AIKA - A Canção dos Cinco (A...

By Lucia_Lemos

146K 6.9K 4.4K

Dragões, uma guerra entre raças mágicas, feiticeiros e demônios causando caos... Parece ser apenas mais uma o... More

Prólogo
Capítulo 1 - A Sonhadora
Capítulo 2 - Calmaria
Capítulo 3 - Tempestade
Capítulo 4 - Escolhas
Interlúdio ~ Sobre a Maldição Parasita
Capítulo 5 - Consequências ~ Parte 1
Capítulo 5 - Consequências ~ Parte 2
Capítulo 6 - Promessas ~ parte 1
Capítulo 6 - Promessas ~ parte 2
Capítulo 7 - Dragões
Capítulo 8 - Ameaças ~ parte 1
Capítulo 8 - Ameaças ~parte 2
Interlúdio - Sobre A Maldição Parasita 2 ~ Um Grito
Capítulo 9 - Semelhanças
Capítulo 10 - Separados
Prêmio Wattys 2016
Aika Especial 2 - Quando Nasceu A Amizade
Um Novo Começo

Capítulo 6 - Promessas ~parte 3

2.7K 313 129
By Lucia_Lemos

Aquela que era para ter sido mais uma noite chata e rotineira de Aika, porém, hoje mais parecia uma festa. Ela respondia as perguntas de todos animadamente e tentava simplificar tudo ao máximo para que entendessem. Também falou brevemente as funções de um computador. Todos estavam visivelmente fascinados – e até um pouco assustados. Era muita informação. Às vezes parecia que Aika não se importava e continuava falando sobre o quanto o anime de Kurikara era incrível, com seus ótimos dubladores, maravilhosa trilha sonora e ótima direção, ou o quanto eles eram conhecidos e muitos gostavam de comprar coisas deles – embora não tenha contado sobre as pessoas que se vestiam como eles.

–... e fora a importância que o Kurikara tem para a comunidade mestiça no Japão!

– Hã? – repetiu novamente Iruka.

Aika se virou para eles na cadeira, ainda mais animada, a ponto de sacudir as mãos como se regesse a conversa:

– Todo mundo aqui é como filho-puro. Porém, temos muitos, muuuitos países diferentes com culturas diferentes. Eu, por exemplo, sou mestiça de duas culturas! Tenho dificuldades por causa disso, assim como os vários mestiços do mundo. Aqui, é comum nos chamarem de hafu ou gaijin. Quando a história do Kurikara foi lançada, todo mundo que era mestiço meio que se sentiu "representado" no mangá. Isso acontece muito! As histórias não servem apenas para entreter. Elas sempre acabam tendo um impacto social. É muito mágico quando nos identificamos com um personagem.

– Como assim? – perguntou Riko.

– É simples! O Kurikara é uma referência para nós, um exemplo! Se ele consegue superar seus problemas e mostrar a todos que, mesmo sendo mestiço, ele pode tanto quanto qualquer um, é como se nos desse forças para continuar. Não foi fácil para mim, sair da minha terra natal e conviver com pessoas que me ignoravam só porque meu cabelo era cheio, falava diferente ou porque sou mais alta... eu tive de enfrentar muita coisa! Mas, quando conheci o Kurikara, tomei para mim que queria ser tão forte quanto ele!

Aika estava vermelha da cabeça aos pés por ter confessado isso. Kurikara, sentado contra o armário, a encarava de testa franzida. Ele nunca imaginou isso.

– Eeeee... bom, como disse... isso acontece com muitos personagens também... as pessoas se apoiam em suas histórias...

– Seu ego deve estar lá em cima, né? – riu Iruka, cotovelando a asa do amigo e sorrindo maliciosamente.

– Na verdade...

– Parece uma grande responsabilidade agora – afirmou Riko.

– Isso vale para vocês todos, sabiam? A Riko foi eleita a personagem feminina mais influente dos últimos dois anos e é muita querida! Muitas meninas tomaram você como referência, desejando se tornarem fortes também. Até seu corte de cabelo virou moda! Eu pensei em cortar assim, mas prefiro meu cabelo parecido com o de outro herói que gosto...

Todos ficaram pasmos em verem a poderosa guerreira corar pela primeira vez.

– Ah... que besteira...

– Tá tooooda vermelhinha... – e Kurikara recuou antes que fosse acertado por um chute de Riko em Iruka. Ela errou e Iruka continuou rindo: – E eu? E eu? – perguntou Iruka.

– Você, acredite ou não, é mais querido no meu país natal que o Kurikara! Lá a preferência é pelos personagens mais bem-humorados. E né, todo irmão do meio se identifica com seus problemas. Eu sou a mais velha, mas sei como é ser ignorada...

Iruka estufou o peito como um galo depois disso, fazendo Kurikara esconder o riso, principalmente da expressão de Riko. A conversa acabou ficando entre os três, embora Kurikara permanecesse mais calado. Ele observava Aika, que ainda estava bastante constrangida mexendo rapidamente uma das mãos sobre a "peça-preta-com-fio". Aquilo era realmente muito estranho... e pensar que ele, logo ele, seria um exemplo?

E ele era tão importante assim para aquela jovem?

Acabou se interessando pelos fundos de telas que passavam no computador, chamando sua atenção. Ele percebeu que se repetiam e agora esperava por uma imagem em particular, em que se via ao lado de uma moça de olhos azuis e cabelos negros e ondulados. Quando ela reapareceu, acabou não ouvindo que Aika o chamara.

– Hei, o tema de vocês dois é o mais lindo da série! – ela sussurrou.

Ele se sobressaltou quando viu que todos o olhavam.

– Tema?

– É! A música que toca sempre que você e a Sayuri estão juntos! É tão romântica!

Riko e Iruka torceram o nariz ao ver os suspiros da jovem. Em seguida, viram-na inserir um disco de superfície espelhada na "caixa preta" do "computador". Eles se assustaram ao ver na tela uma música tocar e mostrar uma silhueta em chamas abrir as asas e se desfazer, mostrando o nome "Suzaku no Shounen Kurikara".

– Jura que aquela sombra era do Kurikara? – riu Iruka.

– Sem zoações, Iruka! Pensem nessas ilustrações animadas como metáforas. São magníficas! Vou mostrar-lhes o primeiro episódio da série.

Aika passou lentamente o menu, rindo ao ouvir as exclamações dos três ao verem as imagens de fundo. Na maioria das vezes se via o mapa de Gattai cercado de adornos dourados com os personagens.

– Repetindo, Kurikara é o principal, logo a maioria das coisas que verão é com ele!

De repente a tela escureceu e foi a vez de Aika apagar a luz (para a surpresa do grupo). Eles viram a tela piscar e exibir uma noite estrelada.

– Ooooh – disseram os três.

Do espaço viram um mapa de Gattai, em movimento. Uma voz parecidíssima com a de Kurikara começou a contar a origem de Gattai e dos guardiões, de maneira rápida e sintetizada. E finalizando com a frase: "Desde então, os deuses nunca mais escolheram guardiões, até aquele dia, séculos depois...".

A partir dali, viram o dia que se conheceram da forma mais bizarra possível. Suas vozes eram parecidas com as dos originais. Outro corte, os dois eram chamados pelo rei Akira e seu fiel mago, Tôzen, que apagava a memória de quem saía da sala (deixando Riko e Iruka apreensivos ao entrar). O rei então lhes fala dos Orbes e de Gattai, e que havia encontrado pistas de um Guardião. Os dois, sem muita escolha, aceitam a missão.

A trilha sonora era como um narrador, auxiliando-os a compreender e a sentir as emoções atreladas tanto aos personagens quanto à história. Os cortes de cenas pareciam confundi-los, mas se acostumaram rapidamente.

Então, isso é um anime pensou Kurikara, impressionado.

Rever aquele momento daquela forma parecia torná-lo mais claro. O que mais os impressionava era a fidelidade com seus modos de agir e falar. Depois, viram quando capturaram Kurikara e o problema que foi para abatê-lo — lutando sozinho e derrubando todos. Eles se empolgaram com a trilha sonora de Kurikara e seus enquadramentos durante a luta, principalmente quando a câmera simulava o próprio olhar dele em voo e o controle das chamas. A parte em que ele e Riko se enfrentaram a primeira vez foi eletrizante, com a guerreira usando seu bastão para saltar entre paredes e vigas para atacar o guardião no ar. E mesmo em queda eles continuavam o combate. No entanto, a primeira parte do episódio não mostrava nenhuma fala nem nenhum pensamento dele, introduzindo o protagonista de maneira misteriosa. Depois, viram seu julgamento, em que lhe colocaram a prova se era mesmo um Guardião.

Kurikara se surpreendeu ao ouvir seus próprios pensamentos e memórias de repente naquele "desenho animado", mostrando sua dúvida e receio de ser morto por um crime que não cometera, e sua confusão por só se lembrar de "uma Fênix que descia dos céus e o abraçava". Era impressionante o quanto aquelas cenas se pareciam com suas memórias. A música que tocou para ele era triste e tensa mas, em contrapartida, houveram momentos "cômicos", como o que ele descobria que falava com animais — e pedia a um gato para pegar as chaves da cela — ou quando soldados apanhavam ao comentar de Riko, ou as piadas de Iruka.

Eles viram Aika rir quando Kurikara tentou conjurar fogo do nada (o que nenhum Fênix Negra podia fazer, somente um Guardião) e fracassando na primeira tentativa. As caricaturas dos personagens e seus chibis nervosos eram engraçados para Aika e Iruka. Quando finalmente Kurikara consegue conjurar fogo, ele e os demais se dão conta de que era um Guardião, e cada personagem apareceu estupefato. A tela focou no símbolo que brilhava em sua testa e se aproximou, até que de repente, escureceu.

Aos sons de sinos doces e violino, uma voz lírica feminina entoou uma canção em um idioma desconhecido para eles enquanto viam o espaço, até se darem com mãos ensanguentadas, seguidas do rosto de Kurikara entre as estrelas abrindo os olhos. Nesse momento, a tela incendiou e a música transformou-se num rock pesado e melódico. Viram créditos que desistiram de ler, personagens sendo apresentados no ritmo da música que parecia narrar um épico, o rosto sereno de Kurikara se transformar numa feição demoníaca, seguida de flores de lírio desfazendo-se em cinzas. Veio o refrão e as cenas tornaram-se tão rápidas quanto a guitarra e a bateria, mas belas como o violino (instrumentos que nunca viram e mesmo assim, os encantaram). Viram-se lutando lado a lado cercados de inimigos e a câmera ia e vinha, mal conseguiam piscar, temendo perder algum detalhe. Até que a canção parou num grito longo, os instrumentos evoluindo até encerrar-se numa súplica, mostrando a mandala de Gattai num pergaminho queimado e com manchas de sangue.

Tudo acabou como veio e Aika posicionou-se à frente do monitor.

– Muito legal, não é? Depois mostro o encerramento para vocês. Esse estúdio gosta de colocar o primeiro episódio sem abertura e encerrando com ela, para só nos seguintes terem encerramentos. Essa música é fantástica! Aliás, a trilha sonora toda é esplêndida. O que acharam?

– Ahn... Não sei – começou Iruka, numa espécie de transe.

– Realmente aparecem vários pontos de vista – comentou Kurikara.

– Mas é... é ofensivo! É presunçoso!

– Por que diz isso? – indagou Iruka para Riko. – Só porque conseguiram aumentar, se é que possível, seus peitões?

Ele imitou estar "apertando seios grandes" e Riko o esmurrou. Aika quase chorou de rir, principalmente da expressão de Kurikara de "não vou protegê-lo".

– É, eles têm essa péssima mania de "aumentar os seios de uma mulher" nos desenhos para atrair público – comentou Aika, agora colocando outro disco. – É uma atitude... desprezível. Sinto muito por deixá-la constrangida.

– Ah... tudo bem, você não tem culpa.

– E me deixaram mais... – disse Kurikara – Mais...

– Musculoso? – perguntou Aika, que realmente havia notado a diferença.

– Verdade! – riu Iruka. – Ninguém gosta dos magrelas!

– Eu gosto. Acho você mais bonito ao vivo.

Silêncio. Todos a encararam e Aika corou muito, muito mesmo. Kurikara também ficou rubro e desviou os olhos, Iruka já quase chorando de rir, mas Aika soube rapidamente como mudar de assunto:

– Mas o erro mesmo foi em suas asas! Elas são beeeeeeem maiores!

– É mesmo – e Kurikara também se aproveitou do desvio de foco. – Eu nunca voaria com elas tão... pequenas!

– Dá um desconto para os animadores! Desenhar vários quadros seus em voo não é fácil não!

– Ora, essa! – exclamou Riko. – Todos sabem que é fisicamente impossível um Fênix Negra voar, não importa o tamanho das asas. Se não fosse herança mágica do deus Suzaku, isso aí seria só enfeite!

– Só você sabe disso! – disse Iruka.

– Na verdade... ela está meio certa – suspirou Kurikara.

Em seguida, ela mostrou a trilha sonora de cada um e explicou o que era um OST — Original Sound Track — ou seja, os CDs que continham as músicas de fundo de uma produção. Dessa vez, Aika conseguiu realmente encantá-los. O trio ficou fascinado com suas músicas e curiosíssimos com aqueles instrumentos. A de Kurikara era mais longa e tinha duas versões, sendo a segunda com quase dez minutos.

– Esta é a versão orquestral. Tem mais de cem pessoas tocando-a, tudo para você!

Riko e Iruka sentiram uma pontinha de inveja ao ouvi-la. Não havia palavras para ela: tinha altos e baixos, momentos que pareciam ora tristes, ora românticos, ora avassaladores, como se os convidasse a lutar contra o mais temível inimigo. Os solos de violino eram particularmente emocionantes. Mas para Kurikara, que a ouvia de olhos fechados, era como se alguém "tocasse" sua vida do dia em que nasceu até o dia que pensou ter morrido. Somente Aika notou sua expressão.

– Espera só até ver o filme que conta os momentos mais importantes da sua vida! Pena que ainda não tem na internet – e Aika teve que lhes explicar o que era um filme. Eles não conseguiam entender como encaixar "uma vida" em uma hora e meia. – Acho que o trailer dele vai dar para vocês uma ideia...

Animada, voltou ao computador e o trio de Gattai observou-a mexer no "rato" e bater algumas vezes no teclado. A tela escureceu de novo e ela apagou a luz.

– Não se preocupem com o texto que aparece embaixo, é do meu país natal.

Aika havia legendado o trailer para os fãs brasileiros e se orgulhava muito disso. O trio observou a tela atentamente, e viram crianças (também naquele traço de mangá) correrem para um lago e se atirarem nele, de tarde, mergulhando e brincando alegres. Um dos meninos se voltou para trás e perguntou:

– Você não vem, Kurikara?

Um garotinho saiu das sombras vestindo uma capa marrom sobre as costas. O cabelo castanho escuro e os (grandes) olhos cor-de-mel denunciaram o pequeno Kurikara antes de ser transformado num guardião, encolhido e incomodado, com menos de oito anos...

– É VOCÊ? – gritou Iruka. – Own, que "bunitinho"...

– Shiiiiiu – censurou-o Riko, que acabou rindo da expressão constrangida de Kurikara.

– Não. Eu não gosto de lagos – respondeu o menino.

– Bobão! Tem medo de lagos! Tem medo de lagos!

Os outros riram dele, porém, quando passou por uma tocha acesa perto do lago, o fogo se alterou bruscamente. Ele se assustou e se aproximou, seu rosto confuso. Ergueu a mão e ela se alterou de novo e, curioso, aproximou-se e ela crispou. O menino Kurikara sorriu fascinado.

A tela escureceu de novo rapidamente, exibindo ideogramas dourados: "Sete anos antes do incidente do Vale das Montanhas Vermelhas...".

As próximas cenas foram rápidas e narradas pela trilha sonora complexa. Dois minutos de estranhos e entrecortados golpes de memórias:

– Mãe... – chamou o pequeno Kurikara frente a uma lareira arfando, suado, sem camisa e cercado de sangue e penas. – Por que fogo sempre fica estranho perto de mim? Por que tenho asas? Nenhum menino tem asas!

A cena se voltou para uma mulher de cabelos compridos e castanhos, jogados de lado e presos na ponta dos fios. Seus olhos cor-de-mel e rosto eram idênticos ao do filho, e ela segurava uma grande tesoura ensanguentada. Aqueles eram os olhos de Kurikara antes de receber o poder de Suzaku, os olhos de um filho das Terras do Leste, como sua mãe. Ela começou a chorar e o abraçou, pedindo desculpas. Riko e Iruka voltaram-se para um Kurikara que, por um segundo, parecia ter ficado branco. Outro corte e viram-no gritar, preso por várias mãos, e os gritos de sua mãe assustaram o trio. Outro corte e viram uma casa em chamas. Não havia música. O pequeno Kurikara encarava alguma coisa com os olhos tomados de lágrimas. Depois, o pequeno Kurikara, agora sujo e ferido, estava na frente de três Fênix Negra numa tenda. Eram uma jovem e dois adultos, sendo um deles o Mestre Daisuke, o qual Kurikara reconheceu de imediato. Era um personagem importante, um senhor de rosto bondoso, seu mestre nas artes de magia:

– Kurikara, você não é um Filho-Puro. É um Fênix Negra.

O choque tomou o rosto do menino.

Outra tela preta e viram mais uma mensagem: "A nova família".

Viram Kurikara sendo guiado por Daisuke e vendo Fênix Negras alegres voando, numa comunidade em que viviam em casas de árvores e tocas em encostas, um cenário exuberante. Havia fogueiras e ferreiros, vários machos e fêmeas cuidando de animais e crianças brincando. Os quadros iam e vinham, mostrando a população pacífica. O pequeno Kurikara não sabia para onde olhar, principalmente quando Daisuke lhe disse: "– Você está em casa!".

Outro corte, seguido de uma música animada, e viram Kurikara voando ainda pequeno com dificuldade, depois mais velho derrubando uma tenda e rindo com todos em volta, e depois com uns quatorze anos encarando uma corrida. Seu cabelo estava comprido, destacando-o entre todos e ele passou vários outros, voando rapidamente. Kurikara cortou a fita de chegada entre as montanhas junto às vivas de centenas de espectadores de sua raça. Viu um casal de personagens que Riko e Iruka não identificaram comentando:

– Incrível! E ele chegou aqui com as com asas mutiladas!

– Com esse recorde, ele se torna o voador mais rápido dos Fênix Negra do Leste!

– Ayaka! Akaitori! – exclamou Kurikara, ignorando a expressão dos amigos.

Mais um corte e viram-no rapidamente recebendo ordens para espionar um vilarejo e verificar se suas terras eram boas. Seria mais fácil disfarçá-lo, já que era mestiço. Ele aceita, ajoelhado e sério. Outro corte, e ele encontra sem querer com um grupo de crianças e uma mulher de olhos muito azuis. Depois viram outra tela escura e a frase: "A verdade..." e viram Kurikara pedindo que não matassem dragões por algo tão fútil e levando um murro de seu pai. Outro corte e ele estava entre os galhos de uma alta árvore, diante de um casal de meninos com uma fogueira e comida, os mesmos de anteriormente:

– Não temos medo de você! Já te vimos antes – sorriu o menino, um pouco tímido.

– Nosso pai morreu pelas mãos de um Fênix Negra, mas... – falou a menina, pouco mais velha, também de olhos muito azuis.

– E vocês não têm medo de mim? – perguntou Kurikara, entre os arbustos.

– Não. Porque a mamãe nos disse para não temermos eles.

Outro corte e ele estava de frente a uma mulher de olhos azuis, com uma faca apontada para ele.

– No entanto... eu sei, eu tenho certeza, que da mesma forma que há Filhos-Puros bons e ruins, eu creio que há na mesma medida...— e a cena focou no rosto pasmo de Kurikara — ... Fênix Negra bons e ruins.

Ela abaixou a faca.

– A melhor frase dela! Sayuri, sua linda! – exclamou Aika, apaixonada, para o espanto dos três.

As cenas seguintes mostraram muitas lutas e momentos confusos, em que ele estava cercado de pessoas vestindo uma capa para esconder as asas, outro momento lutando contra soldados de sua raça, e outro em que se via diante de um espelho. O rosto da moça estava atrás.

– Eu não sou nem Fênix Negra nem Filho-Puro – dizia Kurikara. – Eu não sei de que lado devo ficar...

– Se você entende os dois lados...

Assistiram mais outras cenas de combates e outras cenas alegres da comunidade Fênix Negra.

... só você saberá como uni-los.

A vela se apagou junto à tela. Viram mais ideogramas: "O último dia".

O toque de um tambor. Kurikara cercado. Outro toque e seu rosto atirado no chão, alguém o chamando de traidor, um grito abafado... outra batida e uma entrada de madeira em chamas, pessoas correndo, tambores velozes e um zunido agudo...

Uma silhueta negra entre as chamas.

– OKAAAY!!!

Aika pulou na frente da tela e os sons pararam. De repente, viram a tela escura anunciando a data do filme e uma rápida propaganda de pôsteres na compra dos ingressos – e Aika tinha ambos.

– O filme chama-se Suzaku no Shounen Kurikara ~Remember, que significa "Recordar". Ele literalmente percorre os momentos mais interessantes do passado do Kurikara para os fãs.

– Ah... você parou antes de acabar? – perguntou Riko.

– Enfim, já deu para vocês terem uma ideia.

Riko não insistiu ao notar o corte de Aika.

– Teve isso para nós também? – perguntou Iruka.

– Na verdade, as memórias de vocês apareceram durante a série. Vocês encontraram o Kurikara sem boa parte da memória dele, só tendo uns lapsos que a maldição o fazia ver nos sonhos. Logo, quem só viu a série animada perdeu muita coisa da história dele. Foi uma ótima estratégia de market... ahn, de vendas. Queria assistir novamente antes que saísse de cartaz, mesmo com o final acabando comigo... enfim, no mangá, as memórias do Kurikara foram aparecendo depois daquele primeiro despertar da maldição, na primeira vez que vocês enfrentaram o Yami-no-Yaku e descobriram sobre ela, que antes os enganava fazendo parecer uma cicatriz comum. Vocês têm noção que esse filme já foi visto por milhares de pessoas? É muito poder!

Eles entenderam metade do que Aika disse, bocejando. Ela então escolheu um canto para cada um dormir: ela ficaria embaixo da mesa. Kurikara ficaria sentado encostado no armário, Iruka no banheiro e Riko entre a sala e a cozinha.

Ao terminar, colocou uma música lenta e muito encantadora, como se convidasse um casal a dançar abraçado entre solos de flautas. Riko comentou por alto que parecia uma música típica das Terras do Leste, lar natal de Kurikara e Riko. Ele sentiu-se incomodado por ouvi-la. Uma parte sua desejou sumir dali e outra parecia inebriada de saudade.

Aika preparou cobertores e fez curativos enquanto tocava o CD. Eles comentavam uma coisa ou outra, mas o sono os estava dominando. Kurikara se calou pelo resto da noite. Só falou novamente quando foi agradecer a Aika pela almofada e o cobertor que ela lhe reservara para que pudesse dormir sentado. E acrescentou:

– Você impediu que eu me visse quando fui possuído.

Aika hesitou.

– Na boa, você não precisa ver isso de novo, a maldição já faz isso por você... E também, queria que aqui você visse coisas que te deixassem feliz.

Kurikara encarou-a e Aika corou. Ela desviou o olhar, sentindo-se um pouco confusa. Era estranho, o "Kurikara do mangá e anime" não pareciam ter um olhar tão... triste. Ela não queria vê-lo assim. Teve uma ideia:

– Caraca, eu quase esqueci! – gritou, num pulo indo para cozinha abrindo a "estranha e grande caixa branca". Ela a fechou sorrindo e abriu um papel escuro. – Pensa rápido! – Aika jogou algo para Kurikara, que pegou no ar. Ele o pegou sem compreender, estranhando o objeto gelado. Mas ao cheirá-lo, seus olhos se arregalaram.

– Chocolate?

– Experimenta!

Apesar de estranhar a embalagem, abocanhou o pedaço exposto e soltou um "huuum". Riko girou os olhos e Iruka pigarreou, quando viram a expressão de surpresa do Guardião. Quando ele mordeu, eles acabaram rindo da cara de prazer do jovem.

– É... incrível!

– Melhor que os do Sul de Gattai?

Ele franziu o cenho.

– Quase.

– É todo seu!

– Lembre-me de lhe dar um das Terras do Sul para a senhorita experimentar.

Aika sorriu de volta, sem jeito e corada. O desconforto de Kurikara passou no mesmo instante. Nem se incomodou com as risadinhas de Iruka e Riko.

– Então tá... Bom, vamos dormir então que está bem tarde. Boa noite, pessoal!

A barra de chocolate já havia desaparecido e ela sentiu uma pontinha de tristeza, pois era um chocolate amargo, um pouco caro. Aika então se sentou embaixo da mesa, e esperou-o fechar os olhos, junto aos demais.

– Aiai... e se eu dormir e acabar acordando sem eles aqui? – pensou.


Glossário>>>

Chibis – como são chamadas caricaturas onde as cabeças e olhos aparecem maiores em relação a um corpo minúsculo, geralmente com expressões superexageradas.

Continue Reading

You'll Also Like

7.9K 646 80
Marinette depois de um acidente fica surda, Adrien não consegue mais falar depois de machucar uma garota. O que irá acontecer no desenrolar da hist...
277 135 6
Em um mundo onde o inesperado espreita nas sombras e a magia permeia a realidade, nossa história começa. Dividida em três emocionantes partes, esta n...
16K 2.5K 189
Quando recuperei minha consciência, percebi que me encontrava numa novel... Sendo mais específico, em "Abismo", uma obra de fantasia lançada há mais...
221K 11.6K 58
ATENÇÃO! ESTE É UM LIVRO DE IMAGINES COM NOSSO VILÃO FAVORITO! Cada capítulo se passa em uma história diferente, sem continuações. As histórias são...