Mapsi | taekook

By vinxenjk

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Uma noite, um racha, uma rivalidade. Ao perder para o novo e misterioso corredor, Jungkook não esperava que a... More

🍸⸸0.intro and cast
🍸⸸1.wasp nest
🍸⸸2.sheltered
🍸⸸3.disadvantage
🍸⸸4.tough as leather
🍸⸸5.obey
🍸⸸6.chitchat
🍸⸸7.blackout
🍸⸸8.not bad at all
🍸⸸9.confidential
🍸⸸10.nonsense
🍸⸸11.trouble in paradise
🍸⸸12.rainbow stitches
🍸⸸13.healing kiss
🍸⸸14.all for him
🍸⸸15.red light
🍸⸸16.vital point
🍸⸸17.dead end
🍸⸸18.outburst
🍸⸸19.crosshairs
🍸⸸20.homelife
🍸⸸21.devotion
🍸⸸22.mshcheniye
🍸⸸23.aftermath
🍸⸸25.antidote
🍸⸸26.unforeseeable
🍸⸸27.high speeds
🍸⸸28.zero hour pt.1
🍸⸸29.zero hour pt.2
🍸⸸30.hellfire
🍸⸸31.metamorphosis

🍸⸸24.hungry dog

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By vinxenjk

oii amores

não se esqueçam de votar e comentar pfv🖤

#mapsitk
⸸💀⸸

 (⚠️alerta para violência)

"ei, estou te implorando para ficar
meu lado sombrio venceu hoje
meu coração continua se partindo
de novo e de novo
ei, não me deixe sair de sua vista
não posso confiar em mim esta noite"
— DArkSide (Bring Me The Horizon)

⸸💀⸸
24. CÃO FAMINTO

A noite caiu, mergulhando a mansão da Sergeyev na escuridão.

A lua lançava uma luz pálida sobre a construção. O silêncio reinava, sendo quebrado pelo distante farfalhar das árvores ao vento e os passos imperceptíveis dos seguranças que patrulhavam o perímetro.

Localizada em uma área exuberante, longe da cidade, no meio da floresta, uma verdadeira obra-prima. Cercada, a magnífica mansão de calcário estilo castelo, inspirada em mansões francesas. Do lado de fora, jardins bem cuidados, com fontes e esculturas majestosas, incluindo a estátua do simbólico bobo da corte.

As entradas eram resguardadas por seguranças formalmente vestidos em ternos pretos, e armados, que monitoravam quem entrava e saía.

Luzes e holofotes iluminam toda a região central do extenso terreno, com corredores subterrâneos permitindo movimentos secretos e fugas rápida, no meio da floresta, à beira da estrada. Com salas de reuniões à prova de som e esconderijos que guardavam segredos de negociações obscuras e operações ilícitas. Os membros da máfia , mantinham um código estrito, protegendo tudo o que existia por dentro dos limites da casa da Bratva.

Naquele instante, no pátio principal, diante da mansão, o chefe estava de pé, observando a cidade iluminada à distância.

Vestindo seu traje elegante, todo preto, com uma expressão impassível no rosto, enfatizando a aura de poder que irradiava. Logo atrás, dois seguranças robustos permaneciam em posição de alerta, atentos aos arredores.

Os cães de guarda aguardavam silenciosamente. Dois Cane Corso, imponentes e musculosos, estavam ao lado do homem, enquanto dois Dogo Argentino e um Presa Canário, patrulhavam as extremidades guiados por seguranças. Suas silhuetas poderosas destacavam-se no cenário noturno. Taehyung tomou um gole de uísque, apreciando a serenidade do momento com o brilho do charuto aceso lançando sombras em seu rosto.

Virou o resto da bebida, esvaziando o copo e estendendo-o para um dos homens pegar e levar de volta para dentro. O charuto entre os dedos, Taehyung tirou o celular do bolso.

Apesar de ter dito que ligava para ele depois, era aquele que estava o esperando ligar de volta.

Taehyung estava esperando. Como um idiota.

O mesmo idiota com dificuldade para entender porque não era quem passava por toda aquela merda.

Um idiota que se preocupava à toa.

E o mesmo idiota que esquentava demais com aquele que mais importava em sua vida.

Talvez fosse verdade. Jungkook tinha razão. Não entendia. Simplesmente não conseguia entender. Toda a teimosia e insistência era incompreensível. Não sabia o que ele pensava, nem o que estava o levando a ser assim, mas supunha ser medo e insegurança. Do que pode acontecer. O que de novo, só significava que alguém o pressionava.

A pessoa que tinha relação com a parada dele deveria ter achado um jeito de ameaçá-lo. E cobrado caro para tirá-lo da CIA.

Se ele ao menos abrisse a porra do jogo consigo e parasse de ser teimoso para aceitar sua ajuda.

Era para enfrentarem isso juntos, caralho.

Taehyung suspirou, decidido a voltar ao que importava. Ou ao menos deveria importar.

Levou o charuto de volta aos lábios, e o inspirou profundamente, deixando-se envolver pela espessa e aromática fumaça. Era um ritual de paz. Beber Scotch e fumar um charuto escolhido de sua coleção privada, em uma pausa tranquila do ritmo acelerado da vida e dos negócios. Puxou e soltou a fumaça, degustando do aroma, sentindo o sabor das folhas se misturando em sua boca. Aquele em especial, tinha aroma de madeira e trazia um intenso amargor, que quando combinado ao seu uísque favorito, era perfeito. Tudo o que Taehyung mais precisava.

Degustou-o enquanto pôde, também mensurando para que o segurança trouxesse o cinzeiro, onde deixou o charuto ainda aceso, ele se apagaria dali a alguns minutos, e ergueu o pulso direito, checando o relógio de pulso, contando os segundos para ela chegar.

Dirigindo pela estrada, admirando o cenário impecável, as delicadas mãos giraram o volante e um sorriso apreciativo cresceu nos lábios da jovem ao vê-lo à sua espera, do lado de fora.

O Mustang Shelby GT foi estacionado diante da fachada da mansão principal, e a porta do motorista foi imediatamente aberta por um dos seguranças, concedendo a saída da linda jovem.

Ela vestia um elegante tailleur Chanel, com um blazer cortado que realçava sua silhueta esbelta. O tecido luxuoso acariciava sua pele, proporcionando uma sensação de indulgência a cada movimento gracioso. Seus cabelos, cuidadosamente arranjados, caíam em ondas suaves sobre os ombros, complementando a aura de glamour que a envolvia. Os acessórios eram discretos, mas refinados, realçando a beleza natural de seus traços. Uma icônica bolsa Chanel, estava pendurada em seu braço, e esta deveria ser o toque final, se não fossem as joias.

Nos pulsos delicados, ela exibia uma pulseira Tiffany com elos de prata que brilhavam sob à luz. Seus dedos eram adornados por anéis de luxo, cada um exibindo um design único e uma qualidade artesanal que apenas uma marca como a Tiffany oferecia. A gargantilha no pescoço destacava a linha elegante de sua clavícula e o colar com um pingente sutil, acentuava a delicadeza de sua aparência. As orelhas enfeitadas por brincos da marca, pequenas e delicadas joias.

Cada peça e acessório, escolhidos com precisão, era uma expressão de seu gosto refinado.

Cada passo dado exalava confiança e autoestima, digno de uma mulher que não apenas usava a moda, mas a personificava. E seu olhar intenso era carregado de determinação quando levou-o à figura do homem ali.

— Irmão. — a voz doce chamou.

— Bianca. — Taehyung pegou na delicada mão que foi estendida em sua direção, podendo guiá-la para dentro da mansão, passando pelos seguranças que prestaram reverências em respeito.

Mesmo para alguém acostumada com luxos desde que nasceu, sempre se surpreendia com o local. O projeto que Taehyung deu continuidade era luxuoso e requintado demais. Ao ponto de sempre que passava das imensas portas, Bianca se sentia entrando dentro de um verdadeiro castelo.

Taehyung levou-a até a sala de estar e logo atrás de si, vinham os dois Cane Corsos. Amon tinha a pelagem negra como a noite e Pietro era cinzento, ambos animais treinados eram extremamente leais e superprotetores consigo.

A jovem entrou no imenso cômodo, e encontrou conforto no sofá, uma peça de mobiliário que exalava tanto luxo quanto todo o resto. Estofado em um tecido suave e rico, o móvel ocupava um lugar de destaque na sala de estar espaçosa. Posicionado em frente à lareira, criando um ambiente aconchegante. A luz do imenso lustre de cristais lançava um brilho sobre o móvel importado, destacando seus detalhes finamente trabalhados e ao redor deste, mesas laterais sustentavam objetos de arte e decoração, enquanto um tapete macio forrava a área.

O cenário mantinha um ar de segredo e reserva, alinhado à natureza discreta das atividades da máfia. Com obras de arte de alto valor espalhadas pelas paredes, mais um dos inúmeros negócios da Sergeyev. Galerias de arte e contrabando de quadros.

Na mesa de centro de vidro, repousava uma caixa de charutos de alta qualidade, até porque Taehyung era um apreciador de tais excentricidades. Ao lado da caixa, o conjunto de copos de cristal e uma garrafa de uísque de prestígio sugeriam que o sofá não era apenas um lugar para relaxar, mas também onde eram conduzidas reuniões importantes.

Bianca costumava aparecer com frequência para dar apoio moral ao meio-irmão na gerência da máfia, e ver ele ter deixado os dois animais entrarem junto, pensou:

Desde quando Taehyung estava deixando os cachorros entrarem dentro de casa? Logo ele que dizia que não passavam de cães de guarda.

Em completo silêncio, observou-o tirar o celular do bolso e jogá-lo sob a mesa de vidro antes de se sentar na poltrona.

— Posso saber o que você faz aqui, Bianca?

— Bom te ver também, irmão. — mais um sorriso doce e perigoso surgiu no rosto da jovem, que analisou a expressão do homem. Além de fechado, ele era difícil de ler. — Eu vim te visitar.

— Pra quê? — Taehyung levou a destra livre para afagar a cabeça do animal, que se sentou ao lado da poltrona. Amon era um ótimo cão.

— Pra te ver. Você não deu sinais de vida.

— Eu tenho estado ocupado — disse. — Sempre estive, você sabe disso. Como foi sua turnê? Tudo ocorreu bem, você se divertiu?

— Foi incrível — Bianca sorriu entusiasmada por se lembrar da experiência ainda recente — Mas você não apareceu, não foi me ver. Nem em Phuket como prometeu.

Taehyung olhou surpreso para ela. Puta merda, é verdade, Phuket.

— Caralho, Bianca, desculpa, eu esqueci total.. — levou a mão a massagear as têmporas. — Da próxima vez eu vou, pode ser? Vou te ver se apresentar e..

— Talvez não tenha uma próxima vez.

— O que? Como assim? — Taehyung franziu o cenho, não entendendo.

— Acho que não quero mais ser cantora, irmão — confessou. — Quero entrar para os negócios da família.

Taehyung quase não conseguiu correlacionar. Ouviu certo? Bianca queria fazer parte da máfia?

— Como é?

— Mas isso é assunto pra outro dia! Eu vim porque estou preocupada. — Bianca desconversou. — O que tem acontecido esses dias?

— Do que você está falando, Bianca?

— O carregamento, o desvio de fundos da empresa, as informações vazadas..

Um caos. Taehyung também estava uma pilha de nervos com tudo que estava acontecendo. Foi só voltar que um monte de merda para resolver caiu em suas mãos. Para começar, não podia ter se afastado dos negócios.

Foi um "erro", mas não se arrependia, longe disso. Taehyung faria de novo. Do exato mesmo jeito.

— E o sr Hwang. por que você deu um fim nele? — Taehyung não respondeu, mas a expressão que ele assumiu foi ainda mais intimidadora que o comum — Ele era de confiança da família, de confiança do papai.

— Realmente, ele era. Mas deixou de ser. Ele me roubou, estava devendo milhões e ainda se atreveu a vazar informações da Slavneft. Você entende, Bianca?

— Ok. Mas pelo que ouvi, você..

Taehyung ergueu o olhar frio para olhá-la.

— Exagerei? — supôs, vendo a expressão dela — Talvez sim, talvez não.

Para Bianca, não era só "talvez sim". Taehyung o matou com as próprias mãos, e além de tudo, o fez de forma teatral.

— Teve um motivo?

— Tudo o que eu te disse que ele fez, não basta?

— Você sabe que eu não estou falando disso.

— Só porque ao invés de estourar os miolos eu arranquei a cabeça dele? — Taehyung arqueou as sobrancelhas. — Na frente de todos os outros gerentes?

— Sim, exatamente isso. — Bianca não entendeu a necessidade de tanta crueldade em forma de carnificina, muito menos o terror que ele parecia estar querendo causar.

— Eu precisei deixar uma coisa bem clara.

"Você pode tentar, mas nunca será como o sr Zdanov porque você não passa de um bastardo!"

"E um bastardo não deveria ser chefe da Sergeyev!"

As últimas palavras do velho ecoaram em sua cabeça. Taehyung ainda sentia a sensação do frescor do sangue dele em suas mãos.

— Era essa a sua preocupação, Bianca?

— Não. Também me disseram que você está pensando em acabar com os cassinos da Sunrise.. como é o nome mesmo?

— Haegun.

— Haegun. — Bianca assentiu em um meneio. — Eles tem se expandido ultimamente. É verdade, irmão? Você vai atacar eles?

— Eles me atacaram primeiro. Tentaram roubar a carga.

— Foram eles?

— San e Wooyoung encontraram outro corpo de um dos nossos em São Francisco.

— É sério? Onde?!

— No galpão de uma serralheria abandonada que a Sunrise usa, perto do porto. Porque a princípio, eles nunca seguiram o caminhão do ponto de partida, e sim próximo do destino final. Eles sabiam a que horas a carga saía do laboratório em Bakersfield e chegaria em São Francisco para ser descarregada no píer e despachada no navio.

— Isso significa que..

— Esses desgraçados sabem demais.

— Mas, Tae, se eles sabem demais quer dizer que..

— Sim, Bianca. — assentiu incomodado. — Só existem duas explicações: a primeira, existe um infiltrado na Reichsthal, que é informante da Sunrise e está passando informações dos nossos negócios. E a segunda, por mais que eu odeie dizer isso.. — a mandíbula de Taehyung era cerrada só de pensar. — Pode ter um traidor dentro da Sergeyev.

Um traidor. Uma possibilidade nunca descartada.

— E eles não vão parar.

— O que você quer dizer com isso?

— Bianca, o homem que San e Wooyoung encontraram foi torturado até a morte.

Ela arregalou minimamente os olhos, sabendo as condições que implicam algo assim. Um método tradicional, a tentativa de arrancar informações relevantes e significativas, à base de tortura.

— Ele fazia parte dos reforços solicitados e ele estava por perto quando o roubo aconteceu, e foi até o local por conta própria. Por isso seu desaparecimento não foi reportado.

— Então você vai rebater? Tae, você sabe que se fizer isso, vai ser como declarar guerra com a Sunrise.

— Bianca, a guerra já começou. E foram eles que a travaram primeiro.

— Você vai começar destruindo a rede de cassinos?

— Sim, eu só estou reunindo mais algumas informações. É difícil infiltrar um dos nossos lá, os cassinos são vigiados o tempo todo, desde o momento que abre, até o momento que fecha. Eles não baixam a guarda, e eu não vou simplesmente destruir tudo, não, antes disso, tem algo que eu quero.

— O que..?

— Os cofres.

— Os cofres? Irmão, você acha que vale a pena? Todo esse risco por causa de..

— Bianca, você sabe quanto dinheiro eu perdi? Trezentos milhões! Meia tonelada de metanfetamina!

— Tudo bem. Eu posso ajudar, posso me infiltrar nos cassinos e descobrir sobre os cofres.

— Bianca.

— Irmão, você sabe que se você não fosse o chefe da Sergeyev, seria eu. — foi simples em dizer. — Você sabe como eu fui criada. Sabe do que eu sou capaz.

— Hyungseo, não é seguro. Eu estou dizendo que existe a possibilidade de ter um traidor dentro da Sergeyev, eles podem saber sobre você..

— Taehyung, me deixa fazer isso.

Antes que continuassem conversando, o celular vibrou sob a mesa e Taehyung viu o coração vermelho à frente do contato. Era Jungkook.

Rapidamente pegou-o em mãos e se levantou, mas antes olhou para ela para dizer:

— Nós continuaremos essa conversa depois, eu tenho que ir. Não pense em fazer nenhuma loucura e nem pense em ligar para o Yunho, está me entendendo, Bianca?

— Sim, senhor, meu querido irmão. — Bianca sorriu doce.

E bastou segundos para o homem evaporar. Até os cachorros se sentaram com as orelhas erguidas, olhando para a saída e para si, confusos.

Pensou que ele estivesse livre e que poderiam jantar juntos ou ao menos terminar a conversa. Mas agora Taehyung tinha uma prioridade além dos negócios.

Como Yunho contou. Seu irmão tinha alguém que o ligava e tinha capacidade de fazê-lo reagir daquele jeito.

Uma ligação e Taehyung correria até ele.

⸸•💀•⸸

Taehyung caminhou pela garagem da mansão, as luzes embutidas no teto acesas, iluminam sua coleção de carros, todos organizadamente alinhados.

O ambiente exalava um aroma sutil de gasolina e acabamento de alta qualidade, conforme seguia por entre os carros a passos apressados, até o fim da garagem, quando atendeu em uma segunda tentativa do sinal funcionar sem falhas.

Já escolhendo o carro que dirigiria, entrou, dando partida, confuso se a ligação foi conectada. O ronco do motor V8 ecoou, preenchendo o espaço com o estalo da potência de 717 cv.

— Mecânico? — Taehyung deslizou uma única mão pelo volante para manobrar o Charger SRT Hellcat para fora da garagem. — Consegue me ouvir?

Nada.

— Caralho. — estava prestes a afastar o celular da orelha para desligar e tentar de novo.

Bonitão.

— Mecânico.

Bonitão, foi mal. — Jungkook pediu do outro lado da linha e no mesmo instante, Taehyung freou o carro — Me desculpa, eu não quis dizer aquilo.

Taehyung manteve o carro ligado e parado, encostado no acostamento da pista. Se sentia arrependido, porque a iniciativa de discutir partiu de si. Apesar de não ter sido intenção de nenhum dos dois. Estavam frustrados, entretanto, Taehyung estava ainda mais sem entender a situação. Não era surpreendente que tenham brigado, mas não era para ter perdido a calma, e foi se arrepender logo que desligou naquela hora.

— Não, mecânico, você não precisa pedir desculpas por isso. Me desculpa também, eu não queria brigar e nem te pressionar. Eu só fiquei muito nervoso.. você sabe que até agora eu estou sem entender o que você está fazendo, sem contar que eu já te disse que tem outros jeitos de resolver isso.

Silêncio total.

— Eu estou preocupado com você, Jungkook. — confessou. — Eu me preocupo com você.

Eu sei. Sei que você se preocupa comigo, bonitão, mas eu também me preocupo com você.

— Jungkook, você não..

Eu me preocupo com você, bonitão, assim como sei que você se preocupa comigo. E eu te falo pra não esquentar comigo e você consegue fazer isso?

Porra, obviamente não.

Consegue, Taehyung? — ele queria que respondesse.

— Não.

Então, é a mesma coisa. Você também não fala sobre o que aconteceu aquela vez em LA. Não fala quem quer te matar.

— Jungkook, você sabe quem eu sou. É mais fácil eu te dizer quem não quer me matar.

Tô ligado. Você tem inimigos demais e você já vive em perigo, bonitão, o que eu estava tentando fazer era..não te colocar em mais.

Jungkook estava admitindo que a parada era perigosa, puta merda.

— Mecânico, o que você está dizendo?! — exclamou, sentindo-se ansioso só com a ideia de ele se sacrificar assim.

Daquela vez eu te salvei. Sem saber que você corria perigo, eu te salvei, bonitão. Mas e se eu não conseguir fazer isso de novo? E se dessa vez, mesmo sabendo que você pode tá em perigo, eu não conseguir?

Caralho, era isso. O motivo de tanta teimosia, toda a insegurança de Jungkook e todo o medo que ele tinha. Somado a ter perdido alguém que amava duas vezes.

— Jungkook, aquela vez foi aquela vez. Nada além disso, não aconteceu nada. E se quase aconteceu, foi porque eu mesmo me descuidei. Você entende? — Taehyung precisava fazê-lo entender. — O que quer que seja essa parada em que você se meteu, me deixa ajudar. Quem quer que seja essa pessoa que está te ameaçando, você não deveria se preocupar. — encarou a estrada vazia com um olhar frio no rosto. — Porque ela não é párea para nós.

Nada era páreo para eles.

— Nem para mim, nem para você. — alegou. — Quem é você, Jungkook? — ele continuou em silêncio. — Um simples mecânico? Um ex-militar qualquer? Ou então, um homem com habilidades comuns?

Não.

— E eu? Quem sou eu?

Ele continuou completamente calado.

— Jungkook, quem sou eu?

Você é.. — ele começou dizendo, mas parou por alguns instantes. — Chefe da máfia.

— Eu sou chefe da máfia. — repetiu. Só queria que ele entendesse de uma vez por todas. O tipo de pessoa que era, o tipo de vida que levava — Eu vivo e eu respiro perigo, Jungkook. Não existe nada mais perigoso no mundo do que ser chefe da porra de uma máfia, você está me entendendo?

Tô. Você tem razão, bonitão. Esses 'maluco são só uns comédia.

Taehyung pretendia prosseguir nesse assunto para convencê-lo, se ele não tivesse sido mais rápido em continuar:

Mas foi mal mesmo, bonitão. Eu não quis falar aquela merda pra você. Você me ajudou a me reerguer e foi muita babaquice da minha parte te tratar assim. Eu não falei sério quando disse que você não entende quando você 'teve comigo desde antes de toda essa merda acontecer. Taehyung, você também me salvou..

Caralho, Jungkook falando assim, relembrando essas coisas, fez seu coração se apertar. Era doloroso. Taehyung só queria poder ver ele, abraçá-lo e confortá-lo. Ajudar ele.

E se pá vai ter que salvar de novo. — ouviu ele soprar um risinho. — Foi mal, bonitão.

— Mecânico, para de pedir desculpa.. — não suportava tê-lo se culpando por coisas que ele sequer tinha culpa. — Não é sua culpa, porra. Jungkook, nada disso é sua culpa.

— O que tá rolando entre nós também. É minha culpa, foi mal, Taehyung.

— Não, caralho, mecânico..

Eu tô ligado também. Essa dinâmica não tá dando certo e isso tá fazendo mal pra gente. E não era pra ser assim.. nada disso era pra ser assim. Mas me dá mais dois dias. — ele pediu e foi nesse instante que Taehyung se sentiu à beira de um surto.

— Jungkook, por favor.. — encostou a cabeça no volante, desacreditado. — Você não pode fazer isso comigo, porra!

Só mais um pouco, bonitão.

Era tão difícil, porra, ele era tão teimoso, caralho.

Dois dias..

— Um. — impôs. — E isso não é negociável, Jungkook.

— Tá bom, um dia.

— Caralho. Um dia e nós vamos resolver essa merda do meu jeito.

— Pode deixar.

— Um dia e você volta pra mim, mecânico.

— Tudo o que eu mais quero. — Taehyung pôde imaginá-lo dizendo isso com um sorrisinho danado no rosto. Também sentia saudade de ver esses sorrisinhos. Porra, sua vontade de ver ele só aumentou.

— Um dia. Nada mais que isso, você está me ouvindo? — Jungkook soltou outro riso, diante de seu lado mandão e inquisitivo falando mais alto. — É sério, mecânico.

Vinte e quatro horas, eu prometo.

— Porra, você não pode me colocar em perigo, mas não pode querer evitar algo colocando a si mesmo em perigo. Não é assim que as coisas funcionam, existem outra forma de lidar com essa merda.

É, eu sei — Jungkook disse. — Mas o bagulho é mais profundo do que eu imaginava.

— Como?

Eu vou te contar depois, Taehyung.. só relaxa. Se não aconteceu nada em duas semanas, pode ficar tranquilo que em um dia não vai. De boa, é mais essa noite. Fica tranquilo, tá legal?

Esperava que ele tivesse razão, porque se não pesaria muito. Não saberia lidar com qualquer merda que acontecesse. Ainda mais sabendo que concordou e o deu mais um dia em perigo.

— "É mais essa noite"? O que você está dizendo? O que tem essa noite?

Bonitão, eu não tenho tempo pra explicar agora, mas preciso que você me fale uma coisa rapidão. Como é a tatuagem da nova Sunrise?

— O que? Por que você quer saber disso? O que você vai fazer, mecânico?!

Só me fala que jeito é.

— Jungkook.. — Taehyung respirou fundo para manter a calma. — O que você vai fazer?

Por favor, é importante, bonitão.

— Importante?! Que merda você está pensando em fazer, porra?

Bonitão, eu não sou um simples mecânico e nem um ex-militar qualquer.

Puta merda. Ele estava usando seu argumento contra si.

— Também não sou um homem com habilidades comuns, não é?

— Porra, você..

É sério, bonitão. Me fala como é.

— Puta merda.. — Taehyung não sabia o que estava fazendo. — A tatuagem deles.. é um sol ridículo, tribal.

Beleza.

— Jungkook, me fala onde você está, eu vou aí.

Bonitão, eu posso te fazer mais uma pergunta?

— Caralho, mecânico, por que você faz isso comigo?!

Eu posso?

— O que é? — concedeu, quase surtando.

Por que você não disse que o seu grupo era o Jinhwa?

— O que? Como assim?

Taehyung. — Jungkook chamou seu nome de um jeito um tanto sério. — Por que você não disse antes?

— Mecânico, eu não estou entendendo..

Foda-se, eu tenho que desligar agora, bonitão. Mas eu te ligo depois. Ainda essa noite, eu te ligo, tá bom?

— Espera, mecânico! — exclamou para impedi-lo de desligar.

O que é?

— Eu não sei o que você está pensando em fazer, e caralho Jungkook, você.. — Taehyung estava prestes a dizer que ele devia se colocar em seu lugar. Pelo menos uma vez. Mas calou-se antes de completar. — Você tem que me prometer que não vai se machucar. Está me ouvindo?

Tô.

— Promete, Jungkook. — impôs em uma súplica.

Eu prometo, bonitão.

Sem escolhas, se despediu dele e encerrou a ligação. Sem ganhar nenhuma explicação.

O que Jungkook iria fazer? Para quê ele queria saber como era a tatuagem da merda da Sunrise?

E como assim "por que não disse antes"? O que tinha o Jinhwa, porra?!

A mão fechada em punho, Taehyung socou o volante e a buzina do Dodge soou estridente e solitária pelo bairro sem movimento. Com o olhar frio e raivoso, encarou através do parabrisa. Sentia-se extremamente eufórico e nervoso, ainda sem saber de nada, sem entender nada. Até quando isso, caralho?

Do outro lado da linha, Jungkook afastou o celular da orelha e permaneceu sentado na cama por alguns instantes.

No rosto, seu semblante denotava extrema frieza. Os olhos escuros e vazios encaravam a janela aberta, sentindo o vento e a brisa gélida da noite colidir com sua pele. A cabeça a mil, Jungkook colocou as mãos nos cabelos, abrindo um sorriso sarcástico.

A coincidência de todas as situações. A noite em LA, a emboscada e a chantagem. A determinação do velho juiz em destruir alguém e de querer lhe usar para atingi-lo.

Porque Sangwoo sabia que tiveram uma noite.

Assim como sabia que o homem que mais queria matar no mundo, estava relacionado a ele.

A Taehyung.

Jungkook se levantou da cama e foi até a mala no chão e nela, escolheu outras roupas, se vestindo apressado. Mexeu na mala outra vez e pegou tudo o que iria precisar. Por precaução, iria levar a arma também. Caso caísse numa cilada ou caso quisesse matar Choi Sangwoo e desse sorte de ter uma oportunidade imperdível. Com um propósito, não usaria seus tênis naquela noite e por isso, partiu para calçar o par de botas Caterpillar. Amarrou os cadarços e cuidadosamente ergueu um pouco da barra da calça, e por cima da meia de cano alto preta, encaixou o Gerber Ghoststrike, um envoltório de tornozelo que já vinha com uma faca fixa. E vestido desse jeito, Jungkook se sentia de volta aos velhos tempos. Aos trabalhos de justiça, às operações arriscadas.

Ajustou-se, voltando a abaixar a barra e acertando o cano da bota. Olhou para a porta do quarto e rapidamente guardou os canivetes dobráveis em pontos estratégicos. Ergueu a camisa a uma altura considerável e ao levantar o colchão, pegou a Glock escondida.

Empunhando-a, Jungkook checou a trava antes de guardá-la na cintura. E só assim, saiu do quarto. Determinado a acabar com tudo.

⸸•💀•⸸

Com o desentendimento que tiveram, um climão pairava no ar, trazendo um silêncio mortal que fez Jungkook refletir suas escolhas.

Encarando o cenário urbano através dos vidros fumês do carro, assistindo as luzes que passavam como borrões aos seus olhos. Estava com raiva, podia perder a cabeça a qualquer momento.

Ter de se envolver com a alta sociedade já era algo que não era tão a fim de fazer, porque os repugnava mais que tudo. Ricos e milionários. Cegos por dinheiro e poder, sempre querendo mais, gananciosos e ambiciosos. Apesar de não ser a melhor pessoa para falar sobre ficar cego por dinheiro, ao menos admitia que foi longe demais. Mas Jungkook aprendeu a lição, aprendeu com as novas cicatrizes. Com as marcas que perfuraram-o até a alma, sem se esquecer das vezes que temeu perder a sanidade dentro daquele lugar. Onde perdeu toda sua dignidade.

Não seguiu em frente e também não superou. O pesadelo que teve duas noites atrás era a prova viva.

Voltar a dormir sozinho foi complicado e não se distrair era um problema sério. E durante aqueles dias, aconteceu. Várias vezes.

Jungkook fingia que não, dizendo para si mesmo que estava tudo bem e que tinha tudo sob controle, mas ainda estava suscetível ao trauma. Sem Taehyung, passou duas semanas inteiras sendo caçado pelos malditos demônios que habitavam dentro de sua cabeça.

Por que?

Por que fez tudo o que fez?

Para no fim, só se foder e não ter paz nenhuma. O que estava esperando? Não era imune ao karma. Mesmo punindo aqueles que mereciam, a arte de fazer justiça com as próprias mãos vinha com um preço. E a conta chegou. Jungkook estava pagando caro. Nem si mesmo entendia por que esteve fazendo aquilo por tanto tempo. Lucrando sem parar, punindo para salvar, castigando para se satisfazer. Suas reflexões eram sempre deploráveis.

O que seu pai pensaria se o visse vivendo daquele jeito?

Ele ainda teria orgulho de si?

Seu pai teria orgulho do homem que Jungkook se tornou?

Provavelmente não.

Quando esteve vivendo tão deploravelmente. Tentando ficar bem, tentando se libertar e não ficar preso no ontem. Onde a dor era tudo o que conhecia. Encontrar uma razão para continuar vivo, acabando por viver de escolhas egoístas e erradas. Viver de adrenalina e confusão. Cansado e com medo. Por causa do dano que recebeu.

O carro teve a velocidade diminuída, sendo freado em mais um semáforo. O trânsito no centro de Seul era insuportável. Jungkook sentiu falta de qualquer coisa menos disso.

Caralho, quanto tempo levaria para chegar?

Estava se sentindo impaciente. Cada vez que olhava para o lado, sentia uma inquietação insana consumindo-lhe. Queria dirigir.

Olhou para as lojas que haviam na avenida, a perna direita balançando freneticamente de pura ansiedade, e olhou pelo retrovisor, tentando se distrair, buscando algo interessante. E como se tivesse pressentido que encontraria esse algo ali, foi o que aconteceu.

A perna parou de balançar, e os dedos também interromperam o leve batuque sob o apoio da porta. Desencostou um pouco do banco, estreitando os olhos, com dúvidas se não estava enganado. Mas não podia estar.

Jungkook nunca errava. Conhecia todos os carros do mundo, sabia todas as marcas e modelos de cor, e era ainda mais infalível em reconhecer um GTR de longe.

Olhou para o semáforo e em seguida, para o cruzamento da avenida. Incontáveis carros atravessando, o sinal ainda vermelho. Em um flash de segundos, tirou o cinto de segurança e desceu do carro, partindo para dar a volta no DBS Superleggera.

Dentro do carro, Yoongi também tirou o cinto, puxando o freio de mão e antes mesmo que pudesse fazer algo, sua porta foi aberta.

— Mas que porra..

— Sai — Jungkook mandou, sem se importar com a reação dele. — Eu dirijo.

— O que?

— Desce, caralho!

— Você é louco?! — Yoongi exclamou e saiu do carro, constrangido com a comoção. Podia sentir o olhar de outras pessoas sobre si.

Jungkook olhou para ele com um olhar frio no rosto, sucedendo em expulsá-lo. Louco era apelido.

— Olha o jeito que fala comigo — ameaçou antes de entrar no carro.

Enfurecido, Yoongi viu o semáforo abrir e os carros voltaram a acelerar, obrigando que se apressasse em dar a volta no carro e trocar de lugar, senão também podia ser deixado para trás.

— Bota o cinto — Jungkook mandou, ajustando o banco numa posição ideal, também mexendo no retrovisor central. E puxou o freio de mão para soltar o carro.

— O carro é meu! — protestou, tardiamente, vendo o carro da frente se movendo, mas nada de ele acelerar e fazer o mesmo. — E o que você pensa que está fazendo?!

— Relaxa aí, mermão. — Jungkook soltou um pouco o Aston Martin, e pelo retrovisor direito, viu os carros da faixa ao lado andando, e a belezinha se aproximou.

— Qual é o seu problema?!

— Caralho, cara, muda o disco. Você só sabe perguntar isso? — indagou indignado, escutando as buzinas dos carros atrás, alguns manobrando para ultrapassar sem parar de buzinar. Jungkook não deu a mínima.

— O que você vai fazer?! — Yoongi exclamou aflito.

Jungkook abriu um sorriso de canto, olhando para o lado para ver o Nissan branco parando ao seu lado assim que o semáforo voltou a ficar vermelho. O timing perfeito.

Confuso, o Min olhou para o lado também. Mas que merda?!

O sorriso no rosto, Jungkook firmou as mãos no volante, e encarando a luz vermelha do semáforo, não hesitando em dar duas aceleradinhas, chamando-o para um racha.

E bastou fazer isso, para o Nissan também se pôr a acelerar junto, em um sinal de desafio aceito.

Foda-se, podia esperar tudo para aquela noite menos trombar com a porra de um Nismo.

⸸•💀•⸸

As luzes de Seul brilhavam intensamente quando a noite caiu sobre a metrópole. A avenida movimentada no centro estava repleta de carros, onde dois veículos específicos se destacavam na escuridão, prontos para um confronto.

O Aston Martin DBS Superleggera preto, imponente, estava estacionado no semáforo com o motor V12 ronronando impaciente. Ao lado, o Nissan GTR Nismo branco, visualmente agressivo, aguardava, pronto para a disputa.

Jungkook estava atento ao semáforo, em alerta aos retrovisores, os pés a postos nos pedais, intercalando entre acelerar com ainda mais fúria, olhando pela janela do passageiro sem se importar com mais nada. Muito menos com Yoongi. Se ao menos os vidros não fossem escuros, poderia ver o motorista. Mas foda-se, a graça era essa. Competir com um estranho, colocando em jogo seus carros e suas habilidades no volante.

O ronco do motor V12 do Aston Martin já era pura melodia, mas em meio ao do R35, criava uma sincronia musical para seus ouvidos.

— Você não está pensando em.. — Yoongi calou a boca para agarrar com força na alça de segurança do teto.

O semáforo mudou para verde e os motores rugiram quando os dois carros saíram em disparada pela avenida, acelerando furiosamente entre os outros veículos. Os motores trovejavam e o som da velocidade cortava o ar noturno.

A força do hábito era maior que si mesmo. Ver luzes verdes como o sinal de partida. E a partir desse instante, não ouvir mais nada além da aceleração, sentir o torque do motor, determinado a deixar tudo o que viesse pela frente, para trás. Quanta falta sentiu disso, porra. Soltar o freio e pisar fundo no acelerador. Sentir o incomum prazer de acelerar um V12. Apesar de gostar de sentir a vibração do carro, acostumado aos V6, era bom. Pisar fundo em um carro de luxo pesado, que tinha suavidade e equilíbrio, com um torque potente, forte desde a baixa rotação.

A corrida seguiu pelas ruas iluminadas, os dois carros ziguezagueando entre os outros. Adrenalina pulsava nas veias dos motoristas, conforme o Aston Martin e o Nissan GTR se alternavam na liderança, ultrapassando um ao outro em uma dança perigosa.

A avenida se estendia pela frente, revelando uma reta desafiadora. Os pneus dos carros chiavam, lutando pela aderência. Em meio às ultrapassagens arriscadas, o Aston Martin ganhou vantagem, mas o Nissan GTR, com sua tração nas quatro rodas, não estava disposto a ceder.

A competição estava acirrada, rendendo mais do que somente adrenalina, mas também certo prazer.

Enquanto os carros aceleravam sem parar, o tráfego começou a se intensificar. No horário de pico em que todos saíam do trabalho, luzes de freio piscavam à frente, carros mais lentos bloqueando parcialmente a estrada. O desafio agora era evitar uma possível colisão.

E Jungkook, dirigindo o Aston Martin, conseguiu se esgueirar habilmente entre os carros, com o Nissan GTR um pouco mais atrás. A distância entre eles diminuía rapidamente e a tensão atingiu seu ápice quando um táxi fez uma inesperada mudança de faixa.

O motorista do Nissan GTR reagiu rapidamente, desviando agilmente do veículo, quase se jogando sobre si, mas os reflexos de Jungkook eram impecáveis e ambos os carros escaparam da colisão por um triz. A proximidade do perigo não diminuiu a velocidade, e a disputa continuou. Os carros disparados pela avenida, a rivalidade entre os motoristas adicionava uma camada de tensão à cena eletrizante. Jungkook ansiava que seu olhar se encontrasse com o do outro condutor.

Faíscas de desafio refletiam em seus olhos determinados. Estavam determinados a provar quem era o melhor.

Jungkook, com um olhar de confiança, acelerou, deslizando elegantemente à frente do Nissan. Porém, o adversário, não disposto a se deixar ser superado, respondeu com uma aceleração furiosa, retomando a liderança. O desafio seguiu pela longa avenida, agora com gestos provocativos sendo trocados entre os carros. Acelerou o Aston Martin para ultrapassar, tendo o Nissan GTR respondendo com um aumento repentino de velocidade. A rivalidade estava à flor da pele, cada motorista buscando dominar o outro, não apenas na corrida, mas também no jogo psicológico que pairava dentro de suas mentes.

A proximidade dos carros aumentava a tensão em meio ao trânsito. Cada ultrapassagem era uma provocação silenciosa. A avenida havia virado um campo de batalha, onde destreza no volante, coragem e loucura se misturavam. A velocidade com que dirigiam, um duelo de habilidade e bravura. Jungkook esteve desafiando o outro motorista, ultrapassando e diminuindo para esperá-lo, repentinamente mudando de faixa, colocando o Aston Martin para ziguezaguear na frente dele, deixando para trás o rastro do rugido de seus motores em meio ao coral de buzinas.

Os carros desapareciam na escuridão da noite, a batalha persistindo até a última reta da avenida, sendo quando o Aston Martin atravessou o último cruzamento primeiro.

O motor V12, que havia rugido com toda fúria, diminuiu gradualmente à medida que Jungkook começou a reduzir a velocidade, satisfeito com a vitória.

Os faróis dos carros iluminaram o asfalto enquanto se aproximaram do fim da avenida e em um momento quase coreografado, os dois veículos diminuíram a velocidade ao mesmo tempo, indicando o fim da competição. Jungkook pretendia aproveitar a luz vermelha do semáforo para cumprimentar o outro motorista, se ao menos tivesse dado tempo de abaixar o vidro.

O Nissan GTR virou à direita no semáforo vermelho, arrancando mais uma série de buzinas e pneus gritando com uma súbita freada. Ele acelerou para longe, deixando para trás o eco do motor que se dissipou em um flash de segundos.

Jungkook coçou a pontinha da sobrancelha, passando a língua pelo piercing, desapontado.

E só assim, foi se lembrar da existência do gatinho. Ele estava com uma cara de apavorado.

— É pra 'vira esquerda aqui agora? — se certificou do trajeto que era mostrado no painel.

— Eu não acredito! — Yoongi exclamou. — É isso que você me pergunta?! Você é louco!

— Eu sou louco? Por que?

— Você tem noção do que acabou de fazer?

— Tirei uma rachinha com um Nismo, pô.

— Caralho, não é possível.

— Calma, cara, respira. — aconselhou com um sorrisinho divertido. — Deixa eu abrir o vidro aqui pra você respirar um ar.. mas que isso, hein, 'cê viu? O pai manda muito, eu ganhei do GTR, porra, essa belezinha é um monstro! — elogiou o carro com as mãos acariciando o volante.

— Você é maluco, completamente maluco! — Yoongi continuou indignado e Jungkook só girou o volante para esquerda assim que o semáforo abriu.

A avenida central de Seul, que havia sido palco de uma intensa disputa, voltou ao seu ritmo normal, com o tráfego noturno fluindo novamente. Os curiosos que testemunharam o racha compartilhavam entre si murmúrios sobre o que acabaram de presenciar, alguns tardiamente conseguindo contato para acionar as autoridades.

Os carros se afastaram, cada um seguindo seu próprio caminho e no restante do trajeto, tanto Jungkook, quanto o outro motorista refletiram sobre a adrenalina compartilhada.

⸸•💀•⸸

Taehyung não acreditava que à mesma velocidade que esperou que a discussão que tiveram faria Jungkook ceder e esquecer aquela merda, ele continuou teimando.

Sem explicar o porquê, pedindo por mais um dia. Mais aquela noite. Mesmo que quisesse ter o feito falar, ele precisou desligar, insistindo até o fim que ligaria de novo. Ainda naquela noite, Jungkook disse que ligaria.

Mas não o fez.

Não ainda.

A caminho do bar, foi perceber que ele estava estranho. Na ligação, Jungkook estava se culpando muito e a forma como disse que ligaria depois, deixando óbvio que estava indo fazer algo. E porra, ele não respondeu mais e também não atendeu às suas ligações.

Da mesma forma como morria de preocupação em momentos assim, Taehyung ficava de mau humor. Irritado por não ter o que fazer e porra, por não ter nem como achar ele.

Sentado na poltrona de couro com uma carranca no rosto, o homem levou a mão a desabotoar um botão da camisa social, as mangas já dobradas até a altura dos cotovelos. Taehyung estava fulo da vida. Sentindo-se impaciente, estendeu o antebraço tatuado e usou do pegador de gelo para colocar mais dois cubos no copo, se servindo de mais uma dose de uísque. Bebendo o álcool, ergueu o olhar frio para mirar ao redor.

Os três homens reunidos na mesa de sinuca, e aqueles dois disputando como sempre. No bar, os dois operadores de extrema confiança, a garota fazendo as mixagens com a ajuda do rapaz, usufruindo da diversidade de bebidas nas prateleiras que iam até o teto, conversando com Sohee e Bogum, além dos outros sentados na mesa, falando alto e rindo.

Yeonjun, Silva, Mingi e Yunho estavam se dando bem.

Aquele hidden bar era um verdadeiro tesouro escondido nos subúrbios da cidade. Um lugar que encantava os frequentadores com a atmosfera vintage e a decoração retrô com móveis antigos, uma iluminação agradável e os detalhes cuidadosamente selecionados. O ambiente elegante contava com um suave jazz permeando os arredores, uma trilha sonora perfeita com músicas clássicas e até pérolas menos conhecidas, tudo proporcionando um toque único ao local.

O Slow Dancing era mais do que um bar; era o refúgio de Zdanov.

Usando somente o paletó preto do terno sofisticado, com o pescoço e pulsos adornados por joias Tiffany cintilantes, Jimin acabava de fazer mais uma tacada.

Também de terno, com exceção de que usava o paletó preto desabotoado por cima da camisa social branca, com os primeiros botões abertos para revelar o peitoral tatuado, Hoseok sorriu desacreditado.

E o terceiro, em completo silêncio, vestia-se como um verdadeiro playboy. A jaqueta de couro concedia uma aura de rebeldia e a calça rasgada dava um vislumbre das tatuagens nas coxas. Com pulseiras de couro adornando seus pulsos, Jinhyeong estava debruçado sobre o taco de bilhar com um sorriso divertido no rosto.

Taehyung olhou para ele e foi olhado de volta. Ele sorriu ainda mais, à espera de sua vez.

— Olha e aprende — com o taco de bilhar em uma das mãos e a outra no bolso da calça, tendo acabado de contemplar a bola azul caindo no buraco, Park Jimin se exibiu, voltando a se posicionar — É assim que se joga.

Taehyung sorriu e virou toda a dose de uísque goela abaixo, o álcool forte e amargo desceu queimando sua garganta, conforme se levantou. Deveria se divertir também.

Em silêncio, se aproximou de Jey, pegando o taco dele emprestado e se colocou ao lado do Jung, percebendo o outro do outro lado da mesa, atento à mira, dispersando o olhar afiado da bola, errando a tacada por tão pouco.

— Chefinho, mostra pro Jimin como se joga de verdade. — Hoseok deu espaço ao homem.

Jimin sorriu e balançou a cabeça em negação, trocando um olhar com Jey. Acabou o barato, não tinha como competir contra Taehyung, em qualquer tipo de disputa que fosse.

No bilhar, nos rachas. Só uma pessoa no mundo era capaz de desbancar ele.

E de ver a expressão determinada e o olhar focado, pôde ver que já era. Não teria mais nem chances de competir.

Os antebraços arqueados com as tatuagens à mostra, o torso também curvado cautelosamente mirando o taco na bola branca um pouco ao canto direito da mesa.

— É agora que ele te maceta — Hoseok sorriu entusiasmado — Olha e aprende, lindinho.

Taehyung impulsionou o taco, acertando a bola branca, que acertou justamente a que tentou acertar e diferente de si que errou, ele a encaçapou direto para o buraco, numa velocidade inusitada. Um sorriso convencido nos lábios, o homem reergueu-se, dando a volta na mesa para continuar.

Sem chances. Só restou a Jimin e Hoseok apoiarem os pulsos na ponta de seus respectivos tacos, enquanto Jinhyeong cruzou os braços, também observando o homem que praticamente começou a jogar sozinho.

Ele não errava, portanto, não passava a vez. Taehyung era bom em bilhar.

— Viu só? — ele abriu os braços, ainda segurando o taco com a direita, tendo acabado de mandar a última bola para o buraco, terminando o jogo em minutos.

— É, dá pra ver, não tem como competir com você na sinuca.

— E nem no pôquer. — Jey acrescentou com um sorriso.

Taehyung sorriu todo exibido, entregando seu taco de volta ao homem ali, e de soslaio, olhou para Hoseok, que fez o comentário:

— Caramba, não importa quantas vezes eu assista ele jogar, sempre vou ficar surpreso!

— Pois é. — Jimin concordou. Taehyung era surreal de bom — Mas sabe de uma coisa, Tae — percebeu-o lhe olhando em intriga. — Eu conheço alguém muito melhor.

— Melhor do que ele? — Hoseok assumiu uma expressão assustada.

— Melhor do que eu? — Taehyung ergueu uma sobrancelha, também duvidando.

— Muito melhor. Sabe quem?

Taehyung conhecia bem aquele olhar de Jimin. Não podia ser. Ele estava blefando porque não gostava de perder.

— Não. — negou e o olhar do Park deu a entender que não só podia ser, como era — Não, eu não acredito.

— É, ele mesmo. O menino prodígio, o garoto de ouro.

— Prodigio? De ouro? Quem é de ouro?

Jinhyeong arqueou as sobrancelhas, também curioso. Taehyung encostou-se na mesa com um semblante intrigado no rosto, além de estar contendo um sorriso.

— Já sei, é o tal do Jungkook de novo — Hoseok constatou — Nossa, eu quero muito conhecer esse cara! Vocês só falam dele, eu preciso conhecer ele, porque olha, o cara deve ser uma lenda pro chefinho tá amarradão nele..

Ao ouvir isso, o Kim olhou para o Jung com uma expressão desagradável.

— Hobi, vai buscar uma dose de tequila para nós — Jimin pediu e Hoseok bufou, deixando os tacos de bilhar de lado, também se prontificando a levar Jey consigo.

— Esse Jungkook é um tema sério pro chefe. — Hoseok explicou ao homem confuso.

— Ele é..

— Ah, você não foi na última corrida, né? — Jey assentiu em um meneio. — Eu também não cheguei a tempo pra conhecer ele, mas vem cá. — Hoseok puxou-o para mais perto — Esse cara, Jungkook, é o garoto dele.

Assim que foram deixados a sós, Taehyung olhou para trás para ver Hoseok e Jinhyeong se reunindo a Bogum, Sohee, Do Geon e Bada Lee no bar. Jimin se aproximou de si, recostando na mesa.

— Então ele também é bom em sinuca.

— Não só bom, eu acabei de falar que ele é melhor que você! Jungkook é melhor que nós dois juntos.

— Não existe algo em que ele não seja bom, não é? — Taehyung constatou com um sorriso.

— Eu estou vendo isso, sr Zdanov. — Jimin comentou com um sorrisinho apreciativo. Taehyung o olhou e pigarreou para disfarçar.

— Que seja.

— Agora fala sério. Por que você não ajuda ele, Tae?

— O que?

— Ele me disse que está resolvendo um problema. Jungkookie se meteu em confusão, por isso que ele não tá aqui com a gente agora. Você deveria ajudar ele.

Claro, Jungkook contou que estava resolvendo um problema e que esse era o motivo de ele não poder estar presente, mas o mais importante não foi contado.

— Eu também acho que eu deveria ajudar ele — concordou. — Eu queria estar ajudando ele, porra, mas quem disse que ele deixou?!

— Espera, ele não deixou você ajudar?

Então estava explicado.

— Não, porra, Jimin, Jungkook é teimoso pra caralho.

— Só teimoso? Ele também é orgulhoso e.. — Jimin sorriu sem jeito — Superprotetor. Para ter recusado sua ajuda, eu acho que já imagino o tipo de coisa que ele tá pensando.

— O que? — Taehyung precisava de uma luz, de alguém que conhecia Jungkook há mais tempo do que si.

— Ele não quer te meter em encrenca. Mas você ainda não mostrou pra ele? Que você já é a encrenca em pessoa?

— Vai se ferrar — xingou, mas o sorriso descontraído reagiu à brincadeira. — Não enche.

— Tô falando sério! — Jimin protestou risonho.

— De verdade, o que o Jungkook está pensando?

— Ele perdeu as duas pessoas que mais amava e se distanciou de todo mundo. E apesar de o Seojun tá bem, ainda assim deve ser difícil pra ele. O Jungkook sofreu muito e ele pode ter mudado, mas eu sei que ele ainda tem medo.

— Medo? Do que, Jimin? Caralho, não faz sentido. Isso não explica nada, ele não precisa lidar com tudo sozinho o tempo todo.

— Não é fácil nos culparmos pela morte de alguém que amamos, você sabe disso, Tae.

Taehyung apertou a beirada da mesa. Se tivesse chegado um pouco mais cedo naquele dia. Ou se tivesse concordado em vê-la na Devil, Jiyeon não teria morrido. Sua mãe não teria sido assassinada dentro da própria casa. Também se culpava pela morte dela.

— Depois de uma experiência como essa, é inevitável que passemos a ser mais superprotetores com quem amamos.. — Jimin olhou para a mesa onde Yeonjun estava sentado de braços cruzados, emburrado segurando um sorriso ao ser provocado pelo homem, o único não asiático presente — E passamos a amar. É inevitável também na maior parte do tempo a gente querer não só proteger essa pessoa, mas se sacrificar por ela. Porque assim, da próxima vez será nós mesmos e não aquele que mais amamos.

Em silêncio, Taehyung percebeu a maneira como Jimin estava olhando para o irmão, depois de quase ter infartado ao saber que já há um tempo Yeonjun estava prestando alguns serviços para si.

— Ele está seguro. O Yeonjun sempre vai estar seguro, Jimin. — deu sua palavra.

— Eu sei. Ele está seguro e vai continuar porque está aqui e tem a nossa proteção.

Merda. Pensando bem, era verdade. Se Jungkook estivesse por perto, independente do que fosse, assim como Yeonjun, ele teria a proteção da Sergeyev. E além disso, Taehyung poderia protegê-lo.

Então, por que refutou e também foi teimoso? Deveria ter aceitado, porra, devia ter proposto a ele. Envolvê-lo na Sergeyev era menos arriscado do que deixá-lo sozinho, resolvendo uma parada de merda que nem ele ainda sabia onde estava se metendo. Caralho.

— Isso foi uma indireta?

— Ouvi dizer também que parece que você queria ter feito uma oferta de emprego pra ele há alguns anos..

— Jimin, o quanto o mecânico te contou?

"Mecânico". Jimin sorriu. Pelo menos sobre o começo do romance algumas mensagens renderam. Um reencontro em Los Angeles, uma noite chuvosa, um Cadillac quebrado e uma garagem. Até mesmo na cabeça de Jimin o cenário era perfeito.

— Não, quem me dera — riu. — O Jungkook é bem fechado, só que existem limitações. Às vezes ele se abre, mas é muito difícil.

— Então como você sabe da oferta?

— Eu liguei umas pontas soltas. Se eu soubesse que você estava de olho no atirador do esquadrão Zero, teria te arranjado com ele. — Jimin sorriu ladino. — Mas não teria dado tempo, ele foi embora naquele dia mesmo..

Jungkook sumiu porque como havia contado, além do desastre que foi a operação Viper, ele se meteu em outra encrenca, e também quase foi preso. Apesar de não ter contado muito sobre. Do que ele foi acusado?

— Jimin, você conhece bem o capitão Yoon?

— O Seojun? — Taehyung assentiu em um meneio. — Eu conheço bem todos eles. Aquele pilantra ali — Jimin apontou com o olhar para Mingyu — O Seojun e o Minjae.

— Você conhece esse cara também, Minjae..

— Jungkook te contou sobre ele?

— Sim.

— Então você sabe.. O pior é como a amizade deles acabou, eu fico mal com isso, Tae.

— Por que? Se foi ele quem escolheu ser um traidor.

— É, eu sei, mas não tô falando disso, eu nem me arrisco a entender o que aconteceu aquele dia. As missões das Forças Especiais não dá nem pra imaginar. Mas o Jungkook e o Minjae..

— O Jungkook e o Minjae? Não o Jungkook e o capitão Yoon?

— É, Jungkook e o Minjae. Você conhece a peça, o Jungkook se faz de durão, mas ele gostava muito do Minjae. Eles se davam bem apesar das diferenças.

— Ele não me falou isso.

— Eu imagino que não mesmo. Ele te contou como terminou? — Taehyung assentiu em mais um meneio. — É, acho que dá pra entender ele não ter falado. As memórias boas do tempo que eles passaram juntos e da amizade que eles tinham, virou nada porque o ódio tomou conta.

Taehyung sentiu uma angústia atingindo-lhe. Era a mesma coisa. Como se sentia sobre Namjoon. Às vezes pensava na amizade que tinham, divagava na época do ensino médio, e até mesmo sentia falta dele, mas o ódio era maior. Jamais o perdoaria.

— Nenhum dos dois vai dizer isso em voz alta, mas eles eram amigos muito próximos, Tae.

— Eu não fazia ideia. — confessou. — O jeito que o Jungkook me falou dele deixou a entender que eles nunca se deram bem.

— Isso é manha dele. — Jimin soprou um riso. — Pra você ter uma ideia, também tem uma amiga nossa, da época do colégio, a Chaeryung, ela adora os dois. Nas folgas deles, nós viajamos juntos várias vezes porque ela e o Jungkook inventaram de querer aprender a surfar.

— O Jungkook também sabe surfar?

— Sim. — Jimin sorriu orgulhoso — Acho que já dá pra confirmar que não existe nada mesmo que ele não saiba fazer.

— Porra..

Não importava quantas vezes Taehyung descobrisse o quão Jungkook era incrível, ainda ficaria surpreso em todas elas.

— A Chaeryung e o Jungkook sempre foram atentados. Na escola todo mundo tinha medo deles, além de achar que eles eram irmãos.

— Mas ela não é a irmã dele?

— Não, a irmã dele é a Soomin, mas se for ver a Chaeryung é mais parecida com ele — Jimin riu. — Pra mim ela é uma versão feminina do Jungkook. A Chaeryung era judoca e eles aprontaram muito na escola. Uma vez bateram em um grupo de babacas que estava fazendo bullying com um colega de classe deles.

— Pelo jeito ela também não é uma mulher comum.

— Não mesmo. Quando eles se juntavam era o auge da loucura, e o Minjae vivia no meio. Na época eu, o Mingyu e o Seojun nos sentimos como pais cuidando desses três malucos na praia. Você precisava ver, era um tentando matar o outro afogado!

— É sério?

— Três crianças adultas e alopradas. — Jimin soprou um riso.

— Hum.. — Taehyung ainda estava processando o fato de que Minjae era próximo de Jungkook. — Além de surfe, que outro tipo de loucura eles faziam juntos?

— Já pularam de parapente — Jimin ergueu o indicador para começar a listar. — Tiraram racha sendo perseguidos por uma viatura em Gangwon..

— Racha em Gangwon? Os três?

— É. O Minjae tinha um Toyota Chaser e a Chaeryung um Nissan 350z que o Jungkook modificou até o cabo porque ela queria dirigir um carro tunado igual o dele.

— Igual o dele? Que carro ele tinha?

— Um MK3.

— Supra?!

— É, um Supra MK3, ele não te contou?

— Não!

— Você ainda tem muito o que aprender sobre ele, Tae. — Jimin desdenhou. — Esse Supra foi deixado na oficina do pai dele, parece que era de um magnata japonês que colecionava carros.

— Como o mecânico tinha um Supra e não me contou?

— Boa pergunta, e ainda é do modelo que antecede o seu. Por falar nisso você já foi na oficina? — Taehyung concordou com a cabeça, sem palavras. — E não estava lá?

— Não.

— Estranho. — Jimin franziu o cenho. — Mas eles já fizeram cliff jumping, viajaram de bicicleta, competiram de motocross e de jet ski..

— Puta merda.

— Eles são muito radicais. O Jungkook ligado nos 220 liderava, a Chaeryung pra ajudar ainda ficava dando ideia maluca pra ele e o Minjae sempre gostou de ver o circo pegar fogo, então você imagina, era o caos, literalmente.

— Eram piores que aqueles dois juntos? — Taehyung apontou o olhar para o irmão de Jimin, agarrado em Silva enquanto Mingi e Yunho riam.

— Nossa senhora, mil vezes pior! Esses dois ainda são comportados — O Park soprou um riso. Pelo que ouviu, apesar dos "perigos", seu irmão ganhou um bom amigo — Mas é bom ter alguém assim, Tae.

— Só não é bom quando esse alguém se vira contra nós.

— É, mas viver pra sempre com remorso de alguém também não faz bem, eu tô dizendo isso por experiência própria. — Jimin sorriu amargurado. — Eu espero que um dia, ao invés de tentarem se matar, o Jungkook e o Minjae conversem.

Taehyung não sabia o que dizer, não foi um espectador dessa história e nem dessas amizades, apesar de entender Jungkook mais do que tudo. Também atiraria em Namjoon sem pensar duas vezes. O azar foi não ter tido a oportunidade.

— O que você acha, Jimin?

— O que eu acho?

— Do que aconteceu entre eles e de como terminou.

— Como eu disse, não dá pra imaginar. Mas é um pouco estranho, sabe? Eles confiavam um no outro mais do que tudo, e eles eram muito próximos, eu não vou arriscar a dizer nada, quem sabe mais é o Mingyu, ele estava lá..

— O que Kim Mingyu acha? — Taehyung ponderou, olhando para o homem distraído no bar.

— Mingyu acha que foi um mal-entendido.

— O que?

— Não é que o Jungkook viu coisas, nem viu errado, mas talvez interpretar..ele pode ter interpretado errado.

— Como?

— O Minjae estava estranho naquele dia, mas não no sentido que o Jungkook achou, de ter sido ele quem armou tudo. Mingyu disse que o Minjae parecia assustado.

— Então quer dizer que.. — Jimin assentiu em um meneio.

— O Jungkook é impulsivo, Tae, muitas vezes ele não pensa direito.

— Caralho, mas esse idiota não tinha ciúmes dele com o capitão Yoon?

— Jungkook te disse isso?

— Disse.

— Ele sabe muito bem que isso não é verdade.

— Como assim não é verdade?

— O Minjae não tinha ciúmes do Seojun. — Taehyung franziu o cenho sem entender nada — Na verdade ele tinha ciúmes do Jungkook.

— Como é, caralho? — exclamou.

— É o que eu percebia.

— Porra, mas como assim?! E como o Jungkook sabe que não é verdade? Por que ele me disse que o cara tinha ciúmes dele com o porra do capitão Yoon?!

Jimin sorriu com a exaltação do homem.

— Deve ser porque ele criou outra versão da história na cabeça dele, exatamente por não querer enxergar isso. Sabe quando a gente percebe uma coisa, mas no fim acaba sendo uma coisa que a gente queria não ter percebido? E agora o Jungkook repugna o Minjae, então..

— Mas porra, não é possível. O Jungkook tem o dom de fazer as pessoas se apaixonarem por ele?!

— Ele tem e é um dom tão forte que nem você se safou, sr Zdanov. — Jimin brincou com um sorrisinho.

— Caralho.. — Taehyung passou a mão pelos cabelos. Não dava pra negar, sabia muito bem a razão de Jungkook ter esse "dom". Ele por completo, com aquele jeito dele, era o que o tornava tão apaixonante. — Quer dizer então que os dois gostam dele?

— O Seojun sim, mas o Minjae é só um palpite meu. Bom, do Mingyu também.

— O Mingyu não gosta do Jungkook também não, né? — Taehyung estava ficando maluco.

— Que eu saiba não, mas..

— Mas?! Mas o que, caralho?

— Uma vez eles deram um selinho.

A reação de Taehyung foi tão hilária que Jimin não aguentou e riu.

— Você tá brincando, né?! — Taehyung exclamou aflito, o vendo assentir em meio ao riso.

— É brincadeira. — Jimin confirmou com um sorriso. — Eles nunca deram selinho nenhum.

— Caralho.

— Pelo menos que eu saiba né..

— Será que dá pra parar?!

— Tá bom — rindo, Jimin ergueu as mãos em sinal de rendição.

— Porque puta merda, se você não sabe e eu não duvido de nada..

— Você não duvida?

— Silva também é melhor amigo do Jungkook, mas eles já se beijaram. — revelou, deixando Jimin chocado.

Apesar de Taehyung achar que para o brasileiro a coisa parece ter sido mais séria do que um beijo, pelo menos ele estava superando.

— Caramba, eu queria que o Jungkook estivesse aqui. — Jimin comentou.

Também queria. Assim como queria saber o que ele estava fazendo para não ter respondido ainda, o que lhe fez pegar o celular no bolso para checar. Porra, nada ainda.

Taehyung podia morrer de preocupação com Jungkook.

A alguns passos dali, na mesa do canto, a diversão era a maior de todas.

— Papo sério agora — David apontou a garrafa de cerveja para os dois à sua frente. — Se eu der cinquenta pau..

— Cinquenta o que? — Yunho exclamou.

— Pau..? — Mingi franziu o cenho.

— Vixi, as ideia dos cara. Cinquenta pau de dinheiro! — esclareceu. — Aí, se eu der cinquenta conto pra vocês, vocês dão um selinho?

— Em quem? — O Song arregalou os olhos.

— Não caiam na dele. — Yeonjun aconselhou. — Ele quer beijar todo mundo.

— Você quer beijar nós dois?! — Yunho ficou indignado.

— Ei, 'qualé? Vocês são lindões, mas eu não curto homem não.

— Ele também fala isso o tempo todo, mas beija homem. — Yeonjun desmentiu David de novo.

— Caramba, menor, fica quieto! — exclamou risonho, dando um tapa de leve na nuca do mais novo, aproveitando para envolver sua mão ali e apertar. — Fecha essa boquinha bonita e pega a visão. Eu tô tentando fazer a boa aqui, mermão — sussurrou para ele, sorrindo para disfarçar — E aí, topam?

— Eu não entendi. — O Jeong coçou a nuca com um sorriso sem jeito no rosto. — Quem tem que dar selinho?

— Vocês dois! É.. Min.. Gui.. e Yu.. Ah, que se foda, não consigo falar os nomes de vocês, foi mal meus parceiros. Pode ser Miguel e Yuri? — e os dois se entreolharam ainda mais confusos. — Vai, vocês entenderam! Vocês dois, um selinho, cinquenta conto.

Yunho olhou para o melhor amigo confuso.

— Pra quê?

— Pra fortalecer a amizade, é lógico.

— Pois é, ele sabe muito bem como fortalecer uma amizade — Yeonjun disse sarcástico — Ele beija os amigos dele só pra "fortalecer a amizade".

— E funciona? — Mingi ficou interessado.

— Porra se funciona — David apertou a nuca de Yeonjun, sendo olhado por aqueles lindos olhos felinos, sorrindo sacana ao escorregar a mão firme para o pescoço dele, inclinando-se para beijá-lo na boca.

O queixo de Yunho quase descolou e Mingi ficou tão chocado que teve de cobrir os lábios.

Yeonjun arregalou os olhos e nem teve tempo de se exaltar, já era tarde demais quando sentiu a boca do mais velho encostar na sua.

David ficou louco de vez?

Yeonjun ficou sem reação, simplesmente. Podia já ter pairado alguns climas estranhos entre eles, mas nunca chegaram a de fato deixar algo rolar. Em nenhum momento, mesmo com as coisas acelerando muito mais nos últimos dias, até porque desde que chegaram à Coreia, David pirou total. Ele estava indo à loucura.

Mas esse não era o foco do momento, porque David era contraditório. Ele dizia não gostar de homem, mas fazia essas coisas.

Pedia para dormir na mesma cama, pedia para saírem juntos o tempo todo e pedia para tomarem banho juntos.

Ele lhe olhava de um jeito que não condizia com a realidade de "não gostar de caras". E caralho, ele beijou Jungkook e gostou dele. Sabia que sim.

De cenho franzido, ainda sem saber como reagir, até porque, David apenas colou suas bocas. Ele fez isso sem nenhum plano, por impulso e com adrenalina correndo nas veias. Maluco. Yeonjun sorriu em diversão, sem se importar muito ao tomar sua decisão.

E em um flash de segundos, puxou o brasileiro pelo amontoado de correntes que ele carregava no pescoço, empurrando sua boca contra a dele para retribuir o beijo. David deixou de segurar em sua nuca e pescoço para agarrar seus ombros assim que passou lentamente sua língua, lambendo a boca dele.

Os olhos arregalados e a expressão surpresa, David olhou para o mais novo, sem acreditar.

— Menor! — exclamou com um sorriso nervoso surgindo em seus lábios — Qual foi? Que foi isso, mermão?

Olhando para ele, Yeonjun esfregou o cantinho da boca com a ponta da língua, sorrindo de canto, e com os dedos ainda envolvidos no amontoado de cordões, puxou-o com certa força, deixando a orelha dele à altura de seu rosto.

— Não tem problema, né? — sussurrou — Você não gosta de caras e é só pra fortalecer a amizade, David. Apesar de ter demorado um pouco pra você tomar a iniciativa de fortalecer a nossa. — Yeonjun findou com um leve sopro na orelha do brasileiro, que afastou-se levando a mão tatuada a protegê-la, mesmo já todo arrepiado.

David não entendeu nada. Mas pelo jeito o papo de fortalecer amizade com beijos, contribuiu para algo. Foda-se, que loucura do caralho. O coração acelerado dentro do peito, David ainda sentia a sensação da língua quente e molhada de Yeonjun em sua boca.

Puta merda, se não tivesse interrompido, ele teria literalmente lhe dado um beijão de língua?

— É isso aí, parças.. — recuperou as estribeiras, rindo sem jeito. — Como vocês puderam ver, funciona..

Yeonjun olhou para os dois, ainda extremamente surpresos. Yunho estava sem reação e Mingi, pensativo.

— Aí, rapaziada, vou aumentar o lance — David se entusiasmou com a ideia, tentando se acalmar. Logo na primeira noite que chegou ao país e conheceu aqueles dois, viu que rolava uma coisa entre eles — Aposto essa belezinha aqui.

Yeonjun se surpreendeu ao ver David tirando um dos cordões do pescoço, colocando junto do amontoado de notas na mesa.

— É pegar ou largar. — David lançou-os uma piscadinha, erguendo sugestivamente as sobrancelhas com piercings e risquinhos. — Essa é uma das 'minha mais pesada, hein, fica ligado.

— Vamos, Yu — Mingi aceitou espontaneamente, não só pelo que ganharia, mas pela oportunidade.

— Sério, Mingi?! Mas..

— Você não quer? — O olhar de Mingi foi impossível, como se fosse além da "aposta". Yunho ficou nervoso.

David sorriu e deu duas cotoveladas de leve em Yeonjun para chamar a atenção dele.

— A gente vai resolver isso em casa, menor.

— Resolver em casa?

— Eu gostei e quero fazer de novo — confessou, recebendo a atenção do mais novo, desacreditado.

David olhava para ele, sem disfarçar, deixando o olhar cair sob a parte inferior do rosto dele. Esteve pensando tanto nisso naqueles dias. Os lábios de Yeonjun eram tão bonitos que David não sabia como não teve coragem de beijar ele antes. Além de bonita, a boca de Yeonjun também era gostosa pra caralho. Macia. Os lábios dele eram tão macios, porra.

Porra, como pensou nisso, pra no fim, simplesmente meter o louco. Afinal de contas, nunca deveria ter pensado demais, não é mesmo?

— Menor, eu quero te beijar. — E também já sabia como queria que fosse. — Em casa, 'nóis assim sozinhos em casa.. — David passou o indicador pela nuca dele, o vendo claramente em um transe — Na sua cama curtindo bem gostoso.

Yeonjun olhou-o um tanto atordoado e David findou com um aperto firme em sua nuca, sorrindo sacana.

Yunho comprimiu os lábios e olhou para os outros na mesa, e como sempre, eles estavam flertando. Bem que percebeu que eles eram bem próximos. E em seguida virou para trás, olhando para os outros.

— Se me deixar contar pro sr Zdanov, eu topo. — propôs.

— Yunho, de novo? A gente já discutiu isso.

— Eu sei, a gente discute isso todo dia, Mingi.

Continuavam na mesma; contar ou não contar.

— Contar o que, família? — David quis saber. — Manda pro pai. Que vocês estão escondendo do chefão? Pode isso não, ele é loucão.

— Que bom que você sabe — Yeonjun resmungou, ainda com sensações loucas remoendo em seu interior.

— Tem uma coisa que o sr Zdanov deveria saber, mas eu não posso contar porque tem gente me impedindo!

— Ué, por que? É alguma coisa que ele vai ficar bolado se souber?

— Com certeza — Mingi respondeu pelo Jeong. — Também tem o fato de que não tenho certeza se deveríamos ter nos metido nisso. Existem coisas muito estranhas e..não sei se cabe a nós revelarmos a ele.

— Eita, que parada sinistra. — David alisou o maxilar, reflexivo. — Véi, 'cês 'quer um conselho?

— Sim — Yunho foi rápido em aceitar e Mingi colocou a mão na testa.

Agora tudo iria pelos ares. Hongjoong ainda não havia conseguido encontrar nada sobre Zakhar, mas seguia tentando. Ele estava montando um esquema sobre a possível identidade do subchefe, investigando alguns dos antigos membros da máfia. E sua teoria, Mingi guardou para si mesmo. Não tinha como Zakhar ser Jeong Seungheon porque Jeon Seungheon estava morto.

Seonghwa dizia para terem calma, Wooyoung e San não sabiam de nada ainda porque haviam ido para a Califórnia investigar a explosão do carregamento de metanfetamina, além de inspecionar os negócios por lá. Se tivessem contado a eles, com certeza, eles teriam um palpite. Wooyoung era inteligente e San sabia de muitas coisas.

E quanto à Jongho, ele continuava agindo estranho de vez em quando. Na verdade, toda vez que o assunto era mencionado, ele ficava estranho. Mas o amigo também estava ocupado demais ultimamente, então, mal tiveram tempo de conversar.

— Vai lá e conta pra ele agora — David aconselhou, apontando a garrafa na direção do homem todo vestido de preto escorado na mesa de sinuca, conversando com o outro homem bonito, irmão de Yeonjun e também amigo de JK. — Se não, sabe o que pode acontecer?

— Não. — Yunho negou, apreensivo. Sabia mais ou menos, mas Mingi dizia que ficaria tudo bem, pra confiar nele.

— Se ele descobrir por outra pessoa, foda-se quem seja, mano, mas saca só, e depois, mais tarde, se ele sonhar que vocês dois sabiam e não contaram pra ele, já pensou nisso?

— Muito, a gente vai tá ferrado!

— É, parceiros, dependendo da bomba que vocês 'tão guardando segredinho aí, pode pá, escreve o que eu tô falando, vai sobrar no rabo de vocês.

— Tá vendo, Mingi! Isso pode acontecer, e se acontecer, é melhor que a gente tenha feito a nossa parte.

— Que seja, Yunho, vamos contar então.

Deveria comentar com Yunho sobre achar que Zakhar podia ser Jeon Seungheon? Não, talvez não.

— Vai nessa, parceiros — David instruiu e ao seu lado, Yeonjun balançou a cabeça em negação, tendo uma opinião contraditória — Mas pera lá, não 'vamo perder o foco da parada ainda. — Para esclarecer, tocou o cordão cintilante e as notas de dinheiro, empurrando na direção dos dois, que enfim entraram em um acordo — Vai rolar ou não?

Yunho ergueu a mão com dois dedos erguidos para o alto e chamou a atenção da jovem no bar, que não demorou muito para trazer o que havia pedido. Ele entregou um dos pequenos copinhos ao Song, que o olhou em dúvidas, mas não demorou a pegar em mãos para acompanhar. E juntos, viraram de uma vez só a dose de tequila.

David bateu palma animado e Yeonjun o segurou antes que ele causasse alarde e chamasse atenção demais.

Yunho tomou a iniciativa de tocar na nuca do melhor amigo, aproximando seus rostos e antes de perder a coragem, beijou-o.

— Menor, porra, olha isso, tô arrepiado! — o brasileiro disse baixo, eufórico — Nunca vi dois caras se beijando na minha frente!

— Sossega, sem vergonha — Yeonjun o deu um tapa na nuca e, de brincadeira, levou as mãos a cobrir os olhos dele.

— Que sem vergonha o que, eles são meus 'parça! — David protestou, segurando em seus pulsos para não ter a visão atrapalhada, mas foi só fazer isso que Yeonjun se soltou para apertar a orelha dele, logo nos piercings que o brasileiro havia furado, além de mais dois furos na orelha, ele perfurou o helix — Ai, menor, tá dolorido, caralho!

Yeonjun deu de língua e David ameaçou de pegá-la com os dedos.

Aquela era a segunda vez que Mingi e Yunho se beijavam. Depois da primeira, um "incidente" ocasionado por um suposto impulso. Nada além disso. Para o Song, era uma chance entre milhões. Beijar Yunho era tudo o que mais queria. Sentir a boca dele na sua era como um sonho, dentre vários que teve após o selinho. Os dedos do Jeong apertaram sua pele, conforme Mingi o sentiu também tocando em seu maxilar, insinuando um breve aprofundar. Por deuses, era um teste? Jeong Yunho não era inocente, e talvez, daquela vez, nunca tenha sido somente por impulso. Mingi podia enlouquecer com essa ideia, mas não existia nada na sua cabeça naquele momento. Nada além de sentir, beijar Yunho e ser beijado por ele. Pôde senti-lo tão tentado quanto si em intensificar o beijo com gosto de tequila.

Mingi estava a um ponto de ceder, já tendo tocando no pescoço do melhor amigo, mas não deu tempo. Yunho quebrou o ósculo, afastando-se com uma expressão levemente constrangida no rosto.

Porra, como ele é lindo, Mingi pensou.

— Satisfeito? — ele sorriu para si, um tanto tímido e dentro do peito, o coração de Mingi palpitou como louco. Também alterado, desviou o olhar, ainda mais quando Yunho se dispôs a apanhar o ganho da aposta para dividir entre eles.

— Meu deus, filhotes, vocês são só uns bebês, que isso?! Peraí, 'cês tão vermelho?! É isso 'memo, puta merda!

— Eu não — Yunho negou, sorrindo sem jeito e entregando o cordão brilhante ao amigo.

— Tá vermelho, Miguel? — David ergueu uma sobrancelha, dirigindo-se ao Song, que sorriu tímido e balançou a cabeça negativamente, também se levantando — Olha que 'cê não me engana! Que isso, só tem tamanho esse cara, olha só pra ele, é um bebezão, meu!

Mingi sorriu lisonjeado e Yeonjun suspirou, porque David não sabia de nada. Aqueles dois eram membros da máfia, bebezões inofensivos estava longe de ser o que eles eram.

— Vamos fazer isso agora, Mingi, vamos contar a verdade ao sr Zdanov. — Yunho criou mais coragem, considerando outra dose de tequila. E já de pé, respirou fundo, inspirando e expirando, enquanto Mingi seguia atordoado demais. Só marcaria presença, porque não conseguia pensar em nada agora.

O brasileiro se levantou do assento e puxou Mingi para um abraço lateral.

— Mandou muito, Miguel, meu parceiro — David elogiou com um sorriso enorme no rosto, falando baixo para que apenas ele escutasse. — Se pá, eu te ensino uns 'truque, já namorei uma amiga uma vez, sei bem como é, mas tem que ser tudo na paz, sacou? Vai devagar, que uma hora 'cê chega lá, tá ligado?

— Sim. — Mingi assentiu baixinho com sua voz grave e rouca.

— E ó, na próxima, vai com mais pegada, pelo que percebi, se pá rola, e rola muito, mas você também tem que ser mais atacante, parça. Eu sei que é meio complicado, porque por dentro assim nessas 'hora dá uns 'pane, mas faz uma forcinha aí e manda a ver, falou?

— Ok. — Mingi entendeu tudo, aceitando o conselho. Da próxima seria sua vez de desconcertar Yunho.

Yunho virou-se e os dois seguiram para o outro lado da cobertura do bar, a fim de ir até o chefe.

— E se eles se ferrarem por contarem?

— Ah, qual foi, menor? — David sorriu satisfeito, bebericando a cerveja — Tudo na paz. O chefão não vai ser loucão de descontar neles, né? — indagou e a expressão do mais novo era apreensiva. — Eita preula, ele vai?

— Não sei, provavelmente vai depender dessa verdade que eles descobriram.

— Puts, esqueci de desejar boa sorte pra eles, cara — David estalou a língua no céu da boca. — Aí, será que se eu for ali pedir pra trocar a música, eles 'troca? Saiu uma pedrada nova do Wesley Gonzaga, menor, tô doido pra botar pra estourar na Saveiro.

— Não vai tocar esse tipo de música aqui. Você não tá ouvindo a música que tá tocando?

— Não? Que música é?

— Jazz.

— Ah, pode pá. — David assentiu com uma expressão confusa. — Nunca nem vi, mas suave, agora vem cá, menor, demora muito pro navio chegar da Califórnia? O Mikezão mandou já faz mó cota, o chefão aí arrumou um container pro Skyline do João também. É surpresa, não pode contar pra ele, caralho, ele vai ficar mó feliz!

— Fala isso pra você mesmo. Não foi você que quase já contou pra ele umas cinco vezes e isso só de ontem pra hoje?

Seria difícil guardar segredo quando estava tão ansioso e todo dia trocava mensagens e áudios com Jungkook. Uma hora, iria deixar escapar.

— Mas e aí, a gente vai terminar o que cê começou, né?

— O que eu comecei? — Yeonjun olhou para David e viu ele arquear as sobrancelhas sugestivamente.

— Tá ligado que esses dias eu fiquei mó bolado porque já tava pensando em fazer isso.

— Fazer isso.. Me beijar?!

— É, te beijar, menor — David esfregou a ponta da língua no canto da boca e Yeonjun encarou a jóia que reluziu. Queria ter sentido aquele maldito piercing — Mas sabe como é, eu achei que você não ia topar e pá. Eu também não tô acostumado com isso, tá ligado?

Ele não estava "acostumado" porque teve uma experiência bem limitada. Até então, David só havia beijado um único cara na vida dele.

Pensar nisso fez Yeonjun se sentir incomodado de novo.

— Mas pelo jeito cê não só topava, né, menor.. — David olhou para mais novo de soslaio, um sorrisinho sacana no rosto ao envolver o braço ao redor do pescoço dele, o puxando para perto. O coração de Yeonjun errou algumas batidas.

— O-o que é, porra?! — exclamou insinuando se afastar, mas não moveu um dedo sequer. Se deixou ter seu corpo todo arrepiando ao sentir a respiração do brasileiro batendo contra sua orelha.

— Mais tarde.. — ele começou sussurrando ao pé de seu ouvido — Se pá cê quiser, eu te mostro um bagulho daora. É só você colar no meu quarto, menor. —E ao se afastar, David,mostrou a língua de propósito, sabendo que ultimamente Yeonjun vinha se mostrando intrigado com seu piercing.

Como foi com JK. A curiosidade em como era beijar alguém com um piercing na língua.

O sorriso cafajeste no rosto, David admirou a reação do mais novo, além da beleza dele. Ultimamente também, mais do que nunca, vinha reparando no quanto Yeonjun era bonito.

⸸•💀•⸸

O Aston Martin foi estacionado na esquina de uma rua pouco movimentada, do outro lado de Seul.

Jungkook esperava uma visitinha bem íntima no covil do leão, quem sabe um rolê inusitado na suprema corte ou no gabinete do juiz, mas não. Era mesmo um jantar. Um restaurante numa hanok. O velho desgraçado era tão previsível.

Suspirou fundo, tirando o cinto de segurança para descer do carro.

— Nem pense nisso.

— O que?

— O que você está pensando em fazer, não ouse tentar. — Yoongi alegou. — Pode deixar no carro.

— O que?

— A arma. — o olhar do gatinho caiu sob sua cintura. — Você acha que eu sou idiota?

Jungkook olhou para ele em silêncio e sorriu, incrédulo.

— Jeon Jungkook, o quão burro você é pra achar mesmo que as coisas vão se resolver assim?! Tão facilmente? Você acha que é só matar o Sangwoo?!

— Real, eu tenho que matar o Minjae também.

— Você não está entendendo! O Minjae não tem nada a ver com isso, para de ser idiota!

— Ele não tem nada a ver? — Jungkook franziu o cenho, e ficou em silêncio por alguns instantes. No fundo queria acreditar, mas sabia que não deveria — Vai se foder, para de proteger o papai e o irmãozinho postiço.

— Caralho, você não me ouve! Não entende!

— Eu já disse que pra mim entender você tem que se decidir. De que lado você tá, hein, porra?

— Não se trata sobre estar de um lado ou não! Eu estou falando de você. — Yoongi exclamou e respirou fundo para continuar: — Larga essa arma e vamos resolver isso sem comoção.

— Cara, eu juro pra você.. — Jungkook bateu as mãos no volante e tirou a pistola da cintura.

Yoongi levava a mão à maçaneta interna da porta quando sentiu um toque gelado de metal pressionar contra sua pele, e a arma ser apontada para sua cabeça.

Jungkook exibia um olhar impiedoso, seus olhos refletindo uma determinação sombria e desprovida de qualquer compaixão. Tudo tem limite. Não acreditava em nada que saía da boca daquele homem. "Minjae não tem nada a ver com isso", pura mentira. O peso da situação ecoou no audível clique quando também destravou a arma, sendo este o único som que quebrou o tenso silêncio. Yoongi soltou a maçaneta da porta com cuidado e virou-se para olhá-lo. Os olhos levemente arregalados, com uma expressão persistente; impassível. Mas Min Yoongi sabia disfarçar o pânico, a mente dele provavelmente corria sufocada em pensamentos desesperados.

— Você vai se decidir agora. — impôs.

— Agora?!

— Min Yoongi. — Jungkook manteve-se imperturbável, sua expressão era um misto de desapego e crueldade. — Se eu falei agora, é porque é agora.

Cada detalhe do ambiente pareceu amplificado, desde o odor metálico da arma até a respiração acelerada do homem confrontado. O interior do carro se tornou uma cápsula de pavor, e o ar gradativamente se tornou espesso, quase irrespirável. Minjae, Minjae, Minjae. Jungkook não acreditava.

— Já que tá difícil, eu vou reformular pra você. De que lado você tá?

— Nenhum.

— Você também acha que eu sou idiota, é isso?!

— Eu não te conheço, não seja idiota de achar que eu vou estar do seu.

Jungkook sorriu sarcástico. Ele realmente não tinha medo?

— Então você 'tá do deles?

— Porra, eu já disse que o Minjae..

— Cala a boca e para de falar o nome desse desgraçado.

— Jeon, eu respondi à sua pergunta — o homem insistiu na resposta. — Eu não estou de lado nenhum, isso inclui o seu e o de Sangwoo.

Ah, já saquei qual é a sua, diretor Min.

— O que?

— Diretor Min Yoongi da "Fusion". — Jungkook sorriu — É isso que você faz? Além de ajoelhar pro velho, você lambe o saco do Minjae?

Yoongi sentiu uma mistura de raiva e medo. Seus olhos, apreensivos, refletiam a angústia de estar à mercê de uma força indomável. Raiva ardia em seu peito, uma chama intensa alimentada pela injustiça. Uma sensação de impotência e frustração inundava cada fibra de seu ser, enquanto lutava para conter a corrente de emoções que ameaçava transbordar. Medo se entrelaçava com a raiva, criando um nó apertado em seu estômago. Os músculos tensos, e cada batida do coração acelerado ecoava dentro de sua cabeça como um bumbo. Jeon Jungkook era tão impulsivo, caralho.

— Se você não tá de nenhum lado, pode escolher um agora. — Jungkook ameaçou com o rosto marcado pela determinação, revelando uma aparente impaciência. A mandíbula cerrada denunciava a necessidade de uma resposta. Não estava ali apenas como uma presença ameaçadora; queria algo, uma explicação, uma justificação, ou talvez apenas a confissão do que permanecia oculto. Precisava de mais peças.

Seu olhar, indiferentemente impiedoso, quase perfurava a alma do outro. Jungkook exigia uma resposta que fosse além das palavras. A demora aumentava a pressão, tornando o silêncio quase insuportável.

— Eu não estou do lado de Choi Sangwoo.

Jungkook olhou-o friamente.

— Você não precisa acreditar em mim. Eu sei que minhas palavras não vão valer nada, mas é a minha resposta. Eu não estou do lado dele, nunca estive. — Se Yoongi estivesse mentindo, Jungkook saberia. Farejava mentira de longe.

No cenário tenso e carregado, uma troca de olhares intensa se fez entre os dois. Os olhos de Jungkook, penetrantes e incisivos, sondavam em busca de qualquer sinal de mentira no rosto do homem. Cada piscar de olhos era um movimento calculado, revelando uma mistura complexa de desconfiança, impaciência e inflexibilidade. Encurralado, Yoongi sofria uma tumultuada carga de emoções. A troca de olhares foi como um diálogo silencioso, onde as palavras eram substituídas por expressões faciais. A tensão no ar era palpável, assim como uma súbita insuficiência que envolveu o homem, com o peso de palavras não explicadas, impregnando em sua mente como um parasita.

— E.. — Jungkook começou dizendo, prestes a ceder sob o peso da situação. Seus olhos, uma vez cruéis, mostravam um lampejo de reflexão. — O Minjae..

— Você vai continuar apontando essa droga de arma pra minha cabeça? — Yoongi estava quase em um pico de nervosismo. A atmosfera sufocante se dissolveu quando o Jeon lentamente abaixou a arma. O clique suave do mecanismo de segurança sendo reativado soou, aliviando a pressão no ambiente. A arma foi deixada de lado e guardada no carpete do carro. — O Minjae. Quantas vezes eu vou ter que repetir? Eu sei o que parece e você também pode não acreditar em mim, mas ele não tem nada a ver com isso.

— Você sabe das coisas. — Jungkook ralhou ainda com raiva — Você sabe de um monte de merda, mas não abre essa maldita boca! — gritou, agarrando-o pelo colarinho, contendo-se para não meter um soco nele ali mesmo. — O que te impede? O que fizeram com você, porra?!

Yoongi assumiu uma expressão ainda mais angustiada.

— Vai se foder. — Jungkook o soltou bruscamente antes que perdesse a paciência de novo — Seu covarde. — insultou olhando-o nos olhos. — Você é a porra de um covarde, Min Yoongi.

Nenhuma novidade. Yoongi reconhecia sua realidade.

— Jeon. — chamou, impedindo-o de sair do carro — Os seus serviços, eu tenho interesse.

Jungkook olhou-o sem reação. Era sério?

Ou ele estava tentando fazer com que acreditasse nele? Tornar as confissões válidas. Sobre não estar do lado de ninguém e Minjae não fazer parte de nada disso.

— Mataki.

— O que?

— O aplicativo pra pedir um serviço, se você ainda não sabe. — disse abrindo a porta e descendo do carro.

⸸•💀•⸸

A fachada do restaurante, a clássica arquitetura de uma hanok, com telhados curvos e estruturas de madeira. A iluminação provinha de lâmpadas tradicionais e lanternas aconchegantes - além de alguns lampiões do lado de fora -, tudo tradicional.

Ao entrar, foram recebidos por uma funcionária trajada de hanbok. O chão de madeira e o interior todo adornado por móveis também de madeira, e as decorações referentes a eras passadas. Nas paredes pinturas tradicionais, quadros esboçando a dinastia Joseon, aparadores de madeira decorados com vasos chineses, esculturas, espadas e até pergaminhos.

Diante da sala, a funcionária instruiu-os que retirassem os calçados antes de entrar. E enquanto Yoongi tirava os calçados sociais, Jungkook olhou para as próprias botas.

Nunca foi de pensar muito. Quando era para contar com a sorte, fazia sua aposta e lançava a moeda para o alto.

Então tirou o par de botas e abaixou um pouco a calça, disfarçadamente sorrindo com o olhar da moça sobre si. Uma única checada, permitiu-se arrancar a segunda bota, deixando-as de lado, sendo quando a porta foi aberta e a funcionária reverenciou.

O gatinho também se curvou em respeito perante a Sangwoo, enquanto Jungkook varreu a sala com os olhos. A maneira tradicional de sentar-se no chão, somente com uma mesa repleta de alimentos. Em uma das quatro paredes, havia um quadro enorme. A pintura era uma alusão a um guerreiro com armadura negra apunhalando um rei que usava um hanbok negro. O sangue manchava os detalhes dourados da roupa, tingindo o simbólico dragão chinês.

Dentro da sala, com um sorriso maquiavélico no rosto, Sangwoo ficou surpreso com o quanto o homem havia mudado. Um mês e o criminoso quase destruído que resgatou, estava novo em folha. Algumas das modificações feitas eram exageradas, como a cor do cabelo.

Jeongguk distraiu-se olhando para a pintura do imenso quadro. O cenário, a anatomia e o fato de que nem o guerreiro e nem o rei tinham rostos, era intrigante.

— Gostou, Agente X? — a familiar voz rouca e falha ecoou, clamando por sua atenção. Jungkook não respondeu, levando o olhar indiferente a encarar o velho. A faceta dissimulada e a falsidade que ele exalava. — Sente-se.

Jungkook se sentou, encarando a diversidade de sushis e sashimis dispostos na mesa, acompanhado do que quer que fosse que tivesse no jarro, makgeolli ou saquê.

— Se sirva.

— Não quero.

— Por que? Não está envenenado, se é o que te deixa receoso.

Jungkook olhou-o seriamente. Receoso?

— Não tô a fim, não gosto disso.

— Pensei que comesse de tudo, Agente X. — Sangwoo comentou com um sorriso. — Agora, me pergunto. Como fez lá? Sabe, na CIA. Suponho que o cardápio era um pouco escasso.

Jungkook sentiu o sangue ferver.

— Também acredito que era nojento o suficiente. — o velho fez uma feição enojada, e com os jeotgarak, pegou um pedaço do peixe cru, passando no molho — Como você comia aquilo e não consegue comer isso aqui só porque "não gosta"?

— Vai se foder.

Yoongi olhou-o surpreso e Sangwoo sorriu ainda mais.

— Vou deixar passar dessa vez. Não vou te forçar a comer se não gosta, mas da próxima, espero um pouco mais de consideração da sua parte, Agente X.

Jungkook não podia acreditar numa coisa dessas. Era uma ameaça e uma humilhação. Porque ter mencionado a CIA só para lhe fazer reviver a forma como foi alimentado naquela merda, foi para humilhar. Desgraçado de merda.

De soslaio, Yoongi percebeu os punhos cerrados por baixo da mesa, assim como viu a feição que o homem carregava, mantendo o rosto meramente abaixado. Droga, não fazia nem três minutos.

— Mas enfim — Sangwoo sorriu, confirmando que essa era a intenção. Yoongi ficou surpreso mesmo já sendo ciente. Desde o começo, a ideia era usá-lo para humilhá-lo e pisotear nele. — Sabe o que mais gosto dessa sala, Agente X?

— Não vai me dizer que é o quadro. — A risada do velho, ainda pior que a voz, soou e Jungkook fechou ainda mais o semblante. Caralho, queria quebrar aquela cara cínica.

— Você é esperto. Quer saber como essa pintura se chama?

— Não.

— Eu gosto de observá-lo sempre que venho aqui — Sangwoo bebeu um gole da bebida, dizendo mesmo assim. — Ele recebeu o nome de "A queda do rei sem rosto". Se olhar melhor, Agente X, verá que o guerreiro está amaldiçoado. Ele está acorrentado, e o único jeito de se soltar dessas correntes e se libertar da maldição, é matando o rei.

Jeongguk virou-se para olhar a pintura mais uma vez, atentando-se aos detalhes. Era verdade, havia correntes nos tornozelos e pulsos do guerreiro além de uma que estava borrada, para simular algo translúcido, cravada também no pescoço.

— E eles não têm rostos, gosto muito desse detalhe.

Sangwoo gostava porque pelos indivíduos retratados na pintura não terem um rosto definido, ele podia fantasiá-los como bem quisesse.

E Jungkook era o guerreiro das sombras. Amaldiçoado e destinado a apunhalar alguém que se achava o rei.

Jungkook encarava a pintura e seu pescoço doeu de olhar para trás, sendo quando voltou a olhar para o velho à sua frente. A expressão maligna e insana que ele tinha no rosto, idolatrando o quadro como se dizia adorá-lo tanto. Velho louco da porra, pensou enquanto encarava Sangwoo, não demorando muito a tê-lo dispersando a admiração e lhe direcionar o olhar também, e um sorriso ainda mais dissimulado surgiu. Que caralho?

Yoongi se sentia desconfortável. A tensão que tomava conta era incômoda e pairava faísca no ar. Sangwoo o provocava e continuaria fazendo de tudo para desprezá-lo. Já Jungkook, além de ter pavio curto, não escutava merda calado. Qual era a chance de tudo dar errado naquele jantar? Suspirou fundo, tentando ficar calmo e não demonstrar tanto sua inquietação e pegou o jarro, servindo-se um pouco de água gelada, enquanto um silêncio mortal se instalou.

A razão do velho gostar do quadro, uma fantasia e determinação que já se tornava digna de obsessão. Jungkook cruzou os braços acima do peito, mantendo o olhar frio e destemido encarando Sangwoo. Confirmar que ele era insano era algo que esperava acontecer em um futuro mais próximo, mas a oportunidade chegou logo. E ele era mesmo louco.

— Vamos falar sobre você. Como foram essas semanas, Jungkook?

Estava demorando. Se tornar o assunto de repente e ser chamado pelo nome, fez seu sangue esquentar sob a pele, ainda mais com a forma fingida que o velho lhe tratava. Ele queria lhe humilhar e testar sua paciência. Choi Sangwoo queria lhe colocar em seu "devido lugar". Ele queria ser o fodão ali e deixar bem claro quem supostamente mandava. Mas Jungkook também precisava mostrar que não era um idiota. Não como ele lhe tratava e queria que fosse, até onde sabia obedecê-lo não fez parte do acordo e ter que ouvir todas as merdas que ele falava também não.

Jungkook não se submeteria a isso, não seria humilhado por um velho tão ridículo.

— Percebo que fez mudanças radicais.

— Mudança radical seria se eu tivesse feito plástica — arqueou as sobrancelhas com um sorriso irônico nos lábios — Mas eu só pintei o cabelo, velho.

— E colocou essas...coisas na cara — Sangwoo apontou e gesticulou com uma expressão de desprezo — Posso saber o motivo?

Ah, essas coisas. Um piercing era o plano, mas como não sentia dor, acabou exagerando. Fez três furos em cada orelha e colocou dois piercings, um na boca e outro na sobrancelha. E já sabia os próximos que colocaria.

— Desde quando eu te devo satisfação do que faço no meu corpo? — continuou encarando o velho, agora, com ainda mais raiva.

— Eu não sabia que você gostava desse tipo de coisa, Agente X. Podemos dizer que a CIA te mudou — Sangwoo comentou com um sorriso. — Você acha esse tipo de coisa bonita?

Os punhos fechados debaixo da mesa foram impulsivamente levados para a superfície e o estrondo que se fez foi tão alto, além de tudo o que havia sob esta, ter chacoalhado. Jungkook não iria suportar. Caralho, foram semanas, e agora, estava de novo diante desse velho.

Como pôde se esquecer do quão irritante e escroto ele era, porra?

— Cala essa boca de merda e cuida da porra da sua vida. — esbravejou irritadiço.

— Só estou comentando, não se preocupe, eu não vou te julgar apesar de achar ridículo. Eu nunca deixaria um filho meu fazer esse tipo de coisa..

Seu filho. Jungkook abriu um sorriso de escárnio.

— E eu não sou o único, vários pais também não deixariam, porque esse tipo de coisa é..

— Senhor. — Yoongi interrompeu, percebendo o estado do homem ao seu lado.

Completamente furioso, Jungkook tinha um olhar assustador no rosto, os olhos repletos de raiva e os punhos fechados com tamanha força. Era um teste. E Jungkook precisava passar nesse teste, provando que não "morderia seu novo dono". Era uma situação muito séria. Uma imposição de poder a alguém irredutível, mas que foi comprado e precisava entender o que isso implicava, especialmente na visão do comprador.

Merda, de uma forma ou de outra, era melhor que ele não o fizesse. Não se tratava de se provar um cão leal ou domesticado, porra, ele precisava se controlar. Jungkook precisava ficar calmo, porque Sangwoo com certeza tinha uma carta imunda na manga dependendo de como ele se portasse. E isso também fazia parte da punição.

As instruções era ver até que ponto ele conseguia lidar com a raiva, o quanto Jungkook aguentava ser cutucado antes de perder todo o controle e surtar.

— O que você acha, Yoongi? Você faria? Furar partes do próprio corpo para colocar essas..."jóias"? Algo tão vulgar.

Jungkook esteve a ponto de simplesmente lançar tudo para o alto. Vulgar? Estava mesmo sendo chamado de vulgar por aquele velho? Que piada, puta merda, não podia ser. Iria ficar louco de raiva e estava prestes a tomar uma atitude quando sentiu uma mão em sua perna. Olhou para o lado, vendo o gatinho não olhando para si, mas para o velho.

— Não, sr, eu não faria, de fato, é algo muito vulgar. — o Min respondeu o que Sangwoo queria ouvir e mesmo chocado com a resposta, olhando para ele, Jungkook entendeu. A mão em sua perna foi batida duas vezes, transmitindo o sinal. Agora sim era um teste.

Por mais que não mudasse nada porque estava fervendo de raiva e ódio, colocou na cabeça que tentaria manter a calma.

— Ah, pode crer. — tirou as mãos de cima da mesa, sorrindo cínico — Vulgar, mas que bom que cada um tem a sua opinião, né? E melhor ainda, Deus deu uma vida pra cada um, assim cada um cuida da sua. Sacou, velho?

Sangwoo gargalhou, assentindo e bebendo um gole do álcool.

— Agente X, você me diverte.

— Você também — Jungkook rebateu — E sabe de uma coisa?

— O que?

— Você também mudou bastante.

— Como eu teria mudado se diferente de você, eu não faço essas coisas de adolescente na puberdade? — a provocação continuou. Mas Jungkook não esquentou.

— Pô, mudou sim — afirmou convicto, deixando o juiz confuso, olhando para o Min que já esperou pelo pior — Desde a última vez que te vi, você ficou ainda mais feio.

Yoongi engoliu a seco assim que escutou aquilo e teve uma sincera vontade de rir, pegando mais água para disfarçar.

— Se bem que se for ver bem, não mudou porque feio sempre foi, né, velho, você só se salva se nascer de novo.

Já que era pra provocar um ao outro a respeito de coisas absurdas e nada a ver, Jungkook aceitava jogar aquele jogo de bom grado.

Sangwoo riu de novo, pegando uma fatia do peixe e levando até a boca, comendo.

— É corajoso da sua parte me tratar assim. Também admito, foi corajoso em ter feito todas essas alterações sem me consultar.

— Te consultar? Vai à merda, puta caralho! — Jungkook exclamou inconformado. — Qual é a sua, velho?!

— Mas tudo bem, vou ser bondoso e também deixar passar dessa vez, Agente X — Sangwoo disse. — Porque esse tipo de coisa vulgar combina com você.

Yoongi apertou a perna do homem, por vê-lo prestes a se exaltar de novo. "Vulgar" estava ecoando na cabeça de Jungkook de uma maneira nada agradável, porra, era só um murro na boca daquele velho.

— Sabe, Agente X, você chama bastante a atenção. Naturalmente, você já é o tipo de jovem que chama a atenção por onde quer que vá. — Sangwoo sorriu. — Não é de se admirar que você seja tão.. inesquecível.

— É, eu sou inesquecível. Como você se sente com isso?

— Como assim?

— Como você se sente sabendo que eu sou tão inesquecível que nunca saí da cabeça do Minjae?

— Não ouse falar do Minjae! — o velho se enfureceu, exclamando um tanto alto. E Jungkook pôde ver no olhar dele, como conseguiu pegá-lo desprevenido. O ponto fraco de Sangwoo era o filho. — Não abra essa boca imunda para falar do meu filho.

— Hum.. então o que eu ouvi.. é verdade. — constatou com um sorriso sarcástico.

— O que você ouviu?

— Que ele sente a minha falta.

— O Minjae sente a sua falta? — Sangwoo riu — Não seja tolo, Agente X. O meu filho te odeia.

— É, mas já ouviu aquele ditado? Quem muito odeia, no fundo é porque ama..

A diversão de Jungkook aumentou ao ver a reação do velho. E foi a vez de ele bater a mão na mesa, como se não tolerasse escutar a verdade.

— Só se for nos seus sonhos, seu merdinha. — Sangwoo ralhou enraivecido e Jungkook ergueu uma sobrancelha antes de bater o punho fechado na mesa.

— Escuta bem o que eu vou falar agora, seu velho — olhou-o em ameaça. — Nós só fizemos a porra de um acordo, pare de se achar o máximo. Você não manda em mim e você não é a merda do meu dono!

Choi Sangwoo se surpreendeu com o aviso, não evitando cair na gargalhada, o que fez com que Jungkook perdesse ainda mais a paciência. Seu semblante se fechou ainda mais, esgotando a pouca calma que nem tinha.

— Não? — Sangwoo controlou a risada para indagar, um sorriso cínico nos lábios. — Então quem é, Agente X? Seu dono? Você deve ter um.

Jungkook não estava aguentando. Já era demais, era pra isso que estava ali?

— Um cão só rejeita outro dono se já tiver um e um cão só abandona seu dono caso algo muito grave aconteça. Violência, abandono.. — comentou, e de soslaio, olhou para o Min ali, de cabeça baixa. — E a morte. Que tipo de cão é você, Agente X?

O sangue de Jungkook ferveu e não mediu o instante em que simplesmente alcançou o jarro, quebrando-o ao bater na quina da mesa. A porcelana, uma vez parte do elegante jarro, tornou-se uma arma involuntária nas mãos trêmulas de raiva. Com um estilhaço de bom tamanho, foi questão de segundos para quebrar a distância entre eles, aproximando-o do pescoço do velho, tendo se esgueirado subitamente ao ponto do sorriso cínico e apreciativo de Sangwoo sumir.

— Que tipo de cão? — questionou-se também, mantendo o estilhaço pontiagudo apontado na garganta do velho — Não sei, mas acho que um cão não sabe onde fica a jugular do seu "dono". — Jungkook comentou abrindo um sorriso de canto, e seus olhos frios e vazios fitaram o Choi.

Yoongi ficou indignado. Foi tudo rápido demais. A forma como o Jeon fez aquilo, em uma velocidade e prática absurda, quebrando o jarro e derramando todo o álcool, ganhando um estilhaço perfeito. Não ousou se intrometer. Pela expressão de Sangwoo, ele foi pego de surpresa, mas por ver através dele, constatou que era a intenção. Era tudo parte do teatro, testar Jungkook, ver do que ele era capaz e até quanto suportava ser desprezado e tratado como um merda.

Jungkook tinha que ser um peão que Sangwoo pudesse controlar, além de castigá-lo pelo que ele fez com Minjae.

Quando disse que Minjae não tinha nada a ver, quis dizer diretamente. Porque indiretamente era outra questão. Merda, por que tudo era tão fodido?

— Talvez eu não seja um — Jungkook lamentou, de tanto que foi chamado de cão dentro da CIA e o velho trazendo isso à tona, decidiu expor o que sempre achou.

— Mas ainda assim você não passa de um animal. — Sangwoo alegou com desdém, com o olhar denotando certo desespero, ao que pressionou a ponta do objeto no pescoço dele.

O olhar frio e intimidador, o tom de ameaça e a maneira como se olhavam, ambos sendo a pior espécie de predador existentes. O sorriso do de cabelos roxos aumentou ainda mais quando viu a pressão exercida resultando em um primeiro e singelo filete de sangue escorrendo. Louco.

— Agente X. — Sangwoo também sentiu o líquido escorrendo e olhou-o em repreensão.

Yoongi olhou para a porta, pressentindo que não estavam sozinhos e pela fresta, viu que realmente, não estavam. Porra.

— Não me faça chamá-los. Seus machucados estão melhorando agora, acredito que você não queira passar por tudo de novo, não é? — O olhar do juiz foi parar em sua perna e nos olhos dele existia a mais pura má intenção de todas. — Dessa vez não vai ser só um corte, Agente X. Eu vou mandar eles quebrarem as suas pernas..

Jungkook tensionou-se, olhando para a porta. Também olhou para o gatinho e o olhar dele era tão aflito e apreensivo, sinalizando que parasse porque era sério. Iria apanhar.

Sem escolhas, afastou o estilhaço devagar, ainda segurando-o com força em sua mão, nem medindo a ardência que se formava. Não era incômodo. Porra, também não deveria ligar em sair na mão com alguns otários que estivessem do lado de fora, mas não tinha certeza. Jungkook não sabia se estava em condição de lutar, ainda mais com vários. Contra homens provavelmente armados.

— Yoongi, segura ele. — Sangwoo ordenou antes mesmo do Jeon voltar ao assento. Jungkook olhou-os surpreso, não acreditando.

— Sr.. — o Min tentou refutar.

— Se você não segurar, Min Yoongi, qualquer um deles vai! — o velho exclamou alto e Yoongi olhou para Jungkook. Porra, o avisou, caralho.

— Vai me bater, velho? — Jungkook sorriu irônico. —Só por causa de um cortinho?

Sangwoo limpou os lábios com o guardanapo e esfregou as mãos uma na outra, o olhar raivoso caindo sobre o filho que acatou à ordem, levantando-se e se colocando atrás do indivíduo. Yoongi cerrou os punhos, odiando toda aquela merda, antes de erguer as mãos prestes a segurá-lo pelos ombros.

Jungkook se desvencilhou do toque e virou-se, empurrando-o furioso.

— Não precisa, me solta, porra! — exclamou também alterado.

— Garoto insolente — Sangwoo ralhou e levantou-se limpando as mãos no lenço tirado do bolso — Você deveria me respeitar.

Isso era o mínimo. O mínimo que Sangwoo esperava do sobrinho, um pouco de respeito. Mas não.

Ele foi debochado, sarcástico e irônico. Esse foi o tipo de educação que recebeu de Jeon Seungheon, outro homem rebelde e compulsivo. Sang-a deveria ver o que a pequena cria do diabo que ela deu à luz, havia virado.

— Respeitar? Vai à merda! — xingou, vendo o juiz se aproximando e Jungkook não recuou um passo sequer, nem mesmo amenizou o olhar intimidador.

Sangwoo também passou o lanço pelo corte no pescoço, e afastou-o para ver o líquido escarlate manchando o tecido esbranquiçado. O lenço caiu no chão assim que abruptamente ergueu a mão e agarrou-o com força pelo pescoço.

— Bate, pode bater. — Jungkook incentivou com um sorriso, agarrando o pulso do velho — Bate, porra!

— Você não só deveria me respeitar, como me agradecer. Eu te salvei. Te tirei daquele buraco sujo e imundo. Te tirei das mãos daqueles estúpidos doentios! Um mês foi o suficiente para você se esquecer, Agente X? Devo te fazer lembrar?! Como é ficar preso, sendo torturado?!

— Não vai bater? Bate! — apertou o pulso do velho por cima da manga do terno, sentindo-o aumentar a força com que também segurava seu pescoço.

— Um pouco de gratidão seria bom, mas não tem jeito. Um bandidinho como você tem uma mentalidade muito limitada.

Jungkook estava por um triz. O sangue fervendo, os punhos cerrados e a mandíbula travada. Estava com muita raiva. Aquele velho não recuava e isso não era bom. Seu temperamento ser testado desse jeito era perigoso.

— Eu nunca pedi para ser salvo — afirmou irritadiço, nem medindo a força com que começou apertar o estilhaço na outra mão.

— Não? Não pediu? Então devo te levar de volta?

Jungkook ficou em silêncio. Achava que era importante para o plano dele. Ou talvez estivesse errado desde o começo.

— Acredito que fui mal-compreendido, porque quem está se achando o máximo aqui é você — Sangwoo alertou, o olhar cruel e transtornado explicitando falta de paciência. Jungkook encarou-o ainda mais friamente e a tensão continuou, ao que era segurado pelo pescoço, e começou a contar. Mentalmente, iniciou uma contagem regressiva. — Está achando que era a única opção? Não seja tolo. Eu fiz uma caridade te escolhendo para isso. Eu resgatei você, uma escória cuja sentença de morte estava dada, por isso, quando eu digo que te salvei, você trate de calar a boca e aceitar! — O velho exclamou, soltando-lhe com força, sem fazer mais nada, sem bater.

Jungkook permaneceu parado, a mão apertando o estilhaço de porcelana sem se importar em se cortar, machucando-se, mas encontrando um ponto seguro para não fazer merda. Para não pular em cima do velho e dessa vez somente apontar o objeto no pescoço dele e rasgar um milímetro de pele não seria suficiente. Porque o que faria com ele, ia além.

Estava certo. Sangwoo se vangloriava tanto de lhe ter "salvado", impondo uma gratidão que nem estava deixando óbvio.

— Foi você. — disse, impedindo o velho de voltar a se sentar.

— Como? — Sangwoo virou-se, olhando-lhe. Min Yoongi estava tão nervoso que a sala ficou abafada e o ar começou a faltar.

— Foi você. — constatou mais uma vez, erguendo o olhar para encará-lo. A mão apertando ainda mais a peça entre os dedos, sentindo certa ardência — Não tinha como a CIA ter me pego.

— Você se acha tão bom, Agente X. — o velho gargalhou. — Não é idiotice se questionar sobre isso agora? Você errou feio mexendo com o que não devia e teve o que merecia. Arcou com as consequências e ainda teve sorte de sobreviver porque eu te encontrei e te salvei a tempo.

Ele achava que era idiota e estúpido. Era ele, desde sempre. Em conluio com a CIA, armaram a emboscada para lhe pegar e castigar, e ao mesmo tempo, lhe deixar sem opções. Lhe enfraquecer e destruir, porque assim aceitaria um acordo em troca de sobrevivência. Dois meses.

Jungkook viveu um inferno por dois meses porque aquele velho desgraçado queria lhe punir e usar.

— Eu tive sorte. — repetiu com um sorriso sarcástico — Tive sorte?! Quando você armou toda essa merda, seu velho maldito?

— Eu? Está me culpando pelo seu erro, Agente X? Seu erro estúpido de mexer aonde não deve!

— Eu vou te matar, Choi Sangwoo — murmurou de cabeça baixa, empunhando o estilhaço. O sangue pingava em gotas cadenciadas, no ritmo de sua fúria silenciosa. Estava enfrentando uma explosão de emoções.

Sangwoo olhou para Yoongi, vendo sangue a pingar, formando pequenas manchas no chão. O velho sorriu para o filho adotivo, erguendo as mãos prestes a dar o comando. Se o fizesse, eles entrariam e dariam um jeito naquela insolência intolerável.

— Já chega! — o Min exclamou e Jungkook olhou para o lado, sentindo o homem agarrar seu braço e abrir sua mão com força, contra sua vontade, tirando o objeto ensanguentado e jogando no chão.

— Cinco minutos — Sangwoo voltou a se sentar, desejando servir-se de mais um gole de makgeolli se o jarro não tivesse quebrado e todo seu jantar estivesse arruinado. Ergueu o olhar cruel para encarar os dois. — Dê um jeito nele, Yoongi, e só o traga de volta se ele aprender a ser civilizado.

— Sim, sr — Yoongi assentiu e mesmo com o homem destemido a conflitar com o velho que continuava provocando, agarrou-o pelo colarinho da camisa. — Vem comigo, porra.

Jungkook foi arrastado porta afora e no corredor do restaurante, antes vazio, agora estava repleto de homens vestidos de preto. Porra, não era blefe.

Yoongi o empurrou para outra direção, levando-o até a área vazia e aberta dentro da hanok, onde continha uma fonte ornamental com carpas. Ainda segurava na gola da camiseta dele, checando os arredores para confirmar que estavam sozinhos quando enfurecido, o homem agarrou seus pulsos com força, fazendo com que o soltasse.

— Vai se foder você também! — Jungkook esbravejou espalmando as mãos no peitoral dele, empurrando-o com força. — Vocês são doentes, seus malucos do caralho.

— Eu não fiz nada.

— Não? — sorriu irônico. — Segura ele, dá um jeito nele — Jungkook estava alterado de raiva — Acaba com ele!

— Jungkook. — Yoongi chamou sério, e de relance, mirou o rastro de sangue na calçada de pedregulhos. — Você..

— Porra, que merda vocês querem comigo?! O que eu fiz, caralho! — gritou. — Tudo por causa daquele desgraçado?!

— Jeon, se acalme.

— Porque eu atirei no filho da puta do Minjae! Por isso você disse que eu estava envolvido. É por causa desse desgraçado traidor?!

Traidor?

— Seu merda, abre essa boca! — Jungkook agarrou Yoongi pelo colarinho. — O velho quer vingança?! E pra isso..

— Você não está pensando direito.

— Foda-se — Jungkook o soltou e andou de um lado para outro, esfregando a palma da mão ensanguentada na camiseta. — O velho quer vingança, ele quer me ferrar por isso, porque eu atirei no Minjae. Eu tenho que ir atrás desse desgraçado de merda, eu vou atrás do Choi Minjae agora!

— Jungkook, se acalma.

— Eu vou matar ele! — exclamou e só de insinuar que voltaria, o homem voltou a lhe agarrar pela gola da camiseta. Estavam em um conflito constante.

— Se acalma, caralho! — Yoongi gritou de volta, empurrando-o contra o pilar de madeira. As costas de Jungkook se chocaram contra o sustento, implicando em certa dor.

— Me solta. Eu tô mandando você me soltar, seu merda.

— Eu solto — o Min afrouxou a força, mas não soltou. — Mas você vai olhar pra mim, calar a boca e me escutar.

— Me solta agora — Jungkook repetiu e o olhar era tão assustador que foi o bastante para Yoongi soltá-lo, recuando alguns passos para manter uma distância segura.

— Não adianta tentar conversar com você. Agir assim não vai te levar a nada, saiba disso.

Jungkook estava mais do que furioso, também estava frustrado. Porque não percebeu antes, não lembrava das coisas importantes. E foi se esquecer que Minjae era filho de um juiz.

Igualmente nervoso e com raiva, Yoongi pegou o maço e o isqueiro no bolso do paletó, colocando um cigarro entre os lábios e acendendo. Tragou para se acalmar e Jungkook, por mais que sua vontade fosse matar o velho, além de gritar porque estava tão transtornado confirmando que certas coisas faziam sentido, se agachou no chão e colocou as mãos na cabeça.

Yoongi soprou a fumaça para o alto, olhando-o e voltou o cigarro à boca, deixando-o acomodado ali para apanhar o lenço e se curvar. Colocou uma mão suave no ombro do homem, que ergueu a cabeça no mesmo segundo, em um reflexo rápido. Ele estava muito bravo. Jungkook pegou o lenço e envolveu na palma da mão, voltando a se reerguer. Tentou amarrar sozinho, mas não conseguiu. Então, estendeu a mão à direção do homem ali, que lhe encarou fumando o cigarro. Yoongi soprou a fumaça, suspirando.

— Vamos cuidar disso depois — deu um pequeno nó para manter firme e parar o sangramento por enquanto.

— Me dá um cigarro. — Jungkook pediu e o homem suspirou de novo, oferecendo o maço. Pegou o cigarro e colocou na boca, e o Min entregou o isqueiro para que acendesse, podendo dar uma primeira tragada. — Me responde uma coisa.

Fumando, Yoongi lhe olhou em questionamento, e Jungkook o olhou de volta. Afastou o cigarro dos lábios e soprou a fumaça para o alto, elaborando sua dúvida.

— O homem que eu tenho que destruir não é só um, não é?

— Como?

— Eu tô incluído, não tô?

Yoongi manteve o contato visual por alguns instantes, completamente calado, processando as palavras, antes de desviar o olhar.

Jungkook maneou a cabeça em concordância. O silêncio dele foi confirmatório. Nunca foi "salvo", apenas emboscado e encurralado. Fugiu e sobreviveu por um preço. Estava fadado a continuar lutando para sobreviver, tendo aceitado um acordo que não só implicaria na destruição daquele que amava, como na sua própria.

— Quem diria. — O cigarro nos lábios, Jungkook abriu um sorriso sarcástico — Eu tenho que destruir ele, tenho que me destruir.

O mais velho respirou fundo, vendo o semblante do rapaz ali ao dizer isso, e ele passou a tragar ainda mais ansiosamente.

— Espera.. você..sabe quem é ele?

— Kim Taehyung. — Jungkook sorriu amargamente, puxando todo o fumo para os pulmões antes de soprar toda a fumaça. Yoongi não tinha ideia de como ele descobriu. — Isso não vai ficar assim.

— Jeon..

— Eu tô te falando. Eles escolheram mexer com a pessoa errada. E você — apontou o indicador em advertência — Se decide direito, porque eu vou acabar com essa merda, tá me entendendo? Escolhe, Min Yoongi, e de preferência escolhe não ser meu inimigo.

Porque caso contrário, também seria um homem morto.

⸸•💀•⸸

Voltar para aquela sala foi a pior escolha. O clima pesado, a tensão mortal. O velho juiz estava furioso e para além de raiva, agora Jungkook estava com sede de sangue.

Choi Sangwoo arquitetou a emboscada com a CIA, usando o Nexus para contratar seu serviço como a armadilha perfeita. Nunca foi apenas sobre o que aprontou. Não foi no que se meteu, mas no que lhe meteram. Jungkook também era alvo do velho.

Matutando coisas na cabeça sustentando o silêncio, ergueu o olhar frio e indiferente a encarar o Choi. A mesa limpa, Sangwoo bebia tranquilamente, em um novo copo, com um novo jarro de bebida disposto.

— Podemos conversar civilizadamente agora, Agente X, ou ainda é algo muito difícil para você fazer?

Jungkook estava cansado de ser perseguido, caçado e maltratado o tempo todo. De ser usado. Não aguentava mais, não queria estar ali. Pensando assim, uma parte dentro de si gritou mil coisas, xingando-lhe de covarde e irresponsável, porque deveria arcar com as consequências, mas se tudo foi armado, qual era o sentido?

— Eu cumpri a minha parte e você precisa cumprir a sua. — Sangwoo reforçou — Você ainda é procurado.

— Claro que sou. — sorriu debochado.

Também armaram essa merda pra cima de mim, um assassinato. Por que de repente tudo parecia querer se interligar, de alguma forma?

— O caso foi arquivado, mas como o culpado nunca foi preso e o principal suspeito sequer interrogado, pode ser reaberto a qualquer momento. Devo te lembrar que você, Jeon Jungkook, fugiu?

Fugir pegou mal. Para qualquer um pareceria culpado, porque senão, não teria fugido assim, não tão rápido como fez. Mas de qualquer jeito, por também ter sido armação, acabaria preso. Ou seja, sempre teve alguém lhe perseguindo. Choi Sangwoo. Ele esteve manipulando as informações de acordo com o próprio interesse.

— Agora o que eu quero de você é que roube algo para mim.

Roubar? Que merda?!

— Em alguns dias, chegará uma carga de dois contêineres no porto. Você vai roubá-los e trazer para mim.

— O que? Roubar uma carga? E como eu vou fazer isso, porra?!

— Não se preocupe, você terá ajuda o suficiente para isso.

Ajuda? Caralho.

— Vai se foder, porra, como você espere que eu coopere numa merda dessas?! — exclamou — Sem saber o que eu vou estar roubando..

— Maybank.

Ouvir essa palavra sendo mencionada lhe surpreendeu tanto que Jungkook quase não conseguiu ocultar sua reação.

— Esse "termo" te lembra alguma coisa, Agente X? Nada? O seu silêncio me preocupa. — Jungkook voltou a fechar as mãos em punhos — Pois bem, se me permite refrescar a sua memória. — Sangwoo sorriu pegando o tablet em mãos — Maybank, também mais conhecido como " o misterioso ladrão de Los Angeles". Roubo de caminhões, arrombamento de cofres e..justiça. Te faz lembrar de algo? Também não?

Jungkook continuou em silêncio com a expressão indiferente no rosto. Ele sabia. De tudo. Todos seus passos, seus serviços.

— Vejamos.. o melhor roubo de todos foi em uma mansão em Beverly Hills, propriedade do magnata libanês Aiub... — Sangwoo estreitou os olhos, mas nem se quisesse não conseguiria pronunciar o sobrenome. — Bom, você sabe. — ele sorriu — Aproximadamente três milhões de dólares em dinheiro vivo foram roubados do cofre, além das barras de ouro, relógios e jóias.

Um semblante de pouca paciência se estampou em seu rosto, suas linhas faciais diziam: "E? O que eu tenho a ver com isso?"

— Tenha paciência, Agente X. — o velho instruiu — E os quadros, muitos quadros. Toda a coleção do sr Aiub, avaliada em dez milhões de dólares, foi roubada.

De soslaio, Jungkook percebeu o olhar de Yoongi sobre si a cada parágrafo que era lido.

— Mas ele não era inocente, não é? — Sangwoo ergueu o olhar para lhe encarar. — Aiub.. estava sendo acusado de estupro de vulnerável. Ele contratou o melhor advogado da Califórnia para se defender e com certeza teria sido inocentado se na noite anterior ao julgamento, o inconveniente roubo não tivesse acontecido e ele foi agredido.

Merecido. Jungkook ergueu as sobrancelhas, desinteressado.

— Aiub foi encontrado na manhã seguinte pela empregada. Ele estava seminu, amordaçado e preso por fitas adesivas e enforca-gato. E foi tão bem preso que poucas horas e ele teve severas escoriações nos pulsos e tornozelos. No peito, várias notas de um dólar foram coladas lado a lado e em vermelho, foi escrito "I am guilty". Aiub não prestou queixa do roubo, e ele parecia estar com medo. Devido ao ocorrido, o julgamento foi adiado por uma semana e quando o dia chegou, Aiub confessou o crime.

— Qual é o seu ponto, velho?

— Ele foi preso, passou por outro interrogatório e foi aí então, que Aiub mencionou essa pessoa. "Maybank", o ladrão. — Sangwoo findou a história, mas passou os dedos pela tela — O sistema de segurança da mansão foi desativado antes mesmo da chegada do ladrão. As câmeras mais próximas foram hackeadas e tiveram suas gravações apagadas. Mas o radar da estrada de Wilshire pegou um caminhão e um veículo indo e vindo na mesma madrugada. — Sangwoo virou o ecrã em sua direção, mostrando. — Reconhece este veículo, agente X?

E bastou bater o olho na tela para reconhecer o predador. Seu outro carro, aquele que usava em seus serviços, o MK3 negro.

— Porque esse parece ser o tipo de carro que você gosta — o velho sorriu deixando o tablet de lado. — Curioso, não é? — Jungkook deu de ombros. Estava pouco se fodendo. — E mais curioso ainda é o fato de que com esses roubos Maybank fez doações. Alguém que se acha o justiceiro punindo criminosos enquanto também comete crimes, doando dinheiro roubado para instituições de caridade. Agente X, você estava querendo bancar o Robin Hood de Los Angeles?

Jungkook não se deu ao trabalho de responder, mas estava se enfurecendo outra vez.

— Você teve diversos bicos durante esses dois anos e meio. — Sangwoo comentou — Fazendo "justiça", roubando dinheiro, competindo em corridas de ruas ilegais..Agente X, você tem uma ficha criminal e tanto.

Continuou encarando-o em desdém, sem se deixar levar.

— Também devo mencionar seu amado parceiro de crime? — e foi nesse instante que Jungkook foi pego de surpresa. — Membro da maior gangue do crime organizado de Los Angeles, a Los Santos..David da.. — Sangwoo foi interrompido assim que bateu a mão forte na mesa e tudo que estava acima desta, tremeu. O velho ergueu o olhar. — O que foi, Agente X? Vai se fazer de idiota e me dizer que também não o conhece?

— Cala a boca.

— David da Silva é um brasileiro de..vinte e sete anos..

— Eu mandei calar a boca! — exclamou enfurecido demais.

— Bom, o resto acredito que eu não preciso dizer, não é? O interessante, Agente X, é que eu fiquei sabendo que ele veio para a Coreia.

Velho desgraçado.

— Então se você preza pelo seu amigo, aconselho fazer o que eu mandar, como eu mandar. Está me ouvindo?

— Qual é o seu ponto, velho? — indagou. — Falou, falou, e não disse nada.

— Você está acostumado com isso, não venha fingir que não. Além do mais, você não fará nada demais. Tudo que quero que faça é ajudar meus homens e quando tudo estiver pronto, você vai dirigir um dos caminhões para mim. Só isso.

Só isso. Caralho, esse era o ponto dele, além de deixar claro que sabia tudo sobre si. Todos seus crimes.

— Eu fico impressionado com como você é incrível. Você quase foi lutador, não é, Agente X?

Até então em completo silêncio, no mesmo instante, Yoongi olhou o homem ao seu lado. Um lutador?

— Mas infelizmente, uma lesão impossibilitou que seguisse carreira. — lamentou, falsamente.

Jungkook estava apreensivo. Quanto esse desgraçado me pesquisou? Porra, quanto ele sabe da minha vida?, perguntou-se mentalmente, se sentindo ameaçado.

Se ele sabia da lesão, Sangwoo sabia de tudo. Aquele desgraçado sabia demais. Como?

— Espero que não tenha sido nada grave, mas pelo que vejo, não tem como ser, certo? Não manca de nenhuma perna, incrível, você é mesmo de ferro, Agente X!

Jungkook fuzilou-o com o olhar.

— Corta o papo furado, caralho.

— Mas acredito que você ainda goste de ter uma forma de liberar toda essa fúria acumulada, não é? Como um animal, você precisa disso. Por isso, volto a dizer que você pode não ter sido minha única opção, mas a mais ideal.

Jungkook abaixou a cabeça outra vez, se sentir ameaçado também era pior do que a raiva e o rancor.

— Você se saiu bem. Devo admitir, as gravações que o diretor Campbell me enviou, estavam ótimas. Você é tão determinado, Agente X! E como uma praga, também não morre fácil.

Jungkook nem se atentou ao insulto. Gravações..? Tentou não ser transparente, mas seu olhar foi de total choque. Sentiu enjoo só de pensar. E sentiu tontura. A visão escurecendo, mal parando em pé, o sangue borbulhando sob a pele, fora o que transbordava de seus hematomas. Euforia ainda corria em suas veias, a respiração tão descompassada quase se afogando para estabilizá-la, sem forças, prestes a cair. Mas não podia porque tinha de ser o último a ficar em pé.

Gravações..que tipo de gravações?

— Lutou contra vários assassinos, psicopatas e terroristas — disse e Jungkook abaixou a cabeça atordoado. Péssimo momento, péssima escolha de tema. — Várias vezes, sem poder usar arma alguma. Enquanto eles, o diretor Campbell os deixava escolher o que quisessem usar.

Yoongi ficou assustado ao escutar isso. E Jungkook ficou péssimo. Os punhos cerrados de rancor e o estômago embrulhado. Sangwoo era doentio. Não era à toa que alguém como ele atuou junto do diretor e do agente Jones.

Gravações. Jungkook ainda não acreditava nisso. Tinham gravações suas. Aquele velho assistiu. E sabe-se lá quem mais assistiu e ainda assistiria.

Aquele lugar imundo, cheio de vermes imundos e insanos, fez uma promessa a si mesmo. Voltaria àquele lugar e detonaria aquela prisão.

— Estamos entendidos?

Jungkook não respondeu.

— Estamos entendidos, Jeon Jungkook? — o velho impôs com um olhar sério e Jungkook tensionou-se, remoendo tanta angústia e raiva que não estava cabendo em si. a pressão de Sangwoo, exigindo uma confirmação, lhe fez manear a cabeça uma única vez.

Era o preço, só restava concordar. Ou seria jogado em uma cela de novo. Não tinha escapatória porque estavam lhe perseguindo. Queriam lhe punir. Lhe deixaram achar que havia se safado, lhe deixaram viver por mais de dois anos como se tudo estivesse bem e fosse continuar. Mas aquele tempo todo estiveram lhe observando. Jungkook sempre foi observado, por alguma razão de merda que iria descobrir.

Se Sangwoo achava mesmo que iria deixar barato e obedecê-lo, estava muito enganado.

O velho sorriu satisfatoriamente, cheio de si e Jungkook ferveu de raiva.

— Ótimo, pode ir. — concedeu e no mesmo instante Jungkook se levantou, sendo acompanhado pelo gatinho. Yoongi reverenciou educadamente para se despedir — Ele pode, você não.

Jungkook viu o velho beber e pousar o copo na mesa, erguendo o olhar para ambos. E para si, ele sorriu outra vez.

— Por enquanto entramos em um acordo, Agente X, então você está dispensado. — Sangwoo disse, mas a expressão que ele carregava era de ameaça. — Você está com o telefone que lhe foi entregue, certo? — O velho ergueu uma das sobrancelhas, e Jungkook estalou a língua no céu da boca, enfiando a mão no bolso da calça para pegar o Iphone. Sorte que trouxe. — Muito bem, atenda quando eu ligar. Enviarei as informações logo, se prepare para começar. E não precisa mais ficar com o Yoongi se não quiser. Ele é um pouco duro, não é?

Não precisa mais..?, entreolhou com o Min, que pareceu tão confuso quanto si.

— É, não precisa. — Sangwoo abriu mais um sorriso.

Jungkook não gostava desses sorrisos. Porque por trás deles Sangwoo escondia toda sua podridão e crueldade.

— Pode ir, mas lembre, temos um acordo e eu só vou avisar dessa vez — reforçou com uma expressão assustadora. — Se não atender o telefone, eu vou atrás de você. E se não fizer como combinado, Agente X, eu não só vou atrás de você, como vou te colocar de volta no lugar em que pertence. Na prisão.

Quem Choi Sangwoo achava que era para dizer isso? Irônico. Jungkook olhou-o indiferentemente, não tendo o que responder.

— Mas antes, vou atrás de todos os seus amigos, começando por ele. — Sangwoo batucou o dedo sob a ficha de David, acima da mesa e só assim Jungkook se deu conta de que haviam outras fichas abaixo — Não queira descobrir o que eu sou capaz de fazer com eles, Agente X.

Jungkook fechou os punhos com força.

— Agora vá — ele dispensou novamente e Jungkook abriu um sorriso sarcástico, contendo-se para não fazer merda, olhando-o uma última vez antes de se dispor a sair, e pôde pressentir que o Min lhe acompanharia, de qualquer forma.

As portas da sala foram abertas e Jungkook pisou do lado de fora, ouvindo Sangwoo dizer ainda mais duro:

— Eu disse: você não. Você fica, Min Yoongi. — Jungkook calçava suas botas quando tentou olhar, mas a moça fechou a porta. Em outras salas, havia muita barulheira e conversas altas, quando ela lhe guiou restaurante afora.

Que merda estava acontecendo?

De repente, não precisava mais ficar com o gatinho, estava "livre", mas continuaria à espera de ordens.

Tinha instruções do que fazer primeiro e foi ameaçado para não tentar escapar. Bem ameaçado. Desgraçado. Ele ainda usou seus amigos para lhe ameaçar. Só podia ser brincadeira.

— Caralho — inquieto, Jungkook passou a mão pelos cabelos, esfregando a língua no piercing do lábio e olhando para trás.

Por que estava com um mau pressentimento?

Que seja.

A rua estava vazia. Jungkook tirou o celular do bolso, pensando em como iria embora. Deveria pedir um táxi?

Não, não podia ligar para o bonitão, não tinha certeza se estava sendo vigiado. O celular em mãos, pensando no que fazer, ergueu o olhar cauteloso para mirar ao redor. Ainda precisava fazer uma coisa.

O Aston Martin do gatinho estacionado na esquina, dois furgões e um sedã, além de, abaixo, na rua, num ponto mais escuro em que a luz do poste estava queimada, havia outro sedã estacionado.

Tentou enxergar, mas os vidros do carro eram escuros e não dava para ver nada, nem através do parabrisa.

Jungkook suspirou e voltou a olhar o celular, a palma da mão ardeu ao movimentar o dedo. Merda, para onde iria? Se ao menos tivesse um carro, porra, podia dirigir tranquilo e descobrir por conta própria se seria seguido ou não. Foda-se, iria ligar para Taehyung.

Selecionou o contato dele e levou o aparelho à orelha, franzindo o cenho conforme o bipe continuou soando, tentando conectar a chamada.

Sem sucesso. Caixa postal. Jungkook tentou de novo.

Por que ele não estava atendendo?

Um arrepio subiu-lhe à nuca e a sensação de estar sendo observado veio. Apreensivo, olhou ao redor novamente. A rua sem movimentação alguma com poucas casas na vizinhança, seu olhar foi parar naquele sedã na descida da rua. Branco. Parecia ser um Mercedes Maybach S550.

Tinha alguém lhe olhando. Manteve o olhar na direção do carro e encarou de volta para deixar claro. A quem quer que fosse, Jungkook expôs que sabia da presença. Guardou o celular no bolso e intensificou o olhar, pensando se deveria ir até lá.

Dentro do veículo, as unhas pintadas de tom borgonha batucavam sob o próprio cotovelo em meio aos braços cruzados acima do blazer da Prada. Uma sensação indescritível aflorava, adrenalina mesclada à ansiedade.

Poucas coisas eram capazes de deixar uma mulher fria e racional como Choi Sang-a, ansiosa.

Ser observada de volta porque ele queria a todo custo enxergar através dos vidros fumês e blindados do carro, era divertido. E extasiante. Mesmo à distância, sem se expor apesar de ter se arrumado toda, estava extasiada em revê-lo. Sang-a sempre amou aquele olhar impassível que ele carregava no rosto desde pequeno.

Como uma das únicas características herdadas de si, para além da beleza, inteligência e genialidade, de todas aquela era sua favorita.

Mas como mãe, também ama todo o resto. A expressão indiferente, o olhar frio e ferino, a personalidade selvagem.

Continuou a observá-lo, admirando a postura prepotente, sem se deixar intimidar, assim como a súbita determinação adquirida. Ele começou a caminhar em sua direção e antes que Sang-a pensasse em algo, faróis apontaram na rua e um carro surgiu a toda velocidade.

Em um reflexo ágil, a chave na ignição foi girada e uma expressão assustada cruzou o rosto da mulher que também pisou fundo no acelerador sem nem pensar duas vezes.

Jungkook estava prestes a ir até o carro quando ouviu o motor ser ligado, mas a luminosidade dos faróis não veio apenas de baixo, mas de cima também.

O rugido de um motor vibrou pela rua, mas não era o da Mercedes. A tensão se elevou assim que Jungkook se deparou com um segundo sedã, preto, que surgiu descendo a rua a todo vapor. O som do motor desconhecido acelerando, quando as rodas dianteiras foram giradas e o ronco da aceleração estalada da Mercedes, ressoou.

Jungkook arregalou os olhos assim que se viu no centro de uma verdadeira encruzilhada. Com faróis apontados para si dos dois sentidos da rua e dois carros vindo em sua direção à toda velocidade.

⸸•💀•⸸

Na mesa de sinuca, Jimin e Taehyung conversavam quando os dois homens se aproximaram.

O Park arqueou as sobrancelhas e Taehyung também ficou à espera de Mingi e Yunho dizerem algo. Mas eles pareciam com medo de até mesmo abrir a boca.

— Chefe, precisamos falar com o senhor. — Yunho tomou a coragem de se pronunciar e Jimin sorriu para Taehyung, colocando uma mão no ombro dele em um sinal de que voltava depois, indo até a mesa onde seu irmão e o brasileiro estavam.

A postura imponente, Taehyung cruzou os braços com um olhar exigindo que os dois agilizassem.

— Mingi, Yunho, existe algum problema?

— Não exatamente, sr. — Mingi olhou para o amigo.

— Não exatamente? Então, o que precisam falar comigo?

— Se o sr não se importar, talvez fosse melhor um pouco mais de privacidade.. — Yunho pediu.

— Tudo bem — Taehyung concordou insatisfeito. Não estava gostando daquele mistério, mas suspirou fundo, alcançando o copo de uísque sob a mesa de sinuca e virando o restante do álcool antes de sair na frente.

Mingi e Yunho o acompanharam e saíram para fora, na área aberta do bar no terraço. E em silêncio, diante do parapeito, esperaram o Zdanov acender um cigarro.

Taehyung tragou, soprando a fumaça para o alto antes de virar-se para encará-los, mensurando que fossem em frente e falassem.

— Chefe, o sr não me deu atenção em nenhuma das vezes que tentei falar com você. Mas nós precisamos te contar o que descobrimos.

Taehyung olhou de um para o outro em questionamento, retornando o cigarro para a boca.

— O sr nos mandou pesquisar sobre ele..

— E pelo que me lembre, você disse que não encontrou nada — Taehyung ergueu as sobrancelhas, impaciente. — Não foi, Yunho?

— Sim, mas é que.. — o Jeong esfregou as mãos suadas na calça, sentindo-se nervoso. — Não encontramos nada sobre ele, mas..

— Mas o que?

— Chefe — Mingi tomou a iniciativa de se pronunciar e Taehyung imediatamente o olhou. — Nós não encontramos o que o sr poderia querer saber quando nos mandou pesquisá-lo, mas descobrimos que ele está relacionado com a Sergeyev.

À primeira instância, logicamente, Taehyung não entendeu. Para si, foi a coisa mais confusa já dita e até achou que eles estavam enganados. Talvez fosse sobre a Sunrise, mas eles pareciam sérios demais.

— Relacionado com a Sergeyev? — soprou a fumaça.

— Sim, com a Sergeyev. — Yunho confirmou.

Certo. Jungkook estava relacionado com a Sergeyev.

— Como?

— Então, sr.. — de novo, o Jeong começou a fazer rodeios, esfregando as mãos ansiosamente na calça e isso sendo quem mais queria contar.

— Ele foi prometido a Sergeyev. — Mingi revelou.

Taehyung não acreditou no que ouviu. Do que Mingi e Yunho estavam falando?

— Prometido a Sergeyev?

— Sim, sr. O pai dele o prometeu à máfia.

— De que merda vocês estão falando? — exclamou — Jungkook foi prometido?!

— Sim. — Yunho confirmou e tomou a coragem de expor: — E nós temos a prova, chefe.

— A prova..? — mais um baque. Taehyung olhou-os seriamente. — Que prova?

— Um documento — Mingi disse. — Assinado pelo pai dele e pela madame Yun validando a promessa.

— Como, caralho?! E por que, porra?

— Porque.. — Yunho se desesperou. Não sabiam o porquê. — Nós não sabemos, sr.

As dívidas, os empréstimos. Os homens estranhos que Jungkook disse que começaram a aparecer na oficina. Puta merda.

— Foram dívidas?! O pai dele devia dinheiro à Sergeyev? — exclamou. — Mas como eu nunca fiquei sabendo disso?!

— O que acontece é que pelo que pudemos perceber, parece ter sido um acordo apenas entre eles.. — Mingi comentou.

— Um acordo apenas entre eles?

— Sim, acreditamos que o sr Jeon tenha sido próximo da madame Yun. — complementou e Taehyung ficou ainda mais chocado. Não era possível.

Não. Se recusava a acreditar.

Jiyeon e o pai de Jungkook assinaram a porra de um documento. Uma promessa. O pai dele o prometeu à Sergeyev.

E não, não podia ser. A treinadora de Jungkook. Caralho.

Taehyung virou-se de costas, e as mãos fortes agarraram a cerca do parapeito. O cigarro queimando entre os dedos da destra, uma sensação arrebatadora de abalo lhe tomando conta. Não.

Como não interligou?

Como não percebeu?

E como não lembrou, porra?

Jiyeon estava dando aulas de MMA. Na porra de uma academia.

A merda da academia que bisbilhotou algumas vezes porque na época que descobriu que ela era sua mãe e logo depois ela sumiu, obviamente, ainda quis vê-la. Mas nunca cara a cara, então deu seu jeito de encontrá-la. Foi atrás dela e descobriu que ela dava aulas.

Sua mãe vivendo normalmente e ensinando outras crianças a se defender. Enquanto Taehyung foi deixado de lado, apanhando de Sooman sem ter nem como se defender.

A verdade era que, sinceramente, nunca conheceu sua mãe, assim como ela também não lhe conheceu.

Era absurdo, mas não estava errado. Era ela. A treinadora de Jungkook e a amiga do pai dele, era Jiyeon.

O coração acelerado batendo à garganta e a respiração descompassada de puro nervoso, Taehyung respirou fundo, levando o cigarro de volta à boca. E fumou para tentar se acalmar. Não estava acreditando. Jiyeon fez um acordo com o pai dele. O pai de Jungkook o prometeu à máfia, certamente como pagamento de dívidas. Para solucionar os empréstimos, ele prometeu Jungkook.

E Jiyeon, caralho. Como Jiyeon pôde fazer algo assim quando conhecia os dois?! O que ela estava pensando?

A história que Jungkook contou semanas atrás, pairou em sua mente conturbada. O casamento dos pais dele acabou por causa da mulher que o pai dele era amigo, a irmã de um camarada do exército.

Porra, seu tio. Ele fez parte da Força Aérea. O irmão mais velho de Jiyeon, Yun Hayeon.

Caralho, como foi tão idiota? Como não interligou nada? Nenhuma das coincidências. O pai de Jungkook conhecia sua mãe, conhecia seu tio. Desde sempre, há mais de vinte anos atrás.

— Senhor.. — Yunho chamou incerto do que o homem ali estava enfrentando, podiam o ver agindo de forma incomum.

Então, o pai dele estava envolvido com Jiyeon e com a Sergeyev. Os trabalhos que o pai de Jungkook fazia saindo de madrugada e voltando horas depois, foram para a Sergeyev. Ele matou pessoas. E para isso, tal específico envolvimento com a máfia, ele só podia ter sido um assassino.

Taehyung estava enlouquecendo e foi ainda pior se lembrar de outra coisa. Ainda mais aterrorizante.

Por causa de tudo, a morte do pai de Jungkook também teve a ver com a Sergeyev, puta merda.

O cigarro nos lábios, Taehyung apoiou os cotovelos na barra do parapeito e levou as mãos aos cabelos, agarrando-os com força. Como iria contar a ele?

Para além de lidar com isso por conta própria, como iria contar a verdade a Jungkook?

Não suportaria, Taehyung se recusava a aceitar.

Atordoado lidando com mais merdas, sem conseguir se recompor ou organizar os pensamentos, o celular começou a tocar.

Taehyung deu uma última tragada no cigarro e soprou a fumaça, lançando-o ao chão, pisando para apagar. Pegou a bituca prestes a voltar para dentro para jogar fora, quando nervoso, Yunho se dispôs a fazê-lo por si. Viu os dois aproveitando para também se acalmar, longe de si, então pegou o celular que tocava e sem cabeça para atender, ao menos se certificou de quem estava ligando.

Seu coração voltou a acelerar. Merda, era Jungkook.

Se ele quisesse se encontrar, Taehyung não tinha certeza se conseguiria. Tudo estava confuso demais e já sabia o que acabaria fazendo.

Atormentado com a ideia da Sergeyev ser culpada da morte do pai dele. Mais do que o fato de ele ter sido prometido à máfia, o que implicaria no fato de que Jungkook deveria estar servindo-a. Mataram o pai dele. Na frente dele.

— Porra. — xingou. Não conseguia atender. O celular continuou tocando em suas mãos, até que por fim parou. — Mecânico.. — mais uma vez, Taehyung voltou a agarrar a barra do parapeito, sentindo-se tão nervoso e ansioso que suas vias aéreas se fecharam. Respirava, mas o ar não conseguia chegar aos seus pulmões. E essa sensação, somada ao aperto no peito, era sufocante.

Algo muito ruim acontecia dentro de Taehyung. Estava sendo obrigado a aceitar uma realidade dolorosa.

Talvez não fosse para ser. Por isso o destino fez Jungkook escapar de si tantas vezes.

Mais de uma vez ele escapou de suas mãos como areia no deserto e Taehyung não achou que tivesse motivo, mas estava errado. Sempre teve. Não só não tinha como darem certo, como deveria saber muito bem que acabaria o destruindo. Não mais falaram disso, mas possivelmente já o destruiu. Taehyung não tirava da cabeça que o que Jungkook passou na CIA foi por sua causa. Que alguém estava tentando usá-lo para lhe atingir. Alguém que almeja sua ruína.

E se tivessem encontrado o amor em um lugar sem esperança?

Não suportaria. A ideia de desapontar Jungkook e tê-lo lhe odiando quando o amava tanto era insuportável.

Esconder a verdade nunca foi uma opção antes, porque Taehyung odeia mentiras e repugna segredos. Mas talvez tivesse de engolir esse ódio e repugnância.

Talvez tivesse de guardar um segredo.

⸸•💀•⸸

O perigo diante de seus olhos, a cegante luz dos faróis apontados para si, se aproximando com velocidade.

O som das acelerações ecoou dentro de sua cabeça, como um sinal de alerta. Mas Jungkook não conseguiu se mover. Sentiu o corpo todo travar.

O sedã preto desceu a rua em questão de segundos, sem demonstrar intenção alguma de desacelerar e o sedã branco ganhou vida. O choque seria inevitável e dois corações aceleraram em sintonia com os motores, quando a buzina estridente da Mercedes soou, lhe fazendo pensar rápido. E mesmo em choque, em um movimento instintivo, Jungkook se afastou, saindo do meio do caminho. Mas não foi o suficiente.

O sedã preto, determinado, também girou as rodas para o lado, acelerando em sua direção. Sem saída, seu rosto encheu-se de terror diante da aproximação imparável, e Jungkook ergueu os braços numa falha tentativa de se proteger. No último momento, a Maybach branca reagiu rapidamente, se lançando à sua frente.

O som agudo dos pneus em atrito com o asfalto decorrente das freadas bruscas, ressoou em meio a um estrondo quando os carros se chocaram.

Atordoado com o coração disparado dentro do peito, a pulsação batendo desesperada na garganta em meio à sensação de um medo descomunal, Jungkook manteve as mãos à cabeça, tentando se proteger.

As laterais dianteiras dos sedãs se encontraram com força em uma inevitável colisão. Jungkook foi protegido pelo sedã branco. A Mercedes se jogou à sua frente, servindo de escudo para impedir o sedã preto de lhe atingir.

Em choque, Jungkook ergueu o olhar assustado, observando com olhos arregalados a proximidade dos carros batidos. O corpo tenso e a respiração descompassada de nervosismo ao perceber o quão perto estava dos carros. Foi por um triz. Deu um passo para trás, quase vacilando, as botas pisaram sob fragmentos de vidro. E sem tempo de reagir, no instante seguinte, o sedã falhando na missão, dá marcha à ré, se afastando com velocidade.

A manobra habilidosa explicitou uma intenção desesperada de escapar, e o som de pneus cantando voltou a preencher a rua.

Jungkook, ainda sem reação alguma, assistiu o sedã preto desaparecer tão rapidamente quanto surgiu, deixando para trás pedaços de lanterna e metal.

Que merda havia acabado de acontecer? Quem dirigia aquele carro não teve intenção de desviar, foi de propósito. Jungkook era o alvo, tentaram lhe matar. A placa, porra. Rapidamente se recompôs, olhando para a direção em que o veículo foi, mas sem chances. Estava tão nervoso que também não conseguiu identificar o modelo. Quase foi atingido. Desviou, mas não adiantou. Escapou por pouco, por causa da Mercedes.

Jungkook foi rápido em olhar para o carro que continuava ali, cujo lado direito do para-choque dianteiro foi intensamente amassado e os faróis piscavam sem parar.

Dentro da Mercedes, o rosto da mulher exibia sinais do medo avassalador que tomou conta. Com as mãos trêmulas, Sang-a buscou apoio no volante, tentando recuperar a compostura. E apesar do susto, uma chama de determinação se acendeu em seus olhos. Seu rosto, até então abalado, refletiu uma fúria incontrolável. Quem foi o desgraçado que fez isso? Apertou firmemente o volante, as falanges ficando esbranquiçadas, conforme levou o olhar à direção dele.

E para a surpresa de Sang-a, seus olhos se encontraram.

Sentindo a gravidade da situação, aliviada de não ter pensado duas vezes em intervir e aterrorizada por conta de como tudo poderia ter terminado de forma diferente se não tivesse reagido rápido.

Olhando nos olhos dele e sendo olhada de volta, a mulher sentiu um nervosismo maior. Sempre teve duas dúvidas:

Ele se lembrava?

E ele sabia?

Ao vê-lo prestes a dar um passo em sua direção, Sang-a impulsivamente voltou a acelerar o carro e em um movimento brusco, tendo se certificado de que ele estava bem, manobrou a Mercedes batida numa destreza surpreendente, desviando do homem. E sem perder tempo, seguiu seu próprio caminho, determinada em ir atrás daquele que ousou tentar acertá-lo em sua frente.

Sendo deixado para trás, no meio da rua agora vazia, Jungkook começou a andar de um lado para o outro, nervoso. A mente a mil, seus olhos assustados e inquietos miravam ao redor.

Foi Sangwoo. Ele mandou fazerem isso para lhe dar um susto.

Jungkook se enfureceu. Não era para ter travado daquele jeito. Não estava com medo, foi só uma reação ao perigo, um instinto natural. Se ao menos seus reflexos não tivessem falhado e tivesse ficado parado como um idiota. Era para ter reagido. Imediatamente. E não ter ficado à espera da buzina. Muito menos recuado apenas alguns passos achando que fosse ser o suficiente.

A vontade de voltar para dentro daquele restaurante no mesmo instante e fazer o que não fez, era grande. Mesmo com a oportunidade, foi idiota e não arriscou. Deixou passar. Devia ter enfiado aquele pedaço de jarro na garganta do velho, mas não.

Hesitou por querer entender o sentido de tudo.

Por querer confirmar sua suspeita da relação de Sangwoo com a Sunrise.

Saber a razão de ele querer destruir Taehyung.

E se certificar de quem mais estava naquela história, porque era óbvio que tinha mais alguém com ele. Obviamente o desgraçado não estava sozinho. Não tinha como estar.

As mãos fechadas em punho, passado o perigo, com um semblante indiferente e rancoroso, Jungkook olhou para a construção. Raiva e ódio lampejavam em seus olhos, cogitando uma única possibilidade. Acabar com tudo de uma vez por todas.

Sem se importar se iria se machucar ou não. Sem dar a mínima se podia morrer ou não.

Não sabia por que estava pensando duas vezes se nunca se importou. Já sofreu tanto, enfrentou tanta coisa, tantos perigos, que a ideia da morte não lhe trazia medo.

Foda-se se Sangwoo tinha ou não um cúmplice. Se ele estava com a Sunrise ou não. Dava conta. E Minjae, Jungkook foderia ele outra vez.

Dessa vez ele não escapava. Seria certeiro em matá-lo. Afinal de contas, eles eram o problema. Os malditos Choi.

Jungkook tinha um olhar excessivamente frio no rosto quando deu o primeiro passo. Os punhos foram ainda mais apertados e a ardência na palma direita que se esfregava contra o tecido do lenço, imperceptível. Cego de raiva, apressou os passos, atravessando a rua criando também certo impulso, erguendo o punho direito e esmurrando o vidro.

A força do primeiro impacto foi tanta que rendeu intensas rachaduras no vidro não blindado. Desferiu outro soco, quebrando-o ainda mais. Jungkook ergueu o punho mais uma vez, dando o último murro, terminando de estilhaçar a janela de um dos furgões. Olhou para a mão que acabava de ficar ainda mais machucada e arrancou o lenço ensanguentado, jogando no chão. Esgueirou-se para colocar o braço para dentro, abrindo a porta do motorista e dentro do carro, pressionou o botão que abria as portas automáticas e também o porta-malas. Jungkook saltou do banco, a canhota apertando o punho da direita, medindo o pouco de dor que sentia e parou diante da porta de trás aberta. Dois Hyundai H1 de nove lugares.

Embaixo do banco do motorista, encontrou algo útil e decente que poderia ser usado para destroçar algo.

Soltou a mão machucada e sem expressão no rosto, pegou o bastão de ferro. Jungkook recuou alguns passos, e por cima dos ombros, olhou para a hanok e depois para o sedã.

Com o resquício de calma que tinha, pegou o aparelhinho no bolso e curvou-se diante da traseira do furgão, encaixando no chassis. Iria descobrir onde aqueles ratos se escondiam. Tirou o celular do bolso para checar se estava conectado e operando. Feito.

Estalou o pescoço, movendo os braços ao decidir seu destino. Jungkook tranquilamente se aproximou do veículo premium, e apoiou a mão livre no Gênesis G90, erguendo a primeira perna, impulsionando o corpo para subir em cima do carro. Pisou na lataria do capô e andou até o meio, onde ajustou a postura, equilibrando-se. E empunhando o bastão de ferro, mirou o parabrisa, acertando-o uma primeira vez.

Estilhaços de vidro voaram, reluzindo sob a luz dos postes, espalhando-se pelo asfalto como mais uma constelação de fragmentos.

Toda força era depositada nos braços fortes, os músculos enrijecidos, apertando a haste da ferramenta, golpeando sem parar, destruindo todo o vidro. O brilho metálico do bastão de ferro cortava o ar à medida que era levantado e em seguida, violentamente descarregado sobre o veículo. O som de metal contra metal voltou a preencher a rua, uma barulheira perturbadora. Jungkook estava descontrolado, possuído por ira.

A porta de uma das salas foi aberta e três homens que desfrutavam do jantar, saíram para fumar. Aos risos, seguindo em direção à saída do estabelecimento, já acendendo seus cigarros quando se depararam com a cena.

Jungkook extravasava toda sua raiva destruindo o carro de Sangwoo quando sua real vontade era de estar usando aquele bastão de ferro para espancá-lo até a morte. Mas como não podia, estava funcionando. No mínimo, para aliviar a raiva. E evitar a si mesmo de fazer a burrada de voltar para dentro daquele restaurante para matá-lo sabendo que antes teria de enfrentar no mínimo vinte caras. Não que esse fosse o problema.

Era loucura, mas Jungkook era louco. Não se importava, por si mesmo, não dava a mínima. Se continha porque não se tratava sobre não querer se machucar, mas por Sangwoo ser podre. Ele sabia que David estava na Coreia e ele ameaçou seus amigos.

— Ei! — alguém gritou, interrompendo sua intenção de continuar martelando o teto e Jungkook olhou para a entrada do restaurante.

Até que enfim. Vendo três indivíduos vindo em sua direção, Jungkook afastou o pé que pisava na armação do teto do carro, o parabrisa já destruído, e andou até a beirada, saltando do capô. Sem demonstrar reação alguma no rosto, aquela sendo a exata expressão que costumava carregar até pouco tempo atrás; a de um soldado imbatível.

Impaciente com a demora dos idiotas em atravessar a rua, Jungkook testou sua força outra vez e com o bastão, acertou a lanterna dianteira do Hyundai.

— Ficou louco?! — um deles exclamou, apressando a caminhada.

Jungkook observou-o se aproximando, e permaneceu parado até o último instante para se esquivar do ataque. De propósito. Com agilidade, agarrou o braço que foi estendido numa tentativa de arrancar o bastão de suas mãos e puxou o cara com força, jogando-o contra o carro. E ainda segurando o braço dele, Jungkook virou-o para trás na intenção de quebrá-lo, mas de relance viu os outros dois vindo. Rapidamente soltou-o para desviar e com um dos dois passando por si sem conseguir lhe alcançar, com o bastão de ferro Jungkook acertou-o na parte de trás de um dos joelhos e no outro que vinha logo atrás, abaixou-se abruptamente para desviar do soco, acertando o bastão na barriga dele.

O sangue fervia, esquentando sob a pele junto da vívida e entorpecedora sensação. Adrenalina do tipo que Jungkook já não sentia há um tempo.

Tendo desnorteado os dois, não deu atenção ao primeiro e antes que pudesse relacionar, esquecendo-se do mais importante "não pensar, só reagir", sentiu um braço envolver ao redor de seu pescoço por trás.

Jungkook sorriu assim que ele tentou ser rápido, para ao menos conseguir encaixar o braço e tentar lhe estrangular, mas conseguiu inclinar-se para baixo, bloqueando o golpe, não o deixando encaixar o mata-leão. Segurou com força nas mãos alheias e com o antebraço do homem por de cima de seus ombros, puxou-o para baixo, com tudo, escutando o estalo do osso se quebrando. Ele gritou de dor e grunhiu ao ser lançado com força ao chão. Jungkook ainda usou o bastão para dar uma marretada na mão dele, erguendo o olhar em um reflexo rápido para desviar de outro soco.

Não tinha como evitar. No fundo esse tipo de coisa o extasiava e o fazia sentir vivo. Quando lutava, Jungkook se sentia no auge. Todo seu corpo reagia aos estímulos, era eloquente e prazeroso. Bater, socar e desviar. Com exceção de estar em desvantagem. Isso não era bom, mas longe de ser ruim. Porque era isso que despertava o melhor de si.

Estar em muita desvantagem foi o que fez Jungkook ir ao máximo. Chegou a um limite que até pouco tempo atrás, sequer sabia da existência.

Aqueles eram os homens de Sangwoo, possivelmente membros da Sunrise. Que piada.

Foi um pouco mais lento de propósito para receber pelo menos um soco. Ah, caralho, até que ele sabia socar. Com o olhar frio, encarou o homem que teve a chance de socar sua cara e até ele se assustou quando Jungkook sorriu, cuspindo no asfalto.

O gosto ruim do sangue na boca, esfregou a língua pelo piercing para se certificar de que não rasgou o lábio. O sorriso morreu à mesma velocidade que nasceu, assim que pendeu o pescoço para o lado, olhando-o friamente antes de avançar para devolver com o dobro de força. E de soslaio, viu mais homens saindo do restaurante. Com um sorriso divertido no rosto, Jungkook ergueu os dois punhos em defensiva, os bíceps fortes enrijecidos estavam sufocados na manga da camiseta. A tensão acumulada, seus olhos faiscavam em uma mistura de crueldade e selvageria, imerso na briga como um cão faminto.

Seus movimentos eram fluidos, combinando agilidade com força bruta. Cada soco e esquiva expunham uma destreza fenomenal. Havia certa beleza na maneira como Jungkook se movimentava. A luta era o que o conectava com seu instinto mais primitivo, revelando também seu lado mais sombrio. Para Jungkook, lutar sempre foi mais do que um meio de aliviar a tensão.

Como um predador habilidoso, tecendo uma dança mortal, seu olhar se tornou ainda mais frio quando o homem se levantou, voltando a se colocar à sua frente, na defensiva.

As sobrancelhas arqueadas em desdém e o sorriso ladino o fizeram dar para trás, logo quando ele estava prestes a tirar a faca do coldre.

A respiração pesada com suor escorrendo pelo rosto, o rasgo na camiseta revelando um corte que não conseguiu desviar, sangue vazando e escorrendo por seu braço. O de menos, um corte aqui ou ali não doía. Não quando estava tão imerso na sensação, entregue ao intenso esforço físico, o olhar ansioso vendo mais oponentes surgindo.

Se movendo com uma graça surreal, em algum momento, realizou como estava em desvantagem e só usar seus punhos pegaria mal. Deixando o orgulho de lado, Jungkook pegou os canivetes e com um sorriso divertido no rosto, abriu-os sob o olhar de dois homens. O brilho metálico refletido das lâminas limpas e reluzentes, se ofuscou assim que se mancharam de sangue ao rasgar os primeiros pedaços de pele.

Sentiu respingos atingindo-lhe, contudo, constatou que certamente não vinham da faca militar que havia acabado de cravar na mão do cara. O grito esganiçado preencheu a rua e em meio ao caos, Jungkook parou por um momento, erguendo o olhar frio para o céu.

As gotas frias começaram a salpicar seu rosto suado, e a chuva veio como um presente inesperado, o envolvendo em uma sensação de alívio, moderando o intenso frenesi em que estava imerso.

Jungkook voltou a dar atenção à figura ali, não hesitando em de uma só vez, puxar a faca da mão dele, e agora sim as gotas que espirraram em seu rosto, foram gotas de sangue.

Se viu obrigado a passar a falange do dedo para limpar, e rapidamente virou-se, pressentindo outro ataque por trás.

A chuva começou a cair pesada, abafando os gritos e grunhidos. Trovões barulhentos e relâmpagos estalando pelo céu, com clarões piscando como holofotes, centralizando o campo de batalha instalado no meio da rua.

A verdadeira natureza de Jeon Jungkook era brutal.

⸸•💀•⸸

Taehyung precisou de uma dose da bebida mais forte que tinha no Slow Dancing. Sentado no bar, se encontrava em um estado deplorável. Mal acreditava em si mesmo.

Ignorou a ligação de Jungkook quando estava morrendo de preocupação com ele.

Ignorou para cinco minutos depois ligar de volta e ele não atender de novo.

O quão idiota estava sendo? Que merda estava acontecendo? Não bastava estarem se ver, não podiam se afastar.

Taehyung não podia se deixar ser abalado pela verdade que descobriu, mas era muito mais fácil falar do que fazer.

A dose de uísque foi estendida em sua direção e, em um meneio, agradeceu ao barman. O olhar caiu sob o documento acima do balcão, a prova. Em detalhes, assinado por Jiyeon e Jeon Seungheon.

Caralho, que merda fodida.

Taehyung passou a mão pelos cabelos, apoiando os cotovelos sob a superfície do balcão, atordoado. Estava hesitante em beber, porque muito logo não iria conseguir parar. Seu subconsciente enviava as coordenadas de onde encontraria algo útil capaz de amenizar o maldito sufoco que estava sentindo. Só uma pílula, só algumas carreiras.

Estava tentando de tudo, se controlando para não se deixar levar. Para não se acabar de beber e se drogar.

Nem mesmo o mais suave jazz de todos, era capaz de acalmá-lo. O cigarro não fazia mais seu papel há séculos. Precisava de algo mais forte. Era só jogar uma pílula dentro do copo.

Taehyung tirou o porta-cigarros do bolso e abriu, encarando os cigarros junto de dois saquinhos. Seu dedo passou pelo primeiro deles, o com o pó branco e cristalino, e depois pelo outro repleto de pílulas coloridas. 

Porra, se fosse cheirar cocaína, teria que ir para outro lugar.

Então, por facilidade, escolheu fentanil, jogando o comprimido dentro do copo para rapidamente levá-lo até a boca.

Prestes a partir os lábios para virar a dose de uma só vez, o celular voltou a tocar. Taehyung parou, não chegando a beber um gole sequer. Idiota do caralho. Isso não resolveria nada. Independente de tudo o que estava passando, ver que era Jungkook de novo, lhe fez levantar às pressas, buscando privacidade. E atendeu o mais rápido possível, engolindo a seco para respirar fundo. Puxou o ar uma, duas, três vezes e se recompôs para no mínimo parecer normal. Estava tudo bem.

Taehyung..

— Mecânico, está tudo bem? — Taehyung se preocupou, não gostando de como a voz dele soou do outro lado da linha. Não era impressão sua e o silêncio dele confirmou.

Será que você pode vir aqui?

— Onde? — indagou imediatamente subindo as escadas de volta para o terraço do bar pegar seu paletó — Onde você está?!

Bonitão.. eu tô no hospital.

Taehyung parou diante do sofá, sem saber o que pensar. Ele estava no hospital.. Jungkook se machucou?!

— No hospital?! — exclamou pegando seus pertences, e tão rápido quando entrou, se dispôs a sair. — Mecânico, o que aconteceu? Por que você está no hospital?! Eu estou indo pra aí agora.

Jimin estava distraído conversando e bebendo com David, Yeonjun e Mingyu quando viu o homem entrando às pressas. Taehyung estava no telefone e ele foi até o sofá no fundo, voltando prestes a sair de volta, desesperado.

— Eu já volto. — Jimin se levantou e se apressou em alcançar o homem na saída do terraço. — Tae, espera!

Taehyung virou-se abruptamente, assustado.

— O que foi? O que aconteceu, Tae? — Jimin exclamou vendo o quão nervoso ele estava.

— O mecânico.. — Taehyung sentia um nó na garganta. — Ele está no hospital.

— O Jungkook está no hospital?! — Jimin exclamou assustado, sendo fo bastante para todos ouvirem.

Mingyu se levantou da cadeira e Yeonjun soltou o copo com mais um coquetel de procedência duvidosa que Bada havia feito e David, olhou de um para o outro confuso, pensando no que havia acabado de ouvir. O nome do João? Hoseok olhou para Jinhyeong, que também não conhecia o mencionado. E num canto, Mingi e Yunho pararam de conversar.

— Eu vou com você — Jimin pegou o casaco pendurado.

Taehyung assentiu em um meneio e sem tempo a perder, saiu às pressas. Desceu as escadas e atravessou o térreo do Slow Dancing. 

Jungkook estava no hospital. Porra, e se ele tivesse ligado por que estava em perigo? 

❰🍸❱
PREVIEW EP. 25

— Nesse momento tudo fez sentido. A maneira como ela sempre perguntava não só do Jungkook, mas do Seungheon.. se ele estava feliz. Eu não suportei mais olhar para o Jungkook quando descobri. Eu comecei a ver a Sang-a nele.

— Mãe, ele era só uma criança e ele nunca teve culpa de nada disso! 

❰🍸❱

 hj tbm teve coisa demais racha, confusão, desespero, ciúmes, quase atropelamento, porradaria.. o jk em ação

🚗🔎carros que apareceram nesse cap

o dodge charger SRT hellcat do taehyung

o aston martin dbs superleggera do yoongi

mercedes maybach s550 da sang-a

o gtr r35 nismo do racha

espero que tenham gostado, até a próxima!

beijos, fui ❤️🚗💨

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