Your flowers - simone e soray...

By I4YEAJI

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Não é engraçado como as coisas podem mudar rapidamente? Com uma pessoa pode mudar outra? Por exemplo, você te... More

início.
1ㅡ Girassóis.
2 ㅡ Não me esqueça.
4 ㅡ Cravos.
5 ㅡ A flor da vida.
6 ㅡ Sol.
7 ㅡ Sim, eu senti.
8 ㅡ Seu lírio.
9 ㅡ Normal é chato.
10 ㅡ Quase o Havaí.
11ㅡ Segredos, jasmins e anêmonas.
12 ㅡ Universo dentro de mim.
13 ㅡ Pequena coragem.
14 ㅡ Detetive.
15 ㅡ Pertencer.
16 ㅡ Rosa musk.
17 ㅡ Azeleia.
18 ㅡ Rosas da decisão.
19 ㅡ Conflitos.
20 ㅡ Ela sabe?
21 ㅡ Me deixa entrar?
22 ㅡ A primeira semana.
23 ㅡ Diego.
24 ㅡ Uma assassina?
25 ㅡ Stella.
26 ㅡ Stella pt II.
27 ㅡ Ela me ama.
28 ㅡ Indo fundo.
29 ㅡ Cyclamen e adeus?
30 ㅡ Conversa, chá e amor
31 ㅡ Não fuja.
32 ㅡ Do lado dela.
33 ㅡ Conserte isto.
34 ㅡ No mês seguinte.
35 ㅡ A carta.
36 ㅡ O plano.
37 ㅡ Quarenta segundos.
38 ㅡ Uma última flor.
39 ㅡ Girassóis part ll
40 ㅡ Sentindo-se completa.

3 ㅡ Violeta

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By I4YEAJI

Simone.

Fazia cinco dias que havia ganho as miosotis de Soraya e desde então não fui ao parque. Elas estão vivas. Sim, são sobreviventes. Confesso que me apeguei nas flores como se fossem um cachorrinho. Elas até ganharam nome, Blue, Sim, Blue tipo a filha da Beyoncé, mas para me defender acho que o nome combina bem mais com as flores do que com a criança.

Esta manhã resolvi que iria ver Soraya de novo. Trouxe Blue comigo para provar que ainda estava viva. E aqui estou eu, numa manhã de quinta, sentada num banco de parque esperando a mulher das flores. E lá estava ela, levantando sorrisos a cada flor que entregava. Assim que me notou, veio em minha direção, sentando no banco em seguida.

ㅡ Elas ainda estão vivas. - Ela diz sorrindo para as miosotis em minhas mãos.

ㅡ Viu, não é só você com flores no parque hoje. - Eu não consigo deixar de sorrir vendo-a sorrir. - O que tem na cesta hoje?

ㅡ Violetas.

ㅡ E qual a história?

ㅡ Você realmente se interessou pelas lendas das flores, não é mesmo?

ㅡ De verdade

ㅡ Você sabe que você pode procurar essas coisas no Google, né Sisa? Não precisa vir até aqui para eu lhe contar, minha flor.

ㅡ Eu incomodo vindo? - Forço para parecer ofendida

ㅡ Não, claro que não. - Rimos. - Só que é estranho.

ㅡ Eu gosto de ouvir você contar, Sô, você fala com paixão sobre essas histórias e eu não teria isso com o Google. - Ela aperta os olhos pelo Sol e pelo sorriso.

ㅡ Bem, a história das violetas é bem simples. Existia um rei muito amargurado e sozinho, por causa da sua amargura ele fazia ser inverno o ano todo em seu reino. Um dia ele pediu que seus homens encontrassem uma mulher que aceitasse lhe dar amor e após incontáveis dias de procura eles acharam essa mulher, Violeta. Ele se casou com ela, a transformando em sua rainha Violeta, ela lhe deu amor, tirando do rei toda a amargura e o transformando em um homem bondoso. Após anos vivendo com o rei, Violeta o disse que sentia falta da família e pediu para que pudesse visita-la. O rei bondoso ponderou, e com medo de perde-la, permitiu que sua Violeta visitasse sua familia durante três meses todo o ano, mas em forma de flor, assim criando três meses de calor e vida no reino de inverno rigoroso, e após os très meses ela retornava para o rei.

ㅡ E qual é a lição?

ㅡ A lição é - Ela pega um flor. - No fundo, todo mundo quer um pouco de amor, e não há nada de errado nisso. - Ela diz me alcançando um potinho de violetas. Eu não consigo deixar de pensar em tudo que venho ponderando esses dias também, era como se ela me visse nua de alma e conseguisse ler meus pensamentos. - E você não se torna menos forte por isso. - As palavras dela sempre me fazem pensar. - Mas enfim, como conseguiu deixa-las vivas Sisa? - Ela muda de assunto repentinamente como uma criança.

ㅡ Cuidei delas, de verdade. Fui até na floricultura perguntar como cuidar, elas ganharam até um nome. - Ela faz cara de surpresa. - Blue.

ㅡ Como a filha da Beyoncé? - Ela diz rindo.

ㅡ Sim, como a filha da Beyoncé. - Ela solta uma risada gostosa demais de se ouvir.

ㅡ Imagino que tenha sido um sacrificio para você mante-las vivas. Pensei sobre elas com você depois que te dei, fiquei com pena das coitadas.

ㅡ Porque diz isso? Não tenho cara de quem cuidaria bem delas?

ㅡ Bem, primeiro, só comigo você já tem a morte de três girassóis no currículo. - Dou risada. - Segundo, você não tem cara de quem se preocupa com essas coisas.

ㅡ Que coisas?

ㅡ Coisas que não vão lhe dar nada em troca.

ㅡ Porque acha isso?

ㅡ Bem, você sempre está toda alinhada mesmo quando usa roupa de ginástica, mesmo tendo corrido você sempre parece estar no controle, sabe? Seu cabelo nunca tem um fio fora de lugar. - Ela ri. - Ah, e você sempre chega aqui no mesmo horário. - Como ela sabe disso?. - Você está sempre olhando o relógio. É nitido que você é uma pessoa que não gosta de perder tempo com coisas que não irão lhe proporcionar alguma coisa.

ㅡ Mas quem disse que elas não me dão algo? - E antes mesmo que eu pudesse comandar, meu cérebro fez com que meu corpo deslizasse para mais perto dela. Sentei-me de lado, colocando o braço sobre a guarda do banco, um pouco acima da metade das suas costas.

ㅡ Se elas dão, o que seria? - Ela vira o rosto pousando seus olhos nos meus, sua boca fechada faz um leve contorno esboçando um sorriso mais que cafajeste.

ㅡ Ótimas vindas ao parque. - Digo no mesmo tom de sedução de sua frase anterior.

ㅡ Ah é?. - Ela solta uma risada debochada e volta a olhar para frente.

ㅡ E você? - Puta merda Simone, você está flertando com ela novamente? Qual é o seu problema? Eu não ia fazer isso, eu sai de casa com todas as convicções de que não deixaria isso acontecer, mas era só encarar aqueles olhos que eu perdia qualquer linha de raciocínio.

ㅡ Eu? - Ela me olha novamente. Não sorria, não sorria e droga, ela sorriu. Seus lábios chamaram a atenção dos meus como imã, ela notou e não deixou passar, mordeu-o de propósito sem tirar o sorriso do rosto. - Ah é verdade, elas te garantem o meu telefone.

Ela me lembrou de algo que no momento já nem lembrava mais. A mulher puxou um bloquinho e uma caneta da bolsa de sua pequena mochila preta de couro, e começou a anotar seu número, arrancou a folha e colocou em minha direção. E foi então que cal em mim, eu continuava a dar esperanças. Então me afasto dela. - Que foi?

ㅡ Olha Soraya, não me entenda mal, mas eu me precipitei e você é uma mulher legal, mas...

ㅡ Você está me dispensando antes mesmo de termos algo, Sisa? - Ela ri

ㅡ Eu só não quero...

ㅡ O que? - Ela me interrompe. - Partir meu coração? É isso que você não quer? - Ela ri novamente, um riso falso e sem vontade. - Eu confesso que estou mais interessada no que você quer.

ㅡ Eu provavelmente não sou o que você procura.

ㅡ Você acha mesmo que eu ficaria com você? - Uau, fiquei sem palavras. - Bem, achou certo, porque eu definitivamente ficaria.

Ok agora estou totalmente perdida nessa conversa. Como ela me confunde tanto?

ㅡ Eu não sou como você, Sô.

ㅡ Olha Simone, - Ela se levanta.- eu não sou criança e muito menos ingenua. Consigo ver quando alguém precisa de sexo e quando alguém precisa de amor. - Ela deixa o papel com o seu número sobre meu colo. - A gente se fala Sisa. - Ela sorri e começa a se afastar. E mais uma vez eu fiquei sentada ali como uma palhaça vendo-a ir embora.

[***]

15:54 da tarde, quinta-feira.

É incrível como as coisas mudam. Aqui estou eu, apoiada na bancada da cozinha, encarando a minha rotina na porta da geladeira e ao lado da tabela, também pendurado na porta, o telefone de Soraya. Alguns dias atrás eu não teria pensado duas vezes antes ligar para esse. Provavelmente a chamaria para vir ao meu apartamento, fingiria estar interessada em um encontro só para dormir com ela e depois manda-la embora pela manhã e então jogaria seu telefone no lixo. Não estou sendo má, apenas realista, há alguns dias eu não iria nem cogitar a ideia de qualquer coisa além de sexo, mas a questão é que agora as palavras de Soraya não saiam da minha cabeça - No fundo, todo mundo quer um pouco de amor, e não há nada de errado nisso... E você não se torna menos forte por isso. - Era como se ela pudesse ler meu pensamentos e coloca-los para fora com palavras bonitas. Como se ela transformasse toda a confusão em minha cabeça numa bela poesia. E quando digo poesia, quero dizer poesia mesmo. Ela coloca tudo em palavras que lhe fazem pensar, diferente destes livros de hoje em dia, Faz a boa e velha poesia, que ao invés de esclarecer, confunde de uma forma que acaba the fazendo entender, mas não entender o que já estava ali e sim algo a mais, algo que você não estava enxergando. Como Shakespeare ou Gustave Flaubert em Madame Bovary. O problema é que diferente deles, ela é incrivelmente sexy também.

8:15 da manhã, sexta-feira.

Estava escovando os dente e me peguei pensado que talvez André estivesse enganado quanto a Soraya. Ela não me pareceu uma mulher indefesa que precisa ser mantida longe de mim como se eu fosse um monstro destruidor de corações, pelo contrario, ela me pareceu bem decidida. A mulher definitivamente não é uma caixa que precisa de um adesivo de frágil bem grande para que alguém não tropece sem querer, ela não é como suas flores, nem de longe. Desde que a conheci, sem nem mesmo perceber e talvez até sem ser de propósito, ela me mostrou isso. Lembro das suas palavras - Partir meu coração? É isso que você não quer? - e da risada sarcastica no final, como se ela estivesse bem aqui do meu lado, repetindo cada uma delas. O fato de eu provavelmente não querer nada mais sério com ela, só mostra meu controle sobre mim mesma.

ㅡ É isso, Simone! A vida é sua, e você ainda está no controle. Você sempre esteve e sempre vai estar no controle. - Repito para mim mesma olhando para o espelho, após terminar de escovar os dentes.

No fundo eu sabia que haviam grandes possibilidades de Soraya bagunçar ainda mais tudo que eu tinha demorado tempo para arrumar, na verdade, ela já havia feito, e eu, incrivelmente parecia gostar.

21:23 da noite, sábado.

Sabe, tenho medo de não conseguir manter minhas ideias, meus pontos de vista e minhas escolhas. Tudo aquilo que eu acredito. Não posso mentir e dizer que ligar para ela não era uma ideia que vinha corroendo os meus pensamento nos últimos dias, estava bem tentada em faze-lo.

Eu tinha um problema. Queria pedir um conselho para André, mas ele entraria em toda a sua esquisitice sobre Soraya novamente. Queria perguntar para Diego o que fazer, mas teria que partir desde o começo da história para que ele entendesse, o que só resultaria em mais confusão na minha cabeça e um nó na dele. Poderia ligar para minha mãe, mas eu não o faria, acredite em mim, ela é a última pessoa na terra que me daria um conselho útil sobre o assunto. Ela não tem um vida muito organizada quando se trata de relacionamentos, papai e ela sempre foram uma bagunça completa, e não que Soraya e eu tenhamos um relacionamento. O problema não é nada disso, o que me incomoda é que isso tudo não seria eu.

Raramente peço conselhos. Sempre consegui me entender por conta própria com o tico, o teco e toda a turma na minha cabeça, porque afinal, ninguém poderia me dar um conselho certeiro sem saber o que sinto, sem morar em mim.

É só que, entenda: aqui dentro, no momento, está uma confusão. Eu claramente me sinto atraída por essa mulher e não posso mentir quanto a isso, mas de todos os milhares de pontinhos piscando na minha cabeça, esse foi o único que eu consegui ligar.

A verdade é que agora eu estou como um carro procurando uma vaga para estacionar, fico dando voltas e voltas e acabo parando no mesmo lugar, pois toda vez que encontro uma vaga para poder parar, a minha cabeça age com um guarda de trânsito, me dizendo que é lugar proibido e que vou acabar com uma multa pesada no fim do mês. E assim eu sigo rodando e sem desligar, sem deixar o motor esfriar. Nessa história ilustrativa meu corpo é o carro, minha cabeça o guarda e meus pensamentos são o motor. E Soraya? Ela é definitivamente a vaga proibida.

13:15 da tarde, domingo.

Ela disse conseguir ver quando alguém precisa de sexo e quando alguém precisa de amor. Me pergunto se ela sabe o que eu quero, se conseguiu ver o que eu quero. Não que eu não saiba, eu quero algo casual. Nada além de aliviar as tensões do meu corpo para que meu cérebro possa comandar com perfeição cada engrenagem em mim, acontece que não é tão fácil.

Bem, para quem sai por aí escancarando que quer só isso é fácil, mas eu sou uma pessoa discreta. Se eu quero sexo com uma garota encostada no bar do outro lado da balada, porque vou gritar e explanar para todos os dançantes no meio do caminho se posso simplesmente caminhar até ela e lhe pagar uma bebida? Me entende? Não é romance, é estratégia. Tática de ataque. É que vamos ser sinceros, é bem mais fácil que manter um relacionamento sério que requer tempo, cuidado, atenção...

Como uma flor.

10:12 da manhã, segunda-feira.

"Um dia a gente acorda, os livros nos acordam, um anjo nos acorda, e somos avisados: não adianta mais olhar para trás. É ir em frente ou nada." Essa citação da Martha Medeiros pulou em minha mente uns seis minutos atrás enquanto fazia meu copper pelo quarteirão. E não poderia estar mais certa. Eu precisava ir em frente ou nada. Nunca fui do tipo de pessoa que anda para trás, e não seria agora que começaria tal tradição. Não sou de recuar então o "ou nada" estava totalmente fora de questão. E foi por isso que decidi que voltaria ao parque hoje, mas faria diferente. Faria do meu jeito, no controle.

Terminei meu copper e resolvi parar em uma padaria qualquer para pegar pão e um latte para poder tomar o meu café da manhã tranquila em casa, e depois, só depois, iria ao parque. Se Soraya já não estivesse mais lá, paciência.

Mas parece que a vida gostou de me pregar peças, ao sair da cafeteira eu esbarrei em ninguém mais ninguém menos que a própria. Meu latte acabou espalhado por toda a sua blusa branca que estampava a frase "I'm gonna kiss your girl" o que me fez rir.

ㅡ Sério? Você está rindo? - Ela parecia brava enquanto tentava diminuir o estrago. - Ótimo jeito de me dar bom dia, Simone.

ㅡ Desculpa, mil desculpas. - Tento conter o riso. - Está transparente. - Falo e não me aguento, caio na gargalhada novamente.

ㅡ Você está achando graça? Como vou entrar na cafeteria agora?

ㅡ Tenho certeza que o atendente vai gostar do seu sutiã de... isso é renda? - Digo com uma cara sugestiva. - Pode até conseguir um desconto. - Eu realmente estava me divertindo com a situação e ela bufa. - Eu até te ofereceria o meu café, mas ele está todo na sua blusa, isso pode ser classificado como se eu já tivesse feito, certo?.

ㅡ Meu Deus, as pessoas estão olhando para os meus peitos. - Ela diz tentado, sem sorte, os cobrir com os braços. Ok vida, se você quer me pregar peças eu vou tirar o melhor proveito disso.

ㅡ Toma. - Tiro o casaco de ginástica da minha cintura e entrego pra ela. - Coloca por cima, eu moro aqui perto, vamos até lá e eu te dou uma blusa para você vestir.

ㅡ Não vou para o seu apartamento com você!

ㅡ Vamos lá, é a minha forma de pedir desculpa.

ㅡ Você podia começar a usar a palavra "desculpa". - Respiro fundo.

ㅡ Ok. Desculpas. Satisfeita? - Ela assente. - Vem, vamos tirar essa roupa. - Ela me olha com olhos curiosos. - Ei, sem duplos sentidos!

[***]

Larguei a chave no criado mudo perto da porta quando entramos nos meu apartamento. Ela logo começa a olhar para tudo, curiosa e como olhar atento.

ㅡ Fica aqui, vou pegar uma blusa pra você. Pode sentar se quiser, só tenta não manchar meu sofá.

ㅡ Vou esfregar a minha camiseta nele. - Ela diz revirando os olhos e eu só sigo o caminho para o quarto, pego uma camiseta e volto para a sala. Paro ao vê-la admirar a minha estante de livros. Limpo a garganta e ela se vira ainda passando dois de seus dedos neles.

ㅡ Porque tantos livros?

ㅡ Eu trabalho como editora.

ㅡ Hum.

ㅡ Aqui. - Lhe estendo a camiseta.

ㅡ Será que eu posso usar o seu banheiro? Preciso tentar pelo menos tirar o melado do latte do meu corpo.

ㅡ Quer tomar banho na minha casa? Pra quem estava com medo que eu abusasse de você, já está bem solta Soraya. - Ela revira os olhos novamente.

ㅡ Não vou tomar banho, só quero usar a pia.

ㅡ Segunda porta no fim do corredor. Tem toalha no armário se precisar. - Digo enquanto ela passa por mim.

Ela levou uns dez minutos no banheiro. Estava começando a achar que tinha se afogado na pia, então resolvi sentar no sofá. Ela logo saiu, parando na frente do sofá entre a cozinha e eu. Não me arrependi da decisão de dar a ela uma regata de ginástica.

ㅡ Tá um pouco apertada. - Ela diz puxando o tecido de blusa que se ajeita em seu corpo novamente. - Mas serve até eu voltar para casa. - Ela diz mexendo o ombro e fazendo uma careta - Como você consegue correr com isso? É tão apertado. - Sorrio.

É bom para aprender a manter o ritmo da respiração.

ㅡ Olha, você é realmente fitness "manter o ritmo da respiração". - Ela repete as minhas palavras, zombando de mim na cara de pau.

ㅡ Eu lhe emprestei uma blusa e você está zombando de mim?

ㅡ Você me emprestou a blusa porque jogou café em mim, o que era o mínimo que você poderia ter feito.

ㅡ Primeiro, era latte. - Ela revirou os olhos novamente. - E segundo, o mínimo que eu poderia ter feito era te deixar ir pra casa. E no máximo, bem, vamos apenas dizer que eu poderia ter deixado outra coisa molhada. - Ela fecha os olhos e dá uma leve risada.

ㅡ Você tem um copo de água?

ㅡ Copo em cima da pia e água na porta da geladeira. - Ela me olha confusa. - Pode pegar. - Ela começa a caminhar até a cozinha.

ㅡ Alguém já lhe disse que você trata bem mal seus convidados? - Solto uma gargalhada, então reparo nela parada encarando a porta da minha geladeira. Droga, seu número ainda estava lá. - Isso é uma rotina? - Ela me olha com o copo de água entre suas duas mão.

ㅡ Sim.

ㅡ Você tem toda a sua vida cronometrada assim?

ㅡ Aham. - Ela observa o papel novamente.

ㅡ Deve ser tão chato. - Acho que ela fala mais alto do que queria.

ㅡ O que deve ser chato? - Ela se surpreende a minha pergunta, acho que não era para eu ter ouvido seu comentário, mas agora já era tarde.

ㅡ Saber o que vai fazer a cada segundo de cada dia da sua vida. Sem surpresas. Sem novidades. Sem algo espontâneo, sabe?. - Ela se curva apoiando o antebraço e o copo ainda entre as suas mãos na bancada que separa a cozinha da sala. - Você não cansa do mesmo?

ㅡ Não. Isso é se manter no controle.

ㅡ Você não cansa de estar no controle o tempo todo?

ㅡ Por que cansaria? É a melhor forma de se viver.

ㅡ Desculpa, mas pra mim é a mais chata Sisa. - Ela se vira encarando a geladeira novamente. - Pilates? - Ela muda de assunto percebendo que talvez o clima tenha ficado um pouco pesado. - Você faz Pilates?

ㅡ Faço, porque?

ㅡ Achei que só velhos e atletas em recuperação faziam Pilates.

ㅡ Não, muitos jovens fazem. Ajuda na elasticidade.

ㅡ Hum. Interessante. - Ela levanta as sobrancelhas e volta a olhar a "Rotina de Simone Tebet", inicialmente era só o cronograma, mas Dé insistiu que deveria deixar mais poético e cinematográfico.

ㅡ Ta bom, chega de analisar a minha rotina se não daqui a pouco você decora meus horários e vai começar a me perseguir por ai. - Me levanto e ando até a cozinha.

ㅡ Você é muito convencida. - Apoio as costas na geladeira tampando a mesma e ficando de frente para a mulher. - Porque meu número está colado na sua geladeira? - Ela toma um gole da água inocentemente, sem tirar os olhos de mim o deixando na bancada em seguida. Droga, achei que ela não havia reparado.

ㅡ Que número? - Tento disfarçar.

ㅡ Esse. - Ela se aproximou, bem devagar colocando a ponta do indicador no pedaço do papel que aparecia atrás do meu ombro. Soraya olhava nos meu olhos intensamente, sem nem piscar. Malditos olhos. - Pendurou na geladeira pra não perder? - Ela diz com um risinho rouco e baixo no final da frase. Ela estava muito perto. Perto demais.

ㅡ T-talvez. - Talvez? - Porra Simone, isso lá é resposta?

ㅡ E por que não ligou então? - Ela diz se aproximando mais. Sinto sua coxa encostar na minha e sua respiração no meu rosto. Fecho os olhos por um momento enquanto minha boca saliva só com essa mísera proximidade. Preciso retomar o controle. - Ou não mandou uma mensagem? - Ela sussurra perto dos meus lábios, sinto a superfície tocando de leve os dela.

ㅡ Acho que a visita acabou. - Digo antes que ela coloque no meu cabelo a mão que já estava no caminho para o mesmo e me afasto dela.

ㅡ Ah, Jura Simone? Você não me trouxe até aqui só para me emprestar uma blusa. - Ela se vira, me olhando caminhar para a sala.

ㅡ Eu nem sei porque eu te trouxe aqui. - Passo a mão pelos meus cabelos. Mentira, eu sabia porque a trouxe aqui e agora estava amarelando.

ㅡ Você sabe porque me trouxe aqui. - Ela diz se aproximando. - Você ia fingir que nunca havia me visto antes de esbarrar em mim, me emprestar uma blusa apertada que você mesma faria questão de tirar, para então me arrastar para o quarto. É por isso que você me trouxe. - Ela diz cada sentença devagar. Arrastando cada palavra com a sua voz rouca tornando tudo mais sexy ainda. - Então não seja covarde e faça. Seja espontânea Simone, esquece a tabela. - Respiro fundo ao sentir ela perto novamente. Sua respiração batendo na minha nuca graças ao maldito coque que eu estava usando.

ㅡ É melhor você ir embora. - Ela solta o ar insatisfeita e se afasta. Me viro para olha-lá.

ㅡ É melhor você coloca-las perto do Sol. - Ela diz apontando para as flores em cima da minha mesa. Junta sua pequena mochila de sempre perto da porta e sai pela mesma sem ao menos dizer tchau ou me olhar.

Meu corpo queimava, meu joelhos fraquejavam e eu estava sentindo calor em todas as partes possíveis do meu corpo. Caminhei até o banheiro e lavel o rosto.

ㅡ Droga Simone, você tinha que ser covarde logo agora? - Falo com meu reflexo no espelho enquanto a água pinga do meu rosto e a torneira joga água gelada em minhas mão.

Ela estava aqui, ela pediu que eu fizesse. Ela estava aqui e queria provavelmente tanto quando eu. Teria sido tão fácil. Eu poderia ter feito, acabado com toda essa vontade louca que eu tenho por ela e encerrado esse assunto. Faríamos sexo hoje e amanhã seria outro dia. Sem mais desejos, sem mais vontades. Seria o fim para os pensamentos filosóficos e pecaminosos sobre ela invadindo a minha cabeça nos horários mais inoportunos do meu dia e noite.

Mas algo me fez arregar. Na verdade não era um mistério, eu sei exatamente porque não fui em frente. Se só com essa mostra grátis de aproximação eu já havia me sentido assim fraca e perdida, imagina com mais, eu não saberia lidar com isso. A verdade é que eu sei que não conseguiria ir para cama com a ela apenas uma vez, eu iria querer mais e mais e mais vezes, ia querer mais dela.

Todo mundo tem aquele desejo de encontrar uma pessoa que vai lhe tirar o chão com só uma palavra e lhe deixar excitada com apenas um olhar, porém ninguém acredita que essa pessoa seja real ou que vá encontra-la um dia, e a verdade é que na maioria das vezes ninguém encontra.

Eu não sou diferente, também tenho esse desejo, mas diferença é que encontrei essa pessoa. Soraya me faz sentir assim, o que é loucura já que se for pensar bem, mal a conheço. Soraya tem aquela placa vermelha com luzes piscando em forma de caveira alertando perigo pendurada no pescoco. E eu vejo a placa.

Eu viciaria em Soraya.

Vícios são coisas que controlam você e não o contrário. Eu controlo a minha vida e eu não posso me dar ao luxo de ter um vicio. Não posso transformar Soraya em minha nicotina particular.

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