Depois da Meia-Noite (Bubblin...

By TersyGabrielle

13.5K 1.3K 2.3K

Marceline e Bonnibel foram um casal durante o ensino médio. E como todo casal adolescente, estavam certas de... More

Prólogo
Capítulo 1 - Tudo ou Nada
Capítulo 2 - O Baixo e o Sangue
Capítulo 3 - Os Motivos Pelos Quais Eu Deveria Odiar Você
Capítulo 4 - O Céu Nos Olhos Dela
Capítulo 5 - Canela
Capítulo 6 - Espaços Vazios
Capítulo 7 - Deixe Para Lá
Capítulo 8 - Quando Agosto Acabar
Capítulo 9 - Bonnibel, A Sensível
Capítulo 10 - Uma Garota Não Tão Boa
Capítulo 11 - Andrea
Capítulo 12 - O Começo do Fim
Capítulo 13 - O Lugar Que Você Deixou Vazio
Capítulo 15 - O Horizonte Tenta, Mas Não Se Compara
Capítulo 16 - Rosas Pretas e Cor-de-rosa
Capítulo 17 - Um Vislumbre de Nós
Capítulo 18 - Sangue & Lágrimas Azuis
Capítulo 19 - Cartão Postal
Capítulo 20 - Um Passo Atrás
Capítulo 21 - Papai, Cadê Sua Dignidade?
Capítulo 22 - Chuva a Meia-Noite
Epílogo
Notas Finais e Agradecimentos.

Capítulo 14 - Depois Dela, É Minha Vez

612 51 134
By TersyGabrielle

Primeiramente, eu queria agradecer a Taylor Swift por simplesmente ter lançado a música tema de Depois da Meia Noite, acabou de resolver um buraco que eu tinha no meu plot.

Olá meus amorzinhos, tudo bem? Eu espero que sim <3

Vamos pro capítulo de hoje (que provavelmente é um dos meus favoritos sksksks)

Boa leitura!
~•~•~•~•~•~•~•~•~♪~•~•~•~•~•~•~•~•~•

Go ahead and put your hands on her lower back
Get all your possession graved on her neck
But I hope, baby, that you're aware
I would've been better at being yours than she could ever have

- Faixa 7 - After Her, My Turn
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Naquela noite, a reunião delas começou um pouco diferente.

Assim que abriu a porta, Marceline sentiu a mão de Bonnibel em volta do pescoço.

Bem, se ela queria saber se tinha irritado Bonnibel, ali estava sua resposta.

Tempo depois, Marceline estava deitada na cama, ainda nua, lutando contra os olhos que insistiam em se fechar.

Bonnibel estava sentada de camiseta e calcinha em uma poltrona que havia trazido para perto da cama, um cinzeiro na mesa de cabeceira, ao lado do celular, o caderno no colo. Deu um trago no cigarro e fez um gesto com a mão, mandando Marceline começar.

— Na moral, Bonnie?

— Vamos, Marceline. Eu tenho trabalho pra fazer. Comece a falar.

— Eu tô com sono.

— Eu pareço alguém que se importa com isso agora?

— Bonnie!

— Querida, você não vai dormir.

Então ela não tinha terminado ainda. Ainda estava brava, e aquilo era parte do castigo.

— Não foi isso que eu pedi.

— Se fosse pra você gostar, não seria punição. Anda, Marceline, eu preciso de no mínimo duas horas de áudio.

Marceline bufou, mas deu aquela olhada fixa para o teto, com aquela expressão que fazia quando tentava pensar em um tópico relevante para contar.

De repente, teve um estalo. Sabia exatamente porque Bonnibel tinha ficado tão mais irritada do que o comum.

— Você lembra de quando o Arctic Monkeys lançou o AM?

Bonnibel levantou os olhos, encarando Marceline por cima da armação dos óculos. Depois voltou a olhar para o próprio caderno. Tinha a mandíbula travada.

— Aham.

— A gente surtou com ele, cara.

— É.

— Foi, tipo, nosso álbum favorito do ano. Junto com o Self-Titled do Paramore.

— Pois é.

— E você tá mordida de ódio porque eu ousei cantar uma música dele pra outra pessoa. Pra um cara hétero.

Bonnibel voltou a encarar. Marceline estava com aquele sorrisinho de novo.

— Marcy, você sabe que mais um pouquinho e você vai acabar com um hematoma de verdade, não sabe?

— Isso foi uma ameaça?

— Isso foi um '''não'''.

Marceline revirou os olhos.

— Sem graça.

— Inconsequente.

E pela primeira vez desde que tinha chegado, Bonnibel deixou um daqueles seus sorrisos espertos se abrir, e Marceline se odiou quando percebeu o quanto estava ansiando por ele.

— Sabe uma coisa que eu odeio adorar quando penso no começo do ano letivo de 2013/2014? - perguntou Marceline, se virando de lado na cama para poder olhar para ela.

— O quê?

— A gente no seu conversível, cabelo rosa voando para todos os lados, você de óculos escuros e cantando One For The Road a plenos pulmões.

Bonnibel puxou as penas para perto, sem saber para onde olhar, sentindo o rosto cada vez mais quente e mais vermelho.

— Como diabos eu escrevo sobre isso, Marceline?

— Não sei. Será que só se colocar em terceira pessoa cola?

Você conseguiria falar disso em terceira pessoa?

— Eu escrevi Good Little Girl, não escrevi?

Bonnibel quis apenas revirar os olhos, mas acabou emendando uma risada sem querer, fazendo Marceline rir junto com ela.

— Essa é a parte fácil, Abadeer. Consegue fazer isso com o resto?

A expressão de Marceline foi aos poucos caindo em uma feição mais séria. Precisava pensar nisso.

Porque o seu tempo de processo criativo estava acabando, e o que era pra ser um álbum sobre a dor do abandono, sobre a solidão e sobre a casca que ela havia criado sobre si mesma estava lentamente mudando. Tinha uma coleção inteira de músicas que ela não sabia se deveriam entrar para o projeto final ou não. E que, se não entrassem, ela não sabia pelo o que substituir.

Se não fizesse nada, não seria mais o que ela queria que aquele álbum fosse no início.

Seria um álbum sobre Bonnibel.

E talvez, lá no fundo, ela não quisesse fazer nada.

— Bonnie, posso te pedir uma coisa?

Sky In Her Eyes, When August Ends, The Begining of The End....

Talvez Marceline não quisesse esconder aquelas músicas com todas as outras que ela tocava só para si mesma. Mas talvez também não quisesse lidar com as consequências de colocá-las no mundo.

— Se, depois desse livro, você seguir seu caminho outra vez, e se você ouvir esse álbum, pode só fingir que não ouviu e voltar para o que quer que esteja acontecendo na sua vida?

Bonnibel arqueou a sobrancelha.

— O que é que você anda compondo, Marcy?

O brilho agitado nos olhos dela.

Por que é que Bonnibel tinha que ser tão pequena e fazer Marceline ter vontade de escondê-la do resto do mundo?

— Só promete que vai ignorar o que ouvir.

— Marceline -

— Se eu ignorei o último conto que você postou no seu blog antes publicar o primeiro livro, você pode fazer isso.

A caneta de Bonnibel caiu e ela não se deu ao trabalho de pegar.

— Você sabe conseguir o que quer, né, Abadeer?

— As vezes. Mas só quando não é crucial.

Bonnibel engoliu em seco.

— Só quando não é sobre você.

— E por que ainda está tentando?

— Não estou. É pro livro. Vou pelo menos fazer umas dezenas de milhares de dólares com essa merda toda.

Dessa vez, Bonnibel conseguiu pegar o tom brincalhão.

— Bem, mas eu também vou.

— Droga. Viu, nunca consigo o que eu quero quando se trata de você!

Bonnibel começou a rir, e Marceline ficou aliviada por cortar o clima que tinha começado a pesar outra vez.

Bonnibel pegou sua caneta e voltou a fazer anotações, até ser arrebatada por uma memória muito específica, mas que chegara na melhor hora.

Se Marceline se sentia confortável para cutucar com passado, nada mais justo do que ela fazer o mesmo.

— Me lembrei de uma coisa.

— O quê?

— Você lembra da Emilly? Emilly Grandt?

A feição de Marceline foi de descontraída para amarga em questão de segundos, e Bonnibel já estava amando aquilo.

— Ah, não.

— O que foi? Vocês eram colegas. Ela chegou a te ajudar com umas gravações, não foi?

— Bonnie....

— E ela beijava bem pra caramba.

Marceline se limitou a bufar e virar de costas pra ela.

— Marcy!

— Vamos mudar de assunto.

— Não.

— O livro é meu!

— Mas quem está escrevendo sou eu. Vamos lá, considerações sobre Emilly Grandt?

— Uma tremenda de uma vagabunda!

Bonnibel riu, dessa vez uma dessas gargalhadas que vem do peito. Estava adorando isso.

Já que Marceline queria tanto revisitar o passado, por que não revisitar a garota que teve Bonnibel antes dela?

~•~•♪•~•~

Em qualquer outro cenário, Marceline teria gostado dela. Era engraçada, esperta, entendia um bom tanto sobre música e mandava bem na bateria.

Mas Marceline a detestava justamente porque Bonnibel parecia adorar todas essas coisas.

— Que bom que vocês vieram!

Bonnibel insistiu que Marceline fosse com ela naquela maldita festa. Emilly tinha sido tão legal de convidar, mas ambas sabiam que Bonnibel não sobreviveria a balbúrdia de uma festa de ensino médio sozinha. E então Marceline foi.

E, naquela noite, se arrependeu amargamente por ter apresentado as duas.

Emilly era uma das pessoas do grupinho de alternativos com quem Marceline andava. Tinha uma mecha verde no cabelo e um piercing no septo, e uma labiazinha furada que dava um jeito de dizer a coisa certa para fazer uma garota se sentir meio poderosa ao lado dela.

Bem, com a Bonnie estava funcionando.

Àquela altura do campeonato, Marceline já estava começando a perceber que gostava mais de Bonnibel do que gostaria de admitir. Mais do que o necessário para só ficar com ela de vez em quando. E aí morava o problema: como não queria admitir, também não podia reclamar que Bonnibel não fosse exclusiva.

E ela poderia ser. Mas Marceline era uma das poucas pessoas (se não a única) que a intimidava. Bonnie não era uma pessoa de filtros. Na maior parte do tempo, não ligava de falar sem pensar. Não era a pessoa mais dada a todas as minúsculas regras sociais sobre qualquer tipo de relacionamento.

Mas se importava quando era com Marceline, porque afastar a garota era um risco que ela não queria correr de jeito nenhum. Não ia propor algo sério entre as duas e correr o risco de deixar as coisas constrangedoras.

E enquanto aquela festa na casa de Emilly acontecia, nenhuma das duas quis pensar muito nisso, porque era para ser uma noite divertida. Apenas jovens sendo jovens. Mas só Bonnibel conseguiu.

Marceline estava até feliz quando entrou na cozinha para encher seu copo com o ponche (muito provavelmente já batizado àquele ponto) quando viu a única coisa que não queria ver.

Emilly sentada no balcão da cozinha, as pernas enroladas na cintura de Bonnibel, essa com as mão firmes na base das costas da menina, a puxando mais para perto e a beijando com tanta vontade que por um instante Marceline só conseguiu encarar, hipnotizada.

Algum tempo depois, talvez por sentir a presença da garota, as duas se separaram e a encararam, com certa vergonha.

Marceline só revirou os olhos e saiu andando.

E por mais uns dois meses Marceline evitou a todo custo estar no mesmo ambiente que Emilly, principalmente quando estava com Bonnibel por perto. O que ela só entendeu na fatídica noite em que Marceline decidiu tomar uma atitude.

~•~•♪•~•~

Marceline engoliu aquela noite de trabalho em silêncio e tentou seguir com o seus dias. Mas não podia deixar de se perguntar: quão longe aquela brincadeira ainda iria?

Tinha sido divertido provocar Bonnibel um pouquinho. Talvez tivesse pegado pesado em brincar com uma memória que era tão delas, fazer aquilo no palco e tornar assunto da semana nos Instagrams de fofoca um boato calculado, feito para emanar aquela memória (e talvez ela não quisesse pensar no significado por trás de Bonnibel ainda guardar aquelas lembranças profundamente o bastante para ficar com tanta raiva de Marceline por ousar profaná-las.)

Mas aí Bonnibel provocara de volta, mas com uma situação tão específica, como se ela realmente só quisesse trazer outra vez aquela comichão de ciúmes. Como se a vingança plausível fosse o ciúme.

Como se a raiva de Bonnibel não fosse só por Marceline insistir em falar do ontem nas entrelinhas, como se ela estivesse genuinamente com ciúmes dele.

Talvez fosse hora de parar com a brincadeira. Porque metade do prazo delas tinha passado, e três meses seriam muito pouco para consertar qualquer coisa, e mais do que o suficiente para acabar em tragédia.

E quando Simon e Keila quiseram saber o que diabos tinha acontecido naquele festival em Nashville, Marceline ficou sem saber como explicar sem parecer uma garota do fundamental, puxando briguinhas infantis.

— E onde você esperava chegar com isso, exatamente?

Simon a olhava com uma sobrancelha arqueada, limpando os óculos redondos na barra da camisa.

— Não sei. Irritar ela?

— E por que você a irritaria?

As bochechas de Marceline ficaram quase tão vermelhas quanto seu batom.

— Melhor não entrar nessa toca de coelho, Petrikov—brincou Keila.

— Vai por mim, você não quer saber—emendou Ash.

Marceline se limitou a cortá-los com o olhar.

— Digam o que quiserem, mas escrever essa merda desse livro tem sido bem mais fácil assim.

— Realmente, nada como uma trepada bem-dada pra aliviar a tensão do trabalho—brincou Keila, fazendo Ash explodir em uma gargalhada.

Simon, que estava só metade focado na conversa enquanto respondia a um e-mail em seu notebook, levantou olhar imediatamente, revezando entre os dois jovens se matando de rir e a mulher emburrada que os encarava.

— Marceline, você anda transando com ela!?

— Eu não ando fazendo nada, aconteceu.... Umas vezes.

Umas vezes!? Desde quando eu sou o último a saber dessas coisas?

— Desde quando ela começou a transar com o Ash – respondeu Keila, de imediato.

Simon esfregou as têmporas, de repente arrebatado pela realidade sobre quanto trabalho Marceline lhe dava.

— Isso tem alguma coisa a ver com você não querer me mostrar as últimas músicas que compôs?

Dessa vez, os outros dois também a encararam. Nem sequer sabiam que Marceline tinha escrito mais músicas. Achavam que ela já tinha partido para o processo de produção.

— Simon!

— Marceline, me diz que foi só Good Little Girl—disse Keila, com uma expressão preocupada.

Marceline olhou para ela, para Simon e de volta para ela, sem saber responder.

— Ah, meu Deus - Keila soltou, levando a mão a testa.

— Isso vai ser 2015 todo outra vez, não vai? - perguntou Ash, olhando para o teto, mais como se procurasse ajuda divina do que se falasse diretamente com ela.

— Eu nem sei se vou colocar essa merda no álbum, tá legal? Eu só.... precisava por pra fora. Isso é ridículo. Eu não vou ter uma recaída.

Os três a encararam com suas melhores expressões de deboche.

Marceline, cansada da conversa, simplesmente saiu do escritório de Simon, pisando duro e batendo a porta.

— Espero que estejam todos prontos para a era mais conturbada que já passamos com ela. Quando Bonnibel for embora de novo, isso aqui vai virar o inferno na terra.

Simon e Keila se encararam em silêncio, sem querer aceitar que Simon tinha razão.

Um pouco mais tarde, Ash e Keila a encontraram no telhado do prédio, de braços cruzados, encarando a cidade lá embaixo.

Ash se aproximou, tirou um baseado do bolso e entregou para ela. Ela pegou, respirou fundo e sentou no chão antes de acender, os outros dois a seguindo.

— Está tudo bem, não está? - perguntou Keila, baixinho.

Marceline continuou olhando para o emaranhado de ruas abaixo deles.

— Marcy? - a voz de Ash mal cortou o vento que batia nele.

— Preciso de uma reunião com a equipe de arte.

— Por quê? - soltaram os dois, ao mesmo tempo.

— Vou ter que descartar todas as ideias que tivemos pra capa do álbum.

Ela deu um último trago, segurou, soltou a fumaça e devolveu o baseado para Ash antes de levantar e ir andando para porta de emergência que levava ao telhado.

— E pro título também.

~•~•♪•~•~

— Você parece mais animada hoje.

Íris havia decidido que ela e Bonnibel precisavam de uma noite das garotas. Sair, beber e se divertir entre elas. Dessa vez, Bonnibel tinha aceitado sem reclamar. E realmente parecia empolgada no banco do carona.

— Eu tô precisando mesmo de um descanso.

— Esqueci que você estava trabalhando final de semana passado. Cara, foi tão divertido!

Bonnibel ficou um pouquinho nervosa. Estava começando a se arrepender do que tinha feito na quarta feira. Péssima ideia deixar tão claro o quanto aquilo a tinha afetado.

Não queria aceitar que fosse alguma espécie de ciúmes, mas não tinha uma teoria melhor para defender. E Marceline com certeza já tinha percebido. Droga, se ao menos ela tivesse autocontrole o suficiente para não cair nas armadilhas estúpidas dela, elas nunca teriam chegado a tal ponto.

Tempo depois, ela estava entrando na balada lado de Íris, usando bloqueadores de ruído de encaixe por precaução. Ainda ouvia a música e as pessoas, mas sem ser engolida pela balbúrdia.

As duas se sentaram ao bar, pediram seus drinques e passaram algum tempo comentando fofocas da editora, dando risadas entre si e ficando um pouquinho mais alteradas a cada gole nos drinques fortes que pediram.

Não era incomum para Íris que suas noites fora fossem interrompidas por caras interessados: Bonnibel não era nada como o estereótipo de mulher lésbica que aqueles homens tinham na cabeça, e ela mesma sabia o tipo de fetichista que atraía por ter descendência coreana. As duas já tinham alguns anos de experiência e um repertório bem completo de foras.

Mas vez ou outra uma mulher acertava o palpite sobe Bonnibel, e por um momento ela achou que fosse o caso, quando percebeu uma garota de cabelo preto e curto, cacheado, em um vestido brilhante, observando Bonnibel de longe.

Depois de um tempo, pensou em cutucar Bonnibel e mostrar o que estava acontecendo, mas a garota tinha sido mais rápida.

— Bonnibel? Bonnibel Andrews?

Bonnie virou para a pessoa lhe cutucando o ombro, com a sensação de reconhecer aquela voz. Arregalou os olhos, surpresa.

— Emilly? Emilly! O que faz aqui!?

— Ah, meu Deus! Quanto tempo! Estou passando umas férias, não esperava encontrar você aqui!

As duas se abraçaram, e então Bonnibel a apresentou para Íris.

— Fiquei tão orgulhosa quando achei seu primeiro livro a venda uns anos atrás – disse Emilly, sentando ao bar perto delas. - Você só falava disso na escola.

— Vocês foram amigas no ensino médio? - perguntou Íris.

— Ah, por um tempinho. Mas não ficamos tão próximas. A namorada dela me odiava.

Emilly deu uma risada sincera, claramente já tendo superado todos os seus dramas adolescentes, velha demais para guardar certos rancores. Bonnibel sentiu um pouquinho de inveja disso.

— Odiava, é? - perguntou Íris, dando uma olhadinha para Bonnibel. Estava ciente da troca de farpas acontecendo desde o festival, e tinha uma ideia na cabeça.

— Bem, eu fiquei com Bonnie numa festa, antes delas serem oficiais, então acho que ela tinha motivo. Mas, ei, você fez a escolha certa! Eu não virei a cantora famosa.

— Vou ser obrigada a dizer que tenho minhas dúvidas quanto a isso – murmurou Bonnibel, bebendo um gole considerável de seu copo.

— Ih, término traumático, já saquei. Mantiveram contato?

— Não. Mas acho melhor assim.

Seria melhor ainda se tivesse continuado assim.

A conversa seguiu, com Emilly e Bonnibel se atualizando sobre os últimos anos, o que tinham feito, o que tinha mudado. Bonnibel omitiu os acontecimentos mais recentes, parte pelo contrato, parte porque era só mais fácil assim.

As três continuaram conversando, bebendo, rindo. Tempo depois, foram parar na pista de dança.

Longe da pista, em um camarote VIP muito mais caro, Marceline ria sozinha jogada em um sofá, sem conseguir sentir direito o próprio rosto. Ou talvez fosse a ponta dos dedos que não estava sentindo

Keila se aproximou com uma garrafa de whisky, olhou para ela e depois para Ash, com as sobrancelhas arqueadas.

— Não é pó nem heroína – disse ele, de pronto.

— Ácido?

— Ela trocou de "contato" pra maconha e pelo visto o troço é mais puro. Ela botou num brownie, comeu junto com uma garrafa de tequila e a brisa bateu legal.

Keila se sentou ao lado dele, observando Marceline rolar do sofá para o chão em câmera lenta e começar a gargalhar.

— Ash.... Você acha que a gente ainda consegue manter ela longe da merda pesada se isso der merda?

Ele sabia o que era ''isso''.

— Não sei, Keys. Espero que sim.

— E se a gente não conseguir?

— Então a gente encurta a turnê e enfia essa maluca na reabilitação. Não vou deixar Marceline se matar por conta de um chá de buceta.

— Você sabe que é mais do que isso, Smithe.

Ele respirou fundo. Sabia que era. Para Marceline, pelo menos, era.

— Quando ela perguntou o que eu achava desse livro, eu devia ter dito que achava uma ideia idiota.

— Por quê?

— Porque isso vai dar merda, Keila. Assim, eu nunca fiquei cem por cento do lado da Marcy nessa treta porque, sei lá, ela não precisava ter dado um ultimato na menina do nada, sabe? Ok, situação extremamente emotiva, mas se ela não teve cabeça pra tomar uma decisão racional, que, pelo menos, assumisse a bronca da merda que fez ao invés de culpar o mundo inteiro por isso.

— Mas...? - disse Keila, observando o olhar contrariado de Ash quando ele fez uma pausa.

— Mas porque diabos essa mulher tá dando corda pras maluquices da Marceline? Cara, você viu ela no final de semana do festival. Metade do tempo, ela parecia estar de saco cheio da presença da Marceline, como se estivesse contando os segundos. Pro festival acabar, pros seis meses acabarem. Ela vai meter o pé, Keila.

Ela engoliu em seco, sem saber como responder.

— E se ela vai meter o pé, por que caralhos está transando com ela!?

— Vai ver pra ela não significa mais nada. É só uma foda pra aliviar a tensão. A Marcy pesou na cabeça dela, também. Botando regras e mudando o tempo inteiro, não dá pra dizer que ela não tá fazendo merda também.

— Mas não tá na cara que pra Marcy importa? Que ela tá fazendo as merdas justamente pra conseguir umas migalhas da atenção dela? É isso que eu não entendo, porque ela continua dando corda quando tá claro que pra Marcy não tá sendo só uma foda.

— Talvez.... Talvez ela só não ligue se a Marcy tá lidando bem com isso ou não - sussurrou Keila, observando a expressão de Ash endurecer.

— É por isso que eu tô com raiva disso tudo, Keys. Nós passamos anos cuidando dela. Eu passei anos fazendo a contenção de danos depois da bagunça que a Marceline virou da primeira vez. Agora ela reaparece e joga todo esse trabalho no lixo.

Keila apoiou as costas na cadeira, jogando a cabeça para trás. Não sabia o que fazer.

Marceline cambaleou até eles, sentou no chão e colocou a cabeça na mesa, olhando para Ash.

— Promete que não me deixar estragar tudo se aquela vaca me abandonar de novo?

Ela tinha aquele sorriso intoxicado nos lábios e aquele brilho leitoso no olhar, e ele sabia que ela não ia lembrar de ter dito isso, muito menos da resposta dele.

— Prometo. Mas me ajuda a te ajudar e para de procurar sarna pra se coçar com ela - disse ele, mesmo assim.

— Ash, eu vou abrir as pernas pra primeira carinha de raiva que ela fizer. Você já devia saber que não dá pra confiar no meu auto cuidado.

Ela levantou e saiu andando em direção ao banheiro,

— Acho bom a gente começar a procurar uma clínica adequada - disse Keila, soltando um suspiro.

~•~•♪•~•~

Marceline desceu as escadas, saindo de seu camarote e indo em direção aos banheiros. Tentava não pensar demais no que tinha entreouvido da conversa entre Keila e Ash.

Sabia que era problemática, que não escolhia a melhor forma para lidar com seus problemas, que suas decisões questionáveis respingavam nos outros. Mas odiava quando percebia o tamanho da dor de cabeça que realmente era.

Quando ela tinha chegado ao ponto de fazer seus amigos sentarem para discutir se o seu uso de drogas tinha passado da conta? Quando tinha chegado ao nível de Keila olhar para ela com medo de que ela estivesse cheirando ou injetando? Quando a situação tinha escalado para Ash considerando interná-la?

Quando ela tinha se perdido tanto?

Se odiava um pouquinho por saber que nada do que estava fazendo resolvia qualquer um dos seus problemas, só criava um novo. E, mesmo assim, não conseguia se fazer parar.

E àquela altura Bonnibel já se tornara um outro tipo de droga: tão nociva quanto qualquer uma das outras, mas também tão viciante quanto. Sabia que devia dar um passo atrás, e não conseguia.

Sabia que ia acabar em outra crise de abstinência, porque a vida ia continuar, Bonnibel ia partir em busca das melhoras que o dinheiro daquele contrato proporcionaria, ia seguir a vida como já tinha seguido sem Marceline antes, e ela ficaria ali.

A pele formigando com a falta do toque dela e um álbum como trilha sonora para a tragédia que viria em seguida.

E talvez ela realmente só afundasse de uma vez. Talvez jogasse tudo para o alto.

Talvez, quando o espaço e o tempo acordassem horas antes que ela pudesse sequer abrir os olhos, quando sentisse o coração se partindo logo pela manhã, ela decidisse cantar seu último refrão.

Talvez ela terminasse tudo aquilo cantando dentro de copos vazios.

Sem mais músicas para as massas.

Só mais uma hora. Só mais um choro, feio e doloroso. Porque ela sabia o que era tudo aquilo.

Ou o que quer que tivesse sido.

Ela caminhou até o banheiro feminino, meio sobrecarregada com tudo o que estava pensando - que péssima hora para ter uma bad trip - e quando entrou, deixou a vibe ruim se aprofundar bem nas entranhas dela.

Não era engraçado como o universo brincava com a cabeça dela? Dando e tirando o que ela queria sempre com a mesma mão.

A exata mesma mão. A mesma piadinha idiota.

Ela não estava rindo.

Não, esquece. Estava sim. Tinham se passado dez anos. Ela tinha que rir

As duas largaram a boca uma da outra, assustadas com a gargalhada repentina.

Não era engraçado que, depois de tanto tempo, Bonnibel ainda puxasse Emilly pela base da cintura, bem no final das costas, do jeitinho que Marceline quase implorava para que fizesse com ela?

~•~•~•~•~•~•~•~•~♪~•~•~•~•~•~•~•~•~•

Obrigada Hayley Williams pela canetada que é Just a Lover (porém continue fazendo músicas paras massas pelo amor de Deus)

Aliás, é bom todo mundo aqui já ter dado stream pra This Is Why viu?? Paramore voltando não é pouca coisa!

(Aqui: vocês tão lendo os trechos de musica que tem no começo de um capítulo sim, capítulo não, né? Assim, se não estão, tão perdendo metade do plot kkkk)

Enfim, não se esqueçam de deixar seu comentário, e um voto se tiverem gostado!

Vejo você em breve,

- Tersy 🥀

Continue Reading

You'll Also Like

2.4K 171 5
onde a wednesday tem infantilismo Escrevo essa fic com minha amiga o nome da conta dela é @docinhofanfiqueiro e @docinhofanfiqueiro2
21.7K 1.9K 14
Pt/Br 🇧🇷 CECÍLIA NESTOR, mais conhecida como Ceci ou Lia, sempre foi a mascotinha do SPFC, pelo fato de ser a irmã mais nova de Rodrigo Nestor, jog...
20.5K 1.6K 21
Onde sadie foca em salvar Millie... Ou, onde Sadie esquece de focar em si mesma. Onde a ruiva apresenta lugares incríveis a Millie, na tentativa de f...
66.1K 8.4K 60
Wenclair | + Os vampiros e os lycans mantêm uma rivalidade desde a primeira geração de suas espécies. Desde o início, foi decretado que era proibido...