Mapsi | taekook

By vinxenjk

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Uma noite, um racha, uma rivalidade. Ao perder para o novo e misterioso corredor, Jungkook não esperava que a... More

🍸⸸0.intro and cast
🍸⸸1.wasp nest
🍸⸸2.sheltered
🍸⸸3.disadvantage
🍸⸸4.tough as leather
🍸⸸5.obey
🍸⸸6.chitchat
🍸⸸7.blackout
🍸⸸8.not bad at all
🍸⸸9.confidential
🍸⸸10.nonsense
🍸⸸11.trouble in paradise
🍸⸸12.rainbow stitches
🍸⸸14.all for him
🍸⸸15.red light
🍸⸸16.vital point
🍸⸸17.dead end
🍸⸸18.outburst
🍸⸸19.crosshairs
🍸⸸20.homelife
🍸⸸21.devotion
🍸⸸22.mshcheniye
🍸⸸23.aftermath
🍸⸸24.hungry dog
🍸⸸25.antidote
🍸⸸26.unforeseeable
🍸⸸27.high speeds
🍸⸸28.zero hour pt.1
🍸⸸29.zero hour pt.2
🍸⸸30.hellfire
🍸⸸31.metamorphosis

🍸⸸13.healing kiss

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By vinxenjk

#mapsitk
⸸💀⸸

⸸💀⸸
13. BEIJO DE CURA

A realidade de estar sozinho ao acordar não podia ser mais dura.

Jungkook a sentiu cortando-lhe como uma navalha afiada, rasgando pontos de sua pele onde ainda não continha nenhum corte.

Ou então, tamanha a angústia sentida, podia muito bem ter cortado exatamente em um já existente. Não tinha certeza, só sabia que estava doendo.

Um desconforto enorme surgiu no peito e tentando ignorar isso, reuniu forças para se apoiar sobre os cotovelos, esforçando-se para conseguir se sentar. As dores pelo corpo todo ainda existiam e provavelmente não importava quantas horas de sono Jungkook tivesse, elas ainda demorariam muito para passar. E talvez nunca passassem. Talvez quando o inverno chegasse, nos típicos dias frios e gelados, junto da sensação dos ossos e as extremidades do corpo congelando, fosse sentir todas suas cicatrizes ressurgindo e doendo.

As cortinas cobriam as janelas e a mera transparência destas deixava invadir alguns feixes da luz do luar, providenciando de uma mera luminosidade no cômodo todo escuro. A imensa cama não podia estar mais vazia e isso era o que, no fundo, perturbava Jungkook e o deixava com a sensação do peito apertado.

Estava sofrendo e se sentindo tremendamente angustiado. Acordar sozinho naquele imenso quarto todo escuro não tinha como ser pior. Era como um tapa na cara, porque, o que Jungkook estava esperando?

Sem pedir. Sem ter tido a coragem de pedir, não era como se Vante fosse de fato ficar consigo.

E para começo de conversa, que tipo de relação exatamente tinham para isso? Pois é, nenhuma.

Por esse motivo também não teve coragem de pedi-lo para deitar consigo, nem mesmo para abraçá-lo e ser abraçado de volta. Jungkook não teve coragem de pedir isso para Vante mesmo se tivessem aquela conexão estranhamente louca e nem se tudo o que mais quisesse e precisasse era sentir conforto. E no fundo, quem Jungkook mais queria que lhe desse conforto, esteve ali há algumas prováveis horas atrás.

Ergueu as mãos para esconder o próprio rosto, esfregando-o algumas vezes numa tentativa de afastar toda aquela angústia. Não era o fim do mundo e estava tudo bem acordar sozinho, a escuridão e a tristeza eram suas amigas de longa data.

Suspirou fundo ainda se sentindo exausto, afastando o cobertor do corpo sem saber quando ele lhe cobriu e esgueirou-se para a beirada da cama, apoiando a destra no sustento da mesinha para levantar-se. Passou despercebido pelo par de chinelos deixados ali, organizados um do lado do outro, caminhando descalço pelo cômodo.

Conforme se aproximava da porta de madeira de correr do armário embutido que escondia o banheiro, em meio ao silêncio que presumia ser total, seus ouvidos apurados atentaram-se a um som específico do que parecia água caindo. O vãozinho embaixo da porta emanava um mísero feixe de luz, contradizendo com sua suposição certeira de que havia sido deixado sozinho.

Podia ter acordado sozinho, mas não estava sozinho. Vante não lhe deixou sozinho, ao menos, era o que se parecia.

Escutar um chuveiro ligado sempre teve um poder tão grande assim de transmitir conforto? E de causar dentro de si uma gritante sensação de queima de fogos de artifícios?

Porra, podia ser só um chuveiro ligado, mas para Jungkook era mais que isso. Era a pista de que Vante podia ter ficado ao seu lado mesmo quando dormiu - o que ainda achava uma coisa muito absurda, ainda mais se tivesse acontecido -, aliás, a esperança é a última que morre.

Mas sendo o caso ou não, foi reconfortante saber que ele estava ali, a nem um cômodo de distância, Vante estava por perto.

Jungkook caminhou em seu ritmo, mancando um pouco ao usar a perna direita e dando uns passos falsos até chegar à porta e pegar na maçaneta, puxando-a devagarinho para não denunciar sua presença, contendo a súbita animação e o sorrisinho arteiro.

Assim que conseguiu abrir espaço o suficiente, Jungkook entrou, apoiando as mãos pela parede para se sustentar e não fazer barulho ainda, esgueirando-se até a espécie de batente que delimitava o começo do cômodo.

A primeira coisa que percebeu foi a quantidade de vapor de água quente que preenchia o banheiro inteiro em meio a uma deliciosa e intensa fragrância de sabonete.

Levou as mãos aos bolsos da calça de moletom, escorando-se na guarnição da porta inexistente, enfim direcionando sua atenção ao local que naquele momento precioso guardava uma atração muito gostosa chamada Vante tomando banho.

Os vidros do box estavam embaçados, então mesmo que tentasse, Jungkook não conseguia ver muita coisa, ao menos, não o que podia querer ver, que era a cena completa e hipoteticamente até parecia censura de quadrinhos adultos.

Jungkook umedeceu os lábios observando o homem no chuveiro totalmente nu, com as costas tatuadas viradas em sua direção e se não fosse o vapor que embaçava ainda mais a parte de baixo dos vidros, podia estar diante de uma visão ainda mais privilegiada.

Viu Vante passar uma mão pelos cabelos molhados como se estivesse gravando uma cena de banho em uma novela, parecendo também estar passando a outra pelo peitoral e nesse momento, foi inevitável conter o assobio diante do espetáculo de outro mundo.

Jungkook engoliu os próprios lábios ao perceber que acabou declarando sua presença rápido demais, antes de continuar prestigiando em silêncio, notando o homem virando-se no mesmo segundo em que assobiou, encarando-lhe através do vidro do box. E pela cara dele, não estava só surpreso por ter sido descaradamente observado tomando banho.

Sorriu danado, tirando as mãos dos bolsos e mostrando-as em sinal de rendição, retomando seus passos, mas não para sair do banheiro.

Dentro do box, Taehyung não só se surpreendeu com a súbita aparição do mecânico ali enquanto estava no banho, mas por vê-lo em pé.

Sem terminar de repassar, esgueirou-se para abrir um pouco a porta do box, o vendo caminhando pelo banheiro e indo em direção à pia. Ele não estava se sentindo bem?

— Mecânico, por que você levantou da cama? — Perguntou, não precisando de muito para sua voz grossa sobrepor o som do chuveiro ligado e da água que caía solitária.

— 'Pra te ver tomando banho — Ele respondeu com um sorrisinho, se colocando diante da pia e lhe encarando de soslaio como se pudesse ter pensado em respeitar sua privacidade, mas isso foi antes de ele encostar o quadril no sustento desta e virar-se em sua direção. E o mecânico voltou a lhe olhar diretamente. — Bonitão.

Taehyung percebeu a maneira nem um pouco contida que o rapaz ali escaneou-lhe da cabeça aos pés, literalmente, aproveitando que havia aberto uma parte da porta do box para falar com ele e nisso, não tinha mais vidro embaçado censurando sua nudez. Não tinha nada que o impedisse de ver tudo e num ímpeto, repetiu o processo, olhando para o próprio corpo desnudo antes de voltar a olhar para ele.

— Já dizia um sábio, "homem bonito é homem calado e pelado". — Jungkook brincou, sorrindo ainda mais ao vê-lo sem reação.

Ele está bem, foi o que Taehyung constatou só de olhar melhor para o rapaz e ouvir aquela gracinha de fontes duvidosas, sem dizer nada, voltando a fechar a porta do box e contentando-se de que podiam se falar mesmo assim. Retornou para debaixo do chuveiro, não sabendo se ficava de costas ou de frente para ele, porque de uma maneira ou de outra, sabia que ele estaria lhe olhando. E não era por ter vergonha, longe disso, era mais por não saber como proceder em um caso como aquele, com alguém lhe observando, ainda mais ele.

— Pode ficar de frente, bonitão — Ele disse como se tivesse a capacidade de ler seus pensamentos. — E fica tranquilo que o vidro embaçado não vai me deixar ver muita coisa, nem a bundinha ou o tamanho da jeba de novo.

Taehyung ajeitou-se embaixo do chuveiro, nem que fosse para ficar de frente para ele, levando a destra ao vidro na altura de seu rosto para passá-la e desembaçá-lo, o vendo com um maldito sorrisinho nos lábios. E era um sorrisinho diferente, do tipo que parecia estar segurando o riso.

Jungkook esteve prestes a cair na gargalhada com aquela situação. Meu deus, Vante limpando o vidro pra poder lhe olhar enquanto terminava de tomar banho, só podia ser um atentado à sua seriedade. Não tinha como ficar sério, mas também não podia rir do nada.

— Por que você levantou da cama, mecânico? — Tentou perguntar de novo e o viu levando as mãos e protegendo a própria barriga antes de cair na risada.

Diante disso, Taehyung se dedicou a terminar o banho enquanto ele levava seu devido tempo para rir, seja lá por qual razão. Independente se fosse a causa, se tivesse ficado com cara de palhaço ou não, o importante era que tudo indicava que o mecânico estava bem. Para ele estar rindo de si daquele jeito, estava um pouco melhor e isso era bom. Pelo menos ele estava se divertindo.

A barriga de Jungkook doeu quando cedeu aos risos, sem aguentar. Um pouco estava rindo da reação de Vante há pouco, também checando o próprio corpo e constatando que tudo ficou à mostra. A outra parcela, estava rindo da situação, do jeito que ele desembaçou o vidro e também da própria definição usada para definir aquilo. Conteve o acúmulo de água no cantinho dos olhos, cessando a risada e ainda encarando o homem, tentando ficar sério e não voltar a rir.

Se vendo Vante se banhando era para se sentir vendo um pornozão ao vivo, Jungkook só conseguiu se sentir em um show de comédia, ainda mais se parasse para pensar em como aquela situação toda era engraçada.

Para se controlar, se atentou ao que havia ido ao banheiro para fazer, evitando olhá-lo porque se não corria sérios riscos de voltar a gargalhar, rumando até o vaso sanitário e de relance, por ter se aproximado um pouco mais do box do banheiro, o viu franzindo o cenho.

— Eu levantei pra mijar, bonitão — disse já enfiando as mãos dentro da calça, mas antes de continuar, resolveu ser sensato: — Você se importa?

— Se eu me importo? — Taehyung ficou estático por alguns instantes, terminando de passar a última mão pelo corpo, apesar de já se fazer mais de vinte minutos que estava ali — De ver você mijando?

— Falou, talvez seja meio estranho mesmo — Jungkook ponderou, deixando de lado sua intenção imediata de esvaziar a bexiga. — Mas eu 'tô te vendo tomar banho e tomar banho e mijar são duas coisas naturais.

— Eu já estou saindo e você pode usar o banheiro, mecânico — O homem se apressou, fechando o registro e se apressando em apanhar a toalha branca, envolvendo-a na cintura.

— Bonitão, não precisa sair correndo, era só um teste — Alegou se afastando do vaso e virando-se para observá-lo saindo apressado do box — Apesar de ser uma coisa natural e a gente ter essa intimidade estranha de casados, eu não ia fazer isso.

Taehyung cessou a intenção de sair do banheiro o quanto antes, arqueando as sobrancelhas e cruzando os braços molhados acima do peitoral também molhado, e a reação causada por essa ação foi nada mais e nada menos do que os olhos bonitos e mais brilhosos do mecânico grudando em seu corpo.

— Você tem razão, é natural — Acabou por concordar com ele, guardando um sorriso ao tê-lo desprendendo o olhar de seu torso desnudo, provavelmente acompanhando todas as gotinhas de água que escorriam, para lhe olhar de volta. — Mas vamos concordar que talvez seria estranho mesmo a gente tendo essa intimidade estranha de casados.

E antes que prosseguisse com sua intenção de perguntá-lo como estava se sentindo, não pôde evitar notar que ele estava descalço. Taehyung não disse nada e simplesmente apressou seus passos para ir até o quarto, não precisando se explicar e retornando em menos de vinte segundos.

Jungkook arqueou as sobrancelhas ao vê-lo se aproximando com um par de chinelos em mãos e o que parecia ser uma embalagem de meias novas, ainda sem se pronunciar, Vante lhe lançou um olhar antes de lhe guiar até o vaso sanitário. Sem ter como reagir, buscou apoio para se sentar e o homem só de toalha se curvou diante de si, pousando os chinelos no chão.

— Por que você saiu da cama descalço? — Vante perguntou secando as mãos na toalha e levando-as até um de seus tornozelos.

— Não tinha chinelo, bonitão.

— Tinha sim. — Taehyung disse, segurando o tornozelo dele com sua canhota e usando da destra para passar brevemente pela sola do pé dele, livrando de qualquer sujeira decorrente dos meros passos dados sem algum calçado. Pôde sentir que estava gelado e por sorte já havia trazido as meias. — Você que não viu.

Então o chinelo estava lá? Porra, ele tinha que fazer isso? Vante tinha que pensar em tudo e lhe tratar como se fosse a pessoa mais preciosa do mundo?

— Eu sei que eu sou um gatinho, mas eu ainda não enxergo tão bem no escuro. — Jungkook brincou enquanto o homem lhe tratava com o máximo de cuidado possível, vestindo a meia em seu pé e prosseguindo para repetir o processo no outro.

Vante lhe olhou com um mínimo repuxo nos lábios diante de sua afirmação, continuando e por fim, tendo colocado a outra meia em seu pé, ele voltou a se reerguer. Jungkook voltou a se levantar também, calçando os chinelos e sem correr riscos de ficar com os pés gelados, aliás, agora também estava de meias.

Por que ele era tão atencioso?

Taehyung quebrou mais a distância entre eles, aproximando-se e notando-o em completo silêncio, nenhuma piada ou gracinha para complementar. Afastou as mãos da cintura, deixando de exibir os bíceps delineados e ombros largos, para levar sua destra já seca, aos cabelos dele.

— Como você está, mecânico? — Questionou e a maciez na voz de Taehyung fazia o par perfeito com os olhos preocupados e doces.

— Se tudo isso, inclusive ter te visto peladão tomando banho, não for um sonho, até onde eu sei é 'pra eu tá vivo.

— Não é um sonho. — Afirmou com a mão nos cabelos dele, o vendo não entendendo exatamente qual era sua intenção com isso — Você não está sentindo?

— A sua mãozona no meu cabelo? — Jungkook supôs, o repuxo no cantinho dos lábios surgindo, conforme sentiu Vante afagando seus cabelos só para provar que era real.

Porra, que homem.

— Tô sentindo — e de fato, por deus, não era um sonho. Vante só de toalha bem na sua frente também não era uma alucinação — e também tô sentindo outra coisa.

— O que mais você está sentindo?

Tudo. Jungkook estava sentindo tudo. Estava sentindo a mão calorosa fazendo carinho em seus cabelos, a visão dos deuses que estava lhe afetando de inusitadas formas e mais do que isso, estava sentindo o olhar dele. O olhar que dizia várias coisas, os olhos bonitos que lhe encaravam com tanto zelo.

Naquele momento, Vante tinha um olhar preocupado, caloroso e doce direcionado a si. E era isso que Jungkook estava sentindo, mais do que tudo.

Combinado com o carinho no cabelo, não existia prova mais perfeita de que não era um sonho.

Também tô sentindo esse jeito que você me olha.

Esse jeito que você não faz ideia da capacidade que tem.

Esse jeito que faz eu me sentir melhor.

Sem você, bonitão, eu..

— Também tô sentindo a vontade de mijar aumentando. — exclamou impulsivamente levando as próprias mãos até o baixo ventre, complementando a mentirinha. Não era o que estava sentindo, não estava tão apertado assim.

— Hum — Vante continuou tocando seus cabelos, transmitindo um conforto imenso. — Você tem certeza que levantou só pra isso?

— Eu também levantei 'pra escovar os dentes porque depois daquela sopa eu tô com um bafo de onça — Jungkook disse no mesmo instante erguendo a mão para cobrir a própria boca, estava tão absorto na beleza surreal de Vante e no jeito que ele continuava lhe tratando, que nem percebeu que estavam perto demais então talvez aquele gosto peculiar em seu paladar com certeza havia lhe deixado com um hálito terrível.

— Mecânico — Taehyung chamou-o, não se importando tanto com a naturalidade que ele expôs aquilo, nem pelo jeitinho um tanto adorável em que ele se deu conta do que disse e cobriu a boca, algo que quase lhe fez sorrir. — Você está se sentindo melhor?

— Um pouco — Jungkook foi sincero em sua resposta.

Estava um pouco melhor e na verdade, podia dizer "melhor agora" ou seria clichê demais?

Seria absurdo pedir por algo que lhe deixaria ainda um pouquinho melhor, um abraço?

Poxa, Jungkook queria um abraço dele. Queria um abraço de Vante, principalmente para se conformar que estava errado quando acordou há pouco. Não estava sozinho, ele não lhe deixou sozinho.

— Tudo bem. — Taehyung findou o afago nos cabelos dele, um sorriso mínimo nos lábios ao afastar sua mão.

Isso era bom. O mecânico estava se sentindo um pouco melhor e Taehyung não podia evitar também se sentir um pouco melhor sabendo disso. Apesar de achar que ele deveria ter dormido mais e ficado deitado descansando, se tinha necessidade de usar o banheiro, era indispensável se levantar. E se aquela situação do flagra no banheiro pôde descontraí-lo e divertir, também foi bom.

Jungkook observou o homem lhe olhando por mais alguns instantes prestes a retomar os passos para provavelmente sair do cômodo e lhe dar privacidade para usar o banheiro, e num ímpeto, esteve prestes a tocar o braço dele para impedi-lo.

Por pouco, não ergueu sua destra rápido o suficiente, ignorando a dormência na parte interna do cotovelo por causa da agulha, para alcançá-lo. Só um abraço.

— Bonitão — Ao invés de agir, visto que seu braço não reuniu forças suficientes para acatar o comando imediato de seu cérebro, chamou por ele.

E no mesmo instante, o homem cessou a intenção de seguir o caminho para retirar-se do local, virando-se em sua direção e lhe olhando com os olhos exalando um tanto de preocupação, provavelmente ponderando o que queria, se talvez não estivesse se sentindo bem e certamente foi com esses pensamentos que Vante retornou os passos andados, voltando para perto de si.

— O que foi, mecânico? — E ele suavemente tocou em seus ombros, ao que ficou em silêncio e apenas o olhou, só sentindo o calor das mãos grandes e macias tocando-lhe.

Era reconfortante, Vante lhe tocando era como a cura para todas suas dores e seu sofrimento. Era por isso que Jungkook continuava querendo mais. Mas também continuava não tendo coragem de verbalizar. Jungkook não conseguia pedir um abraço.

— Se você não estiver se sentindo bem, eu-

— Eu 'tô bem, bonitão, relaxa — Prontificou-se a afirmar, aliás, não iria deixá-lo tão preocupado daquele jeito, nem se também fosse algo reconfortante de se ver, mas Jungkook não era egoísta a esse ponto. — É só..

— Do que você precisa, mecânico? — Mudou a questão, percebendo no olhar do jovem que ele parecia querer pedir alguma coisa.

De você.

Eu preciso de você, bonitão.

— Você volta aqui? — Jungkook levou suas mãos até o quadril alheio, tocando sobre o tecido da toalha envolvida na cintura do homem e o vendo não entendendo exatamente o que falava.

— Você precisa de ajuda? — Foi o que Taehyung entendeu e a seguir, só viu o mecânico sorrindo, apertando sua cintura ao se aproximar para encostar a testa em seu peitoral.

Diante daquela ação, Taehyung sentiu o caos instaurando-se em seu interior. Seu coração acelerou ao mesmo tempo em que seu corpo arrepiou. O sorriso do mecânico antecedendo aquela súbita aproximação também era o motivo de seu colapso. Absorto, subiu seus toques dos ombros do mecânico para o pescoço, subindo suavemente e levando-as à parte de trás da cabeça dele, tocando a nuca e permitindo-o a manter-se daquele jeito o quanto quisesse.

Se ele só queria ficar perto de si ou se ele queria dizer algo que não estava conseguindo dizer olhando em seus olhos, ele podia ficar assim se quisesse.

— Eu preciso de você, bonitão — Jungkook disse sem nem pensar duas vezes. Estava na cabeça e na ponta da língua, não tinha porque protelar. E para Jungkook, dizer isso era menos absurdo do que pedir por um abraço.

Taehyung se surpreendeu com aquelas palavras. Se surpreendeu com a honestidade dele, tão inusitada e inesperada, justificando também o jeitinho que encostou a testa em seu peitoral, como se estivesse buscando por uma maneira eficaz de conseguir dizer isso em voz alta e porra, não estava mesmo esperando por nada disso.

— Mecânico — Envolveu suas mãos no rosto dele, cuidadosamente o guiando a erguê-lo para poderem se olhar e nisso, viu a expressão dele.

Era uma expressão sôfrega, que transmitia uma espécie de súplica, a expressão que não ocultava o momento difícil e conturbado pelo qual ele estava passando. Havia um pouco de tristeza nos olhos dele, mas também havia conforto e sinceridade. Confessando que precisava de si, o mecânico estava sendo sincero.

Ele precisava de si para passar por aquilo tudo e como havia dito e praticamente prometido, Taehyung estava ali por ele.

— Eu estou aqui, mecânico — Disse segurando o rosto dele com tanto cuidado e carinho, e em resposta, ele sorriu para si com os olhos, mais um atentado ao seu coração, que disparava quando menos esperava.

E para complementar suas palavras em meio à voz mansa, sem conseguir conter, Taehyung intensificou o olhar doce e caloroso enquanto olhava para ele, inclinando-se só para fazer uma loucura, depositando um beijo na testa dele.

Jungkook sentiu seus batimentos darem um salto tão grande, ignorando o ritmo costumeiro e sendo apressado em acelerar no mesmo instante, na verdade, foi até mesmo antes de sentir os lábios do homem selando sua testa. Foi ao pressentir a intenção dele, que seu coração ficou fraco mais uma vez. Por Vante, seu pobre coração continuava sendo atacado sem avisos prévios.

Dessa vez não era um abraço, mas um beijo na testa. Porra, era a porra de um beijinho na testa.

Tinha como se sentir mais reconfortado, seguro e apreciado do que isso? Jungkook achava que não.

Há tempos não se sentia assim e há tempos não tinha alguém consigo em seus piores momentos. E também há tempos Jungkook não dividia seu sofrimento e suas dores com alguém. Nunca mais confessou precisar de alguém como havia confessado precisar de Vante, então caralho, sim, um beijinho na testa tinha muito poder, ainda mais por ser um beijinho dele.

Um beijinho do homem mais bonito, carinhoso e atencioso do mundo, mesmo sendo um mafioso, ele era isso tudo e Jungkook ficava animado por saber que possivelmente era o único ou então, um dos pouquíssimos que presenciavam aquilo.

Aquele lado dele, desde aquela noite em que o abrigou em sua humilde casa, imaginava que não era um lado que ele mostrava aos outros com facilidade, muito menos para qualquer um, ainda mais se fosse de fato um chefe de máfia.

— Quantas vezes eu vou ter que dizer que vou cuidar de você? — Vante se questionou ainda segurando seu rosto com uma delicadeza notável e apesar do alvoroço dentro de si, Jungkook sorriu danado.

— Continua dizendo quantas for preciso. — Sugeriu com um sorrisinho apreciativo dançando nos lábios, apreciando a beleza do homem à sua frente. — E também quando eu tiver afim de ouvir, vou pedir pra você falar de novo, bonitão. Porque você vai falar se eu pedir, né?

— Não posso garantir nada. — Taehyung resolveu brincar com ele, sendo sua vez de apreciar os olhinhos grandinhos se arregalando em meio ao beicinho que surgiu na boca bonita.

— Nananinanão, não se faz de difícil agora, bonitão — Jungkook impôs mandão — Você já se voluntariou 'pra falar cinco vezes e se eu pedir não vai poder garantir? É sacanagem.

— Isso te faz se sentir melhor, mecânico?

— Defina "isso", eu quero ouvir da sua boquinha.

— Eu continuar repetindo que vou cuidar de você e ficar com você te faz se sentir melhor?

— Olha aí — Jungkook arqueou as sobrancelhas com o sorrisinho arteiro nos lábios. — Acabou de falar de novo e eu nem precisei pedir.

Taehyung não conteve o sorriso ao se dar conta de que caiu direitinho naquela armadilha, repetindo sem ele ter realmente pedido explicitamente. E lá estava ele, mostrando o quanto era um malandro espertinho.

— Como você é malandrinho, mecânico.

Jungkook olhou para ele crispando as sobrancelhas com o diminutivo usado na palavra e só para se comprovar mais do que isso, acumulou forças em seu braço direito e pressionou sua destra na cintura dele.

— Agora vai logo colocar roupa e vem aqui me arrumar uma escova de dente se não eu vou usar a sua.

— Você não faria isso — Taehyung duvidou do absurdo e o rosto do rapaz nem tremeu — Né, mecânico?

— Até parece que você não me conhece, bonitão — Jungkook sorriu, aliás, a coisa mais nojenta que fazia continuava sendo só usar cuecas no avesso. — Você sabe que a única nojeirinha que eu faço é economizar cuecas. Usar escova dos outros não tá incluso, nem se eu tivesse ficado birutinha.

— Então eu já volto, mecân-

— Vai lá, gostoso — Jungkook o entrecortou e praticamente o calou com um só tapa na bunda, amortecido pelo tecido grosso da toalha enrolada na cintura dele.

Mas mais do que o prazer de fazer isso, se provar um malandrão e ainda matar uma vontadezinha de estapear a bunda dele, a reação de Vante foi a melhor coisa. Os olhos bonitos se arregalaram e os lábios foram meramente partidos em um breve choque. Aquela expressão foi tudinho para si, lhe fazendo aumentar o sorrisinho danado ao vê-lo franzindo o cenho em seguida e se dispondo a por fim, sair do banheiro sem dar mais o recado de que já voltava.

Jungkook manteve o sorriso danado no rosto e partiu para realizar suas necessidades enquanto o homem não voltava.

⸸•💀•⸸

As luzes do quarto estavam acesas. Taehyung se vestiu confortavelmente com uma calça de moletom e uma camisa básica, saindo do cômodo para ir até o primeiro andar buscar as sacolas deixadas na sala.

Voltando ao quarto, deixou-as a postos acima da mesinha ao lado da cama, vasculhando uma delas e encontrando a embalagem fechada. Uma toalha de rosto envolvida ao redor do pescoço, secando as pontas úmidas do cabelo e retornando ao banheiro cuja porta estava aberta concedendo livre passagem. Entrou devagar mesmo já tendo escutado a descarga, para o caso de ele ainda precisar de privacidade, mas não continuou ao vê-lo diante da pia, de frente para o espelho.

Sua presença foi notada rapidamente ao que o homem lhe olhou através do reflexo, abrindo um sorrisinho e de imediato virando-se em sua direção.

— Eu comprei os remédios e algumas coisas que você vai precisar. — Taehyung disse ao se aproximar dele, já abrindo a embalagem fechada para facilitar e entregá-la praticamente aberta a ele.

— Valeu — Jungkook agradeceu com um sorrisinho, pegando e escolhendo uma das duas escovas novas, pegando a de cor azul. E interligando a fala do homem, ficou reflexivo — Bonitão, então...— começou dizendo, desviando a atenção do homem — você me deixou sozinho..?

Não sabia se era uma afirmação, reflexão ou uma questão. O volume de sua voz diminuiu gradativamente no meio da fala e não sabia se Vante havia sido capaz de escutar ao certo, mas ele rapidamente voltou a se erguer, fechando a porta do armário embaixo da pia onde guardou a outra escova nova, para poder lhe olhar. Ele escutou.

— Eu te deixei sozinho?

— É. — Jungkook assentiu segurando a escova em mãos, ainda não tão preocupado em seguir sua intenção imediata de usá-la. — Você saiu pra comprar as coisas, então você me deixou aqui sozinho.

Taehyung franziu o cenho, uma certa confusão diante das palavras do mecânico dizendo que havia o deixado sozinho porque supostamente saiu para comprar aquelas coisas. E o pior de tudo isso foi a expressão dele ao interligar os fatos e chegar à essa conclusão.

— Não, eu não saí para comprar. — Negou o quanto antes, aliás, Taehyung realmente não saiu. Não só não teve necessidade de fazê-lo, como não quis sair. — Eu comprei e pedi para entregar.

Porra, Jungkook havia se esquecido disso. Assim como alguns países que adotavam aquele sistema mais moderno, a Coreia era ainda mais evoluída nesse quesito e tinha um sistema de entrega muito rápida. Podia pedir qualquer coisa pela internet, compras de estabelecimento, desde mercados, drogarias e lojinhas tinham opções de entrega em casa.

Existia facilidade para algumas coisas no mundo e por alguns instantes, Jungkook se esqueceu completamente porque ainda era difícil acreditar que Vante não lhe deixou sozinho.

E em compensação, o alívio e conforto que lhe atingiram ao saber sobre esse fator, foi imenso. No fim das contas, só estava custando mesmo acreditar, no entanto, se tratava da realidade. Ele realmente estava deixando a entender que não só não devia ter lhe deixado sozinho, mas talvez também poderia não ter saído do seu lado.

Mesmo quando apagou, talvez Vante tenha ficado. Caralho, teria ele ficado? E só saiu para receber a entrega e ir tomar banho já que estava tarde?

— Ah, pode crer.. — Jungkook sorriu ainda mais reconfortado, contendo a animação na boca do estômago e os batimentos que mais uma vez, saltaram. Os efeitos Vante estavam cada vez mais difíceis de controlar. — Beleza, onde tá a pasta?

Taehyung ainda não havia compreendido ao certo aquela reação dele, mas presumiu aproximadamente do que se tratava e devido a isso, conteve o repuxo em seus lábios que queriam se curvar para sorrir por vê-lo se conformando de que não o deixou sozinho - e como não deixou -, se dispondo a pegar o creme dental para ele.

Jungkook recuou alguns passos até o fim de sua coluna recostar no sustento que compunha a pia, não sabendo lidar com a súbita aproximação do homem e antes de seus corpos chegarem a colar de tão perto, ele pareceu conseguir alcançar o que queria e num impulso, impediu-o de se afastar ao agarrá-lo pelo quadril mais uma vez. Jungkook tinha um hábito de viver agarrando Vante pelo quadril, impulsionado pelo desejo de tê-lo pertinho.

— Bonitão, qual foi? — Indagou, querendo entender qual era a daquela atitude repentina dele. — Você 'tá tentando seduzir um pobre homem debilitado?

— Seduzir? — Taehyung exclamou não suportando o sorriso descrente que surgiu em sua boca e o mecânico ali desviou a atenção de seu olhar só para contemplá-lo, umedecendo os lábios e assentindo — Eu não estou seduzindo ninguém.

— Ah, não? — Jungkook sorriu safado — E precisava de tudo isso só pra pegar a pasta de dente? Se eu tivesse de costas você até teria me encoxado que eu sei.

— Você não acha que está imaginando coisa demais, mecânico? — Vante sugeriu e nesse instante, ele deixou a embalagem do creme dental de lado, livrando as mãos para poder lhe tocar.

Sem camisa, Jungkook estava com o torso completamente exposto e isso facilitou para o homem tocar diretamente em sua cintura. Um toque suave, as mãos grandes encaixando perfeitamente na curva delineada e um tanto afinada, fazendo um arrepio subir-lhe pelo corpo.

— Não tô não, bonitão — apreciou da situação gostosa e descontraída — Você podia ter vindo do meu lado pra pegar, mas veio pra cima de mim, e se você não 'tá tentando me seduzir, eu não sei o que 'tá tentando fazer.

— Eu só estava pegando o que você me pediu — esclareceu apontando com o queixo para o creme dental em cima da pia.

— Tô sabendo que foi só pra pegar a pasta.

— É bom te ver assim, mecânico — Taehyung confessou, dispersando sua canhota para tocar a bochecha dele, o vendo sorrindo todo danado e arqueando as sobrancelhas — Foi sem pensar, eu não seduziria um pobre homem debilitado.

Jungkook ainda duvidou daquela afirmação que mais parecia estar disfarçada de desculpa esfarrapada, até porque, estava vendo aqueles olhos bonitos. E apesar de ver também um pouco de alívio no olhar dele, podia ver a diversão que estavam mutuamente compartilhando.

— Já entendi que eu sou o único safado aqui — simulou um suspiro cansado, atraindo ainda mais a atenção total do homem à sua frente — E eu 'tô um safado debilitado, não posso nem te jogar na parede pra te fazer parar de graça e admitir que queria grudar em mim.

— Me jogar na parede? — Taehyung arregalou minimamente os olhos ao ouvir isso.

— É, te jogar na parede, sem a parte de te chamar de lagartixa, mas se você quiser também, eu chamo de boa — brincou e Vante sorriu fazendo um carinho em sua cintura.

— Hum, é uma pena você não poder me jogar na parede, mecânico — lamentou com um sorrisinho delineando os lábios.

— Mas força pra te dar uns beijos eu tenho — Jungkook rapidamente alegou, surpreendendo o homem. — Deixa só eu escovar o dente que você vai ver só.

— Isso é uma ameaça?

— É um aviso, bonitão — deu uma piscadinha para ele, apertando-o o quadril e com uma expressão linda, Vante se afastou assentindo.

Com o sorrisinho danado no rosto, Jungkook pegou a escova em mãos, espremendo a embalagem do creme dental e colocando uma certa quantidade, não hesitando em começar a escovar os dentes. Ao seu lado, Vante curvou-se para pegar algo no armarinho do banheiro outra vez, apanhando um pote do que parecia ser creme e pousando-o na superfície da pia.

Jungkook olhou-o de soslaio, continuando a escovar os dentes com certa força. O homem terminou de passar a toalha pelos fios de cabelo, deixando-a de lado e destampando o recipiente para depositar um pouco na mão, e ele também lhe olhou de relance antes de começar a passar o hidratante no rosto.

Contendo o exagerado sorriso nos lábios, Jungkook resolveu cuspir o acúmulo de espuma para continuar escovando os dentes, nem se importando se tivesse machucado um pouco sua gengiva e nessa cuspida na pia, um pouco do sangue tirado saiu junto, claramente atraindo a atenção do homem, por mais atento que ele estivesse olhando o reflexo no espelho para passar o creme.

Que tipo de mafioso mais vaidoso era aquele que cuidava da pele e passava hidratante no rosto antes de dormir?

— Isso é sangue?

— Sangue? — Jungkook acompanhou o olhar dele para a cuba da pia, onde havia acabado de cuspir para continuar escovando.

Taehyung crispou as sobrancelhas ao voltar a olhar para o rapaz, não hesitando em afastar as mãos do próprio rosto, deixando de espalhar o creme.

Por que Jungkook parecia não se importar em se machucar?

— Não precisa escovar com tanta força.

— É só um sanguinho, bonitão, e é melhor com força do que ficar com os dentes podres.

— Se é só um sanguinho ou não, você está se machucando. — Constatou, levando sua mão até a dele para segurar a escova e o vendo franzindo o cenho.

— Pode escovar os meus dentinhos também, bonitão — Jungkook concedeu com um sorriso, dando-o total liberdade para comandar a escova e nisso, Vante simplesmente balançou a cabeça em negação.

— Espero que essa não tenha sido a sua intenção — comentou, duvidando da atitude do rapaz, que deu de ombros todo sapeca e devidamente deu-lhe amplo acesso para escovar para ele. E começou a fazê-lo mais devagar, sem machucá-lo.

Se fosse outra situação, dar banho nele, alimentá-lo e escovar os dentes dele, tudo isso seria absurdo para Taehyung. Mas não era porque só conseguia pensar em cuidar do mecânico, mais do que tudo, queria cuidar dele e não dava a mínima se estivesse também exagerando.

Quem iria dizer alguma coisa? Ninguém. Eram só eles ali, ninguém poderia julgá-los e nem acusá-los. Se estavam indo longe demais ou não, se sentiam alguma coisa ou não, se estavam apaixonados ou não, Taehyung acreditava que era um problema exclusivo deles. E foda-se todo o resto.

Não queria só cuidar dele, vê-lo se recuperando logo, mas também queria aproveitar. Taehyung queria viver aquele momento em companhia do rapaz, porque tudo com ele, como naquela noite, era inesquecível. Até coisas como aquela, seria impossível de esquecer.

Como ele havia dito, era o seu primeiro. Taehyung nunca deu banho em alguém, nunca lavou um corpo e cabelos que não fossem os seus próprios, nunca alimentou alguém ao ponto de dá-lo comida na boca e nunca fez aquilo. Taehyung também nunca escovou os dentes para ninguém.

Além de devagar, devidamente escovou da maneira que era correta, realizando movimentos para cima e para baixo, circulares e em cada dente, notando o repuxo no cantinho dos lábios dele aumentando gradativamente. Enquanto fazia isso, seu foco era total e talvez fosse isso que estivesse o chamando a atenção. O mecânico queria sorrir ainda mais e não só deixar os dentes à mostra para que pudesse escová-los. Como todo o resto, ser banhado e alimentado, ele estava gostando.

— Pronto — terminou, soltando a escova e ele fechou os lábios, prendendo-a na boca com um sorrisinho danado.

Jungkook virou-se para poder terminar, enxaguando a boca com o enxaguante bucal de menta disposto ali e cuspindo enquanto Vante voltava a passar o creme no rosto, massageando as próprias maçãs do rosto. Apressou-se em terminar, lavando a escova depois de também tê-la passado na língua, guardando no suporte ao lado da dele.

De frente para a pia, viu o homem esfregando as palmas e também tendo terminado, ainda se encarando no espelho e provavelmente se admirando. E como um cãozinho carente implorando por atenção, Jungkook virou-se na direção dele outra vez, não bastando dois segundos para Vante lhe olhar cogitando o que podia querer agora.

A única coisa que Jungkook fez foi olhá-lo, indiretamente apontando com o queixo para o pote de creme ali. Taehyung deixou de encarar os olhos grandinhos e brilhantes complementando o rostinho pidão para entender o que ele estava pedindo exatamente.

— Bonitão, pensa assim, se você passar hidratante em mim eu também vou me sentir um pouquinho melhor.

Àquele ponto, o Kim já estava se sentindo chantageado. Só podia ser chantagem, porque ele sabia que estava preocupado com ele e desejando que melhorasse logo, e era como se ele estivesse aproveitando para cada vez mais querer ser mimado. E Taehyung também nunca mimou alguém assim antes.

E se era demais ou não, não importava. Continuava não sendo considerada nem a possibilidade de dizer não para ele. Não tinha como e foi por isso que se dedicou em já colocar uma quantidade de creme em sua canhota, levando sua destra a afastar a franja dele do caminho e o vendo sorrindo para si.

Era isso. Por causa desse jeitinho dele, dos olhares e dos sorrisos que pareciam emanar uma considerável melhora, um avanço no bem-estar dele, incentivado por diversão e conforto, que Taehyung continuava fazendo tudo por ele.

— Desde quando você é tão dengoso assim, mecânico?

— "Dengoso"?

— É, dengoso. — confirmou o adjetivo usado. — Dengoso e manhoso.

— Manhoso — ele repetiu com um sorrisinho duvidoso criando vida nos lábios — Bonitão, que isso? Não pode mais nem ser carente nessa vida?

— Não é isso. Você pode ser, eu não estou te julgando e nem estou reclamando. Só estou surpreso, eu não pensei que você pudesse ser tão fofo.

— Que fique claro, eu só sou fofo assim — Jungkook ergueu o indicador para frisar, fechando os olhos enquanto Vante fazia pontinhos de creme em seu rosto. — Dodóizinho.

Pelo menos ele admitia que estava sendo fofo. Se bem que...

— Mas você também foi da última vez — Taehyung não se aguentou e teve de comentar. E o rapaz abriu os olhos no mesmo instante.

— Bonitão, não vem com essa parada 'pra cima de mim não. Quer saber o que é fofo?

— Hum?

— Fofo é o meu ovo.

Taehyung sorriu, assentindo mesmo não mudando de opinião nem com a pouca vergonha para tentar ocultar a fofura óbvia, só o instruindo a relaxar enquanto passava o hidratante no rosto dele, espalhando e fazendo também uma massagem nas bochechas.

Mais uma vez, Jungkook pôde se sentir relaxado com a massagem em forma de carinho que foi feita durante o espalhar do creme, ficando decepcionado quando terminou. Retornou a abrir os olhos, sentindo-se um tanto molinho e preguiçoso, porque sinceramente, Vante conseguia ser bom naquilo, assim como ele também se saiu bem em todo o resto. A massagem feita em seu rostinho se comparava com a feita em seu cabelo quando ele o lavou para si.

Terminado, Taehyung olhou para ele, o vendo com o sorrisinho no rosto e uma aparência totalmente preguiçosa, piscando os olhinhos lentamente sem desviá-los de sua direção. Checou-o, se atentando a algo que lhe fez voltar a abrir o armário.

Jungkook olhou-o curioso, observando o homem apanhando mais uma pequena embalagem, destampando-a e não demorando em aproximá-la de seu rosto. Ele tocou suavemente em seu maxilar com a canhota e usou a destra para passar o hidratante em seus lábios. Continuou encarando-o, agora apreciando o foco total de Vante passando o hidratante labial para si, contornando seus lábios com cuidado e espalhando para ajudar na reestruturação dos lábios também estavam maltratados e ressecados.

— Agora você pode voltar para a cama, mecânico. — Vante disse ao terminar, guardando o hidratante labial e apanhando própria a escova de dente para também terminar de fazer suas higienes para ir dormir, aliás, já passava da meia-noite.

— Eu posso, mas não vou ainda — Jungkook deu espaço para ele, recostando na beirada do sustento da pia.

— Por que não? Tem mais alguma coisa que você quer?

Tinha. Porra, tinha uma coisa que Jungkook queria muito e era exatamente por causa dessa coisa que não iria para a cama ainda.

— Não.

Taehyung franziu as sobrancelhas, molhando a escova com o creme dental, levando até a boca e começando a escovar. Olhou para ele, certificando-se de como ele estava e aparentemente, parecia um pouco melhor depois de ter dormido a tarde toda e uma parcela da noite. Mas ele ainda precisava dormir mais e descansar.

— Eu só 'tô esperando você, bonitão. — Jungkook disse, levando seu indicador a tocar o cós da calça de moletom dele e o homem acompanhou a ação diretamente com o olhar.

Me esperando?, Taehyung pensou sem entender ao certo, mas olhou para ele e assentiu em um meneio, dedicando-se em terminar para o quanto antes voltar para o quarto, não querendo que ele continuasse fazendo esforço para ficar em pé.

E quando a luz do banheiro se apagou, restando nada além de um cômodo vazio, a do quarto continuou acesa até o instante em que Jungkook se acomodou de volta embaixo dos edredons. Isso só aconteceu, claro, depois de Vante lhe dar água e checar se estava com dor para tomar algum remédio. E ele também verificou o ferimento em sua coxa, se não havia secreção e nem nada que pedisse por uma troca de curativo.

Naquele meio tempo também, Jungkook notou algo em cima da mesinha ao lado da cama, que não havia notado estar ali antes.

— Você guardou.

Taehyung parou de arrumar o lençol e o edredom da cama para ele poder deitar, voltando a dar a volta nesta e se aproximando dele. Ele olhava para a mesinha ao lado da cama, onde há pouco, havia propositalmente colocado-o ali, a miniatura do burro que ganhou dele. A lembrança daquela noite.

— É claro que eu guardei. Você me deu, mecânico.

Jungkook sorriu, dispersando a atenção da miniatura do personagem para olhar para o homem ali, tentando entender exatamente o que significava. Ele havia dito "Você me deu" como se tivesse um significado. Como se tivesse sido um presente especial e não aleatório e espontâneo.

Naquela vez, quando viu que Vante levou o brinquedo - além do resto, o carro, as roupas emprestadas e seu par de chinelos inteiros -, foi uma surpresa. Não achou que ele fosse se lembrar, nem que tivesse considerado como um "presente" a esse ponto. Mas daquela vez, só de ver que sumiu e saber que ele levou, foi estranho e agora, ver que ele também guardou, lhe trazia uma sensação ainda mais estranha.

Era reconfortante para Jungkook saber disso tudo. Para Vante também. Aquela noite também significou para ele, possivelmente a mesma extensão que significou para si.

Para ambos, aquela noite foi especial e apesar de tudo, guardava um significado em igual especial.

— Já é feio recusar um presente, imagina jogar fora — Jungkook comentou para descontrair, sentando-se na cama por se sentir cansado.

— Deita agora, mecânico, você precisa descansar — Taehyung envolveu as mãos nos ombros dele, sentindo-o um pouco gelado. — Eu vou pegar uma camiseta pra você.

— Bonitão — Ele ergueu os braços e alcançou sua cintura, impedindo-lhe de sair de perto dele. — Eu 'tô muito feliz que você guardou o burro.

Taehyung sorriu, quase não aguentando aquele jeitinho fofo dele, ainda confessando estar feliz por ter guardado, provando que havia sido a melhor escolha, mesmo que jogar o brinquedo fora nunca tenha sido uma opção.

Era um presente e Taehyung, mesmo diante da aleatoriedade daquela situação meses atrás, tratou como um. Por isso também, na pressa, o levou. Se lembrou de levá-lo consigo porque era um presente dele.

— Eu queria não ter que dormir mais hoje. — Jungkook resmungou seguido de um bocejo.

Além de tudo, também tinha muito sono. Era como se não tivesse dormido por meses e de fato, dormir bem era algo que não conseguiu fazer durante dois meses.

Mas Jungkook queria conversar com o bonitão. Tinha muitas coisas que queria perguntar a ele, mas ainda se sentia exausto, de corpo e mente, continuava não suportando se sentir disposto por mais do que dez minutos. Podia se sentir sonolento de novo e só de estar sentado na beirada do colchão, sentia seu corpo implorando para que deitasse de novo.

E Jungkook deitou depois que Vante lhe arranjou uma camiseta porque, segundo ele, estava com o corpo gelado. Também queria perguntá-lo honestamente o por quê daquilo tudo. Jungkook queria saber a razão de todo o cuidado e carinho que ele estava tendo consigo. E ele também lhe cobriu. Vante puxou o cobertor e lhe cobriu.

Tudo isso foi antes do homem se deitar, juntando-se a Jungkook na cama, aliás, aquele quarto era o dele e dificilmente deveria conseguir dormir em outro qualquer. Pelo menos Jungkook não precisou pedir para ele dormir no mesmo quarto. Tinha outra coisa que queria pedir a ele.

Taehyung se acomodou no colchão. A baixa luminosidade vindo do abajur na mesinha ao seu lado na cama permitiu que enxergasse o instante exato em que, ao sentir o colchão afundando-se um pouco, o mecânico esgueirou-se para consumir o espaço que existia entre eles.

— Bonitão, eu vou pedir uma coisa muito louca agora.

Vante virou o rosto em sua direção e lhe olhou, ao não quebrar totalmente a distância entre eles na cama, mesmo tendo se aproximado, não foi por completo e não foi como realmente queria.

E antes que Taehyung precisasse perguntar que coisa louca era essa, o mecânico pediu:

— Você pode me abraçar?

Claramente, não estava esperando por isso. Taehyung foi surpreendido, mas não prolongou sua surpresa para contribuir com uma demora, não dizendo nada e não precisando de uma resposta verbal. Simplesmente virou-se na cama, puxando o cobertor e indo para perto do rapaz, aproximando-se mais dele e sendo quem quebrou totalmente a distância entre eles.

E foi só fazer isso, se aproximando um pouco que ele de imediato envolveu um dos braços ao redor de seu corpo, puxando-lhe ainda mais para perto. Taehyung repetiu o processo, dispersando seu braço com o cobertor para não descobrir o corpo dele, abraçando-o.

Jungkook respirou fundo, escorregando um pouco a cabeça do travesseiro só para aproveitar e esconder seu rosto no pescoço do homem, fungando a essência de sabonete na pele dele, mesclando-se com o cheiro do hidratante que ele havia passado. O cheiro de Vante era bom e reconfortante. Provavelmente não tinha nada melhor no mundo, exceto estar nos braços dele. Se sentir seguro, confortável e protegido era algo sem comparação. Não encontrava conforto assim há muito tempo.

Acomodado, Jungkook fechou os olhos, esperando que o sono lhe alcançasse, agora que estava reconfortado nos braços de Vante e sendo abraçado daquele jeito, mas não aconteceu de imediato. E em sua mente um tanto vazia, as brechinhas para pensamentos conturbados se tornaram verdadeiros rombos.

Jungkook apertou-o ainda mais naquele abraço, sentindo a respiração calma e suave do homem bem próxima, tentando se acalmar, encontrar mais conforto na presença dele, nos braços e no cheiro dele. Não pensar em nada, nada conturbado e nada ruim.

— Bonitão — chamou-o baixo, apesar de tudo, não conseguindo ter controle de sua própria mente. E precisava exteriorizar para não perder a cabeça. — Sabe de uma coisa?

Os batimentos de Taehyung aceleraram subitamente. O jeito baixinho e um tanto sôfrego com que o mecânico lhe chamou, de alguma forma, presumia o que podia estar incomodando-o em um momento como aquele. Foi pensando nele que já havia deixado ao menos uma fonte de luz ligada, evitando a escuridão imensa e total para não deixá-lo ter pensamentos ruins. Mas, aparentemente, talvez não fosse o suficiente. Talvez ele precisasse desabafar e mesmo pressentindo que isso lhe quebraria mais uma vez, Taehyung estava ali para tudo, seja para escutá-lo e confortá-lo.

— Hum? — murmurou também baixo em meio ao silêncio absoluto no quarto.

— Eu pensei que ia morrer. — Jungkook confessou de uma só vez, encostando a testa no peitoral do homem.

E dessa vez, ao invés de seu coração acelerar, Taehyung o sentiu se apertando. O tom na voz do mecânico estava carregado de ainda mais sofrimento e tristeza. O aperto foi tão incontrolável quanto o restante de suas emoções. Ouvir isso e sentir o peso de tais palavras era mais uma das coisas que não estava preparado. E Taehyung sentiu tudo de novo. Preocupação, raiva, ódio e culpa. E a maldita sensação de insuficiência.

— Várias vezes — ele voltou a dizer, os dedos apertando o tecido de sua camiseta — Eu pensei que fosse morrer, bonitão.

Era verdade. Mesmo que depois de tudo o que passou e viveu, Jungkook sempre tenha acreditado que poucas coisas eram páreas para lhe enfrentar, descobriu que a CIA era o próprio terror na terra. O tipo de terror que nem mesmo um homem tão forte seria capaz de aguentar, quanto mais sobreviver. Por isso, várias foram as vezes em que achou que podia acabar não suportando. Nunca dando o braço a torcer e nem redimindo-se, no fundo, foram várias vezes que achou que iria morrer.

Talvez fosse morrer de tanta tortura, ou talvez de tanta dor. Ou talvez até fosse morrer de frio. Foram tantos intermináveis e repetitivos atentados à sua vida, que Jungkook também não sabia ao certo como conseguiu. Como seu próprio corpo aguentou.

Mas uma coisa sempre foi certa, tinha uma mentalidade muito forte, extrema e de outro nível, sempre foi o que lhe diferenciou dos outros. E mesmo que esta também tenha sido corrompida em algum momento, para ter chegado a pensar nisso, que poderia morrer, ainda assim, Jungkook suportou até o fim. Aguentou até um vislumbre de luz surgir e existir uma oportunidade de sair daquele buraco do inferno.

— Mecânico.. — Taehyung não sabia o que dizer e a única coisa que fez foi erguer seu braço envolvido ao redor do corpo dele, levando sua mão até os cabelos dele, ansiando por também confortá-lo de outras maneiras.

Não sabia o que dizer, tudo aquilo continuava sendo imensamente difícil de digerir. Em todo momento que o mecânico se mostrava tão quebrado, Taehyung sentia na pele a sensação agonizante de ter seu coração rasgado. E isso podia ser justamente o que comprovasse todas as chances de realmente sentir algo por ele.

Para Jungkook, o pior de tudo envolvendo a possibilidade de morrer, mais do que simplesmente morrer jovem demais, foi pensar em morrer sem vê-lo mais uma vez.

Assim como foram várias as vezes que pensou que podia morrer e acabaria morrendo, também foram várias as vezes em que Jungkook considerou abrir mão de tudo. Parar com aquilo, mesmo ponderando que desde o princípio, a CIA exagerou. Sempre teve algo de muito estranho, nem era como se tivesse metido as mãos em algo tão sigiloso assim, como segredos sujos do governo, não, porra, eram só imundices de magnatas, que por mais valiosas que fossem, para si, não chegavam a justificar a razão de ter sido tão torturado. Então, considerava a possibilidade de sempre ter tido algo de muito estranho, inclusive a armação feita para lhe pegarem.

Era literalmente impossível a CIA ter descoberto tudo sobre seu segundo trabalho, sobre o aplicativo e sobre os serviços prestados. Não tinha como, não ao ponto de bolarem uma emboscada tão certeira e infalível.

— E eu pensei que não fosse conseguir te ver mais — Jungkook fez mais uma confissão, deixando de aninhar-se no peitoral do homem para erguer a cabeça e repousa-lá no travesseiro, ficando cara a cara com ele.

— Mecânico, Je.. — Taehyung estava pensando em falar o nome dele. O nome que descobriu por intermédio da promotora. Mas se o fizesse, ele certamente iria querer saber como descobriu e isso era mais um assunto para depois.

— Que tipo de cara infeliz eu seria se morresse sem ter admirado essa sua beleza mais uma vezinha? — Ponderou reflexivo, o sorriso mínimo surgindo nos lábios.

Taehyung olhou para ele, a penumbra vinda do abajur atrás de si, concedia que o olhasse e visse exatamente a expressão dele. Também permitiu que enxergasse o momento em que o mecânico, ainda calado, ergueu a destra e tocou seu rosto.

— Eu teria virado um fantasma triste, bonitão.

— Mas você não virou e nem vai virar fantasma nenhum.

— E eu provavelmente ia ficar atrás de você — acrescentou — Já pensou eu te assombrando?

— Mecânico, por favor.

— O que? — ele sorriu e se fez de desentendido, como se não tivesse culpa de estar falando sobre morte e fantasmas — Eu 'tô falando sério! Se eu virasse um fantasma, não teria ninguém que eu ia curtir tanto ficar observando se não você, ainda mais tomando banho.

— Tudo bem — Taehyung movimentou as mãos nos cabelos dele, insinuando um carinho — Mas você não acha que pode me observar sem ser um fantasma?

— Hum, você tá certo. Eu ainda tô vivo e te observar é o que tô fazendo agora. — Jungkook abriu um sorrisinho arteiro ainda maior, afagando a maçã do rosto do homem — E se eu fosse um fantasma, bonitão, — impulsionou-se para aproximar mais seus rostos, olhando-o nos olhos antes de prosseguir: — eu não ia poder fazer isso.

Jungkook encerrou a frase e foi imediato em encostar seus lábios nos de Vante, deslizando sua mão para tocar o maxilar dele, contendo seu sorriso ao fechar os olhos e se dedicar em senti-lo. Provavelmente ele não estava esperando por isso, justificando ter ficado estático por alguns instantes antes de acariciar seus cabelos ao mesmo tempo em que esfregava lentamente a boca na sua.

Era inviável negarem o quanto, no fundo, sentiram falta daquilo. Como um todo, também sentiram falta daquele tipo de contato. Tiveram saudade um do outro, da intimidade estranha de casados, das carícias, dos olhares e dos beijos.

Taehyung deixou de hesitar tanto ao sentir a mão do mecânico em sua nuca, apertando suavemente a região e instigando-lhe ao despejar um leve selinho em sua boca, lhe fazendo sentir o sabor do hidratante labial e o refrescante hálito dele bateu contra o seu. Beijou-o devagar e pôde senti-lo retribuindo encaixando perfeitamente a boca na sua, movimentando os lábios contra os seus no mesmo ritmo lento.

Era um beijo suave e que remetia a um sentimento melancólico específico, talvez fosse um beijo de saudade entre amantes de uma noite.

Jungkook arfou e apertou a nuca de Vante, sentindo o comichão no estômago e o coração batendo um jeito insistente e forte, conforme conteve seu fôlego só para prolongar o ósculo um pouco mais. Beijar a boca daquele homem continuava sendo uma das melhores coisas, que em combinação com estar nos braços dele, se não fosse a mais perfeita, então Jungkook desconhecia a palavra que podia usar para definir.

O abraço de Vante fazia Jungkook se sentir muito melhor. E um beijo dele era como a cura para tudo. O beijo dele tinha capacidade de curar onde doía e a perturbação esvaía-se em um passe de mágica, afastando toda a carga de energia ruim e sentimentos conturbados.

Enquanto beijava o mecânico lentamente e suave, também depositando um pouco de cuidado em seus movimentos, deslizou sua mão até a curvatura do pescoço do rapaz, acariciando a região. A súbita perda de fôlego obrigou que desconectassem suas bocas e Taehyung findou um breve selar nos lábios dele, afastando-se um pouco e retornando a abrir os olhos para poder olhá-lo. E ele era tão lindo.

— Caralho, bonitão — Jungkook ofegou baixinho, soprando um risinho tão perto do rosto do homem que lhe olhava intensamente nos olhos. — ainda bem que eu não virei um fantasma.

— Eu queria te dizer que ser um fantasma não deve ser um bom negócio. — Taehyung aconselhou acariciando o pescoço dele e mesmo não vendo por estar escuro, internamente desejava tanto fazer aquela marca desaparecer. A única marca que podia desaparecer sem deixar rastros, queria que sumisse logo.

— Eu ia ser um fantasma triste e torturado — corrigiu-se — Imagina só que tortura seria ser um fantasma, ficar te observando e não poder tocar em você e nem te dar uns amassos.

— Você está vivo, mecânico, e por hoje eu não quero mais ouvir você falando de virar um fantasma.

— Mas você imaginou, bonitão?

— Hum, eu imaginei e continua sendo o que estou dizendo. Você está aqui, mecânico, você pode me tocar e me dar uns amassos quando e o quanto você quiser.

— Se eu fosse você eu não estaria falando isso pra mim. — Jungkook sorriu danado, aproximando-se e roubando um beijinho rápido da boca dele — Não morri, mas tô todo lascado, do que é que adianta? Não posso nem dar uns amassos dos bons no meu bonitão.

Taehyung franziu o cenho, pensando em reclamar com ele de novo sobre continuar falando sobre morte, agora também mencionando não adiantar de muita coisa estar vivo se estava todo lascado. E bom, teria o repreendido de novo, da maneira mais suave e mansa do mundo, se não tivesse escutado algo mais interessante.

— No "seu" bonitão?

— No meu bonitão. — Jungkook assentiu convicto, o sorrisinho arteiro nos lábios.

— Então eu sou seu? — Taehyung quase não conteve o sorriso que quis por toda lei crescer em sua boca ao ouvir a confirmação.

— Por que? Você não quer ser o meu bonitão?

— Não, eu não me importo.. — Vante dizia quando se deu conta de seu olhar todo atrevido e apreciativo sobre ele. Jungkook arqueou as sobrancelhas à espera de ele continuar, mas ele ficou calado.

Você não se importa de ser o meu bonitão.

— Como eu pensei — constatou dando uma breve apertada na bochecha dele. — Agora pensa só, se eu tivesse morrido, como você ia viver sem mim?

De novo falando sobre morte.

E ótima pergunta. Era uma pergunta tão boa que Taehyung optou por ficar em silêncio, incapaz de ainda comentar sobre o sufoco que foi aqueles últimos meses, nada comparado ao que ele havia passado e vivido, mas que para si, foi um período complicado.

— Mecânico, você não está com sono?

— 'Tá fugindo do assunto, bonitão?

— Não — negou franzindo o cenho com a forma em que foi olhado, a expressão do rapaz claramente duvidava de si — Só é uma boa pergunta.

— Não é? — Jungkook sorriu. — E é tão boa que você não sabe nem responder.

— Exatamente — Taehyung admitiu com o olhar fixo sobre ele. — Você é inteligente, mecânico.

Jungkook realmente era muito inteligente e Taehyung estava percebendo isso.

— Eu estou com um pouco de sono.

— Se está com sono, dorme, mecânico. — Vante levou a mão de volta até a parte de trás de sua cabeça.

— Mas eu queria conversar com você. — Jungkook resmungou baixo. Ainda tinha tanta coisa que queria perguntar a ele, que estava tentando enganar o sono e o cansaço mais uma vez.

— Você vai embora amanhã? — Taehyung olhou para ele, acariciando os cabelos do rapaz e no escuro, viu ele franzir as sobrancelhas.

— Não.

— Então você não acha que vai poder conversar comigo amanhã? — Supôs, o notando lhe lançando uma expressão tão adorável, ainda um tanto inconformado. — E amanhã, mecânico..vai ser um dia melhor do que foi hoje. — O confortou, retomando um leve afago nos cabelos.

— Mas poder não significa nada — ele afirmou e um biquinho cresceu nos lábios dele, atraindo sua atenção. Taehyung nem disfarçava mais. — Eu tô ansioso, não quero esperar até amanhã. E nós não somos a prova viva de que não se deve esperar?

— Hum? — murmurou um tanto rouco demais, retornando a olhá-lo diretamente nos olhos. — Nós somos a prova viva?

— Você 'tava certo daquela vez, bonitão. "Não deixe 'pra amanhã o que você pode fazer hoje."

Ah, ele estava falando disso. O ditado que usou aquela vez enquanto ainda trocavam inúmeros e constantes flertes, sustentando a densa tensão sexual que pairava entre eles na garagem.

— Como que eu fui tão trouxa? — Jungkook se perguntou — Até hoje eu não entendo.

— Mecânico — Taehyung o chamou sem conter o sorriso de descrença. — Agora não vão faltar mais oportunidades, ok? Nós podemos conversar amanhã, você ainda precisa descansar.

— Só uma perguntinha. — suplicou e Vante nem precisava de muita luminosidade para enxergar os olhos grandinhos implorando — e eu vou mimir.

Ele dizia isso mas já deviam se fazer uns dez minutos desde que haviam se deitado e até então, nenhum indício de ele querer dormir. Pelo contrário, cada vez mais, percebia que ele não demonstrava sinal algum de estar cansado e sonolento. A cada palavra que trocavam, o via ficar mais animado e abrir mais os olhinhos e aos poucos, era como se o mecânico estivesse sendo conectado numa tomada de 220.

E porra, isso era bom. Taehyung via como algo bom, mas ele ainda precisava descansar mais, para se recuperar com velocidade pelo bem do corpo dele. Já havia melhora no bem-estar e ao menos, era bom que pudesse confortá-lo e ajudá-lo a não pensar em coisas ruins.

— Eu prometo, bonitão. Uma pergunta e eu vou mimir.

— Você promete? — Taehyung indagou quase sem aguentar o quanto ele estava sendo adorável, contendo seu sorriso para entender melhor — Uma pergunta?

— Uma 'pra cada um. Você me faz uma e eu te faço uma.

E mais uma vez, simplesmente não tinha como Taehyung dizer não para ele, muito menos com base em insistir para que ele dormisse para descansar. Era estranho e ainda era confuso estar fazendo tudo por ele, o tratando assim, mas não podia evitar. Não conseguia dizer não para ele da mesma forma como não conseguia não tratá-lo se não com todo o carinho do mundo.

Ainda era cedo para tirar qualquer conclusão? Ou Taehyung estava mesmo..

— Tudo bem. — Assentiu, mantendo sua mão nos cabelos dele e o vendo sorrir todo arteiro ao ter o que queria.

Jungkook podia querer fazer uma pergunta, mas diante de várias que realmente queria fazer, não sabia como escolher. Eram muitas perguntas, que renderia de uma conversa única, carregada de prováveis sensações mistas porque certamente, algumas precisavam e seriam tratadas com sinceridade. As mais importantes, queria que tratassem com honestidade. Queria que Vante fosse sincero consigo e queria ter todo o tempo do mundo para conversar com ele.

Então, no fim, talvez algumas das perguntas deveriam ser deixadas para o dia seguinte, além do mais, Jungkook ainda não iria embora. Pretendia ficar com ele.

Por que você foi embora daquele jeito?

Você me procurou?

Você pensou em mim esse tempo todo?

Você viu o que eu fiz pra você?

Você é dono de uma máfia?

E bonitão, você...também sente tudo isso?

Assim como tinha inúmeras perguntas para fazer a ele, Jungkook presumia que Vante provavelmente também tinha várias para fazer para si.

E durante alguns intermináveis instantes, pensou bem em qual pergunta queria fazer a ele, decidindo que todas as que conseguiu pensar, não era a hora certa para abordá-las. Principalmente a última. Falar sobre sentir alguma coisa não devia nem ter pensado nisso, era loucura e Jungkook via como uma loucura muito precoce.

Aquela era só a terceira vez que estavam se vendo e mesmo que desde sempre tudo tenha sido extremamente intenso entre eles, ainda era um pouco absurdo. Só podia ser absurdo. Não tinha como também terem desenvolvido algum tipo de sentimento tão intenso quanto os únicos momentos que tiveram até então. Nem fodendo, era impossível. Não era?

Porra, nem para isso Jungkook conseguia se fazer de idiota. Nessas horas, ser inteligente era um problema. Não conseguia nem se fazer de lerdo e fingir que não entendia o que estava sentindo.

— Bonitão. — Jungkook se certificou de que tinha a atenção total dele, olhando-o nos olhos — Qual é o seu nome?

Taehyung se surpreendeu com a pergunta e sinceramente, estava esperando por qualquer coisa menos isso. Estava imaginando que seria qualquer pergunta, provavelmente alguma referente à situação, talvez como ele perguntou quando chegaram em seu apartamento, se o procurou, mas não essa. Ele estava perguntando o seu nome.

— Eu acho que já 'tá mais do que na hora da gente saber o nome um do outro. — acrescentou e nesse instante, Vante parou por completo o carinho em seu cabelo, lhe olhando de um jeito ainda mais estranho.

— Hum — Taehyung murmurou sem saber como reagir — Então você quer...saber o meu nome.

— Quero. — O mecânico intensificou o olhar sobre si por claramente notar que estava reagindo de uma forma estranha. — Qual é o seu nome, bonitão?

— Taehyung. — respondeu com sua voz grave e rouca, analisando a reação do rapaz, que maneou brevemente a cabeça algumas vezes, assentindo.

Se antes Vante também fez suspense e segredo com o próprio nome, agora Jungkook podia confirmar que estava diante de um novo lado dele. Ele expôs o nome sem protelar.

— Taehyung. — Jungkook disse o nome dele em voz alta com um sorrisinho danado no rosto — Eu gostei.

Mesmo quase fora de órbita pelo jeito que seu nome saiu da boca dele naquela espécie de teste, causando-lhe mais uma maldita súbita aceleração de batimentos cardíacos, Taehyung deu seu jeito de voltar à realidade. O mecânico era experiente em também fazer seu coração disparar em vários momentos.

— Você gostou?

— É um nome de bonitão. — confessou brincalhão e direcionou sua destra até os cabelos do homem. — Taehyung.

Porra, ele tinha o direito de fazer isso consigo? Taehyung achava que não.

Para Jungkook, enfim descobrir o nome do bonitão foi o alcance de mais uma meta e mesmo de fato achando isso, que era um nome que "combinava" com ele, notou algo de estranho, parando para pensar por alguns instantes.

O nome dele não era só um nome de bonitão, também era um nome que vagamente lhe pareceu familiar.

Taehyung?

❰🍸❱
PREVIEW EP. 14

— Agora eu vou mimir, boa noite, meu bonitão Taehyung. — Jungkook desejou ao abraçá-lo mais forte, aconchegando-se ainda mais, não aguentando mais de sono e cansaço.

Mais uma vez Taehyung sorriu. Sorriu por ele lhe chamar pelo nome, mas por não abdicar do apelido e ter incrementado, lhe tratando como o bonitão dele. E Taehyung também sorriu com o quanto ele era extremamente adorável. 

❰🍸❱

eles são mto casados :( e digo mais a lua de mel tá só começando!! 

vamos, me contem como se sentem dps de hj 🥺🥺 vão lá no twitter usar a tag e colocar a cena favorita de vcs desse cap <3 

eles são mto lindos juntos ne aff 

bom espero que tenham gostado, o próximo capítulo tá ainda melhor vcs vão gostar haha, tem mais boiolice e palhaçada porque nosso bb n se aguenta <3 

se alguém quiser usar a tag no twitter #mapsitk e tbm, para fazerem perguntinhas eu tenho um curious cat @astaenautic

beijos, fui ❤️🚗💨

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