Sábado estava mais próximo e eu me sentia cada vez ansiosa pelo o encontro, martelando a minha mente com pensamentos idiotas de como seria minha saída com Theo. Se ele realmente tentasse me beija como Lucca disse, eu estaria despreparada e provavelmente travaria, eu nunca tinha tido um encontro de verdade antes, nem ao menos sabia como me comportar.
"Mas como você vai fazer quando Theo tentar beijar você?"
Aquelas palavras se repetiam na minha cabeça como um disco ralado.
— Anny? Tá tudo bem com você? — Flora questionou enquanto me encarava com curiosidade, me tirando do transe que eu tava e lembrando que eu estava no refeitório da escola — Você mal tocou na comida.
— Sim, eu só fiquei um pouco distraída — peguei o copo de suco e tomei um gole.
— Ela anda bem distraída ultimamente — Lucca comentou com um sorriso perverso.
— Deve ter pegado isso de você — comentou Flora comendo o morango e suspirando com o sabor.
— Vem cá, me diz por que você não tá importunando seu namoradinho? — o moreno perguntou de maneira irônica.
— Talvez porque eu fico onde eu quiser — ela respondeu com um sorriso nos lábios.
— Gente, como foram o primeiro beijo de vocês? — perguntei tentando aliviar o clima.
— Bom, o meu foi horrível. — Flora disse dando de ombros.
— O meu também — Lucca comentou logo depois.
— Eu bati dente com dente e sai toda babada — Flora parecia estar odiando essa lembrança — Acho que ele queria me engolir ao invés de me beijar.
A risada de Lucca foi logo ouvida e eu acompanhei.
— O meu não foi muito diferente, mas a garota era gentil só que era muito lenta — meu amigo ao lado respirou fundo.
— Com quantos anos foi isso?
— 12 anos — Lucca falou baixo.
— 12? Você é precoce em — minha prima franziu o cenho.
— Vai me criticar por ter beijado cedo também?
E lá vamos nós de novo.
Meus olhos vagaram para o refeitório e lá estava Apolo, rodeado de algumas garotas que puxavam assunto sobre algo com ele. As garotas riam de alguma coisa que o loiro havia falado, entretanto, o mesmo parecia entediado e querendo terminar de comer. Eu estava apenas estranhando o fato dele nem ter olhado na minha cara, não acreditava que ele estava chateado apenas pela nossa conversa no celular.
Por que ele ficaria chateado? Eu estava fazendo tudo de acordo que ele queria.
E por que eu me importaria com isso?
Afastei meus pensamentos para longe, embora eu estivesse um pouco incomodada com o fato dele estar me ignorando.
Na sala não foi diferente, ele falou com Lucca e até mesmo com Jade, mas ignorou qualquer comentário meu. Meus pensamentos estavam divididos entre o encontro com Theo e o comportamento de Apolo.
"Peça a ele para te ensinar — aquela fala de Jade veio como um vislumbre de memória recente na minha mente."
"Eu não. É vergonhoso"
Era uma idéia esquisita e vergonhosa de se pensar ou propor, principalmente para uma pessoa como eu. Entretanto, eu me sentia desesperada e se eu tivesse alguém com experiência para me ajudar a me destravar em casos assim, talvez o meu encontro com Theo não seria um desastre, principalmente na parte do beijo.
Seria loucura? Sim, mas eu já fiz tantas esses últimos meses.
Me sentindo receosa demais por propor algo assim a Apolo depois de dizer que nem que me pagasse eu aceitaria um beijo dele. Eu poderia até pedir para Lucca me ajudar, mas ele recusaria por colocar nossa amizade em "risco".
Quando a aula acabou eu esperei nos corredores por Apolo, não demorou muito e ele estava acompanhado de Lucca. Ele notou minha presença, pela primeira vez o seu olhar sério foi lançado na minha direção e eu respirei fundo antes de me dirigir a ele.
— Preciso falar com você.
Ele parou próximo a mim e me encarou ainda com seriedade.
— Bom, eu tenho que ir — Lucca disse se afastando de nós.
— Sou todo ouvidos — era notório seu olhar autoritário trazendo uma certa intimidação.
Envolvi meus dedos em sua mão o puxando para um canto da escola mais reservado. Respirei fundo e voltei a encara-lo.
— Tudo bem, eu vou ser rápida — coloquei minhas mãos para trás e mordi o lábio inferior com força — Lembra quando tu falou que me ensinaria a beijar?
Ele franziu o cenho, dessa vez seu olhar mudou para confusão.
— Lembro.
— Então, você sabe que eu vou sair com o Theo, — vi o mesmo revirar os olhos quando essa frase foi dita — só que também sabe que eu não sei beijar e eu não quero pagar mico na frente dele. Então eu pensei que talvez você pudesse me ajudar com isso?
Pela primeira vez no dia, eu vi um sorriso se formar no rosto do loiro. Ele passou a língua pelos lábios rosados e cruzou os braços.
— Deixa eu entender, quer que eu te ensine a beijar bem pra você se agarrar com o seu príncipe encantado?
Eu pisquei.
— Você é experiente e todo mundo sabe disso, além do mais, como eu não me interesso nem um pouco por você, vai ficar mais fácil.
— Não era você que não me beijaria nem que se te pagassem?
Ele tem um ponto.
— Eu estou nervosa, Apolo. Não quero estragar tudo.
O silêncio irradiou por alguns instantes ao mesmo tempo que encarávamos um ao outro, ele parecia realmente estar pensando na proposta, não debochando ou se segurando para fazer piadinhas ácidas. Seus olhos azuis percorreram meu corpo dos pés a cabeça, como se estivesse analisando algo.
— Não é difícil beijar, Anelise. Se você gosta dele vai acontecer de maneira natural — falou dando de ombros.
— O problema é que as coisas não acontecem comigo de forma natural.
— Você parecia bem confiante quando te liguei.
Olhei para cima, me sentindo uma tonta.
— Eu sei, foi mal ter desligado na sua cara. Só me irritei porque você queria me dizer o que eu deveria ou não fazer.
Ele me encarou, franzino a testa.
— Tudo bem, com uma condição.
É claro.
— Qual?
— Pede por favor.
Semicerrei os olhos.
— Por favor? — falei contragosto é bem baixo.
— Você pode fazer melhor do que isso.
Eu respirei bem fundo me segurando para não soltar uma frase desagradável e ofensiva na sua direção.
— Apolo, será que pode por favor me ajudar a ter um encontro bom com o Theo?
— Posso — ele sorriu de lado — Amanhã, depois da aula.
— Onde?
— Pode ser na minha casa, só meus avós vão estar lá.
— Tem certeza?
— Sim.