— Tinha que cair logo justo na minha sala — Resmunguei baixo para mim mesma e notei Jade arquear uma sobrancelha com aquele olhar de estar meio desconfiada. Forcei um sorriso para ela e a mesma apenas virou para frente.
Meus olhos buscaram Theo, ele estava me encarando de maneira muito séria e logo após seu olhar se direcionou para a pessoa atrás de mim. Minha atenção logo fora tomada por Lucca, que atravessou a porta com a cara de sono. Chegando mais uma vez atrasado.
— Bom dia, professor — Lucca falou antes a tomar posse do seu lugar.
— Bom dia, Lucca — O professor respondeu começando a escrever no quadro.
Olhei para Lucca em desespero e ele me lançou um olhar confuso, até que ele se deu conta da presença do loiro de mim.
— Apolo? — Ele arqueou as sobrancelhas surpreso e aparentemente alegre — Caraca! Que bom que veio pra mesma sala que a gente.
Que?
— Oi Lucca — A voz do garoto atrás de mim parecia animada — Tô muito feliz também, acredite.
— Silêncio — O professor se manifestou ainda de costas para a sala.
Para minha surpresa, Apolo não me perturbou durante as primeiras aulas, na verdade, ele se comportava de uma maneira totalmente diferente da qual pensei. Era participativo nas aulas, parecia inteligente, respondia quase todas as perguntas que os professores faziam e parecia ter criado um certo apego em Lucca, o que me incomodou um pouco. Porém, todo esse mar de rosas não durou muito quando chegou a hora do intervalo.
— Posso falar com você? — O loiro parou na minha frente com as mãos nos bolsos da calça, manteve aquele ar de autoconfiança. Encarei Jade e Lucca que apenas fizeram sinal de que estavam indo embora e então voltei minha atenção para a Barbie a minha frente.
— Claro — Eu respondi em desânimo.
Levantei-me da cadeira e o vi dar um passo em direção à saída. Antes que pudesse segui-lo, vi algumas garotas que sorriam e acenavam em sua direção.
Por que ele não as chamam para bater um papo?!
Saímos da sala e ficamos apenas nos corredores, embora Apolo tenha me causado um sentimento raivoso, o que realmente me aliviava era por ter Theo em meus pensamentos e poder finalmente ter um futuro encontro com ele.
— O que quer? — Indaguei.
— Quero deixar algumas coisas bem claras verbalmente — DiAngelis se aproximou mais de mim, eu no entanto, afastei me encostando na parede.
— Verbalmente? — Eu fiz uma careta.
— Depois eu trago um papel pra você assinar com algumas regras e condições — Ele parecia sarcástico e ao mesmo tempo firme em suas palavras, porém eu me sentia confusa com a sua fala. — Agora nós vamos ter que aparecer mais em público juntos.
— Papel? — Soltei um ar debochado — Pra que isso? Por acaso se tornou o Christian Gray?
— Christian Gray? — Seu rosto se suavizou, eu pude notar uma certa malícia na sua expressão — Você não tem cara de quem assiste 50 tons de cinza.
— Tem cara pra isso agora? — Eu franzi o cenho tentando disfarçar.
— Bom, olhando pra você eu diria que- — Antes que ele pudesse completar sua fala com qualquer bobagem, eu o interrompi.
— Nós estamos desviando do real assunto aqui, Apolo. O que quer dizer com nós dois aparecer em juntos público? Vamos ficar grudados o tempo inteiro?
— O tempo inteiro não, só que com mais frequência pra não parecer muito repentino esse namoro — Ele sugeriu.
— Entendi — Olhei para o chão e depois pra ele — Falando em regras e condições, eu tenho uma em mente para tratar verbalmente — Eu falei a última palavra com muito gosto.
— Sou todo ouvidos.
— Sem beijo, ok? — As palavras saíram quase que amaldiçoadas.
Um sorriso presunçoso se estendeu pelo rosto do loiro, ele parecia estar se divertindo com que eu acabei de falar. Uma de suas mãos descansava na parede obviamente acompanhada de seu braço que se estendia para o meu lado direito, ele abaixou a cabeça provavelmente segurando uma risada. Cruzei os braços e franzi a testa, tentando entender a reação dele.
— Qual é a graça?
Seu rosto levantou para olhar para mim, pude ver a distância quase zero entre nós agora e sentir um pouco mais o calor de seu corpo. Seu olhar era felino em minha direção, forçando-me a prender a respiração. Ele naturalmente apertou os lábios rosados entre os dentes e inclinou a cabeça para o lado. Com isso quase automático, pude sentir um arrepio na espinha e uma sensação de calor no estômago. Meu corpo estava me traindo.
— É isso que te preocupa? Que eu beije você? — Sua voz demonstrava uma certa surpresa e malícia.
— Eu só não quero ser pega de surpresa — Respondi desviando o olhar, quase exalando.
— Por que? — Perguntou em um tom baixo.
1. Eu não gosto de você.
2. Eu gosto do Theo.
3. Eu não sei beijar.
— Não é da sua conta os meus motivos — Respondi, meu olhar quase se desviou dos seus olhos pra sua boca.
— Do que você tem medo? — Sua pergunta me fez sentir como se estivesse entre a cruz e a espada.
— De nada — respondi secamente.
— Não acredito que você está com medo que eu vá te beijar em público? — questionou com o olhar fixo no meu, tentei desviar movendo um pouco o rosto para o lado mas o mesmo me seguiu.
— Você sabe do que eu tenho medo? — Eu sussurrei pesadamente. Seu olhar caiu para os meus lábios. — De ter pesadelos com você à noite.
Percebi que sua mandíbula travou, embora o maldito sorriso ainda estivesse em seu rosto.
Eu sabia que no fundo ele estava se divertindo com tudo que estava acontecendo, garotos como ele gostavam de ter seu ego inflado, mas eu não estava disposta à isso. Meu senso crítico falava tão alto que mal pude perceber o quão rude estava sendo. Eu estava com raiva, mas não iria dar o braço a torcer nesse relacionamento falso.
— Aparentemente você tem uma língua muito afiada para alguém que recusa um beijo meu. — Sua voz estava arrastada e seu olhar ficou mais sombrio do que eu poderia imaginar.
— Você se acha, não é? — Falei aborrecida — Eu só quero que isso acabe logo. Afinal, quanto tempo vamos ficar nessa farsa?
— Bom, a intenção era ser por alguns meses — Respondeu pensativo.
— Alguns meses? — Levantei as sobrancelhas, incrédula — Vou ajudar você por no máximo dois meses.
— Acha que vamos convencer alguém desse jeito?
— Pelo visto não vai demorar muito, já que Lavínia estar de olho em você — Eu apontei com o queixo para Lavínia que estava no pátio com os olhos fixos em nós, seu comportamento aparentava estar desconfortável. O loiro acompanhou o meu olhar de maneira vaga e retornou a atenção em mim.
— Isso só tá começando.
— Olha, — Eu olhei para cima demonstrando minha impaciência — se era só isso que tu tinha pra me falar eu vou me retirar porque tenho que ir aproveitar o meu intervalo, ok? — Me descontentei da parede e me afastei dele, o mesmo me seguiu com o olhar sem conseguir dizer mais nenhuma palavra.
Seguindo caminho pelos os corredores ainda pensativa e irritada com Apolo, notei a presença de alguém de maneira repetina ao meu lado, quase assustando instantaneamente. Olhei para a pessoa e pude ter a oportunidade dar de cara com Lavínia, dando mais uma vez boas vindas ao aborrecimento.
— Algum problema? — Continuei a andar na direção do refeitório.
— Não exatamente — Ela me acompanhava, sua voz estava fina e insuportável agora — Quero apenas aconselha-la de uma coisa.
— Me aconselhar? — Levantei as sobrancelhas em surpresa, meu tom de voz saiu bem irônico.
— Sim, acho que merece saber qual o tipo de cara você estar se envolvendo — Eu a espiei pelo canto dos olhos, a loira estava com uma postura de sempre.
— Apolo? — Questionei o óbvio.
— Quem mais seria? — Ela forçava sua voz para soar mais simpática, mas sabia que ela só estava ali para me irritar. Eu apenas suspirei, ficando em silêncio — Você é uma garota muito legal e certinha, acho que tem o direito de saber mais sobre ele.
Eu já sei o suficiente.
— Acha que eu não tenho que descobrir isso sozinha?
— Certamente, mas acho importante ouvir isso de alguém que conviveu por muito tempo com ele — Ela concluiu.
— Tudo bem.
— Apolo é um cara muito difícil de lidar, acredito que você deve ter percebido só de ter uma pequena conversa com ele. — Continuou de maneira séria.
E como!
— Mas o pior de tudo, ele pode ficar muito frio e distante por um tempo. No começo é tudo um mar de rosas, ele se sente atraído e desperta todos os desejos que você nem imagina que um dia ele iria despertar, mas nos outros dias ele não tem tempo para você e te trata como nada — Ela falou rapidamente, com os olhos fixos em mim.
— É meio estranho você me dar esse tipo de conselho sendo ex dele. — Parei de caminhar para encara-lá de frente.
— Pode ser, mas eu não tenho nada contra você, Anny, muito pelo o contrário. — Ela colocou uma das suas mãos em meu ombro — O que eu quero dizer é que Apolo gosta de usar as pessoas. — Ela quase me sacudiu me olhando nos olhos.
Eu quase bufei com isso.
Eu não me importo.
— Obrigada pelo conselho. Acho que você tem um pouquinho de razão — Tirei sua mão do meu ombro — Vou levar isso em consideração.
— Espero que sim — Ela abriu mais um daqueles sorrisos falsos e depois caminhou em uma direção oposta.