4 ㅡ Cravos.

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Simone.

Já fazia uma semana. Uma semana inteira e eu estava começando a ficar louca. Depois do ocorrido com Soraya em meu apartamento, levei apenas dois minutos para perceber que havia errado feio em não beija-la e duas horas para eu surtar totalmente querendo que, por um milagre, ela retornasse ao apartamento. Mas nada.

Tentei encontra-la no parque, fui lá todos os dias essa semana, sem falta. No segundo dia, depois que ela não apareceu no horário rotineiro da manhã, comecei a intercalar horários diferentes e mesmo assim não consegui encontra-la, Ela não apareceu, pelo menos não nos horários que fui.

Mas a questão não é essa, a questão é que mesmo assim, aqui estou eu no oitavo dia de visita consecutivo ao parque, esperando que por um milagre eu a encontre.

Quando ia me aproximando do banco de sempre notei algo diferente, haviam duas flores sobre o mesmo. Dois cravos, para ser mais especifica e junto deles um cartão. Olho em volta e não vejo ninguém além do vendedor de pipoca um pouco mais além. Pego os cravos e o cartão, sento-me no banco e decido ler o que estava escrito.

"Sabe Simone, eu me identifico com os cravos. Assim como eles eu sou inconsistente e incompleta. Eu estou sempre mudando, mudo a todo o tempo e as vezes nem percebo que mudei até perceber. Sei que é confuso, mas é a verdade. Não mudo o exterior, mas sim o interior. Os cravos são assim também, seu exterior é sempre o mesmo, entretanto ao redor do mundo o seu interior muda conforme o lugar, tendo assim diferentes lendas, histórias e significados, e se a sua cor muda, o significado também. Ele é expressado para dizer tantas coisas. Saber qual é a certa ou qual surgiu primeiro não é o que importa, o que importa é a que mais te toca, a que mais se torna importante pra você. Na Grécia Antiga eles não usavam cravos para grandes espetáculos como casamentos e funerais, mas sim para expressar sentimentos momentâneos do dia a dia, coisas mais simples que ninguém hoje em dia pensa em contemplar com flores, mas eles contemplavam. Por exemplo, eles associavam cravo branco para amor puro, talento, boa sorte, inocência e para pedir desculpas. Cravo vermelho era para respeito, amor, paixão e para mostrar admiração por alguém. Cravo rosas era associados a felicidade e gratidão, também eram oferecidos para alguém em forma de dizer que você se lembrava dela, que não a esqueceu. Os roxos eram para solidão, inconsistencia e ausência de capricho. Já os amarelos eram usados para expressar mágoa, confusão ou rejeição.

Como você pode ver, eu escolhi dois cravos de cores diferentes porque no momento os dois representam como me sinto, sobre você: magoada, confusa e sem conseguir tirar voce da cabeça.

Com flores, Soraya"

Olhei para os cravos em minha mão após terminar de ler o cartão, amarelo e rosa. Não sei porquê, mas me senti triste, queria chorar e ao mesmo tempo senti raiva por ela ter apenas deixado as flores aqui, sem vir falar comigo. Por ela ter escrito em um cartão dizendo que está magoada e não ter tido cara para falar olhando pra mim. Olho em volta na esperança de vê-la em algum lugar mas não dou sorte, mais uma vez.

[***]

Depois que voltei pra casa coloquei os cravos junto das outras flores na bancada da janela, pegando sol. Sentei-me no sofá e encostei a cabeça para trás. Eu estava ficando louca. Eu queria essa mulher, mas algo em mim ficava dizendo para não ir em frente. Eu mal a conheço, me encantei pelo pouco que vi, e olha que foi muito pouco.

Me encantei pelos seus olhos, pelo sorriso, pela risada que trazia consigo um sentimento que aquecia meu coração, dava aquela sensação boa de que tudo estava exatamente onde deveria estar, me encantei com com as flores e as histórias, me encantei pelo seu jeito de enxergar o mundo. E a verdade é que ela é interessante e eu notei isso logo que a vi. Acredito em interesse à primeira vista, amor não.

Your flowers - simone e soraya Where stories live. Discover now