Sabor

By PriscilaUrano

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DEGUSTAÇÃO!!! - Obra completa na Amazon Maitê estava decidida a seguir sozinha e encarar suas próprias escol... More

1. Aperitivo
2. Entrada
3. Prato principal
4. Café da manhã
5. Marmita
6. Cuscuz, carne de sol e macaxeira na manteiga
7. Café da tarde
8. Galinhada

9. Sonho

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By PriscilaUrano

A quinta-feira chegou e Maitê madrugou na clínica. Camila a acompanhou. O procedimento foi rápido e logo Maitê foi para o quarto de recuperação. Precisava ficar lá até o término do efeito do sedativo. Depois, o médico da inseminação viria consultá-la e explicar novamente sobre os próximos passos do processo.

Qual não foi sua surpresa quando Henrique apareceu no quarto carregando um buquê com lindos lírios brancos abertos. Achava que estava sonhando, ainda com o efeito do sedativo, um surto, um delírio. Camila cumprimentou o surto com dois beijos no rosto e colocou as flores em um vaso do hospital ao lado da cama, enquanto o Henrique/sonho perguntava se tinha corrido tudo bem. Maitê achou melhor retornar à inconsciência do que dar vasão a esse tipo de insanidade.

Quando acordou meia hora depois, o sonho ainda estava ali. Sentado na cadeira de acompanhante, olhando para ela. Sorriu quando percebeu que ela havia despertado.

─ Oi, Maitê. - Levantou-se para ficar ao lado dela na cama e acariciar seus cabelos. Ela não estava entendendo nada. Não falava com Boccati desde o boa noite educado na portaria dois dias antes. - Está se sentindo bem?

─ Estou... - Ajeitou-se na cama. Usava aquela camisola esquisita de hospital enquanto Henrique parecia um deus grego. - O que você está fazendo aqui?

─ Vim discutir nossas opções nesse projeto... - Torcia as mãos. Estava nervoso.

─ Opções? - Ainda estava confusa. - Está pensando em me convencer a adiar a inseminação...

─ Não. - Balançou a cabeça. - Isso não é uma opção para você, não é mesmo?

─ Definitivamente não. - Confirmou. - Então, o que você pretende? - Levantou as mão como se dissesse o quanto era óbvio o que ele estava fazendo ali. Ela entendeu, mas não estava acreditando. - Você vai doar o material genético, é isso?

─ Gosto mais da frase "vou ser o pai do seu bebê". - Explicou. - Mas acho que é isso sim.

Maitê ficou sem fala. Nem conseguia respirar direito. Henrique estava se oferecendo para fazer um filho com ela. Era inacreditável.

─ Ainda estou me acostumando com a ideia. - Parecia mesmo nervoso. - Eu realmente não estava planejando isso. - Explicou. - E vamos precisar conversar bastante sobre os termos dessa nova relação... - Ele meio que se atrapalhava na condução das ideias. - Porque eu não pretendo ser apenas um doador para essa criança.

─ Henrique, calma! - Apesar de ser ela a estar na cama do hospital, começava a se preocupar com a condição de Boccati. - Você entende que eu não estava falando sério quando fiz o convite... - Aquilo caiu como uma bomba.

─ Você... Você não quer que... - Dava para ver que sentia as palavras como uma rejeição.

─ Eu não disse que não quero. Eu disse que você não tem a menor obrigação de se envolver nessa situação. - Disse com muita firmeza. - Ter um filho é um passo muito sério. - Henrique tornou a se sentar na cadeira de acompanhante. - Estou planejando a chegada dessa criança há bastante tempo já. Não consigo imaginar que você tenha simplesmente decidido ter um bebê comigo depois de uma discussão patética como a nossa.

Um silêncio tomou conta do quarto. Boccati olhava para ela, mas não sabia o que dizer, sobretudo porque ela estava certa. Maitê por sua vez, estava completamente desconcertada com a simples presença de Henrique ali.

Felizmente, Camila chegou vinda da padaria. Trazia algo mais substancial para a amiga comer, pois ela ainda estava em jejum.

─ Acordou, mocinha? - Entrou animada por ver a amiga recuperada e nem reparou que uma torta de climão já tinha sido muito bem servida. - Trouxe pão de queijo, suco de laranja e um sonho. - Foi colocando a mesinha do hospital na cama e ajeitando a comida em cima dela. Maitê começou a comer, não tinha um pingo de fome, entretanto, era melhor encher a boca de comida do que puxar assunto com Henrique. - O médico já passou? - Camila perguntou a Henrique.

─ Ainda não. - Disse seco.

─ Estranho. Deve estar chegando. Ele mencionou que passaria por volta das nove. - Olhou no relógio, eram nove e quinze.

Mal terminou de consultar as horas, todos ouviram as batidas na porta da frente.

─ Olá, Maitê, como está passando? - O senhor de meia idade muito simpático sorria para ela por trás dos seus óculos grossos. - Dor? Desconforto?

─ Um pouco de desconforto... - Tocou na região do procedimento.

─ É normal. Vou passar uma medicação para aliviar. Tem alergia a alguma medicação para dor? - Fez que não. E ele fez anotações no tablet que sempre o acompanhava. - Hoje você fica em casa, repouso relativo e amanhã é vida normal.

─ Como foi o procedimento? - Estava ansiosa para saber. Camila segurava a sua mão do lado da cama.

─ Muitíssimo bem, moça! Retiramos doze óvulos. O que é um número bem considerável. - As duas amigas se abraçaram felizes. - Estamos em análise para saber se todos estão no momento ideal de maturação. Em média, dois ou três acabam se perdendo nesse processo.

─ E agora, doutor Helano? Qual o próximo passo? - Camila perguntou entusiasmada.

─ Agora é descongelar a amostra do doador. - Henrique se mexeu desconfortável na cadeira. - Nós vamos selecionar cinco óvulos e fazer a fertilização em si.

─ Cinco de uma vez? - Boccati perguntou assustado. Doutor Helano nem estava levando em conta que ele estivesse ali, tomou um susto com a pergunta.

─ Sim. Você não é o Chefe Boca da televisão?

─ Ele mesmo, doutor Helano. Boccati é meu amigo . - Usou a palavra amigo porque não sabia como explicar uma outra classificação.

─ Henrique Boccati, prazer. - Ofereceu a mão, levantando-se da cadeira.

─ Helano Maia. - Olhava para Boca como se não acreditasse. - Adoro a costela do Candura. Eu e minha esposa sempre vamos lá.

─ Fico feliz em saber. - Recebeu o elogio com a mesma postura que usava nos restaurantes. - Mas como o senhor ia dizendo...

─ Ah! - Ele riu. - Eu já tinha explicado para Maitê. Fazemos um número maior de embriões porque nós em geral perdemos alguns ainda na placa. - Henrique fez uma cara de que não estava entendendo. E o médico explicou melhor. - Nós não implantamos somente o zigoto, Chefe. Zigoto é a primeira célula, a união do espermatozóide com o óvulo. Precisamos que as células comecem a se multiplicar para fazer a implantação no útero. Essa parte acontece em uma placa do laboratório. E nem todos os zigotos desenvolvem um embrião, sabe?

─ Entendo. - Ficou pensativo.

─ Vamos passar os próximos dias observando o desenvolvimento dos embriões, enquanto você toma as medicações que vou prescrever para preparar o útero.

─ Doutor... - Boccati interferiu de novo. - Supondo que a Maitê não fosse mais usar a amostra congelada... - Camila olhou para ele como se fosse um alien. - Como seria o procedimento?

─ Bem... - O médico estreitou os olhos achando a pergunto muito esquisita. - Se a Maitê estivesse em um relacionamento, ela poderia abrir mão da análise genética prévia que é feita para a amostra do doador em prol dos laços afetivos. Nesse caso, o futuro pai do bebê entraria exatamente nesse momento. Ao invés de descongelar a amostra, nós pegaríamos o esperma do pai para fazer os embriões.

─ E se o pai tivesse feito uma vasectomia?

─ Henrique! - Maitê brigou e Camila só começou a rir.

─ Só estou querendo saber, Maitê. Algum problema?

─ Você não pode simplesmente dar um Google?

─ Sem problemas, Maitê. - Doutor Helano tinha toda a paciência do mundo. - É normal ter dúvidas. Chefe Boca, a fertilização in vitro é a melhor opção para homens vasectomizados que desejam ter filhos. A vasectomia não altera a produção de espermatozoides, ela corta o caminho. No caso, se o pai é vasectomizado, não recolhemos o material através da masturbação, usamos a punção testicular.

─ Como? - Não entendeu.

─ Retiramos os espermatozóides diretamente do testículo com uma agulha fina. - Henrique sentiu até um arrepio só de imaginar. - Não é um procedimento tão dolorido assim, Chefe Boca. O paciente é sedado. Volta para casa do mesmo dia. Muito semelhante à intervenção que fizemos em Maitê hoje. - Henrique voltou a ficar pensativo.

─ Então é isso? - Camila estava interessada em terminar o assunto.

─ Só mais uma coisa antes da alta... - Doutor Helano se dirigia à Maitê. - Eu e minha equipe analisamos a sua situação e decidimos que seria melhor começar as tentativas com força total. Consideramos a sua idade e seu histórico familiar e entendemos que seria melhor começar implantando logo três embriões.

─ Três embriões? - Boccati colocou a mão na boca. - Isso não é arriscado? Três bebês de uma vez?

─ São apenas 17% de chance de uma gravidez gemelar. Mas a inseminação com múltiplos embriões aumenta consideravelmente as chances da senhorita Vieira engravidar na primeira tentativa.

─ E que mal pergunte, qual a chance de uma gravidez de trigêmeos no método natural? - Na cabeça de Henrique, dezessete por cento era um número muito alto, quase a chance de uma mulher engravidar em uma relação, de acordo com o que ele se lembrava de quando concebeu Natália.

─ Não chega a 2%. - Precisou sentar depois dessa. Sua cabeça girava. Três bebês. Levara quase duas décadas para chegar a esse número de filhos e agora Maitê queria colocar três crianças de uma vez na barriga dela. Era demais. - Gêmeos são um efeito colateral muito comum nas fertilizações in vitro. - O médico sorria. Ele tinha a audácia de sorrir. - Precisamos da sua autorização, Maitê, para a implantação dos três embriões. Você precisa assinar aqui?

─ Eu não concordo com isso. - Disse Boccati com autoridade. O médico ficou visivelmente confuso. Camila só balançou a cabeça.

─ E quem está te pedindo permissão? - Ela puxou o tablet do médico e assinou a linha pontilhada

─ Além de ser arriscada uma gestação tripla, se você engravidar de três crianças de uma vez, meu amor, você vai entrar numa confusão que não tem tamanho pelos próximos vinte anos da sua vida. - Estava tão nervoso que nem pensou no vocativo. - Você vai ficar longe do mercado de trabalho por um bom tempo e não faz ideia do quanto mais vai precisar abdicar de si mesma para criar três bebês. - Falava com conhecimento de caso.

─ Calma, Henrique. - Ele estava tão nervoso que nem teve ânimo de brincar. - Eu não acredito que eu vá ficar grávida de três.

─ Você não ouviu o médico, Maitê? São 17% de chances. - Passava a mão pela cabeça. Estava suado. - É bastante chance. Bastante chance mesmo.

─ Eu confio no doutor Helano, Henrique. - Respirou fundo. - E estou preparada caso algum imprevisto aconteça.

O médico assinou a alta de Maitê e Camila arranjou uma desculpa qualquer para pegar documentos no carro para deixar Henrique e Maitê conversarem. Pelo que ela tinha entendido, Henrique Boccati estava se oferecendo como pai para o bebê ou bebês da amiga. Não conseguia classificar a atitude como idiota ou como romântica. Resolveu esperar na recepção.

─ O que você ainda está fazendo aqui, Henrique? - Ela perguntou quando se cansou do silêncio.

Chefe Boca estava sentado, braços cruzados, olhando para ela. Sua cabeça estava em turbilhão. Chegara ali disposto a dar um filho a Maitê e nem a punção testicular, apesar de desagradável, iria lhe dissuadir disso. Mas não podia se permitir inseminar três embriões de uma vez naquela mulher. Henrique tinha a mais absoluta certeza de que ela ficaria grávida de três filhos seus. As palavras do seu Sete-flechas martelavam na sua cabeça. Com essa gestação, ele chegaria ao número de seis filhos, conforme fora previsto.

Não meteria Maitê nessa furada. Era arriscado. E, se todos escapassem do parto, sabia que Maitê jamais voltaria a ser a mesma. Amamentando três bebês, sem dormir à noite por anos a fio, os gastos aumentando, os problemas chegando. Provavelmente não retornaria ao trabalho. E ele não conseguiria dar conta das responsabilidades que já tinha. Ela acabaria dependente dele financeiramente. Talvez se tornasse ciumenta ou frustrada. Os dois viveriam em pé de guerra. E as crianças não teriam uma família estruturada.

Ele não queria participar disso. Não tinha a menor intenção de prejudicar Maitê a enchendo de filhos. Talvez ela tivesse mais sorte sem ele.

─ Eu tentei, minha querida. - Boccati tinha os olhos marejados, mas tentava não chorar. - Mas não posso concordar com isso. Não tenho estrutura para participar dessa "aventura".

─ Entendo, comandante. - Lamentava olhando para ele com tristeza. - Eu precisei me preparar bastante para encarar essa viagem. Não posso exigir que você simplesmente pule no barco.

─ Eu realmente me apaixonei por você, Tê. - Levantou e segurou sua mão. Beijou sua testa com carinho. - Só te desejo coisas boas.

─ Também amo você, Henrique. - Ele a beijou e uma lágrima caiu e desceu pelas bochechas de Maitê. - Você é o cara mais legal que eu já conheci! Pena que nos encontramos nessas circunstâncias.

─ Pena mesmo. - Recobrou um pouco da compostura. - Preciso ir. Fica bem.

─ Vou ficar.

─ Quem sabe em algum momento a gente não consiga tentar ser amigos? - Nem ele acreditava nessa proposta. Maitê forçou um sorriso. - Gosto muito de você. não gostaria que saísse completamente da minha vida.

─ Claro, Henrique. Com certeza, não há nada de errado em sermos amigos algum dia... - ele também forçou um sorriso. A situação ficando cada vez mais insustentável.

Henrique saiu da sala deixando um vazio enorme. As lágrimas começaram a cair uma depois da outra sem controle. Em cima da mesinha do café da manhã, ironicamente ainda havia o maldito sonho de padaria. Como se o destino lhe dissesse que só cabia um sonho de cada vez. Perdia aquele que poderia ser o homem da sua vida para ganhar a chance de se tornar mãe.

***

─ Oi, Maitê. Que bom te encontrar!

A filha mais velha de Henrique Boccati marcou uma reunião no escritório exatamente uma semana depois do término. Era estranho vê-la ali com seu sorriso simpático. Parecia que não a encontrava havia séculos. Maitê tinha vivido dez anos naqueles últimos dias. A maratona de remédios ainda não acabara e suas emoções oscilavam de uma maneira sem controle.

Além disso, a implantação dos embriões aconteceu na terça pela manhã. Ela estava tentando manter a calma e se alimentar bem. Uma vida normal como sugeriu o médico, mas era impossível. Queria fazer tudo certo para que conseguisse ficar grávida de uma vez. Estava com medo de dirigir e sofrer um acidente, de andar na rua e sentir alguma coisa, de ficar estressada no trabalho por algum motivo e acabar perdendo o bebê. Enfim, pensou até em tirar férias, porém, sabia que a ansiedade ia ser muito mais difícil de controlar se ficasse sozinha em casa.

Encontrar Natália, apesar de ser uma reunião profissional, com hora marcada e no seu ambiente de trabalho, fazia com que se lembrasse de Henrique. E ela não queria pensar no ex-namorado. Não naquele momento. Estava muito fragilizada e precisava lidar com questões ainda mais difíceis do que a saudade que sentia dele.

Chorou muito ao chegar em casa depois do término. Não quis deixar claro para Camila que estava arrasada, porque a amiga já estava sendo muito solícita com tudo e não havia mais nada que nenhum deles pudesse fazer sobre aquela situação. Entretanto, assim que se viu sozinha, não conseguiu mais conter a tristeza.

Foi um fim de semana de cão. Por ela, nem sairia da cama, mas precisava se alimentar e tomar a medicação corretamente. Fazia isso e voltava para debaixo das cobertas, completamente sem força. O máximo que fez além disso foi conversar com o pai e com Camila que ligavam para saber como estava se sentindo. Também acompanhava as notícias pelo celular sobre o desenvolvimento dos blastocistos que a clínica mandava. E os dias foram se arrastando até o momento do procedimento da implantação dos embriões.

Quando Camila e Luís Fernando foram buscá-la logo cedo pela manhã. A amiga percebeu o quanto ela estava péssima. Colocou óculos escuros bem grandes e passou uma maquiagem na cara, mas era inútil. Camila a conhecia bem demais. Ela tentou puxar o assunto Boccati e Maitê cortou na mesma hora, alegando que não queria mais nem falar o nome dele.

Agora, apesar do desconforto, precisava atender a moça. Ela não tinha nada a ver com a situação. Estava apenas interessada na Maitê profissional, na gestão de marketing pessoal.

─ Oi, Natália. - Cumprimentou a moça com dois beijos no rosto e ofereceu uma cadeira. - Em que posso te ajudar? - Usou seu tom mais formal.

─ Vim conversar com você sobre a carreira de influencer digital. Quero saber quais são os primeiros passos e mais ou menos quanto você acha que será necessário investir para começar a fazer funcionar...

Natália não mencionou o pai em nenhum momento, mesmo que Maitê soubesse que era Boccati quem pagaria pelos serviços prestados. A conversa foi ficando mais fácil, porque estavam falando de trabalho. Maitê sabia o que estava fazendo. E, por sua vez, a moça estava comprometida e já tinha um projeto inicial de conteúdo e engajamento para uma plataforma específica, o que demonstrava que não era somente uma menina deslumbrada como muitas que procuravam sua assessoria.

Ela queria montar uma plataforma de nutrição consciente, com um conteúdo voltado tanto para o consumo de produtos mais saudáveis quanto para a desmistificação da relação alimento e nutrição. Maitê descobriu que Natália era uma aluna aplicada e que mesmo nos primeiros semestres já tinha alguma bagagem teórica. Mas achou também interessante essa visão quase inocente dela sobre o assunto. Acreditava que uma visão de aprendiz poderia agregar bastante a uma proposta de canal de saúde para jovens a longo prazo. Talvez funcionasse essa conexão, seguidores e influencer aprendendo ao mesmo tempo.

─ Você acha mesmo que pode dar certo, Maitê? - Natália perguntava com aquele brilho nos olhos típico da juventude.

─ Acho que tem potencial. - Sorriu.

─ Podemos fechar o contrato, então?

─ Ainda não. Não há necessidade de você começar a investir no seu projeto por aqui, querida. - Poderia começar a considerar a consultoria a partir daquela reunião. Tratava-se de um branding, afinal, porém, não via necessidade de cobrar da filha de Henrique. - Vou indicar alguns fonoaudiólogos especializados em comunicação para você escolher. A dicção é uma questão importante para a construção de uma imagem, principalmente quando se pretende explicar a leigos sobre saúde. - Natália fez que sim com a cabeça. Concordava com ela. - Vou procurar também profissionais gabaritados para garantir o aporte teórico das informações que você vai passar. sugiro que procure alguns nomes também.

─ Já tinha conversado com minha orientadora na faculdade sobre isso. Eu faço parte de um grupo de estudos com o pessoal da pós-graduação, acredito que eles não se importariam em me ajudar.

─ Não será somente uma ajuda, Natália. É trabalho. - Esclareceu. - Seu perfil ou canal vai pagar a esses profissionais para que colaborem com o conteúdo. Aviso que esse costuma ser o serviço mais caro.

─ Imagino...

─ E, por hora, vou passar uma lista de compras básica de equipamentos: computador, luz, programa de edição...

─ Claro. Daniel vai me ajudar com essa parte. Ele é muito bom nisso. - O namorado estava cursando cinema.

─ Sei que intenta um conteúdo mais estruturado e para isso você pode usar algum dos nossos estúdios, mas, mesmo assim, qualquer influencer precisa saber minimamente gravar e produzir um vídeo. Então, é bom você ir se inteirando desse tipo de coisa mais técnica.

─ Pensei também em fazer um curso de atuação. Quero ficar mais solta na frente das câmeras.

─ Não é uma ideia ruim. - Maitê passou a lista de compras por mensagem para o celular dela. A moça conferia os equipamentos enquanto Maitê se levantava para buscar um pote com frutas cortadas que tinha deixado na mini geladeira do escritório. - Com licença, Natália, mas eu preciso comer.

─ Não faça cerimônia, Maitê. - Ela sorriu. - Sei que você está no meio de um tratamento para engravidar. Precisa se alimentar bem. Falando nisso, como está se sentindo? Já fez a fertilização?

─ Implantei os embriões na terça-feira. - Continuou a comer as frutas se sentindo um pouco mais desconfortável com o rumo da conversa. Nunca comentou nada sobre isso com Natália, então, ela só podia ter conversado com Boccati.

─ Colocou os três bebês de uma vez? - Olhava para a barriga dela como se já desse para ver os trigêmeos se mexendo ali. - Nossa! Que empolgante!

─ Coloquei três embriões, não três bebês. - Esclareceu. - Implantar embriões não significa que eles vão se desenvolver. - Aquilo precisava ficar bem claro até para ela mesma. Muitas mulheres não ficavam grávidas na primeira tentativa de fertilização.

─ O papai me explicou. - Mencionou a conversa com o pai de maneira natural. Colocou a mão sobre a barriga de Maitê. - Mesmo assim, é empolgante, não é mesmo? Nesse momento, pelo menos, você tem certeza de que está grávida.

─ Verdade! - Ficou até emocionada, não tinha pensado por esse ângulo. Fez carinho na própria barriga.

─ Quero muito ficar grávida! Ter um bebê é meu sonho. - A fala de Natália até a tirou do devaneio.

─ Acho que seu pai vai surtar se você disser uma coisa dessas em voz alta...

─ Não pretendo engravidar agora, é óbvio. - Ela se levantou e pegou sua bolsa, já estava abusando do tempo de Maitê. - Ainda quero me formar e me casar, mas não vou esperar muito depois disso não. Sempre falo para o Daniel que quero ser mãe logo, se ele não quiser, que pule fora... Estou indo, Maitê. Obrigada pela atenção.

─ Quer dizer, que pelos seus planos, seu pai vai ser avô antes dos cinquenta anos? - Brincou.

─ Com certeza! - Cumprimentou Natália com um beijo. - Sobre o meu pai, eu lamento muito que não tenha dado certo. Briguei horrores. Você é a mulher perfeita para ele.

─ Não deveria ter feito isso. Não posso obrigá-lo a aceitar minhas escolhas.

─ Bobagem! Conheço meu pai, ele ia acabar caindo de amores por esses bebês e eu não me incomodaria em nada em ganhar mais alguns irmãozinhos... 

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