Spark of Fire

By ficsGiKa

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Jung Hoseok está há minutos de morrer quando o seu sangue atrai Min Yoongi, um vampiro que lhe oferece a chan... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Capítulo 68
Capítulo 69
Capítulo 70
Capítulo 71
Capítulo 72
Capítulo 73
Capítulo 74
Capítulo 75
Capítulo 76
Capítulo 77
Capítulo 78
Capítulo 79
Capítulo 80
Capítulo 81
Capítulo 82
Capítulo 83
Capítulo 84
Capítulo 85
Capítulo 86
Capítulo 87
Capítulo 88
Capítulo 89
Capítulo 90
Capítulo 91
Capítulo 92
Capítulo 93
Capítulo 94
Capítulo 95
Capítulo 96
Capítulo 97
Capítulo 98
Capítulo 99
Capítulo 100

Capítulo 50

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By ficsGiKa

AVISO DE CONTEÚDO: Estupro (passado);  Ataque de pânico; Agorafobia; Tentativa de suicídio (não proposital/acidental)


 ══════ PARTE III ══════

Brincando com fogo

Você sabe que vai machucar alguém hoje à noite

E você está fora de linha

Você sabe que estamos brincando com fogo.

† Playing with Fire - Brandon Flowers †



Taehyung subiu no colo do namorado rindo. Sua camisa estava completamente aberta e as mãos de Namjoon para todos os lados do seu corpo.

— Eu não acredito que hoje fazemos dois meses de namoro — disse Namjoon, ficando seus dedos na cintura do vampiro. — Parece mais. Muito mais.

O vampiro gemeu em meio a mais uma risada, segurando-se no cabelo do namorado.

— Os dois meses mais felizes que eu tive em séculos, e é apenas o começo, meu doce dragão.

Namjoon riu outra vez, mudando a posição dos dois, deixando seu namorado abaixo dele. Tinha tirado o dia de folga somente para poder comemorar a data; poderia ser bobo, mas não dispensava uma oportunidade de estar com Taehyung.

O dragão tomou os lábios do namorado e então, seu celular começou a tocar.

Argh... Nunca gostei desses aparelhos móveis — Taehyung reclamou.

— Você me liga todos os dias, amor, usando esses aparelhos. — Namjoon olhou o visor e estalou a língua. Após recusar a chamada, voltou ao namorado. — Onde estávamos?

Novamente, o celular voltou a tocar.

— Quem é tão insistente? — Taehyung perguntou.

— Wonho, meu irmão.

Hm... pode ser importante. Se fosse Jackson estava deveras bem, mas Wonho dificilmente liga se não for por seriedade... Atende, meu dragão.

Namjoon se sentou na cama, suspirando pesadamente antes de atender a ligação.

— Alô?

— Namjoon, desculpa atrapalhar sua comemoração, mas aconteceu uma coisa... Sua mãe esteve aqui, a Lilith. Ela está te procurando e... ela está indo para a mansão agora.

— O quê?! Vocês estão bem?! Ela fez alguma coisa?! — Namjoon sentiu o pânico correndo seu corpo como fogo em gasolina.

— Hm... Ela foi até bastante simpática...

— Como é?!

— Lilith não é como as filhas, Namjoon.

A campainha fez Namjoon gritar e antes que Taehyung pudesse impedi-lo, o legista correu em direção à sala apavorado com ideia de alguém atender a porta e ser ferido pela sua mãe. Mãe?! Aquilo era absurdo!

Quando chegou no ambiente principal, Soobin já estava calçando sapatos para ir atender o portão por conta da claridade do dia.

— Não! Não! Yeonjun?! — Namjoon gritou, vendo o vampiro aparecer na porta da cozinha, vestindo um avental. — Yeonjun, tira ele daqui! Agora!

Hm?

— AGORA!

Yeonjun quis perguntar, mas acabou apenas segurando Soobin pela cintura e puxando o namorado para o andar de cima.

— Namjoon! Amor, amor, calma! — Taehyung proferiu, segurando o namorado por trás com pressão impedindo-o de se soltar dele no impulso. — Respira fundo... Respira outra vez.

Namjoon obedeceu ao namorado, tremendo de medo com o que poderia acontecer com aqueles que amava, temendo com medo de reviver o que aconteceu na casa de seus pais quando Hyunah foi até lá.

— E-ela está aqui.... Tae... Lilith está aqui!

— E nós vamos lidar com isso — afirmou o vampiro, beijando os lábios do namorado. — Ela não fará nada nem com você e nem com ninguém.

— E se ela fizer?

— Ela não vai — garantiu Taehyung, afagando a bochecha do namorado. — Por favor, vamos conversar com ela.

Namjoon tinha medo, mas concordou com a cabeça. Se ela fizesse algo com qualquer um dentro daquela casa, iria a matar, não importava o parentesco.

Ele respirou fundo e colocou seus sapatos, olhando o namorado antes de seguir para o lado de fora. Sendo um dos únicos da casa que podia ir ao lado de fora quando o clima estava ensolarado, a missão de abrir o portão para a mulher, para a sua mãe, era sua. Céus, como tudo era uma loucura?

O ar pareceu escuro à sua volta e seus batimentos cardíacos pareciam mais agitados. Não sabia o que fazer quando uma cachoeira parecia descer por sua testa e por suas costas. Estava apavorado, não por si, mas pelas pessoas que amava e estavam dentro daquela casa. Talvez fosse melhor se encontrar com ela em algum outro lugar, algum lugar público.

O caminho da porta da frente até o portão pareceu eterno, mas quando chegou nele, sentiu seu peito diminuir de tamanho. O que faria? Qual seria realmente o seu próximo passo? Quis estar em um programa de televisão ou até dentro de um romance, onde um futuro editor olharia tal passagem e somente riscaria, acreditando não ser importante para a história. Mas, isso não aconteceria; estava na vida real, ninguém passava uma borracha e apagava os seus problemas.

Ainda com medo do que aconteceria em seguida, Namjoon abriu o portão. E então ele viu a mulher ali parada. Ela tinha um batom vermelho mate e um bonito sorriso, com suas feições tão bonitas e bem desenhadas. Sabia reconhecer uma vampira quando via uma, era óbvio a palidez, contudo, pela primeira vez notou que estavam debaixo do sol e ela estava bem, sem nenhuma queimadura aparente. O legista engoliu a seco, pois, todas as lendas sobre aquela mulher realmente deveriam ser verdadeiras.

— Se você quiser correr, ainda há tempo — ela disse.

Namjoon sentiu o coração acelerar no peito. Lilith podia sentir o seu medo, provavelmente escutara tudo o que ele disse minutos antes, os gritos assustados que deixou escapar dos seus lábios. Mas, estava parado em frente aquele ser tão poderoso e não podia perder a coragem, não naquele momento.

— Eu devo correr? — Namjoon rebateu com uma pergunta.

O sorriso da vampira aumentou no rosto.

— Não, pois você vem correndo a vida toda da sua mãe — Lilith falou, estendendo a mão na direção de Namjoon, mas ele deu um passo à trás. — Oh, claro. Desculpe.

— Eu não corri de você — disse Namjoon, engolindo a seco. — Eu nem sabia quem era você.

— Sei disso, meu filho — falou a mulher, abaixando o olhar. Um estranho barulho chegou a Namjoon e ele pulou no lugar, até perceber que era uma moto que cortava a rua. Ela o fitou com atenção, antes de falar: — Hm... eu posso entrar?

Namjoon cruzou os braços.

— Depende — disse o dragão. — Você vai matar meus amigos?

O olhar dela se preencheu de uma emoção que Namjoon reconheceu como tristeza.

— Não. Eu não farei nada com os seus amigos, meu filho.

— Nem os humanos? Eles não podem te olhar.

Lilith suspirou.

— Eu posso controlar isso. Minhas filhas não, mas eu posso — disse a vampira. Ela olhou por cima dos ombros e quando voltou a Namjoon, seu cabelo escuro cobriu parte do seu rosto. — Namjoon, eu só quero te conhecer. Por favor, eu preciso de uma chance.

O legista olhou para trás e pode ver Taehyung na porta, fitando-o. Ele engoliu a seco, mas sabia que não poderia colocar todas aquelas pessoas lá dentro em perigo. Assim, quando virou para a sua mãe, propôs:

— Podemos ir para outro lugar?

— Claro.

Com o canto dos olhos, Namjoon viu Taehyung dar um passo em direção a escada, mas ele sacudiu a cabeça, dando um sorriso.

— Eu preciso fazer isso sozinho, Tae.

— Amor...?

— Desculpa... eu volto mais tarde.

Taehyung deu outro passo para frente e mesmo sabendo que isso era doloroso para o namorado, Namjoon saiu da casa, fechando o portão atrás de si. Seu namorado não o seguiria na rua e era o que precisava no momento.

— Seu namorado? — Lilith perguntou. — Pensei que era Kim Seokjin.

Namjoon a fitou, ainda com o coração acelerado.

— Você sabe da minha vida?

— Um pouco.

— E mesmo assim nunca me procurou.

— Não me julgue tão facilmente, Namjoon — a mulher respondeu com a sombra de um sorriso. — Eu prometo não machucar seus amigos, mas se ainda preferir ter esta conversa em outro lugar, eu não irei me opor.

Namjoon somente continuou a seguir pela calçada e a vampira compreendeu o desejo dele. A mulher então ficou ao lado do jovem dragão, olhando-o volta e meia, sorrindo sozinha quando pensara não estar sendo observada.

— Tem algo no meu rosto? — Namjoon perguntou.

— Não — disse a vampira. Ela remexeu o cabelo, jogando-o para trás. — Você me lembra seu pai.

— Hm... Por que não entrou em contato comigo antes?

O legista sentiu a mão da vampira — da sua mãe, tinha que se lembrar —, em seu braço, fazendo-o se mover levemente para o canto, segundos depois uma pessoa passou um tanto desgovernada em uma bicicleta, gritando "Desculpa" para os dois. Namjoon engoliu a seco, mas nada disse.

— Eu não sabia onde você estava, não até Hyunah — disse Lilith. Ela levou a mão a cabeça, jogando o cabelo liso para trás. — Eu soube o que ela fez e imaginei a sua dor, então, te dei espaço, filho.

— Por que ela? Por que ela fez isso? — Namjoon se sentiu quase infantil quando sua voz falhou com o choro ameaçando tomar conta de todo o seu ser com as lembranças daquela fatídica noite.

Lilith não respondeu por longos minutos e quando Namjoon percebeu, estava em uma praça. Ele ficou sem saber o que fazer, até a mulher lhe indicar um banco para sentar.

— Já volto — disse a vampira.

Namjoon se sentou no banco de madeira e suas pernas logo começaram a sacudir. Não deveria estar ali com aquela mulher, mas, ao mesmo tempo, queria saber tudo sobre a vida dela e porque crescera todo aquele tempo sem conhecê-la.

Ele levou a mão à cabeça e viu Lilith voltando com dois copos de café na mão. Ela entregou o misturado com leite para o filho e bebericou o outro. Namjoon arfou.

— Você pode comer comida humana?

— Hum-Hum.

— C-como? P-por quê?

— Não sei. — A mulher deu de ombros. — Eu só posso. Provavelmente por eu ser a primeira vampira do mundo, algo assim.

— Primeira vampira...? — Namjoon a fitou, com a testa franzida. — Primeira... mesmo?

— É — ela suspirou, sacudindo os ombros. — Na roleta da vida, eu devo ter tirado a sorte grande ou algo assim.

Namjoon voltou a tomar seu café, sem nada entender, não realmente. Lilith podia andar no sol, comer comida humana, ter filhos e pelo visto controlar seus poderes que matavam humanos. O que mais ela poderia fazer? Mesmo curioso, Namjoon teve medo de descobrir.

— Parece solitário — disse Namjoon, suspirando pesado. — Ser a primeira vampira parece algo solitário.

Ela o fitou, de fato, surpresa pela fala do filho. Ela podia perceber a verdade naquele tom.

— É — disse Lilith. — É solitário e por isso eu tenho minhas filhas.

Namjoon não queria ser chato e reclamar de tudo, mas pensar que outras pessoas tinham contado com a sua mãe enquanto ele nem a conhecia, parecia absurdo. Como as coisas tinham ficado daquela maneira? Quando tinha perdido uma família e ganhara outra completamente louca no lugar? Ele olhou em direção de onde veio andando e sentiu vontade de voltar para casa.

— Você está triste — disse a vampira, suspirando.

— Não por você — garantiu ele, grunhindo.

A mulher fitou as árvores à frente.

— Não imaginei que seria diferente — disse ela, suspirando. — Eu só quero conversar, mas se você não está pronto, podemos fazer isso em outra hora e lugar.

— O que Hyunah queria comigo? Por que ela matou meus pais?

— Eu não tenho a resposta perfeita para você, Namjoon.

— Mas tem alguma?

Ela suspirou, antes de responder:

— Tenho.

— Okay, eu gostaria de saber.

Lilith suspirou, deixando seus dedos apertarem o copo de café. Ela olhou para árvore na frente deles, as raízes grandes já passavam do solo e faziam com seu formato fosse ideal para se sentar. Namjoon pensou por um instante em como queria levar Taehyung ali, para se sentarem e rirem juntos.

— Eu nasci quatro mil anos antes de Cristo.

— Wow! — disparou Namjoon. — Uau? Isso... foi no início das civilizações, certo?

Ela concordou, não deixando de sorrir. Namjoon percebeu o olhar da vampira e abaixou o rosto, um tanto envergonhado.

— Você é muito inteligente, meu filho — ela disse.

— É só gosto de história em geral — rebateu Namjoon. — Todo mundo sabe disso.

A vampira riu, mas nada comentou sobre o assunto. Namjoon imaginou se ela percebia que era tímido e que se aquilo era uma das primeiras coisas que aprendia sobre ele.

— Enfim, eu morava em uma pequena vila, não em uma civilização por assim se dizer. Éramos uma pequena comunidade.

O olhar de Lilith pareceu estar em outro lugar e não ali, Namjoon logo percebeu. Ele não conseguia imaginar o quanto ela conhecia do mundo, o quanto tinha passado, tendo tanta idade. Era muito mais que uma vida, era a história da humanidade inteira. Não sabia se teria forças de viver tanto, de ver tanto. Por mais que ainda não soubesse ao certo quem Lilith era, se realmente poderia ter a chance de a chamar de mãe, sabia que a mulher era forte.

Um choro cortou o vento e Namjoon se viu procurando pela criança desamparada, contudo, era um bebê no colo de sua mãe, que balançava de um lado para o outro, com o carrinho praticamente abandonado em um canto. Namjoon voltou a fitar a vampira, mas ela olhava a cena com tristeza.

— Eu sempre fui muito bonita e atraía muito olhares, mesmo em uma vila pequena como a que vivia — disse a mulher, suspirando pesado. — Casamento na época não era como hoje, sabe? Amor... eu não sei se existia quando eu era humana, pelo menos eu não experimentei... Havia esse homem, bem mais velho que eu na época e desde que eu era novinha, ele vivia atrás de mim, mas quando eu era criança, ainda me protegiam, mantinham ele longe...

Namjoon sabia para onde aquela história estava indo e não gostava, sentia seu coração acelerado e o ar pesado a sua volta.

— Posso parar, se você não quiser ouvir essa parte, meu filho.

Ele pensou por um instante, mas não sabia se a veria de novo, se um dia realmente compreenderia um ser daqueles. A primeira vampira! Não a via contando aquela história para qualquer um, então somente negou, pedindo para a vampira continuar com o seu relato.

— Eu me tornei adulta e ninguém mais me protegeu — disse Lilith, fitando o seu copo de café. — Ele me capturou e me usou, eu tentei resistir e isso o deixou com muita raiva e essa foi tanta que ele me jogou em uma caverna.

— Caverna?

— É, caverna — repetiu Lilith. — A passagem era bem pequena, quase um buraco, então foi fácil para ele cobrir a passagem sem que eu conseguisse empurrar ou escapar.

Namjoon não sabia o que dizer. O que poderia falar quando ouvia um relato tão doloroso de uma mulher que sofreu nas mãos de um monstro? Ele não tinha nem palavras de consolo no momento, pareceriam falsas de alguma maneira.

— Mas eu não estava sozinha na caverna... Havia uma colônia de desmodus rotundus, morcegos hematófagos.

— Céus...

— Dois mil morcegos que se alimentavam de sangue de mamíferos presos em um local com uma mamífera. — Lilith deu uma risada estranha e abaixou o olhar. — Eu fui o alimento deles. Quando eu despertei outra vez já não era humana.

— Eu não sei o que dizer — falou Namjoon; a dor que a vampira passara era abominável, queria poder ter consolo melhor do que estava dando. — Eu realmente sinto muito.

A vampira sacudiu a cabeça em negação, contudo, nada disse por alguns minutos. Eles ficaram olhando o parque, sentindo o vento no rosto e observando as pessoas passando, sempre apressadas para algum compromisso.

— A verdade é que o tempo cura tudo, Namjoon, mas infelizmente nem mesmo ele é capaz de apagar certos acontecimentos. Eu me tornei vampira pela maldade de um homem e pela vista grossa de toda uma comunidade. — Lilith suspirou outra vez. — É diferente para dragões ou fadas, sabe? Eles são ligados à natureza, eles surgiram junto com ela, são vidas simbióticas. Lobos... bem, lobisomens surgiram de homens vivendo com lobos, mas também, foi feito com respeito, suas naturezas se misturaram e surgiu uma nova raça. Já eu? Nasci da maldade, nasci como uma punição. Não houve respeito, não houve amor... só tristeza.

Namjoon remexeu o seu copo de café, notando como o vento aumentou. Ele olhou para o céu e por dentre as árvores, podia ver a chuva se formando.

— Você está triste por mim, filho?

— É óbvio — Namjoon murmurou desviando o olhar para o céu. — Ninguém merece passar por algo assim e eu sinto muito mesmo, mas isso ainda não explica Hyunah assassinar meus pais.

Lilith concordou.

— Eu só estava dando contexto a toda a história — explicou a vampira. — Como você pode ver, ainda carrego muitas características humanas e dentre elas, o fato de que posso ter filhos. Hyunah era minha filha biológica.

Namjoon arfou, o copo de café escapando das suas mãos e esparramando-se no chão, espalhando todo o conteúdo por terra. Ele levou a mão à garganta, sentindo-se como na vez que Jiwoo cortou seu oxigênio com água. Não havia matado sua mãe, como imaginou por meses, matou sua irmã. Por mais que corresse de tudo aquilo, não podia se separar do fato de ser um assassino de alguém com o mesmo sangue que ele.

— Ela nasceu daquele abuso, Namjoon. — Lilith fitou a árvore, sem olhar o filho. — Eu matei o pai... se é que podemos chamar aquilo de pai... Só o homem que fez aquilo comigo, eu o matei. Foi a minha vingança, então quando ela nasceu, eu a rejeitei de início, iria só a entregar para alguma família, mas sua pele... a pele dela era cinza, cheia de cicatrizes, assim como a de todos que eu havia me vingando naquela vila. Você provavelmente deve pensar que eu sou um monstro por matar tantas pessoas.

— Por se vingar? Não posso julgá-la, Lilith — disse Namjoon. — O que você sofreu... ninguém pode a julgar por isso.

— Lilith? — Ela sorriu. — Que nome mais... cristão. Chame-me de Sunmi, é o nome que uso atualmente. Acho bonito. Daqui umas décadas eu mudo.

— Okay... — Namjoon franziu a testa, mas concordou. — Li... Oh! Sunmi. Enfim, eu não a julgo por procurar vingança.

Ela sorriu, antes de continuar:

— Pois eu me vinguei. Não aliviou a dor, tampouco me deu esperanças de mudança, mas não me arrependo.

— Então... Hyunah nasceu e...?

— E eu não podia abandonar uma criança como ela a própria sorte. — A mulher suspirou pesado, cruzando as pernas em um movimento fluido enquanto mais uma vez mexia no cabelo. Bela como uma celebridade, Namjoon não pode deixar de pensar. — Então eu fui embora com minha filha em busca de outro lugar, ainda mais com a fisionomia dela, não queria que fizessem nada com a pobre criança.

— Ela cresceu como humana? Como funcionou?

— Isso, ela cresceu igual a você, como humana, mas na idade adulta os poderes dela se desenvolveram e ela se tornou uma vampira por inteiro — explicou Sunmi. — Nisso eu já sabia a extensão dos meus próprios poderes. Eu ainda podia me alimentar com comida humana, podia andar no sol, podia ter filhos, mas ao mesmo tempo tinha superforça, audição incrível e tinha a Sede. Minha mordida transforma um humano no mesmo instante em vampiro, então tive que aprender a me alimentar de sangue após retirado de humanos. Então, com o tempo, as pessoas que que eu mordi por aí até perceber realmente o que estava fazendo, foram transformando outros e outros enquanto minha filha e eu vivíamos na floresta.

— Parece tranquilo...

— E era muito, mas eu estava solitária e comecei a pensar em uma sociedade só de mulheres vampiras. Daí, eu criei minhas filhas. Claro, expliquei e perguntei a cada uma se queriam realmente aquilo e elas estão até hoje comigo.

— E então o dragão apareceu?

Ela sorriu.

— Isso, seu pai apareceu. Milênios depois, ele apareceu na minha vida. — Sunmi estendeu a mão até Namjoon, mas parou na metade do caminho, apertando somente o ar antes de voltar a pousar os dedos no próprio joelho. — Yong Bul... ele só queria um filho de início, mas nós nos apaixonamos — disse a vampira. — Eu me permiti apaixonar pela primeira vez na minha vida e eu não me arrependo. Nós nos amamos muito, muito mesmo e você nasceu desse amor... você é a cara dele, eu olho para você e só enxergo meu Bul.

— Ele foi bom para a senhora?

— Foi... — Sunmi sorriu e Namjoon pode ver como era um gesto verdadeiro, como ela estava feliz somente em falar do homem que havia amado. — Ele me mostrou o que era o amor e eu o amei, ainda o amo.

Namjoon apertou os dedos uns nos outros. Ele ficava aliviado por aquilo, por não nascer de uma enganação ou do pai dele ter feito algo com a vampira. Estava aliviado por ser fruto de um amor.

— Minhas filhas herdaram a minha desconfiança dos homens, principalmente minha pequena Hyunah. — Sunmi estava nitidamente triste pela perda da filha, Namjoon podia perceber pelo tom de voz. — Ela foi uma boa criança, Namjoon. Uma boa filha e irmã, mas foi envenenada pelo ciúme e eu sou a única culpada por tudo o que aconteceu, por eu não perceber antes e intervir.

O dragão nada falou, não sabia se tinha forças suficientes para isso, não depois de tudo.

— Ela te sequestrou para te matar, mas acredito que de início, ela não teve coragem. Bul conseguiu te salvar e entregar para uma família humana, mas isso eu não sabia, eu pensei que você estava morto — explicou a vampira. — Eu pensei que minha filha tinha matado meu amor e meu filhinho, então... eu voltei ao meu eu antigo e me vinguei.

— Você a deixou presa naquela casa...

— É, eu a drenei e a prendi lá, juntos com outros vampiros que não prestavam, que tinham feito o mesmo que aquele homem fez comigo.

— Eles ficaram lá até a polícia os descobrir e eu ser o legista deles — concluiu Namjoon.

Sunmi concordou.

— Minha vingança fez mal a você — disse a vampira. — Era a última coisa que eu queria... eu só queria ter vocês de volta, mas eu piorei tudo, eu tirei a sua família e fiz você matar a sua irmã. Eu entendo se você não quiser saber de mim, mas eu precisava te ver ao menos uma vez.

— Isso é muito — Namjoon murmurou, passando a mão pelo cabelo. Ele não queria olhar para a vampira naquele momento, era estranho pensar nela como mãe. — Toda essa história, toda a minha história...

— Eu entendo — Sunmi disse, séria.

— Eu preciso de um tempo para processar tudo.

— Tudo bem. Posso acompanhá-lo de volta?

Namjoon negou com a cabeça.

— Eu não vou voltar agora, quero ficar sozinho.

— Oh... T-tudo bem. — A mulher então se colocou de pé, virando-se para Namjoon, sem dizer nada por longos segundos, mas não tempo o suficiente para deixá-lo extremamente desconfortável. — Obrigado por me ouvir, Namjoon. E se... hm... se eu puder lhe dar um conselho não demore muito para dar notícias ao seu namorado ele parecia bastante assustado lá atrás.

O legista a fitou e desviou o olhar.

— Você não sabe nada sobre ele.

— É, você tem razão. Desculpa — disse a vampira. Ela fez um movimento para se virar, mas parou, sorrindo. — Ah, acho que eu deveria te falar isso: você é imortal, Namjoon.

Ele não queria a olhar de novo, não naquele momento, mas foi impossível, ainda mais com aquela informação. Seus olhos estavam arregalados e não sabia o que dizer para a mãe.

— Você puxou seu pai em tudo, meu filho, mas algo tinha de vir de mim, certo? Ainda bem que não foi o poder de matar humanos com o olhar... Minhas filhas não deram a mesma sorte. — Sunmi suspirou. — Você é imortal. Eu não tinha muita certeza antes, mas agora, perto de você, consigo notar... Não se engane: você ainda pode morrer por uma lâmina, mas de doença ou de idade, não morrerás.

Namjoon voltou a fitar o chão e Sunmi entendeu que era o momento de partir.

Quando se viu sozinho, Namjoon olhou em volta e sentiu as gotículas de chuva lhe atingirem a pele. Definitivamente, estava triste.


══════ † ══════


Taehyung se sentia sufocado. O medo tomava conta do seu corpo e o fato de que o tempo estava se fechando do nada, fazia-lhe além de mal. Ele fitava pela janela, esperando uma visão de Namjoon, qualquer uma que fosse, mas quando um raio de sol transpassou uma nuvem cinza, o vampiro sentiu seus olhos queimaram e por um instante, ele ficou cego.

— Merda! — Hoseok xingou, puxando o amigo pela cintura e fechando a cortina com um botão automático. — Merda, Yoon! Amor?

Yoongi em segundos estava ao lado de Taehyung, arfando.

— Namjoon...? Onde está Namjoon?! — Taehyung perguntava, parecendo pouco se importar com o fato de seus olhos estarem queimados, a pele retorcida em volta dos globos oculares. — Namjoon.

— Vou pegar sangue, fala com ele! — afirmou Hoseok.

Sendo amigo de muitos anos de Taehyung, ele era o melhor no momento, principalmente com Seokjin não estando em casa e Jimin no trabalho.

Yoongi se sentou ao lado do outro vampiro, buscando sua mão com cuidado.

— Tae.

— Namjoon... por favor? Namjoon!

— Tae, você tem que se acalmar! Ele foi conversar com a mãe!

Mas, no momento em que Yoongi não falou onde Namjoon estava, Taehyung parou de escutá-lo. Seu corpo estava trêmulo, seu coração parecia prestes a sair pela garganta e o pânico começava a cobrir o seu corpo.

Hoseok chegou momento depois, com duas bolsas de sangue, uma delas já aberta. O vampiro estendeu para o seu mestre junto com o canudo de metal. Yoongi ajeitou a peça no rasgo do plástico e estendeu para Taehyung, mas esse virou o rosto para o lado.

— Tae, seus olhos estão queimados! Você precisa tomar sangue e descansar.

— Não necessito de descanso! Eu necessito de Namjoon aqui! — Taehyung puxou o ar com força. — A-alguma coisa aconteceu com ele, e-eu sinto. Por f-favor. Por f-favor... Namjoon? Meu Namjoon?

— Você não poderá salvar Namjoon sem enxergar!

O grito de Hoseok no meio do caos fez Taehyung parar de se mexer e então procurar pelo sangue. Yoongi suspirou pesado, segurando a nuca do amigo e lhe ajudando com a bebida.

O sangue no organismo de Taehyung fez tudo parar para que ocorresse a cura. O vampiro deixou o gosto ferroso adentrar em seu organismo, mas assim que terminou a bolsa e sua visão estava restaurada, somente conseguiu pensar em Namjoon.

Seu olhar procurou em todos os cantos e depois focou em sua audição, pela primeira vez escutando os sons de uma chuva torrencial que caía do lado de fora.

— N-não, n-não! — gritou Taehyung. Ele se colocou de pé, desviando dos braços de Yoongi e indo até a porta em segundos. — Namjoon!

Yoongi se jogou contra Taehyung, afastando-o da porta de imediato. O amigo não estava são, não naquele momento.

— Para, Taehyung! Para agora!

— Namjoon! Meu namorado precisa de mim!

— Inferno! — Yoongi grunhiu, virando-se para o namorado. — Tranque todas as portas e janelas. Yeonjun?!

Yeonjun apareceu de imediato, com os olhos arregalados. Na maioria das vezes quando ouvia os outros moradores da casa brigando, não se metia, pois sempre sobrava para ele no final, mas naquele momento estava assustado, afinal nunca tinha visto Taehyung daquela maneira, completamente descontrolado.

— Vai no porão e pegue correntes! — disse Yoongi, ainda lutando com Taehyung que se debatia em seus braços. Yeonjun olhou assustado para Yoongi, mas este voltou a gritar: — Agora!

Yoongi não procurou saber se Hoseok e Yeonjun estavam fazendo o que ele pedira, somente arrastou Taehyung para o andar de cima.

— Solte-me! Solte-me! Namjoon?! NAMJOON?!

— Tae, para com isso! Você está descontrolado!

— NAMJOON!

Taehyung sentia o mundo se fechando contra ele, mas nada era mais apavorante do que a ideia de que Namjoon estava fora, ao lado de uma psicopata e provavelmente machucado.

E se ele estiver morto?

O pensamento passou pela mente de Taehyung e ele não teve forças para resistia a Yoongi o jogando na cama, pelo menos não de imediato. Seus sentidos se tornaram apurados com o medo de perder Namjoon e quando sentiu o amigo abaixar minimamente a guarda, deslizou em direção a porta.

Para parar Taehyung. Yoongi o jogou para o lado, preenchendo o ambiente com som de vidro se quebrando. A penteadeira agora estava arruinada, mas isso não chegou a ser processado pela mente do outro vampiro, que assim que se levantou, foi outra vez para a porta.

Yoongi grunhiu, chocando seu corpo contra o de Taehyung e o derrubando na cama outra vez, cobrindo o corpo do outro com o seu em um movimento rápido.

— Chega, Taehyung! Você vai se matar lá fora, está sol!

— Namjoon... Você não pode m-me impedir de vê-lo! NAMJOON!

Com força, Yoongi prendeu os braços de Taehyung acima do seu corpo, impedindo que o amigo se mexesse muito mais. Taehyung então usou pernas e presas, tentando alcançar Yoongi de qualquer maneira, mas o vampiro mais velho era forte o suficiente para o manter no local até Yeonjun e Hoseok aparecerem.

O mais novo dos vampiros esticou as correntes e logo após passou pelas mãos de Taehyung, prendendo-o na cabeceira da cama. Hoseok, por sua vez, tinha mais bolsas de sangue; ele rasgou uma e abriu a boca de Taehyung a força deixando o líquido escorrer pelos lábios do outro.

Shh, shh — Yoongi murmurava, afagando a testa de Taehyung. — Vai ficar tudo bem, meu anjo. Só toma o sangue, okay? Vai ser melhor...

Os olhos de Taehyung ainda procuravam por algo no quarto, mas Yoongi sabia que era alguém; ele queria o namorado ali com ele.

Aos poucos, a agitação de Taehyung foi diminuindo e na segunda bolsa de sangue, ele não mais lutava com Yeonjun, que terminava de o prender.

— Como você se sente? — Yoongi perguntou, ainda afagando a testa do amigo.

Taehyung piscou, encontrando o olhar de Yoongi e então seus olhos se tornaram carmesins.

— Namjoon... — Taehyung sussurrou, fechando os olhos. — M-meu Namjoon.

— Tae? — Yoongi chamou o amigo outra vez. — TaeTae?

Taehyung, por mais que estivesse calmo, não parecia realmente fazer sentido à humanidade.

— E-eles irão o m-matar, c-como Seojoon... M-meu namorado... será m-morto...

— Tae? — Hoseok foi quem tentou dessa vez a chamar o amigo. — Tae, eu vou atrás dele, okay? Vou procurar Namjoon...

Taehyung respirou fundo.

— Namjoon... Ah, Namjoon... Joonie...

Yoongi fez um sinal para Hoseok e Yeonjun. Eles saíram do quarto em seguida, deixando Taehyung ainda sussurrando o nome de Namjoon.

— Eu vou procurar Namjoon — disse Yoongi. — Ele não vai se acalmar realmente até Joon está aqui.

Hoseok negou com a cabeça, apertando o ombro do namorado.

— Você é o único que tem força para manter Tae no lugar caso ele volte a ter um ataque de pânico — explicou Hoseok. Pela questão da idade, Yoongi era trezentos anos mais velho que Taehyung e isso realmente contava na hora de uma luta. — Você fica — pediu Hoseok.

— Hobi... — proferiu Yoongi temeroso. — Você não vai sozinho atrás de Namjoon, não com aquela mulher envolvida...

— Eu vou — garantiu Hoseok, sério. — E se o problema é por eu ir sozinho, posso levar Yeonjun comigo.

O mais novo dos vampiros arregalou os olhos, sorrindo abertamente.

— Sim, sim, eu vou junto! — Yeonjun juntou as mãos e fitou Yoongi. — Por favor, deixa eu ir, por favor!

Yoongi levou a mão à cabeça, mas acabou concordando com um aceno.

— Só vou deixar porque há muito tempo não vejo Tae daquela maneira... há séculos não precisávamos usar as correntes.

O silêncio tomou o corredor, mas os três podiam ouvir os murmúrios de Taehyung. Ele chamava por Namjoon e pelo marido. Mesmo não sentindo na pele, sabiam que era doloroso passar por aquilo.

— Vou ligar para a minha irmã antes de ir — disse Hoseok. — Talvez ela possa ajudar.

— Leve o garoto também, Soobin — disse Yoongi. — Ainda está claro lá fora e ele é humano, será mais fácil para abordar Namjoon em algum lugar que não dê para estacionar.

Hoseok concordou e virou, mas Yoongi o segurou no lugar e com cuidado levou seus lábios ao do namorado. Yeonjun já estava no próprio quarto, chamando Soobin para saírem.

— Não se arrisque — pediu Yoongi. — Volte para mim.

O médico sorriu, também beijando os lábios de Yoongi em seguida, antes de murmurar:

— Eu sempre volto.

Minutos depois de Hoseok sair com Yeonjun e Soobin, Yoongi não pode deixar de pensar em como a casa estava vazia. Ele suspirou e voltou para o lado de Taehyung, sabendo que o amigo precisava dele.


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