Becky Armstrong
Acordo com inúmeros beijos em meu rosto.
De primeiro, me assusto. Então, abro os olhos e me deparo com a visão mais linda de toda a minha vida: Freen estava em minha frente, sorrindo lindamente para mim. Encarar os seus olhos castanhos é como um acalento para o meu coração. Um raio de sol num dia chuvoso.
- Freen... - murmuro baixinho.
- Olá meu amor. Como você se sente? - perguntou carinhosamente, acariciando os meus cabelos.
- Bem. - respondo baixinho, ainda sonolenta. Olho para os lados. - Onde estamos? - pergunto confusa.
Minha última lembrança era de estar em um leito de hospital, chorando para que não me levassem de volta para o acampamento. Pensar no acampamento e na tarântula, deixa-me trêmula. Aperto os meus olhos e os abro, dizendo a mim mesma que estou ao lado de Freen. Sã e salva.
- Em segurança. - ela me responde, como se tivesse lendo os meus pensamentos. - Estamos em um quarto de motel. Você não quis voltar para o acampamento, e achamos melhor lhe trazer para cá até que você fique bem o suficiente para voltar pra casa e sua mãe não ficar preocupada com a sua situação. Quisermos poupá-la do estresse, tanto você, como a sua mãe. - explicou, ainda acariciando os meus cabelos e me deixando mais sonolenta.
- Nós? - pergunto, sentindo as minhas pálpebras pesadas.
- Sim. Eu, Irin, Luke e Rubi. Estávamos preocupados com você, meu amor. É muito bom e reconfortante saber que você está bem. - ela diz suave.
- Obrigada, amor. Por estar fazendo isso por mim e por minha mãe. - suspiro, virando-me mais para o lado, de frente para a Freen, me acolhendo mais em seus braços. - Mamãe ficaria muito triste se me visse assim e ela estava tão feliz quando eu sair de casa...
- A felicidade dela vai continuar, dependendo de mim. - solta um beijo em minha testa. - Não quer comer algo? Tem uma máquina de salgadinhos, tem aqueles de queijo que você adora! Posso até trazer uma Coca-Cola. O que achas? - perguntou carinhosamente.
- Não. Eu só quero que me abrace... - murmuro, sendo quase vencida pelo sono. - Estou com muito sono.
Freen me aconchegou em seus braços, deixando-me mais confortável. Aninho o meu rosto contra os seus seios fartos e macios que me acolhem de maneira deliciosa.
- Durma, meu amor. Quando você acordar, estarei aqui ao seu lado... - ela garantiu.
Então, fecho os meus olhos e uma escuridão me envolve...
Freen Sarocha
Encaro o papel de parede do quarto. Florido.
Estou á quase duas horas encarando esse papel. O meu celular tinha vibrado inúmeras vezes até que o coloquei em silencioso. As notificações chegavam descontroladamente. Era a Alison. Apenas para variar, tentando fazer as pazes. Até que desliguei o celular. Não estou com ânimo e muito menos disposição de encarar a Sol, sei que ela fará um escândalo porque a deixei no acampamento, sozinha.
Rebecca dorme reconfortante em meus braços. Ainda estava com efeito do remédio. O médico disse que ela dormiria por doze horas ou mais por conta do tranquilizante. Ás vezes, ela se debatia levemente, e soltava umas palavras incompreendidas até que eu a abraço apertadamente e digo que tudo ficará bem. A minha voz parece ter um efeito tranquilizante na mesma, já que ela ficava quietinha, sem pesadelos.
Ligo a televisão, baixinha, estava passando um seriado. Ele prende a minha atenção por alguns minutos até que o meu estômago ronca. Olho para a Rebecca e mordo o meu lábio inferior, receando em deixá-la por uns minutos e a mesma ter algum pesadelo. Mas ela me parece bem... Ao menos, o seu rosto parecia mais corado do que antes. A lucidez não fazia mais parte do seu lindo rosto.
Dou um beijo na bochecha dela e aos poucos, vou me levantando. Coloco um travesseiro no meu lugar, não era a mesma coisa, mas a enganaria um pouco. Deixo a televisão ligada e saio do quarto. A noite estava fria, e me arrependo por não ter colocado um casaco. Vou até a máquina. Compro refrigerante, um pacote de salgadinho e de amendoim apimentado. Não resisto, e também compro uma carteira de cigarros.
Coloco tudo debaixo do braço e abro a carteira, tiro um cigarro e levo a boca. Guardo a carteira e tiro o isqueiro que fica cativo em meu bolso. Acendo o cigarro e trago, sentindo o alívio que ele me proporciona.
- Quero um também. - Rubi diz e eu lhe dou um cigarro. Ela pega um, e depois o meu isqueiro. -Sabia que tem uma piscina na laje do motel?
- Não! É mesmo? Parece bem promissor. - digo em tom divertido. Inalo a fumaça do cigarro. - E o que ficou você e a Irin?
- Estamos dividindo um quarto. - Rubi respondeu. - Passamos as últimas horas ouvindo Lionel. Céus. Foi um pesadelo até encontrarmos o botão que realmente desligasse aquela música maldita, já que a recepcionista se negava a dizer qual era. O atendimento aqui é péssimo.
- Lionel é? - solto uma risadinha. - Parece bem divertido.
- Tirando a decoração cafona em formato de coração e uma cama giratória que aciona a labirintite... Ficará mais divertido quando eu e Irin nos acertamos. - Rubi disse esperançosa.
Olho para a minha amiga.
- Admiro a sua esperança quando a Irin sempre lhe diz não e ainda tem o Luke... O que aconteceu com ele? - pergunto curiosa.
- Acho que está sendo escapelado pelo o pai sobre uns resultados de exames toxicológicos. - Rubi piscou.
- Você não fez isso! - solto uma gargalhada.
- Fiz sim. Você achou mesmo que eu deixaria que ele ficasse aqui com a Irin e os dois transassem? Jamais! - Rubi fez uma careta de nojo.
- Isso não significa que vocês vão transar. - digo lógica, batendo o filtro do cigarro e liberando a cinza.
- Quem disse que não? A esperança é a única que morre, enquanto, o meu coração bater, um fiozinho vai estar sempre se alimentando. - Rubi piscou para mim. - E a Rebecca? Como está?
- Dormindo. Ela parece razoavelmente bem.
- E aí, gatinhas. - um homem saindo do nada, nos aborda.
- Sai daqui, vagabu*ndo! Não temos esmolas! - Rubi diz.
- Que isso, moça. Não sou nenhum vagabu*ndo, estou apenas entregando uns panfletos. - o homem fala ofendido e nos entrega os panfletos. - É de um bar karaokê que fica no outro lado da pista. - ele aponta para um ponto colorido. - Amanhã é especial de músicas Country, quem tiver mais ponto ganhar um balde de frango assado por conta da casa!
- Uau, que premiação. - debocho, olhando o panfleto bem humorado.
- Temos o melhor frango assado da região. Vocês não vão se arrepender, se é que vocês ganharam. - ele rir, nos olhando.
- Ok. Já temos o seu panfleto e você pode ir embora. - Rubi dispensou.
- Muito humorada, senhorita. Eu vou, mas antes, vocês poderiam... - ele pede, apontando para o meu cigarro.
Jogo a carteira para ele.
- Faça bom aproveito. - digo e olho para a Rubi. - Vou entrar e ver como Rebecca está.
Ele pega a carteira, agradece e sai animado.
- E eu vou ver como a Irin está. Se uns minutos no quarto vermelho a fez pensar nas possibilidades. - disse maliciosa.
- Boa sorte! - desejo rindo.
Rubi também rir. Volto para o quarto e abro a porta, escuto uns gritos, entro de vez e o refrigerante juntamente com os pacotes caem de debaixo do meu braço. A Rebecca gritava e se estapeava em cima da cama.
- Não! - ela gritou. - Sai de mim. Não! - delirou em seu pesadelo.
Corro até ela com o coração disparado e a seguro contra mim, recebendo as tapas doloridas. Mas não a solto, a aperto mais e sinto as lágrimas quentes em meu ombros, enquanto, ela ainda grita. Seguro-a pelas costas, e solto alguns beijos na bochecha dela.
- Calma amor... Estou aqui, com você. Não tem nada em você... Por favor, acorde. - peço com o coração despedaçado e com ódio aumentado pela Alison. Eu devia tê-la afogado! - Rebecca... Amor! Sou eu, sua Freen.
As poucos, ela vai se acalmando e parando de se debater. Deito-a na cama, e coloco as duas mãos em seu rosto, limpando as suas lágrimas, fico inclinada sobre ela, murmurando palavras carinhosas, enquanto, a sua respiração vai se acalmando até ficar lenta. Ela abre os olhos, desnorteadas, olha em volta, então, seu olhar se fixa em mim, suas pupilas se expandem ao me ver.
- Uau, fico lisonjeada. - brinco e dou um beijo na ponta do nariz dela.
- Hum... - ela rir. - Você fumou?
- Só um cigarro. Pra acalmar. - comento e ela faz uma careta. - Sem essa cara, Roma não foi construída em um dia, obviamente que é impossível abandonar um vício de um dia para a noite.
- Justo. Bom argumento. - ela suspira. - O que aconteceu?
- Você teve um pesadelo. Estava gritando para que tirasse de você. - respondo um pouco cautelosa. - O que estava sonhando?
Ela respira fundo e se mexe, um pouco desconfortável. Respira fundo, e olha para cima, mas depois volta a me olhar.
- Apenas uma reprodução do que me aconteceu. O meu cérebro parece que está preso ao momento em que Alison jogou a tarântula em mim.
- Eu sinto muito. - murmuro com sinceridade. - Foi muito cruel da parte dela fazer isso com você.
- Concordo. Alison não conhece a palavra crueldade, mas sabe... No meio disso tudo o que me incomoda de verdade? - ela me pergunta me olhando, balanço a cabeça em negativo. - A idéia fixa de que Alison tem que você é dela. Ela dizia para mim que você era dela. O que você faz, Freen? Pra Alison alimentar essa fissura por você? Por que creio eu que alguma coisa deve ter, isso não é normal.
Sento-me na cama, endurecida e com a expressão rígida. Evito que a surpresa passe por meu rosto e fico passível, apesar de estar atônita com o questionamento de Rebecca. Nunca achei que ela iria fazê-lo.
- Agora a culpa é minha porque ela lhe atacou? - pergunto na defensiva.
- Não disse isso.
- Apenas insinuou.
- Não insinuei, apenas perguntei. Alison sempre me atacou, não é de hoje, muito menos de ontem. A questão aqui não são os ataques e sim o porquê ela achar que você pertence a ela. Alguma explicação deve ter e quero que você me explique, não quero saber da boca de fulano ou sicrano, quero saber de tua boca. Por que ela acha que você é dela? - pressionou, me olhando com os seus olhos de boca e os lábios rígidos.
O comportamento de Rebecca estava me deixando cada vez mais embasbaca, e num mau sentido. Nunca achei que ela iria se impor. Para mim, ela sempre seria a passível que aceitava e compreendia tudo. Não sei lidar com essa nova faceta dela.
- Não tem o que você saber, tudo bem? Não sei porque a Alison tem essa impressão, talvez, por fazermos parte do mesmo grupo e sempre estarmos juntas no colégio. Você sabe que ela é fissurada em mim e quando uma pessoa tem fixação na outra qualquer coisa alimenta a sua loucura. - respondo mau humorada.
- Tudo bem. Eu acredito em seu argumento. - ela soltou, me deixando aliviada, porém, retorna a falar. - Mas acho de suma importância que você converse com ela e esclareça as coisas, se não vai me dizer que eu sou a sua namorada, tudo bem, mas diga que tem alguém e que não corresponde os devaneios dela. Assim, ela vai parar de pensar que tem autoridade sobre você.
- Você está louca? - pergunto exasperada. - Quer que eu seja expulsa da alta hierarquia do colégio?
- A vida é mais que isso, Freen! - ela solta com um bufar. - Isso é futilidade. A vida vai além da alta hierarquia do colégio, do Ensino Médio. Quando acabar, cada um vai seguir os seus passos e não vai a hierarquia de um colégio que vai nos fazer pessoas bem sucedidas.
Levanto-me, agitada. Claro que Rebecca não entende que a minha vida depende sim dessa hierarquia, que a Alison que vai me levar aonde eu quero.
- Eu achei que você entenderia os termos quando começarmos a namorar. E você me disse que entendeu, você me disse que aceitaria. Vejo que me enganei! - solto, andando de um lado para o outro.
Ela se senta, e balança a cabeça em negativo.
- Você que não está entendendo. Eu não estou pedindo para que abandone nada e muito menos me assuma publicamente, porque quando aceitei namorar contigo sabia que tinha que ser segredo até o baile da formatura. Eu só estou pedindo que você imponha limites na Alison e coloque-se no meu lugar. Imagina se fosse o contrário e que alguém tivesse dando em cima de mim ou achasse que sou propriedade dela? Você iria gostar?
- É óbvio que não! - grito irritada com a possibilidade.
- Então, pronto. Me magoa sempre que Alison abre a boca pra dizer que você é dela. Como ela te exibi no colégio sendo que vocês não são nada. Eu quero que a nossa relação tenha respeito mesmo sendo anônima e creio que isso não seja pedi demais. - disse com a voz calma, me olhando.
Sei que ela tem razão, mas não posso fazer isso... Não posso parar a Alison, porque no dia em que eu parar, o meu passaporte para a fortuna dos Dilaurentis Benson chegaria ao fim.
Paro de andar e encaro a Rebecca. Se ela ficar se impondo dessa forma, teríamos um pequeno problema em nossa relação. Apesar de que, esse seu lado, meio que me deixa louca de desejo. Um misto de desejo e raiva.
- Vou tentar conversar com a Alison e... - começo a dizer, mas sou interrompida.
Ela se levanta também, me encarando.
- Eu não quero que tente, eu quero que converse, Freen.
- Você não pode me obrigar a fazer isso! - grito, e ela se retrai um pouco. Tento me controlar. -Você sabe os meus motivos de deixar que a Alison pense desse jeito, sabe como é importante me manter na elite!
- Eu não estou obrigando, estou apenas pedindo. E sim, sei como a elite do colégio age sobre você. Eu aceitei, Freen, o fato de você mentir sobre o colégio todo em relação a sua origem e renegar aos seus pais, que é algo bem horrível, mas aceitei os teus motivos. Porém, não vou aceitar que a Alison haja como se fosse a sua namorada. Isso é demais para mim. - ela fala, mantendo a sua calma. - Eu amo você, demais, e por amar que isso me corrói.
- Por que eu tenho que dizer algo a ela quando você e eu sabe o que temos? - pergunto alterada.
- Por respeito. A mim, á você e a nós.
- Isso é uma besteira! - grito furiosa e me aproximo dela que se mantém parada. - Uma grande besteira. Eu podia estar na tranquilidade e no luxo do acampamento, mas estou aqui nesse motel barato de beira de esquina por sua causa e é assim que você me paga? Com exigências?
A palidez mancha o rosto de Rebecca, a deixando apática.
- Não tem como pagar isso porque as coisas que fazemos por amor não tem pagamento, Freen! - gritou, pela primeira vez. - Quando você vai deixar um pouquinho o pensamento de sempre receber o que faz pelos outros? Foi um ato altruísta de amor! Casais que se amam fazem isso, busca o bem para o outro sem pensar em si mesmo. Faz por doação. Isso se chama companheirismo. Jesus Cristo! Deixe a sua ganância longe do nosso relacionamento. - exigiu alterada.
- Deixe a sua imaturidade longe do nosso relacionamento também e aprenda que para ter um relacionamento não é obrigado que os quatros cantos saiba, que apenas nós duas basta e o resto é irrelevante! - ataco com o dedo a riste.
Ela me encara por longos segundos, ambas com as respirações alteradas. Os seus olhos se transformou em um castanho escuro, quase agressivo. Mas, a única coisa que ela fez foi se virar e em direção ao banheiro.
- Onde pensa que vai? - exijo saber.
- Sabe o que isso? - ela pergunta segurando a porta do banheiro.
- Uma porta. - respondo o óbvio.
- Não. Essa é você. - deu um murro na porta que fez um som oco. - E tudo que argumentei ficou preso no oco dessa porta porque você é incapaz de compreender aonde eu quero chegar e enquanto não parar pra pensar sobre o que eu disse e refletir, essa conversa está suspensa, não vou me desgastar. - dito isso, entra no banheiro e bate á porta com força.
Fico estupefata com o comportamento de Rebecca. Vou até a porta e esmurro a mesma várias vezes, ordenando para que ela abra a porta, porém, não tenho nenhuma resposta. Da*ne-se! Viro-me para a saída do quarto, a porta estava aberta, chuto a latinha de refrigerante e os pacotes de salgadinho e de amendoim e saio do quarto. Fecho a porta com um estrondo, antes de ir até a máquina novamente, bato na porta do quarto de Rubi. Quem abre é a Irin, estava com a cara de poucos amigos, Rubi surge atrás dela e assim que ver a minha cara, nada diz, apenas passa por Irin e me segue.
Vejo pelo canto dos olhos, a Irin saindo do quarto e indo em direção do meu...
Rubi está com uma cara péssima, parece que também precisa de um cigarro, e se possível, se encontrarmos nesse fim de mundo, uma garrafa de vodca...
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É, parece que Becky não é tão besta assim!