Eram quase dez da manhã quando Loren chegou na casa de Adan. Ela se sentou na mesa de jantar, junto dos outros quatro e se serviu do café. Mirka estava sentado ao seu lado enquanto mastigava uma fatia fria de pizza. O loiro passou a noite na casa, fazendo companhia para Boris.
Juan estava na cadeira afastada da mesa. Ele abafava o sorriso no ombro de Adan, que estava sentado em sua perna. Os dois olhavam para Boris, que também ria, sentado na frente deles.
– Que estúpido – disse Loren olhando para o celular.
– O que? – perguntou Adan.
– "Deus pegou a pele mais suave e uniforme, o cabelo mais hidratado e brilhoso, os olhos mais expressivos e brilhantes, os lábios mais lindos e beijáveis e deu para um homem". Quem é assim? – perguntou a loira, sorrindo em descrença.
Adan se levantou de cima de Juan e parou em frente a Boris, tocando em seu rosto e o virando na direção de Loren.
– Boris, Deus estava muito inspirado enquanto fazia você porque ele te deu a pele mais suave e uniforme, o cabelo mais hidratado e brilhoso, os olhos mais expressivos e brilhantes, os lábios mais lindos e beijáveis – disse o negro, rindo. – Fico muito feliz que Juan e eu tenhamos fisgado você a tempo.
Mirka se debulhava em gargalhadas, pousando a testa sobre o tampo da mesa. Loren sorriu de lado e bebericou o seu café, escondendo a vergonha alheia que sentiu, enquanto Amara esfregava os olhos desejando agredir o irmão por protagonizar uma cena tão embaraçosa.
– Sim, meu Deus. Como que eu pude esquecer do Boris, o ser humano esculpido do barro com as suas próprias mãos? Perdão, foi meu erro esquecer que ele não tem defeitos. – ironizou Loren.
– Ele tem muitos defeitos, mas ser feio não está na lista – disse Adan.
– Eu tenho defeitos?
– Sim, vários – disse Mirka.
– Quais? – perguntou Boris, cruzando os braços.
– Você é muito tonificado. Sério, deitar no teu peito é como deitar em cima de uma pedra. Por isso que eu sempre prefiro sentar no Juan – disse o fazendo.
– É o que você ganha por namorar com um bailarino – disse Mika, dando batidinhas no ombro de Boris.
– Não faz mal, ainda tenho o meu atleta de dois metros, com mãos gigantes e peitos de travesseiro – respondeu o crespo, deslizando os dedos pelos cachos de Juan e o sentindo beijar seu maxilar.
– Nosso – disse Boris, sentando na perna vaga do cacheado e pousando a cabeça no ombro largo, soltando um grunhido irritado.
– É tão bom assim? – questionou Loren.
– É perfeito! – disse abraçando o pescoço de Juan. – Poderia dormir aqui durante horas.
Os braços azeitonados apertaram as cinturas deles enquanto os três riam juntos.
– E pensar que isso jamais aconteceria sem mim – disse Mirka.
– O que é que você fez de tão importante? – perguntou Loren, com a sobrancelha arqueada.
– Fui eu quem mandou esses três comprarem gelo juntos. Sem mim, vocês jamais estariam aqui.
Adan gargalhou ao lembrar de quando Boris sujou as calças de Juan pela primeira vez. Parecia tão distante de onde eles estavam agora.
– Talvez – disse o cacheado –, mas eu acho que quem nos juntou de verdade foi Jun-Seo. Sem ele, não teríamos ido à pizzaria e nem ao parque aquático. Tudo começou porque ele é burro e o Adan é um gênio.
O mais alto deixou um beijo na nuca dos dois e os puxou para mais perto. O crespo deitou sobre o seu ombro e beijou o seu pescoço.
– Impressionante – disse Amara. – Você conseguiu arranjar uma forma de não fugir do padrão. Que vergonha – disse olhando para o irmão.
– O que foi que eu fiz? – perguntou Adan.
– Desde que terminou com a Loren, todas as pessoas que você namorou são iguais a ela, loiras e latinas.
– Não é possível – disse Loren, parando para pensar, antes de se debulhar em risos sobre a cadeira. – É verdade. Sophia também é loira e latina. E todo o mundo que veio depois. Eu sempre disse que era marcante.
– E ele é tão obcecado nesse padrão, que mesmo namorando com dois homens, ainda seguiu na regra, um loiro e um latino – disse Amara, sendo atingida por um pedaço de pão.
– Chega disso, me deixem namorar em paz, suas invejosas – disse Adan.
– Enfim – começou Mirka entre risadas. – Vocês são ótimos, mas eu tenho que ir – disse se levantando.
– Espera, eu acompanho você até ao ponto. Vou calçar os sapatos – disse Boris subindo as escadas.
– Ei, obrigado – disse o loiro olhando para Juan e Adan. – Ele fica muito feliz com vocês. Cuidem bem dele.
– Pode deixar – disse Juan.
– Vamos – disse Boris, descendo as escadas.
Os dois loiros saíram pela porta e Juan abraçou Adan, deixando o alívio de ver Boris contente umedecer os seus olhos. A nuca do crespo parecia estar biologicamente preparada para esconder o seu rosto choroso ali.
O alarme de Adan tocou às cinco da manhã de segunda-feira, acordando os três que dormiam aconchegados na cama. O negro olhou a sua volta, confuso por um instante, antes de conseguir centrar os seus pensamentos. Ele se levantou da cama e viu os outros dois acordando aos poucos.
– Eu vou descer para arrumar os meus irmãos enquanto vocês se preparam – disse, deixando Boris e Juan sentados na cama, confusos.
– Pode usar o banheiro primeiro – disse o loiro. – Vou me alongar antes.
– Tudo bem.
Adan caminhava pela casa, aspirando e varrendo apressado, ao mesmo tempo em que fazia um pequeno almoço para cinco pessoas. Quando terminou, sacudiu a palma de sua mão na porta da irmã, recebendo um grito contrariado, antes de fazer o mesmo com Jonathan.
Eram sete em ponto quando ele subiu no quarto, encontrando Juan sentado na cama e viu Boris sair do banheiro com uma toalha no quadril. O negro se agachou ao pé da cama e retirou a caixa de ferramentas e a prancheta de lá.
Apesar de se perder no caminho do loiro quando ele soltou a toalha no chão e começou a se vestir, Adan se apressou a levar tudo para o carro antes de voltar a subir e se trancar no banheiro por dez minutos.
– Adan, será que você poderia me levar para a minha casa mais tarde? – perguntou Boris.
O mais baixo abriu a porta do banheiro, surpreso e apreensivo, procurando pelo par de olhos azuis.
– Sério?
– Sim, claro. Eu preciso pegar algumas roupas de qualquer forma. Seria ótimo se a gente pudesse ir no horário de almoço para não esbarrar com eles.
– Sim, tudo bem.
Adan estava inquieto. Durante o final de semana, Boris se recusou a se aprofundar sobre o que aconteceu. O celular estava desligado e ele não fazia questão de carregá-lo, nem mesmo o olhar. O aparelho estava no fundo de sua bolsa e não parecia haver nenhuma pretensão de usá-lo
Quando eles desceram para tomar café da manhã, encontraram um caos na mesa. Juan e Jonathan se serviam de maneira desengonçada, enquanto Amara mal tinha acabado de arrumar o cabelo e desfilava pela sala com o secador em uma mão e o pente na outra.
– Vocês têm dez minutos para se arrumar, senão terão que ir a pé – disse Adan se sentando.
– A tia Dandara pediu para a gente não se atrasar no jantar de hoje – disse Amara, subindo as escadas.
– Ai, esqueci que tinha que ir – disse Adan, olhando rapidamente para Boris.
– Não se preocupa, eu posso ficar aqui ou sair com Mirka e Elise.
– Vocês não querem vir com a gente? – perguntou o crespo. – Minha tia vai amar conhecê-los.
– Não precisa – disse Juan. – Boris e eu vamos fazer qualquer outra coisa. Vai aproveitar a sua família sem a gente para te incomodar.
– Não, eu insisto. Vai ser muito melhor com vocês lá, não quero mais ter que ouvir que sou encalhado.
Boris sorriu de canto e olhou para Juan, ambos sem saber como recusar.
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