Dance Till We Die
Pete
- Já saiu a lista?
- Não.
- Você atualizou direito?
- E tem jeito errado de atualizar uma página?
Acho que dá para ver claramente durante essa conversa o quão Pete estava nervoso. Essa era a chance tão esperada que tinha de conseguir trabalhar em uma das maiores empresas dos Estados Unidos que, com certeza, paga muito bem e, caramba, como ele precisava disso. Desde que se formou, conseguir um emprego era a única coisa que passava na sua cabeça. Na dele e na de seu amigo Porsche.
Os dois sempre estiveram juntos desde que se conheceram no primeiro ano da faculdade de administração e desde então não se desgrudaram, tanto que até moram juntos e que agora estão esperando o resultado da seleção de emprego e que até pagam os mesmos boletos, incluindo a conta do Wi-Fi que estava péssima.
- Se você pagasse a Internet, talvez não estivesse demorando tanto - disse Pete, andando de um lado para o outro e roendo as unhas.
- Eu já disse mil vezes que paguei essa porra - respondeu Porsche sentado na cadeira esperando a atualização da lista de novos empregados - Cara, vai tomar uma água e ver se tenta se acalmar. Tenho total certeza de que vamos conseguir.
- Como tem tanta certeza?
Porsche, então, se levanta da mesa do computador, segura nos ombros do amigo e diz:
- Porque desde que começamos a faculdade, sempre tivemos as melhores notas e sempre ficamos em primeiro lugar em tudo e se o currículo vale de alguma coisa nesse país, então nós dois seremos os primeiros da lista, o que não é novidade para a gente. Agora vai tomar uma água que já já está lista sai.
- Está bem.
Passou-se um tempo desde a última conversa que tiveram. Pete realmente levou o que seu amigo disse a sério e foi descansar um pouco no sofá, enquanto Porsche não tirou os olhos do computador. A verdade era que Porsche tentava parecer calmo, mas a realidade era bem diferente do que ele parecia ser. Mas enquanto Pete estava quase pegando no sono, Porsche esbanja o mais alto dos gritos que até os chineses devem ter ouvido. O moreno levanta da cadeira eufórico e corre em direção ao Pete pulando em cima do mais novo que estava deitado no sofá, fazendo-o gritar de dor.
- Meu Deus, Porsche. O que foi?
- CONSEGUIMOS, PETE!
- Conseguimos?!
- CONSEGUIMOS!
- Nós passamos?!
- NÓS PASSAMOS EM PRIMEIRO LUGAR
- NÓS PASSAMOS! AAAAAAAAAA
Vegas
Estava um pouco frio em Manhattan e quando digo 'um pouco' digo que estão muito frio mesmo, porém os calafrios de apenas mais um tempo de inverno não incomodam nem um pouco. O inverno sempre foi a melhor época do ano para mim: tem o Natal, neve, comemoração de ano novo da times square e tudo o que essa estação pode proporcionar, mas nada é melhor, no Inverno, do que o calor que é está colado ao corpo de alguém.
Sempre me chamam de Vegas o filho do capitalismo, um dos maiores herdeiros do mundo e um dos jovens mais ricos do mundo, mas principalmente me chama de o solteiro e cobiçado do mundo. Infelizmente ter essa fama de solteiro veio atrelada a fama de mulherengo ou de cafajeste, o que não é bem verdade. Primeiramente, nem de mulher eu gosto e outra, a verdade é que estou à procura de alguém que me complete, alguém que seja o motivo de acordar todos os dias da cama, mas ser o homem mais cobiçado dos Estados Unidos tem suas desvantagens, principalmente essa.
Porsche
Se tem uma coisa que Porsche mais odeia no mundo são mentiras, principalmente quando são ditas por alguém que ama no fundo de sua alma. Pior ainda é quando ele sente que está mentindo a si mesmo e quando chega a esse ponto já não tem mais volta. Seu coração acelera e seu corpo treme, sua mente vai a mil, mas ele nunca perde o controle, pois se ele perder sua sanidade, não haverá mais ninguém que deixará as coisas melhores.
Foi assim como ele se sentiu quando esperava pelo resultado do seu novo emprego, mas ele se permitiu ficar calmo para não piorar as coisas. E é assim agora, nesse exato momento em que está no banheiro se arrumando com seu melhor amigo. Porsche estava sem camisa e aparando sua barba enquanto dividia o espelho com Pete que colocava maquiagem.
Ele tentava segurar sua ansiedade enquanto olhava para seu amigo e tentava não se cortar com o barbeador, mas ele não aguentava mais. Está tremendo. Ele queria fazer aquela pergunta. Mas tinha medo da resposta. Porsche olhava e desviava o olhar para Pete a cada segundo, observando o amigo se maquiar e tentou colocar na sua cabeça que estava tudo bem. (Mentira). Está tudo certo. (Mentira). Ele confia em Pete. (Verdade). Não vai acontecer nada de errado. (Mentira). Está tudo certo. Pensou, mas então por que ele estava tremendo.
- Ai!
- Tu bem aí, Porsche - perguntou Pete
- Sim, eu só me cortei.
- Você está sempre se cortando.
- É. Pois é - respondeu, colocando uma toalha de mão no rosto.
Pergunte logo, Porsche.
- Ei, Pete. O que você vê no Time?
Pete, então fez uma pausa no rímel e então "respondeu" a pergunta de Porsche
- Por que essa pergunta do nada? Ele é meu amigo de infância. Ele é tão meu irmão quanto você.
- Eu não confio nele.
- Eu sei disso.
- Só estou dizendo que tô com um pressentimento estranho sobre ele.
- Porsche.
- Eu sei que ele é seu amigo, mas o cara é um idiota.
- Ele não é um idiota.
- Toda vez que estamos com ele, ele solta umas piadinhas muito ofensivas para cima da gente. Sem contar que ele não passa de um macho palestrinha que se mostra de boa com tudo, mas a verdade é bem ao contrário disso. Simplesmente não para gostar de um cara que ... nos rebaixa a cada palavra que sai da boca dele.
- Acho que esse só deve ser o mecanismo de defesa dele. Se vocês pudessem dar uma chance de conhecer ele do jeito que eu conheço, tenho certeza que vocês iam amar ele.
- Talvez tenha razão.
Se tem uma palavra que Porsche pudesse definir sua amizade com Pete, essa palavra seria 'intimidade'. Intimidade para dividir o banheiro, os celulares, a cama em noites de pesadelo e até mesmo os maiores segredos. Por isso Porsche decidiu confiar em Pete, pois sabia que se realmente houvesse algo de errado, ele saberia. Mas apesar de não estar nem um pouco afim de tentar confiar em Time, Porsche se sentiu mais calmo por ter pelo menos ter tentado falar com o amigo.
- Agora vamos logo antes que os meninos nos liguem para nos perturbar.