Pétalas de Akayama [BL]

By bethahell

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Um espírito maligno coloca um vilarejo em risco e agora dois rivais terão que se unir para salvar quem amam. ... More

Pétalas de Akayama vai voltar!
[𝗩𝗢𝗟𝗨𝗠𝗘 𝟭]
Capa
Personagens
Epígrafe
Prólogo - Duas vidas
Capítulo 1 - Estou de volta
Capítulo 2 - Yōkais não existem
Capítulo 3 - Kitsunes não protegem humanos
Capítulo 4 - Deixemos que ele morra sozinho
Capítulo 5 - Vocês são todos iguais
Capítulo 6 - Magia de raposa
Capítulo 7 - Você já sabe meu nome (parte 1)
Capítulo 7 - Você já sabe meu nome (parte 2)
Capítulo 8 - Peguem seus sinos (parte 1)
Capítulo 8 - Peguem seus sinos (parte 2)
Capítulo 9 - Banquete para os fortes
Capítulo 10 - Salvando vocês
Capítulo 11 - Espere com paciência, ataque com rapidez
Capítulo 12 - Entre logo, vamos nos divertir (parte 1)
Capítulo 12 - Entre logo, vamos nos divertir (parte 2)
Capítulo 13 - O príncipe de Sakuiya não aceita deslizes
Capítulo 14 - Não me relaciono com humanos
Capítulo 15 - Eu não vou embora
Capítulo 16 - Guardiões do templo
Capítulo 17 - O amor trouxe vocês até aqui
Capítulo 18 - Na primavera haverá flores novamente
Capítulo 19 - Vou servir a vocês
Pétalas de Akayama vai ser publicado por uma editora!
[𝗩𝗢𝗟𝗨𝗠𝗘 𝟮]
Capa
Capítulo 20 - Arcadas excepcionais (parte 1)
Capítulo 20 - Arcadas excepcionais (parte 2)
Capítulo 21 - Elixir do Nascer do Sol
Capítulo 22 - Serviço de mulher
Capítulo 23 - Diga sim para mim
Capítulo 24 - Um feiticeiro humano
Capítulo 26 - O último fio de esperança (parte 1)
Capítulo 26 - O último fio de esperança (parte 2)
Capítulo 27 - Insolente
Capítulo 28 - Segredos sujos
Capítulo 29 - Transformar seus três castelos em cinzas
Capítulo 30 - O mais breve toque mata (parte 1)

Capítulo 25 - Não solte a corda

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By bethahell

Olá, venerável!

Quintou com um novo capítulo! Sabiam que dia 7 de abril foi aniversário do nosso Yuu-chan? Pois é, e a arte de aniversário dele foi postada no clubinho bethahell! <3 Caso alguém aqui assine, não deixe de conferir a arte finalizada (que vai vir de presente para quem assina como "gato infernal")!

Recapitulando o capítulo anterior...

Depois de uma noite de festa, chega a ressaca no dia seguinte. Tetsurou tenta lidar com os efeitos do álcool no corpo, mas Murayama tem algo importante a dizer: eles estão ali para tentar fazer a rainha sorrir, já que ela se afundou num mar de tristeza depois da perda da filha. Nikko e Yuno finalmente dão o tecido para Yusuke analisar e o samurai descobre que um feiticeiro humano, responsável pela morte da primeira princesa do reino, está os esperando em Sazanka.

 

A notícia de que chegaram ao ponto de maior risco da viagem gerou comoção entre a comitiva. Já estavam na metade do caminho. Tudo o que precisavam era ultrapassar só mais aquele obstáculo.

Durante o percurso, notaram a grotesca diferença com Sakuiya. Em vez da terra que palpitava calor e primavera, mergulharam num reino que abraçava uma melancolia persistente, com matizes frias se desdobrando sobre a paisagem e flocos de neve dançando.

O escrito que Yusuke desvendara no novelo de lã não lhe serviu de muito e nem comoveu, exceto pelos kanji que afirmavam a existência de um terceiro humano em Makai, e este supostamente havia matado uma figura tão importante como uma autoridade de um reino. Como era possível? Sobreviver ali e matar ali. Quem poderia ser capaz disso? Depois de passar por situações angustiantes onde nada podia fazer contra aquelas criaturas, saber que essa pessoa teria um meio de matar youkais e ainda conseguia viver naquela realidade sem se deteriorar criou um formigamento no estômago, uma esperança que queria nascer. Yusuke precisava saber se era verdade, porque, sim, poderia ser só balela; uma fofoca ou uma pista falsa que alguém implementou só para saber se Yuno e Nikko haviam desvendado corretamente algo tão absurdo.

Inclusive, os dois nekomata nem deram importância à mensagem. Trataram como uma piada de instrutores. Ficaram até mesmo desapontados, jogando gelo nas esperanças de Yusuke.

Logo, a única parte que fosse interessante compartilhar era a da morte da princesa de Sazanka. O que surpreendeu foi que tanto Tetsurou, quanto Hikaru, já pareciam saber do fato. Hikaru só virou o rosto peludo; Tetsurou abriu a boca e disse um "ahhh..." longo, como quem liga os pontos.

— Se preparem! Vamos atravessar pela corda!

Tetsurou mordeu o lábio inferior, Yusuke trincou os dentes. Tentavam transmitir motivação um para o outro enquanto se entreolhavam. Agora era a parte mais difícil, Ha-onna havia explicado em detalhes o que deveriam fazer, mas nada os preparou para as rajadas de vento que cortavam suas bochechas e o frio insistia em adentrar pelas frestas dos quimonos.

E havia aquela corda.

Quando Ha-onna falou sobre isso pela primeira vez, Yusuke julgou ser uma piada sem graça. Vendo-a ali, repousando tranquilamente entre o caos da nevasca, tão longa que não podia ver o seu final, não podia evitar pensar pela milésima vez como Makai conseguia ser tão absurda.

Teriam que segurar firmes na corda para não serem levados pela Tormenta Branca de Sazanka-heika, enquanto andavam por mais de duas horas na neve até chegar na outra ponta.

Foi a maneira que Sazanka-Heika encontrou para não deixar ninguém de Sakuiya entrar em seu território sem permissão. Ninguém passava por ali sem ajuda, a não ser que quisesse ser levado pelo vento até o topo das montanhas, onde passariam o resto da eternidade como estátuas de gelo.

Ter a chance de usar uma corda já era um imenso privilégio.

Tetsurou foi amparado por Yusuke ao saltar da liteira.

— Você está melhor?

— Sim... Minha cabeça ainda dói e ainda vejo o mundo meio torto, mas nada comparado a antes.

— Você foi muito irresponsável por beber sabendo o que enfrentaremos hoje. — Yusuke cuspiu, cruzando os braços.

Tetsurou baixou a cabeça.

— Me desculpa, eu não quis dar trabalho. Estava tentando me enturmar para conseguir informações.

— Não importa mais. — Yusuke desconversou. Era muito estranho ouvir o Seki pedindo desculpas. Não gostava nem um pouco da sensação que isso causava. — Precisamos segui-los. Mais da metade dos youkais já se seguraram na corda. Vai ser perigoso se ficarmos sozinhos no final.

Tetsurou assentiu, segurando-se em Yusuke para se equilibrar sem tropeçar.

— Vocês dois! Venham aqui, guardei esse lugar para vocês! — Yuno acenava para eles calorosamente.

Tetsurou tombou a cabeça e forçou a vista, tentando entender a situação. Aqueles dois youkais que vira antes haviam sido rápidos e garantiram o meio, o melhor lugar da corda. Hikaru estava ali também e os chamava com a patinha de um jeito muito mais discreto.

O sorriso de Tetsurou se expandiu.

— Então você fez mesmo novas amizades, Yuu-chan? Como foi que ele chamou? "YuYu Yuujo"? Eu consegui ouvir de onde estava.

Enquanto Tetsurou sorria largo, Yusuke olhou de soslaio e bufou.

— Não fale esse nome ridículo. Até parece que faria amizades com youkais... Tsc. Ainda mais um que já arranquei a cabeça.

— O quê? Você...

Tetsurou primeiro o encarou sem entender, para no segundo seguinte levar a mão à boca para esconder o riso. Yusuke sempre foi uma pessoa fechada para amizades, não eram muitos que conseguiam ultrapassar a barreira glacial que ele havia levantado ao redor de si. Quando eram pequenos, ele não conseguia fazer ligações profundas com outras crianças porque, como era visível, Yuu nunca era a primeira opção delas. Se o convidassem para brincadeiras, era só porque ele já estava ali ou se ofereceu para ir junto. Era uma sensação de não-pertencimento sempre à espreita, gritando em seu ouvido que ele não fazia parte de nenhum grupo, e nem nunca iria fazer, por conta da sua personalidade difícil e pilhas de defeitos. Yusuke não era o preferido de ninguém — exceto de Tetsurou. Até a neve levar aquela amizade também.

Por isso ele era naturalmente desconfiado e não acreditava que alguém iria querer ser seu amigo só por gostar da sua personalidade, igual um gato preto e nervoso que atacava qualquer um que se aproximava demais.

— Você precisa avisá-lo sobre isso, acho que ele não percebeu ainda — o curandeiro provocou.

— E você acha que eu já não tentei?

Tetsurou sentiu pena de Yusuke ao ver seu rosto frustrado.

— O que tanto vocês falam? Vocês desistiram? Venham logo! — Yuno gritou novamente, dessa vez mais alto.

O som agudo fez Yusuke estremecer, trincando os dentes.

— Eu ainda vou arranjar um jeito de matá-lo.

Tetsurou riu e se soltou de Yusuke, conseguindo ir andando até chegar onde seus companheiros de viagem os aguardavam.

Nikko deu um passo para trás, criando o lugar vazio na frente deles. Tetsurou pegou Hikaru no colo e entregou para Yusuke, que a apanhou com a cara fechada, ainda sentido pelas investidas de seus dentes no dia anterior. Ele a acomodou entre as vestes como se fosse um bebê de colo e, depois, agarrou-se na corda. Preferiu ficar na frente de Tetsurou dessa vez, as memórias da dança percorrendo pela cabeça.

Dali para frente a tempestade não mostraria qualquer clemência. Ninguém poderia os ajudar, nem mesmo Zen, caso estivesse ali. Só poderiam contar com a própria força e resiliência.

— Chegou a hora! Rumo a Sazanka! — O youkai que liderava a comitiva gritou.

Quanto mais adentravam em Sazanka em direção à Hyoushitsu, mais a tempestade se intensificava. O vento soprava com força, carregando pedaços de gelo que se acumulavam nos cabelos e cílios dos dois humanos, tornando-os tão brancos quanto os de um senhor de idade. Seus lábios estavam rachados, prestes a sangrar. Tiveram que comprometer suas visibilidades, seguindo de olhos fechados, pois a neve espessa ressecava seus globos oculares a ponto de mal enxergarem um palmo à sua frente.

Quanto tempo havia passado desde que começaram a atravessar aquele inferno gelado? Dez minutos, trinta, uma hora? Parecia uma eternidade. Cada passo dado se profetizava como se fosse o último, prontos para morrerem e serem sepultados pela neve.

Foi quando Tetsurou ouviu um piar moribundo ressoar mais alto que o uivo do vento. Ele vasculhou ao redor, procurando de onde o som vinha. Não muito afastado deles, um pássaro negro se destacava na neve, com metade do corpinho já coberto, preso. Ele gemia agudo e dolorido, um suplicar para a clemência da morte.

Como um pássaro havia ido parar ali? Não havia visto nenhum animal até então. Seria impossível ele ter chegado tão longe sem a ajuda de ninguém.

Outro piadinho. O coração de Tetsurou se espremeu. Se não fizesse nada, ele acabaria morrendo dessa forma horrível. Não tinha meios para cuidar do bichinho ali, mas nem pensou muito antes de agir. Olhou para a corda onde seus punhos apertavam e respirou fundo. A voz do youkai avisando que eles não poderiam soltar a corda de jeito nenhum ressoou nos ouvidos. Aquele fio que atravessava de uma ponta a outra os manteria vivos até atravessarem a Tormenta Branca de Sazanka-heika. Mas o pássaro estava longe, sofrendo, e quase sendo levado. Engoliu em seco, as mãos trêmulas pelo que estava prestes a fazer. Yusuke iria ficar furioso.

Se fosse rápido, ele mal iria perceber. Duraria segundos para buscar o pássaro e retornar à linha.

Tetsurou soltou da corda e tentou correr para o lado. Não deu certo. Assim que perdeu a fonte de segurança, o vento o levou.

Os youkais o observaram perplexos; até pararam de andar e apertaram a corda com mais força, assustados com a facilidade com que ele havia sido levado, como se o ar tivesse mãos fortes que o agarraram.

— Tetsurou!

O grito de Yusuke, carregado pelo rugido do vento, ecoando em cada grão de neve milhares de vezes. "Tetsurou!" "Tetsurou!".

O mundo girou ao redor, suas mãos e pés procuravam desesperadamente terra firme. Concentrava todo o peso do corpo e o empurrava para baixo, apenas para subir cada vez mais. Ele rodopiou no ar até ficar enjoado. Ainda conseguia ver a linha da comitiva, a cerca de quinze metros, mas seus gritos de ajuda eram inúteis, abafados pelo uivo da tempestade.

Nada adiantou. O vento não mostrava misericórdia. A partir do momento que Tetsurou soltou a corda, foi considerado um intruso que tentava invadir Sazanka. Tudo naquele lugar trabalharia incessantemente para matá-lo.

Envolto pelo desespero, Tetsurou ainda podia ver o ponto preto coberto pela neve. Lamentou-se; além de não o salvar, ainda se colocou em perigo.

Um vento rápido e contrário soprou ao seu lado. No segundo seguinte, tinha sido apanhado por algo — alguém. Parecia ser uma pessoa, mas era como se o próprio ar tivesse colocado Tetsurou em seus braços. Então, a imagem da pessoa se materializou em uma rajada. Tinha o rosto coberto por um tecido, semblante sério e orelhas de gato.

Nikko.

— Nii-chan pegou ele, Yusuke! Reina-... Quer dizer, ela! A nossa dançarina está segura agora! — Tetsurou ouviu a voz de Yuno lá embaixo, o tom tão alto que poderia causar uma avalanche.

— Traga logo ele de volta! — A voz de Yusuke soou estridente e rouca, suas cordas vocais deveriam estar machucadas pelo esforço.

A atenção de Nikko voltou-se para Tetsurou:

— Você está bem?

Tetsurou arfou antes de responder.

— E-estou. Só com muito frio e enjoado...

O cenho de Nikko se franziu.

— Tente não se soltar da corda de repente na próxima vez.

— Não irei...

— Vamos voltar agora, seu amigo está prestes a surtar.

— Espere, podemos descer um segundo? Tem um passarinho na neve que está quase morrendo. — Tetsurou apontou para baixo, onde o ponto preto tremulava. — Eu quero resgatá-lo...

— Pássaro?

Nikko prensou bem os lábios, Tetsurou quase sentia seu olhar o censurando por debaixo do tecido.

— Foi por isso que se soltou da corda?

— Sim. — Tetsurou se encolheu nos braços de Nikko. — Eu não poderia deixar o pobrezinho morrer congelado.

O youkai ficou em silêncio, para em seguida dar de ombros.

— Não tenho nada a ver com isso. Seu castigo vai ser lidar com seu amigo quando voltarmos.

Tetsurou estremeceu. Yusuke deveria estar furioso e provavelmente já havia criado uma lista imensa de reclamações que iria fazer assim que ele estivesse a salvo. O corpo de Nikko foi perdendo altura, até seus pés tocarem o lago congelado. O bico do pássaro era a única parte do seu corpinho que não foi soterrada pela neve. Seu piado minguava, tão fraco quanto um sussurro.

Nikko abaixou-se, sem permitir que Tetsurou saísse dos seus braços.

— Pegue-o rápido. Meu rei é de água e pode ser flexível e se adaptar com facilidade nesse temporal, mas está quase acabando.

Tetsurou mordeu o lábio e assentiu. Se Nikko estava ali em pé, tendo se abdicado da corda, era óbvio que a Tormenta Branca estava tentando levá-lo, do mesmo jeito que havia feito com Tetsurou. A força que ele exercia para se manter imóvel durante todo aquele tempo deveria estar consumindo o resto do seu rei. Se demorasse demais, a segurança de ambos seria comprometida.

Com um movimento rápido, Tetsurou ergueu um braço e arrancou o pássaro da neve. Ele o abraçou contra o peito, tentando aquecê-lo para derreter os fragmentos de gelo alojado entre as penas. Ele tremia, o coração batendo fraquinho, mas insistente em se manter vivo.

— Eu te peguei. Agora você está seguro — Tetsurou sussurrou.

O curandeiro percebeu que algo estava errado quando os braços ao redor do seu corpo tremeram. Em seguida, o lago congelado estremeceu. Um estrondo alto de algo se quebrando. O chão começou a rachar. O gelo estava se partindo em grandes pedaços, fazendo com que Nikko perdesse o equilíbrio.

— Segure-se em mim! — ordenou Nikko, elevando a voz pela primeira vez.

Tetsurou obedeceu, envolvendo o pescoço do youkai.

Uma criatura enorme emergiu do lago ao longe, sacudindo-se para se livrar do gelo que havia acabado de romper, ainda preso em seu corpo. Não, Tetsurou observou melhor, aquele era o seu corpo. Ele era o próprio lago. Nunca havia visto nada parecido — um ser abissal, com a pele translúcida e líquida. Não havia rosto, nem cauda. Apenas os dois pequenos pontos pretos que eram seus olhos e uma boca cheia de dentes em uma massa gigante e gelatinosa.

Nikko tentou recuar, mas seu corpo não se mexia. Era como se tivesse sido congelado. Estava paralisado de medo? Enquanto isso, o youkai líquido se erguia em toda a sua grandiosidade, derrubando tudo o que via pela frente.

— Nikko-sama? — Tetsurou o chamou, sacudindo suas vestes. Nenhuma resposta. Ele também não conseguia sair dos seus braços, que, imobilizados, serviram como correntes. As mãos do youkai agora eram uma prisão que pressionavam suas pernas e o impossibilitava de fugir. O desespero crescia conforme via o monstro do lago tomar proporções ainda maiores. Já passava da altura do maior castelo de Quioto! — Nikko-sama, por favor, acorde! Precisamos sair daqui!

— Tetsurou!

Ele espichou a cabeça para trás, tentando ver por cima do ombro de Nikko. Era Yusuke, a poucos metros de distância, tentando se aproximar, mas sendo impedido pela elasticidade da corda, que continuava em linha reta.

Por que eles ainda estão ali? Não deveriam ter apressado o passo para fugir...?

— Yuu-chan, você está bem? — gritou de volta.

— Estou, mas os youkais da fila não estão se mexendo, parecem estátuas! — Yusuke exclamou, desviando de um pedaço de gelo imenso que veio voando em sua direção. — Tem algo de muito errado com esse monstro!

O corpo de Tetsurou estremeceu, o pânico acelerando o terror que o tomava. Então Nikko não estava imobilizado de medo, como pensou inicialmente. Aconteceu com todos os youkais, só ele e Yusuke estavam conscientes. Dois humanos sozinhos, com a mobilidade reduzida e um monstro gigante que iria matá-los assim que estivesse em sua forma completa, levando tudo do chão com ele. Tetsurou ouviu o som de algo rachando, dessa vez muito perto. Olhou para o chão e prendeu o ar em seus pulmões ao ver uma linha de quebra passar por debaixo das pernas de Nikko.

— Yusuke!

— Eu vi, a rachadura passou por aqui também!

Então esse era o fim. No momento em que o monstro se erguesse completamente, a linha se quebraria e o chão os engoliria. Eles morreriam afogados, sugados pelas profundezas geladas de Sazanka, e fariam parte do corpo da criatura para sempre.

— Eu vou aí te buscar! Temos que sair daqui!

Um frio na barriga perpassou Tetsurou ao pensar no que aconteceria com o amigo quando ele soltasse a corda. Yusuke seria levado embora pelo vento, assim como foi com ele, mas dessa vez não teria ninguém para salvá-lo.

— Não, Yuu! É perigoso, você viu o que aconteceu comigo! — Tetsurou tentou imprimir o máximo de desespero na voz. — Temos que pensar numa ideia melhor!

— Eu não vou ficar parado esperando o chão rachar e nos engolir, Seki! — Yusuke respondeu, pegando a espada da bainha de um dos youkais congelados. Se a cravasse no gelo e usasse como ponto de apoio, poderia diminuir suas chances de ser levado pelo vento.

Yusuke estava prestes a soltar a corda, mas algo estranho aconteceu. O monstro, que estava tomando cada vez mais altura, parou. E depois começou a descer, praticamente derretendo em sua forma, voltando para o lugar de onde havia saído, até sumir completamente. Foi tudo tão rápido que parecia mais uma fuga do que simplesmente uma desistência de matar os invasores.

— O que foi...

A fala de Tetsurou foi interrompida quando sentiu um solavanco e o cenário ao redor mudar, estando ao lado de Yusuke em segundos. Assim que Nikko recuperou os movimentos, a primeira coisa que fez foi voltar para a linha e fazer Tetsurou segurar a corda, antes que mais casualidades acontecessem. Hikaru, entre as vestes da gola do Yusuke, empregou o pescocinho para cheirar Tetsurou e garantir que estivesse bem.

— Não solte mais a corda — Nikko disse, seco, tomando o seu lugar atrás dos humanos de Zen.

Tetsurou acomodou o passarinho dentro de suas vestes quentes e segurou a corda com ambas as mãos. Estava atordoado e, olhando para Yusuke, percebeu que o amigo se encontrava na mesma situação.

— O que foi tudo isso? — Yusuke perguntou enquanto vislumbrava os youkais se recompondo e voltando a andar como se nada tivesse acontecido. A única diferença era que tinham acelerado o passo, quase correndo, tentando chegar o mais rápido possível ao outro lado.

— Ei! Seu ladrão, devolva a minha espada! — O youkai ao qual Yusuke havia pego a katana emprestada a arrancou dele, enfiando-a de volta na bainha com uma expressão mal humorada.

Yusuke o ignorou.

— Aquele que apareceu foi o youkai que protege Sazanka, Boukan-gu. Ele é imenso, nós estamos andando em cima dele — Yuno explicou, já que Nikko aparentava não querer trocar mais nenhuma palavra com eles. — Ele paralisa os youkais somente com sua presença e aproveita nossa falta de defesa para nos devorar. Sorte de vocês que perdemos a consciência também, porque senão todos nessa fila saberiam que vocês são humanos — Yuno sussurrou essa última parte, cobrindo a boca para que ninguém lesse seus lábios.

— Se ele não tivesse recuado, estaríamos todos mortos agora — Nikko acrescentou, a voz estava mal humorada.

Tetsurou se encolheu. Sabia que aquele mau humor era por sua causa.

— E por que ele recuou? — Yusuke perguntou.

— Quem sabe? — Yuno deu de ombros. — O que importa é que estamos vivos e finalmente chegamos!

Estavam diante de um imenso portal de gelo, a única entrada visível em quilômetros de muros congelados. Sua estrutura imponente era composta de arcos graciosos que se entrelaçavam em padrões intrincados, lembrando a estrutura dos desenhos de flocos de neve. Uma entrada majestosa para um reino desconhecido e perigoso.

Tetsurou engoliu em seco ao ver uma fileira de guardas vestidos com armaduras de gelo no limiar do portal.

— Estamos perdidos se eles nos revistarem — Yusuke disse entredentes.

— Não precisa se preocupar, foram eles mesmos que jogaram a corda para nós. Tudo está sob controle. — Yuno deu um tapinha nas costas de Yusuke. — Vamos, não podemos nos atrasar, amigo Yuu!

Continua...

No próximo capítulo...

É o dia da apresentação e não há membro da comitiva que não esteja nervoso diante da realidade de ser encarado pelos olhos frios da rainha. Memórias nebulosas tomam a cabeça e Tetsurou, enquanto Yusuke se prepara para entreter como hokan. Hikaru desaba com Tetsurou, contando a ele um pouco do seu passado em Sazanka.

No próximo capítulo: "O último fio de esperança (parte 1)"

Se gostou do capítulo de hoje, purrr favor, deixe um comentário e uma estrelinha!

Para ler os próximos capítulos antes de todo mundo, assine apoia.se/bethahell e nos ajude a viver da nossa arte! Temos DOIS capítulos adiantados por lá. <3

Até semana que vem!

Beijos felinos,

Mork

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