Annalize e Luke chegaram à varanda.
- Que bom que chegaram – disse Antonia – Beth e Charlie vieram fazer uma visita.
Beth olhava Luke de cima a baixo, o analisando de maneira discreta.
- Olá Beth, Charlie, como estão? – disse Annalize educada – esse é meu primo Luke.
- Prazer em conhecê-lo - disse Charlie amigavelmente, lhe dando um aperto de mão.
- Muito prazer – respondeu Luke com um sorriso sincero.
Beth lhe estendeu a mão para que ele a beijasse em cumprimento, Annalize revirou os olhos disfarçadamente.
- Prazer em conhecê-la Elizabeth – disse depois de beijar sua mão.
- Pode me chamar de Beth – disse com um sorrisinho.
- Vamos entrando? – disse Antonia e todos assentiram e entraram. Antonia pediu licença e se retirou da sala.
Annalize, cansada, sentou pesadamente no sofá jogando a cabeça para trás, mas antes de colocar os pés para cima lembrou-se das formalidades por causa das visitas e se ajeitou no sofá, sentando-se como uma verdadeira dama. Luke segurou um riso por perceber isso. Os outros também se sentaram.
- Então Annalize, onde estavam? – disse Beth sentada ao seu lado.
"Que fofoqueira... Ou curiosa como eu?" pensou Annalize.
- Luke estava conhecendo um pouco da cidade. - saiu de seus pensamentos rapidamente.
- Ah é mesmo?! – disse Beth com um sorriso virando-se para Luke sentado a sua frente com Charlie – Onde foram? Tem ótimos lugares aqui, posso dar umas dicas na próxima.
- Fomos ao clube, suas dicas serão bem vindas, ainda há muito pra se conhecer – disse Luke retribuindo o sorriso.
"Quanta gentileza..." pensou Annalize levantando uma sobrancelha.
Ela muda o assunto antes que se enrolem com a mentira.
- E você Charlie, como está? – pergunta ela
- Ahn? Bem, tudo bem – diz ele um pouco distraído.
Annalize reparou que ele estava diferente desde que chegou. Charlie é uma figura que preenche os espaços, sempre inflando seu ego, com muitos sorrisos e falante, quase sempre falando de si mesmo e suas conquistas. Mas agora parecia um pouco abatido, o olhar cansado, nem jogou nenhum tipo de charme para Annalize. O que costuma fazer sempre que a vê e ela nem liga, já era algo natural, quase um hábito entre os dois. Aliás, é um hábito com qualquer garota que ele conhece, Annalize pensava que esse era o jeito dele, talvez para se destacar sempre ao lado da irmã e não significava nada. Não significava mesmo.
Como era de se esperar ela ficou extremamente curiosa com aquilo. Charlie perguntou algumas coisas a Luke sobre a Suíça e suas viagens e os dois conversavam.
- Com licença – disse Annalize se levantando – vou pedir algo para beberem.
Os rapazes assentiram.
- Vou com você – disse Beth a seguindo.
No caminho até a cozinha Beth sussurra:
- Então, Luke parece ser um ótimo rapaz.
- Sim, ele é ótimo – disse Annalize olhando para os lados – mas por que está sussurrando?
Beth revira os olhos e dá um sorriso.
- Você é uma sortuda por poder ver uma bela paisagem todos os dias. Ele é lindo de mais! Teve a quem puxar...
Annalize a encara refletindo sobre aquelas palavras. "Ela acha Daguerre lindo?" pensou, sentindo um leve enjoo no estômago.
- Quando forem conhecer mais da cidade me chamem, conheço lugares muito mais divertidos do que a senhora Joana – disse Beth com ênfase no senhora, em tom de brincadeira.
Annalize a repreendeu com o olhar e ela riu.
Entrando na cozinha Beth pediu chá a Nina que começou a fazer prontamente.
- Seu pai melhorou um pouco menina! – disse Margot entrando – ele desceu até aqui e comeu minha torta, minha torta especial – disse ela, feliz – estava até um pouco mais corado.
Os olhos de Annalize brilharam e ela deu um grande sorriso.
- Ah Margot! Não sabe como é bom ouvir isso – disse ela, ansiosa para ver o pai.
- Eu imagino menina. E você Srta. Beth, aceita um pedaço de torta?
Beth mordeu os lábios, pensativa.
- Não Margot, obrigada, você é uma fábrica de tentações, não quero engordar – disse ela resoluta, apertando a cintura. Margot riu balançando a cabeça.
- Estaremos esperando o chá na sala Nina – disse Annalize.
- Já já estará pronto Srta. – disse ela.
- Obrigada.
Enquanto voltava para a sala uma curiosidade passou pela mente de Annalize. Ela conhecia Beth desde o início da adolescência. Beth sempre contava para ela sobre seus flertes e pretendentes e não desistia de convidá-la para seus eventos como as outras meninas. Era um bocado metida e por vezes chata, mas parecia confiar em Annalize para conversar. Talvez achasse que ela não contaria a ninguém por ser discreta e ter poucos amigos, ou quisesse se gabar sobre ela. O fato é que ela estava sozinha. Annalize parou no caminho e resolveu investir em sua curiosidade.
- Beth?
- sim?
- Por que ainda está solteira?
- O que? – disse Beth surpresa, sentiu-se atingida por um raio.
- Sim, por que ainda está solteira; você é bonita, conhece tantas pessoas, teve tantos pretendentes, já me contou tantas coisas... O que acontece?
Beth não estava acostumada com aquilo. A rotina era ela tagarelar e Annalize ouvir com poucas interrupções.
- E... Eu... Acho que não conheci a pessoa certa... Sabe. Eu sei que o amor não é tudo. E como sei. Mas não tê-lo nem um pouco, deve ser terrível.
Annalize assentiu, não esperava aquela resposta, esperava algo como "não encontrei alguém rico o suficiente..." observou pela primeira vez uma expressão diferente em Beth, mas que passou rápido. Seu sorriso alegre e um pouco irritante voltou.
- Mas e você? Posso fazer a mesma pergunta Srta. Vanklein.
- E eu posso dar a mesma resposta – diz Annalize sorrindo e voltando a andar.
Chegaram à sala e Annalize pôde ouvir o final de uma fala de Charlie.
- Pois é, as pessoas sempre esperam algo de você. Coisas que nem elas mesmas conseguem. É muito mais fácil apontar para o outro... – dizia ele.
"Que conversa profunda é essa?" pensou Annalize, guardando na memória para se lembrar de perguntar a Luke depois.
Luke assentia e pararam de falar quando elas se sentaram. Um pouco depois Nina chegou com o chá. Beth falou mais algumas amenidades e depois que todos terminaram o chá se despediram.
- Até algum dia para conhecer mais a cidade Luke – disse Beth.
- Até Elizabeth, quer dizer, Beth. – beijou sua mão - Charlie, nos vemos na fábrica semana que vem?
- Sim, claro. – cumprimentaram-se.
Charlie beijou a mão de Annalize educadamente.
- Até mais Annalize, desejo melhoras ao seu pai.
- Até Charlie, obrigada.
Beth deu um abraço rápido em Annalize e também desejou melhoras a George. Então partiram.
Luke voltou-se para Annalize.
- É... Eles não são tão ruins, só chegaram na hora errada.
Ela deu de ombros. Luke bocejou e passou a mão nos cabelos os bagunçando, num gesto preguiçoso. Annalize reparou nesse movimento e teve que concordar com Beth, ele era realmente lindo. "Quantas namoradas ele deve ter tido na Suíça?" Annalize desviou esses pensamentos, tinham coisas muito mais importantes acontecendo do que a beleza e vida amorosa do primo.
- Vou verificar se Daguerre está em casa – disse ele.
Annalize percebeu que Luke não chama mais Daguerre de pai e sentiu a dor um pouco adormecida pela presença de Charlie e principalmente de Beth, voltar com tudo. Beth era metida e irritante, mas sabia distrair como ninguém.
- Tudo bem, eu vou até meu pai.
[...]
Luke entrou no quarto de Daguerre depois de verificar que este não estava em casa. Observou o espaço ao redor e passou a mão levemente sobre o piano. Abriu todas as gavetas e as revirou, viu um envelope embaixo de um livro, mas estava vazio. Olhou embaixo da cama. Nada. Suspirou.
Abriu a porta de um pequeno armário e ao apalpar as roupas dobradas, sentiu algo pontudo. Puxou aquilo,descobrindo que era um porta retrato. Luke estremeceu ao ver a foto nele. Não havia dúvidas, eram os olhos dele nos olhos de sua mãe. Mariana, com um sorriso largo e uma mão no chapéu. Lágrimas quiseram cair, mas Luke as reprimiu com força. Colocou o porta retrato no lugar e vasculhou mais um pouco, até ser interrompido por três batidas fortes na porta que ele deixou aberta.
Continua...