CAPÍTULO 14

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O investigador Álvarez levantou lentamente a xícara, como a esperar que o tempo parasse por ali, e, bebeu rapidamente, num rompante, buscando admirar o sabor da bebida. Imediatamente seu rosto se contorceu de dor.

- O que é isso, Hi Su? Plasma? Você colocou combustível para que eu bebesse?

- O plasma não é líquido, Álvarez. E, além do mais, é um dos meus melhores chás coreanos. Relíquia. Um dos últimos. O resto é água mesmo. Da próxima vez beba mais devagar... deguste... sorva... sinta o sabor...

Riam no refeitório.

- Depois disso, só indo embora mesmo... – e partiu em seguida, mas, deixou uma piscadela para os circundantes. Vários técnicos o seguiram. Fariam suas últimas viagens exploratórias a fim de obterem relatórios atualizados sobre a Terra. Depois disso os risos cessaram. Houve pausa. Todos se mostravam pensativos olhando para suas próprias xícaras. Ruy Hernandez quebrou o silencio:

- Mais alguns dias e iniciaremos a nossa... como direi, para ser pomposo, nossa missão Indígena. O espaço é sideral, contudo, não passa de mais outra viagem de ônibus que faz suas paradas periódicas.

- Sinto-me como um explorador atirado ao mar do século XVI. A imensidão sideral e suas profundidades, - disse Júlio Zambuzzi com correto ar sonhador.

- Na verdade, - dizia Hi Su, - excetuando os perigos, por causa obrigatoriedade imediata da partida, quem não tem medo desse mar sideral; certo é que não encontraremos monstros nem dragões; encontraremos dúvidas que o futuro espacial nos trará diariamente. O que será isso, de explorar, talvez colonizar? Que astros? Que mundos? O que significa tudo isso, enfim?

- As últimas unidades para órbita serão lançadas nesta semana, - declarou Mateus, bem animado, - e, os robôs astronautas já enviaram mensagens de que a montagem do imenso quebra-cabeça vai bem.

- Boas notícias, - aceitou Ruy Hernandez.

- A má notícia... em termos... é que as comunidades de habitantes do patamar... os sub homens... que partiram para aventura própria foram encontrados mortos a quinhentos quilômetros daqui. No entanto, sabedores disso, os remanescentes continuam preparando fugas a cada dia.

- Não somente eles... alguns técnicos e cientistas partiram também, - completou Hi Su. – Agora somos trinta e dois cientistas.

- Do lado de lá ainda restam duzentas pessoas, - Mateus informou. – Ainda bem que os últimos conteiners da Indígena sobem agora. Não haverá mais ninguém para trabalhar nela.

A campainha tocou. A luz verde acendeu indicando que o chamado vinha da enfermaria.

- Preciso ir, - disse Hi Su. – Tereza precisa de mim. Os enfermeiros me chamam. Você vem comigo Agnes?

- Não... não posso. Fui designada a procurar Luzia. Substituirei a sargento Nunes que está lá fora.

- Então, até mais, - disse Hi Su abanando a mão para todos.

Ouviram o barulho de ar comprimido e a porta abrindo-se e fechando-se. Um silvo. Contudo, dois outros sons foram ouvidos vindos do alto. Pensaram no ribombar de novos trovões no céu acinzentado de nuvens pesadas. Não se parecia com o barulho do vento que já vinha forte há vários dias. A chuva parara. Muita estática estava pelo ar. Crepitava-se por pouca coisa. Raios surgiam entre fragmentos de metal das ruínas e muitos deles subiam para nuvens adequadas. O sistema de meteorologia afirmara início de terrível seca, após as estentóreas chuvas de dias atrás. Apesar disso, plúmbeas formações de nuvens corriam nos ares apesar da estagnação e seca na superfície daquela região.

O VOO DA INDÍGENAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora