Your flowers - simone e soray...

By I4YEAJI

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Não é engraçado como as coisas podem mudar rapidamente? Com uma pessoa pode mudar outra? Por exemplo, você te... More

início.
1ㅡ Girassóis.
2 ㅡ Não me esqueça.
3 ㅡ Violeta
4 ㅡ Cravos.
5 ㅡ A flor da vida.
6 ㅡ Sol.
7 ㅡ Sim, eu senti.
8 ㅡ Seu lírio.
9 ㅡ Normal é chato.
10 ㅡ Quase o Havaí.
11ㅡ Segredos, jasmins e anêmonas.
12 ㅡ Universo dentro de mim.
14 ㅡ Detetive.
15 ㅡ Pertencer.
16 ㅡ Rosa musk.
17 ㅡ Azeleia.
18 ㅡ Rosas da decisão.
19 ㅡ Conflitos.
20 ㅡ Ela sabe?
21 ㅡ Me deixa entrar?
22 ㅡ A primeira semana.
23 ㅡ Diego.
24 ㅡ Uma assassina?
25 ㅡ Stella.
26 ㅡ Stella pt II.
27 ㅡ Ela me ama.
28 ㅡ Indo fundo.
29 ㅡ Cyclamen e adeus?
30 ㅡ Conversa, chá e amor
31 ㅡ Não fuja.
32 ㅡ Do lado dela.
33 ㅡ Conserte isto.
34 ㅡ No mês seguinte.
35 ㅡ A carta.
36 ㅡ O plano.
37 ㅡ Quarenta segundos.
38 ㅡ Uma última flor.
39 ㅡ Girassóis part ll
40 ㅡ Sentindo-se completa.

13 ㅡ Pequena coragem.

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By I4YEAJI

(os dias de glória chegaram? chegaram sim!! 🗣️🗣️)
maratona 1

[***]

Acordei perdida sem saber muito bem onde estava, até olhar em volta e me dei conta, então involuntariamente um sorriso surgiu em meus lábios ao lembrar da noite passada.

Notei que Soraya não estava deitada no sofá comigo e que estava coberta por um lençol, sentei-me enquanto olhava em volta novamente tentando encontra-la e nada. Tentei achar minhas roupas, mas desisti, enrolei-me no lençol e resolvi descer assim mesmo. Conforme me afastava do sótão comecei a ouvir um barulho vindo da cozinha e me dirigi até lá. A barulheira vinha de Soraya que estava preparando um café da manhã, tão concentrada que nem notou minha presença apoiada na porta observando-a. A mulher vestia uma calcinha e uma camiseta de banda que cobria até um pouco abaixo de sua cintura. Ela batia ovos em uma tigela virada para pia e de costas para mim enquanto cantarolava alguma música que não consegui entender.

ㅡ Ai que susto mulher. - Diz levando a mão ao peito assim que se vira e me vê parada a observando.

ㅡ Desculpa, não queria assustar. - Ela assente enquanto vira a mistura do omelete na frigideira.

ㅡ Não era pra você acordar antes do café estar pronto. - Deixa a frigideira de lado e então começa a vir até mim, roubando uma flor do vaso no balcão no caminho, ela beijou a flor e me entregou. - Bom dia.

ㅡ Bom dia. - Ela me beija e eu respondo entre seus lábios.

ㅡ Eu ia levar café pra você. - Suas mãos pousam em minha cintura cobertas apenas pelo lençol.

ㅡ Não tem problema. - Passo minhas mãos por seus braços até envolver seu pescoço. - Quer ajuda?

ㅡ Não. - Ela diz rapidamente.

ㅡ Qual é? - Dou risada. - Me deixa fazer alguma coisa, se eu fizer errado paro de ajudar. - Ela espreme os olhos ao me olhar enquanto pensa se deixa ou não.

ㅡ Okay. - Concorda. - Liga o fogão e fica cuidando a frigideira do omelete. - Nos afastamos para irmos até a comida. - Consegue fazer isso sem colocar fogo em tudo? - Dou um tapa em seu braço.

ㅡ Engraçadinha. - O omelete logo começa a cheirar. - Nossa, eu estou morta de fome.

ㅡ Eu também. - Começo a observar o que ela estava fazendo. Soraya estava picando alguns morangos, descascando frutas, acho que pra fazer uma mini salada de frutas rápida.

ㅡ Simone! - A ouço chamar minha atenção então olho para o fogão e o omelete estava queimado, ela estende a mão para desligar a boca.

ㅡ Desculpa, eu sou um desastre na cozinha. - Bufo.

ㅡ Ainda bem que você sabe. - Diz rindo.

ㅡ Foi culpa sua.

ㅡ Minha? Por quê? - Pergunta confusa enquanto tira o omelete queimado da frigideira para fazer outro.

ㅡ Você me distraiu. - Ela cora e eu também por ter dito algo tão idiota.

ㅡ Vai sentar lá e deixa comigo ok? - Ela diz rindo após deixar um beijo em minha bochecha.

Soraya fez um belo café da manhã, tipo esses de verdade, o que para mim é muito, já que estou acostumada a fazer um suco detox e uma corrida se transformarem em café da manhã.

ㅡ Isso aqui - Digo comendo as panquecas. - está muito bom.

ㅡ Obrigada. - Ela ri e um silêncio um tanto quanto constrangedor toma conta, mas devido a um ótimo motivo: a noite passada.

ㅡ Soraya?

ㅡ Hum?

ㅡ Sobre ontem eu...

ㅡ Não precisamos falar sobre isso Sisa.

ㅡ Acho que precisamos.

ㅡ Não. - Ela me olha. - Não é como se fosse uma obrigação termos que conversar e analisar tudo.

ㅡ Mas e se... E se eu quiser falar?

ㅡ Bem, - Ela termina seu suco. - aí já é diferente. - Sorrio. - O que você quer falar sobre ontem?

ㅡ Eu nunca tinha...

ㅡ Ai meu Deus você nunca tinha feito? - Ela me interrompeu brincando.

ㅡ Idiota. - Ela contém o riso.

ㅡ Continua.

ㅡ Eu nunca tinha me sentido como ontem.

ㅡ Não? - O sorriso não sai de seus lábios, como também não saem dos meus.

ㅡ Não. - Sinto-me como uma adolescente flertando.

Soraya não gostava de ficar analisando as coisas, eu já havia entendido, mas eu sempre preciso disso. Não entender as coisas me coloca em um ambiente muito mais vasto do que quando entendendo algo. Entender é sempre limitado, pois então você sabe e pronto. Mas não entender é ilimitado, sem fronteiras e você fica sem saber o que vem, pra onde e até onde vai.

No fundo eu tinha inveja de Soraya por não ter essa necessidade de entender tudo como eu tenho. Não querer ou não precisar entender é um dom. É uma benção estranha, mas ainda sim é um benção, pois te torna livre de certa forma. Eu não tenho isso, tenho uma inquietação: quero entender tudo e se não entendo fico perdida, por isso tenho essa necessidade de analisar tudo que me rodeia.

[***]

Soraya e eu passamos a tarde deitadas no mesmo sofá da noite passada, vendo as nuvens passarem pelo teto de vidro e tentando adivinhar com o que elas se pareciam. Fazia muito tempo que eu não ficava junto de alguém assim, só por ficar. No começo foi estranho estar ali tão grudada a ela, já estava acostumada a ter apenas experiências casuais com zero de contato emocional, porém não demorou para que eu me acostumasse a estar em seus braços, sentindo seu cheiro e recebendo carinho.

Tem um citação de Vinicius de Morais que gosto muito, ela diz assim: "Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura... Essa intimidade perfeita com o silêncio... Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado de pequenos absurdos, essa capacidade de rir à toa. Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza de quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser. Resta essa faculdade incoercivel de sonhar, de transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade de aceita-la tal como é, (...) e esse medo infantil de ter pequenas coragens."

Nos vejo, aqui e agora, assim. Temos essa ternura, nos sentindo íntimas apenas com o silêncio e rindo à toa como crianças, de qualquer coisa. Eu provavelmente tinha milhares de coisas para fazer em casa e ainda sim estava ali, vagando com ela e sendo tudo que ainda vamos vir-a-ser. Mudando a realidade sem ligar para como de fato ela é, mas mantendo dentro de mim o medo de ter coragem para ir em frente com ela com pequenas coisas.

Tivemos nossa pequena coragem de nos entregar uma a outra, durante todos os dias desde que passei a querer saber mais dela, havia sempre um espaço a qual Soraya podia tomar sempre que quisesse, assim como ela me fazia perceber que eu também tinha o meu nela. E ontem, concretizamos tudo isso, fomos uma da outra sem qualquer medo ou barreira, sem nos importar, fomos o que quisemos ser, o que somos, e eu quis ser dela.

Nossa pequena coragem criou muito mais do que pode ser descrito em palavras. Eramos infinitamente nós.

ㅡ E essa? - Ela pergunta sobre a nuvem que está passando.

ㅡ Não sei, parece uma nuvem.

ㅡ Tenta mais.

ㅡ Humm ok. - Minha cabeça estava deitada em seu peito enquanto ela acariciava meus cabelos. - Parece..... - Penso olhando a nuvem. - Parece uma cenoura. - Soraya ri.

ㅡ Uma cenoura? - Ela ainda ri. - Sério?

ㅡ Que foi? Nuvens sempre precisam parecer coisas importantes como um unicórnio ou um coelho?

ㅡ Claro que não. - Ela vai se acalmando das risadas.

ㅡ Então?

ㅡ É que eu nunca ouvi alguém comparar uma nuvem com uma cenoura, foi inesperadamente engraçado.

ㅡ Então você fica comparando nuvens com as pessoas por ai? - Viro-me de brucos para poder olha-la.

ㅡ Não, sou estranha, mas não é pra tanto. - Seus olhos me deixam fracas. - Acho que estou como fome, vamos fazer algo pra comer.

Soray se desvencilhou de mim sentando-se no sofá. Ela ainda vestia apenas a calcinha e a camiseta. Esticou as costas, espreguiçando-se. Eu ia perguntar o significado da flor de mais cedo, já que com Soraya tudo tem um significado lindo, mas meu celular começou a vibrar. Sete chamadas não atendidas de André. Puta merda, esqueci completamente que marquei de encontra-lo pra jantar as sete e já são cinco horas passada.

ㅡ Droga, droga, droga. - Sento-me no sofá já colocando os calçados.

ㅡ Tá tudo bem?

ㅡ Tá sim, é só que eu tinha marcado de encontrar Dé pra jantar e esqueci completamente. - Levanto-me e começo a guardar minhas coisas na mochila.

ㅡ O que tá fazendo?

ㅡ Arrumando as minhas coisas. - Respondo.

ㅡ Por quê?

ㅡ Como assim por quê? Marquei de ir jantar com André ué.

ㅡ Então você vai embora? - Viro-me para olha-la. Ela está apoiada na parede, de braços cruzados enquanto me olha a arrumar a mochila, mostrando nitidamente sua insatisfação por eu ter que ir embora.

ㅡ Desculpa. - Digo e volto para a mochila. Coloco-a nas costas e caminho até seu alcance.

ㅡ Liga e diz que não vai. - Ela passa seus braços ao redor da minha cintura terminando o espaço entre nós.

ㅡ Não posso.

ㅡ Não quer ficar? - Ela me solta, levantando uma sobrancelha em indignação.

ㅡ Não é isso Soraya.

ㅡ Então...

ㅡ É que estamos sem o Diego e ele terminou o namoro faz pouco, anda bem sozinho. - Ela assente. - Eu queria ficar, mas isso é em parte culpa sua. - Digo enquanto começo a descer até a porta, sinto ela vindo atrás de mim.

ㅡ Culpa minha? - Ela solta uma risada nasal. - Como pode ser culpa minha?

ㅡ Culpa sua sim.

ㅡ Elabora.

ㅡ Se tivesse me explicado direito o que iríamos fazer eu tinha cancelado, mas você tem essa mania de segredo.

Quando meu pé toca o chão do andar de baixo sinto os braços de Soraya me puxarem pra si e seu corpo me prensar contra a parede.

ㅡ Você teria? - Seus olhos encarando os meus na mesma coloração escura da noite passada e eu posso sentir o desejo escorrendo pelas pontas dos seus dedos em minha cintura.

ㅡ Teria o que? - Mordo rapidamente seu lábio inferior, brincando com ela.

ㅡ Não me provoca. - Deus, aquele olhar sério dela é claramente o meu fim. - Você teria cancelado pra ficar comigo?.

ㅡ Talvez. - A provoco de novo e ela sorri.

ㅡ Para de me provocar.

ㅡ Me faz parar. - Levanto a sobrancelha a encarando com a mesma intensidade.

Antes que eu desse conta, Soraya já estava me beijando. Minhas mãos percorriam os cabelos de sua nuca e as suas tomavam conta da minha cintura por debaixo da blusa sem o menor pudor.

ㅡ Sô... - Tento falar no meio do beijo. - Soraya.

ㅡ Que foi? - Dou risada da sua insatisfação em parar o beijo.

ㅡ Se não pararmos vou acabar não indo.

ㅡ Que bom. - Ela volta seus lábios para o meu pescoço arrepiando-me da cabeça aos pés.

ㅡ Para. - Digo com a voz manhosa, pescoço definitivamente era meu ponto fraco.

ㅡ Sensível. - Ela diz e deixa um selinho em meus lábios. - Vamos, vou te levar até o portão. - Realmente me arrependi de ter deixado meu carro estacionado do lado de fora da casa, caminhar todo aquele caminho sem ter as energias normais de meu corpo recuperadas foi bem cansativo, e olha que é difícil algo ser cansativo para mim.

ㅡ Juro que cansei caminhando isso tudo. - Admito enquanto ela abre o portão velho e enferrujado.

ㅡ A senhorita fitness cansou é? De que vale os coppers? - Ela caçoa de mim.

ㅡ Idiota. - Cruzo o portão.

ㅡ Sisa... - Ela me puxa pela mão, me fazendo olha-la novamente.

ㅡ Que foi?

ㅡ Você... - Ela hesita. - Não, nada. Deixa pra lá.

ㅡ Não, pode falando.

ㅡ Deixa pra lá, não era importante... Até já esqueci.

ㅡ Certeza?

ㅡ Aham. - Assente aproximando-se, ela levou suas duas mãos até meu rosto e juntou nossos lábios em um beijo delicado e lento, degustando o gosto da minha boca na dela. Soraya terminou o beijo puxando meu lábio inferior pra si e eu lhe roubei alguns selinhos. - Tenha um ótimo jantar com seu amigo. - Ela deseja olhando em meus lábios. Será sarcasmo da parte dela me desejar um bom jantar com André?

ㅡ Vou ter. - Lhe roubo outro selinho e começo a fazer caminho para o meu carro.

ㅡ Espera. - Paro e ela se aproxima mexendo em minha mochila. - Pronto, o fecho estava aberto.

ㅡ Obrigada. - Viro-me para ela sorrindo.

ㅡ De nada. - Me rouba um selinho também. - Vai antes que eu não te deixe ir.

ㅡ Certeza que não quer carona de volta? - Ela assente.

ㅡ Tenho que limpar as coisas.

ㅡ Tudo bem então.

Entro em meu carro, dou partida, contra minha vontade. Se de todos os milhares de lugares do mundo eu pudesse escolher onde ficar, eu escolheria passar todo meu tempo ao lado de Soraya Thronicke

[***]

Ocaminho de volta para a casa levou tempo graças a um trânsito infernal, o que me deixou sem tempo para tomar um banho demorado. Cheguei em casa e corri para parecer apresentável. Com a ajudinha da maquiagem tentei cobrir as marcas que Soraya fez o favor de deixar em meu pescoço, não queria nem imaginar o inferno que André faria se as visse. Fui para o nosso restaurante de sempre e poderia ter demorado uma vida no banho que não teria feito diferença. André, como sempre, estava mais de meia-hora atrasado.

ㅡ Eu já deveria prever essas coisas, cara dele me deixar esperando. - Falo sozinha sentada na mesa do restaurante. - Ei, moço. - Chamo o garçom.

ㅡ Senhorita?

ㅡ Pode me trazer um vinho por favor?

ㅡ Qual senhorita, temos uma carta enorme e... - Ele já ia me entregando o cardápio gigante de vinhos deles, que me deu dor de cabeça só de olhar.

ㅡ Me traz o que achar melhor, o do dia ou sei lá... - Ele assente e sai. Depois de uns dois minutos bebendo do vinho vejo meu amigo cruzar a porta e se aproximar da mesa.

ㅡ Finalmente.

ㅡ Desculpa, desculpa. - Ele diz enquanto deixa seu casaco na guarda da cadeira e se senta na minha frente. - Trânsito estava um horror, não sei que diabos está acontecendo nessa cidade.

ㅡ Ah, André, fala sério.

ㅡ Ta bom, talvez eu já tenha saído atrasado de casa, mas o trânsito também não ajudou. - Rimos. - Já pediu?

ㅡ Só uma taça de vinho, não dá pra beber muito.

ㅡ Estou morto de fome.

Pedimos nossa comida e depois de uns quinze minutos ela chegou para a alegria de André e minha, pois também já estava morrendo de fome.

ㅡ Mas então...

ㅡ Que?

ㅡ Onde você se meteu?

ㅡ Como assim?

ㅡ Estou te ligando que nem louco desde ontem, até passei no seu apê hoje cedo mas você não tava.

ㅡ Ah, eu devia estar no copper.

ㅡ Seu porteiro disse que não tinha dormido em casa. - Maldito Alfredo, quando é para estar dormindo resolve estar acordado e falando da minha vida.

ㅡ Sabe como é o Alfredo, dorme tanto na portaria que duvido que soubesse em que dia estamos, quanto menos se dormi em casa.

ㅡ E o celular? Não atende mais?

ㅡ Sei lá, minha operadora anda bem louca, o sinal tá baixíssimo.

ㅡ Está mentindo. - Ri. - E na maior cara de pau.

ㅡ Que?

ㅡ Você tá mentindo, pode me contando. - E agora? - Foi em um spa?

ㅡ Não.

ㅡ Então é a segunda opção.

ㅡ Dá pra você fazer sentido amigo?

ㅡ Você está brilhando feito o Sol, o que só pode ter duas explicações, primeira: você foi em um spa; segunda: você fez sexo. - Me afogo. - E você se afogando só confirmou que é a segunda.

ㅡ Para de ser doido.

ㅡ Doido nada, pode falando Simoninha.

ㅡ Com quem diabos eu ia transar?

ㅡ Ué, você cansou de ir pra balada e arranjar algo "casual". - Ele imita forçadamente o que eu sempre digo, o que me fez rir. - Ai meu Deus. - Ele diz tirando-me de meus pensamentos.

ㅡ Que foi agora André?

ㅡ Foi com ela, não foi?

ㅡ Especifique o "ela".

ㅡ Não me enrola Simone, estou falando da Soraya.

ㅡ Talvez.

ㅡ Meu Jesus.

ㅡ Essa fala seria do Diego.

ㅡ Estou pensando como nós dois no momento. - Dou risada.

ㅡ Sem drama por favor.

ㅡ Ela estava na sua casa hoje cedo quando eu fui lá?

ㅡ Por que não chutou que eu estivesse na casa dela?

ㅡ Sei lá, essa menina fica tanto no parque que vai saber se não é uma sem teto. - Sorrio, obviamente isso era algo de se esperar com todo esse segredo de Soraya. - E como você é toda louca por estar no controle, achei que ia preferir na sua casa. - Disso estava certo. - Ela te levou pra casa dela? - Ele pareceu surpreso com a própria pergunta.

ㅡ Não, pra outro lugar.

ㅡ Que lugar? - Ele pareceu preocupado.

Cinco segundos para decidir contar ou não contar sobre o espaço secreto de Soraya. Resolvi não contar, sei lá, ela pode acabar tento problemas por usar o lugar. Hora de uma mentira cc.

ㅡ Um hotel.

ㅡ Hotel? - Assenti. - Hum.

André não disse mais nada ou fez perguntas sobre o assunto durante todo o jantar. Essa minha proximidade com Soraya parecia o incomodar mais e mais, como se a mulher fosse um veneno para mim. E como também não queria me estressar, apenas mudei de assunto e deixei as coisas fluírem naturalmente.

[***]

ㅡ Lar doce Lar.

Digo ao entrar em casa já tirando os sapatos para poder encostar meus pés no chão geladinho. Nunca me senti tão cansada.

ㅡ Preciso de um bom banho de horas e horas.

E assim o fiz. Fui direto para o banheiro. Acendi as velas, coloquei na minha playlist especialmente feita para momentos como esse e fiquei ali, deixando a água bater em minhas costas e cabelos para relaxar, estava tão bom que poderia ter dormido ali mesmo que acordaria feliz na manhã seguinte.

Saí do banho, coloquei meu pijama mais confortável e fui para a cozinha fazer um chá para tomar antes de dormir. Enquanto a água estava esquentando resolvi regar as flores na janela e tirar as coisas que ainda estavam na minha mochila. E eu estava bem bela separando o que estava sujo e blá blá blá quando, embaixo de uma blusa encontrei algo que não deveria estar lá. Um flor e um recado de Soraya, obviamente. Não sei nem em que momento ela colocou isso dentro da minha mochila.

Terminei meu chá e o levei para a cama comigo juntamente do meu notebook, da flor e do recado de Soraya. Me aconcheguei e antes de começar a trabalhar um pouco resolvi ler o que ela escreveu dessa vez para mim.

"Oi Simome, espero que seu dia tenha sido bom ou "dias" no plural caso você seja como eu que leva dias para tirar as coisas da mochila/mala/ etc. Mas como você é organizada duvido que faça como eu.

Bem, vamos direto para a flor. O nome dela é papoula e por elas se conta parte de uma lenda grega. Após ter sua filha, Perséfone, raptada pelo senhor do mundo inferior, o deus Hades, a deusa da agricultura Deméter pede a Zeus que traga sua filha de volta. Zeus não podia interferir nos acontecimentos do submundo, mas vendo o sofrimento e a dor da deusa, resolveu ajudar e concedeu uma benção para amenizar a saudade que Deméter sentia da filha. Durante seis meses do ano Perséfone poderia vir para a terra visitar sua mãe, deusa da agricultura, em forma de uma flor e então retornaria ao mundo inferior para viver os outros seis meses com Hades. Deméter, vendo que não conseguiria nada melhor, apenas aceitou o acordo e assim, pelo menos durante seis meses por ano, ela poderia matar a saudade da filha. E as papoulas se tornaram uma cura para a saudade. Deve estar se perguntando porque diabos te deixei essa flor se não somos mãe e filha (graças aos deuses, certo?) não é? Bem, quero que foque apenas na saudade, nesse momento não estamos juntas literalmente, mas parte de mim está ai contigo o que me faz estar também.

Com flores, Soraya."

Acho incrível isso que Soraya faz, essa poesia contemporânea que ao mesmo tempo consegue expressar os sentimentos mais antigos. Mario Quintana dizia que um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente, e não a gente a ele. E Soraya consegue fazer com que eu me sinta assim sempre que me escreve sobre alguma lenda, ela consegue fazer parecer que o poema está me lendo e não o contrário. É louco pensar que eu sinta tanta falta de te-la perto de mim sendo que faz pouquíssimo tempo que estive com ela, mas saber que ela também sente minha falta torna a loucura mais aceitável para a minha mente, até então, sã.

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