Para o meu pesar, eu tive que esperar do lado de fora enquanto Flora e Lucca foram ir ao bebedouro. Não queria sair antes de ver Apolo. Para minha infelicidade, o Theo foi o primeiro a sair da sala do diretor, com apenas um pano no rosto, onde mais havia sangrado. Ele me encarou e eu o encarei de volta, arqueando a sobrancelha.
— O que você fez? — Perguntei franzino o cenho.
— Eu não fiz nada, apenas revidei — Ele respondeu, ríspido.
— Filho, você está bem? — Um homem de terno de meia idade apareceu próximo de nós com a feição preocupada, colocando a mão no rosto de Theo analisando bem a face.
— Tô, pai — Ele resmungou tentando tirar o rosto da mão.
— Que merda você se meteu dessa vez em? Diretor me ligou de novo sobre suas barbaridades. Dessa vez foi o cúmulo! — O homem reclamou, mudando o tom.
— Não é um bom cenário pra dar broncas agora — Theo olhou para mim e seu pai seguiu o olhar.
Ambos não eram muito diferentes, Theo tinha os olhos esverdeados iguais aos do seu pai. Alguns detalhes viris do rosto, principalmente a mandíbula, eram idênticas.
— Essa é a Anelise — Theo apresentou, me fazendo franzi o cenho com aquelas palavras.
— Bem, é um prazer conhecê-la Anelise. Sou o Rodrigo — Ele disse estendendo a mão e eu estendi de volta com o olhar desconfiado.
— Digo mesmo — Apertei a mão, balançando.
— Você me parece com alguém familiar — Ele disse com os olhos fixos em mim. Arqueei as sobrancelhas um pouco curiosa.
— Ela veio do Maranhão, pai. Para de achar tudo familiar. — Theo reclamou.
— Você é o Theo? — Uma mulher apareceu do nada, vestida com roupas brancas.
— Sim.
— Me acompanhe até a enfermaria — Ela disse caminhando na frente e Theo felizmente seguiu atrás.
Eu encarei o senhor ao meu lado com a sobrancelha arqueada.
— Olá, senhor. O diretor pediu para esperar um pouco aqui, ele já está terminando de falar com o Di Angelis — A coordenadora falou. — Enquanto isso, aceita um café?
— Aceito.
Eu revirei os olhos com tanta formalidade. Era notório que na escola alguns tinham seus privilégios e tratamentos melhores, no entanto, eu não conseguia disfarçar a minha cara de insatisfação. Eu dei graças à Deus por Apolo ter saído alguns minutos depois, o silêncio que nos inundou era constrangedor na sala de espera. Ele ainda estava sangrando.
— Apolo — Eu me aproximei dele e o mesmo me encarou surpreso — Tem que ir na enfermaria.
— É melhor ir mesmo, lá vai se recuperar melhor, senhor Di Angelis. Se puder, acompanhe ele, senhorita — O diretor falou — Agora nós podemos conversar, senhor Roccato — Disse diretamente para o Rodrigo.
Apolo limpava o sangue que insistia sair do seu nariz enquanto Rodrigo entrava com o nariz empinado na sala do diretor.
— O que você ainda faz aqui? — Ele franziu o cenho, já que essa altura a maioria dos alunos tinham ido para casa.
— Tava esperando você — Falei passando a mão pelo o seu queixo e o puxando para analisar os machucados. Vi os olhos de Apolo pararem de piscar por alguns instantes e ele ficar rígido, parecendo surpreso.
— Nossa, é melhor você ir pra enfermaria, isso tá feio — Lucca apareceu com Flora ao lado.
— A gente espera vocês aqui — Flora falou com um pequeno sorriso — Eu aturo o Lucca por mais alguns minutos.
— Eu que tenho que te aturar — Lucca retrucou.
E do nada eles começaram a trocar algumas palavras ofensivas, enquanto eu e Apolo nos olhávamos entendendo aquela situação de outra maneira. Suspirei e peguei Apolo pela mão, arrastando até a enfermaria. Para nossa infelicidade, demos de cara com Theo que estava com alguns curativos e o rosto limpo, no entanto, ambos garotos ficaram apenas se encarando com seriedade antes de entrarmos.
A mulher começou a limpar alguns pontos do rosto de Apolo, ele se esquivava algumas vezes por conta da dor e da presão que o algodão fazia. Eu pude notar algumas vezes seus olhos azuis presos em mim enquanto isso, me analisando com um certo brilho no olhar. Me fazendo sentir intimidada, causando um certo arrepio na espinha.
Depois que tudo havia sido feito, me aproximei do loiro que se levantou.
— Fiquei preocupada, espero que não tenha problemas com seu pai — Disse temendo.
— Fica tranquila, ele não tá na cidade — Falou com calmaria.
— Por que vocês brigaram? — questionei.
— Bom — Ele parou de falar pensativo, desviando o olhar —, começamos a discutir pela briga que tivemos na festa, ele tava doido pra revidar os socos que deu nele e também se irritou quando eu falei que tava cuidando de você muito melhor do que ele.
Eu franzi o cenho.
— Você disse isso?
— Disse.
Um suspiro saiu dos meus lábios.
Ego masculino.
A semana de prova foi muito corrida, me sentia nervosa cada vez fazia, no entanto, já estávamos nas férias de julho e eu estava finalmente livre da escola. Meu aniversário já era amanhã e no fundo eu sentia um pouco de animação, apesar de ainda me sentir um pouco triste com relação a Jade. Era difícil não me sentir triste cada vez que lembrava como nossa amizade havia terminado. Ela tentou manter contato comigo a semana toda, mas não era mais a mesma coisa.
— Seu aniversário é amanhã! — Flora apareceu sentado no sofá ao meu lado.
— Vai poder ser presa — Miguel soltou essa com um sorriso.
— Vai fazer 18 anos e agora que perdeu o BV — Flora falou provocativa.
— E você que ainda assiste o desenho da turma da Mônica — Miguel retrucou mostrando a língua.
— Sai daqui pirralho, aqui é conversa de gente grande — Minha prima pegou a almofada em mãos e jogou na cabeça de Miguel.
Miguel se distanciou da sala mostrando a língua.
— Como está se sentindo ultimamente? Um pouco melhor?
— Me sentindo meio anestesiada — Respondi sendo sincera.
— Aquela briga que Apolo e Theo tiveram foi feia. Nem acredito que Theo se irritou com que Apolo disse, pensei que ele era afim da Jade.
— Ele não gosta de ninguém, só gosta de ter todas as opções. A verdade é que ele e Jade se merecem porque ela não é muito diferente dele. — Suspirei.
— Bem, isso é verdade — Flora falou pensativa — Você e Apolo estão realmente namorando?
— Estamos.
— Não acho muito legal você namorar o Apolo depois de uma situação assim, pode ser ruim tanto pra você quanto para Apolo.— Ela realmente parecia preocupada com o lado embaraçado. — Sabe que você pode machucar ele e também se machucar.
— Eu sei, mas nos conversamos. Você sabe que eu até conheci a família dele.
— Na noite anterior em que você saiu com Theo. — Ela me encarou com desconfiança e eu fiquei em silêncio olhando para o chão — Isso não é do seu caráter, Anny. Eu não queria falar nada antes, na verdade ninguém aqui de casa queria, mas eu precisava entender essa situação. Tipo você sai com um garoto, beija ele na porta de casa e no outro dia você está sendo apresentada pra família de outro cara como namorada.
Isso virou uma bagunça.
— Eu sei que pode parecer confuso, mas um dia você vai entender.
— O que você tá escondendo de mim, Anelise? — Ela perguntou, realmente curiosa e preocupada.