Pétalas de Akayama [BL]

By bethahell

504K 34.3K 30.5K

Um espírito maligno coloca um vilarejo em risco e agora dois rivais terão que se unir para salvar quem amam. ... More

Pétalas de Akayama vai voltar!
[𝗩𝗢𝗟𝗨𝗠𝗘 𝟭]
Capa
Personagens
Epígrafe
Prólogo - Duas vidas
Capítulo 1 - Estou de volta
Capítulo 2 - Yōkais não existem
Capítulo 3 - Kitsunes não protegem humanos
Capítulo 4 - Deixemos que ele morra sozinho
Capítulo 5 - Vocês são todos iguais
Capítulo 6 - Magia de raposa
Capítulo 7 - Você já sabe meu nome (parte 1)
Capítulo 7 - Você já sabe meu nome (parte 2)
Capítulo 8 - Peguem seus sinos (parte 1)
Capítulo 8 - Peguem seus sinos (parte 2)
Capítulo 9 - Banquete para os fortes
Capítulo 10 - Salvando vocês
Capítulo 11 - Espere com paciência, ataque com rapidez
Capítulo 12 - Entre logo, vamos nos divertir (parte 1)
Capítulo 12 - Entre logo, vamos nos divertir (parte 2)
Capítulo 13 - O príncipe de Sakuiya não aceita deslizes
Capítulo 14 - Não me relaciono com humanos
Capítulo 15 - Eu não vou embora
Capítulo 16 - Guardiões do templo
Capítulo 17 - O amor trouxe vocês até aqui
Capítulo 18 - Na primavera haverá flores novamente
Capítulo 19 - Vou servir a vocês
Pétalas de Akayama vai ser publicado por uma editora!
[𝗩𝗢𝗟𝗨𝗠𝗘 𝟮]
Capa
Capítulo 20 - Arcadas excepcionais (parte 2)
Capítulo 21 - Elixir do Nascer do Sol
Capítulo 22 - Serviço de mulher
Capítulo 23 - Diga sim para mim
Capítulo 24 - Um feiticeiro humano
Capítulo 25 - Não solte a corda
Capítulo 26 - O último fio de esperança (parte 1)
Capítulo 26 - O último fio de esperança (parte 2)
Capítulo 27 - Insolente
Capítulo 28 - Segredos sujos
Capítulo 29 - Transformar seus três castelos em cinzas
Capítulo 30 - O mais breve toque mata (parte 1)

Capítulo 20 - Arcadas excepcionais (parte 1)

3.4K 357 535
By bethahell

Olá, venerável!

Aqui é o Mork, e eu nem senti falta de você, viu?! Gatinhos das trevas não tem saudades. Esse ronronar não é para você. Mas até que é bom nos vermos depois de um ano, hein? Nossa, quantos humanos novos por aqui... Cruzes. Eu até me esconderia porque não gosto de visitas, mas tô sendo pago, né?

Eu posso gostar mais de você se deixar uma estrela e comentários nesse capítulo, vai.

Acompanhei de perto a luta de Bex e thai para escrever tanto o livro 1 quanto o 2 e posso dizer que elas colocaram toda a dedicação, amor e lágrimas na produção da continuação de Pétalas de Akayama. Muitas cenas foram reescritas e informações adicionadas, de tal jeito que quem leu a primeira versão irá se surpreender com tantas novidades!

A história agora está muito mais rica e aprofundada, cada detalhe importa para entender melhor sobre o nosso trisal.

Vamos lembrar o que aconteceu no livro anterior? Vou fazer um resumo!

•⁠ ⁠yusuke e tetsurou sobem a montanha akayama atrás da flor que irá trazer a cura para o vilarejo;
•⁠ ⁠yusuke está quase morrendo, sendo tomado por manchas de rancor;
•⁠ ⁠yusuke e tetsurou atravessam a barreira para makai. tetsurou some, mas zen resgata yusuke, suga seu rancor e o torna de sua posse;
•⁠ ⁠yusuke e zen vão até um leilão comprar tetsurou, que foi sequestrado por um inugami. yusuke corta a cabeça de azai yuno;
•⁠ no leilão, ⁠zen troca a espada de yusuke por tetsurou;
•⁠ ⁠o inugami é arrastado para o yomi e yusuke, tetsurou e zen fogem do castelo, deixando yuta momo para morrer;
•⁠ ⁠zen declara que vai devorar tetsurou quando ele menos esperar;
•⁠ ⁠zen mostra que está com a espada de yusuke, mas não irá devolvê-la porque agora o pertence;
•⁠ ⁠yusuke e tetsurou descobrem que estão presos em makai;
•⁠ ⁠os três vão para o palácio impuro, que pertence a izagaki, o melhor amigo de zen;
•⁠ ⁠yusuke e tetsurou descobrem que zen roubou um artefato de inari e o kitsune vai preso, ele e os meninos são levados;
•⁠ ⁠no templo de inari, descobrem que precisam de duas flores mágicas para voltar para casa: o cravo solar e a papoula-do-dragão. a primeira está em sazanka;
•⁠ ⁠inari conversa mentalmente com cada um dos três;
•⁠ ⁠yusuke e tetsurou encontram hikaru em sua forma de cachorro, que lhes devolve seus pertences;
•⁠ os dois descobrem que inari colocou uma coleira no pescoço de zen para que ele não os matasse;
•⁠ ⁠zen revela que irá ser o guia deles;
•⁠ ⁠zen vai embora, alegando que precisa resolver um assunto, e que é para hikaru levar tetsurou e yusuke para sazanka, onde eles devem se encontrar em um lago congelado.

Por fim, a música para esse capítulo é: From the edge, de LiSA.

O rapaz teria que usar veneno para sobreviver.

Os dotes que Tetsurou possuía eram para curar, mas do que serviam em um mundo onde só importava salvar a vida de um indivíduo?

Ou dois.

Ele descia pela garganta da floresta enquanto o hálito de ar fresco atropelava as galhadas e se juntava aos arquejos cansados do grupo. A mente, em alfa, se ocupava nos estudos das plantas mortais dos mais diversos tipos. Cada toxina na seiva, folhas, caules e sementes. O nome delas. Quais órgãos atingiam. O tempo para os efeitos começarem. Tetsurou girava compulsivamente a Dama-do-mar entre os dedos. Ele se perguntava se aquela seria mais uma das espécies que emulavam charme para esconder seus espinhos. Se fosse o caso, Yusuke já teria sido consumido pelo veneno e Tetsurou perdido os sentidos, pois o odor de cerejeira daquela flor mágica era um entorpecente, sentido mesmo horas depois da partida de seu apanhador.

Guardou a flor no seu devido lugar, ajeitando-a no cabelo. Então levantou o olhar para Hikaru e Yusuke, que caminhavam no mesmo embalo há horas, sem parar. Tinham descansado muito pouco desde que saíram da Casa das Raposas, na ilhota habitada por Inari. Os passos ressoavam ao esmagar capim seco em meio ao maciço florestal, no sentido oposto da montanha congelada que indicava o território de Sazanka, e se misturavam à respiração ofegante do curandeiro.

Como se tivesse sentido a fixação sobre si, o samurai virou-se. Os olhares se esbarraram acidentalmente, mas no mesmo instante Yusuke se esquivou e acelerou o ritmo.

"Yuu-chan parece mais motivado... mais como ele mesmo. Já está até me evitando de novo", a frase passou pela cabeça de Tetsurou enquanto perseguia as costas largas cobertas pelo quimono azul descendo pelo relevo. Uma lanterna acesa os localizava, criando sombras irregulares. Claro que Yusuke tinha recuperado sua determinação, estava longe de Zen e rumo à solução de todos os problemas: ir embora de Makai e se afastar de uma vez de quem só o machucou quando era um menino. Mesmo que Yusuke se afastasse de Tetsurou, ele iria fazer de tudo para protegê-lo e, quem sabe, cuidar das cicatrizes feitas dezesseis anos atrás.

Até envenenar alguém?

Era decepcionante ter um "não" pulando em sua mente. Ele argumentava consigo mesmo: desvendar as propriedades curativas da flora de Makai, por mais que conhecesse as flores lendárias e que elas tivessem suas similaridades com Ningenkai, seria um experimento de anos — anos que ele não tinha para gastar deliberadamente. Mas Tetsurou? Tetsurou poderia conseguir, caso se debruçasse sobre os registros de Makai e estudasse por alguns dias. Não era de surpreender que comerciantes das regiões longínquas lhe enviassem cartas; todos reconheciam a capacidade do curandeiro para fazer milagres.

Não foram poucas as vezes em que tratou casos causados pelo mel do néctar de loendros, em que a toxicidade levava à vômitos, dor de cabeça e até à morte; ou quando encomendava óleo de mamona para tratar prisão de ventre, mas os resíduos da semente se tornavam um coquetel venenoso que, em casos extremos, poderiam causar falência nos órgãos. Já havia arriscado a própria pele mais vezes do que podia contar por empatia a quem lhe implorava por uma cura impossível.

Agora, era ele mesmo que implorava por uma solução impossível. Usaria mesmo aqueles conhecimentos para aniquilar vidas?

O arco que mal sabia como segurar voltou a envergar seus ombros, a bolsa que carregava as ervas tornou-se repentinamente mais real.

— Esse é o caminho para o tal lago congelado? Porque a montanha que o Zen apontou está ficando para trás.

Hikaru pareceu não ter escutado. Só pareceu.

— Não me diga que aquela raposa desgraçada achou que um grupo com duas pessoas com um senso de direção digno de pena seria uma boa ideia... — Quando Hikaru continuou ignorando-o, ele cruzou os braços e gritou, fazendo bichos se assustarem e baterem asas dos ninhos: — Quero saber para onde você está nos levando!

Na falta de Zen, Yusuke e Tetsurou eram guiados pela bantou-shinzou do Palácio Impuro, que não havia mencionado o destino mesmo com as inúmeras indagações dos dois. Zen havia os largado com alguém que não se demonstrava apta a conversar, os passos apressados em meio aos sons noturnos cada vez mais ansiosos.

Com aquela incisiva do samurai, ela mostrou aquela cara de quem nunca sabia muito bem onde estava, os olhos com bolsas pesadas e escuras, e coçou os cabelos pretos.

— Irritante — ela bufou, mas não tinha paciência para continuar se esquivando. Sua explicação foi vagarosa, a voz insossa e rouca: — Aquilo não é uma montanha. Não podemos seguir direto. Temos que visitar a Comissão dos Cem Nomes para pegar documentação e, talvez, encontrar uma maneira mais rápida para Sazanka. Melhor irmos antes do amanhecer se não quiserem se virar sozinhos.

— Como assim se virar sozinhos? Tudo o que nos disseram foi que o lugar é impossível de entrar. Como você supõe que vamos fazer isso sem você?

Ela continuou a olhar Yusuke sem dizer nada. Tetsurou compreendeu quando ela apontou para a testa, onde um selo vermelho cintilou e desapareceu em seguida. Ele já tinha reparado naquilo antes.

— Você está se referindo ao fato de se transformar em um cachorrinho fofo, Hikaru-chan? Notei esse selo quando você voltou à forma humana. É isso?

Ela inspirou fundo; realmente teria que parar para explicar.

— Eu sou uma hanyou — disse ela. — Não há lugar para mim fora do Palácio Impuro. Aqui fora, só quando a lua está no topo do céu que consigo permanecer nessa forma. Chichiue pediu ajuda ao clã de dragões Akeruyasa para fazer o selo. Não acontece com youkais completos. É uma... fragilidade.

Os três haviam caminhado ininterruptamente por pelo menos duas horas, embora Tetsurou pensasse que era porque Hikaru estava ansiosa para se encontrar logo com Zen e se ver livre deles, não devido a uma condição tão delicada. Realmente, sob a forma de um cachorrinho, ela não apresentava perigo nenhum ao latir. Mas ser forçada a permanecer no Palácio Impuro pela eternidade, a menos que aceitasse viver com um selo que restringiria parte de sua natureza, não parecia aceitável. Ninguém deveria ser obrigado a viver em uma prisão mental.

— Eu não tenho escolha — Hikaru continuou, coçando o braço oposto. — Não tenho escolha sobre a minha forma. O meu corpo. Ou... — ela não completou.

— Enquanto estiver naquela forma fofa, juro que vou cuidar de você e coçar suas orelhinhas sempre que quiser. — Tetsurou a ofereceu um sorriso. — Podemos não resolver o seu problema, mas podemos tentar aliviar a sua tristeza. É algo bonito da humanidade. E você faz parte dela também.

Hikaru piscou vagarosamente, absorvendo cada palavra. Ela nunca havia recebido uma resposta tão gentil, mas não pareceu tê-la aceitado bem.

— Não... não repita isso. Eu não sou parte dessa humanidade.

Yusuke cortou o ar com a espada provisória em sua posse, fazendo o metal assobiar. Ele ainda não havia tido a chance de testar a eficácia, mas, a princípio, parecia sem fio.

— Da última vez que me levaram a um lugar sem explicações, eu precisei lutar pelas nossas vidas. Mas o Seki não sabe nem segurar o arco. — O sorriso de Tetsurou adquiriu ares de constrangimento com o comentário de Yusuke. — Então é melhor nos contar o que é essa Comissão e o que podemos esperar lá. Como isso nos ajuda a entrar em Sazanka? Onde fica esse lugar?

— A Comissão não tem um lugar fixo.

Deu para ver que Yusuke ficou estarrecido. Hikaru pareceu desconfortável, como se não quisesse decepcioná-los.

— Mas sou a melhor rastreadora de Makai — ela voltou a dizer. — Identificar o cheiro deles não é um desafio para mim... e estamos perto.

Eles assentiram, mesmo inseguros. O silêncio se estabeleceu, e aproveitando-se dele, Hikaru continuou a farejar o caminho, seguindo na direção que acreditava ser a correta.

— Vamos dar um voto de confiança, Yuu. O Zen confia nela.

Yusuke abriu um sorriso amargo.

— Você está falando isso para tentar me tranquilizar?

O curandeiro não teve coragem de contra argumentar.

A árvore era gigante, com raízes altas, cipós grossos e casca repleta de limo. Eles haviam entrado fundo pelas veias da floresta, se embrenhando cada vez mais em uma mata fechada onde a noção de tempo era perdido. A cúpula formada pelas árvores bloqueava a luz de chegar até eles. Conforme haviam avançado, as folhas secas no chão foram substituídas por musgos densos, criando um tapete verde que amortecia os passos. Até que, numa mudança brusca de ambiente, eles chegaram ao fim da floresta. Assim que passaram pelo último caminho sinuoso, viram que estavam dentro de uma parede de árvores esse tempo todo; a aglomeração de troncos tinha ficado para trás, abrindo-se para a tímida luz do amanhecer e... para uma enorme fonte de água. Os três estavam à margem de uma lagoa calma, de um azul cristalino, sem visão para o fundo. No meio da água, sozinha, aquela árvore de estatura majestosa. A floresta circundante parecia curvar-se em reverência. Aquele era o ponto final.

Não dava para contornar sem perder metade de um dia, e não possuíam uma embarcação para atravessar reto. Quase sendo impedida por mentes desacostumadas com o extraordinário, Hikaru seguiu adiante. Andou como se estivesse sobre a terra, não sobre água. A superfície ondulou por sob seus pés, mas o corpo não deu indícios de que afundaria. Tetsurou e Yusuke ficaram boquiabertos, com receio de a seguirem e acabarem sendo engolidos pela profundidade.

— O cheiro termina aqui.

Hikaru nem olhou para trás, começou a correr. Tetsurou não tinha coragem, então foi Yusuke quem se desvencilhou primeiro da pedra para pisar na lagoa. Olhando de perto, percebeu que seu interior parecia o céu antes de uma tempestade, com partes mais escuras que outras. Nem precisava se esforçar para ficar de pé ali, era como se estivesse percorrendo poças acumuladas. O samurai teve a decência de esperar Tetsurou... mas não ofereceu a mão para que ele se apoiasse. Esperar já era um grande avanço.

Na ilha no meio da lagoa, não encontraram terra, mas uma plataforma sólida com desenho de flores incrustadas na carcaça metálica. Eles olharam por um bom tempo, esperando que algo acontecesse, mas era só uma árvore sem nada de especial, como as do mundo mortal, exceto pela altura. Os galhos eram tão extensos e as folhas tão grandes e o tronco tão alto que eles eram como insetos sob uma grande sombra. Yusuke ganhou uma expressão desanimada, para dizer o mínimo, e deixou a respiração escapar de forma ruidosa.

— Hikaru... Bem... Não tem nada aqui. — Foi Tetsurou quem se manifestou, alisando a superfície das raízes. — Esse por acaso não é o lago congelado que Zen mencionou, é?

— Isso não é um lago e nem está congelado, Seki.

— Ele pode ter se confundido... Parecia com pressa.

Yusuke revirou os olhos.

— Você está vendo algo que não estamos, Hikaru-chan? — Tetsurou se aproximou dela, que continuou farejando uma entrada, procurando em cada canto escondido entre o corpo da árvore. Demorou um minuto inteiro para dar a volta.

— Não consigo achar — ela desistiu depois de duas voltas, sentando-se numa pedra e coçando as orelhas felpudas. Sua voz, sonolenta e manhosa, escancarava o cansaço. Ela se deitou sob musgos, abrindo os braços. — Ah... sinto muito. O cheiro realmente termina aqui.

— Hikaru-chan, não desista! — Tetsurou tentou animá-la, mas não surtiu efeito. — Eles devem estar disfarçando algo nessa árvore. É uma Comissão secreta, não foi o que você disse? Temos só que encontrar alguma... Yuu-chan! O que está fazendo?

"Ele surtou". Tetsurou levou a mão à boca.

O samurai usava a espada sem fio para abater a árvore, fazendo cortes desregulares e mínimos em seu eixo enorme. Ele já impulsionava o braço para dar mais um golpe e não pretendia parar até abrir uma cratera na casca. Podia durar horas, mas em algum momento, batida sobre batida, surtiria efeito.

— Se não tem uma entrada — ele inspirou fundo, tensionando os músculos do braço e preparando a próxima estocada. — Eu vou criar uma!

Porém, não precisou sequer completar o movimento. Ele paralisou quando viu um buraco em formato de espiral começar a rotacionar e, em questão de segundos, se abriu completamente. Os poços fundos de seus olhos encararam algo tão escuro e amedrontador quanto, mas ele não recuou sequer um passo, firmando a katana velha nas mãos. Aquele buraco criou dentes de madeira. Depois uma língua de folha.

E falou.

— Esta árvore velha escutou tudo. Vocês estão a caminho da Academia, não é? Para chegar lá, precisam passar por mim.

Fascinados pela súbita transformação, Yusuke e Tetsurou se entreolharam.

"Academia? Hikaru não havia falado nada sobre isso... Será que é onde a Comissão dos Cem Nomes está?", pensou o curandeiro.

Eles se viraram para obter algum indicativo de resposta da gerente do Palácio Impuro, mas ela...

— Au!

Yusuke esfregou os cabelos, exasperado. Eles não perceberam porque estavam debaixo da sombra formada pela coroa de folhas, mas já era de dia e a marca vermelha na testa peluda da guia temporária terminava de se desfazer. Eles passaram a noite toda andando e mesmo assim não chegaram a tempo. Agora, tinham que se virar para decifrar os latidos de um cachorro.

— S-sim... nós viemos para ingressar na Academia — Tetsurou disse.

— Para estudar. É.

— Estudar... a botânica impressionante de Makai!

— Estudar botânica... É.

Uma brisa alcançou seus corpos. Eles quase escutaram a risada de Zen e o ar escapando da boca cínica dele para formar uma palavra: "Idiotas".

— É claro! A Academia tem a Oficina das Folhas Carmim, uma biblioteca vasta, a mais vasta de Makai! Lá vocês irão encontrar documentos, pergaminhos e até artefatos especiais de alta qualidade. — Com a fala da árvore, o coração de Tetsurou saltou. — Para chegar lá, entretanto, precisam passar por essa árvore velha. Vou fazer uma enigma e vocês terão o tempo de um incenso para dar a resposta. Se responderem errado, não estão qualificados para entrar.

— Tempo de um incenso? Uma resposta para todos nós? — perguntou Yusuke, olhando para Tetsurou. — Se eu ou ele não acertarmos... ninguém entra?

— Exatamente.

Os dois não tiveram uma boa impressão sobre aquele teste. Se falhassem... o que iriam fazer em seguida? No mínimo, gastariam mais um dia ou até semanas para cumprir a missão inicial de entrar em Sazanka e, depois, ir até o lago congelado para encontrar Zen. Ele poderia ficar dias esperando e com certeza não ficaria feliz. Até lá, poderia já ser tarde. Não havia opção de errar — mas Yusuke era péssimo com charadas, Hikaru havia se tornado um animal e Tetsurou... bem, ele ao menos tentava se manter positivo.

— Se é uma resposta para nós três, a chance de acertarmos aumenta. — Tetsurou sorriu para o samurai, formando uma meia-lua com os olhos.

A cara de Yusuke não era de alguém convencido, feliz ou animado. Principalmente quando encarava Hikaru, com as orelhas baixas.

— Você — a árvore apontou um de seus galhos para Yusuke. — Você irá responder.

— ...Como é?

A árvore, isenta de sentimentos, não esperou para entoar o seu grande enigma. Yusuke só pôde torcer para que não fosse tão difícil.

— O enigma do vivo ou morto é bastante simples: Existem dois portais. Um dá passagem para o que vocês desejam, o outro vai dar uma escolha impossível a vocês. Na frente desses dois portais, há dois guardas - um só mente, outro fala a verdade. Você deve fazer uma pergunta para descobrir qual porta é a certa. O que você pergunta a eles?

Após ouvir, Yusuke demorou cinco segundos para pensar... "Merda."

Ele queria poder falar para aquela maldita árvore repetir, mas com certeza isso contaria como resposta errada. O nervosismo afetou seus pensamentos, havia se esquecido de metade do enigma. Tentou simplificar: ele deveria escolher um dos portais dispostos, mas não era só chutar. Se perguntasse a um dos guardas qual porta era a certa, o guarda que mente indicaria a errada, enquanto o que fala a verdade indicaria a certa.

O que deveria perguntar?

Ele podia sentir o olhar de Tetsurou sobre ele, mas não tinha coragem de olhar para trás.

Os segundos pareceram se esticar quando a voz da árvore ressoou mais uma vez:

— O tempo acabou.

Antes da indignação ser jogada ao ar, os cipós da árvore se esticaram como chicotes, atravessando as laterais de Yusuke. Ele ouviu um ganido e um ofego doloroso, antes de se virar e assistir Hikaru e Tetsurou presos, atados por eixos que começavam a arrastá-los até os buracos abertos entre as raízes. O curandeiro fechou um dos olhos, a dor enrugando as linhas de seu rosto.

— Seki! — ele gritou, se repreendendo por não ter reagido mais rápido. Tentou golpear os cipós, mas era como tentar quebrar uma pedra. Aquela lâmina era inútil! Ele a largou, furioso. — Solta eles agora!

— Há apenas uma resposta certa: alguém deve morrer. Quem você escolhe para sobreviver?

O coração de Yusuke batia descompassado, seu corpo inteiro bebendo do mesmo pânico que paralisou a língua. Os cipós puxavam o cachorrinho e Tetsurou para dentro da árvore, formando um rastro no chão. Seki tentava se soltar enquanto balbuciava algo, e Hikaru soltava ganidos finos de dor. Yusuke se sentiu pesado, suor escorrendo pela testa. Quem ele escolhia para morrer? Quem ele escolhia para continuar vivo?

— Outro enigma estúpido? Não tem uma resposta certa, isso é impossível!

— Essa é sua escolha impossível. Vocês têm metade do tempo de um incenso para chegar a uma resposta.

— Não dá, merda! Já disse que não vou escolher!

— Essa é a sua resposta?

— Não! — Tetsurou conseguiu gritar antes de Yusuke, mas seus pulmões doeram como o inferno por isso. — Yuu-chan, você precisa da Hikaru. Está tudo bem escolher ela!

Era visível como ele não conseguiria fazer aquilo. O ar mal deixava seu peito e voltava, num fôlego descompassado. Ele tentava, de novo e de novo, tirar aquelas garras do corpo humano e do corpo de Hikaru, mas sua força não era o bastante. Era um momento errado para se sentir assim, mas Seki Tetsurou quase se sentiu bem ao perceber como a escolha era difícil para Yusuke. Por ser um samurai e já ter matado tantas outras pessoas, ele era quem deveria ter o sangue mais frio dali. Mesmo assim, não conseguia. O desespero nublava seus olhos, ele não sabia o que fazer.

— Yuu... está tudo bem... escolher ela — Tetsu fez força para sussurrar, aproveitando que Yusuke estava perto, enquanto metade do seu corpo já havia sido engolido pela terra. — Está realmente tudo bem.

— E então? Quem será?

— Eu não vou matar nenhum de vocês! — Yusuke vociferou, sua voz saindo rouca de tão profunda.

Então, sua expressão pareceu se clarear, o brilho voltando aos olhos. Tetsurou não soube que tipo de ideia passou pela cabeça dele quando ele correu de volta para onde havia largado a espada, pegou-a e se posicionou na frente da boca retorcida em um sorriso expectante. Quis gritar para que Yuu-chan não fosse impulsivo, mas sua boca foi tampada pela raiz.

— Os dois! — Yusuke apontou a lâmina para si mesmo, a ponta posicionada para a própria barriga. Enrijeceu os músculos, se preparando para fincá-la ali. — A minha resposta é que eles dois devem sobreviver!

Continua...

No próximo capítulo...

Yusuke não esperava que o resultado do teste da árvore fosse trazer consequências tão inesperadas. Nos confins da Academia, em uma biblioteca onde pequenos olhos brilham entre os livros, uma figura conhecida espera pelos três para fazer um acordo que os levará para o reino gelado de Sazanka. Antes, porém, eles precisarão passar por outro teste... prático.

— Hehe, já faz bastante tempo. — Ela olhou para cima, refletindo, mesmo que... não fizesse tanto tempo assim. — Agora sou apenas uma bibliotecária com uma oficina para estudos na Academia.

No próximo capítulo: "Arcadas excepcionais (parte 2)"

Se gostou do capítulo de hoje, purrr favor, deixe um comentário e uma estrelinha!

Para ler os próximos capítulos de forma antecipada, assine apoia.se/bethahell e nos ajude a viver da nossa arte!

Até semana que vem, 7 de março!

Beijos felinos,

Mork

Continue Reading

You'll Also Like

28.9K 2.7K 9
Bill foi morto. Dipper se suicidou. Será mesmo ? Quase 100 anos depois dessa terrível tragédia, um irmão Cipher esquecido volta com a notícia que ne...
15.8K 2.4K 189
Quando recuperei minha consciência, percebi que me encontrava numa novel... Sendo mais específico, em "Abismo", uma obra de fantasia lançada há mais...
70.7K 7.7K 51
Wang Yibo, um empresário de sucesso que se apaixona por Zhan, um bastardo da família Xiao. Ele não se importa com as origens ou a reputação de Zhan...
221K 11.6K 58
ATENÇÃO! ESTE É UM LIVRO DE IMAGINES COM NOSSO VILÃO FAVORITO! Cada capítulo se passa em uma história diferente, sem continuações. As histórias são...