Autora Narrando
Como de costume, Luke estava com o Daniel no colo. O menino tinha acordado durante a madrugada, depois de uma maratona de desenhos e um pouco de mingau, adormeceu nos braços do pai. Luke tinha adormecido juntamente com o filho na sala de cinema mesmo, acordou com uma presença na sala. Assustou-se ao ver a Diana, a mulher tinha os olhos brilhando, parecia particularmente feliz e ele estranhou o fato, já que as semanas que passaram, ela parecia estar envolvida numa bolha de rancor e mau humor. Mas agora, simplesmente sorria.
– O que você está fazendo aí, parada? – ele questiona, desconfortável com o olhar da esposa em si.
– Estamos apenas observando o quanto vocês são lindo, juntos. – Diana sorriu de lado e avançou para dentro da sala. Então, sentou-se no sofá, pegou o controle e mudou de canal. Deixando em um programa de fofoca sobre os famosos. – Lembro quando eu disse que estava grávida, você quase morreu de tanta felicidade. Ser pai sempre foi a sua vocação. – o olhou. – Ter um filho acho que era a sua maior idealização.
– Sim. – ele apenas concordou, um pouco desconfiado com aquela conversa, abraçou mais o filho, por receio de que a Diana o tirasse dos seus braços.
– Por que nunca quis ter filho antes de me conhecer? – Diana perguntou com uma falsa curiosidade. – Você deve ter tido oportunidade antes, não é?
Luke deu de ombros.
– Apenas não aconteceu.
Á realidade é que a única mulher que quis ter filho era a Irin... Porém, quando conheceu a Diana, as coisas saíram do controle e pouco tempo depois, ela anunciou que estava grávida. O que ele poderia fazer? Sempre quis ser pai, e independente da mãe, era o seu filho que estava crescendo no ventre, uma parte sua, ficara extasiado! Tanto que fechou os olhos para o carácter duvidoso de Diana e casou-se com ela. Moldou-se a sua realidade e amou a Diana por presenteá-lo com um filho.
Diana apenas meneou a cabeça, mas os seus olhos ainda estava lá... Aquele brilho estranho.
Luke consultou o seu relógio, era um pouco mais de oito da manhã. Olhou para o Dan com o coração borbulhando de amor. O seu filho dormia tão encolhido e seus braços que era nítido que o peitoral do pai era um dos seus lugares mais favoritos para dormir.
– Bomba! – a voz veio da televisão que chamou atenção dele. – Fontes seguras revelam que uma celebridade americana realizou um aborto induzido enquanto estava na faculdade!
– Quem será ela? Quem? – o outro apresentador fez suspense.
Um pouco de sensacionalismo até que o primeiro apresentador voltou a falar:
– Nada menos, nada mais do que a atriz e cantora Irin Urassaya! – a foto de Irin surgiu na tela ao lado de papéis que indicavam serem exames comprovando o aborto. – A clínica em que Irin fez o aborto há alguns anos atrás teve o sistema hackeado, liberando informações sobre a Irin... Na época da interrupção, a celebridade estava com 6 semanas de gestação...
Luke não ouvia mais nada porque tudo a sua volta tinha parado, deixando apenas um zumbido em seus ouvidos, enquanto, mentalmente, ia recordando-se do tempo da faculdade...
Flashback On
Luke encontrou a Irin deitada na cama do seu dormitório com os olhos perdidos. Ela estava estranha demais, evitou olhá-lo a todo momento e quando ele sentou ao lado dela, ela afastou de imediato, ficando quase grudada na parede. Ele entendeu. Ela não queria que ele a tocasse.
– Você está com raiva de mim ainda porque eu fui pra festa da confraternização? – ele perguntou revirando os olhos. – Foi apenas uma festa, Irin! Você disse que não se importava, que preferia ficar sozinha, não entendo esse seu comportamento agora.
Ela o olhou quase com dor, mas desviou o olhar, suas mãos institivamente tocaram a própria barriga e um vazio surgiu nos olhos castanhos.
– Você está com dor? – ele perguntou com o cenho franzido.
– Eu vou passar uns dias com a Becky. – foi a resposta de Irin, sua voz soou tão fria que os pelos da nuca de Luke se arrepiaram. – Ela estava aqui, foi apenas levar a mala para o carro.
– Dias com Becky? Mas a faculdade? Estamos em semana de prova, Irin! Se você faltar, vai se dá muito mal.
– Eu resolvo isso depois, Luke. – ela sentou-se, vagamente, como se tivesse de fato, sentindo dor. – Preocupe-se com o seu futuro acadêmico e deixe que eu cuido do meu.
Luke irritou-se com a resposta da namorada. Não conseguia entender a Irin! Uma hora estava de boa, outra hora estava essa pessoa esquisita à sua frente. Bipolar demais. Era como se tivesse pisando em ovos com ela. Ele levantou-se sem esconder a sua frustração. Há meses estava lidando com isso. Não aguentou e explodiu:
– Não se trata apenas do futuro acadêmico, Irin. Trata-se do nosso relacionamento que parece que cada vez mais vai pra o fundo do poço porque você é incapaz de me comunicar qualquer coisa. Somos um casal, lembra? Devíamos sempre nos consultar antes de qualquer decisão. – passou a mão nos cabelos, chateado. – Você não está nesse relacionamento sozinha!
– Fala como se fossemos casados. – ela suspirou, não estava com psicológico para brigar, naquele momento, nem para conversar tinha psicológico, ainda estava aceitando o que fizera.
– Ainda bem que não somos. – Luke quase gritou, furioso demais com a namorada. – Deus me livre acordar um dia e perceber que estou casado com essa sua versão, ainda bem que temos um longo caminho a percorrer, porque você desse jeito, nem mesmo um filho teu eu gostaria de ter.
Luke só percebeu a crueldade das suas palavras quando enxergou uma Irin pálida como a morte, o olhando com acusação em choque. Ele tentou reverter a situação e se desculpar, mas as palavras foram venenosas e espinhosas demais para ela aceitar um perdão. Foi ali que tudo entre eles começou a desandar...
Flashback Off
Não precisava de mais nada para compreender. Luke sentiu como todo o seu sangue estivesse sido drenado ao se dar conta que provavelmente naquele dia que Irin tinha feito o aborto, o modo em que ela estava, como saiu do dormitório com auxílio de Becky e os dias que ficou afastada, quando retornou, a Irin estava diferente... Meio revoltada e inconsequente. Sem conta ás vezes que ela o olhava com ódio, como se ele fosse culpado por algo que nem ele mesmo sabia do que se tratava.
Ela tinha abortado o seu filho e na época, teve a audácia de culpá-lo.
Luke levantou-se com extrema calma e entregou o Dan para a Diana que assistia a reação do marido com divertimento. Ela sabia o quanto o Luke abominava a ideia de um aborto provocado, sabia que esse relacionamento com a Irin estava fadado ao fracasso quando ele saiu em disparada da mansão.
Primeiro, ele procurou a Irin na casa dos pais dela, ela não estava. Os seus tios estavam chocados com a notícia de Irin ter feito um aborto, já que eram conservadores e religiosos. Não compreendia o porquê a Irin ter feito aquilo. Luke não se importou com a angustia dos seus tios, só queria saber onde a morena estava e quando foi revelado na casa de Becky, foi atrás dela com a fúria correndo os seus vasos, o ódio estava dominando seu corpo.
– Onde está a Irin? – questionou á Alison, assim que a mesma abriu a porta, Luke estava transtornado.
– No quarto de Rebecca. – Alison respondeu com um sorriso.
Luke subiu os degraus de dois em dois, ignorando o esforço físico, só queria colocar as cartas na mesa. Pedia fervorosamente para que isso fosse um mal entendido, apenas uma fofoca sem fundamento da imprensa. Mas quando adentrou o quarto de Becky sem bater e encontrou a Irin parada de frente á janela com o celular na mão, o olhar que ela o direcionou confirmou a sua suspeita. Ela tinha abortado mesmo um filho dele.
O mundo do Luke caiu por terra.
– Como pode? – ele gritou ao plenos pulmões, avançando até ela e agarrando-lhe pelos ombros, a chocalhando. – Como você pode matar o nosso filho? O meu filho? Como pode, Irin?
Ela resfolegou, sentindo o seu corpo sendo balançado como se fosse uma boneca de pano, tentou se afastar do Luke, mas ele a segurava com tanta força que os dedos pressionavam-lhe a carne. Machucando-a. Os olhos dele estavam transtornados, ela não o reconhecia... Os verdes estavam tão escuros e perigosos que por um momento, ela temeu com o que ele seria capaz de fazer.
Irin não sabia como o seu passado veio á tona. Estava dormindo quando o seu empresário a ligou em pânico, informando que estava em todas as redes sociais a notícia do seu aborto. Irin soube que não tardaria para o Luke vir atrás dela. Ela se preparou para isso, ou achava que tinha se preparado, mas a verdade que sentia-se exposta.
– Luke... Eu... Eu... – tentou falar, mas as palavras morreram estranguladas em sua garganta.
– Você é um monstro, um monstro! Matou um ser inocente por puro capricho! Por vaidade, por egoísmo! Tirou o meu filho sem nenhuma consideração com os meus sentimentos, e muito menos do bebê. Você tirou uma vida, Irin! A vida do meu filho e eu tenho nojo de você, nojo! – cuspiu as palavras e a empurrou.
Irin tombou para trás e foi amparada pela parede. Ela chorou, um choro de pura raiva pelas acusações.
– O meu corpo, as minhas regras, Luke! – gritou enfurecida. – Eu não sou uma assassina, não sou uma egoísta, vaidosa e muito menos caprichosa. Como pode me dizer isso quando passou a vida toda convivendo comigo? Sim, eu fiz o aborto. Eu induzi o aborto e passei muito tempo me culpando por ter feito quando na realidade, não conseguia enxergar que essa decisão foi a mais coerente que tomei em toda a minha vida. – Luke chocou-se mais com as palavras dela. – Eu não me arrependo de ter feito o aborto, porque sei que naquelas circunstâncias eu não estava preparada para ter uma gestação, um bebê em minha vida. Era imatura e não tinha nenhum senso de maternidade. Eu me informei sobre tudo antes de realizar o procedimento, coloquei os dois pesos na balança... Não abortei por esporte, abortei por chegar à conclusão que, àquela gravidez chegou na hora errada!
Luke gargalhou sem nenhum pingo de humor.
– Colocou os dois pesos na balança? Fez isso ao escolher que método usaria para que o bebê não sofresse por sua maldade, sua hipócrita!
– Para de mim ofender Luke, não era um bebê, era um feto! E ele não sofreu absolutamente nada. As terminações nervosas de um feto são completadas a partir da vigésima quarta semana de gestação, eu abortei no sexto mês... – estremeceu e limpou as lágrimas.
– Isso não muda o fato de você ter tirado uma vida! – acusou afiado. – Não conversou comigo sobre a gravidez, simplesmente o descartou como se fosse um lixo, não lhe deu a oportunidade de viver!
– O seu discurso de pró-vida é realmente admirável, ou poderia dizer pró-nascimento? – o questionou ironicamente. – Você está aqui, com todo o seu discurso moralista, mas para pra pensar e faça uma análise de quem éramos no passado! Porque eu posso dizer á você... Não conseguimos ficar um minuto sem brigar, sem se acusar. O nosso relacionamento era a base do ioiô, tanto fazia estarmos juntos como não. Admito que existia amor, e ainda existe. Mas não tínhamos preparações. Éramos gananciosos demais e tínhamos ganas de conquistar o mundo, sermos bem sucedidos em nossa profissão. Por muitas vezes, terminamos por valorizamos mais o nosso futuro profissional do que ao nosso sentimento. Você não cogitou em partir para Hollywood quando a oportunidade surgiu diante dos seus olhos. Nem sequer olhou para trás, e eu o entendi, não o julguei, aliás, estava lutando pela mesma oportunidade que você. – parou um pouco para respirar, limpando as últimas lágrimas. – Crescemos, caímos, aprendemos e amadurecemos. Vencemos na vida. Hoje, temos êxito em nossas profissões. Agora, me responda... Se por ventura, eu tivesse optado por ter o bebê, você abriria a mão do seu futuro que hoje é tão aclamado para se dedicar apenas a família? Ou teria um daqueles pensamentos machista em achar que apenas a mãe que tem a obrigação e a responsabilidade de cuidar de todos os aspectos do filho, enquanto, o pai acha que a sua única responsabilidade é de dá o dinheiro no final do mês e tudo está amplamente resolvido? Ou você acha que o nosso filho teria uma família estruturada apenas por ter nascido em berço de ouro? Até porque, pelo o que sei, e você também sabe, uma criação sadia e regada de amor vai além do que o dinheiro pode oferecer. Agora eu volto a perguntar... Você é a favor do pós-vida ou pós-nascimento?
Luke ficou sem palavras. Estava extremamente irritado com a Irin, o ódio exalava em seus poros, e a culpava, porque dentro da sua cabeça não podia aceitar a idéia de ela ter rompido uma gestação, ainda mais sendo o seu filho, sentia-se traído. Muito traído.
Irin suspirou e se aproximou dele. Não queria estar brigada com o Luke, e muito menos queria que ele soubesse do aborto daquela maneira. Tinha pretensão de contar um dia, mas... O que a impedia era o medo da reação do Luke. Aquele olhar acusador a destruía por dentro.
– Luke... – iniciou após o silêncio constrangedor. Ele adquiriu a postura de passivo-agressivo, o que lhe causava muito desconforto. – A única culpa que realmente aceito é não ter contado á você sobre a gravidez e minha decisão. Você deveria estar ao meu lado quando fiz o procedimento.
– Você é errada de inúmeras maneiras, Irin. O seu discurso autoconsciente só serve para livrar o seu próprio peso de consciência, mas não muda o que eu estou sentindo nesse momento e eu estou a odiando com todas as minhas forças, você me dá nojo, entendeu? Nojo! – soltou com os olhos frios e a voz dura.
Irin chorou e tentou segurá-lo pelos braços, mas ele se afastou como se o toque dela fosse repugnante.
– Luke, por favor... – pediu com a voz quebrada.
– Nunca vou perdoá-la, Irin, nunca. Espero que você tenha isso em mente, tenho asco de você, tudo entre nós está acabado, não me procure mais. – foram as últimas palavras dele antes de partir.
Irin ainda o chamou, mas quando não obteve resposta, levou a mão contra o peito e soluçou alto com o pranto estourando em todo o seu ser. Ia caindo, mas foi amparada por Becky...
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Será o fim de Irin e Luke?
Poderia está descansando hj, mas, não resisto em vim agrada vcs ☺