Now Or Never - Camren

By cameelajaureg4y

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Michelle Morgado teve uma noite totalmente apagada de suas memórias. Conforme tenta deixar para trás as lembr... More

Capítulo 1 - Weird Night
Capítulo 2 - Party
Capítulo 3 - Inspirations
Capítulo 4 - Moving On
Capítulo 5 - Date Night
Capítulo 6 - Ghosted
Capítulo 7 - Karla
Capítulo 8 - Dinner
Capítulo 9 - Girlfriend
Capítulo 10 - Birthday Party
Capítulo 11 - Blond Hair
Capítulo 12 - Mistrust
Capítulo 13 - Answers
Capítulo 14 - Parachutes
Capítulo 15 - Threat
Capítulo 16 - Broken
Capítulo 17 - Lost
Capítulo 18 - Kidnapper
Capítulo 19 - Flashbacks
Capítulo 20 - Trapped
Capítulo 21 - Visitor
Capítulo 22 - Handcuffs
Capítulo 23 - Revelations
Capítulo 24 - Lifesaver
Capítulo 25 - Explanations
Capítulo 26 - Flashbacks II
Capítulo 27 - I Hate You
Capítulo 28 - On Fire
Capítulo 29 - Survivor
Capítulo 30 - Afraid
Capítulo 31 - Deal
Capítulo 33 - The Winner

Capítulo 32 - To Begin Again

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By cameelajaureg4y

Eu nem vou tentar justificar meu sumiço, minha vida está uma loucura mas eu sempre volto, e aqui estou! Bem-vindos à nova fase de Now Or Never.

Aproveitem mais de 5k de palavras, e deem stream em i luv it!

Boa leitura 💕

💎

Pisquei algumas vezes para dissipar as lágrimas, buscando ter certeza de que ela era real, de que estava ali, diante de mim, e, principalmente, viva. Camila sorria abertamente de uma maneira que era capaz de iluminar tudo em volta, em uma fração de segundos examinei o castanho intenso de seus olhos, o formato angulado do nariz,  os lábios rosados, o contorno do rosto, o conjunto beirava a perfeição, cada detalhe em seu devido lugar. Cheguei a pensar que nunca mais poderia ver aquele rosto.

Em um instante, eu me atirei em seus braços e a segurei contra mim da forma que nossos cintos nos permitiam. Camila não hesitou em retribuir o gesto, envolveu meu corpo com carinho e emitiu um suspiro de alívio, como se, enfim, tudo fosse ficar bem. Inalei o perfume de rosas e me permiti ser preenchida por ele, desejando que levasse embora toda a aflição e ansiedade que me consumiam momentos antes. 

- Que inferno, onde você estava com a cabeça? Tem ideia do medo que eu senti? - Um tapa fraco foi desferido contra o ombro dela, que massageou o local em meio a um riso triste.

- Eu sinto muito, sinto muito mesmo. - Disse, iniciando um carinho suave em meus cabelos, ainda abraçada a mim. - Prometi a você que faria tudo o que pudesse, eu precisei morrer para estar aqui agora.

- Bem, você deveria ter me avisado. - Não havia como, e eu sabia, mas estava frustrada e não deixaria a teimosia de lado tão cedo.

Camila não contestou, ela permitiu que eu tivesse a razão naquele momento. Parecia besteira discutir, quando o que tínhamos de mais precioso estava bem ali: a companhia uma da outra. Nossas vidas.

Um solavanco repentino fez meu estômago gelar, e me trouxe de volta à realidade. A decolagem se iniciava, dali a poucos minutos estariamos a metros e mais metros do chão. Em meio a tanto estresse, angústia e euforia, eu havia esquecido algo básico, importante e no mínimo óbvio: que estava dentro de um avião.

Arregalei os olhos e busquei a mão de Camila para segurá-la com força, tentando não pensar em tudo o que poderia dar errado. Seria um desperdício ter enfrentado tantas dificuldades para morrer em uma queda de avião, em uma fração de segundo visualizei meu nome em uma manchete de jornal ao lado do de Camila, dessa vez escrito corretamente, e por um motivo verdadeiro.

Eu sequer havia sido capaz de prestar atenção nas instruções de segurança da aeromoça, não podia pedir para sair dali, pois estar do lado de fora era ainda mais perigoso. Senti minhas pernas trêmulas e puxei o ar com dificuldade, mantendo os olhos fechados. Nunca havia sido uma pessoa religiosa, mas, naquele momento, se houvesse um Deus, eu rezava para que ele pudesse me proteger.

- Elle... - A voz doce de Camila soou próxima ao meu ouvido. - Está tudo bem, nós estamos bem. Estou aqui com você, nada de ruim vai acontecer.

E com toda a magia que a envolvia, ela foi capaz de relaxar meus músculos um a um, e esvaziar minha mente caótica até que não restasse nada além dos bons sentimentos que sua presença trazia. Abri os olhos aos poucos, recebendo os dela e um brilho sereno que me permitiu respirar novamente.

- Tudo bem? - Questionou, alguns instantes depois, e eu assenti devagar.

- Desde que eu evite olhar pela janela. - Ouvindo sua risada doce, sorrir foi inevitável. - E você, está bem? Sou eu quem deveria fazer essa pergunta.

- Acho que nunca estive melhor. Pela primeira vez na vida eu estou livre, Elle. E muito bem acompanhada. - Nossos dedos se entrelaçaram ao final daquela frase, e recebi um olhar lotado de carinho.

- Como foi a conversa com Allyson?

- Difícil, mas tudo correu bem. Tive que negociar, vamos precisar sumir por um tempo. Você passa alguns dias comigo em Londres, até que as coisas se acalmem, e então poderá buscar um lugar para recomeçar sua vida longe de tudo, assim como eu farei. Terá meu total apoio, inclusive financeiro, para o que desejar fazer, basta dizer.

Um suspiro deixou meus lábios, conforme eu me deparava com o que seria meu futuro dali para frente. Sozinha em um país qualquer, longe das pessoas que conhecia e amava.

- Não queria ter que deixar a todos. - Pensei alto. - Seja sincera, vou poder voltar a vê-los?

- É arriscado demais, ao menos por agora. - Abaixei a cabeça ao ouvir aquilo. - Eu sinto muito mesmo por isso, sei que não é justo e nem fácil.

Não era culpa dela, e eu sabia. Camila havia feito tudo o que podia para garantir minha segurança, e eu faria o possível para demonstrar um pouco de gratidão, embora sentisse que estava deixando para trás uma parte do meu coração.

- Vou conhecer Catherine, então? - Foi minha tentativa de trazer um assunto mais agradável, e o sorriso em seus lábios ao confirmar a informação me mostrou que havia funcionado.

- Tudo bem por você?

- Vai ser legal. Eu já disse a você que gosto de crianças.

- Ela costuma ser um pouco tímida com quem não conhece, então não estranhe se não se derem tão bem de início, pode demorar um pouco pare que se acostume com a sua presença.

- Não se preocupe, eu sou bastante paciente. - Rimos juntas, e mentalmente enumerei possíveis maneiras de conquistar a afeição daquela garotinha. - Quantos anos ela tem?

- Seis. Logo fará sete, eu nem acredito. Parece pouco, mas já me odeio por ter perdido seis meses de sua vida. - Sem soltar a mão dela, iniciei um carinho suave, buscando confortá-la de alguma forma.

- O que importa agora é que vocês vão se encontrar novamente, e tudo ficará bem.

💎

O restante da viagem correu tranquilamente, e com isso quero dizer que fui capaz de evitar uma crise de pânico até que o avião estivesse em terra firme novamente. Durante as horas seguintes, Camila e eu nos deslocamos até a casa na qual sua filha e um casal de amigos nos aguardariam. Um local neutro, longe dos olhos curiosos e ameaçadores de quem quer que fosse. Calmamente, ela me explicou que os havia conhecido em um momento delicado, no qual não podia contar com o apoio de ninguém, e temia por sua vida e a de Catherine. A decisão de deixá-la para trás parecia partir seu coração, mas aquele era o fim de todo o sofrimento, um lugar seguro para o início da nova fase de nossas vidas.

- Nós duas éramos muito grudadas. Só tínhamos uma à outra, fazíamos tudo juntas. - Eu a ouvia contar, empolgada, conforme caminhávamos através do belíssimo jardim que cercava a casa de tijolos alaranjados.

Nossas mãos permaneciam unidas a cada passo, hora ou outra eu a sentia acariciar minha pele com o polegar e sorria sozinha com as sensações que um simples gesto me causava.

- E quanto ao pai dela? - Pude sentir a leveza se esvair entre nós duas, mas a curiosidade me devoraria se eu não perguntasse.

- Nunca pudemos contar com ele. É como se ela nem tivesse um pai.

A porta da frente foi aberta, e os olhos de Camila se iluminaram. Na mesma hora, ela soltou minha mão e correu para envolver nos braços uma garotinha de cabelos e olhos castanhos que parecia ser sua cópia perfeita. Mais adiante, estava um casal de cabelos grisalhos, que eu me lembrava de ter visto na foto recebida como ameaça de Allyson. Eles sorriam de maneira doce, se aproximaram devagar como se aquele reencontro aquecesse seus corações.

- Senti tanto a sua falta. - Pude ouvir Camila dizer, segurando o rostinho da filha entre as mãos com carinho. - A mamãe está aqui agora, eu não vou mais embora, prometo. Tudo bem? Você está bem, meu amor?

Catherine balançou a cabeça positivamente, e correu para abraçar a cintura da senhora que a acompanhava. Camila pareceu estranhar a atitude, mas voltou a ficar de pé, e me guiou pela mão na direção dos três.

- Elle, esses são Lionel, Beth e Catherine. Pessoal, essa é a...

- Lauren. - Afirmei, antes que ela pudesse completar a frase, e recebi seus olhos surpresos sobre mim. - Sou a Lauren.

- É um prazer conhecê-la, Lauren. Uma surpresa agradável, Camila não costuma trazer ninguém consigo. - O senhor que havia sido apresentado como Lionel apertou minha mão de maneira gentil, e sua esposa fez o mesmo em seguida.

- Seja muito bem-vinda, querida. - Ela disse.

- O prazer é todo meu. - Fiz questão de dizer, e me abaixei para estar na altura de Catherine, que me encarava com olhos assustados, escondendo-se em meio à longa saia de Beth. - Ei, pequena, estou feliz em conhecê-la, ouvi coisas boas sobre você.

Ela permaneceu quieta, conforme todos nos encaravam em silêncio, lotados de expectativa.

- Sabia que eu sou uma escritora? A última história que escrevi era sobre uma princesa, posso contar mais a você depois, se quiser.

O único contexto apropriado para compartilhar a história de Olívia seria para fazer a garota dormir, ou algo do tipo. Ainda assim, minha estratégia pareceu funcionar e, embora ainda calada, Catherine esboçou um pequeno sorriso no canto dos lábios.

- Venham, vamos levar vocês até os quartos. - Lionel ofereceu, e tomou a frente em direção à entrada da casa, que me passava um ar aconchegante.

Ele, Beth e Catherine já estavam instalados, por terem chegado algumas horas antes de nós. Havia dois cômodos vazios, cada um com uma cama de casal, e a garota não demorou a se distrair com algumas das bonecas em seu quarto, que ficava do outro lado do corredor. Camila a observou através da porta aberta com um semblante enigmático, antes de tomar seu rumo em direção a um dos quartos vazios segurando a mochila nos braços. Era tudo o que trazíamos de nossas antigas vidas. Ignorando a existência do outro quarto, eu a segui para entrar naquele, pois uma parte minha ainda não estava pronta para separar-se dela. Nos sentamos lado a lado sobre a cama, seguidas pelo casal que nos guiava.

- O que há com ela? Por que está tão quieta? - Camila questionou, e Beth trocou olhares com o marido, como se escolhesse bem as palavras.

- Desde a última vez em que você esteve aqui, ela não fala mais conosco. Tentamos de tudo, a menina não diz uma palavra.

- No início pensamos que fosse saudade sua, que passaria com o tempo, mas nossa casa nunca esteve tão silenciosa. Não dissemos nada antes, pois não queríamos preocupá-la à toa. - Lionel acrescentou, e pude ver a culpa pesar sobre os ombros de Camila, que tentava processar aquele fato.

Ambos respeitaram seu silêncio, eu permaneci ao lado dela, sem saber bem o que fazer. Por fim, a morena assentiu e respirou fundo, como se lentamente assimilasse a situação em que se encontrava.

- Mais algo que eu precise saber? - Beth negou.

- Tudo está bem, exatamente da forma como você deixou. Nós é que queremos saber das novidades, vamos, pode começar a contar tudo! Eu fiz chá, e seu bolo favorito.

Apesar de manter um semblante sério, Camila concordou em segui-los para fora dali, e eu fiz o mesmo. Lionel chamou o nome de Catherine, mencionando uma fornada de biscoitos, e em poucos segundos pudemos vê-la largar as bonecas sobre a cama e correr na direção da cozinha.

💎

Cenoura com cobertura de chocolate. Aparentemente, Camila e eu havíamos fugido e sobrevivido juntas, enfrentado situações que ninguém seria capaz de imaginar, mas apenas naquele momento eu descobria algo tão simples, como o sabor de bolo capaz de fazê-la sorrir, apesar das preocupações. Era inevitável me perguntar o quanto ainda havia para saber sobre ela.

Durante as horas seguintes, nós cinco permanecemos reunidos ao redor de uma mesa redonda, preenchida por doces, bolo, biscoitos e xícaras de chá. Camila contava animada cada detalhe do que havíamos passado, omitindo os fatos e palavras que não seriam adequados a uma criança, e parecia loucura reviver tudo aquilo, quase como se não tivesse sido real. Hora ou outra ela me olhava, como se pedisse permissão para ir em frente, e dizer apenas o que eu me sentisse confortável em compartilhar. Em cada uma das vezes eu sorria e apertava sua mão sobre a mesa de maneira carinhosa, incentivando-a ir em frente. Ela havia julgado aquelas pessoas dignas de sua confiança, e isso fazia com que também tivessem uma parte da minha.

Catherine ouvia tudo quieta em seu canto da mesa, devorando uma tigela de biscoitos que, em poucos minutos, já estava quase vazia. Quando restavam apenas dois, nossos olhares se cruzaram, e a garota me estendeu um deles, que aceitei de bom grado. Me parecia um início promissor para nossa relação de amizade. Em alguns momentos, Camila acariciava os cabelos lisos da filha, que parecia estar mais concentrada em seu lanche da tarde.

Quanto mais eu olhava, mais me impressionava com o quão parecidas elas eram. Os mesmos olhos castanhos brilhantes e cabelos cor de mel, embora os de Catherine se limitassem à altura dos ombros. Os mesmos traços delicados, a mesma forma adorável de franzir o nariz quando algo as incomodava.

Quando a comida se esgotou, nosso diálogo migrou para os enormes e confortáveis sofás da sala de estar. Fiquei totalmente sem graça ao ouvir a forma com que Camila me descrevia, ao contar sobre quando havíamos nos conhecido. Ela falava sobre meu sorriso, meu tom de voz, e detalhes que eu jamais havia me atentado sobre mim mesma. Nunca ninguém havia me enxergado daquela forma, eu parecia encantadora aos olhos dela, embora fosse apenas mais uma pessoa comum.

Conforme as horas se passavam, Catherine se aninhou nos braços de Lionel, que se ofereceu para levá-la de colo até a cama, quando a garota já era incapaz de manter os olhos abertos. Camila decidiu acompanhá-los, e eu fiz questão de ajudar Beth a organizar a cozinha, como uma forma de agradecer por toda sua gentileza e hospitalidade. Pouco tempo depois, tudo já estava limpo e arrumado, e a mulher me pediu licença antes de se retirar com o marido para o quarto que dividiam. Após um lanche tão reforçado, nenhum de nós tinha fome para jantar. Caminhei através da casa silenciosa até me deparar com a figura de Camila, que tinha um dos ombros encostado no batente da porta conforme observava a filha dormir.

Tentei me aproximar devagar, mas ela não demorou a notar minha presença. Minha intenção era segurar sua mão novamente, mas ao invés disso, Camila me envolveu com os braços, e repousou a cabeça sobre um de meus ombros. Aceitei aquele abraço, segurando-a próxima a mim, sendo preenchida por uma paz e tranquilidade que apenas ela era capaz de me transmitir. Era difícil compreender aquela estranha necessidade de tê-la por perto o tempo todo, como se o episódio no avião fosse uma lembrança de que a vida era tão frágil quanto os momentos que dividíamos.

- Tudo bem? - Questionei, ainda abraçada a ela, no instante em que um suspiro deixou seus lábios.

- Catherine não pareceu muito feliz em me ver.

Ergui o olhar até a garota, que ressonava tranquilamente sobre a cama, aconchegada entre os cobertores e travesseiros. Conversávamos em sussurros, para evitar perturbar seu sono.

- Isso não é verdade. Foi um dia atípico, muitas novidades. Tenho certeza que, com o tempo, tudo voltará ao normal.

- Realmente espero que sim.

Após um longo banho e alguns instantes pensativa de pé no corredor vazio, o vislumbre de uma luz acesa foi o pretexto que eu buscava para adentrar novamente o quarto de Camila. O perfume de rosas era ainda mais marcante e preenchia o ambiente, deixei de me questionar sobre a decisão de estar ali ao ver um sorriso tomar seus lábios no instante em que ela colocou os olhos em mim.

- É estranho, não é? Todo esse silêncio, a calmaria, depois de tudo... - Comentou, e eu prontamente concordei, tomando a liberdade de me sentar sobre a ponta da cama.

- É estranho, mas também é bom. Nós conseguimos, certo? Estamos livres.

Camila sorriu de lado e varreu o cômodo com os olhos, refletindo sobre aquelas palavras.

- Talvez não tão livres das consequências de nossas escolhas.

O edredom que cobria seu corpo era macio e me permitia traçar desenhos aleatórios com o dedo, conforme pensava no que dizer. Ela poderia tentar esconder, mas eu via em seus olhos a mágoa de um reencontro que não se parecia em nada com o que ela havia idealizado durante seis longos meses.

- Por que você e Catherine não fazem algo especial juntas amanhã? Um momento de mãe e filha, ou algo assim. - Sugeri, vendo-a franzir o rosto em uma expressão pensativa.

- Tudo bem por você?

- Claro que sim. Estarei bem aqui, comendo biscoitos e esperando que voltem.

Meu coração se aqueceu ao vê-la sorrir, e saber que eu era parte do motivo. Seus dedos caminharam sobre a cama até alcancarem os meus, brincando com eles em um pretexto bobo para me sentir próxima dela, como vinha sendo nas últimas horas.

- Então... Lauren, uh? O que houve com a Michelle? - Foi a minha vez de desviar o olhar, envergonhada.

- Ainda sou Michelle, mas se esse é realmente um recomeço, não acho que preciso continuar fugindo da Lauren. Ela é parte de mim também, e não sou fraca demais por saber reconhecer isso.

- Bem, é um prazer conhecer você, Lauren.

Deixei que meu corpo pendesse sobre a cama, sentindo o cansaço me dominar e deitando a cabeça sobre as pernas dela, que acariciou meus cabelos, reduzindo a zero minha vontade de sair dali.

- Acha que posso dormir aqui?

- Para você, essa resposta sempre será sim. - Camila abriu os braços e fez um gesto para que eu me aproximasse. - Só não vá se arrepender disso amanhã.

Ri baixo, e me aconcheguei junto a ela.

- Talvez eu me arrependa de ter sido tão teimosa antes.

💎

Na manhã seguinte, Camila fez questão de acordar cedo, apesar de todo o cansaço que nos envolvia. Enfiada entre os cobertores macios, observei o brilho empolgado em seus olhos ao preparar tudo, pensando nos mínimos detalhes para que fosse um dia perfeito. Conforme se arrumava, ela repassava suas ideias comigo: levar Catherine a um parque de trampolins, para que pudessem se divertir juntas. O almoço seria em uma hamburgueria, algo sem picles e sem maionese, pois a garota não gostava. Durante a tarde, elas fariam um passeio no parque, com direito a piquenique e muitas uvas, pois eram as frutas preferidas de sua filha. Encerrariam o dia passeando em barquinhos através do lago, que normalmente se assemelhavam a patinhos, mas Camila havia desembolsado um valor extra para que um deles fosse do formato de uma joaninha, já que Catherine gostava muito delas.

Era atencioso e adorável a forma como ela se esforçava para garantir que tudo saísse como o planejado. Aquele certamente seria um dia leve e divertido, a oportunidade perfeita para que as duas se reconectassem e começassem a recuperar o tempo perdido.

A casa parecia ainda mais silenciosa na ausência de Camila e Catherine. Lionel ainda dormia, e Beth foi gentil o bastante para me preparar um café da manhã delicioso, quando a ansiedade me tirou da cama mais cedo do que eu pretendia. Ela preencheu minha xícara com café e se sentou à mesa em silêncio, como se pudesse ouvir o quão barulhenta estava a minha mente.

- Você pode me contar o que a incomoda, se quiser. Sou uma boa ouvinte. - A oferta veio em um tom doce, conforme o primeiro gole do café amargo descia pela minha garganta. Apoiei a xícara sobre a mesa.

- E se eu quiser fazer perguntas?

Beth abriu um sorriso receptivo.

- Também sou boa em respondê-las.

Cocei a nuca, sem saber bem por onde começar. Eu não sabia nada sobre aquelas pessoas, o porquê de estarem ali ou sobre sua relação com Camila. Talvez fosse um bom início.

- Camila e vocês são amigos há muito tempo? - A senhora assentiu.

- Desde que ela apareceu em nossa porta com dezoito anos e um bebê nos braços.

- Pensei que a... chefe dela havia dado suporte nesse momento. - Precisei me esforçar para não franzir o rosto ao mencionar Allyson. Estar livre dela era tão bom que quase não parecia real.

- Nem todo suporte é apenas financeiro, querida. Camila precisava de alguém para mostrá-la que tudo ficaria bem, que as coisas ainda tinham solução. Que a vida dela estava apenas começando, assim como a de Catherine. - Assenti lentamente, mostrando que compreendia suas palavras. - Ela é uma boa garota, sempre nos tratou com muito carinho, quando nosso próprio filho nem se incomoda em fazer uma visita.

- Desde quando vocês sabem de... tipo... tudo? - Minha hesitação trouxe um riso suave a seus lábios.

- Já faz um bom tempo.

- E vocês estão bem com isso? - Beth suspirou e entrelaçou os dedos sobre a mesa, como se tivesse algo importante a dizer.

- Quando chegamos a uma certa idade, percebemos que o mundo nunca foi preto no branco. O bom e o mau. Existe uma grande área cinza, e Camila está nela. Fez coisas terríveis, sofreu coisas terríveis, nada é justo no final das contas, mas no fundo eu posso sentir um bom coração quando o vejo.

Apoiei as costas sobre o encosto da cadeira, pois o café já havia sido deixado de lado. Beth fora capaz de definir em palavras o furacão que habitava minha mente durante as últimas semanas, aquela gigantesca área cinza que parecia prestes a me engolir.

- É assustador. - Desabafei. - Mas, ao mesmo tempo, eu não quero perdê-la.

- Entendo que seja complicado, mas vocês duas parecem ter algum tipo de ligação especial, e eu não digo isso a qualquer um.

- O amor sempre foi complicado para mim. - Deixei escapar um riso de nervoso. - Minha ex-namorada certamente me colocou mais chifres do que posso contar, e graças a ela boa parte da internet já me viu nua.

- Ela expôs você? - Beth pareceu chocada, e concordei com a cabeça.

- Entre outras coisas. Eu não sei por quê ainda me surpreendo.

- Sinto muito, querida. Ninguém deveria ser desrespeitada dessa maneira, nunca. - Uma de suas mãos pousou sobre a minha de maneira reconfortante, e forcei um sorriso.

- Não se preocupe, isso já passou. Está tudo bem.

- Não precisa estar. Tudo bem se não estiver.

Beth falava de uma forma acolhedora, quase maternal, embora eu não me lembrasse de ter sido tratada pela minha mãe com todo aquele carinho. Não era dificil imaginar o motivo de Camila confiar nela e em seu marido, ao ponto de deixar a vida de sua filha nas mãos deles. Quando me dei conta, as angústias que eu escondia e guardava a sete chaves emergiram em pequenas lágrimas que passaram a cobrir meus olhos.

- Eu só... tantas coisas aconteceram de uma vez, mal tive tempo de me preocupar com isso. Pareceu pequeno demais, perto de um sequestro, ou uma legião de pessoas que me queriam morta.

- Você tem sido muito forte, seja mais gentil consigo mesma.

Ouvir aquelas palavras foi quase como visualizar Dinah ali, diante de mim, com os olhos dourados acusatórios, embora sempre tão reconfortantes. Ela me diria aquilo, se ainda estivesse ao meu lado, mas não estava mais.

- Tenho tentado ser forte, mas não sei até quando. Sinto falta da minha família e meus amigos, estou aterrorizada e não sei o que vai ser da minha vida agora. Estou sozinha no mundo.

- Tem certeza disso? - Beth questionou, de olhos fixos no colar da bailarina ao redor do meu pescoço. Sorri sozinha, segurando o pingente entre os dedos e sentindo um calor gostoso me preencher por dentro.

- Não tenho certeza de mais nada.

💎

As chamas crepitavam diante dos meus olhos, e eu sentia minhas mãos se aquecerem aos poucos apesar do vento frio trazido pelo entardecer. Estava segura e tranquila naquele momento, mas já havia sido diferente. O fogo e eu tínhamos um relacionamento conturbado.

Lionel teve a ideia de acender uma fogueira no quintal e comprar marshmallows para quando Catherine estivesse de volta, parecia a forma perfeita de encerrar um dia tão especial. O sol já se despedia, e eu apreciava o sabor doce incrementado pela fogueira, tentando não enlouquecer com meus próprios pensamentos. Ao ouvir passos e folhas secas sendo pisoteadas, eu soube que não estava mais sozinha. O perfume de rosas não permitiu que restassem dúvidas, Camila se sentou ao meu lado no tronco de madeira, e quando me virei para olhá-la, fui surpreendida por um abraço apertado.

Não era um abraço qualquer, nem uma forma de dizer oi. Era a busca por um refúgio nos meus braços, escondendo o rosto em meu pescoço e mantendo nossos corpos colados durante os minutos seguintes. Não ousei me afastar e nem senti vontade, secretamente desejava que ela permanecesse ali por muito mais tempo.

- O que foi? Onde está Catherine? - Parecia a pergunta errada a ser feita, pois assim que nos afastamos pude ver seus olhos opacos e perdidos. O brilho que estava ali mais cedo havia desaparecido totalmente.

- Na cama. Lionel falou sobre a fogueira e os marshmallows, mas não adiantou, ela só sabia dizer, ou melhor, gesticular, que estava cansada. Me ofereci para ler uma história, mas ela preferiu que Beth o fizesse.

- Bem, deve ter sido um dia agitado. - Tentei. Camila suspirou pesado.

- Ela não disse uma palavra, o dia todo. Mal me olhava nos olhos. Nós costumávamos ser tão unidas, apenas nós duas, uma pela outra...

- As coisas vão  melhorar quando vocês puderem passar mais tempo juntas. - Toquei seu ombro na intenção de confortá-la, mas não pareceu funcionar.

- E se ela nunca me perdoar? E se ela me odiar para sempre, Lauren?

- Isso não vai acontecer. - Me apressei em dizer, tomando suas mãos inquietas nas minhas. - Pense bem, sua infância também não foi nada fácil, e isso não te fez amar menos seus pais.

- Foi esse o motivo de eu ter decidido deixar Catherine para trás. Por perceber que eu estava começando a agir como meus pais, precisando ensiná-la a se esconder para se manter segura, deixando-a sozinha em casa para ir cometer atrocidades. Eu os amo mais do que tudo, sei que só queriam me proteger, mas jamais me perdoaria por fazer minha filha passar pelo que eu passei.

- Você os compreende, e ela também vai te entender, é só questão de tempo. Sua filha te ama muito, não duvide disso.

Terminei a frase com os olhos fixos nos dela, que soltou minhas mãos e voltou a encarar o céu.

- Que droga... - Disse, negando com a cabeça.

- O que foi?

- Vai doer quando você for embora.

Camila voltou a me olhar, e senti algo em mim se quebrar ao vê-la sorrir entre as lágrimas.

- Nem acredito que partiremos em dois dias.

- Já decidiu para onde vai? - Ela perguntou, e neguei.

- Alguma sugestão?

- Quem sabe um país da América do Sul? A maioria deles fala espanhol, e você já provou que consegue entender muito bem.

Ri daquela piada boba, recordando momentos que jamais voltariam. O sorriso permanecia nos lábios de Camila, e me trazia conforto e felicidade sem nem tentar. A luz da lua se refletia em seus olhos, nas pequenas lágrimas que brilhavam como diamantes em sua pele. Mesmo triste e perdida, mesmo quando seus receios a dominavam, ela permanecia encantadora de sua própria maneira.

- Para onde você vai?

- É melhor que você não saiba. Por questão de segurança.

- Então nunca mais vamos nos ver? - A possibilidade fez meu coração apertar.

- Nunca é tempo demais. Eu provavelmente não resistiria, você sabe bem. Posso aparecer para uma visita quando menos esperar.

O silêncio caiu sobre nós duas, e a incerteza me sufocava. Encarei o céu em busca de respostas, ouvindo a voz de Beth na minha mente, questionando se eu realmente estava sozinha, se precisava estar sozinha. Camila estava bem ali, ao meu lado, mas até quando? Apertei a bailarina dourada entre os dedos, buscando coragem para tomar uma decisão que mudaria tudo.

- E se eu quiser ir com você e Catherine? - Camila me encarou, sem acreditar no que ouvia.

- O que? Quer dizer, viver conosco?

- Não gostou da ideia?

- Se eu gostei? Isso seria um sonho para mim e você sabe, mas não quero que se sinta obrigada ou pressionada a algo.

- Não estou sendo obrigada a nada, eu quero de verdade estar com vocês. - Me surpreendi com a firmeza de minhas próprias palavras.

- Depois de tudo, eu pensei que fosse querer distância de mim.

- Sendo sincera, eu também pensei, mas não foi bem assim. No avião, quando li aquela notícia, senti como se morresse junto com você. E agora, imaginando um futuro onde posso nunca mais vê-la, eu não quero isso, não quero sentir que te perdi pela segunda vez. Quero estar do seu lado, apesar de tudo, contra tudo. Na verdade, eu.. acho que talvez te ame também. - Falei, baixo.

- Talvez? - Camila ergueu uma sobrancelha e sorriu de lado.

Pensei um pouco, e neguei com a cabeça.

- Não. Sem talvez. Eu realmente amo você.

As borboletas em meu estômago estavam enlouquecidas após uma confissão como aquela. Eu esperava algo, uma resposta ou uma reação, mas contrariando minhas expectativas, seus olhos fugiram dos meus, e não ouvi uma palavra sequer.

- O que foi? Eu disse algo errado? - Ela respirou fundo, e voltou a me olhar.

- Eu só não consigo acreditar nisso

- Por que eu mentiria?

- Não acho que esteja mentindo, apenas confusa. Pode sentir gratidão por eu tê-la protegido, um certo apego pelo que passamos juntas, empatia pelo meu passado ou algo assim, mas amor? Estar disposta recomeçar sua vida ao meu lado? Isso é demais.

- Eu sei o que estou sentindo. - Afirmei, inconformada com o que ouvia, tocando seu rosto com uma das mãos. - Se não, por que meu coração bate como louco quanto te olho assim? Por que sinto minha pele queimar quando você me toca, e por que o seu perfume traz borboletas ao meu estômago?

- Bem, isso é porque temos uma química invejável. - Camila sorriu de lado e eu bufei, voltando a me afastar dela.

- O que preciso fazer para provar que realmente amo você?

- Você não ama. Pode amar a imagem que tem de mim, a mulher gentil que conheceu no parque, que foi em encontros com você como se tivesse uma vida perfeita, mas eu não sou essa pessoa.

- Então me mostre quem você é. - Pedi, já sem saber o que fazer. Ela franziu o cenho.

- Como é?

- Quero conhecer a Camila de verdade. É justo, certo? Eu permiti que você conhecesse a Lauren.

Observei conforme ela analisava meus argumentos cuidadosamente, pensando no que responder. Não seria capaz de resistir, e eu sabia bem.

- Tem certeza? - Prontamente assenti. - Certo, venha comigo.

Fui puxada pela mão até estar de pé, e guiada entre os arbustos por um caminho desconhecido, cada vez mais distante da casa.

- Para onde vamos? - Nosso trajeto foi interrompido, e ela me olhou nos olhos antes de responder.

- Vou te mostrar o que a verdadeira Camila faz para se divertir.

💎

E então, o que estão achando? Quero saber tudo!

Tentarei não demorar, pra vcs não cortarem minha cabeça. Secretamente eu gosto de ser cobrada, mostra que vcs gostam e lembram da minha história.

Até a próxima 💕

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