Sangue Leal

By AmyDuartte

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Agnes Williams é uma garota comum, que vive uma vida comum como qualquer outra adolescente da sua idade. Isso... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20

Capítulo 17

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By AmyDuartte


Eu olhava para os meus pés enquanto segurava uma risada ao escutar Clair resmungar sobre o gosto azedo do suco de laranja que tinham trago para ela. Visto as caras e bocas que fizera ao ingerir a bebida, devia ter só água e laranja no copo.

Um homem alto, de pele e cabelos claros, que julguei ser Ricky, se aproximou de mim.

— Você deve ser a famosa Agnes, a filha perdida de Vicenti. — Ele me disse. Ricky me analisou dos pés a cabeça.  — Você é mais nova do que eu imaginei.

— E você é o Ricky, certo? — Indaguei.

Ele concordou.

— Mark me informou sobre seu infortúnio. Sinto muito pelo que está passando. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para ajudá-la. — Sua mão repousou em meu ombro, em um gesto compassivo.

— Eu agradeço, senhor. — Respondi, meio sem jeito.

— Oh, não. Me chame apenas de Ricky, por favor. Não sou mais tão jovem, mas nunca me casei. Sinto-me estranho com esse tratamento. — Ele sorriu e pés de galinha apareceram ao redor dos seus olhos.

Ricky devia ter seus cinquenta anos. A sua forma de andar e de se portar me lembrava aqueles cavaleiros britânicos da era medieval. Até mesmo sua aparência, com seus traços robustos, contribuía para a minha mente criar a sua imagem vestido em uma armadura prateada com uma cruz vermelha estampada em seu peitoral.

A reunião já devia ter começado há cinco minutos, mas estávamos esperando o líder da zona Oeste dar as caras. Ao que tudo indica, ele havia tido um imprevisto.

Inclinei-me para olhar para Mark, que estava do outro lado da sala. Ele conversava com os Harrisons sobre algo da operação "Manter a cabeça da Agnes no lugar".

— Gosto da ideia de que Mark tem alguém agora. — Ricky retomou a fala. — Ele merece isso.

Não sabia o que responder, então apenas sorri para ele. Era esquisito para mim imaginar que Mark e eu estávamos namorando agora, e falar isso em voz alta era mais estranho ainda. Eu ficava sem jeito só de me imaginar contando isso para Ricky.

— Sabe, — Ricky continuou. Seu olhar para Mark era afetuoso. — Eu o considero um filho. Mark ficou muito só quando seu pai morreu, mas eu o impedi de se isolar por completo. — Ricky olhou para o relógio em seu pulso por um momento, e continuou. — Ele nunca foi próximo de Clair, como você já deve ter percebido.

— Clair também não ajuda muito. — Falei. 

Ricky balançou a cabeça.

 — Ela é uma pessoa difícil, sem dúvidas, mas ama o filho. Clair pode ser dura às vezes, mas faz o que julga ser melhor para Mark.

Olhei para Clair. Ela bebia seu suco de laranja enquanto estudava concentrada alguns papéis em sua mesa. Por um momento, vi uma mulher frágil e solitária sentada ali naquela cadeira.

 — Eu me orgulho de quem Mark se tornou agora. —  Rick continuou. — Um homem maduro e responsável.

Nós dois analisávamos Mark, que se sentara em uma poltrona do outro lado da sala. Mark, como que usando seu sexto sentido, me flagrou olhando para ele e os cantos da sua boca se ergueram levemente. Nesse momento, um homem em um paletó azul-marinho, com cabelos alvos perfeitamente penteados para trás, entrou no escritório apressado.

— Desculpem o atraso. — Ele disse, colocando sua gravata vermelha no lugar. Uma veia latejava de sua testa e o estresse pairava em sua figura.

— O que houve, Bill? — Clair quis saber. Ela havia abandonado os papéis e agora seus dedos tamborilavam na sua mesa de madeira.

— Tivemos um contratempo na entrada do setor. — Bill suspirou e a tensão em seus ombros diminuiu um pouco. — Margareth e suas burocracias. — Finalizou.

Vi Clair revirar os olhos em seu lugar.

Bill olhou ao redor e parou em mim. Ele me avaliou por um minuto antes de me dizer:

— Agnes, minha querida, você me lembra um pouco o seu pai. Espero que isso se limite somente a aparência.

Tive vontade de socá-lo, mas resolvi não fazer nada. Mark apareceu ao meu lado dois segundos depois e, como se estivesse lendo minha mente, segurou minha mão e pressionou levemente, procurando me tranquilizar.

Olhei para o lado e Ricky me deu uma piscadela.

— Bem, vamos iniciar.  — Clair chamou a atenção de todos para si. Ela abriu um notebook na mesa e virou-o, de forma que visualizássemos a sua tela luminosa, que estava divida em oito partes iguais. Em cada quadro havia um ângulo diferente de uma rua familiar. — Mark, por favor, inicie.

Mark deu um passo a frente, soltando minha mão, e apontou para a tela.

— Borges conseguiu acesso a algumas câmeras do lado de fora do prédio da gangue e temos estudado a sua movimentação ao longo desses últimos dias. — Observei a filmagem apenas por um segundo e desviei o olhar. Não queria disparar o gatilho em minha mente. — Também enviamos alguns agentes para vigiar o local vinte e quatro horas por dia e a informação nos passada é de que Leon não saiu do prédio até agora. — Mark gesticulava a medida que falava. — Temos estudado o melhor momento para entrarmos em ação e descobrimos um furo na segurança deles.

— Que seria? — Bill perguntou, cruzando as mãos em seu colo.

— Há alguns dias Leon solicitou recrutas de outras facções. Sempre que chegam, são revistados no portão principal e nesse tempo o portão leste fica quase que abandonado. — Mark apontava para algum ponto da tela e eu me mantinha focada numa manchinha cinza na parede branca ao meu lado. — O plano é esse: — Ele continuou. — Invadimos o prédio e, enquanto Borges e os garotos encontram a central de segurança, Tom e eu vamos atrás de Leon. Nesse tempo, vocês aguardam Borges abrir os portões para entrarem em ação, e aí fique a vontade, Ricky, para fazer destruição em massa.— A mão de Mark foi direcionada para o homem ao meu lado, que ergueu dois dedos em concordância com a maior serenidade, como se estivesse acostumado a ouvir aquilo com certa frequência.

— Você sabe aonde Leon está? — Bill fez a pergunta. — O prédio é grande, a procura pode durar uma eternidade e nesse tempo perdemos nossos soldados.

— Enviei Hari para se infiltrar entre eles. — Clair foi quem respondeu dessa vez. — Ele está entre os homens de baixo escalão da gangue, mas conseguiu informações relevantes para nós. Sabemos onde Leon vai estar.

Bill balançou a cabeça.

Eu estava ouvindo toda a conversa sem abrir a boca. Mark era bem esperto para esconder de Clair e de Bill um pequeno detalhe, mas que colocaria a vida de todos ali em risco. Eu sabia que Tom o havia contado sobre isso e temia como aquilo acabaria se ocultássemos essa informação. Mark estava jogando com a sorte e, propositadamente, estava evitando falar de algo importante somente para me proteger. Mas eu não o deixaria mais dá prosseguimento à isso.

— E quanto as portas? — Perguntei, ainda olhando fixo para a mancha escura na parede. — O que pretende fazer para passar por elas?

Olhei para Mark, havia um misto de decepção e tensão em seu rosto. Ele se sentia traído, como se eu tivesse o dedurado, o que, de certa forma, fiz.

— Como assim as portas? — Clair olhou para o filho.

Mark balançou a cabeça para mim, mas eu não iria recuar.

— Não há dificuldade em passar pelo portão de entrada, se você conseguir entrar, só precisa se preocupar com uns poucos vigias. Mas para entrar efetivamente no prédio vai precisar passar pelas portas e Leon reforçou bem a sua segurança. — Eu disse. Me lembrava de quando Tom fora me salvar, quase ficávamos presos na porta de saída. — As portas são feitas de chumbo e reforçadas com magia, não dá pra passar sem que nos liberem passagem. — Finalizei.

Os olhares de interrogação foram para Mark.

— E como planejou passar por isso, Mark? — Ricky ergueu uma sobrancelha.

— Daremos um jeito. Forçar algum guarda a nos liberar passagem não é difícil. — Mark argumentou, tentando transparecer convicção. — Se fomos rápidos o suficiente, até notarem alguns guardas mortos Borges já terá aberto os portões.

— Se querem se infiltrar sem serem notados, não podem sair matando guardas por aí — Rebati.

Mark travara o maxilar, sua boca era uma linha. Ele estava furioso comigo e nem mesmo me encarava.

— É muito arriscado. — Clair se manifestou. 

— Não se eu for junto. — Disse, e os olhos arregalados de todos, até mesmo de Mark, se voltaram para mim.

— Você não vai, Agnes. Não dessa vez. — Mark me proibiu entredentes. Havia firmeza em sua voz.

— Você não pode me impedir. — Retruquei, empinando o nariz. — Todos estarão em risco por minha causa, não espere que eu fique aqui, protegida, enquanto vocês morrem nas mãos de Leon. — Cruzei os braços e me mantive firme.

Eu estava convicta de minha decisão. Ninguém me convenceria do contrário. Eu não carregaria o fardo da morte de ninguém. Não mais.

— Vocês precisam de mim. — Continuei, insistente, mantendo a postura. — Qualquer problema que tivermos eu posso facilmente resolvê-lo. Fazer alguém liberar passagem para nós não vai ser difícil.

Todos estavam sérios. Com exceção de Ricky, que sorria para mim com um copo de bebida na mão.

— Agnes tem razão. — Comentou Bill.

— Não, isso não vai acontecer. — Mark rosnou. Ele havia abaixado o volume da sua voz em um nível grave, quase como uma ameaça. Mark olhou para mim e faíscas saiam de seus olhos.  — Como vamos protegê-la do monstro a levando direto para a sua toca?

— E como você vai me proteger se morrer pela sua teimosia? — Devolvi, com o mesmo argumento que ele havia usado contra mim quando descobriu que eu tinha ido sozinha ao bar do Marcus.

O silêncio dominou durante algum tempo, até que Ricky resolveu abrir a boca:

— Bom, então está resolvido. Agnes vai brincar com algumas cabecinhas amanhã. — Ricky ergueu o copo de bebida cheio de gelo, como se estivesse brindando com alguém invisível.

Mark saiu da sala em passos largos, sem dizer mais nada.

— Você sabe como irritar um homem. — Ricky me falou baixinho.

Passei a tarde em meu quarto e Mark não apareceu. Meu estômago revirava em ansiedade. Voltar ao lugar aonde Leon havia me mantido em cativeiro não fazia sentido para o meu cérebro. Mas eu não podia ficar, seria pior. Mark e os outros poderiam morrer sem a minha ajuda e isso seria impossível de superar. 

Leon me queria morta e eu estava facilitando para ele o cumprimento do seu desejo. Eu iria entrar na toca do monstro de propósito. Não fazia ideia de onde havia tirado tanta coragem para voltar aquele prédio, mas eu agradecia por isso.

Nocturne op.9 ressoou em meu celular e eu atendi.

— Mamãe?

— Está tudo bem, querida?  Você disse que queria falar comigo.

A voz doce de minha mãe me trouxe um sentimento de paz em meio a guerra. Conversamos por quase uma hora e ri de suas histórias de viajem. Ela me contara sobre se sentir importante por ficar no melhor hotel da cidade e de como estava se divertindo, já que tinha pouco trabalho e muito tempo livre. 

Segundo mamãe, a sua viagem a negócios parecia férias e eu tinha certeza de que essa fora a intenção do Sr. Collins ao convidá-la. Ouvi-la foi bom para acalmar os meus nervos. Se eu não voltasse da operação, ao menos haveria me despedido dela.

Resolvi tomar um banho e me peguei olhando para meu reflexo no espelho quando saía do banheiro. Havia se passado poucos dias desde que eu fora resgatada, mas o meu corpo já demonstrava ter tido uma melhora considerável. Já tinha engordado o que eu havia perdido e minhas feridas já estavam quase que saradas por completo, com exceção do meu ombro que ainda demoraria um pouco mais para ficar são. Isso tudo eu devia aos remédios, quase que milagrosos, da Organização. Cogitei se os remedios possuíam algum tipo de magia, assim como as portas do prédio da gangue tinham.

Se existia alguma coisa, eu estava certa de que a familia de Michael tinha algo a ver com isso. Poder criar objetos mágicos era a habilidade de sua casa, e, para mim, esse poderia ser o dom mais impressionante e poderoso, ainda que muito perigoso. Por sorte, de acordo com que Mark me dissera, eram raros os artesãos. A cada cinco gerações nasce um Artesão, Bernard também falara isso no dia em que roubamos Aleteia. E ele havia sido o irmão azarado, o que nascera sem habilidades e a quem o pai desprezava.

Obriguei-me a me levantar e ir em busca de Mark. Mesmo ele estando chateado comigo, eu precisava treinar as minhas habilidades uma última vez antes que saíssemos em Missão. Queria me sentir mais confiante quando tivesse que usá-las. 

Enviei uma mensagem para Mark, mas não obtive retorno. Eu sabia que ele ainda estava chateado comigo. Mark queria me proteger para que, algo como o meu sequestro, não acontecesse novamente. Ele ainda se culpava por aquilo e faria de tudo para que eu não me aproximasse de Leon outra vez. Mas ele tinha que compreender o meu lado. Eu não queria o peso da morte de ninguém sobre minhas costas, a de Thomas já me atormentava o suficiente, mesmo que em circunstâncias necessária. Thomas era uma pessoa má, mas ainda assim, não queria que tivesse sido eu a dar um fim em sua vida. 

Cheguei a arena e não avistei Mark ou Richard, então fui para o andar de cima, em direção a sala de treinamento. Procurei pelo visor e encontrei Tom disparando socos contra um saco de pancada vermelho. 

— Tom. — Chamei-o depois que entrei. Ele me olhou por cima do ombro e acenou com a cabeça.

— Está perdida? Nunca a vejo por aqui. — Ele voltou a desferir golpes no saco de pancadas, e eu sentia que a qualquer hora ele iria fazer um buraco.

— Não. Estou procurando Mark. Você o viu? — Perguntei.

— Não, mas pelo jeito que saiu da sala mais cedo, deve estar fora do prédio. — Tom me respondeu.

Suspirei.

— Você ao menos viu Richard? Preciso treinar minhas habilidades para amanhã.  

Tom negou com cabeça e respingos de suor caíram sobre mim. Ele parou o que estava fazendo e virou-se para mim.

— Se você quiser podemos treinar algo diferente. Você terá que aprender a lutar uma hora ou outra,  porque não antecipamos um pouco? — Tom cruzou os braços no peito, esperando a minha resposta. 

Eu queria treinar a minha habilidade no momento, mas eu não havia encontrado nem Mark nem Richard. Não teria mais nada para fazer caso recusasse a sua oferta, por isso eu aceitei.

Tom iniciou me explicando a postura que devo ter em uma luta corporal. Pé esquerdo à frente e pé direito atrás. A maior parte do peso deve ser posta sobre o pé traseiro. Os olhos devem estar sempre fixos em meu oponente e as mãos levantadas na altura da cabeça, de forma que eu proteja as áreas mais vulneráveis do meu corpo. Decorar isso tudo era complicado, mas ter que por em ação era mais difícil ainda. Eu não tinha coordenação. Se eu focasse em meus pés, minhas mãos esqueciam o que tinham que fazer. Da mesma forma, se eu focasse em minhas mãos, os meus pés se perdiam.

Tom ficou a minha frente, atuando como meu oponente, e fingiu deferir alguns golpes contra mim. Abaixei a guarda diversas vezes, e sempre ele me repreendia.

— Você precisa manter a postura correta ou seu oponente terá grande vantagem sobre si.

Concentrei-me, mas parecia um pato desastrado.

Tom também me fez treinar alguns ataques, mesmo eu já estando morta de cansada. Tom era um professor rigoroso, devia ser por isso que ele comandava as principais tropas da Organização. Um líder esforçado e sério. Não tinha como dar errado.

— Se concentre no que vai fazer e ataque, Agnes. — Tom me falou uma hora.

Jab. Direta. Jab. Direta. Jab. Direta. Eu não podia esquecer.

— E não se esqueça da guarda. — Ele me alertou, depois de disparar um golpe contra meu rosto, parando a centímetros da minha bochecha. Se ele tivesse a intenção, teria me acertado em cheio.

Jab. Direta. Guarda. Jab. Direta. Guarda. Jab. Direta. Guarda.

Tom me deu um golpe e eu caí de costas no tatame.

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