Mapsi | taekook

By vinxenjk

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Uma noite, um racha, uma rivalidade. Ao perder para o novo e misterioso corredor, Jungkook não esperava que a... More

🍸⸸0.intro and cast
🍸⸸1.wasp nest
🍸⸸2.sheltered
🍸⸸3.disadvantage
🍸⸸4.tough as leather
🍸⸸5.obey
🍸⸸6.chitchat
🍸⸸7.blackout
🍸⸸8.not bad at all
🍸⸸9.confidential
🍸⸸10.nonsense
🍸⸸11.trouble in paradise
🍸⸸12.rainbow stitches
🍸⸸13.healing kiss
🍸⸸14.all for him
🍸⸸15.red light
🍸⸸16.vital point
🍸⸸17.dead end
🍸⸸18.outburst
🍸⸸19.crosshairs
🍸⸸21.devotion
🍸⸸22.mshcheniye
🍸⸸23.aftermath
🍸⸸24.hungry dog
🍸⸸25.antidote
🍸⸸26.unforeseeable
🍸⸸27.high speeds
🍸⸸28.zero hour pt.1
🍸⸸29.zero hour pt.2
🍸⸸30.hellfire
🍸⸸31.metamorphosis

🍸⸸20.homelife

1.3K 226 1.6K
By vinxenjk

OLÁÁ filhotinhos, como vcs estão??? consegui adiantar a att apesar da metinha de comentários n ter batido 😔😔 considerem-se muitooo amados, viu, fiz um esforcinho pra trazer hj pra vcs💜

e eu não quero ser chata, só preciso de vdd do apoio de vcs pq eu n falei nd, mas estive pensando q dependendo, talvez acabe sendo melhor eu dar uma pausa pra terminar de escrever a fic e dps postar o resto :( e sério gente, provavelmente vá levar alguns meses se não o resto do ano kkkkkkkk imagina só ter att em 2024?

é, então 🤡 mas vou continuar assim, ir levando msm, espero um pouco de esforço da parte de vcs tbm, sei q às vzs a gnt n tem vontade de comentar dá preguiça e td mais (ou n sabe oq comentar tbm), mas peço por favor, comentem muitooo e não esqueçam de votar tbm, é importante💜

já aviso de antemão que esse cap tá grandinho, mas não pesado - ainda não chegamos aos tempos sombrios de mapsi -, na vdd, esse 20 tá muitooo gostosinho, acho q vcs vão gostar bastante<3

#mapsitk
⸸💀⸸

"você não tem que me dizer, já estou perdido em você
estive vazio por anos, não tenho medo de você
amor é apenas um sentimento
eu sei que você sente isso também"
— Mia, Gemini feat Camo, Woodz

⸸💀⸸
20. VIDA DOMÉSTICA

Quando os faróis apontaram na rua quieta, janelas afora, o céu da madrugada contava com nuvens escuras e uma mínima claridade do dia que ainda iniciaria dali algumas horas.

O JDM negro foi estacionado em frente ao complexo de mini apartamentos, o motor foi desligado e o homem saiu do carro. O cigarro queimando entre os lábios e o celular em mãos, Seojun encostou no capô do Honda e enviou a mensagem.

No segundo andar do prédio, a notificação que acabava de chegar acendeu o celular e iluminou o cômodo todo escuro. E por entre os lençóis bagunçados, a figura masculina remexeu-se ao ouvir o som baixo da notificação.

Apertou os olhos e esgueirou-se para alcançar o aparelho. O brilho da tela incomodou-lhe a visão e lendo a mensagem, sem querer, acabou acordando a mulher em sua cama. No idioma estrangeiro, desculpou-se, explicando que já voltava.

E antes de sair da cama, Mingyu deixou um selar rápido nos fios naturalmente ruivos de Alice, se apressando em vestir alguma roupa para poder descer.

Encarando o horizonte da rua deserta, Seojun erguia o rosto e soprava a fumaça para o alto quando Mingyu chegou e antes de qualquer coisa, levou seus olhos a escaneá-lo. No rosto, o sono marcava presença, os cabelos estavam completamente desgrenhados, a calça jeans cheia de rasgos parecia ter sido vestida às pressas e a camisa preta que ele usava na tarde anterior, estava no avesso porque o logo da banda não estava na frente. Sem ter intenção, também viu a marca avermelhada que Mingyu carregava no pescoço, algo que fez Seojun sorrir.

— Hyung.. — Mingyu bocejou, esfregando os olhos marejados — Você é idiota? Não precisava devolver o carro tão rápido assim.

Idiota, era um completo idiota.

— Desculpa ter te acordado. A noite foi boa?

— A noite? — com um sorrisinho ladino, Seojun apontou para o próprio pescoço para mostrar e Mingyu ficou atordoado. — Caramba, não enche o saco. — ele ralhou sem jeito, esfregando o pescoço e lhe olhando de soslaio antes de franzir o cenho e assumir uma expressão ainda mais apreensiva. — É sério, hyung?

— O que? — pela cara dele, não estava falando sobre sua brincadeira.

— É sério que você sobreviveu pra agora se matar fumando essa droga? — Mingyu arrancou o cigarro de sua boca, atirou no chão e pisou na ponta com o chinelo, curvando-se — E eu não falei nada aquela hora, mas hyung, tenha boas maneiras e não larga a porra das suas bitucas no chão.

Seojun olhou para ele um tanto surpreso e sem reação. Por causa da amizade que tinham, a visão que tinha dele era de um pirralho. Talvez tenha ficado parado no tempo, porque ele também havia mudado muito. Mingyu estava mais maduro e responsável.

Um sorriso nostálgico no rosto, viu ele ir até a lixeira e atirar a bituca, voltando para perto de si com o olhar apreensivo. Mingyu respirou fundo para dizer:

— É sério, Seojun, para com isso. Cigarros não vão te levar a lugar nenhum, só a um vício fodido.. — que Mingyu já percebia que ele estava se metendo e entregando-se — Um vício, que pode levar anos, mas uma hora as consequências e o prejuízo vão vir e todos nós estamos sabemos onde isso acaba.

— Porra, eu sei. — Seojun suspirou e olhou em volta incomodado, passando uma mão pelos cabelos.

— E do jeito que eu tô te vendo fumar, hyung, você já tá acelerado nesse processo! É sério, é melhor você parar antes de ser tarde demais.

— É que eu tenho me sentido um pouco ansioso.. — "um pouco" era eufemismo.

— Se o Jungkook souber disso, hyung, além de ficar muito decepcionado com você, ele te bate na certa.

— Tudo bem, eu vou parar. — Mingyu se aproximou de maneira súbita, surpreendendo-lhe. Apoiado no capô do Honda Civic, Seojun olhou-o, mas logo entendeu. — É sério?

— Sim. — ele confiscou os dois maços de cigarro guardados no bolso de sua jaqueta. — Eu não vou e nem posso deixar você continuar com essa merda, se não, o Jungkook também me bate.

Dizer que Jungkook bateria em si era exagero, mas um peteleco dos bons no meio da testa por saber e não fazer nada para impedir, Mingyu com certeza receberia. E também se preocupava com Seojun, estava odiando vê-lo assim.

Atirou os maços à lixeira e, prestes a também checar os bolsos da calça dele - sem saber que nível de fumante ele já era -, percebeu que seria estranho. De repente, estar perto demais de Seojun também foi estranho.

Sentindo um nervosismo estranho atingindo-lhe, Mingyu olhou-o e quebrou a tensão ao se afastar bruscamente, deixando sua intenção exagerada de lado.

— Não compra mais cigarros, não pensa mais em cigarros e.. só para de fumar, cara.

— Sim, senhor — Seojun sorriu e insinuou uma continência como se estivesse acatando uma ordem. Mingyu o deu um tapa no ombro.

— Idiota. — xingou e aproveitou para dar uma breve checada no estado de seu carro, por sorte, encontrando-o inteiro e do mesmo jeito que estava quando o emprestou ao Yoon.

Mingyu terminou de olhar o Honda e retornou para perto de Seojun, vendo-o parecendo perdido nos próprios pensamentos, encarando a rua vazia ao amanhecer.

— E a minha moto? — ele perguntou.

— Tá no estacionamento, eu guardei depois que cheguei do bar.

— Ah, você guardou — Seojun abriu um sorriso, interligando as informações soltas — Então quer dizer que você usou mesmo a minha moto pra conquistar mulher em bar?

— Não tem nada a ver, foi só a força do costume — Mingyu estava um tanto acostumado a guardá-la na garagem do prédio — Quer dizer, talvez.. eu tenha usado um pouco a sua moto durante esse tempo, hyung. Eu não te disse também, mas o Jungkook pretendia ficar com ela, sabe, como..lembrança. — abriu um sorriso fraco ao lembrar do dia, tão caótico quanto triste, que também foi literalmente a última vez que o viu — A sua mãe ia se desfazer dela naquele dia mesmo, só que ele não deixou. Eu tenho que admitir, hyung..o tanto de merda que o Jungkook ouviu..

Não foi fácil.

Seojun ficou sem palavras. Odiava até mesmo pensar nisso, em como sua mãe pôde ser cruel assim com ele. Para Mingyu admitir e abrir o jogo, foi porque foi muito sério e absurdo.

— E aí na saída do funeral, ele mudou de ideia e acabou me dando ela. Jungkook me disse pra guardar por ele porque era maluco demais pra ficar com uma moto e que tinha certeza que um dia ia acabar virando matéria de acidente.

Seojun deixou um sorriso fraco surgir em seu rosto. Não queria pensar em Jungkook o tempo todo, não agora, mas era inevitável.

— Eu nem te agradeci — desviou do assunto. — Obrigado por guardar a minha moto, Mingyu. De verdade.

A Harley Davidson tinha um valor muito sentimental para Yoon Seojun e mesmo que, assim como tudo, esse valor tendo referência exclusiva a ele, era só fingir que não.

— Relaxa, hyung — o mais novo se colocou ao seu lado, também encostando no capô do carro — Mas e aí? Não vai me contar nada?

— Contar o quê?

— Você não conseguiu encontrar ele, né? — Mingyu deduziu pela inconformação e incômodo perceptíveis que Seojun exibia no rosto bonito.

— Não, eu consegui. — ele revelou e isso lhe fez imediatamente olhá-lo em surpresa. Então Jungkook estava na corrida?! — Mas não correu como eu esperava.

Porra, logicamente, não mesmo, Mingyu pensou. Teria Seojun acordado para a realidade agora ou ainda não?

Pior, como foi? Como estava Jungkook depois de tanto tempo? E como Seojun estava?

— O que aconteceu?

— O que aconteceu.. — Seojun repetiu com uma expressão dolorosa. — Você estava certo, Mingyu. O Jungkook seguiu em frente.

Todo mundo seguiu em frente, o que custava para ele entender isso?

Mingyu respirou fundo e coçou a cabeça, pensando em como confortá-lo. O que tinha de bom para dar conselhos, se viu péssimo na arte do consolo, nem sabia por onde ou como começar.

— Seojun, depois que você foi atrás dele, eu pensei melhor e..seguir em frente e superar é diferente. Ele seguiu em frente porque não tinha outra escolha, mas superar tudo, e a sua "morte", o Jungkook não deve ter superado. — confessou — Eu não soube me expressar e fiquei muito preocupado em como o Jungkook iria se sentir, então não pensei direito. Mas superar e seguir em frente são duas coisas diferentes. Por um lado, você ter aparecido vai ter sido bom pra ele porque ele vai poder superar o que aconteceu, já por outro, ele vai se sentir uma droga porque seguiu em frente enquanto você estava..

— Semimorto. Pode falar. Eu não estava morto, mas também não estava vivo.

— Então.. ele vai ficar muito mal com isso.

— É, ele ficou. — Seojun concordou. — Ele ficou muito abalado e quando eu cheguei, eu tinha na cabeça que ia fazer direito, que não ia colocar muita coisa sobre ele porque só a merda da minha ressurreição já seria demais, mas depois, eu acabei.. porra, eu pressionei ele.

Merda. Mingyu também previu isso acontecendo, afinal, a frequência de Jungkook e Yoon Seojun era essa.

Os dois eram do tipo que perdia a cabeça muito fácil. Por isso, também naquele dia durante a missão, eles quase brigaram.

Seojun podia não se lembrar ou ter dado muita importância a isso, mas esse também deveria ser um dos maiores arrependimentos de Jungkook, a quase briga.

— Como você pressionou ele?

— Ele disse que queria ficar sozinho, mas eu não pensei que podia ser verdade e fui atrás dele. — contou. — Eu me deixei levar e disse que sentia falta dele, Mingyu. Você me avisou, e mesmo assim, eu fui egoísta. Porra, eu fui muito egoísta. — Seojun queria esmurrar a própria cara só de pensar em como errou — Ele me disse que não pode voltar de onde eu parei..

Então, Jungkook foi sincero com ele.

— Ele disse que precisa de um tempo. — revelou. — E eu disse a ele que podemos recomeçar juntos, falei que ele pode levar o tempo que precisar que eu.. — Seojun fez uma pausa — Eu vou estar esperando por ele, mas..

— Mas..?

— O jeito que o Jungkook me olhou, Mingyu, foi como se ele estivesse alertando que eu não fizesse isso. — esfregou a nuca, sentindo-se ansioso com a lembrança fresca — E eu sei que não deveria, porque pelo que vi, ele já está com outra pessoa e..

— Ele está com outra pessoa? — Mingyu exclamou surpreso — Quem?!

— Eu não sei, mas é um homem. — odiou pensar no rosto do sujeito e na forma como ele lhe olhou.

— Ele disse pra você que está com outro?

— Não, mas eu vi. Mesmo tentando enganar a mim mesmo, eu vi muito bem e eu também percebi. — admitiu. — O Jungkook estava usando um colar que combinava com a pulseira desse cara e eu também vi o jeito que ele ficou nervoso quando o cara chegou e nos viu.

— Hyung, foi mal, eu não sei o que te dizer. — Mingyu colocou uma mão sob o ombro do Yoon em sinal de conforto. Deveria estar sendo péssimo para ele.

— Mas o Jungkook não falou nada disso, então, eu penso que o que ele tem com esse homem talvez não seja sério?

— Não é sério se eles estavam usando colar e pulseira de casal? — Mingyu exclamou. — Seojun, cara, foi mal de novo, mas você quer mais óbvio que isso?

Mingyu tinha razão e Seojun sabia disso. Estava tentando ter um fio de esperança porque não estava pronto para superar seus sentimentos e mal sabia como faria isso. Como parar de amá-lo?

— É. O Jungkook não falaria nada mesmo disso, pelo menos, não naquele momento.

Não quando eu estava implorando para ele voltar comigo, pensou, se sentindo ainda mais idiota. Estava tão desesperado e no fim, de nada adiantaria porque, voltou tarde demais. Jungkook não lhe amava mais.

— Eu sei. O tempo que ele disse precisar é pra organizar os pensamentos e pensar em como vai me contar isso e daí, Jungkook também vai me dizer pra seguir em frente. Mingyu.. — seu coração doía só de pensar, sentia-o sendo arrancado do peito. Talvez se tivesse escolhido não aparecer mais e recomeçar, não sofreria tanto, não desse jeito. Mas o problema sempre foi conseguir e a causa era ainda amá-lo demais, além de prezar por como Jungkook se sentiria por sua causa. — E ele vai dizer que não me ama mais.

Mingyu sentiu o peito apertar assim que dito isso, Seojun lhe olhou e no semblante dele, pôde ver como ele estava sofrendo.

Nunca imaginou que veria o capitão Yoon, um homem forte e incrível, a inspiração de muitos nas Forças Especiais, daquele jeito. Fraco, vulnerável e sensível.

De qualquer forma, Seojun seria obrigado a recomeçar porque não havia mais ninguém na mesma parte da trajetória que ele. E dificilmente alguém voltaria os passos andados durante aquele tempo todo, para ajudá-lo a se levantar.

Em silêncio, viu o mais velho ansiosamente passar as mãos pelos olhos, escondendo a umidade deles. Sofrer por amar tanto uma pessoa era doloroso e superar um amor era muito mais.

Sem saber como confortá-lo com palavras, Mingyu tomou a iniciativa de fazer de outro jeito. E um tanto incerta e desajeitadamente, abraçou Seojun.

— Relaxa, hyung, não é o fim do mundo e você não está sozinho, tá legal? Eu tô aqui com você.

Se ao menos Mingyu soubesse como nos últimos meses sua vida não fez sentido algum sem Jungkook, não diria isso. Porque se parecia muito com o fim do mundo, do seu mundo.

O abraço estava reconfortante e estava prestes a abraçá-lo com mais força quando Mingyu se afastou, mantendo uma mão firme em seu ombro.

— Bola pra frente, hyung. — aconselhou com um sorriso gentil.

— Valeu, Mingyu. — Seojun se sentia melhor por ter pelo menos alguém consigo. Se sentia menos pior não estando sozinho e tendo Mingyu para colocar juízo em sua cabeça. Iria escutá-lo agora.

— Você também não vai me contar como o Jungkookie está?

— Sinceramente? — Seojun abriu um sorriso agridoce. — Ele mudou muito, mas continua lindo.

— Ah, parou — recebeu um empurrão de leve. — Mas como ele pode ter mudado tanto?

— Ele está todo tatuado e você não vai nem acreditar nisso. — fez suspense, se divertindo com a expressão desconfiada do Kim ali — Mas o Jungkook também pintou o cabelo.

— O que?! — Mingyu exclamou incrédulo. — O Jungkook pintou o cabelo?! De que cor? Castanho escuro? Azul escuro? Vermelho? — disparou — Loiro? Castanho claro?

— Não.

— Não? Nenhuma dessas? — franziu o cenho, pensando em mais cores possíveis. — Caramba, então de qual cor foi?

— Roxo. — revelou.

— Roxo?

— Sim — soltou um riso. — Cabelo roxo comprido, um dos braços fechados de tatuagens..

— Você se apaixonou por ele de novo, seu idiota? — Seojun sorriu culpado. Estava pensando em desistir. Mingyu tinha razão. Não era o fim do mundo, ainda podia ser amigo de Jungkook, só amigo, como antes, como foi desde sempre, e como deveria ter sido. — Eu conheço uma boate muito foda, vou te levar lá pra conhecer pessoas bonitas e legais. Confia em mim, hyung, vai dar tudo certo.

— E você acredita que o Jungkook estava dirigindo um Rx-7? — lembrou. — Um dos carros que ele sempre quis depois..

— De uma Skyline — Mingyu sorriu. — É, pelo jeito ele mudou bastante. — Apesar de Jungkook sempre ter dito que um dia conseguiria ter os carros que mais queria desde criança. Mingyu ficou feliz em saber disso, ficou feliz por ele. — Agora já chega, vamos parar de falar do Jungkookie..

— E falar da namorada que você não me disse que tinha. — Seojun sugeriu, recebendo mais um empurrão do mais novo.

⸸•💀•⸸

Os primeiros feixes de luz iluminavam a suíte do hotel assim que o local deixou de ficar completamente silencioso. Seu lado na cama já estava vazio e havia movimentação pelo quarto.

Remexeu-se entre o emaranhado de lençóis e forçou-se a abrir os olhos. A claridade que invadia as janelas era baixa e pouco incômoda, o que também só significava uma coisa; ainda era cedo demais.

Esse era um sério problema dos homens, principalmente engravatados, com quem Jimin dormia.

Todas as vezes, era a mesma coisa. O sol mal nascia e eles iam embora, afinal de contas, a vida deles era apenas trabalho e além disso, a maioria tinha um caso de uma noite consigo às escondidas.

Mas não dava a mínima para nada disso. Era só sexo e assim como eles, também só pensava em se divertir e se satisfazer.

O problema não era eles irem embora, mas irem cedo demais. Jimin odiava isso pelo fato de ser uma pessoa noturna.

Sinceramente, qual era a dificuldade de ir embora sem fazer barulho?

Quis agarrar os próprios cabelos ao ouvir até mesmo o barulho do relógio sendo apanhado de cima da pequena mesinha ao lado da cama e esfregou os olhos, se acostumando com a luminosidade e podendo encarar a figura masculina ali. Estava tão sonolento que levou alguns segundos para processar e se dar conta de que aquele era o homem em que havia esbarrado na noite passada. O mesmo homem com quem Jimin também teve uma noite maravilhosa.

Foi instantâneo. Seu cérebro acordou de uma vez só assim que realizou que era aquele homem. E ele era e foi totalmente diferente dos outros.

Primeiro, ao invés de ele se interessar por si, Jimin se interessou por ele, o que quebrava completamente o padrão, logo que todos se interessavam por si primeiro. Dificilmente encontrava alguém que lhe fosse tão atraente e interessante, ainda mais à primeira vista como ele foi e obviamente não perdeu tempo.

O refrigerante derramado ajudou no desenrolar das coisas e tudo ocorreu de forma tão natural. Os primeiros olhares, a tensão, assim que precisou trocar de camisa e ele lhe emprestou o paletó. Depois, o homem lhe fez companhia junto de Hoseok.

Tirando algumas perguntas estranhas que foram feitas, quando ficaram sozinhos, uma coisa levou a outra e a melhor alternativa se resumiu a um quarto de hotel com um chuveiro, uma cama e eles.

Tiveram uma noite quente e fizeram um sexo tão bom que Jimin se sentia revirogarado, apesar de estar com um pressentimento ruim.

Talvez tenha sido tão bom ao ponto de outra coisa incomum estar acontecendo: reviver os detalhes da noite incrível. Há muito tempo não se sentia assim. E se fosse difícil de esquecer? Porque além do sexo ter sido bom, o homem era realmente bonito.

— Você já vai? — perguntou baixinho com o rosto enfiado no travesseiro.

Yoongi terminou de colocar o relógio de pulso e tocou na gravata já envolvida no colarinho para arrumá-la, virou-se para olhar o homem na cama.

Ele ainda parecia com muito sono e por alguma razão, estava tentando esconder o rosto no travesseiro. Por baixo dos lençóis, continuava nu. Os braços bonitos foram colocados para fora e um pouco da clavícula foi exposta. Yoongi estreitou os olhos ao encarar uma das marcas que havia deixado no corpo dele.

Observou as mãos pequenas com unhas esmaltadas esfregar os olhos e ele esperava pela sua resposta.

— Sim, mas você pode fazer o check-out mais tarde. — disse. — Eu paguei por duas noites, então pode aproveitar e descansar o quanto quiser.

— Hum.. — Jimin assentiu sonolento e os olhinhos quase fechavam de tanto cansaço.

Sem dizer mais nada, Yoongi pretendia simplesmente ir embora, mas o viu ainda se esforçando para manter o rosto fora de vista, como se estivesse tão preocupado com algo que rapidamente correlacionou.

Se aproximou da cama e para alcançá-lo melhor, teve de sentar-se nesta. Ganhou a atenção imediata do homem, que se surpreendeu e estranhou. E ele ficou sem saber como reagir quando o tocou nos cabelos negros desgrenhados.

Talvez não fossem mais se ver e por isso deveria dizer naquele instante.

Como um indireto e silencioso pedido de desculpas por ter se aproximado dele com uma intenção, seria ao menos sincero com o que pensava.

— Você é bonito — Yoongi confessou — De qualquer jeito, você é lindo, saiba disso.

Surpreso demais, Jimin olhou para o homem ali cuja expressão era indiferente. Sem demonstrar qualquer emoção e para além disso, os olhos exaltando uma tremenda frieza, como se tentasse ocultar o que realmente sentia e pensava.

A mecha de cabelo escorregou de seus dedos e Yoongi olhou-o uma última vez antes de se levantar da cama e ir embora. Sem dizer mais nada, livrando um peso a menos em sua consciência, foi embora.

No meio da madrugada Jin conseguiu com Kim Namjoon uma forma de contatar Jeon Jungkook e agora era só esperar por uma resposta. E apesar de não ter conseguido nada com aquele homem, não mudava o fato de que esteve mal intencionado.Era sua última chance de consertar o erro cometido. Odiava ser assim e odiava desde sempre ser instruído a ser assim. Yoongi foi ensinado a manipular, humilhar e usar os outros em pró de supostos interesses próprios.

E com isso, para evitar envolvê-lo independente das circunstâncias, não voltaria a vê-lo.

Yoongi não pôde impedir que aquele homem, Jeon Jungkook, fosse envolvido porque segundo o pouco que sabia, ele sempre esteve envolvido, mas Jimin não.

Para a tatuagem de cobra na coxa, se faria de idiota. Tentaria pensar que era só uma coincidência e não necessariamente significava que ele era um dos originais. Assim como o familiar arlequim que Jimin tinha tatuado no peito.

Não deveriam se ver mais, não quando ele também tinha relação com Kim Taehyung e fazia parte da máfia. Yoongi não deveria se relacionar com Park Jimin.

⸸•💀•⸸

Tendo acabado de acordar, Jungkook encarava o próprio reflexo no espelho.

Os cabelos bagunçados com os fios roxos apontando cada um para um lado, o rosto sem brilho com as linhas de expressão intensificadas, cheio de cansaço e tomado por uma sensação de estar se sentindo completamente acabado.

Fechou os olhos e abriu-os novamente, aproximando-se do espelho para ver que também tinha um pouco de olheira. Um pouco era o caralho, Jungkook estava parecendo um panda. Estava destruído.

Duas fucking noites mal dormidas, não era à toa que estava com uma aparência terrível.

Seu sono implicava muito não só em sua aparência, mas em seu humor. Jungkook era o tipo de cara que facilmente ficava para baixo e mau humorado se não dormisse bem, o que ironicamente vinha acontecendo desde a corrida, duas noites atrás.

Além de Seojun, teve a mensagem do gatinho que pareceu mais como um aviso. Ele lhe deu quarenta e oito horas para voltar.

Engraçado que ele mandou dessa forma, lhe mandando "voltar", quando Jungkook nem sabia para onde porque nunca chegou ou esteve em lugar nenhum. Voltar para onde?

Quarenta e oito horas foi só o tempo que levou para responder e bom, sua resposta também deveria ter o deixado puto. A única coisa que respondeu foi: "Voltar?" e apesar de ele responder no mesmo segundo, enviando mais algumas mensagens dizendo algo que não o conhecia direito e que deveria voltar o quanto antes, para não esperá-lo "tomar uma providência", ignorou.

Simples assim, Jungkook ignorou. Podia se fazer de idiota e adiar um pouco mais a sua ida, não estava a fim de resolver sua parada. Mal havia resolvido as coisas com o bonitão ainda.

Não resolveu nada. Não falou nada porque Taehyung também não mencionou mais sobre aquela noite. E mesmo estando incomodado o suficiente para ficar calado o tempo todo, ele não lhe pressionou.

Ele estava esperando e Jungkook continuava com coisas demais na cabeça para tomar a iniciativa de se abrir e contar tudo para ele.

— Caralho. — xingou ao ligar a torneira e se curvar à pia.

Jungkook jogou água gelada no rosto e em seguida, o lavou, esfregando sem se importar se estivesse se molhando demais. Com a cara toda molhada, alguns fios de cabelo grudando na testa e nas bochechas, encarou seu reflexo de novo.

Porra, agora tô parecendo um cachorro roxo molhado e bagaçado, pensou ao estender o braço para alcançar a toalha e enxugou o rosto que também pingava de tanta água que jogou. Como se água fosse fazer algum milagre em seu estado visivelmente precário.

Encarando-se no espelho, terminou de esfregar o tecido macio para enxugar-se e antes de devolvê-la ao apanhador, Jungkook voltou a aproximá-la do rosto, mais precisamente, do nariz.

A toalha cheirava a amaciante, esse era o cheiro mais marcante, mas por estar em uso também tinha o cheiro de Taehyung nela.

E o cheiro dele era tão bom que se pegou pensando em como era vantajoso poder sentir assim, tão facilmente, às vezes, quando menos esperava por. Seja na toalha, na cama ou diretamente sob a pele dele. Jungkook gostava tanto de sentir o cheiro de Taehyung que não conseguia mais imaginar não tê-lo por perto.

Estava mal acostumado e muito envolvido. Tratava aquela casa como um lar e com Taehyung se sentia tão confortável que era incomparável. Com ele, Jungkook se sentia em casa.

Completamente absorto sem nem pensar em como aquilo poderia parecer estranho, continuou sentindo o cheiro do homem preso no tecido da toalha porque toda manhã, Taehyung também lavava o rosto e enxugava ali. Também havia uma forte essência de hidratante, pura tentação.

Levou a destra até o meio das pernas e posicionou-a sob a cueca samba canção. Jungkook envolveu a mão ali com firmeza e agarrou o próprio pau, inalando o cheiro da toalha com intensidade e prestes a apertar com ainda mais força quando se deu conta da realidade.

Porra, era oficial, estava ficando maluco. Estava pensando coisas e tratou de "despensar" antes que fosse tarde demais. .

Foi tão rápido em tirar a mão do pau e devolver a toalha já tendo perdido tempo demais em suas higienes matinais. Se continuasse, só arrumaria mais um afazer urgente para tratar naquele banheiro.

Não podia evitar, estava com muito tesão, mas não iria aliviá-lo, não assim. Jungkook preferia continuar se torturando na espera, porque não iria aliviar merda nenhuma sozinho.

Olhou para o próprio corpo e para os hematomas espalhados pelo torso desnudo. Também encarou e tocou o ferimento na coxa direita. Só conseguia pensar na cicatriz gigantesca que iria ficar, mas não tinha nada que pudesse fazer.

Jungkook suspirou fundo, pegou a camisa e a calça de moletom deixada em cima da pia e vestiu com agilidade.

Haviam entrado em um consenso. Como não podia dormir pelado e odiava cuecas por serem desconfortáveis demais, Taehyung deu um jeito.

Na tarde anterior ele lhe comprou dez samba canção, do exato jeitinho que gostava: folgadas e com um tecido fininho para se sentir como se não estivesse usando nada.

O que Jungkook podia fazer se era um hábito mais forte do que si mesmo? Porque morava sozinho, então não só dormia sem roupa, como também ficava pelado em sua humilde casa.

Passou uma mão pelos cabelos roxos se encarando no espelho de novo. A cor lhe caiu tão bem que vinha acordando animado só para poder admirar-se e também ao longo do dia, era ainda melhor receber todas as olhadas nem um pouco discretas do bonitão. Pelo menos isso para aliviar o incômodo que estava pairando entre eles.

Podia estar visualmente destruído pelas noites mal dormidas, mas em sua mente, Jungkook continuava bonito e gostoso como sempre.

Satisfeito, saiu do banheiro sem se importar com a aparência precária e rumou ao primeiro andar do apartamento. Descendo os degraus, na metade da escada conseguiu ver o homem. Ele estava tomando café da manhã e era a primeira vez que acordava a tempo de ver essa cena com seus próprios olhos.

Acomodado na mesa e sentado de forma ereta em uma das cadeiras da ponta com uma postura admirável, o Ipad numa mão e a xícara de café na outra. Antes de perceber sua presença, ele estava focado no aparelho eletrônico, intercalando entre tomar alguns goles do café e à mesa, não havia nada além disso.

Ele não comia nada e isso deveria ser o mais importante se Jungkook não tivesse visto aquilo que lhe chocava tanto e desviava totalmente o rumo de seu raciocínio. Taehyung de óculos.

Umedeceu os lábios e guardou o sorrisinho danado assim que o homem lhe olhou por detrás da xícara. Apressou-se em ir até ele, aproximando-se com cuidado e ainda em completo silêncio. Ele franziu o cenho e lhe olhou.

— Bom dia, bonitão. — disse querendo muito rir com a desconfiança estampada no rosto dele.

Ele deixou a xícara de lado, mas mal o deu chance de também desejar bom dia:

— Será que você tem um dicionário aí?

— Um dicionário?

— Porque eu fiquei sem palavras quando te vi.

Taehyung não conseguiu evitar e fez uma cara de quem deveria ter previsto que era uma cantada. Obviamente era uma cantada, mais uma dentre tantas outras.

Jungkook acordava flertando, passava o dia flertando e ia dormir flertando.

— Por que você acordou tão cedo? — perguntou. — Não é nem sete horas ainda, mecânico, você pode ficar mais tempo na cama.

— Cadê o meu bom dia? — o rapaz ergueu as sobrancelhas e apoiou a mão na beirada da mesa.

Taehyung também o olhava nos olhos e sentiu o coração acelerar assim que entendeu a intenção dele. Ele se apoiou na beirada da mesa para se aproximar lentamente de si, o rostinho cheio de expectativa esperando pela sua resposta.

— Bom dia — desejou de volta e o que veio a seguir foi tão rápido que Taehyung mal conseguiu assimilar.

Tendo roubado um selinho da boca dele, Jungkook admirou a reação do homem com os olhos levemente arregalados e se afastou com um sorrisinho de canto.

Jamais deixaria alguma distância crescer entre eles. Não deixou Taehyung se afastar de si durante aqueles dois dias, mesmo com ele respeitando seu espaço e lhe deixando ter o devido tempo para processar tudo. Ainda iria explicar para ele. Iria contar a ele.

Com o sorrisinho dançando nos lábios, foi até a cozinha, já muito familiarizado com tudo.

— Dá pra melhorar isso aí, sabia? — abriu o armário onde estava a sua tigela de todas as manhãs.

— Melhorar o que?

— Esse seu "bom dia" — Jungkook pegou o leite na geladeira e a caixa do cereal de Oreo, e voltou para a mesa para se reunir ao homem.

— Certo, e como eu deveria melhorá-lo?

— Não sei, tenta colocar um pouco de carinho — sugeriu já despejando uma pequena quantidade de leite na tigela, algo que o homem ali sempre observava.

— Que jeito?

— Tipo assim, — Jungkook interrompeu a intenção de virar o saco de sucrilhos na tigela para dizer: — "Bom dia, meu lindo".

— O que? — Taehyung franziu o cenho e observou ele colocar o cereal na tigela. Como Jungkook defendia, ele comia cereal com leite e não leite com cereal.

— É, ou também pode admitir que o dia mal começou e você já quer me beijar, coisas assim. — deu de ombros e levou a primeira colherada à boca.

— Como pode você saber disso, mecânico?

— O que? — foi a vez de Jungkook ser pego de surpresa.

— Você sabe tão bem o que eu quero. — Taehyung pegou a xícara e bebericou do café para esconder seu sorriso sacana, admirando a reação dele. Jungkook era adorável.

— Não manda essa pra cima de mim se não for dar conta do recado. — ele ameaçou com a colher apontada em sua direção — Eu tô em abstinência dos seus beijos, bonitão, você mal me deu beijo esses dias.

Dois dias e Jungkook estava reclamando dizendo de uma forma como se fizesse tanto tempo.

Taehyung sorriu abertamente ao pousar a xícara sobre a mesa, olhando para ele e o vendo encher mais uma colherada. O leite no fundo da tigela estava atolado no meio de uma montanha de cereal e mal tinha chances de ser capturado pela colher.

— Isso não é um problema, nós podemos resolver. Vamos colocar tudo em dia mais tarde, não é como se não tivéssemos tempo, não é?

Jungkook sorriu e em seu sorriso, havia um pouco de culpa e decepção. Também não disse a ele sobre a mensagem. Taehyung estava no escuro sobre tudo porque não contava muita coisa para ele.

Mas não deveria se matutar se tudo fosse tão difícil de conversar. Seja sobre Seojun ou a parada, era confuso e complicado.

— Eita caralho, ainda bem que eu acordei bem cedo hoje. Mas só pra saber, o que está incluso nesse "tudo" que você tá falando aí?

— A sua abstinência. — Taehyung respondeu simples.

— Minha abstinência?! — Jungkook se encheu de animação. — Então aquilo que começa com S e termina com O também?

Taehyung olhou-o por míseros segundos, mas não precisou de muito para saber muito bem do que ele estava falando. Ele estava melhor. Jungkook estava pensando e falando em sexo, era um bom sinal.

Os dois dias anteriores foram terríveis porque ele esteve quieto e triste, e não tinha nada que Taehyung pudesse fazer. Era algo fora de seu alcance. Jungkook ficou muito para baixo e isso só lhe fazia pensar no quão séria costumava ser a relação dele com aquele homem.

E no fim, nada ajudava e só piorava. Não queria ser egoísta e odiou-se toda vez que teve pensamentos egoístas, por isso se esforçou muito para dá-lo espaço ao mesmo tempo que estar lá para ele. O abraçou e confortou. Apesar de tudo, Taehyung viu como algo bom. Isso acontecer enquanto estavam juntos daquele jeito foi sorte, até porque, poderia ser pior.

Estando juntos não deu brecha para que acabassem se distanciando. Jungkook ter sido sincero também foi muito importante.

— Hein, bonitão? A gente vai fazer hoje?

— Adivinha? — ergueu as sobrancelhas com um sorriso divertido nos lábios. — A resposta começa com N e termina com O.

— Mas que merda! — Jungkook xingou — Sexo só depois do casamento, é isso? Você é desses? Mafioso religioso?!

Ele era engraçadinho. Quando ficava emburrado e era negado sexo pela centésima vez, Jungkook virava um poço de piadas.

— Nem um namoro antes, a gente vai ter que casar pra poder transar logo?

— Mecânico..

— Eu não aguento mais esperar, bonitão.

— E você acha que eu aguento? Eu também estou ficando louco, Jungkook — confessou olhando para ele — Com tudo o que você faz e do jeito que você me provoca, nem eu sei como estou aguentando.

— Guerreiro. — Jungkook elogiou com um sorrisinho. — Sério, bonitão, de verdade, como você consegue?

Taehyung não sabia responder com exatidão apesar de ter ciência de que era por ele. Era absurdo e era ainda mais louco porque se importava e se preocupava tanto em pensar no que era melhor para ele. Queria que fosse uma experiência boa para ambos apesar de nunca ter tratado sexo como algo além do carnal, nem mesmo "significativo". Queria que ele estivesse bem e em boas condições, não machucado e com dor.

— Os beijos também têm sido perigosos, Jungkook. — admitiu. Não só a situação complicada, mas o ciúmes. Evitou beijá-lo para não se deixar levar, porque estava com muito ciúmes. — Eu também estou enlouquecendo.

— Nada mais justo, bonitão.

Estamos enlouquecendo juntos, acrescentou mentalmente.

— Mas na moral, você tá me esperando melhorar tanto assim pra eu 'tá inteiraço e aí você vai poder me quebrar de tanto foder, é isso?

— Te quebrar de tanto foder? — Taehyung abriu um sorriso ao captar uma possível mensagem oculta. — Você está com medo, Jungkook?

— Medo? Eu? — ele gargalhou. — Você não me conhece mesmo, né, bonitão. — Jungkook desdenhou com um risinho.

— Não, então me explique o que você quis dizer.

— Eu disse o que eu quis dizer, ué, porque você bancando o santão tá sendo muito suspeito. — comentou. — E eu já disse que você tem cara de homem safado, mas tô percebendo agora e você também tem cara de quem transa muito.

Taehyung teve de segurar o riso. Tinha como alguém ter "cara" disso?

— Ah, e você não transa, não é? — indagou — O que você fazia com suas paqueras?

— "Paqueras", que papo de tiozão — Jungkook ironizou o termo com um sorriso ladino. — O que eu fazia, é lógico que eu brincava de casinha.

— Claro, brincava muito, suponho.

— Tá, mas todo dia não porque aí já não tem pau que aguenta.

— Mas eu tenho cara de quem transa todo dia?

— Tem. Transa todo dia e não deve se contentar com uma vez.

— Você está com medo?

— Qual foi, não coloca palavra na minha boca — Jungkook sorriu todo cheio de si — Fica tranquilo que eu dou conta do recado, bonitão.

— Então se você dá conta do recado, eu não vou precisar me segurar?

— Depende, você não curte nenhuma parada diferenciada na hora do vapo vapo não, né?

— Depende.

— Não, que isso, bonitão, papo sério — Jungkook quase deixou a colher cair. E podia-se dizer que o medo dele veio aí. — Que parada diferenciada você gosta de fazer?

— Nenhuma em específico. — alegou com um sorriso de canto e se divertiu com a reação dele.

— Porra, coração até pulou — viu Jungkook colocar a mão no peito e se segurou para não rir. — Mas alguma coisa deve gostar sim.

— Talvez. — Taehyung pigarreou e pegou a xícara para beber um gole do café já ao fim.

— Gosta de bater?

— Mecânico, o dia nem começou.. — tentou dizer. Não acreditava que iriam falar disso às seis e meia da manhã.

— É voyeurista? Exibicionista? — ele disparou. — Gosta daquelas paradas do Christian Grey de dominar e sei lá?

Ele estava falando de BDSM e Taehyung até pensou em corrigi-lo, mas se o fizesse, ele provavelmente iria achar que gostava.

— Curte uma chuva dourada? — Jungkook cobriu os lábios para continuar falando enquanto mastigava o cereal. — Você é tão higiênico que se curtir vai ser muito louco, um plot twist do caralho, mas não tô julgando não, é só que eu nunca mijei em ninguém e ninguém também nunca mijou em mim.. e também é.. só listando um fato, tá? Uma prática que pode transmitir doenças..e tem uma palavra mais bonita pra mijar, eu sei e..

— Eu não gosto de chuva dourada, você pode ficar tranquilo, mecânico. — resolveu dizer antes que seu silêncio se tornasse ainda mais perturbador. Taehyung conteve o sorriso com a suposição e a maneira como ele se desesperou.

— Ah, tá. E um ménage? — Jungkook ergueu as sobrancelhas e analisou cautelosamente a reação do homem. — Meu deus, gosta de orgia.

— O que? — Taehyung franziu o cenho ao entender a entonação da voz dele, literalmente confirmando. — Eu não disse nada.

— Eu enxergo através de você, não sabia?

— E você enxergou que eu gosto de orgia? Eu não sei o que você acha que eu sou, mas..

— Você dá festinhas de sexo. — Jungkook acusou e o pior foi que acusou certo.

— Não, eu não faço essas coisas. — negou.

— Eu tenho certeza. Aposto mil dólares que você faz isso.

— Já deu esse assunto, termina o café da manhã. — se levantou e estava prestes a se retirar o mais rápido possível quando ele agarrou seu pulso.

Canalha tá fugindo, Jungkook pensou sem acreditar.

— Tá bom, não vou falar das suas festinhas de sexo, mas deixa eu fazer só uma pergunta e você responde com sinceridade, fechou?

— Tudo bem. —Taehyung assentiu apesar de estar duvidando do teor da pergunta dele, dado o assunto. — O que é?

— Quantas vezes você já transou com outros caras?

Jungkook lhe encarava tão atentamente que Taehyung mal conseguiu pensar. Ok, não estava esperando por isso. Sem dúvidas seria sobre algo sexual, mas achou que seria a respeito de fetiches e não algo tão específico assim.

Quantas vezes? Sinceramente?

— Algumas. Não sei te dizer quantas — disse — Mas foram poucas.

— Hum.. cheguei muito tarde pra ser o seu primeiro, mas tá de boa, pelo menos cheguei no tempo certo pra ser o seu último. — Jungkook sorriu.

— Exatamente — colocou a mão livre nos cabelos dele. — E você? Com quantos homens você já transou, Jungkook?

Mudou a questão de propósito. Taehyung escolheu ser ainda mais específico e se arrependeu rápido demais. Não deveria perguntar isso.

— Também foram poucos.. — Jungkook respondeu. — Você não chegou pra ser o primeiro, só que daqui pra frente, bonitão, você vai ser não só o último, mas o único. Sacou?

Taehyung gostou de ouvir isso. E gostou demais. Obviamente como já sabia, assim como si, ele também já dormiu com muitas pessoas, mas no fim, o que importava era eles. A relação que tinham nunca se tratou exclusivamente de sexo e nem teria como se nem haviam feito ainda.

— Se você está dizendo — acariciou os cabelos de Jungkook e como ele estava sentado, se curvou para alcançá-lo. — Eu acredito.. — sussurrou ao pé do ouvido alheio — e vou acreditar em você, mecânico. Daqui em diante, eu vou ser o seu último e único.

Terminando de sussurrar na orelha dele, se reergueu para encará-lo.

— Eu posso acreditar em você também? — com uma expressão desconfiada, ele tocou em sua cintura.

— O último e o único daqui em diante, Jungkook. — Taehyung despejou um selar nos cabelos roxos dele e o viu franzir as sobrancelhas. — Eu só quero você e você sabe disso.

— Eu também só quero você, meu bonitão. — ele confessou com um sorriso no rosto. — Agora vem cá, por que você não come nada cedo?

— Eu não sinto vontade de comer. — pegou a xícara vazia na mesa.

— Mas tem que comer. — Jungkook disse. — Seus pais não te ensinaram que o café da manhã é a refeição mais importante do dia?

Se fosse sincero, seus pais não ensinaram nada. Nada que envolvesse preocupação, quanto mais um pouco de cuidado próprio, por isso também tinha alguns hábitos inadequados.

— Café da manhã é tipo o combustível e você não toma?

— Eu tomo. — Taehyung ergueu a xícara para defender.

— Não fica com dor de cabeça não? De tomar uma xícara de café desse tamanho e não comer nada?

Ok, tinha esse problema, muito clássico por sinal. Mas nem assim para mudar o hábito.

— Olha aí, tem que comer, bonitão! — Jungkook bateu uma das mãos na mesa.

— Tudo bem, eu vou tentar começar a comer, pode ser?

— Não. Tentar não, você vai comer. — ele ordenou todo mandão. — Imagina que vexame seria um mafioso cair duro porque não come nada de manhã?

— Cair duro?

— É, cair duro, desmaiado.

Isso era impossível de acontecer, apesar de já ter se sentido mal uma vez. Porque apesar de não ter a primeira refeição do dia como deveria, não era tão fraco assim.

— Não vai acontecer, mas eu já entendi. Eu vou começar a comer, mecânico. — quase não acreditava que Jungkook estava tão preocupado assim consigo — Agora termina de tomar o seu café da manhã.

— É verdade, pra gente poder logo colocar nossos beijos em dia.

Observando-o encher mais uma colherada de cereal com leite e enfiar na boca, Taehyung balançou a cabeça em negação e caminhou até a cozinha.

— Bonitão — Jungkook exclamou de boca cheia. — Da próxima vez a gente vai brincar de uma parada legal, "eu nunca" e eu vou começar com "eu nunca fiquei com mais de uma pessoa numa noite só".

Se isso acontecesse, Taehyung seria colocado em um verdadeiro beco sem saída.

Jungkook lhe enxergava como se fosse transparente e ele fazia parecer como se soubesse de tudo o tempo todo. E talvez, dependendo da forma como ele descobrisse seus antigos e peculiares hábitos, fosse ter alguns problemas.

Ainda mais se, por ironia do destino, essa "brincadeira" acabasse por acontecer em um futuro próximo quando enfim tivessem uma relação definida.

⸸•💀•⸸

Assim que entraram, a porta da pequena casa foi fechada. O homem que entrou primeiro se apressou em ir tirar os apetrechos adornando seu corpo enquanto o outro passou a chave e todos os trincos para trancá-la.

— Porra, tô todo suado — ralhou irritadiço ao pendurar as chaves da Saveiro e se jogar no sofá, jogando a máscara de palhaço sob a mesinha caindo aos pedaços. — Você vai tomar banho, menor?

— Não, você pode ir primeiro, maior — Yeonjun respondeu com um sorrisinho cínico.

Ele odiava ser chamado de "menor" mesmo que David tenha explicado que não era necessariamente sobre ele ser pequeno. Ou talvez fosse. Ele era pequeno e tinha carinha de bebê.

— Eu não estou fedendo. — complementou andando pela cozinha que numa casa de tão poucos metros quadrados, era grudada na sala de estar.

— Mas eu também não, seu pirralho! — David se sentiu ofendido e só por precaução, ergueu um dos braços para checar as axilas.

— Você soa muito quando fica nervoso.

— Mas eu não fico fedendo suvaco, fico?! — o brasileiro exclamou atordoado e cheirou as próprias axilas e olhou para o mais novo, percebendo a diversão no rosto dele — Aff, moleque engraçadinho tá me tirando, eu sou mó cheiroso.

Sem comentários quanto a isso, Yeonjun só franziu o cenho e ignorou, abrindo a geladeira.

— Quer uma cerveja?

— Que cerveja que não tem porque você bebe tudo? — David exclamou se levantando e arrancando a camiseta para se refrescar.

— Mas eu comprei mais — Yeonjun abriu um sorriso e saiu da frente para mostrar ao brasileiro a geladeira aberta. — Eu resolvi repor as coisas que comi sem pedir.

— Olha só que bonitinho. — O mais alto se debruçou na porta da geladeira, não só encontrando-a com suas coisas de volta, mas arrumada. Tudo estava organizado e limpo. — Fez limpeza também, que isso, hein?

— Fiz.. — Yeonjun respondeu com uma expressão enojada. Mesmo não tendo muita coisa na geladeira do brasileiro, o que tinha de alguns condimentos foi tudo para o lixo porque estava fora da validade.

— Mas peraí menor, cadê os meus ketchup?

— Eu joguei fora, estavam vencidos.

— Tava tudo vencido? — David coçou a cabeça.

— Tudo, e só pra você ter uma ideia, tinha um que estava vencido há mais de um ano.

— Caralho, será que foi isso que me deu caganeira da última vez?

— Provavelmente.

— Mas beleza, vou ter que comprar depois, pão com ovo só fica daora se tiver ketchup.

— E o meu obrigado?

— Valeu, pirralho — David agradeceu com um sorriso e pegou a garrafa de cerveja que foi entregue em sua mão.

Yeonjun também pegou uma garrafa para si mesmo e rumou para o sofá, encontrando conforto no assento rasgado com um pano estampado jogado por cima.

David voltou para a sala, se sentando na outra ponta do sofá de três lugares. O garoto estava a um assento de distância de si e ele já estava virando um denso gole do álcool gelado goela abaixo.

O brasileiro tirou um canivete preto do bolso e usou de uma certa tática para abrir a garrafa, jogando a tampa para longe com praticidade.

— O João que me ensinou — confessou diante do olhar do mais novo, como quem havia ficado espantado com a manobra usada para abrir a garrafa. — Ele é o maluco dos canivetes.

— Maluco dos canivetes?

— O João é foda. Ele manja muito dessa belezinha aqui, fala que canivete serve pra tudo e sempre tava carregando um, doidão só não carregava um na cueca com medo de cortar o pau. — David riu tomando um gole da cerveja. — Já vi ele tirando um canivetão de dentro da bota, acredita? Maluco é doido.

Yeonjun ficou em silêncio e também levou a garrafa até a boca.

— Você conhece o João, né?

— Não.

— Qual é? — David olhou para o rapaz ali. — Pode mandar a real pra mim, pirralho, eu já saquei a sua.

— Sacou o que?

— Que você conhece ele. Aquele dia você correu se esconder pro João não te ver na chamada — apontou. — E você tá fazendo tudo isso.

— Se você não sabe, eu estou sendo pago para fazer isso. — Yeonjun explicou indiferente.

— Eu também tô e vou receber uma promoção das grandes se tudo der certo. — David disse. — De gângster pra mafioso.

— Sério? Você recebeu uma proposta?

— Pode pá, mas antes eu vou ter que aprender a falar o nome do seu chefe. — brincou. Zdanov era difícil de pronunciar. — Aqui conhecem ele como o Alfa.

— Alfa?

— É porque ele é o bichão. A máfia russa é bagulho doido, mais perigosa do mundo e até os americanos tão fodões não se arriscam, porque quem tem cu tem medo, né, menor.

— A sua gangue é leal à Sergeyev?

— Apesar de ser difícil gangues jurarem lealdade a alguma máfia, a Los Santos jurou. Tem toda uma burocracia e eu só sei que o meu chefe só falta ajoelhar e lamber os pés do Alfa.

Yeonjun assentiu em um meneio, entendendo a situação. A Sergeyev não era e nem deveria ser subestimada, por nenhuma gangue e nem mesmo por outra máfia. Por ser tão grande, poderosa, influente e perigosa.

— Mas voltando ao assunto e sem zueira, é pelo João. Pra mim o mais importante é ajudar a meter o cacete nos malucos que machucaram ele.

— Você é um bom amigo. — Yeonjun elogiou.

— Você também é, pirralho! Chega mais — David mensurou abanando a mão para chamá-lo — Que eu te conto uma parada legal.

Yeonjun olhou-o de soslaio e desconfiado, ainda sentado, esgueirou-se para o assento do meio, se aproximando, mas ainda mantendo uma considerável distância. Só estava tentando disfarçar o quanto já se dava bem com o brasileiro e se sentia confortável com ele, como se não estivessem em outro nível naquela amizade inusitada.

David franziu as belas sobrancelhas com os risquinhos e envolveu o braço ao redor do pescoço do mais novo, puxando-o bruscamente para perto, sem se importar se estava sem camisa.

— O suvaco peludo! — Yeonjun quase derramou a cerveja e tentou se soltar, devido às suas diferenças de tamanho e o jeito que ele puxou, acabou indo parar com a cara quase embaixo do braço dele.

— Porra, foi mal aí, pirralho. — o brasileiro sorriu sacana e sem tirar o braço ou soltá-lo, o deixou ao menos erguer a cabeça para se afastar dali. — Papo sério, menor, 'cê gosta dele, né?

— O que?!

— É, do João. — David sussurrou. — Relaxa, não é doideira se você tá fazendo tudo isso porque tá afim dele.

— Mas eu não tô..

— Relaxa, fica bolado não, você não tá sozinho nessa — David encostou o gargalo da própria garrafa na sua boca para lhe calar e Yeonjun arregalou os olhos. — É normal, ninguém resiste aos charminhos daquele malandro.

— Normal? Eu não gosto dele — Yeonjun esfregou os lábios por pressentir que aquilo foi como um beijo indireto, até porque o brasileiro já havia dado duas bocadas naquela garrafa. — Não desse jeito!

— Não desse jeito?

— E como assim ninguém resiste aos charmes dele? — Yeonjun estranhou. — Vocês dois..

— Não, tá maluco? — Foi a vez de David se desesperar com o mal entendido. — Eu também não gosto dele desse jeito, nós só somos parceiros.

— Ah, tá. Pelo jeito que você falou que ninguém resiste aos charmes dele eu achei que você também estava incluso e vocês tiveram alguma coisa.

— Não tivemos nada não. — desmentiu e bebeu um gole da cerveja antes de admitir — Nada sério.

— Como assim? — Yeonjun exclamou indignado. — Você e o hyung..

— Olha aí, conhece ele. — o brasileiro apontou a garrafa em sua direção, lhe desmascarando. — Tá falando do João, né? Hyang, hyóng, deve ser ele, tô ligado.

— O que aconteceu entre vocês?

— Não vou contar nada pra você não, moleque.

— Se você contar eu também conto. — Yeonjun propôs. — Topa?

— Fechou, menor, você começa.

— Não, primeiro os mais velhos.

— Caraio, bichinho sabichão. — David reclamou e desencostou do sofá. Apoiou os cotovelos nos joelhos e olhou para o garoto — Beleza, rolou uma coisa uma vez. A gente se beijou, mas foi só isso, foi só um beijo.

— Não acredito.

— Nem eu, menor, eu nunca tinha beijado um parça em toda a minha vida! — o brasileiro exclamou atordoado e teve arrepios só de lembrar.

— Não, eu não acredito que foi "só" um beijo. — Yeonjun corrigiu e o mais velho lhe encarou incrédulo.

— Não foi? — David ergueu as sobrancelhas. — Ó as ideias, claro que foi, tô falando, cara! Você nem 'tava lá pra ver.

— E daí? O jeito que você falou eu não acredito.

— Tá bom, pirralho, você venceu. Foi só um beijo, mas foi tipo assim, um beijo que me custou umas noites de sono, tá ligado?

— Tô ligado, me conta mais.

— Não tem o que contar, eu só fiquei sem dormir porque toda vez que eu colocava a cabeça na merda do travesseiro e fechava os zóio, pronto, era pá pum, eu voltava pro beijo. — David contou. — O João é maluco, cara, ele é pior que mulher, tá mais pra parada sinistra daquelas mulher lá que enfeitiça os manos pra seduzir e afogar eles no mar.

— Que mulheres são essas?

— Aquelas 'mulher peixe dos 'filme, mano.

Ao ouvir isso, Yeonjun quase cuspiu toda a cerveja que estava bebendo. Essa era uma comparação um tanto específica e hilária.

— Sereias! — gargalhou.

— É, isso aí, pô, ri não. — David pediu e o mais novo conteve o riso.

— Foi mal, pode continuar.

— Aí depois, cara, eu tive que dar um sumiço porque eu não tava conseguindo olhar pra cara dele e olha que eu sou igual ele, sabe, mesmo naipe, malandrão. — especificou e Yeonjun assentiu em um meneio. — Fiquei bolado demais, porra, e esse filho de uma mãe fica tirando onda com a minha cara sempre que lembra, ele não faz ideia do que eu passei por causa dele e eu nem gosto de caras!

— Não gostava até beijar um, porque pelo jeito você gostou, né? — Yeonjun foi sensato.

— Tá malucão, pirralho? Não gostei não, fiquei com trauma, tá doido, nunca mais. — David virou um gole de cerveja. — Agora é a sua vez, vai, me conta aí, se você não caiu no papinho dele, o que rolou?

— Eu admiro ele, eu admiro o Jungkook, ele é um cara muito foda.

— Porra, não posso discordar. — David sorriu com a verdade dita. — Mas vai, por que você admira tanto ele?

— Porque ele sempre foi foda. — Yeonjun disse. — Tinha uma academia de artes marciais perto de casa, que foi onde eu vi o hyung pela primeira vez. Eu sempre tive interesse em MMA mesmo com as merdas que falavam que eu era muito pequeno e fraco pra isso, além de muito novo sendo que eu já tinha oito anos.

— O mundo e as pessoas sempre foram essa merda.

— Minha avó também não apoiou. Ela era muito conservadora e dizia que esses esportes são violentos, então eu não tive muita oportunidade de começar desde cedo, mas o Jungkook é dois anos mais velho do que eu, então na época ele tinha dez anos. — contou. — Todos os dias quando eu ia pra escola e passava na frente da academia, ele estava lá. O hyung estava sempre praticando e ele era tão bom que minha admiração começou aí. Meu sonho de ser lutador também.

— Caralho, e com oito anos você tinha capacidade de admirar alguém assim e já ter um sonho?

— Como assim?

— Com oito anos eu ainda comia terra e fazia barquinho de papel pras formigas! — David soltou uma gargalhada alta — Admirar eu só admirava as tias da limpeza e da cantina que eram gente boa.

— Sei lá. Eu passei anos admirando ele, vi ele ficando melhor e mais forte. — Yeonjun continuou. — E aí no meu aniversário de dez anos minha avó conseguiu dinheiro pra comprar um bolo e teve uma festinha bem pequena em casa e foi quando eu descobri que ele era melhor amigo do Jimin.

— Tá, e quem é esse?

— Meu irmão mais velho.

— Ah, pode pá. — David assentiu em um meneio. — Deixa eu adivinhar, aí foi só você descobrir isso que o João começou a colar lá na sua casa?

— Exatamente e eu era muito tímido..

— Você? Tímido? — David gargalhou alto de novo. — Me persegue até no banheiro e é tímido.

— Eu tô contando de quando eu era criança, porra. — Yeonjun ralhou revirando os olhos.

— E o João era tipo o seu ídolo, já saquei. Então você conhece ele e por isso tá ajudando.

— Ele também me ajudou uma vez. O Jungkook ajudou muito a minha família e ele é o melhor amigo do meu irmão.

Já era a segunda vez que estava ajudando Jungkook. A primeira foi há dois anos e meio atrás quando o livrou de acabar numa vala por um assassinato que não tinha como ter cometido e isso era o quanto Yeonjun o admirava, para confiar nele sem ter tanta proximidade.

— Por favor, não conta pra ele.

— Por que não, menor?

— Eu não sei se ele vai lembrar de mim.

— Como assim, cara?

— Já faz um tempo desde a última vez que eu vi ele e eu mudei muito, eu era criança e também meio..

— Nerdola? — David supôs.

— É. E o hyung sempre foi descolado, por isso sei lá, eu tinha vergonha de falar com ele. A gente conversava pouco e sempre que ele ia lá em casa eu me escondia, coisa de criança. Não conta pra ele.

— Poxa, menor, mas olha só o glow up foda que você teve — David voltou a envolver o braço ao redor do pescoço do mais novo. — Você é mó lindão, olha esse cabelinho hidratado — o brasileiro tocou nos cabelos negros de Yeonjun.

— Para com isso — Yeonjun reclamou estalando a língua e se afastando, sabendo que era questão de segundos para David começar a esfregar seus fios e fazê-los ficar em pé.

— Mas fica suave que se você não quer, eu não vou contar pro João, beleza? — disse afastando a mão da cabeça do garoto — Nós somos parças agora.

— Ok. Posso perguntar uma coisa?

— Manda a ver — David sorriu e voltou a se encostar confortavelmente no sofá.

— É certeza que você não curte homens? — Yeonjun ergueu uma das sobrancelhas em desconfiança e o brasileiro quase engasgou com a cerveja.

— Caramba, as ideias desse cara. — David riu e empurrou o mais novo pelos ombros. — Tá pior que o João implicando com a minha sexualidade.

— A culpa não é minha se ela é duvidosa.

— Aff, sai fora vai, menor!

Yeonjun só riu e voltou para seu lugar na outra ponta do sofá. David com certeza também curtia caras. Mesmo negando, as atitudes e reações falavam por ele.

⸸•💀•⸸

Com o celular em mãos, Jungkook passou os olhos pela mensagem mais uma vez.

AgustD: Por favor, Jeon Jungkook, eu preciso da sua ajuda.

Ele estava muito desesperado. Nas mensagens o homem soava como se estivesse realmente encurralado e por alguma razão, Jungkook estava pensando no que fazer.

Não seria idiota e voltaria assim só porque agora ele estava pedindo a sua ajuda, depois de ter ameaçado e dito que tomaria uma providência, a realidade já era óbvia e ele não deveria ter nenhuma em mente. Yoongi não tinha nenhuma providência, então ele estava apelando.

Já era a décima vez em menos de meia hora que Jungkook lia a mensagem.

Queria ter a capacidade de saber e poder ver como o homem se parecia quando digitou a mensagem. Queria poder saber se tinha alguma chance de ele estar sendo sincero e queria saber qual era a dele, exatamente. Por alguma razão de merda, sua intuição reagia estranhamente se tratando dele. Mesmo só o tendo visto uma vez e trocado pouquíssimas palavras, mesmo sabendo que ele "servia" ao maldito juiz, não conseguiu distinguir.

Mas ele não parecia ser uma pessoa ruim. Ele provavelmente teria muitos problemas por sua causa, se ainda não tivesse tido. E talvez ele nem merecesse isso, apesar de não estar em uma posição em que pudesse se preocupar assim com um cara que só viu uma vez.

Yoongi podia ser "bom"?

Ou então, ele realmente era tão ruim quanto Choi Sangwoo?

Foda-se, não tinha como saber. A única certeza era que queriam lhe usar.

Jungkook coçou os cabelos com força e virou o rosto em direção às imensas janelas para encarar a vista de tirar o fôlego. O céu alaranjado e vermelho, o sol se pondo encerrando mais um dia.

As quarenta e oito horas viraram noventa e seis. Era por isso que ele estava tão desesperado.

O celular vibrou novamente e mais uma mensagem chegou.

AgustD: Eu não quero me ferrar.

E aposto que você também não.

Eu faço o que posso, mas se você não quer se ajudar, não tem como. Eu não vou poder fazer nada se Sangwoo também te machucar.

Jungkook parou a leitura. Também? O que isso significa? Choi Sangwoo machuca ele?

AgustD: Você pode achar que não tem nada a ver com isso, mas tem. Jeon Jungkook, você não sabe de nada.

E se você quer se ferrar sem saber de nada, a escolha é sua.

Só depois não vai dizer que eu não avisei e nem tentei te ajudar.

Jungkook fechou os olhos com força e encostou no sofá, apoiando a nuca no encosto. Por sorte, Taehyung não estava por ali porque havia descido para colocar o lixo pra fora.

Abriu os olhos e olhou ao redor, pensando e pensando. Não podia se ferrar de novo. E muito menos podia se ferrar sem saber de nada, e como ele estava dizendo, tinha a ver com "isso", com o que quer que fosse.

Incrível. Não fazia nada, mas o tempo todo, Jungkook acabava se metendo em problemas.

Era acusado de um assassinato que não cometeu e nem tinha como ter cometido porque estava fodido e destruído, fisico e mentalmente. Fugiu antes de ser submetido a qualquer tipo de investigação ou interrogatório, se não, teria de ter caçado um maluco que era seu álibi e confirmar que naquela hora, estava literalmente fodendo com um cara e não matando uma mulher como foi acusado, uma mulher que não conhecia e não tinha a mísera ideia de quem era. Também não procurou saber porque se escarafunchando mais, teria acabado por ver o sol nascer quadrado.

Como era possível Jungkook ser o alvo de tanta merda assim, o tempo todo? Quando teria um pouco de paz?

Retornou a abrir os olhos e respirou fundo. E olhando para a vista do céu exuberante daquela tarde, Jungkook tomou uma decisão.

Ao invés de enviar uma mensagem, como tinha o número dele - enviado pelo próprio também no desespero -, resolveu que seria melhor. Olhou para o hall de entrada para checar se Taehyung não estava voltando ainda e se apressou em fazer a ligação, que mal chegou a tocar e foi atendida.

Além disso, seu número era privado e havia instalado uma porrada de softwares que lhe protegiam, então, nem se ele quisesse ou tentasse, conseguiria lhe rastrear. Jungkook não deixava brecha alguma.

Jeon Jungkook. — A voz rouquinha soou irritadiça do outro lado da linha.

— Você venceu, gatinho. — disse. — Eu vou voltar, só me dá mais um tempo.

Mais tempo?! Caralho, Jeon Jungkook, eu acho que você não está me entendendo. Ele pode ligar a qualquer momento e querer te ver, e você nem está aqui! Você já teve um tempo, porra, como pode querer ainda mais?!

— Olha aqui, gatinho, eu tô falando que vou voltar, beleza? — Jungkook ergueu o tom de voz e impôs firmeza. — Você devia ficar contente por isso, porque por mim, eu não me importo em me ferrar.

Ok. Mais quanto tempo?

— Dois dias.

Um dia. — o homem do outro lado da linha tentou.

— Dois se você quer que eu volte — Jungkook rebateu e pôde imaginá-lo ficando com muita raiva. — Não é negociável.

Porra, tudo bem, dois dias, caralho. Eu vou mandar a localização e em dois dias, eu quero você aqui, entendeu, porra?

Se levantando do sofá, Jungkook sorriu com a quantidade de xingamentos que estava ouvindo. O gatinho estava mostrando as garras de tão feroz.

— Falou, gatinho. — dispensou a necessidade de dizer que então estava combinado e desligou.

Sem esperar uma resposta, encerrou a chamada e enfiou o celular no bolso da bermuda. Checou se estava apresentável, antes de tomar seu rumo ao hall de entrada e sair apartamento afora.

Deveria agilizar um pouco as coisas. Jungkook estava com outros planos em mente e com isso, não perdeu tempo, aliás, já estava anoitecendo de novo. Agora era definitivo. Tinha exatas quarenta e oito horas.

Apesar de acreditar que com isso, pouca coisa seria mudada, principalmente entre eles, ainda assim, queria deixar tudo certo. Não sairia da casa de Taehyung enquanto não deixasse tudo certo e resolvesse tudo como deveria ser.

Aliás, não sabia até que extensão teria de se envolver para resolver a sua parada, muito menos com quem teria de mexer, ou seja, para todos os efeitos, era melhor se acertar para não se arrepender de nada depois.

Jungkook decidiu também não deixar sentimentos não resolvidos para trás. E para isso, precisaria de uma oportunidade e um momento um pouco diferenciados.

Caminhou pelo extenso pátio na área do térreo do prédio, saindo do lado de fora em busca da área da lixeira, mas também não o encontrou. Ele falou que iria sair para jogar o lixo, então onde ele estava?

Pensativo coçou os cabelos e resolveu se dirigir ao estacionamento subterrâneo, como a única alternativa de onde o homem poderia estar, se é que ele ainda estava por ali. Taehyung não saiu nenhuma vez, exceto pela corrida em que foram juntos, ele não saiu de casa. Quase duas semanas. Ele não sairia sem lhe dizer.

Jungkook andou por entre as vagas vazias e preenchidas do imenso estacionamento, seguindo à direção exata onde ficavam as vagas dele, ocupadas por carros de alto valor. Bastou bater o olho no principal que por sinal, ainda estava ali intacto desde quatro dias atrás, para encontrá-lo.

Uma das portas do Supra, a do motorista, estava aberta. Taehyung estava desajeitadamente dentro do carro mexendo em algo e Jungkook foi até ele.

Depois de jogar o lixo no caminho de volta, Taehyung se lembrou da grana esquecida no carro e com isso, acabou aproveitando para ir pegar, porque dinheiro era dinheiro. Estava terminando de pegar o dinheiro quando se deu conta da imediata presença de alguém e seu coração esteve perto de acelerar, mas o reconheceu antes mesmo disso. Os cabelos roxos eram inconfundíveis e Jungkook debruçou na porta do carro com um sorrisinho sacana no rosto.

— O que você está fazendo aqui, mecânico?

— Vim te procurar, bonitão. — ele respondeu. — Tava demorando muito, pensei que você tinha se perdido no caminho pra lixeira.

— Não, eu vim pegar uma coisa que esqueci no carro. — Jungkook sorriu com sua justificativa e estava prestes a dizer algo quando sua atenção se desprendeu.

Ele pareceu encarar uma parte específica do carro e sem dizer nada, cuidadosamente empurrou a porta aberta, deixando-a entreaberta só para conseguir passar. Taehyung terminou de pegar o dinheiro e enfiou nos bolsos, saindo do carro.

Parou diante de Jungkook que já estava com a mão direita espalmada na carroceria do Toyota, esgueirando-se e analisando mais de perto o estado dos pneus.

— Bonitão, como você conseguiu torar os pneus em uma corrida?! — Jungkook exclamou indignado, erguendo o rosto e revelando os olhinhos arregalados de surpresa.

— Não foi bem uma corrida. — esfregou o maxilar — Eu corri mais umas.

— Não acredito. — ele continuou alisando a lataria do carro como se estivesse checando a gravidade dos "ferimentos". — Você pegou pesado e descontou no coitado, bonitão.

— Coitado?

— Você maltratou tanto ele aquela noite. — Jungkook olhava para os estragos se sentindo inconformado. Após a disputa acirrada, havia visto como ficou, mas parecia ter outros riscos e arranhões. E esses, não havia visto.

O quanto Taehyung correu naquela noite para machucar tanto o carro? Se não foi uma corrida, quantas foram?

— Não foi bem assim. Eu não descontei nele, eu só.. — não soube como dizer. Ainda era complicado de pensar nessa noite e ainda lidava com certas emoções de merda, também sabendo de coisas demais.

— Não conseguiu ficar parado. — ele tirou as palavras de sua boca e lhe olhou um tanto culpado. — Bonitão, foi mal, mas eu ainda não tô muito a fim de conversar sobre isso.

Ele não precisava se desculpar. Entendia que era algo doloroso e tudo já havia se encaixado. Naquela mesma noite tudo se encaixou. Taehyung já sabia das circunstâncias, das razões e das relações. Sabia de quase tudo.

Também não estava afim de falar disso, porque para começar, nem sabia ao certo como iria falar disso. Não era como se se orgulhasse do que fez e nem de como fez. Como transaram daquela vez, Taehyung não se orgulhava disso. Podia não ter o tratado mal e nem nada do tipo, mas não parecia certo. Agora que entendia, esteve com isso preso o tempo todo na cabeça. Durante aqueles dias, quase ficou maluco pensando na coincidência de merda e nas circunstâncias fodidas.

Ele realmente queria sentir dor e estava pesando em sua consciência realizar que o deu. Pelos poucos minutos em que ficou parado e o deixou fazer como queria, Taehyung o fez sentir dor, e consequentemente, o machucou.

Mas não poderia fugir. Logo também queria uma oportunidade de falar disso como deveria ser. Sobre o exército e o passado de Jungkook, sobre já terem se encontrado antes. Queria poder externar tudo o que estava matutando e sentindo, queria saber como ele se sentia, como se sentiu e se ele se lembrava de si.

Porra, Taehyung estava ansioso ao mesmo tempo que estava sem saber como se sentir.

— Eu já te disse que está tudo bem, mecânico. Não se desculpe por causa disso, nós estamos indo devagar, lembra?

Estavam indo devagar, mas nada impedia que sentissem o peso de alguns obstáculos que inusitadamente surgiam em seus caminhos.

Jungkook se sentiu um pouco mais confortado e assentiu com um sorriso fraco.

— Mas não era para ter acontecido tudo isso com ele — Taehyung suspirou e colocou a mão no carro.

— Nunca aconteceu antes, bonitão?

— Não, eu sempre tomo o máximo de cuidado.

— É uma merda mesmo, parece que quanto mais a gente toma cuidado pra não estragar, pior é. — Jungkook lamentou. — Mas então você nunca detonou um carro na sua vida?

— Se eu nunca detonei um carro?

— É, tipo, bater, arregaçar com o carro.

— Hum.. — Taehyung parou para pensar, nunca bateu ou colidiu ao ponto de "detonar", mas.. — Queimar conta?

— Queimar? Como assim? Você tacou fogo num carro?! — Jungkook exclamou e nem precisou de resposta. A expressão do homem ali expôs tudo.

Da última vez, Taehyung esmurrou os vidros blindados do Cadillac, mas atear fogo era outra coisa. Por que diabos ele faria uma coisa dessas, se não fosse por algum tipo de ataque de raiva?

— Foi uma vez. Ou duas, no máximo.

— Puta que pariu. — o rapaz passou a mão pelos cabelos roxos, incrédulo. — Deixa eu adivinhar por que você fez isso. Tava pistolado, né?

Taehyung não se deu ao trabalho de responder, ainda mais pela forma como Jungkook estava sorrindo, questionando e confirmando por conta própria. E estava certo.

— Não é bem assim..

— Ah, eu acho que é bem assim sim — Jungkook soltou um risinho. — Eu te conheço, bonitão e relaxa que eu também entendo.

— Você me entende?

— Não os ataques de cachorro louco — corrigiu-se brincalhão, apesar de também entender. Mas Jungkook não chegou a descontar num carro e sim em uma pessoa, então, era ainda pior. — Mas o tipo de vida que você leva, faz todo sentido. Um deslize e você pode morrer. Aquele dia mesmo se você tivesse ficado sozinho na estrada, bonitão..

— Porra, eu teria me ferrado.

— Pensando por esse lado, será que eu te salvei? — ele ergueu as sobrancelhas com um sorrisinho de canto.

— Você quer ser o herói, é isso, mecânico? — apoiou a mão no teto do Supra e se aproximou dele.

— Não, tô de boa. Não vou trocar meu título de amante pra herói não.

Taehyung sorriu com a justificativa.

— Bonitão. — Jungkook lhe chamou mesmo que já estivesse olhando para ele.

E tendo sua atenção, ele apontou o olhar para o Rx-7 para continuar:

— A gente não falou disso e eu acabei esquecendo de perguntar, mas o babaca jogou sujo, né? — assentiu em um meneio. — Puta merda, eu sabia que ele ia fazer isso! O que rolou?

— Eu estava na frente e como ele não conseguia passar resolveu me distrair perto do retorno. Quase jogou o Mazda em cima de mim e por impulso eu tirei logo de cara, me perdi um pouco e aí no retorno tive que fazer a curva muito em cima, a traseira deslizou muito e eu não consegui controlar, bati na placa e o carro também saiu do asfalto.

— Caralho, que arrombado. — Jungkook xingou — Mas saca só, bonitão. — assumiu um sorrisinho de canto olhando para o carro — Você venceu, humilhou e ainda tirou o carro dele. Essa gracinha não merecia estar nas mãos de um babaca como ele.

— Você tem toda razão, mecânico. Faz pouco tempo que ele arranjou esse carro e ele não merecia. Sabia que Jaekyung comprou esse carro na Califórnia?

— Na Califórnia? Bonitão, não vai falar que foi em Bakersfield porque o Big Mike tinha encontrado um igualzinho e eu ia comprar mas não deu tempo.

— O que? Você também estava de olho nesse carro, Jungkook?

— Como assim eu "também"?

— Esse Mazda é o de Bakersfield — Taehyung disse. — E eu pretendia comprar, mas o filho da puta do Joo Jaekyung foi mais rápido e comprou.

Ai que delícia ele xingando, Jungkook sorriu sacana.

— Então foi ele o arrombado que tirou a minha oportunidade de ter um Rx-7! — Jungkook ficou abismado. — Porra, mano, se eu soubesse disso eu teria dado mais um soco nele!

Taehyung soltou um riso sincero.

— Mecânico, você ainda quer?

— Pirou de vez, bonitão?

— Por que?

— Eu aceito um Samsung Galaxy de mil e quinhentinhos, mas um carro não.

— Mas eu não falei nada sobre te dar — Taehyung esclareceu e a expressão de Jungkook foi hilária. — Se você ainda quiser, eu posso vender pra você.

Jungkook ficou sem reação. Porra, pensou que ele ia oferecer o carro como ofereceu o Z Fold, mas não. Foi tapeado.

— Nossa, seu salafrário! — exclamou indignado entre risos e espalmou as mãos no peitoral do homem, sem medir sua força e viu algo pular do bolso da calça dele.

Olhou para o chão e viu o que caiu. Caralho, era dinheiro. Por acaso Taehyung era Midas? Tudo que ele tocava virava ouro e dinheiro?

Jungkook se curvou e pegou o monte de grana já com um elástico preso juntando todas as notas, que por sinal, eram do maior valor possível no won, cinquenta mil.

— Eu quero te dar, mas você vai aceitar?

— Não. — foi rápido em negar. — Presente muito caro eu não aceito, sou humilde.

— Então. — como previsto.

— Beleza. Quanto você faz ele pro pai? — Jungkook perguntou.

— Hum.. o que acha de dez mil?

Jungkook sorriu e devolveu o amontoado de grana a ele, fingindo estar pagando com aquele dinheiro e esperou pela reação dele.

— É sério? — Taehyung pegou o dinheiro que era devolvido sem acreditar naquele rostinho danado.

— Não, tô só zoando — ele disse — Assim como você só pode tá me zoando. Dez mil dólares pelo Rx-7? Tá novinho e fodão, vale mais. Dez k é muito pouco. Eu pago mais.

Taehyung estava gostando daquela negociação de última hora, totalmente aleatória e fora de momento. Só saiu para jogar o lixo e não pôde nem demorar um pouco que ele veio lhe procurar.

— Ah, é? Você paga mais.. — conteve o sorrisinho e maneou a cabeça em afirmação. — Quanto?

— Quinze pau. — Jungkook ergueu as sobrancelhas todo cheio de si e sua reação foi um tanto realista — Para de me ofender só porque eu sou pobre!

— Eu não disse nada, Jungkook. — se defendeu risonho.

— E nem precisa, você tava pedindo dez eu aumentei pra quinze e aí você me olha com essa cara de "continua a mesma coisa" sendo que eu aumentei cinco mil! Cinco. Mil! — Jungkook exclamou indignado — Sabe o que é cinco mil dólares, bonitão?

— Desculpa, é muito dinheiro — concordou sem muitas escolhas e a maneira como ele lhe olhou foi ainda mais desacreditado. — Vamos negociar depois, pode ser?

— Se é tão pouco, então tira os cinco mil, foda-se, esquece, eu só pago os dez mesmo.

— Mas e se agora eu quiser os quinze, o que você vai fazer?

— Ah, eu posso parcelar, vou pagando um pouco com grana e depois se pá te pago com outra coisa, que 'cê acha? — Jungkook sugeriu com uma expressão duvidosa.

— Com outra coisa?

— É, pagar com outra coisa, tipo assim... — deslizou as mãos pela própria camisa e mal deu tempo de Taehyung pensar, simplesmente a ergueu para mostrar — Olha só que delícia, calma bonitão não é pra olhar tanto — instruiu e a reação do homem foi de indignação.

"Outra coisa", ele não estava querendo dizer isso, né?

— Uma lambidinha nesse tanquinho cinquenta pau, subindo mais nós tem, bom você sabe, né.. — ele guardou um risinho e brincou com sua cara sem revelar o peitoral. — Cem pau pros peitos e..— escorregou a mão até o cós da calça. — Acho que você já entendeu, né, mas aí cada parte tem seu valor.

— Eu já estava pensando de outro jeito. — confessou. — Pensei que você pagaria um valor cheio por rodada.

— Não, vamos ser sensatos, além de assim não ter graça, eu não sobreviveria para pagar em doze vezes. — Jungkook riu.

Ele era impossível. O tempo todo Jungkook dizia e fazia coisas questionáveis. As gracinhas dele também eram de outro nível.

— Vai querer, bonitão?

— Eu posso pensar?

— Claro que pode, tranquilo. — ele concedeu com um sorrisinho e esfregava o próprio abdômen mantendo a veste erguida.

— Então eu vou pensar, agora vamos voltar, abaixa essa camisa. — Taehyung o fez rapidamente parar de exibir o torso desnudo.

— Mas calma aí, bonitão — Jungkook impediu que iniciasse seus passos determinado a voltar para o apartamento. — E o pretinho?

— O que? — O pretinho era o Supra, ok. — O que tem?

— Bonitão, não dói em você ver ele machucado? — ele fez um beicinho e os olhinhos brilhavam. Era só um carro, não era?

— Eu vou levar ele pra oficina depois.

— Não leva não. — Taehyung não entendeu.

— Mas eu não posso fazer nada agora mesmo ele estando machucado..

— Eu sei, não tô falando disso. — Jungkook sorriu diante de sua confusão. — Não leva pra oficina porque eu quero fazer isso. Eu quero consertar o Supra para você, Taehyung.

Taehyung. Não sabia se ficava mais surpreso por Jungkook estar dizendo que queria consertar seu carro ou por ele ter lhe chamado pelo nome, o que toda vez rendia um novo efeito.

— Você?

— Sim, ué, eu ainda sou mecânico e até onde sei nada mudou, meu bonitão — Jungkook abriu um sorriso ainda maior com a surpresa do homem. — Ou eu não posso consertar o seu Supra?

— O que? Claro que pode, Jungkook. — isso não era suposto nem ser questionável. — Por que não poderia?

— Sei lá, vai que você não me acha um mecânico capacitado pra mexer nele.

Muito pelo contrário, Taehyung o achava o melhor mecânico do mundo e isso mesmo só tendo experienciado os serviços dele uma vez.

— Também não vou pintar ele de roxo sem você pedir, prometo.

— Não é nada disso. — disse — É só que, onde você pretende fazer isso?

Era essa a maior dúvida de Taehyung. A oficina de Soobin estava fora de cogitação. O Lee era um pouco complicado de lidar e era do tipo maníaco demais para deixar qualquer um usar seu cantinho e mexer em suas ferramentas.

— Taehyung, você quer me conhecer mais?

O que tinha a ver uma coisa com a outra? Foda-se, para essa pergunta não tinha nem dúvidas. Era tudo o que queria.

— É claro — afirmou e a maneira como ele sorriu em pura apreciação fez Taehyung pigarrear para disfarçar. — Sim, eu quero te conhecer mais, Jungkook.

— Só que tem uma condição e você vai ter que me prometer uma coisa.

— O que?

— Você vai ter que me ajudar, bonitão — Jungkook impôs. — Não só com o carro, mas com outra parada também.

— Tudo bem, eu vou te ajudar.

— Beleza, tá combinado então.

— Mas espera, deixa eu ver se entendi. — ergueu a destra antes de ele tomar a iniciativa de saírem dali — Você não vai me dizer o que é essa outra parada e nem o que tem a ver o conserto do meu carro com te conhecer mais, é isso?

— Isso aí — ele confirmou com um sorrisinho e agarrou sua nuca. — Pode confiar no pai, bonitão.

— Eu confio em você, mecânico, eu só estou curioso. — admitiu e o rostinho dele se encheu de satisfação. Taehyung realmente confiava em Jungkook.

— Vai ter que ficar curioso por enquanto, lindo.

Jungkook tinha seus próprios planos. Iria matar não apenas dois, mas vários coelhos com uma cajadada só.

Iria se aproximar de Taehyung e se abrir para ele, iria lidar com seu próprio passado, consertar o carro e quem sabe, acabaria surgindo também a oportunidade de ter um momento especial antes de sua "partida". E com isso, também precisaria ajustar uma coisinha.

A ideia que havia tido para isso era algo que não se imaginou sequer cogitando em fazer. Mas esse era o nível de conforto e aconchego que sentia quando estava com Taehyung, ao ponto de simplesmente achar ser possível.

Era importante e significava muito para si. Taehyung significava muito para Jungkook.

Seria uma espécie de surpresa, apesar de não ser nada tão incrível, mas ainda assim, também seria importante para o relacionamento deles.

Ele queria lhe conhecer mais e Jungkook também queria conhecê-lo muito mais, mas para isso, precisaria se esforçar. Precisava se abrir de verdade e tinha uma alternativa prática, além de outros planos que estava matutando em sua mentezinha engenhosa.

Estava pensando em tudo, inclusive em como poderiam dar um passo mais largo independente se estivessem indo devagar. Não tinha tanto tempo, apenas dois dias e no fim, a velocidade teria de ser média. Não dava para ser tão devagar.

— Nada que eu não aguente. — Taehyung sorriu. Ficar curioso era o de menos.

Jungkook assumiu um sorrisinho apreciativo e assentiu dando um passo para frente, aproximando-se um pouco mais do homem. Levou suas mãos até a gola da camiseta dele e ergueu seu olhar para encará-lo.

— Pensamento positivo, bonitão, você aguenta. — sugeriu com provocação pingando na voz. — Você já provou que aguenta coisas muito piores, uma curiosidadezinha é mamão com açúcar.

Taehyung olhou-o e ele estava tão perto, as mãos alisando o tecido de sua camisa com os olhos presos aos seus. Ele adorava provocar. Jungkook não se cansava nunca.

— Sim, é fácil, eu já aguentei e continuo aguentando coisas muito piores — viu o sorrisinho dele aumentando. Todo sacana e malandro, Jungkook era único.

— Não esquenta não, meu bonitão — ele instruiu apertando sua nuca e olhou para a parte inferior de seu rosto. Jungkook estava encarando sua boca — Você vai dormir hoje pra acordar porque amanhã tem surpresa.

— Já vai ser amanhã? — Taehyung achou que ficaria curioso por mais tempo.

— É, amanhã, bonitão — Jungkook confirmou e roubou um rápido selinho de sua boca, afastando-se com um sorriso bonito nos lábios. — A gente vai ter que acordar cedo.

— Hum, e o que mais? — checou se o carro estava trancado e o acompanhou, caminhando pelo estacionamento.

— "O que mais" eu já falei que é surpresa, bonitão, mas como você tá ansioso eu vou te mandar a real. Assim, fica tranquilo, beleza? Você só tem que fazer o que eu mandar. — disse — Ah, e você tem uma carreta de reboque?

— Pra quê?

— Tem ou não, bonitão?

— Tenho. — Jungkook sorriu animado.

— Beleza.

Taehyung não estava entendendo nada, mas certamente a carreta reboque só servia para uma coisa e era para levar um carro. Do jeito que Jungkook se preocupava com um carro, não seria nada surpreendente se ele quisesse que o Supra não rodasse e sim fosse cuidadosamente transportado.

Jungkook pegou o celular no bolso para checar o horário.

— Bonitão, tô triste. — Taehyung franziu o cenho.

— Por que?

— Tô com saudades do meu filho. — virou a tela para mostrá-lo o papel de parede.

Não acredito. Taehyung quase criou alarde e se preocupou.

— Está sentindo falta do seu GTR, mecânico?

— Muita — Jungkook fez um biquinho e suspirou. — O Big Mike nem pra tirar foto serve.

— Deixa eu ver. — pediu e ele lhe entregou o aparelho para que olhasse melhor. E realmente, a foto tirada estava bem ruim, em termos de qualidade de imagem e ângulo. — É, acho que ele podia ter tirado uma melhor.

— Podia né, mas não tirou, que porra, eu só queria o meu carro. — Jungkook choramingou. — Mas você tá ligado que meus 'papel de parede são as duas coisas que eu mais gosto, né, bonitão?

— Não? — Taehyung ponderou e deslizou o polegar na tela para desbloquear, mas tinha senha. As duas coisas que Jungkook mais gosta? — Mecânico, não vai me dizer que você ainda não trocou aquela foto?

Ele assumiu um sorrisinho arteiro e pegou o celular de volta, desbloqueando-o ao digitar a senha e virou-o em sua direção para mostrar.

— Não acredito. — Taehyung realmente não acreditava que ele manteve a sua foto na tela.

— É, acredita sim e essa foto aqui eu só mudo no dia que eu conseguir uma ainda melhor.

— E como seria uma foto "ainda melhor" que essa? — perguntou, mesmo já tendo uma ideia do que ele falaria.

— Como você acha? Sem isso aqui, né — Jungkook apontou para a tela, justamente para a cueca — Uma foto melhor seria de você peladão.

— Eu fico tão bonito assim pelado? — Taehyung alisou o maxilar, pensando a respeito.

— Lógico, bonitão. E você só não é a oitava maravilha do mundo porque já é a primeira.

Os flertes de Jungkook eram impossíveis.

— Mas então..eu sou uma das duas "coisas" que você mais gosta? — Taehyung arqueou as sobrancelhas olhando para ele.

— Sim, tá felizão por isso, bonitão? — Jungkook sorriu danado.

— Talvez. Eu venho antes ou depois do Skyline?

— Ah, agora você me pegou..

— Como assim? Você gosta mais do carro do que de mim, Jungkook?!

— Não é isso, é que você veio depois dele, né, e como pai, eu não posso fazer isso com meu filhinho..

— Não, eu não estou acreditando. — Taehyung ficou incrédulo. Era sério? Mesmo?

O sorriso de Jungkook aumentou. Era tão divertido tirar uma onda com a cara do bonitão, porque as reações e expressões dele eram incomparáveis.

— Você está querendo dizer que o GTR vem primeiro, é isso mesmo?

Nãoooooo, que isso? Tem um mal-entendido aí.

— Não tem não, eu ouvi muito bem. — Taehyung dispensou a necessidade de uma explicação e ameaçou apressar os passos, mas Jungkook apressou-os, virou-se e caminhando de ré, ergueu o braço para lhe barrar. — Chama o seu GTR pra cuidar de você, pra tomar banho com você e dormir abraçado com você.

Ele tinha um sorrisinho tão maldito no rosto, como quem estava silenciosamente divertindo-se além da conta. Tendo proibido sua passagem, Jungkook agarrou sua cintura e puxou-lhe para perto, sem se importar se estavam no meio do estacionamento.

— Eu não sabia que você podia ser dramático, bonitão. — Jungkook encostou no pilar ali, trazendo o homem para ainda mais perto. — Taehyung, é óbvio que você vem primeiro. — esclareceu com um sorrisinho antes de roubá-lo um beijo demorado.

Sentiu o curvamento dos lábios dele contra os seus e ao afastar-se, Jungkook viu a expressão de Taehyung, entendendo a razão de ele conseguir ser dramático. Para ouvir exatamente o que queria ouvir.

— Acho que vou fazer umas flexões antes de tomar banho.

— De novo, mecânico?

— Você também não malha todo dia?

Mesmo não estando cem por cento, Jungkook já havia iniciado o processo de recuperar a forma. Não tinha mais tempo a perder e obviamente não só esteve exageradamente sedentário aqueles dias, além de ser o tipo de pessoa que não conseguia ficar parado por muito tempo, esteve dedicado em se recuperar ainda mais rápido.

Por isso, um pouco de esforço estava sendo feito, desde que de forma correta e controlada. Sem exagerar e para isso não acontecer, bem, talvez estivesse sendo monitorado por um certo alguém.

⸸•💀•⸸

Enfiou o restante da torrada na boca e pegou a última fatia de bacon tostado. Bebeu um gole do americano gelado e olhou para o caríssimo vaso chinês que enfeitava o belo aparador na sala de jantar. Jungkook continuou pensando no que mais iria precisar.

— O que tanto você está escrevendo aí? — ouviu a voz grave e rouca do homem soando próxima assim que ele terminou de arrumar a cozinha e tudo o que foi usado para preparar seu café.

— Tô anotando o que a gente não pode deixar de comprar.

Jungkook olhou para o pedaço de papel e encarou tudo o que estava escrito na listinha feita. Com base em seu achismo, era tudo o que iria precisar para dar uma boa geral no lugar e deixar apresentável.

— Eu posso dar uma olhada? — Taehyung sugeriu já surgindo detrás do rapaz para uma tentativa de bisbilhotar já que ele estava fazendo tanto suspense.

Mas antes que sequer pudesse ler o que vinha a seguir de alguns números dizendo também quantas unidades iria precisar de tal coisa, ele virou o papel do avesso e bateu a caneta na mesa decidido:

— Acho que é só isso. — Jungkook sentou-se de lado na cadeira e lhe encarou com uma fatia de de bacon entre os dedos. — Que isso, tava espiando, bonitão?

— O que?

— Você não tem paciência nenhuma, né? — Jungkook sorriu todo atrevido e agarrou seu quadril, puxando-lhe para que ficasse de frente para ele — Como eu vou ser romântico com você se você é assim?

Como assim ser romântico comigo?, Taehyung pensou.

— Você é tão impaciente e ansioso, bonitão, tá ficando maluquinho porque não aguenta esperar.

Não se tratava de impaciência e ansiedade, mas curiosidade. Porra, tudo bem. Era tudo junto e misturado. Em pouco tempo estava assim, talvez também estivesse ficando "maluquinho".

— Eu não gosto de surpresas. — confessou e viu o brilho no rosto de Jungkook sumindo.

— Sério, bonitão?

— Mas isso não muda nada, mecânico — apressou-se em dizer ao ver a quebra de expectativa — Se você quer me surpreender, não tem problema algum. Eu não me importo, na verdade, eu quero ser surpreendido por você.

— Hum.. — ele lhe olhou de soslaio e deu um apertão em sua cintura.

— Você pode me surpreender quando quiser.

— Vai aprender a gostar de surpresa?

— Eu posso tentar — Jungkook sorriu e balançou a cabeça em negação.

Ele enfiou o último pedaço de bacon na boca e pegou a última torrada no prato, dando uma boa mordida, enchendo demais a boca. As bochechas infladas e a tentativa de segurar o pão colocando-o entre os lábios para poder pegar as coisas, Taehyung foi mais rápido. Pegou o prato com os talheres quase intocados - que por sinal, faziam parte do hábito dele, o que Jungkook pudesse comer com a mão, ele comia -, e a xícara vazia, manuseando tudo e concedendo-o que segurasse a torrada com a mão, já que não levaria nada.

Ao lhe ver pegando tudo para ele, Jungkook abriu um sorrisinho e já em pé, ele abriu o bolso da bermuda para guardar o papel e a caneta. E ele já estava pronto.

Todo vestido a caráter com a bermuda cargo bege, a camiseta básica e folgada preta com estampa em branco de um Opala, a meia branca era de cano alto e os calçados que fariam parte do look, All Star pretos, estavam posicionados no hall de entrada. O estilo dele com certeza era bem... específico. Jungkook se vestia de uma maneira urbanizada - e "americanizada" - demais para o seu gosto.

Ainda tinha o fato das roupas serem largas e compridas, ficando folgadas no corpo dele, então era como se Jungkook estivesse vestindo roupas maiores que ele, o que Taehyung não conseguia entender. Mas ele ficava adorável.

Ele lhe seguiu até a cozinha para lavar as mãos e não importava quantas vezes o mandasse para fazer isso no banheiro, Jungkook sempre lavava as mãos na pia da cozinha. Essa era só uma das incontáveis manias que ele tinha.

E com a mochila que levava apenas duas mudas de roupas já pendurada em um dos ombros, Jungkook calçou os tênis e virou para olhar o homem, que carregava uma mala de viagem preta.

— Bonitão, tá ligado que é só dois dias, né? — perguntou, se referindo ao tamanho da mala dele, que mesmo sendo de mão, ainda assim era grande.

— Eu sei — Taehyung assentiu, também se dispondo a se aproximar para calçar o par de calçados sociais. — Dois dias e duas noites.

Jungkook continuou encarando a mala, imaginando se além de roupas, ele também estava levando todos os cremes e hidratantes, porque não era possível precisar de uma fucking mala.

E o ênfase nas "duas noites" ficou estranho. Ele não estava levando todas as coisas de skin care, né?

Coçou os cabelos e sem se importar, pretendia logo abrir a porta, quando olhou para ele de novo e dessa vez, o escaneou com cuidado.

Jungkook olhou Taehyung dos pés à cabeça e da cabeça aos pés. E com as sobrancelhas franzidas, perguntou:

— Peraí, bonitão, 'cê vai assim mesmo?

— O que?

— Vai vestido assim, de patrão?

— Como é? — foi a vez do Kim franzir o cenho. Eram suas roupas casuais, a calça slim preta e a camisa social também preta, nada demais.

— Não, é só que.. — Jungkook olhava-o, ele estava tão bem arrumado e até cheiroso — Essa roupa aí não é muito adequada pra ocasião, saca?

Taehyung não sabia qual era a ocasião, não tinha nenhuma ideia, portanto, infelizmente, não tinha como adivinhar qual vestimenta era a mais "adequada".

— Posso saber então qual seria?

— Olha como eu tô vestido — mensurou ambas mãos para mostrar e o rosto do homem adquiriu um espasmo. — Era pra ser um bagulho mais casual porque a gente também vai se sujar, ficar molhado e as porra toda, mas sei lá, você que sabe. Dá tempo de trocar ainda.

— Não tem problema, não preciso trocar — Taehyung dispensou. — Eu não tenho e nem se tivesse, não usaria roupas assim.

O jeito como ele se vestia também era muito de moleque e Taehyung de fato não só não tinha roupas assim, como jamais usaria.

Sentindo-se insultado, Jungkook fez questão de olhá-lo dos pés à cabeça mais uma vez, como se estivesse rebatendo, porque também não usaria roupas como aquelas.

Odiava ternos, odiava gravatas, odiava calças slim e odiava sapatos sociais. A única coisa que usava eram as camisas sociais, mas do seu jeito, se não fosse com todos, com a maioria dos botões abertos.

Pelo menos não andava por aí como se estivesse vestido para um funeral todo santo dia. Era preto, preto e preto, e roupa formal o tempo todo.

— Enfim, o look básico do mafioso — retrucou insatisfeito e o deu as costas sem sequer admirar a expressão hilária que Taehyung fez ofendido. Mas antes de prosseguir, virou-se subitamente para apontá-lo o indicador. — Ah, e eu que vou dirigir a Dodge.

Taehyung não teve chance de dizer nem questionar nada, porque dito isso, Jungkook simplesmente abriu a porta e saiu, só lhe restando a opção de acompanhá-lo apartamento afora.

Seria um longo e exaustivo dia. Jungkook esperava que conseguissem dar conta da primeira parte em um só dia, assim, poderiam aproveitar o próximo para se dedicar à segunda etapa: preparar tudo para que ficasse perfeito.

⸸•💀•⸸

Em plenas cinco e meia da manhã, pelas ruas de Seul, que ainda amanhecia e a cidade acabava de acordar, Jungkook dirigiu a Dodge Ram que carregava o Supra dentro da carreta reboque baú fechado. Sendo acompanhado pelo Mazda Rx-7, continuou dirigindo com extremo cuidado até o seu destino.

Taehyung não entendeu todo o cuidado que o mecânico estava tendo, nem mesmo a necessidade disso tudo, mas interpretou que tinha mais algo a ver com o desejo de Jungkook de dirigir sua F2500, do que ser cauteloso com o Toyota.

Porque as carretas eram mais usadas para viagens de longa distância e apesar dos pneus torados, o carro nem precisava de tanto cuidado assim. Só que ele insistiu e como saíram cedinho no horário que não tinha movimento, acabou dando certo.

Logo atrás, Taehyung freou o Rx-7 assim que o viu parando. Esperou para desligar o carro e confirmou que aquele era o destino quando viu Jungkook abrir a porta do motorista e saltar da caminhonete. Desligou o motor do carro e saiu também, olhando ao redor e tentando entender onde estavam.

Ao sul da cidade, em um dos bairros considerados do subúrbio, onde havia muitos projetos de revitalização e reurbanização. E aquele local, ao fim da rua, era imenso. Uma propriedade fechada e com o que conseguiu ver por cima dos muros, havia uma construção grande, algo como um galpão.

Confuso demais e ponderando se era ali mesmo, já se questionando também o que diabos fariam ali, passou pelos carros e foi até ele, que estava parado em frente ao portão, tão grande quanto.

— Que lugar é esse? — Jungkook lhe olhou no mesmo instante.

— Minha casa, bonitão — ele revelou com um sorrisinho. — Espera aí que eu vou abrir o portão, beleza?

Taehyung não teve chance de perguntar nada, ficou estático enquanto ele saía do seu lado. A casa dele?

Jungkook caminhou até a Dodge Ram estacionada ali, aproveitando que havia a embicado perto o bastante da calçada. Olhou para a carroceria, o pneu e a altura do muro, certificando-se de que dava para alcançar sem problemas. Apoiou a canhota no sustento da capota, firmando-a ali e erguendo a perna à medida exata para posicionar o pé no pneu traseiro da caminhonete. E foi de uma vez só. Pegou o impulso necessário para conseguir dar um salto e apoiar a destra no topo do muro alto.

Taehyung nem viu acontecer. Quando se deu por si, Jungkook já havia se pendurado no muro, exercendo força sob os dois braços e com auxílio dos pés impulsionou-se para conseguir subir.

— Que merda você está fazendo?! — exclamou indignado — Você não está pensando em pular daí não, né?

— É lógico que eu vou pular daqui, lindão. — sentado no muro com uma perna para cada lado, Jungkook exclamou de volta.

— Você ficou louco, mecânico?!

— Qual foi, bonitão, fica suave aí que eu tô indo pegar a chave, falô?

Para começar, como diabos ele conseguiu fazer isso e subir tão rápido? Segundo, subir era uma coisa, descer era outra e ele ainda estava com a perna machucada.

— Mas a sua perna.. — sua voz morreu à mesma medida em que ergueu a destra e massageou as têmporas, o vendo decidido pendendo a perna esquerda já para o lado de dentro. E mal deu dois segundos para Jungkook fazer uma continência na brincadeira e sumir de sua vista, obviamente, saltando daquela altura de merda sem se preocupar com nada. Muito menos com a perna, aliás, foda-se a perna. Como ele era teimoso.

Do lado de dentro, tendo descido sobre uma pilha de pneus de caminhões velhos, Jungkook tinha um sorrisinho no rosto.

Apostava que Taehyung perdeu tudo achando que era doido de saltar daquela altura com a perna ainda cicatrizando, se bem que, se não tivesse lembrado dos pneus, teria saltado de qualquer forma.

Talvez algum ponto da sutura estourasse, mas nada preocupante, podia costurar de volta se acontecesse. Jungkook também aprendeu a lidar e cuidar de ferimentos.

Esfregou as mãos empoeiradas e deu leves batidinhas na parte de trás da bermuda, tirando a sujeira de ter se sentado nas carcaças dos pneus velhos. E caminhando pelo extenso quintal, sentiu-se nostálgico.

Faziam tantos anos desde que esteve ali que era impossível não sentir alguma coisa. Jungkook sentiu um aperto no coração pela sua última memória de casa ser tão dolorosa. Sentiu-se ainda pior por ver a situação de abandono, até então, explicitamente visível do lado de fora. Por dentro das sessões de portas de aço do galpão deveria estar ainda pior. De trás daquele galpão, a casa também. Estava tudo abandonado porque não aguentou lidar com o acontecimento que marcou o local.

Jungkook estava voltando para seu antigo lar, praticamente oito anos depois. Levou tanto tempo para criar coragem e voltar que nem parecia estar acontecendo de verdade.

Pelo menos não havia mato. No pátio pavimentado, estavam alguns dos carros encapados por lonas, estas que com o tempo também haviam se deteriorado e estragado. Algumas carcaças haviam sido deixadas expostas e estavam completamente enferrujadas, ainda mais do que Jungkook se lembrava.

Suspirou fundo e perto dos tambores de gasolina, pegou o pé de cabra. Partiu em direção ao sedan de luxo abandonado e rumou até a traseira do carro. Jungkook mirou na lanterna direita e não hesitou um segundo em prosseguir.

Do lado de fora, Taehyung se preocupou ao ouvir o barulho de algo se quebrando.

Jungkook encarou os estilhaços da lanterna quebrada e soltou o pé de cabra no chão, o som do metal caindo também soando alto o bastante. E ali, conseguiu pegar o molho de chaves. O melhor esconderijo para as chaves não era debaixo de um vaso, muito menos num buraco da parede, e sim dentro da lanterna de um carro.

Uma pena que não tinha tempo para abrir a lanterna para pegar o que havia guardado, então, teve que quebrar.

Encarando o chaveiro de carrinho, a miniatura de um Camaro 1968, o coração doeu um pouquinho.

Jungkook respirou fundo de novo e se apressou em ir até o imenso portão duplo, destrancando os cadeados e abrindo os trincos. Empurrou com força o portão que deslizou pelos trilhos e abriu-o.

Minutos depois de ter entrado, Jungkook saiu do lado de fora e assustou Taehyung, que por sinal, parecia ocupado. Um sorriso largo surgiu em seu rosto em meio à surpresa.

Ele estava querendo repetir sua manobra para pular o muro, era isso mesmo que estava vendo?

Tão rápido quanto a velocidade da luz, ao ser flagrado, o homem tirou o pé de cima do pneu da caminhonete e dispensou a necessidade disso, aliás, nem conseguiria. Taehyung disfarçou colocando as mãos nos bolsos da calça slim, caminhando tranquilo em sua direção.

— Você não ia conseguir, bonitão, e não ia conseguir por causa desse seu uniforme de mafioso. — debochou com um sorrisinho.

— Que seja. O que aconteceu lá dentro? O que foi aquele barulho?

Jungkook ergueu o molho de chaves pendurado entre os dedos, exibindo-o para o homem que não conseguiu compreender.

— A chave 'tava dentro da lanterna de um carro e eu tive que quebrar ela, só isso. — explicou. — Agora vamos lá, bonitão, se mexe.

— O que eu faço?

— Você coloca o Rx-7 pra dentro que eu coloco a Ram — disse — E aí a gente tira o seu carro e desengata a carreta pra poder usar ela pra ir comprar as coisas que vamos precisar, morô?

Taehyung só assentiu, compreendendo ao menos a sua função: continuar dirigindo o Mazda. Foi o primeiro a recolher o carro para dentro da propriedade, estacionando-o diante de uma das imensas portas de aço do galpão, que deveria ser uma oficina.

Mas Jungkook não havia dito que era a casa dele? Ele sempre morou em uma oficina?

Tendo estacionado o carro, Taehyung saiu de dentro do Mazda outra vez e buscou apoio na lataria, observando a picape sendo manobrada no pátio. Jungkook tinha tanta prática que era impossível não admirar. Ele era mesmo um motorista nato.

O portão estava aberto e a caminhonete já estava embicada em direção à rua. O Supra foi cuidadosamente retirado de dentro do baú fechado e acomodado ao lado do Mazda. Taehyung o seguiu até a traseira da picape e observou Jungkook indo tirar a carreta. Por baixo das mangas da camisa, viu os bíceps tatuados se tensionando ao puxar o freio estacionário. Ele pegou nas alavancas e girou até poder puxar a trava, desencaixando do engate da caminhonete e desacoplando a carreta.

Ao vê-lo com as mãos sujas de óleo e prestes a limpar na bermuda, Taehyung o estendeu um lenço que guardava no bolso.

— Beleza, agora a gente vai resolver as paradas. — Jungkook limpou as mãos e lhe devolveu o lenço antes limpo, todo encardido. — Eu vou tirar ela e você encosta o portão. — Taehyung encarou o tecido branco que ficou marrom e deixou-o pendurado no freio estacionário do reboque, se apressando e fazendo como foi mandado, de novo.

A Dodge foi colocada de volta na rua e Taehyung fechou o portão, deixando-o encostado sem trancar. Entrou na caminhonete que era sua - valendo ressaltar - como passageiro e colocou o cinto de segurança. Jungkook lhe olhou com um sorriso sacana no rosto e com o motor já ligado, pisou fundo no acelerador, saindo em uma arrancada.

⸸•💀•⸸

A primeira parada foi um mercado de atacado na estrada. Por sorte, ainda não eram sete horas e o trânsito estava tranquilo, caso contrário, estariam ferrados. E quando chegaram, foram os primeiros a entrar porque o mercado havia acabado de abrir

— Pega o maior, bonitão — Jungkook apontou para o carrinho de compras e Taehyung o olhou. Por alguma razão, sentia estar recebendo ordens demais.

Com o cenho franzido e uma expressão de quem não estava necessariamente achando ruim, mas estranho por ser incomum - porque era sempre quem dava ordens -, pegou o carrinho e obviamente, ficou encarregado de empurrá-lo.

O primeiro corredor foi o de produtos de limpeza. Jungkook estava com a listinha quando parou em frente aos detergentes. Ele olhou as marcas e escolheu a melhor, que no caso, era a mais cara.

Taehyung viu ele pegar o máximo que conseguia de uma vez só e a seguir, colocou tudo dentro do carrinho. E terminou pegando mais cinco, quinze detergentes. Não se atreveu a questionar nada e acompanhou-o, só observando o que era colocado dentro do carrinho de compras, em grande quantidade, em várias unidades. Ele pegou três água sanitária de 5L, pegou cloro e dois tipos de desinfetante. Depois vieram as vassouras, rodos, esfregões, buchas e quatro pacotes de luvas.

— Por acaso a outra parada a que você estava se referindo...— Assim que chegaram ao fim do corredor e o carrinho já estava lotado de utensílios de limpeza, Taehyung resolveu ver se estava entendendo certo. — É uma faxina?

Por mais óbvio que já estivesse, deveria confirmar.

— Isso aí — Jungkook riscou tudo o que já havia comprado — Surpresa! — exclamou sorridente ao olhar para o homem. — Beleza, bora pegar o resto, a gente não pode pegar trânsito na volta.

Taehyung finalmente entendeu porque suas roupas não eram adequadas para a ocasião. Iriam fazer uma faxina, a surpresa grandiosa era essa. Estava sem acreditar, e nunca fez uma faxina antes.

Jungkook foi pegando tudo o que estava na lista e jogando no carrinho de compras. Além dos produtos de limpeza para a faxina, ele comprou refrigerante e cerveja. Até então, nada comestível, só bebida.

— Olha que daora — Jungkook pegou em mãos um chinelo pantufa do baby Yoda. — Que tal? Curtiu?

— Não.

— A gente precisa levar chinelo, bonitão. — ele explicou e devolveu aquele, olhando os outros, todos cheios de frufru e coloridos.

— Posso saber por quê? — saiu de trás do carrinho para também olhar a variedade de chinelos, apesar de já ter encontrado o perfeito.

Por que precisavam de chinelo se seriam só duas noites?

— Porque sim, pega logo aí.

Taehyung o olhou como quem exigia uma resposta decente, mas pela reação de Jungkook, não obteria tão logo. Suspirou fundo e pegou dois pares de chinelos ideais, simples e pretos, e jogou no carrinho. O rapaz lhe encarou com um sorrisinho diante da escolha um tanto óbvia e continuaram. Na parte de higiene, ele pegou mais coisas indispensáveis, desde sabonetes, creme dental, enxaguante e escovas novas, à papel higiênico e lenços, além de repelente.

— Se tem uma parada desgranhenta no mundo é pernilongo — Jungkook disse ao colocar as quatro unidades no carrinho — No verão se você der bobeira e esquecer a janela aberta até muito tarde, já era. Você vai deitar pra dormir e essas pragas ficam te comendo e gemendo no seu ouvido, dá uma raiva do caralho.

— Com certeza. — Taehyung assentiu mesmo que não lidasse frequentemente com pernilongos. — E por isso você está levando repelente o suficiente pra pelo menos três meses.

— Três meses nada, cara, em Los Angeles no calorzão dependendo eu usava um desse por semana.

— Um por semana?!

— É, tem uns pernilongo que você taca veneno neles e os filhos da mãe não morre. Aí o bagulho vai embora que nem água.

Taehyung coçou os cabelos e observou Jungkook checando a listinha mais uma vez, seguindo para o restante do corredor e indo para uma parte onde haviam alguns produtos mais íntimos dispostos. E assim que o viu pegando cinco tubos de aparência específica e jogando também no carrinho, arregalou minimamente os olhos. Em silêncio, pegou um deles em mãos para confirmar que era o que estava pensando, lubrificante.

— Qual você usa? — Jungkook se perguntou já estando mais a frente pegando outra coisa. — A maior de todas, XL? Ou a L?

Taehyung soltou o tubo de lubrificante de volta no carrinho de compras e foi até ele. Jungkook segurava dois pacotes de camisinha em mãos e a primeira coisa que fez foi olhá-lo.

— Qual você acha? — ele lhe olhou interessado e arqueou as sobrancelhas, olhando para os dois lados do corredor e quebrando a distância entre seus corpos. Taehyung o olhou intensamente e não esperou aquele toque vindo. Jungkook simplesmente agarrou seu pau ali mesmo.

— Pelo que você guarda nessa calça.. — Com um sorrisinho danado no rosto, ele apertou com firmeza. — XL.

Jungkook estava sendo atrevido de propósito e mesmo surpreso, decidiu pelo menos retribuir. Aliás, que tipo de pessoa insensível Taehyung seria se não retribuísse?

Não se importou com a presença de alguém e só direcionou ambas mãos à parte de trás da bermuda alheia, podendo agarrar a bunda de Jungkook com força. Em resposta, ele lhe encarou de um jeitinho tão satisfatório, como se estivesse lhe repreendendo por não ser exatamente isso que estava esperando como troco, que seus lábios reagiram por si. Taehyung sorriu como o canalha que era.

— Você gosta disso, Jungkook? — perguntou em um sussurro grave e rouco, firmando as mãos na bunda dele e apertando com vontade. Jungkook reagiu da melhor forma possível. — Pensando bem — encostou a boca na orelha dele e o fez estremecer — Você gosta. Eu sei que você gosta.

Voltou a se afastar para contemplar a reação dele. Ele abriu um sorriso descrente e rapidamente tirou a mão do meio de suas pernas, tocando em seus braços para lhe conter, visto que estava apertando com vontade demais. Jungkook também lhe fez tirar as mãos dele, encerrando a provocação mais rápido do que nunca.

— Se fode, aquieta esse fogo.

— Você começou. — Taehyung argumentou em sua defesa.

— Comecei, mas já terminei — ele rebateu, mas ainda queria provocá-lo.

— E pra ter comprado não um, mas cinco tubos de lubrificante — apontou o olhar apreciativo para o carrinho de compras — Quem mais será que está com fogo?

— Engraçadão, não sei se você tá percebendo, mas eu gosto de comprar coisas pra estocar. Não sou de ficar indo pra mercado toda hora pra ficar repondo merda nenhuma, entendeu? Eu sou um cara ocupado, não tenho tempo pra isso.

— Claro, é muito perceptível e também compreensível. — Taehyung cruzou os braços — Mas cinco de uma vez?

— Nós vamos usar bastante. — Jungkook pegou um pacote e atirou no carrinho — Bom, vê aí a marca e o tamanho que você usa nessa pirocona e pega uma quantidade daora também, beleza? Eu vou ali ver um negócio.

Com os braços cruzados, observou-o atravessando e indo para o outro corredor logo à frente. As roupas que ele estava usando ficavam ótimas nele. À distância e com ele de costas, viu melhor o comprimento dos cabelos roxos. Taehyung admirou o quanto Jungkook era bonito antes de encarar o pacotinho de camisinhas que ele mesmo jogou no carrinho. Doze unidades, tamanho large. Estreitou os olhos e olhou para o rapaz no outro corredor.

Pegou o melhor e mais caro preservativo do tamanho que usava, uma quantidade boa e que coincidisse com a quantidade de lubrificante comprado. Aliás, se Jungkook disse que usariam bastante, Taehyung não deixaria faltar nada.

No caixa, a expressão da moça foi um tanto engraçada. A quantidade de produtos de limpeza, além dos fardos de Coca-Cola e cervejas, e no final, os produtos de higiene pessoal no meio de camisinhas e lubrificantes. Ela passou os últimos produtos, um tanto íntimos e suspeitos demais, e olhou de um para o outro.

— Ah, e eu quero um Marlboro Red, por favor, moça — Jungkook pediu antes que ela fechasse a compra. Calado, Taehyung olhou para ele enquanto a operadora do caixa se levantou para ir pegar.

A moça logo voltou e finalizaram a compra, saindo com tudo colocado em caixas para facilitar o transporte e Taehyung empurrava um dos carrinhos de compras pelo estacionamento até a caminhonete estacionada.

— Você também fuma cigarro, mecânico?

— Fumo. — ele respondeu empurrando o outro carrinho com os cotovelos, terminando de contar as notas de dinheiro. — Toma aí o seu troco — enfiou o amontoado de cédulas no bolso de sua calça.

— Eu pensei que você só gostasse de maconha.

— Não, eu também fumo cigarro — Jungkook disse — Mas é às vezes, não gosto de depender dessas porras não.

Certo. Nem precisava perguntar para saber que se Jungkook negava firmemente que não era maconheiro, seria a mesma coisa. Ele também iria negar que não era fumante, como se usar com menor frequência o impedisse de se enquadrar no termo.

Tudo foi colocado na capota da caminhonete e a segunda parada foi um posto de gasolina na estrada. Jungkook encheu o tanque e pediu 3L de Diesel no tambor. E Taehyung só tinha uma função: passar a grana e o cartão black.

E foi engraçado porque ele estava dirigindo a caminhonete, praticamente de posse da sua Dodge Ram, agindo como o dono e mandando encher o tanque sendo que nem era ele quem iria pagar.

— Beleza, vê aí o que mais falta — Jungkook tirou a listinha do bolso da bermuda e entregou em sua mão.

Ele voltou a colocar o carro na estrada enquanto Taehyung passava os olhos pelo pedaço de papel, onde a maioria das coisas haviam sido todas riscadas. Não só estava anotado o que precisava comprar, como coisas que não podia esquecer.

— Gás — leu o que não estava riscado. — E banco?

— Porra, mas já é.. — Jungkook tirou o olho da estrada para ver o horário no visor do painel — Oito e meia. Acho que o banco fica pra depois.

— O que você vai fazer no banco?

— Minha conta tá zoada, meu cartão venceu e os caralhos todos. É coisa demorada também, na verdade, vou deixar pra outra hora — ele mudou de ideia apesar de querer pagar Taehyung pelo Rx-7 e já ficar com o carro — Você pode deixar o Mazda lá comigo, eu vou dar uma geral nele e aí eu te pago depois quando conseguir pegar minha grana, pode ser, bonitão?

— Sim. — foi rápido em concordar, não se importava com o pagamento, muito menos em recebê-lo tão logo assim. — Você pode pagar quando der, mecânico, não tem problema.

— Tá, mas tirando o gás e o banco, tem mais uma coisa aí na lista, não tem?

— Não?

— No verso do papel, bonitão.

— Loja do mecânico e de pneus.

— Beleza — Jungkook trocou de faixa, acelerando um pouco mais pela estrada para voltarem para Seul.

A segunda parada da manhã foi um depósito de gás, onde foi comprado botijão de gás e depois, as devidas lojas. Sinceramente, Taehyung não saberia dizer onde Jungkook mais fez a festa. Se tratando de produtos de limpeza e refrigerante, ele era exagerado, mas ao entrar no paraíso das ferramentas, ele também exagerou. Sem contar que saiu dali com uma máquina lava jato Karcher novinha.

Na loja de pneus, também foi uma maratona. Jungkook deu uma aula de marcas de pneus e dispensou o atendimento do funcionário, aliás, Jungkook deveria ser contratado porque sabia muito mais do que ele. E no fim, Taehyung saiu dali gastando mais uma quantia tendo comprado pneus novos para o Toyota, além de outros utensílios que seu mecânico pessoal havia dito que iria precisar.

A Dodge que saiu vazia voltou carregada. O que seria usado na oficina, foi descarregado na oficina, que Jungkook abriu todas as portas de aço, revelando o interior e deixando o galpão pegar um ar antes de entrarem ali dentro. Já o restante, Taehyung descobriu que logo atrás da construção, a propriedade era tão grande que havia uma casa. Então, era a casa de Jungkook. E isso tudo tinha a ver com a sugestão dele de conhecê-lo mais.

Agora estavam carregando as caixas para guardar o que ficaria na casa quando pararam diante da porta.

Como já havia notado assim que entraram na oficina, também aparentava estar abandonado. Jungkook não deveria voltar ali desde que se mudou para Los Angeles e a razão disso ainda era um mistério.

Por que ele foi morar na Califórnia e trabalhar de empregado sendo que tinha uma oficina própria?

E por que ele sairia do exército para ir morar tão longe assim?

Essas eram algumas das dúvidas que Taehyung tinha e que infelizmente não conseguia ter um palpite, ou então, desvendar sozinho.

Jungkook abriu a porta e concedeu a entrada na casa. Dispensando a necessidade de tirar os calçados, fez o mesmo e o acompanhou até a copa.

— Pode deixar aí depois a gente arruma. — Jungkook disse colocando as duas caixas que segurava em cima da mesa. — Só vou colocar as bebidas na geladeira.

Voltaram para pegar o resto e também pegaram o botijão, fazendo a instalação do gás na cozinha. Terminando, Jungkook ligou a torneira e checou a água, depois, foi até o interruptor checar se também tinha eletricidade.

— Ótimo, se tivesse cortado eu ia ter que fazer um gato pra gente ter luz pra trampar.

Jungkook não abandonou completamente. A propriedade estava em seu nome, então durante aqueles anos todos, pagou as contas de consumo e impostos para manter em ordem. Jamais acumularia dívidas e além disso, continuou pagando como uma forma de fazer uma auto promessa, de que quando voltasse, pelo menos uma parte da casa estaria como sempre foi, com água e luz. E apesar de ter falhado dois meses, estava tudo certo. Só deveria precisar pagar logo.

A casa não estava tão suja como a oficina, apesar de ter ficado fechada por tanto tempo quanto. Mas Jungkook não se atentou a isso.

Taehyung esfregou o nariz. Pelos poucos minutos que estavam ali dentro, a quantidade de poeira começou a incomodar.

— Vou só dar uma mijada antes da gente começar — ele disse e com uma vontade imensa de espirrar, assentiu. E só quando o viu sumindo de sua vista no corredor, conseguiu coçar o nariz, sentindo a vontade de espirrar voltando.

Merda, era muito sensível à poeira e a quantidade ali dentro era extraordinária.

Assim que escutou a descarga, ajeitou-se contendo a coceira, mesmo imaginando que poderia estar com o nariz vermelho e irritado. Ele voltou com uma coisa em mãos e se aproximou de si. Taehyung tentou, discretamente, disfarçar, mas não funcionou muito bem, aliás, Jungkook com certeza ouviu os espirros.

— Por que você também não fala nada, bonitão? — Jungkook perguntou em um tom repreensivo. — Toma, coloca uma máscara.

Taehyung tirou a máscara descartável da embalagem e se apressou em colocá-la no rosto.

— Melhor agora?

— Sim.

— Beleza então — ele sorriu mais conformado em saber que estava melhor e caminhou até uma das caixas, pegando as duas garrafinhas de água compradas e lhe entregou uma. — Agora bora lá — Jungkook envolveu o braço ao redor de sua cintura, guiando-lhe para fora da casa. — Que a faxina de hoje tem que render, e se ela render, sabe o que vai acontecer, meu bonitão?

— Não. — negou e viu ele sorrir todo danado.

— Não posso falar. É surpresa.

— Caralho, mas de novo? Eu já falei que não gosto de surpresa.. — Taehyung se deixou levar e xingou. Jungkook ficou boquiaberto e riu.

— Isso é jeito de falar comigo? — exclamou risonho. — Mafioso malcriado! E mentiroso, porque mentiu pra mim dizendo que ia tentar gostar de surpresas.

— Eu não menti, eu estou tentando.

— Não tô vendo você tentar não.

A discussãozinha prosseguiu durante a rápida caminhada de volta até o pátio e o galpão. Parados na entrada da oficina de bom tamanho - ainda mais para caber tranqueira -, os homens se entreolharam.

Taehyung viu Jungkook tirar um elástico preto do bolso e juntar os fios roxos. Observou a maneira como ele prendeu para não atrapalhar e silenciosamente, admirou-o com o cabelo preso. Ele lhe olhou de volta e Taehyung foi ágil em sair de seu estado absorto.

— Beleza, mãos à obra, bonitão.

Ajudou Jungkook a arrumar algumas coisas antes de começar a faxina, no caso, antes de jogar água. Ajudou ele a mover alguns pedaços de carros, como parachoques, aerofólios e mais um monte de coisa velha.

Esfregou as mãos com luvas uma na outra e encarou mais um monte de lanternas de carros que foram tiradas para fora do galpão.

— Cara — Jungkook colocou as mãos na cintura encarando a montoeira de coisas — Depois vou ter que fazer uma limpa e o que não prestar vou levar pra vender num ferro-velho.

Taehyung olhou-o com uma cara de que então, ele deveria levar tudo. Para si, nada ali "prestava", mas, quem era para dizer algo se mal entendia? Talvez aquelas sucatas servissem para alguma coisa.

— Tem muita coisa aí que dá pra aproveitar, bonitão, eu sei que não parece, mas só pra você ficar ligado, com essa porrada de peças talvez eu consiga restaurar ou até montar um carro. — apontou para alguns dos carros cobertos por lonas envelhecidas — E eu tenho algumas opções de carcaças pra brincar.

— Tudo bem então monta um. Eu quero ver você montar um carro do zero. — Jungkook sorriu com a sensação de um desafio sendo proposto.

— Montar? Não restaurar?

— Sim, montar. — Taehyung confirmou.

— Tá, que tipo de carro você quer, bonitão?

— De arrancada. — escolheu. — Consegue, Jungkook?

— Você não me conhece mesmo, né? — ele desdenhou com um sorrisinho — Fechado. Eu vou montar um carro de arrancada pra você quando der, bonitão e você vai ver, vai ficar top de linha.

Taehyung podia apostar que sim.

— Agora chega de papo furado, já tiramos tudo, bora pra melhor parte, meter água — Jungkook pegou as duas pontas do esguicho e lhe entregou uma delas — Vou ligar a máquina, toma, coloca na torneira ali atrás — apontou para a direção onde estava a torneira.

Esticou a mangueira e conectou no registro, já girando para ligar de acordo como ele havia dito. Abriu duas voltas e meia e voltou. Jungkook estava esperando o ar sair, apontando o esguicho para o chão e molhando uma parte. Ele lhe olhou de soslaio com um sorrisinho duvidoso nos lábios e mal deu tempo de suspeitar.

Taehyung só sentiu o jato de água gelado atingindo-lhe em cheio na barriga assim que Jungkook virou a ponta da mangueira em sua direção.

— Opa. — ele rapidamente desviou, voltando a jogar água no chão como se tivesse errado sem querer, sendo que não tinha como.

— É sério? — indagou levando as mãos à própria barriga, já sentindo a camisa molhada colando em seu corpo.

— Às vezes a mão da gente dá bobeira, sabe? — Jungkook disse com um sorrisinho. — Mexe sozinha e tals — e mirou o esguicho em suas pernas, molhando toda a sua calça. — Opa de novo.

— Me dá isso. — Taehyung tentou pegar mas ele foi mais rápido e se afastou com um sorrisinho. E entre risos, Jungkook aproveitou da distância segura para jogar água em si ainda mais livremente. — Vem aqui agora, mecânico. — ordenou e ele riu ainda mais.

— Nem fodendo, sai pra lá — ele foi se esquivando com o esguicho em mãos, apontando-o em sua direção e jogando água sem parar.

Taehyung fingiu que ia por um lado, e ele ia fugir pelo outro, quando foi mais rápido e o agarrou pela barra da camisa. Segurou-o e pôde repentinamente colar seus corpos, agarrando o braço dele para impedir de ser molhado de novo. Jungkook tinha o rostinho bonito banhado em pura diversão, tentando desvencilhar para continuar atirando água, mas segurava-o firmemente pela camiseta.

— Qual foi, bonitão? — ele indagou risonho — Parei já, pode soltar.

— Tem certeza? — duvidou aproximando seus rostos para olhá-lo no fundo dos olhos. Com certeza era enganação. — Parou porque eu estou te segurando agora.

— Mas pode soltar, é sério, eu juro. Tô só zoando, olha pra nós! — exclamou com um risinho. — Nós somos dois marmanjos, bonitão, a gente não vai brincar de água que nem pirralhos.

Podia acreditar nele? Com certeza não.

— Então só por precaução — disse — Me empresta.

— Não vai jogar água em mim não, né?

— Nós não vamos brincar de água que nem pirralhos. — argumentou e encarando-lhe, Jungkook ergueu uma das sobrancelhas.

O esguicho apontado para um ponto qualquer era segurado por ele, que era mantido assim por causa de estar segurando o braço dele, a proximidade entre seus corpos era gritante e seus rostos também estavam extremamente próximos. Se não estivesse usando a máscara, sabia o exato ponto em que Jungkook já estaria olhando. Ele nunca disfarçava. Taehyung pensou seriamente no que iria fazer se o convencesse a entregar o esguicho.

Mesmo desconfiado, Jungkook se deu por vencido e foi lentamente soltando, entregando em suas mãos e confiando que iria só confiscá-lo por alguns segundos.

E assim que Taehyung obteve total controle do esguicho, o curvamento de seus lábios se tornou maligno.

— Agora você está muito ferrado, mecânico. — o rapaz lhe olhou com uma cara de quem não acreditava que iria fazer isso de verdade, mas Taehyung fez. Jogou água nele e o perseguiu pela oficina, esticando a mangueira ao máximo só para molhá-lo da mesma forma como ele lhe molhou.

E ao invés de colocar as mãos à obra, começaram pela diversão, mesmo sendo dois marmanjos, acabaram brincando de água que nem dois pirralhos. Se divertindo e constatando mais uma vez o quanto se sentiam confortáveis e em paz quando estavam juntos.

No final, eram situações e momentos assim que tornavam o relacionamento de Taehyung e Jungkook tão especial. Dois homens com vidas difíceis e passados tão conturbados, experienciando um escape da realidade.

⸸•💀•⸸

O barulho da máquina zumbia em um loop infinito dentro da cabeça de Taehyung.

Os braços estavam cansados de tanto esfregar e as pernas também imploravam por um descanso de tanto andar pra lá e pra cá. Jungkook sempre encontrava um pontinho onde precisava esfregar mais, onde devia jogar mais cândida ou pegar o óleo diesel.

Ou então, onde deveria esvaziar mais um detergente para tentar esfregar com toda a força de sua alma uma sujeira que não sairia nunca.

E várias vezes esteve tão perto de quebrar a vassoura ao meio, ainda mais quando ele assobiava para chamar sua atenção e só fazia linguagem de sinais para não ter que desligar a máquina barulhenta.

Puta que pariu. Taehyung não deveria ter pago por aquela merda.

Deveria ter entendido o brilho nos olhos de Jungkook na loja quando disse que aquela era "daora". Daora porque era a mais cara e tinha uma potência do caralho. Por isso também ele estava se divertindo na lavação.

A oficina era bem grande, deveria ter imaginado que teriam um trabalhão. Mas não aguentava mais. Já eram mais de três e meia da tarde e Taehyung não via a hora de acabar, estava exausto.

Por sorte, assim como foi feito para o almoço, teve mais uma pausa e sua cabeça pôde ter uma trégua antes da maldita máquina voltar a ser ligada para terminar o serviço. Mais uma hora se foi para a finalização, e isso incluía repassar para tirar todo o sabão e a espuma, porque caralho, Jungkook era exagerado. Ele usou quase todos os detergentes.

E claro que não ficou parado enquanto ele repassava. Em sua mão, Jungkook trocou a vassoura por um rodo e sua função mudou de esfregar para empurrar água. Sinceramente, nunca mais.

Taehyung não seria escravo dele assim nunca mais, por isso, ele que aproveitasse bem.

Como ele havia dito para tirar só o excesso de água, seu serviço terminou logo. Sentado em cima da tampa aberta da capota da Dodge com o cotovelo apoiado no cabo do rodo, assistia o rapaz terminando. O portão estava aberto para ele poder empurrar a água com sujeira e restos de espuma, para a rua. O sol se punha e a tarde chegava ao fim.

Estava todo encharcado. Os botões da camisa social fora da casinha para diminuir seu incômodo de sentir a roupa colada no corpo, a calça desconfortável. Já o sapato, certamente teve de trocar no primeiro escorregão que levou e só não caiu de quatro porque Jungkook estava por perto. E ele tinha reflexos ótimos.

Ou talvez tenha sido Taehyung quem grudou nele?

Mas de qualquer forma, o par de tênis emprestados também estavam encharcados. Estava molhado dos pés à cabeça, o corpo aquecido se resfriava toda vez que o sol se escondia e agora, com este encerrando o turno, estava sentindo frio.

A máquina parou de fazer barulho assim que Jungkook deixou de apertar o gatilho. Taehyung quase não acreditou. Sua cabeça parou de girar e no fundo da mente, ainda escutava a máquina ligada. Ele se aproximou carregando a pistola.

— Desliga a água lá pra mim, bonitão — Jungkook pediu esticando a mangueira da máquina, o claro indício de que dessa vez, havia terminado.

Taehyung saltou da tampa e foi desligar a torneira, já desengatando o esguicho e se apressando para arrumar tudo. Ajudou ele a enrolar a mangueira da máquina, desligar o fio da tomada e tirar a extensão. O portão foi fechado de volta e Jungkook o trancou, já que como sabia, ficariam por ali naquela noite.

— Cara, será que deu pra dar uma arejada?

— Como assim? — Jungkook lhe olhou com um sorriso bonito no rosto e pegou em sua mão.

— Vem cá, bonitão.

Taehyung o olhou sem entender, mas apenas se permitiu ser guiado para os fundos do galpão e para o lado contrário dos banheiros, em um corredor, havia uma porta. O único local que não viu água, era aquele e não chegou a espreitar porque na hora que estava prestes a fazer isso, Jungkook gritou seu nome.

— Não vai me dizer que também tem uma garagem? — supôs e assim que se aproximaram, a porta estava aberta e o portão também, a claridade do entardecer iluminava o local, permitindo que confirmasse por conta própria. Era uma garagem.

Assim como a garagem em que Jungkook morava em Los Angeles, havia uma ali exatamente igual. Com direito a uma cama, um frigobar, um carro e a típica decoração meio retrô. Os discos de vinil na parede, quadros, pôsteres de bandas, prateleiras com o que se pareciam brinquedos, troféus e medalhas, e havia alguns pequenos retratos. Era algo mais pessoal e parecia mais antigo também.

— Meu refúgio — Jungkook revelou com um sorriso — Mas não vamos entrar ainda, bonitão — ele espalmou as mãos em seu peitoral para que recuasse os únicos passos dados para enxergar ali dentro — Tá sentindo alguma coisa?

— O que?

— Vontade de espirrar, coceira no nariz, sei lá, qualquer coisa? Eu dei uma geral aqui, quero saber se funcionou. Não dá pra lavar e não tinha tempo de tirar tudo pra limpar, então foi bem rápido.

— Quando você fez isso? — perguntou. — Ah, a hora que você falou que ia usar o banheiro e..

— E demorei pra caralho? — Jungkook sorriu ainda mais. — É, foi. Eu não fui cagar, eu vim aqui.

Taehyung olhou para ele intrigado, ponderando exatamente o que significava.

— Tudo bem. É aqui que eu vou saber mais sobre você?

— É, mas primeiro a gente tem que tomar banho, você tá gelado que nem um defunto, bonitão. — Jungkook disse brincalhão ao tirar as mãos de seu corpo. — Vai pegar as coisas no carro pra gente poder se vestir depois que eu vou ligando o chuveiro.

— Ok. — Taehyung se prontificou a atravessar toda a oficina para ir até a Dodge. Abriu a porta de trás para pegar as malas e estava prestes a fechar quando escutou um celular vibrando.

Se dirigiu à porta do motorista e abriu, esgueirando-se para alcançar os dois celulares deixados no console. Pegou o seu e viu que não havia sido o que havia emitido uma notificação, portanto, também pegou o de Jungkook. A curiosidade aguçada, Taehyung respirou fundo e não olhou. Voltou a fechar a porta e antes mesmo de voltar para dentro do galpão, em suas mãos, o celular vibrou de novo. E por ter acabado de chegar a notificação, a tela se acendeu sozinha. Um número fora dos contatos havia enviado mensagem.

Estático ainda do lado de fora com um nó na garganta, Taehyung resolveu arrastar a barra de notificação para baixo, lendo não só um pouco da mensagem enviada, mas a imagem. Foda-se tudo.

Sua mão impulsivamente apertou o aparelho com certa força enquanto seus olhos estavam vendo o que não queria ver.

Independente se fosse uma foto antiga ou não, ainda era a porra de uma foto deles juntos. Uma foto de Jungkook e Yoon Seojun.

Respirou fundo e abaixou a mão que segurava o celular, sentindo a mesma sensação ruim da corrida. Tudo o que sentiu vendo Jungkook abraçado nele, estava voltando à tona e com toda força. Taehyung odiava o que estava sentindo. Era tão incontrolável e imprevisível quanto a raiva, odiava.

Engoliu a seco retomando seus passos e rumando ao banheiro, e prestes a empurrar a porta para entrar, vibrou de novo. Mas antes que voltasse a olhar sem conseguir evitar, se deu conta de que não foi o dele que vibrou e sim o seu. Taehyung olhou para a porta entreaberta do banheiro, escutando o chuveiro ligado. Colocou as malas no chão limpo e seco, deixando o celular de Jungkook ali e se reergueu já olhando a mensagem.

Silva: o maluco tá saindo do trabalho agora

Com o celular em mãos, olhou adiante para pensar por alguns instantes. Olhou através do vão da porta e olhou para Jungkook. Com uma mão, ele girava as torneiras de água e com a outra, estava checando a temperatura da água do chuveiro.

Estava ciente da situação e estava ciente das intenções dele. Taehyung também era perspicaz o suficiente para saber o que estava se passando.

Por isso, além de já ter passado da hora, tomou a decisão e fez a ligação para dar a ordem:

— Peguem o desgraçado.

Dentro do banheiro, Jungkook terminava de ajustar a temperatura ideal quando escutou a voz do homem. Virou-se e abriu a porta, deparando-se com ele um pouco distante dali, afastando o celular da orelha como quem havia acabado de fazer uma ligação.

— Está pronto? — ele se aproximou e jogou o celular em cima da mala no chão.

— Hum, já tá quente. — Jungkook o viu já se livrando da camisa social, atirando-a no chão e retirando os tênis enquanto desabotoava a calça.

— Então você também sabe mexer com chuveiros. — Taehyung comentou com um sorrisinho de canto. Era melhor tentar pensar no que Jungkook não sabia mexer.

— É, pode crer, eu sei mexer em chuveiro também. Taehyung. Com quem você tava falando? — O homem tinha as mãos no cós da calça quando ergueu o olhar para encará-lo, interrompendo a intenção imediata de abaixá-la.

— Com o Silva. — revelou sem esconder e abaixou a calça sob o olhar atento de Jungkook — Eu dei a ordem.

— Então vão pegar ele hoje.

— Sim. — assentiu e deixou as roupas molhadas ali mesmo no chão — O que você está esperando? Tira a roupa, Jungkook.

Taehyung se aproximou dele e levou suas mãos à barra da camisa preta alheia, também grudada no corpo de tão encharcada. Olhou-o nos olhos, enxergando a permissão para fazer isso. Ergueu a peça com cuidado e arrancou do corpo dele, jogando no chão junto às suas. Deslizou as mãos pelo abdômen desnudo, sentindo como Jungkook também estava gelado. Desabotoou a bermuda e abaixou o zíper, desviando seu toque ao cós percebendo o olhar dele antes de abaixar a bermuda.

O deixou também só de cueca e ele apreciou da ajuda, se livrando dos All Star molhados e prestes a tirar as meias também úmidas quando deixou de se conter. Tocou a cintura fina e colou seus corpos abruptamente. Quebrou a distância entre seus rostos e estava prestes a beijá-lo quando desviou para o pescoço dele, podendo envolver sua boca ali para beijar e chupar. Jungkook ofegou e agarrou seu quadril.

— Ei — uma mão escorregou e agarrou sua nádega. Taehyung ergueu o rosto e olhou para Jungkook. E ele tinha um sorrisinho danado no rosto quando resolveu surpreendê-lo.

Agarrou-o com firmeza pela cintura e o empurrou para dentro do banheiro, com praticidade, fechando a porta atrás de si e o jogando embaixo do chuveiro.

— Porra, caralho. — Jungkook exclamou assim que suas costas se chocaram contra a parede.

Taehyung não estava sabendo lidar com aquilo. Pensar em Jungkook com aquele homem, ter visto aquela foto, estava fazendo o ciúmes lhe subir à cabeça.

E se nunca se apaixonou antes, o que diria de sentir tudo isso? Se remoer de tanto ciúmes. Foi compreensivo naquela noite, mas agora não mais. Se ele tinha o contato de Jungkook, foi porque Jungkook deu o número a ele.

Talvez Jungkook não tivesse o superado direito ainda. Talvez agora que Jungkook sabia que ele estava vivo, fosse a segunda opção.

Não estava pensando direito. Taehyung odiou ter olhado o celular dele sem permissão, odiou não ter pensado melhor antes de se deixar levar por curiosidade.

Jungkook olhou para o homem sem entender o que estava acontecendo e ele logo veio em sua direção. As mãos firmes alcançaram sua nuca e mal teve tempo de processar ou entender. Taehyung lhe puxou de uma vez só e lhe beijou, metendo a língua dentro de sua boca e iniciando um beijo exagerado de afoito.

Agarrou os cabelos molhados dele e fechou os olhos com força, sentindo a água quente molhando-lhe por inteiro, seus corpos colados em contato, dividindo o espaço embaixo do chuveiro. Prendendo o ar para conseguir lidar com o fato de estar completamente embaixo da água que caía sem parar e tentando acompanhar a súbita intensidade de Taehyung, Jungkook se viu sendo devorado, literal e inesperadamente.

Não estava entendendo. Que merda deu nele?

Mas não era por isso que não aproveitaria. Sua surpresa e choque durou efêmeros segundos, até porque, Jungkook gostou daquela afobação. Na verdade, isso era mais o jeito de Taehyung. Ele era uma mistura perigosa de intensidade, impaciência e brutalidade. Tudo o que Jungkook secretamente gostava.

Apertou os cabelos do homem, sentindo o fôlego evaporando à mesma velocidade com que Taehyung estava enroscando suas línguas, tão necessitado. Os fios já completamente molhados grudaram em seu rosto e a sensação era incômoda. Sentiu-o apertar sua nuca com firmeza e ainda sem desgrudar suas bocas, uma mão escorregou para agarrar sua bunda, tudo sendo tão rápido que Jungkook só teve a gemer contra a boca dele.

Daquela noite não passaria e isso era oficialmente uma certeza. Jungkook estava sentindo nos toques dele. Taehyung estava por um fio.

Certamente, a falta de ar também o atingiu e o homem desconectou suas bocas, afastando-se debaixo da água e Jungkook voltou a encostar na parede. Uma mão sob o próprio peito medindo a aceleração dos batimentos cardíacos e a outra foi levada a passar pelos cabelos roxos, jogando-os para trás enquanto olhava para ele.

— Q-que porra.. — estava sem fôlego algum. — Foi isso, Taehyung?

Ele também jogou os cabelos castanhos escuros para trás, deixando a testa livre e a imagem que estava tendo dele era ainda mais atraente. De relance, seus olhos repararam em algo alarmante em Taehyung, o volume na boxer.

Ele tinha os olhos exagerados de intensos, as orbes escuras reluziam um brilho diferenciado, transformando completamente a aura dele. Taehyung deu um passo para frente e ficou embaixo da água corrente por alguns segundos antes de dar mais um passo adiante. A franja molhada voltou a cair pela testa e atrapalhá-lo os olhos assim que próximo o bastante, Taehyung espalmou uma mão na parede, ao lado de seu rosto. Ainda lidando com a intensidade daquele beijo, Jungkook ajeitou a postura e encarou-o de volta, e ergueu sua mão para puxá-lo pela nuca, sem dar o braço a torcer.

— É assim que vai ser? — perguntou — Não tem paciência pra esperar e vai me comer no banho mesmo? — Jungkook sorriu ladino. — Eu não ligo, só tô cansado de ter ficado em pé o dia todo, pensei que a gente podia tomar banho primeiro e ir pra cama..

— Mecânico, eu vi a foto. — Taehyung encostou a testa em seu ombro, o cabelo molhado pingando e fora da água quente, seu corpo sofreu com o choque de temperatura.

— A foto? — indagou confuso. — Que foto?

— Ele mandou uma foto.. — continuou sem entender. Ele? Caralho, Yoon Seojun? — Eu olhei o seu celular, Jungkook, e eu vi uma foto sua com a porra do seu ex.

— Cacete, bonitão — Jungkook exclamou e o sentiu apertar sua cintura. Suspirou e tocou na parte de trás dos cabelos dele. — Ele não é meu ex.

— Como não? — Taehyung ergueu o rosto no mesmo instante. — Como assim ele não é o seu ex?!

— Não sendo.

— Jeon Jungkook. — chamou o nome dele um tanto sério e o viu sorrir. — Eu estou ficando louco com isso e você está fazendo graça?

— Não, é que.. você não pode falar isso sem saber. — disse. — A gente nunca namorou, então, não tem como ele ser meu ex se ele nem foi meu namorado, sacou?

— Mas vocês tinham uma relação, então dá na mesma. — Taehyung manteve a expressão inconformada. Sendo ex ou não, eles tinham algo e não era um mal entendido. Foda-se. — Não precisava ter um relacionamento definido ou oficial. Eu vi a foto, vocês eram próximos e vocês tinham alguma coisa, não adianta me dizer que não.

— Tudo bem, tinha. — Jungkook esclareceu honestamente. — Mas ainda assim ele não é o meu ex porque eu não namorei com ele.

— Você não namora, né?

Taehyung não sabia se se sentia pior ou melhor em saber que eles não namoraram. Mas se sentiu decepcionado e magoado, porque então, estava na mesma. Era assim que as coisas funcionavam com Jungkook.

— Não porque eu sou jovem, selvagem e livre. — brincou numa tentativa de amenizar o mau humor do homem ali, mas não adiantou. Ele estava morrendo de ciúmes e provavelmente, se sentindo ainda pior porque sua relação com ele era similar com a que teve com Seojun no quesito de nada ter sido oficial independente se estivessem se gostando.— Eu tô brincando. Olha, vamos tomar banho pra jantar e aí mais tarde a gente conversa sobre isso. Vou te contar tudo, eu vou mandar a real pra você, Taehyung. Você pode esperar só mais um pouco?

— Tudo bem. — Iria tentar esquecer a imagem vista ou ao menos, jogá-la para o fundo de sua mente. Dependendo, também mandaria a real para ele. Se Jungkook fosse lhe contar tudo, Taehyung faria o mesmo.

— Tá, agora vem aqui — ele lhe puxou para mais perto. — Bonitão, você tem que ficar ligado numa parada.

— Que parada? — com um sorriso, Jungkook envolveu os braços ao redor de seu corpo.

— Quem tá aqui agora? — arqueou as sobrancelhas — Pode falar, bonitão.

Ele tinha razão. Não deveria ficar tão incomodado com algo "passado", nem se tivesse ressurgido. E além de tudo, não deveria se esquecer de que confiava nele.

— Eu. — respondeu.

— Você. — as mãos molhadas alisavam suas costas de um jeito vagaroso e a sinceridade no olhar dele era essencial — Quem esteve comigo nesses últimos dias?

— Eu.

— Isso aí, você de novo, bonitão. — Jungkook sorriu e o fez encostar a cabeça em seu peitoral para confortá-lo. Já deveria estar óbvio — É você, Taehyung.

— Mas ele te mandou mensagem — o homem voltou a erguer a cabeça para lhe encarar. — O que significa que você deu o seu número pra ele.

— É, mas ainda bem que foi o número e não o beij.. — deixou seus pensamentos saírem em voz alta e quando se deu conta, já era tarde demais.

— Como é que é? — Taehyung franziu o cenho e ajeitou a postura, indignado— Mecânico, ele te beijou?!

— Não, mas..

— Mas o que, porra? — espalmou as duas mãos na parede.

— Ele tentou.

— Caralho, ele tentou te beijar, Jungkook?! E por que não conseguiu?

— Porque eu não quis — Jungkook respondeu simples. — Eu não queria beijar ele, então eu não deixei ele me beijar. — E preferia nem repensar nisso de tão constrangedor que foi no momento.

— Puta merda, mecânico — Taehyung passou a mão pelos cabelos e lhe encarou. — Só de pensar nisso eu fico..

— Louco? É, tô percebendo, você fica loucão. — constatou por conta própria e o fez abaixar um dos braços para que pudesse passar. Jungkook entrou embaixo do chuveiro e antes mesmo do homem virar-se, agarrou-o pelo quadril.

— Jungkook. — ele chamou com aquela voz grave e rouca, tocando em seus braços que rodearam-o pela cintura, abraçando-o por trás. Encaixou o queixo no ombro dele e admirou o semblante furioso. Taehyung ficava com tanto ciúmes.

— A gente tá ficando, bonitão — despejou um selar no pescoço dele — E eu já disse que eu não penso em ninguém além de você.

Queria saber até quando iriam "ficar", assim como queria saber se esse termo se definia o que estavam tendo. Mas, de qualquer forma, era bom ele reforçar que só pensava em si, ou seja, nenhuma chance de Jungkook estar em dúvidas nem pensando no ex-não-ex.

Taehyung deslizou sua mão pelo braço tatuado e virou-se para ficar de frente para ele, levando sua destra livre ao pescoço de Jungkook. Olhava-o nos olhos e aproximou-se lentamente. Encostou suas bocas, pressentindo o curvamento dos lábios dele e prestes a beijá-lo com tudo o que tinha quando foi puxado para baixo da água.

— É sério? — indagou ao recuar um passo e colocar a mão no rosto, esfregando os olhos para voltar a abri-los.

— Vem aqui, meu bonitão, deixa eu esfregar o seu cabelo — ele sorriu lhe puxando pelo braço, uma mão já tocando seus cabelos.

— Se você tivesse beijado ele e me rejeitado assim agora, eu nem sei o que faria com você, mecânico.

Jungkook sorriu danado como quem queria saber mais sobre isso.

— Você tem que entender que isso aqui — uma mão sorrateira lhe surpreendeu ao apertar seu pau por cima da boxer — tá tirando todo o meu foco e se você me beijar de novo, eu juro por deus eu não me responsabilizo pelas minhas ações, então, vamos guardar esse fogo pra mais tarde porque hoje.. — Jungkook umedeceu os lábios. — A noite vai ser longa.

Taehyung o olhou, de relance, percebendo a mão atrevida escorregando para baixo com uma certa intenção e foi nesse instante em que agarrou o pulso dele, antes mesmo de deixá-lo apalpar demais e testar sua sanidade.

— Sabe como é, bonitão, no fim, todo o esforço é recompensado. — malícia pingou na voz dele em meio àquele olhar cheio de segundas intenções. Jungkook era um perigo. — E o seu.. — sussurrou em sua orelha — Tá pertinho de ser.

Ele se afastou com a porra de um sorriso safado no rosto. O tipo de sorriso que somado ao olhar intenso, acabaria com as estruturas de qualquer um. Taehyung nunca se arrepiou tanto apenas com palavras e se sentia atacado toda vez que Jungkook lhe seduzia daquele jeitinho dele. Era pura tentação, estava sendo provocado.

— Agora, vem, eu vou lavar o seu cabelo — Jungkook pegou o shampoo e destampou, virando a palma da mão para cima.

— Mecânico! — exclamou ao ver a quantidade que ele estava colocando. — É muito, não precisa de tudo isso.

— O que? Como assim?

— Não acredito, então foi por isso que o meu shampoo acabou tão rápido?

— Que mané seu shampoo acabou rápido o que, tá viajando?

— Mecânico, dá pra lavar cinco cabeças com tudo isso que você tá colocando!

E Jungkook não era só exagerado com produtos de limpeza, mas com produtos de higiene também. Por isso seu shampoo não aguentou. Não existia shampoo que aguentasse nas mãos dele se ele colocava tudo aquilo só para uma lavagem de cabelo, era exagero.

— Não enche o saco e vem aqui logo — ele lhe puxou e colocou a mão cheia de shampoo em sua cabeça, levando a outra para ajudar a espalhar e não deixar cair, aliás, era muito.

Jungkook esfregou e a quantidade de espuma formada foi exagero, e como esperado, não demorou muito para ele começar a fazer graça. Taehyung sentiu-o brincar assim que juntou uma quantidade de seu cabelo e esfregou as duas mãos para deixá-lo em pé.

— É sério isso, mecânico? — sua expressão era a mais hilária de todas, porque sabia que estava sendo zoado.

— Olha só — Jungkook terminou e parou para olhar, segurando a vontade de rir. — Tá parecendo um bebezão. — ergueu a mão ainda com espuma e apertou a bochecha do homem, que tentou se afastar.

— Bebezão é o caralho. — Taehyung ralhou de cenho franzido e ao sentir sua bochecha sendo apertada com força, segurou o pulso dele. Jungkook riu e soltou, prestes a se afastar — Pode vir que agora é a sua vez. Vamos ver quem é o bebezão de verdade aqui.

Jungkook riu ainda mais e voltou a se aproximar, aceitando o seu destino. Infelizmente, querendo ou não, era o bebezão de verdade ali. Ainda mais se somado à carinha de bebê, que também, aceitando ou não, tinha.

— Olha só, quer que eu pegue um espelho pra você ver como ficou?

— Não, sai fora, vai pegar espelho porra nenhuma. — Jungkook desviou. — Para de me olhar assim.

— Assim como? — Taehyung se fez de desentendido, segurando o riso.

— Não se faz de trouxa, bonitão.

— Eu não estou me fazendo de nada.

— Tá sim, pode parar, eu não sou o bebezão.

— Não mesmo, bebezão é pouco, na verdade parece mais um bebezin..— engoliu os próprios lábios, calando-se antes de terminar.

— Continua, vai. — Jungkook mandou com um sorriso e deu um cutucão em sua costela. — Termina se você é homem, Taehyung.

Ao ser chamado pelo nome, olhou para ele e olhou de novo para os fios roxos ensaboados espetados para cima em um penteado engraçado.

E com um sorriso oblíquo no rosto, atreveu-se e terminou a palavra, não dando nem dois segundos para Jungkook lhe pegar por trás e prender em uma chave de braço. Taehyung ainda se atreveu a provocá-lo dizendo que só estava listando um fato, muito verídico, e que um espelho abriria os olhos dele, que por sinal, eram tão grandinhos e brilhantes como os de um bebê. Jungkook resolveu também reparar nos seus, vendo que apenas um de seus olhos tinha pálpebra dupla, por fim, se dando conta de um traço único seu.

O banho seguiu com brincadeiras e provocações que logo mais se tornaram carícias e beijos. E Taehyung e Jungkook sentiam estar vivendo um sonho, o mais perfeito de todos.

Só que justamente por isso, por se tratar de um sonho, o grande problema seria acordar e voltar às suas respectivas realidades.

❰🍸❱
PREVIEW EP. 21

— Você não vai se arrepender depois, Jungkook? — perguntou, sentindo o olhar dele queimar sob si assim que um estalinho molhado da chupada ressoou pela garagem.

— De ser o seu namorado? — ele sorriu e tocou em seus cabelos, voltando o cigarro aos lábios e rebolando o quadril em busca de mais contato — Porra, jamais..

❰🍸❱

ENFIM, ACABOU!! 25k de palavras, vcs foram guerreiros hj. mas e aí, gostaram do cap? 

já conseguem sentir o fim de uma era chegando? é, gente, não só os taekook, vamos td mundo acordar desse sonho que já tá sendo bom demais pra ser vdd☝ 

mas não se preocupem, o 21 ainda tá safe e tá ainda mais gostosoo se é que vcs me entendem e nele vai acontecer as 2 coisas mais aguardadas por todos!!<3

ENTÃO SÓ HJ VCS descobriram como o yeonjun conhece (e idolatra) o jk, como o david tem uma sexualidade duvidosa, como o taehyung virou escravo sem nem perceber mas segundo o jungkook ele vai vencer mto por isso haha e tambémm como VAMOS TER YOONMIN 

e por último, mas n menos importante td mundo concorda que o seojun e o mingyu DARIAM UM CASALZÃO?? 😎

bom, espero que tenham gostado, usem a tag da fic no twitter #mapsitk 🍸

beijos, fui ❤️🚗💨

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