Capítulo 56 - Bônus Annalize

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Fiquei completamente surpresa em descobrir que o soldado Thomas é filho do delegado. Pude perceber um grande respeito e sintonia entre eles, mas jamais imaginaria tal fato. Como ele reagirá quando descobrir?

Desde a visita de minha mãe e Arthur, no domingo, presto atenção em cada detalhe deste lugar horroroso e tento não me perder no tempo. Tenho trabalhado muito e me alimentado pouco, como acontece com todas as outras mulheres aqui. As mulheres que "dão trabalho", em crises ou tentativas de fuga são punidas. Eles chamam as punições de tratamento.

Não vejo como agressão, imersão em água gelada, contenção e eletrochoque podem tratar alguém. E tratar o que? Desespero? Busca por liberdade? Diferença? Tristeza profunda?

Descobri com minhas companheiras de cela que Jenna é a enfermeira chefe, e é preciso ter cuidado com ela. Ela pode ser pior do que os médicos. Contaram também sobre a existência de um sentinela novo no local, que mantém um romance com uma paciente. O boato é que ele só está neste trabalho por causa dela. Isso que é amor.

Elas também confirmaram que a enfermeira Liz, é uma verdadeira enfermeira, que cuida como e quando pode de quem precisa e sempre tenta acalmar alguém em crise, antes que Jenna e seus olhos de águia percebam. Isso me lembra de quando ela me soltou aquele dia.

Toda noite tenho sentido uma mistura de dor e alegria. Dor ao pensar na situação dessas mulheres e em Luke, que já deve estar em Londres e alegria por saber que as pessoas que eu amo estão lutando por mim, tentando me ajudar.

- Vanklein – Liz interrompe meus pensamentos – Não fique parada - ela recomenda e olha rapidamente para outra enfermeira próxima, que observava eu e outras mulheres a esfregar o chão. Começo o serviço novamente, não posso chamar nenhum tipo de atenção.

Observei esses dias que as trocas de turno entre os sentinelas se dão ao amanhecer, e das enfermeiras ao entardecer. Os médicos fazem visitas esporádicas e parecem só fazer observações. Não vi mais o doutor Simon, tento me controlar para não deixar o ódio dominar o meu coração, toda vez que lembro da armadilha em que caí. Passos os olhos pelo dorço de meus dedos. Estão levemente machucados por ter atingido as grades da cela, num momento de raiva no dia anterior.

Fiquei pensando se foi tolice de minha parte ter ido até a festa. Se me deixei levar impulsivamente. Se era melhor ter ficado em casa e esperar... Cecily ouviu meus lamúrios, depois de perguntar o porque de atingir a grade. As mulheres da cela também estavam atentas ao meu desabafo. Então a senhora Stein me disse uma frase:

- Annalize, Agostinho de Hipona disse uma vez: O mundo é um livro, e quem fica sentado em casa lê somente uma página.

Isso me fez lembrar que viver é um risco afinal. E eu estou disposta a corre-lo. 

Durante a semana, as quartas são o dia de inspeção. Os quartos são revistados e somos examinadas, procuram piolhos em nosso pouco cabelo e vergonhosamente, as enfermeiras nos veem despidas. Magnólia tentou me consolar dizendo que poderia ser pior. Senti-me humilhada.

A enfermeira Liz ajudou-me neste dia, quando uma outra estranhou que meu cabelo não estivesse tão curto quanto das outras. Liz disse para ela não se preocupar, pois terminaria o trabalho.

- Cubra logo a cabeça – ela me disse baixo – mas uma hora ou outra, elas acabarão cortando o resto menina – ela continuou seu caminho passando pela fila de mulheres inspecionadas. Eu já estava me sentindo mal daquela forma, não me importava se cortassem mais. Confesso que quando tiro o tecido que cobre minha cabeça durante todo o dia, e percebo que não posso fazer as tranças que um dia minha mãe me ensinou dói, mas isso é o de menos.

Tenho visto mulheres falando sozinhas, se debaterem, outras arranham a parede sem dó das unhas e dedos. E os gritos noturnos... Ainda não me acostumei.

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