Pétalas de Akayama [BL]

By bethahell

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Um espírito maligno coloca um vilarejo em risco e agora dois rivais terão que se unir para salvar quem amam. ... More

Pétalas de Akayama vai voltar!
[𝗩𝗢𝗟𝗨𝗠𝗘 𝟭]
Capa
Personagens
Epígrafe
Prólogo - Duas vidas
Capítulo 1 - Estou de volta
Capítulo 2 - Yōkais não existem
Capítulo 3 - Kitsunes não protegem humanos
Capítulo 4 - Deixemos que ele morra sozinho
Capítulo 5 - Vocês são todos iguais
Capítulo 6 - Magia de raposa
Capítulo 7 - Você já sabe meu nome (parte 1)
Capítulo 7 - Você já sabe meu nome (parte 2)
Capítulo 8 - Peguem seus sinos (parte 1)
Capítulo 8 - Peguem seus sinos (parte 2)
Capítulo 9 - Banquete para os fortes
Capítulo 10 - Salvando vocês
Capítulo 11 - Espere com paciência, ataque com rapidez
Capítulo 12 - Entre logo, vamos nos divertir (parte 1)
Capítulo 12 - Entre logo, vamos nos divertir (parte 2)
Capítulo 13 - O príncipe de Sakuiya não aceita deslizes
Capítulo 14 - Não me relaciono com humanos
Capítulo 16 - Guardiões do templo
Capítulo 17 - O amor trouxe vocês até aqui
Capítulo 18 - Na primavera haverá flores novamente
Capítulo 19 - Vou servir a vocês
Pétalas de Akayama vai ser publicado por uma editora!
[𝗩𝗢𝗟𝗨𝗠𝗘 𝟮]
Capa
Capítulo 20 - Arcadas excepcionais (parte 1)
Capítulo 20 - Arcadas excepcionais (parte 2)
Capítulo 21 - Elixir do Nascer do Sol
Capítulo 22 - Serviço de mulher
Capítulo 23 - Diga sim para mim
Capítulo 24 - Um feiticeiro humano
Capítulo 25 - Não solte a corda
Capítulo 26 - O último fio de esperança (parte 1)
Capítulo 26 - O último fio de esperança (parte 2)
Capítulo 27 - Insolente
Capítulo 28 - Segredos sujos
Capítulo 29 - Transformar seus três castelos em cinzas
Capítulo 30 - O mais breve toque mata (parte 1)

Capítulo 15 - Eu não vou embora

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By bethahell

Olá, venerável!

Já ouviram falar que nunca devemos aceitar coisas de estranhos? Quando digo estranhos, não estou incluindo apenas humanos de condutas duvidosas, mas de criaturas mitológicas também. O Yuu e o Tetsu sabem pelas lendas que, quando humanos aceitam coisas de yōkais, o desfecho não é muito bom... mas acho que não imaginaram que não prática iria ser bem mais difícil hahahaha *miados maléficos*

O que aconteceu no último capítulo?

Yusuke e Tetsurō vão para o quarto depois do banho, mas nenhum dos dois relaxa totalmente diante da situação em que se encontram. Eles se deparam com um livro erótico distribuído pelas cortesãs e cortesãos do Palácio Impuro e ficam impressionados com as informações que encontram ali. Nesse momento, Zen aparece e oferece aos dois um mochi cor-de-rosa suspeito.

Então, vamos lá (rumo à depressão)...

— Você está me desafiando, Yuu-chan?

Yusuke tremeria se não fosse pelo sorriso debochado e o apelido detestável detonando a pressão da voz séria. Tremeria, sim, mas o que fez foi arrancar com violência o mochi da mão de Zen, suspeitando de cada grão minúsculo que formava a massa fofa cor-de-rosa.

— Makai é diferente do Yomi, não será a comida que prenderá vocês aqui.

— Nós já estamos presos aqui! — Yusuke ralhou.

— Não devido à comida — pontuou Zen, sorrindo irônico. — Existem milhares e milhares de formas de matar seres humanos. Acha que vou escolher uma tão sem graça como entregar um mochi alterado? — Leu os pensamentos do samurai.

Ele tinha um ponto.

— Eu... dane-se. Eu não confio em você.

— Quanta sinceridade. — Sorriu. — E má educação.

Yusuke desviou o olhar para a própria mão, escondendo a vergonha. Se tivesse pensado melhor, não teria pegado tão rápido o mochi. Agora que já estava em sua posse, seria uma afronta jogar fora. Qual consequência cairia sobre eles se descartasse tão grosseiramente? Permanecer na dúvida do que viria era a opção mais razoável, como alertava o medo.

Quando estava aceitando o infeliz destino de comer algo desconhecido dado por um kitsune, foi obrigado a parar a mão no caminho.

— Tetsurō — Zen chamou.

O par de olhos mel, observando a cena, se voltou para Zen.

— Sim, Zen-denka?

— Você quer?

A pergunta veio acompanhada de um sorriso malicioso, mas com algo a mais. O Seki mordeu os lábios em uma linha fina e disse:

— Quero...

Yusuke estava transtornado de novo.

Como assim você quer, seu idiota?

— Venha até aqui — ordenou ao curandeiro, e Tetsurō acatou no mesmo instante, sendo recebido com um sorriso diferente. Não tinha malícia; era uma linha encantadora de satisfação. Zen virou-se para o samurai, que disfarçou a carranca azeda. — Yuu-chan, divida o mochi com o Tetsu.

— O quê? Não! — Pegou o bolinho e trouxe para mais perto de si, os olhos e testa franzidos. — Não acredito que está oferecendo para ele algo que é meu!

Zen o avaliou.

— Não sabia que o código dos samurais os permitia ser tão egoístas.

A expressão de Yusuke mudou, e quando o vento bateu em seu rosto, trouxe consigo memórias antigas do tempo de aprendizado. Estava em outro mundo, mas ainda tinha seu código de conduta, era verdade. Seus lábios se curvaram em uma aceitação obrigatória, e ele suspirou, dividindo o bolinho em duas partes iguais e estendeu para o herdeiro do Seki, acostumado a ter tudo o que queria.

Tetsurō acolheu o mochi nas mãos quentes, olhando fixamente para Yusuke.

— Yuu... Não precisa dividir comigo por obrigação.

— Eu já não te dei, Tetsurō? O que ainda está questionando? Coma logo!

O curandeiro reverenciou em agradecimento, mesmo que Yusuke não estivesse vendo.

— Obrigado também, Zen-denka — disse Tetsurō. — Do que é feito esse bolinho?

Zen ergueu ambas as sobrancelhas e deu um risinho.

— Mesmo que eu falasse, você não conheceria.

— Eu posso aprender.

— Coma e depois te digo, sim?

Yusuke e Tetsurō se entreolharam em um acordo silencioso antes de levarem os bolinhos até a boca.

O gosto era bom, muito bom, tinham que concordar. Era recheado por dentro com uma fruta doce, levemente cítrica, que contrastava com a massa de arroz. O gosto que ficava no fim era ainda melhor, com uma picância explosiva.

Tetsurō teve vontade de perguntar se não havia mais; Yusuke se sentia letárgico, ainda mastigando.

As caudas da raposa chicoteavam o ar, agitadas.

— Viram? Ficaram com medo à toa, vocês dois ainda estão vivos.

Quando o sorriso estava prestes a se levantar no rosto do curandeiro, feliz por seu estômago estar cheio e sua pele limpa, houve um baque surdo. Tetsurō olhou para o lado por reflexo do susto e viu Yusuke caído no chão, o corpo duro e pesado.

— Yuu-ch-

De repente, as pernas amoleceram. Uma fisgada alcançou os joelhos e depois, o rosto. Ele desabou ao lado de Yusuke progressivamente — de joelhos, derretendo até a dureza da madeira aplacá-lo inteiro. As pálpebras ficaram pesadas para serem sustentadas, mas seu corpo renegava a escuridão do sono — ou da morte, não tinha como saber.

O que quer que tivesse ingerido com o mochi, não fazia cócegas na resistência extraordinária de Tetsurō. Enquanto Yusuke já se encontrava tombado, a respiração lenta abandonando os pulmões, Tetsurō permanecia paralisado, mas consciente.

Um alerta fez o curandeiro arregalar os olhos. Pelos efeitos que sentia — o formigamento, a sonolência, a paralisação — só podia presumir que as intenções de Zen careciam de ambos desacordados. Uma avalanche de preocupações apertaram seu peito. Foram banhados e alimentados, e agora Zen os queria inconscientes. Para quê? Zen não queria matá-los... porque pretendia se divertir às suas custas, sugando até o último fio de esperança. Não era mais prazeroso assim? Afinal, seres como Zen são perenes, o corpo humano é efêmero e a morte é um salto instantâneo e irremediável.

As palavras de Yusuke voltaram a sua mente, esbofeteando-o.

Você por acaso não prestou atenção no que os monstros ao nosso redor cochicham sobre ele?

Acha que com a gente vai ser diferente?

Gritou como um tolo inúmeras vezes em sua cabeça.

Não confie em raposas. Era o que dizia para Mirai. Elas são traiçoeiras.

Então por que seu instinto continuava dizendo que Zen não queria machucá-los?

Mas... e se Yusuke estivesse certo?

— Hm, você não dormiu ainda? — A voz surpresa de Zen veio acima de si, as mãos na cintura avaliando sua derrota. Sentou-se em uma das almofadas, cruzou as pernas e apoiou o queixo, ficando no campo de Tetsurō. — Tudo bem, não tenho pressa. Uma hora você vai acabar cedendo.

Tetsurō queria perguntar o que Zen pretendia fazer para querê-los dormindo, mas além de estar mudo, o sorriso ostentado pelo kitsune servia como resposta. Desviou os olhos, encarando o teto como um prisioneiro aguardando a execução.

Mas a corda nunca firmou no pescoço.

Os olhos continuavam abertos; o formigamento havia diminuído. Os músculos, porém, não respondiam aos comandos. Sempre foi assim. Suas curas traziam resultados em qualquer um; mas a ele os Deuses rejeitavam a redenção. A dose tinha que ser dobrada ou triplicada para que sentisse a menor eficácia — é claro que Zen não tinha como saber disso, por isso Tetsurō permanecia à deriva, agora fitando Yusuke, deitados de frente um para o outro.

E ficaram assim por um longo, longo tempo.

A chuva lá fora cessou. Os barulhos da rua, também. O quarto estava escuro, num silêncio agradável, apesar de tudo. Nesse ponto, Tetsurō não conseguia mais mover os olhos, fixo na imagem de Yusuke sonhando, com a mesma expressão serena de mais cedo. Por outro lado, o curandeiro também era observado, um olhar que penetrava até os ossos. Era tão excessivamente encarado pelas fendas verdes que já havia parado de sentir o arrepio latente. Se acostumou com o predador.

Havia fechado os olhos sem perceber, mas tornou a abri-los com a primeira fungada que escutou. Prestou atenção em Yusuke; era o primeiro movimento que ele fazia em horas. Talvez esteja acordando, pensou esperançoso, mas quando as respirações ofegantes se transformaram em gotas pesadas peregrinando pelo rosto, Tetsurō teve certeza que algo estava errado. E se desesperou e se assustou na mesma medida ao entender o que era.

Yusuke estava chorando.

Mover-se era impossível, mas Tetsurō não podia assistir o amigo se desfazer em lágrimas sem tentar consolá-lo. Não se lembrava da última vez que o samurai chorou na sua frente. O corajoso e leal Yusuke nunca se permitiu ficar vulnerável na frente de ninguém...

Forçou a língua para sussurrar por Yusuke, mas os murmúrios mal saíram. A voz havia ficado aprisionada em uma gaiola interna, pressionada demais para ser solta. Tetsurō mandava comandos urgentes para que se mexesse, e a muito custo, conseguiu rastejar para mais perto do amigo, mas isso foi como se deitar sobre espinhos. As lágrimas continuavam rolando pela face deitada de Yusuke, sem parar. Sem soluços. Sem fungadas. Sem barulho. Um choro silencioso como um rio transbordando em noite de lua cheia, formando um novo e inusitado mar de solidão e sofrimento.

Tetsurō se via afogado nele.

O peito se espremeu quando Yusuke franziu a sobrancelha e se remexeu, alfinetado de dentro para fora.

Pare...

As gotas de orvalho penduradas nos cílios negros caiam, somando-se à poça no chão.

Já chega.

Pela segunda vez, olhou suplicante para Zen, pedindo para ele parar o que quer que estivesse fazendo.

Por favor, pare.

— Não adianta me olhar assim. — Zen balançou a cabeça, se recostando na almofada. — Tem sido assim toda vez que ele dorme. Vocês, humanos, tem esse problema: pesadelos.

Uma angústia profunda atingiu o Seki ao ouvir tais palavras. O mais agonizante era não saber exatamente o porquê — ele simplesmente não conseguia puxar do inconsciente o cerne do incômodo, como se sua mente quisesse protegê-lo. Fazia parte de uma lembrança escondida, coberta por névoa.

Tetsurō tentou falar, mas é claro que não podia:

Você pode ver o que sonhamos?

— Posso.

Para a surpresa do curandeiro, Zen respondeu como se tivesse o escutado.

Esse pesadelo... — Tetsurō não tinha certeza se queria saber a resposta para o que iria perguntar, então preferiu guardar as palavras.

Mas Zen não precisou ouvir para ler sua expressão.

— Não, o pesadelo não é sobre você, mas você faz parte dele. — Em seguida, o tom sarcástico deixou um rastro de arrepios: — É um pouco indelicado espiar sonhos alheios, não acha?

Zen impulsionou suas mãos contra a almofada, ficando de pé. Caminhou até Tetsurō. O coração do curandeiro disparou e o medo irradiou dentro dele, causando um tremor na boca do estômago. Só piorou quando sentiu a mão fria e macia cobrir os seus olhos; o poder emanado deixando suas pálpebras pesadas.

— Eu subestimei sua resistência — ele admitiu. — Mas é hora de se juntar a Yusuke.

Foi a última coisa que ouviu do mundo material.

A última imagem que viu, entretanto, afundou sua mente em culpa.

Yusuke apertou os olhos, e mais orvalhos caíram.

Então Tetsurō se lembrou: aquela, na verdade, era a segunda vez que via Yusuke chorar.

— O que houve, Yuu-chan? Seu pai... te bateu?

As fungadas ficaram mais frequentes; as costas onde Tetsurō fazia um carinho manso tremiam. Fora isso, nenhuma reação. Yusuke não levantou a cabeça, nem disse nada.

As vestes de Yusuke estavam encharcadas pela água do riacho que separava o vilarejo do morro onde estavam. Seu melhor amigo havia atravessado nadando para se sentar todo encolhido, com os joelhos contra o peito, na abertura oca da única árvore vista no horizonte. Era um lugar para aqueles que queriam ficar isolados, assim como aquela canforeira. Mas só havia duas pessoas que conheciam aquele mundinho oculto no topo da colina — então, Tetsurō rapidamente o achou. Ele havia deixado pegadas, então foi impossível errar o trajeto, até mesmo para ele.

— Calma, Yuu-chan, eu tô aqui... — Ao não obter nenhuma resposta, Tetsurō franziu o cenho. — Não vou deixar ninguém te machucar quando formos embora... eu juro! Ou você desistiu do nosso plano?

Yusuke levantou o rosto vermelho, os olhos e o nariz pingando, e gritou:

— Claro que não! — Limpou as lágrimas com os punhos, mas outras se sobressaíam. — E-eu nunca... — ele soluçou sem querer — quebraria minha promessa. Nós dois vamos fugir daqui...

— Então por que você está chorando? — Tetsu se ajoelhou, sustentando o olhar de Yuu no seu, impedindo-o de voltar a chorar. Não funcionou. Então, com as mãos delicadas e leves, limpou as lágrimas da bochecha do amigo. — Você não é assim. Pode falar pra mim, o que foi?

— Por que todo mundo vai embora, Tetsu?

O pequeno Seki, muito jovem para entender, negou com a cabeça.

— Eu tô aqui — ele garantiu. — Eu não vou embora.

— Todos vão. Alguma hora, todos me deixam para trás.

— Eu nunca vou fazer isso.

O pequeno Kou mordiscou o lábio inferior, fitando o chão quando a enxurrada de lágrimas retornou. Depois de um tempo, a calmaria abraçou o choro. Ele só fungava.

— Eu... tive um pesadelo — murmurou. — O mesmo pesadelo de sempre. É noite, e tudo está queimando.

O soar de um sino tibetano. Tetsurō, ainda criança, viu-se num ambiente novo: uma clareira, sem ninguém ao redor. Todos os seus colegas tinham ido brincar de escalar montanha, mas ele ficou para trás por ter se machucado. Os pés ardiam, mas Tetsurō precisava voltar para casa antes do anoitecer, caso contrário, ficaria a mercê dos perigos que rondavam a floresta. Depois de muita dor, foi acalentado pelas luzes da residência dos Seki e pelos sorrisos de seus pais, que o receberam com gritos de boas-vindas.

Yusuke se fora, mas Tetsurō finalmente ganhou a atenção do clã.

Agora merecia ser filho deles.

Por favor, pare.

Amor. Afeto. Atenção. Tinha tudo isso dentro de casa.

Não, você não tem!

O seu eu interior, mais velho e lúcido, queria alertá-lo para não se iludir.

Os sorrisos dos pais murcharam — à medida que a barriga da mãe crescia. Um novo herdeiro, viva! Um menino com o sangue puro dos Seki! Eles gritavam ainda mais alto suas boas-vindas. Onde estava sua família? Por que se via sozinho mais uma vez, mergulhado nos grãos de ódio que suas irmãs jogavam sobre ele?

Estava sem colegas, sem família e sem seu melhor amigo.

Mais um dia ensolarado. A distância do chão era maior, as mãos também aumentaram de tamanho. O inverno já havia passado, mas se tornou eterno no peito daquelas crianças, agora jovens adultos de treze e quatorze anos.

O herdeiro dos Seki nunca pediu desculpas.

E Yusuke estava partindo para a guerra.

Apesar da culpa, não foi atrás do amigo de infância nem por orgulho, nem por ego. Para quê se desculpar? Palavras não trariam aquele tempo de volta e talvez só piorassem tudo. As cicatrizes que suas atitudes deixaram em Yusuke não seriam curadas com chás, ervas, pomadas e muito menos qualquer sequência de sons decorados que saíssem da sua boca.

Isso, claro, não impedia os olhos vermelhos e o choro abafado nas noites após a partida Yusuke para se tornar um samurai, enquanto frases vazias eram faladas em um quarto tragado pela quietude.

Desculpe, desculpe, Yuu-chan, desculpe, desculpe...

Por que não havia pedido perdão antes?

Podia suportar não ser sequer olhado, mas tremia com a probabilidade de perdê-lo na guerra. Se arrependeria a vida inteira por ter dito ao vazio o que precisava ser ouvido por quem importava.

Depois que Yusuke retornou, foi batalhar mais quatro vezes; todas a treinamento, sem participar ativamente da linha de frente. Na quinta, pelo bom desempenho, o shogun deu como encerrado o treino e solicitou que ele provasse sua honra pelo futuro das terras do sol nascente. Tetsurō já tinha se cansado da angústia das desculpas guardadas. Daquela vez, assim que o samurai voltasse, iria criar coragem para reparar a cerâmica quebrada.

Só esperava que não a estilhaçasse ainda mais.

Após sair do templo de Inari, foi diretamente para onde sabia que Yusuke treinava. Era o mesmo lugar além do riacho e da colina. A grama alta batia em seu joelho, mas se tornou rala ao chegar no topo. Tetsurō passou pela canforeira solitária e seguiu, até encontrar um campo onde troncos retos e grandes podiam ser usados como alvos de lâminas.

A franja de Yusuke grudava na testa, pingando suor. O sol castigava a pouca pele exposta pelo kimono de treinamento.

— Ei, Yuu... — A voz saiu estrangulada. — Yusuke-kun.

As estocadas repetidas do samurai contra a árvore atrasaram por segundos, mas não houve resposta.

O Seki se aproximou devagar, o corpo tremendo de ansiedade.

— Sei que não quer falar comigo — começou com a voz tímida, retraída, enquanto se aproximava. — Que nós nunca mais nos falamos desde aquela época... A culpa foi minha, eu sei.

Yusuke continuou atacando o tronco, repetidamente. Usando cada vez mais força com a katana.

— Eu me arrependo muito, Yusuke. — Prendeu a respiração quando estava a um metro de distância do samurai já formado. — Você lembra daquela vez, na árvore, quando você disse que todos vão embora? Eu falei que nunca iria fazer isso. Agora, eu... eu sei o que isso parece. Que foram palavras vazias. Não tem um dia que eu não me odeie por ter escutado o que minha família dizia. Eu fui um idiota, um completo idiota. Queria voltar no tempo e consertar, porque eu... eu só queria pedir...

A voz foi cortada por um estalo estrondoso. O impacto da espada contra a madeira.

— Depois de todos esses anos... como ousa vir me pedir desculpas agora? — Yusuke finalmente o olhou. O rosto vermelho, o tom das palavras e o modo como retirou a katana da árvore declaravam o redemoinho de sentimentos no estômago. — Achou que eu seria idiota a ponto de acreditar nas suas mentiras de novo?!

— Não! Não é mentira, não é nada disso, Yu-

Tetsurō perdeu o ar dos pulmões, atordoado, quando viu a ponta da katana apontada em sua direção. Uma dor horrível no peito. Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto, incontroláveis. Os limites da lembrança e sonho se misturavam como líquidos homogêneos.

Ele desabou no chão, se dobrando em uma reverência apropriada para o mais profundo pedido de desculpas.

— Yuu-chan... só me escute por um momento. Por favor. Eu preciso te contar o que real-

— Eu não quero saber. Vai embora! — Yusuke gritou a plenos pulmões. — Eu não quero nunca mais ouvir sua voz e olhar pro seu rosto! Vai embora!

Seu corpo foi atirado para trás por uma ventania rasante, o puxando para longe de Yusuke. Ele tentou cravar os calcanhares na grama, mas em vão. A força invisível formada pelas palavras o arrastou para fora do sonho. O cenário transmutou, até sobrar a realidade cruel onde ele foi largado.

O sono tornava tudo um borrão distante, mas ainda lhe restava um resquício de consciência.

Movimentou os dedos antes de piscar, vagaroso, projetando a sombra dos cílios nas bochechas.

Yusuke continuava chorando.

E Tetsurō também.

Continua...

No próximo capítulo...

Yusuke e Tetsurō despertam quando o mundo parece estar desabando. Os gritos de uma discussão desconhecida chegam até o aposento onde estão e os empurra corredores adentro para saber o que está acontecendo. Uma multidão. Um homem estranho dentro do lago. Duas raposas brancas e uma pequena lágrima no centro de todo o caos.

No próximo capítulo: "Guardiões do templo"

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Até dia 6 de outubro!

Beijos felinos,

Mork

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