GOOD & EVIL ¹ ⪧ harry potter

By reverieous

2.7K 266 466

☐ ͏͏͏▎O BEM E O MAL ┄ livro um. +͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏Na noite do dia 31 de outubro de 1981, Cybele Coldwell não s... More

𝐆𝐎𝐎𝐃 𝐀𝐍𝐃 𝐄𝐕𝐈𝐋:𝚃𝙷𝙴 𝙶𝙷𝙾𝚂𝚃
𝟶𝟶. the first birthday
🪄 【 𝐀𝐂𝐓 𝐈, 𝟭𝘀𝘁 𝘆𝗲𝗮𝗿 】
𝟶𝟷. under the living room
𝟶𝟸. the hogwarts letter
𝟶𝟹. the diagon alley
𝟶𝟻. hogwarts express
𝟶𝟼. the sorting ceremony
𝟶𝟽. the keeper of the keys

𝟶𝟺. celeste's diary

157 17 45
By reverieous

〖 QUATRO 〗
o diário de celeste

͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏O livro que o gigante estranho havia lhe dado veio a ser de fato um diário. Cybele constatou isso ao observá-lo com mais atenção após chegarem na Rua das Rainhas 1, já em seu porão. Onde Atlas dormia tranquilamente em sua gaiola.

No entanto, o que veio a lhe dar essa confirmação a havia deixado em um choque do qual ela ainda não havia se recuperado. Entre suas mãos trêmulas encontrava-se um pequeno pedaço de pergaminho que veio dentro do diário. Provavelmente escritas pelo homem que o entregou, estavam ─ com uma caligrafia desleixada, irregular e espalhada, muito difícil de ler  ─ as seguintes palavras:

͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏Esse é o diário de sua mãe.
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏Leia com moderação e de maneira alguma
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏deixe que a vejam lendo-o.

͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏( Livre-se desse bilhete após a leitura! )

͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏Tenha uma boa viajem no expresso de
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏Hogwarts.

Apenas isso. Sem nenhuma assinatura. Ela o leu inúmeras vezes e entendia perfeitamente as palavras e o que elas diziam, mas ainda não conseguia acreditar no que tinha em mãos. O diário de sua mãe.

Era a primeira e única coisa que ela agora tinha que havia pertencido a um membro de sua família. Alí dentro ela encontraria palavras que um dia sua mãe escrevera. Ela seria capaz de ler seus pensamentos e descobrir um pouco sobre quem ela havia sido. Seu coração parecia estar prestes a explodir.

Com as mãos ainda um pouco fracas e instáveis, ela deixou o pedaço de pergaminho de lado e segurou o diário entre as mãos. Tocou sua superfície com carinho enquanto um pequeno sorriso surgia em seus lábios. E se ela ainda tinha alguma dúvida de que aquele era mesmo o diário de sua mãe, ela logo evaporou quando ela leu no topo da capa do objeto, escrito com tinta prateada e uma letra muito bonita:

Celeste Fallon Vandeleur.

Era o nome de solteira de sua mãe. Muito antes de ela se casar com seu pai. Sabia disso porque seu nome também continha o sobrenome dela; Vandeleur. Ela não sabia quantos anos a mãe tinha quando escreveu aquele diário, mas imaginou que ainda deveria estar na escola.

Após encher os pulmões de ar, ela finalmente abriu o livro. Era de tamanho médio e grosso o bastante para ter no máximo quatrocentas páginas. O interior do objeto era extremamente bem cuidado ─ o que depois de tantos anos de história era surpreendente. Apenas algumas partes da borda estavam desgastadas e embora a maioria das páginas estivessem amareladas, econtravam-se em perfeitas condições. Porém, infelizmente, não havia nenhum cheiro identificável no objeto a não ser o de poeira e mofo (Cybele fez uma careta ao levar o nariz até a superfície do mesmo e sentiu uma vontade enorme de espirrar, mas a segurou.)

A excitação fazia seu coração chegar até a garganta, ela mal conseguia respirar. Não conseguia acreditar em tudo que estava acontecendo em tão pouco tempo. Mal havia conseguido digerir o fato de que havia recebido uma carta de Hogwarts e que agora tinha uma varinha e uma coruja para chamar de suas e já segurava o diário de sua mãe.

Enquanto o mundo parecia ficar estranhamente silencioso e ela só ouvia o som das batidas de seu coração retumbando em seus ouvidos, ela leu a primeira página do diário. Cuja as palavras, escritas com uma caligrafia diferente da que havia na capa, diziam:

De: Vovó Lenore
Para: Estrelinha Celeste
Feliz Natal minha estrelinha!

Cybele passou para a próxima página cada vez mais curiosa. Se perguntando se "Vovó Lenore" seria mãe de seu avô ou sua avó. Não sabia nada sobre a família de sua mãe ou de seu pai. A única coisa que tinha certeza é que ela fora sua bisavó. A primeira página iniciava-se com uma data e um grande texto escritos com uma caligrafia caprichosa e a mesma tinta prateada.
͏͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏

08, JANEIRO, 1975

Querido leitor,

Seja você quem for ─ de preferência meus filhos ou qualquer um menos Júpiter ─, olá e seja bem vindo!

É a primeira vez que escrevo em um diário, então não sei bem como fazer isso. Ganhei esse de minha avó no Natal. Mas já estou de volta a Hogwarts, por isso estou escrevendo aqui.

Minha avó disse que seria bom manter minhas memórias nesse livro, assim tanto eu quanto meus sucessores poderão reviver um pouco do que foram meus anos na escola. De início, achei desnecessário e uma perda de tempo, afinal, não sou boa em expressar meus sentimentos, mas acabei percebendo que escrever eles em um papel, que provavelmente ninguém vai ler até eu estar enterrada, é bem mais fácil e até reconfortante. E como não queria magoar a vovó, decidi que vale a pena tentar.

Mas antes de qualquer coisa, sei que há algumas coisas a serem esclarecidas. Deve estar se perguntando "Mas quem diabos seria Júpiter?" "Existe alguém com esse nome?" Não. Bom, não que eu tenha conhecimento. (Mas se um dia eu tiver um filho, irei fazer com que exista.) Esse é só um codinome que estou usando para me referir a alguém que não quero que saibam quem é. Principalmente se um dia essa pessoa vier a ler este diário. (Espero que isso nunca aconteça.) Embora eu possa vir a revelar o nome dele mais para frente ─ sim, obviamente é um garoto.

͏Acontece que minha situação com Júpiter é um tanto... complicada. Mas enfim, não quero falar dele agora, às vezes ele me deixa muito irritada, sabe.

Bom, sinceramente, não sei por onde começar ou o que dizer. Mas acho que devo contar como estou me sentindo e o que aconteceu no meu dia, então vou começar dizendo que, na verdade, estou um pouco triste.

Vovó não foi para  Hogsmead com papai e eu na véspera deste Natal, como sempre faziamos todo ano desde que fui morar com meu pai. (Essa é outra longa história, que irei contar quando não estiver triste porque a história já é triste o bastante.)

Acontece que vovó não estava em condições de ir. Ela já está bem velhinha e seu reumatismo está cada vez pior. Mas eu não a culpo, afinal, não se pode impedir o envelhecimento. (Embora, se houvesse uma maneira de fazer ela viver conosco para sempre eu com certeza o faria.) Acho que só estou preocupada com ela e triste porque ir sem ela foi quase como experimentar o dia em que ela não estiver mais aqui, e não gostei nem um pouco.

Bom, todavia, nós passamos meu aniversário ─ que vem a ser no dia de Natal ─ em Dublin mesmo, na fazenda do vovô (que descanse em paz) que é onde moramos. E não posso dizer que não foi divertido, porque de fato foi. Papai me deu um Crupe de presente de aniversário. O qual ele conseguiu com uma licença do Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, que é onde ele trabalha. Eu o chamei de Otis, porque é o segundo nome de papai; não sei se ele gostou muito. Mas Otis é uma fofura, vive balançando o rabinho bifurcado cheio de excitação por toda a casa. (Nós ainda não cortamos o rabinho dele, mas vamos ser obrigados a fazer isso quando ele fizer oito semanas de vida.) Já estou sentindo falta dele, embora eu saiba que ele vai ser mais de papai do que meu porque passo mais tempo em Hogwarts do que em casa. Na verdade, sinto falta de todos em Dublin, menos do nosso Agoureiro Letus, porque é quase insuportável ficar ouvindo o lamento dele sempre que volto para casa no inverno.

Uma das coisas boas de fazer aniversário em um dia festivo como Natal, é que você ganha presente duas vezes. Minha avó me deu esse diário de presente de Natal e preparou dois grandes bolos de caldeirão e mais outras guloseimas para meu aniversário, me dando ainda um cachecol azul cheio de estrelinhas que ela mesma bordou. E papai, além de Otis, me deu também um telescópio especial várias vezes mais amplificado que os normais, para que eu possa observar as estrelas da sacada do meu quarto, de presente de Natal.

Acho que deu para perceber que gosto muito de estrelas, não é? A verdade é que gosto de tudo que tem a ver com astronomia; cada planeta, cada galáxia, cada cometa, são deslumbrantes. É por isso que gosto tanto do meu nome; Celeste. Não me vejo com nenhum outro.

Tudo isso, no entanto, me faz lembrar minha mãe…
Foi ela quem escolheu o meu nome. Ela dizia que o havia escolhido porque quando nasci eu era o bebê mais lindo da família. “Uma beleza celestial”, ela costumava dizer. Era como se eu fosse um pedacinho de um corpo celestial enviado para ela. Como uma pequena estrelinha que havia iluminado sua vida; que iluminava seus dias… pelo menos era o que ela dizia. Daí surgiu o nome Celeste e o apelido Estrelinha ─ embora minha avó seja a única que me chama assim.

Lembrar da minha mãe não é algo que eu goste muito de fazer, mas às vezes se torna inevitável. Por exemplo, não posso deixar de lembrar também que não recebi nenhum presente de Natal ou aniversário dela. Não sei porquê ainda crio esperanças de que ela se lembre, ela não me escreve ou manda presentes há quatro anos. (E lá vamos nós de novo) Isso também faz parte da história que não estou querendo contar porque estou triste, mas quer saber de uma coisa? Que seja, irei contá-la. Já estou triste mesmo, não pode ficar pior não é? E além do mais, vovó disse que diários são exatamente pra isso; desabafar. E eu claramente estou precisando contar essa história para alguém, não importa se é para um livro.

Acontece que nunca contei para ninguém de Hogwarts. Os únicos que sabem são vovó, eu, papai e minha mãe obviamente. Até porque somos também os únicos envolvidos nela. Ok, vamos lá. Então…

Era uma vez... Não, de jeito nenhum. Isso não é um conto de fadas.

Bem, tudo começa quando meu pai e minha mãe ganham uma filha ─ que sou eu. Meu pai é irlandês e minha mãe francesa. Acho que eles se conheceram em Paris no Moulin Rouge ─ um cabaré bem famoso na cidade. É uma história bem romântica a deles, sabe. Uma pena não ter dado certo. Seis anos depois de eu ter nascido, eles se separaram. Papai voltou para Dublin morar com vovó e mamãe continuou na França comigo. Obviamente, foi péssimo. Eu tinha que ficar entre os dois o tempo todo, viajando para Irlanda a cada duas semanas e alternando entre feriados e comemorações. Eles brigavam quase sempre que se viam, nem mesmo parecia que um dia já foram apaixonados.

Mas foi quando eu completei dez anos que tudo mudou.
Todas as escolas de Magia e Bruxaria do mundo enviam cartas de aceitação para os bruxos quando eles completam onze anos, ou vão completar durante o período escolar. (Eu sou uma bruxa caso ainda não tenha percebido.) E dando-se ao fato de que tenho nacionalidade irlandesa e francesa, isso me dava a possibilidade de ter uma vaga em duas escolas de magia. Que seriam: Hogwarts e Beauxbatons. E assim foi. Recebi ambas as cartas. O que me deu também a oportunidade de escolher. E foi aí que tudo desandou, por assim dizer.

Minha mãe e toda sua linhagem estudaram em Beauxbatons. Os Blanchet são uma família de bruxos muito estimada e poderosa que dão uma extrema importância às tradições. Obviamente, minha mãe queria que eu continuasse com o legado, que até então não havia sido quebrado por nenhum membro da família. Na cabeça dela, a única opção possível era ir para Beauxbatons. No entanto, eu escolhi Hogwarts ─ onde meu pai havia estudado. E ela não aceitou isso muito bem, digamos assim…

E com “muito bem” quero dizer que ela não quis mais me ver ou falar comigo. Disse que eu não era mais sua filha; que nunca havia tido uma.

─ Você é uma ingrata insolente que não merece o sobrenome que lhe foi dado! Não fará uso dele nunca mais! Se essa é a sua escolha, então seu lugar é com o seu pai! ─ foram suas palavras quando lhe disse o que queria.

Portanto, fui mandada para morar com meu pai e estou lá desde então. Faz quatro anos. Nunca mais a vi ou recebi notícias dela.

É basicamente isso. Eu sou a vergonha da família Blanchet mas sou o orgulho da família Vandeleur então não é tão ruim assim. Minha mãe me odeia, mas eu tenho um Crupe chamado Otis e um telescópio especial amplificado, não é qualquer um que pode dizer que tem algo assim, não é mesmo?

Bom, acho que vou voltar ao Salão Principal para comer alguma coisa. Estive lá agora pouco mas fiquei irritada com Júpiter então desci à sala comunal da Sonserina para escrever no diário. (Estou sentada na minha cama agora mesmo.) Devo ter perdido toda a Cerimônia de Seleção, mas não me importo.

Espero ter algo mais interessante e feliz para escrever aqui da próxima vez.
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏

Celeste
͏

͏ ͏ ͏ ͏ ͏
Havia uma lágrima solitária traçando uma linha no rosto de Cybele. Ela não sabia exatamente que sentimento ela carregava. Ao mesmo tempo que sentia emoção e conforto por estar tendo a oportunidade de conhecer um pouco do passado de sua mãe, ela também sentia uma certa tristeza ao ler aquelas palavras. Como se quase pudesse sentir o que a mãe havia sentido ao escrever aquilo. Pensou que ter uma mãe viva que te rejeitava era muito pior que ter uma mãe morta que havia te amado. (Pelo menos ela imaginava que sua mãe a havia amado.)

Todavia, mesmo em meio às lágrimas, ela não conseguia tirar o sorriso do rosto. Finalmente tinha a confirmação de que sua mãe e provavelmente seu pai, também haviam estudado em Hogwarts e que eram bruxos!

Era uma sensação estranha ler algo que sua mãe escrevera quando tinha provavelmente pouco mais que a sua idade, porém muito reconfortante. Ela sentia-se acalentada por cada palavra. Como se pudesse sentir o calor do abraço de sua mãe se espalhando por todo seu corpo, aquecendo seu coração e a deixando quentinha, embora fizesse frio no porão naquele momento.

Ela se perguntou se Júpiter seria seu pai. Sua mãe poderia já gostar dele naquela época e por isso usava um codinome. Aquilo apenas aumentou a sua curiosidade e ansiedade para descobrir mais.

Pelo pouco que havia lido ela já conseguia sentir que era bem parecida com a mãe. No entanto, ainda havia muito para ler e talvez descobrisse ser mais parecida com o pai. Ela esperava que a mãe começasse a escrever logo sobre ele. (Embora, se ele fosse o Júpiter, ela já teria começado.) Estava louca para descobrir se seu palpite estava certo.

O diário da mãe além de deixá-la cada vez mais ansiosa sobre sua ida à Hogwarts, também a estava deixando um pouco confusa com todas as coisas novas que havia lido. Ela se perguntou o que seria Hogsmead, e Cerimônia de Seleção, mas mal podia esperar para descobrir. E embora já tivesse ouvido o nome Beauxbatons uma vez, ficou surpresa que houvessem outras escolas de magia além de Hogwarts. Desejou também, poder ver um Crupe e um Agoureiro algum dia na vida.

O fato de que a mãe parecia ter pertencido a Sonserina, todavia, não passou despercebido. Ela odiava ter sentido uma certa decepção diante da descoberta. Gostava de pensar que sua mãe não precisava ser necessariamente má por ter sido da Sonserina. Mas era muito difícil quando as únicas pessoas que ela conhecia que haviam pertencido a casa, eram como eram. Todavia, decidiu ignorar suas aflições, sua mãe não poderia ter sido como os Malfoy.

Era gratificante tudo que havia descoberto ao ler apenas uma página e meia daquele livro. Aquilo era muito mais do que ela havia conseguido arrancar dos Malfoy durante todos aqueles anos. Ela agora sabia a data do aniversário de sua mãe e que ela gostava de astronomia. Não conseguia parar de imaginar o quanto ainda havia para ser descoberto naquelas folhas. E vendo-se incapaz de soltar o diário, ela virou ansiosamente para a próxima página. No entanto, um barulho repentino despertou de repente seus sentidos.

A porta pela qual se entrava no porão, havia fechado com um pequeno estrondo. E passos começavam a se aproximar. Não poderia ser Dobby, ele nunca usava a porta.

Com o coração já batendo muito rapidamente contra seu peito, ela apressou-se a empurrar o diário em baixo de um pequeno armário verde, cheio de artefatos curiosos, no qual estava encostada. Não teve tempo de conferir se o objeto estava completamente escondido; Lucius Malfoy surgiu repentinamente no seu campo de visão, fazendo-a soltar uma exclamação de horror.

O bruxo parou ao vê-la, e ao observar sua expressão franziu o cenho, desconfiado. A garota tentou se recuperar e fingir costume ─ embora é claro, não fosse nada corriqueiro ele estar alí embaixo. Lucius a observou por mais alguns segundos enquanto Cybele o observava de volta, depois averiguou o lugar minuciosamente, e quando se convenceu de que não havia nada suspeito, ele se aproximou. Segurava um envelope entre os dedos.

─ Sua passagem para Hogwarts ─ disse o homem desgostoso, estendendo o papel à garota, que o pegou imediatamente.

Era um pequeno envelope retangular, decorado com desenhos nas bordas em dourado. No centro, estava escrito com letras de um dourado mais escuro "Plataforma 9¾." Cybele o virou e atrás podia-se ler:

Para: Hogwarts
De: Londres

Data: 1 de setembro
Lugar: Estação de King's Cross

Ela ainda estava tentando entender como embarcaria em uma plataforma cuja o número era 9¾ quando Lucius pigarreou alto, atraindo sua atenção.

─ Só para ter certeza... ─ o homem começou. ─ Sabe exatamente o que deve e não deve fazer enquanto estiver na escola, não sabe?

─ Sim, senhor.

─ Que seria? ─ as sobrancelhas de Lucius levantaram desafiadoras. Ele parecia repleto de uma raiva mal controlada, fazendo algumas partes do seu rosto tremerem. E seus olhos pareciam sedentos por punir a garota por algo que ela nem mesmo sabia ter feito.

─ Não devo dizer meu sobrenome ou mencionar o nome de sua família a ninguém ─ iniciou Cybele. ─ Não devo responder perguntas sobre meu passado. E devo ficar longe de Draco. Fingir que não o conheço.

─ Exato. ─ Lucius pareceu momentaneamente satisfeito, mas ainda fitava a garota como se sentisse que ela fazia algo de errado. ─ Mas há algo mais a ser acrescentado...

O coração de Cybele ainda batia descontrolado, e acelerou mais ainda quando, pelo canto do olho, ela viu o pequeno pedaço de pergaminho com a mensagem do gigante jogado ao seu lado. Esquecera de se livrar dele como lhe havia sido pedido. Tentou não olhar para lá diretamente, embora seu impulso fosse de tentar pegar o papel antes que Lucius o percebesse. No entanto, ela se esforçou para não transparecer seu pânico. Com sorte ele não notaria o bilhete.

─ Haverá um aluno... ─ continuou Lucius, que agora começava a andar pelo lugar com passos arrastados, tocando os artefatos e os averiguando minuciosamente, como se estivesse conferindo se tudo continuava em perfeito estado.

Cybele temeu pela cadeira arruinada mais uma vez. Todavia, Lucius passou por ela sem nem mesmo olhar por um único segundo. Ele parecia mais interessado nos objetos mágicos.

─ ... você deverá ficar longe dele também ─ prosseguia ele, sua voz se tornando cada vez mais gélida e ameaçadora. ─ Não o dirigirá a palavra ou compactuará com ele. Me entendeu?

─ Sim. Mas quem...? ─ indagou Cybele, mas Lucius a interrompeu.

─ O nome dele é Harry Potter.

Harry Potter? O garoto ao qual várias manchetes do Profeta Diário haviam sido dedicadas onze anos atrás? O qual todos conheciam por ser o garoto que sobreviveu ao ataque do Lorde das Trevas, um dos bruxos mais poderoso que já existiu? Por que ela teria que ficar longe dele?

Cybele conhecia sua história. Aliás, não parecia haver alguém no mundo bruxo que não tivesse conhecimento dela. Mas a principal informação que Cybele guardou ao ouvi-la pela primeira vez, foi que ele também era um órfão, assim como ela. Voldemort havia assassinado seus pais antes de tentar matá-lo e então ser “aniquilado” ─ embora muitos acreditassem que ele não estava de fato morto. Para ela, pareceu que naquele momento ela havia finalmente encontrado alguém capaz de a enteder. Alguém que saberia exatamente como ela se sentia todos os dias.

─ O garoto que sobreviveu ao ataque de Volde... ─ Lucius se sobressaltou, lançando a garota um olhar assutado. Cybele lembrou-se de que não podia-se dizer o nome do bruxo em voz alta.

Entretanto, ela não entendia por que dizer o nome dele era proibido. As pessoas ainda o temiam mesmo depois de não estar mais no poder. Mas Cybele não conseguia sentir nada, tanto ao pronunciar quanto ao ouvir o nome.

─ Desculpa… do ataque de Você-Sabe-Quem? ─ corrigiu-se a garota.

─ Exatamente. ─ respondeu Lucius, friamente.

─ Mas como vou saber quem ele é? Eu nunca o vi...

─ Ah, você saberá. ─ respondeu o homem, enigmático. Cybele o olhava com as sobrancelhas franzidas, quando ele puxou a varinha das vestes e disse repentinamente: ─ Accio pergaminho!

E o pequeno bilhete jogado ao seu lado, voou do chão diretamente para as mãos do sr. Malfoy. Coldwell pulou, assutada com a ação repentina. Seu coração voltou a subir até a garganta e seu olhos arregalaram-se de terror. Ela apertou as mãos com força desejando profundamente que ele não o lê-se. Mas Lucius já estava olhando para o pedaço de pergaminho em suas mãos. Para surpresa de Cybele, no entanto, ele parecia confuso.

Com as sobrancelhas franzidas e os olhos estreitados, ele virava e desvirava o bilhete. Que agora parecia estar completamente em branco. A menina ficou tão confusa quanto ele.

Lançando um olhar desconfiado e ameaçador a garota, ele finalmente desistiu e o jogou no chão. Cybele permitiu-se respirar tranquilamente.

─ Lembre-se que sua permanência na escola está em jogo ─ o bruxo ameaçou, rigidamente. ─ É melhor não fazer nada que possa te tirar de lá.

E com isso, ele deixou o aposento, arrastando os pés, mais uma vez, até a saída.

Cybele esperou até ouvir a porta do porão abrir e fechar e então permitiu-se suspirar profundamente. Ela correu até o pedaço de pergaminho e o recolheu para verificar se ainda continuava em branco. Porém, as palavras estavam mais uma vez lá. Ela se perguntou se somente ela seria capaz de vê-las, mas se fosse o caso, o gigante não teria lhe pedido para jogá-lo fora após a leitura. Contudo, ela ainda não entendia como elas haviam desaparecido nas mãos do sr. Malfoy. E talvez nunca viesse a entender, magia parecia ser algo muito misterioso.

Decidindo se livrar do bilhete por via das dúvidas, ela o amassou, subiu até a sala de estar, verificou se nenhum Malfoy estava por perto e o jogou na lareira. Logo após voltou aos seus aposentos, pegou o diário, arrancou o lampião da parede e os carregou até seu pequeno colchão fino, acomodou-se nele com o diário nas mãos, apoiou o lampião em cima de uma cadeira ali perto e decidiu voltar a leitura. Sua cabeça ainda estava muito confusa após a conversa com Lucius, mas ela decidiu ignorar, pois ler o diário de sua mãe era muito mais interessante.

É claro que gostaria de receber explicações do porquê não podia chegar perto de Harry Potter. Afinal, tinha que haver um motivo, não? Ou talvez fossem só os Malfoy fazendo o que faziam de melhor: arruinar a vida dela; tornar cada momento bom, o pior possível; drenar cada gota de felicidade que ela fosse capaz de sentir. Obviamente não seria diferente naquele momento. Até ali, eles já haviam feito de tudo para acabar com a alegria que estavam sendo os últimos dias. E agora, a haviam proibido de falar com a única pessoa que ela já considerou poder ser seu amigo.

Todavia, na ausência de respostas, só lhe restava aceitar a situação, como havia feito a vida toda. Ela soltou um suspiro pesado, mas decidiu não deixar os Malfoy a afetarem. Tinha o diário de sua mãe bem ali na sua frente, e não deixaria que eles tirassem aquilo dela também. Ela procurou onde havia parado e continuou a ler.

Continuou lendo por um longo tempo até que um bocejo escapou de sua boca e seus olhos pesaram. Havia perdido a noção do tempo e não fazia ideia de que horas eram. Mas já devia ser muito tarde porque a casa estava mergulhada em um silêncio mais atordoante do que o normal. O que significava que os Malfoy já deviam estar dormindo.

Com muita relutância, ela fechou o diário. Desejando não sentir sono para poder continuar lendo. Mas percebeu então, que se o lê-se sem parar acabaria muito rápido, e não queria aquilo. Queria o degustar  o mais lentamente possível. Assim teria algo a recorrer quando se sentisse solitária naquela mansão, até o dia um de setembro finalmente chegar.

Ela deitou-se e aconchegou o corpo magro e pequeno nos lençóis velhos e sujos sobre o colchão. Adormeceu quase que imediatamente, abraçando o diário contra o peito, o qual ela esquecera de guardar.

E o último pensamento que atravessou sua mente antes de ela cair em um sono profundo, foi que tinha certeza de que já odiava sua avó francesa.

Continue Reading

You'll Also Like

818K 89.7K 51
Com ela eu caso, construo família, dispenso todas e morro casadão.
805K 61.6K 53
Daniel e Gabriel era o sonho de qualquer mulher com idealizações românticos. Ambos eram educados, bem financeiramente e extremamente bonitos, qualque...
79.1K 4.8K 40
'𝘝𝘰𝘤𝘦̂ 𝘦́ 𝘢 𝘱𝘰𝘳𝘳𝘢 𝘥𝘢 𝘮𝘪𝘯𝘩𝘢 𝘱𝘦𝘳𝘥𝘪𝘤̧𝘢̃𝘰 𝘔𝘢𝘳𝘪𝘢𝘯𝘢.'
63.4K 1.7K 21
Victoria Alves é uma garota, que mora em Nova York, Com sua mãe e seu pai, mais ela tinha um irmão que morava na Alemanha, então um dia ele volta par...