas outras se fixaram em pontos de interesse.

- O cientista dizia mais. As pessoas têm uma ideia incorreta, carregada de ilusões quanto ao equilíbrio dos mares. No Oceano Índico, dizia Stammer, o nível do mar estava cerca de cem metros acima da média, enquanto as águas em torno da Islândia, do que restava dela, ficava sessenta metros acima da média.

Álvarez entrou, rapidamente, e, despejou novas mídias informativas. O detetive era incansável na busca de material, sem perder o seu característico bom humor. A mesa acrílica ficou coalhada de datas. O investigador Álvarez substituiu algumas que ele mesmo confirmou estarem desatualizadas e enviou dados para os monitores. Abriu páginas e mostrou painéis. Explicou:

- Estas imagens vieram dos satélites. Apesar do planeta em colapso o sistema de comunicação em órbita permanece intacto, mesmo que sofrendo disfunções de origem magnética. Funciona sob energia solar. Ficará lá muito tempo ainda. A única unidade de captação é a nossa; a captação é feita apenas por nós aqui na base. Aqui estão.

O VOO DA INDÍGENAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora