Depois da Meia-Noite (Bubblin...

By TersyGabrielle

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Marceline e Bonnibel foram um casal durante o ensino médio. E como todo casal adolescente, estavam certas de... More

Prólogo
Capítulo 1 - Tudo ou Nada
Capítulo 2 - O Baixo e o Sangue
Capítulo 3 - Os Motivos Pelos Quais Eu Deveria Odiar Você
Capítulo 4 - O Céu Nos Olhos Dela
Capítulo 5 - Canela
Capítulo 6 - Espaços Vazios
Capítulo 7 - Deixe Para Lá
Capítulo 8 - Quando Agosto Acabar
Capítulo 9 - Bonnibel, A Sensível
Capítulo 10 - Uma Garota Não Tão Boa
Capítulo 12 - O Começo do Fim
Capítulo 13 - O Lugar Que Você Deixou Vazio
Capítulo 14 - Depois Dela, É Minha Vez
Capítulo 15 - O Horizonte Tenta, Mas Não Se Compara
Capítulo 16 - Rosas Pretas e Cor-de-rosa
Capítulo 17 - Um Vislumbre de Nós
Capítulo 18 - Sangue & Lágrimas Azuis
Capítulo 19 - Cartão Postal
Capítulo 20 - Um Passo Atrás
Capítulo 21 - Papai, Cadê Sua Dignidade?
Capítulo 22 - Chuva a Meia-Noite
Epílogo
Notas Finais e Agradecimentos.

Capítulo 11 - Andrea

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By TersyGabrielle

Olá, coisinhas lindas da minha vida!!

Espero que tenham aproveitado nosso pequeno hot no capítulo anterior.

Porque daqui pra frente é só pra trás! :D

Fiquem com o capítulo, meus amores. Boa leitura!
~•~•~•~•~•~•~•~•~♪~•~•~•~•~•~•~•~•~•

Ash levantou da cama, irritado, para ver quem diabos estava com o dedo enfiado na sua campainha tão cedo em pleno sábado.

Abriu e deu de cara com Marceline, ainda de pijamas, o cabelo desgrenhado e parecendo estar em transe.

- Que porra é essa, Marceline? São sete da manhã!

- Eu sei. Bom dia.

- Aconteceu algu- velho, tua cara tá meio vermelha desse lado - disse ele, pegando o queixo dela para ver melhor o lado esquerdo de seu rosto. - Tu tá drogada?

- Bem que eu queria.

Marceline passou por ele, andando até o sofá e sentando de forma meio desistente, enfiando as mãos pelos cabelos, cotovelos nos joelhos. Soltou um longo suspiro.

Ash ficou olhando para a mulher à sua frente por um tempo, sem conseguir entender o que estava acontecendo. Então Marceline levantou o rosto para ele, com as mãos cruzadas e os indicadores apoiados nos lábios.

Eles trocaram olhares por alguns segundos, e então Ash semicerrou os olhos, afastando um pouco o rosto.

- Nah, nem fodendo.

- Na verdade, foi fodendo mesmo.

Ele a encarou por mais um momento, e aí caiu na gargalhada. Marceline se limitou a revirar os olhos.

- Vai se foder, cara. Você é muito cadelinha.

- Vai pro inferno, vai, Ash.

Marceline se levantou e foi até a cozinha, mexendo na geladeira dele e pegando uma garrafa de cerveja.

Ash se sentou no balcão da cozinha e ficou encarando a mulher, tentando muito não começar a rir de novo.

- Como diabos isso aconteceu, Marcy?

- Ela ficou com raiva.

- Nãnaninanão, explica direito - disse ele, sacudindo a cabeça. - A garota tá o tempo inteiro puta da vida com a sua existência. Pode ir contando.

- Ela ficou com raiva porque eu disse que ela é uma vadia fria e insensível por ter me largado quando minha mãe morreu.

Agora ele estava sério. Marceline só continuou bebericando o que acabaria sendo o seu café da manhã, apoiada no armário, enquanto olhava pela janela.

- Ok, agora isso faz um pouquinho mais de sentido - murmurou ele. - Quer dizer, não vocês terem transado, mas ela ter ficado com ódio da sua cara.

- Eu não menti.

- Eu não estaria mentindo se dissesse que você já está com os dois pés no alcoolismo e beirando um problema sério com drogas, mas ainda assim você iria querer me dar um soco.

Marceline deu uma encarada mortal nele.

- Viu!?

Ela só bufou e continuou olhando pela janela.

Ash não queria fazer daquilo uma piada, não queria mesmo. Sabia que não era hora para fazer graça.

- Na moral, tu deu pra ela porque ela te bateu!?

- Meu Deus, Ash, vai tomar no seu cu.

Dessa vez, quando ele riu, Marceline se permitiu rir um pouquinho também.

E aí a risada se transformou em soluço, e sem nem entender por que, ela começou a chorar.

Ash se levantou de onde estava e abraçou a amiga, deixando que ela encharcasse seu ombro.

- Hey, Marcy. Não fica assim, não pode ter sido tão ruim.

- Não é isso.

- O que foi, então?

- Sexta-feira é dia vinte e cinco.

Ash respirou fundo.

- Está com medo de ter ferrado tudo e ela não querer mais ir com você, não é?

- Eu não vou aguentar outro ano sendo a única no túmulo da minha mãe que ao menos se lembra como ela era. Eu não devia ter dito que ela não liga. Acho que, pelo menos com a mamãe, ela se importava de verdade. Eu preciso de alguém lá que entenda, e eu sou tão azarada que ela é a única que pelo menos chega perto disso.

Ash respirou fundo.

- Não vai ser de muita ajuda me ter por perto, vai?

- Desculpa, Ash. Mas você não estava lá. Não é a mesma coisa.

- Eu sei, Marcy. Eu sei, - disse ele, acariciando o cabelo dela. Deu um último aperto no abraço antes de dar espaço, segurando os ombros dela.

As vezes, Marceline parecia tão pequena e indefesa que o deixava sem reação.

- Sabe, talvez você deva ceder dessa vez, só essa, e pedir desculpas. Sabe, só pra garantir? Acho que ela entenderia. Não deve ser fácil pra ela também, passar isso sozinha todos os anos.

- É, acho que sim.

- Vai falar com ela?

- É o jeito. Obrigada, Ash.

- Sem problemas - disse ele, com um sorriso sincero. Mas rapidamente o trocou por um um pouco mais brincalhão. - Só não vá pedir pra apanhar de novo.

- Ash!

Bem, pelo menos agora ela estava rindo sem chorar.

~•~•♪•~•~

- Meu Deus do céu, Bonnie. De todas as pessoas, você é a única que eu não esperava que fosse transar em horário de trabalho - brincou Phoebe, passando a garrafa de vinho para Íris.

- Eu estou... um pouco chocada. - murmurou Íris, enchendo a taça.

Íris tinha os detalhes mais sortidos que Phoebe não conhecia - não que Bonnibel não confiasse nela. Mas ela não queria falar algo tão pessoal para própria "chefe". Íris não era a sua editora, então era menos constrangedor.

Bonnibel estava jogada no sofá da sala de Íris, encarando o teto, quase em estado catatônico.

Que merda foi que eu fiz?

- Acha que isso pode acabar atrapalhando o trabalho? - perguntou Phoebe, começando a se preocupar com o olhar perdido dela.

- Não vou deixar isso acontecer - respondeu ela, respirando fundo. - Só preciso focar em não deixar se repetir.

- É, acho melhor - comentou Íris, ainda remoendo o que tinha ouvido antes de Phoebe chegar e receber a versão censurada da história. - Jesus, Andrews, eu mal tinha processado o fato de você ser ex dela. Sortuda do caralho.

Bonnibel riu de leve, mas a risada foi morrendo de um jeito estranho, meio sufocado, quase cedendo à um soluço triste.

- O que eu faço agora? Sexta-feira tá logo ali. Isso não podia ter acontecido num momento pior. Meu deus, o que diabos eu vou fazer?

As outras duas trocaram um olhar preocupado enquanto Bonnibel virava o vinho direto do gargalo da garrafa.

- Sabe, uma parte de mim ainda tá com muita raiva. Tem oito anos que eu tento meio que não viver o mês de agosto, sabe? Andrea era importante pra mim, também. Mas ao mesmo tempo, eu também não quero passar isso sozinha outra vez.

- Sabe que pode contar com a gente - disse Íris, brincando com a ponta do cabelo dela. - Podia ter contado antes, inclusive, se não fosse tão fechada nessa sua cabecinha.

- Não é bem a mesma coisa, Ís. As vezes só queria ter alguém para falar "ei, lembra daquela vez (insira qualquer memória sobre ela)?", mas não tem ninguém que lembra. E a única pessoa que lembra me odeia. E provavelmente me odeia muito mais agora.

- Vocês só precisam conversar. Sabe, o que vocês deviam ter feito ao invés de se jogarem uma na outra depois de se xingarem? - disse Phoebe, ignorando o olhar raivoso de Bonnibel. - As vezes a solução é saber pedir desculpas mesmo sem estar exatamente errado. Converse com ela, peça desculpas pela discussão e refaça o convite para ir com ela. Não vai ficar pior do que já está, pelo menos.

Bonnibel inspirou fundo e soltou pela boca, quase bufando. Mas fez que sim com a cabeça.

Quando Phoebe saiu para ir ao banheiro, Íris se curvou na direção de Bonnibel, cochichando:

- Só não vá bater nela outra vez, hein?

- Vá a merda, vai.

Íris caiu no riso, e Bonnibel não viu outra opção que não dar risada também.

~•~•♪•~•~

- Ei, vocês duas! O lanche está pronto!

Bonnibel e Marceline desceram as escadas, disparadas em direção a cozinha, quase apostando corrida.

- Ei, ei, ei! Não vou levar ninguém pro hospital, não corram na escada!

- Foi mal, mãe - disse Marceline, chegando primeiro na cozinha.

- Foi ideia dela - brincou Bonnibel, se sentando à mesa do lado contrário ao de Marceline.

- Não duvido - brincou Andrea, servindo dois copos de suco e colocando na mesa junto aos sanduíches. - E então, novidades?

- Ontem foi legal - disse Bonnibel, ainda no processo de engolir, levando o copo à boca. - Tinha muita gente do Lima's Cafe. Marceline mandou bem.

- Te pagaram bem? - perguntou ela à filha, se sentando também.

- Até que sim. Vai dar pra comprar as cordas do violão e substituir as que eu quebrei sem querer. E mais uns CDs pras minhas gravações.

- Tem que tomar mais cuidado com esse bendito violão - brincou Andrea, cutucando a filha com o pé por baixo da mesa.

- Tá bom, mãe - respondeu ela revirando os olhos, mas ainda com o sorriso no rosto.

Bonnibel gostava dos momentos que podia passar com a sogra, e naquela semana era especial: Hunson havia viajando para ver alguns parentes, então elas tinham a casa para si mesmas sem toda aquela tensão e desconforto de quando ele estava por ali.

Naquela tarde, Bonnibel se sentou na frente da penteadeira do quarto do casal, enquanto Andrea separava mecha por mecha de seu cabelo e pintava de rosa.

- Aposto que seus pais vão te matar - brincou Marceline, deitada de bruços na cama da mãe, as mãos em baixo do queixo.

- Bem, eles não mataram quando ela apresentou você para eles, então acho que ela está segura - brincou Andrea.

- Só porque não são homofóbicos, não quer dizer que não sejam um pouco superprotetores - rebateu ela.

- Ah, mas não digo por ser uma menina, querida. É mais por ser você, mesmo. Você cheira a encrenca.

- Mãe!

As três começaram a rir. Ninguém provocava Marceline pelo jeitinho de encrenqueira mais do que a própria mãe, mas nunca soava como uma bronca.

Na verdade, as vezes parecia até um incentivo.

- Não sei como alguém tão tranquilo como a senhora consegue ter uma filha como a Marcy - brincou Bonnibel, rindo quando Marceline errou a mira do travesseiro que jogou na direção dela.

- Ah, eu não era assim tão diferente nessa idade - respondeu Andrea, com um sorriso um pouco diferente dessa vez.

- E quando foi que você superou essa fase? - brincou Marceline.

Dessa vez Andrea pareceu um pouquinho mais séria. Talvez até um tanto triste.

- Bem... eu casei assim que me formei no ensino médio. E aí eu fui engravidei. Precisava agir de acordo, eu acho.

As meninas trocaram um olhar preocupado. Andrea pareceu se perder na própria mente um instante, quase como se o ato de se lembrar de quem era antes de Hunson doesse um pouco.

Quando percebeu o silêncio das garotas, tratou de abrir seu sorriso outra vez.

- Não, não fiquem com essa carinha. Toda vez que vejo Marcy se arriscando em algo que realmente acredita, vale a pena. Seja na música, seja com você, Bonnie. Eu tenho orgulho do trabalho que fiz.

Ela olhou para a filha, com aquele olhar tão cheio de carinho, e sentiu o coração quentinho quando Marceline sorriu.

Mais tarde, naquela noite, as três saíram para um café em uma cidade vizinha, onde Marceline tinha conseguido uns trocados para tocar. Enquanto observava a filha no pequeno palco improvisado, Andrea se curvou mais na direção da nora.

- Bonnie? Posso te contar uma coisa?

- Claro que pode.

- Acho que nunca vi Marcy tão feliz como eu a vejo quando você está por perto.

Bonnibel abaixou a cabeça, com um sorriso tímido.

- E é por isso que eu preciso te pedir uma coisa.

- O que, Andrea?

A mulher voltou a olhar a filha no palco, que cantava com uma expressão de paz no rosto, como se estar no centro das atenções fosse seu lugar natural, e respirou fundo.

- Só... só prometa pra mim que vai tomar conta dela, sim? E se precisar ir embora - bem, às vezes as coisas não são para sempre, não é? - bem, se precisar ir, só tente fazer isso de um jeito que não machuque demais. E se ficar, se atente para não machucar nesse processo também.

- Isso... isso tem a ver com o que você disse hoje mais cedo? - perguntou Bonnibel, baixinho.

- É, tem um pouquinho sim - disse ela, com um sorriso tão triste que fez o coração de Bonnibel se apertar inteiro. - Só não conte isso a ela. Marceline já não é exatamente a maior fã do pai dela, não quero que isso piore. Não é sobre ela, ou culpa dela.

- Tudo bem, vou guardar pra mim.

- Só... me promete que eu não vou precisar me preocupar com Marceline acabando como eu. Ou pior. Ok?

- Certo. Eu prometo.

~•~•♪•~•~

Na manhã de quinta-feira, Marceline abriu os olhos e, por uma fração de um momento, estava tudo bem. Ela sorriu e se espreguiçou.

E aí lembrou que era dia vinte e quatro de agosto.

Ela se jogou na cama outra vez, por um momento considerando fazer o que vinha evitando a oito anos: simplesmente se drogar ao ponto de não conseguir mais lembrar que deveria estar triste.

Mas ela saiu do transe da tentação quando ouviu a campainha tocar.

Abriu a porta para dar de cara com uma Bonnibel de olhos inchados, cara limpa, um vestido preto simples, o cabelo preso em um coque, tão visivelmente arrasada que Marceline finalmente se arrependeu das coisas que tinha dito uma semana antes.

- Me desculpa - soltaram as duas, ao mesmo tempo.

Marceline deixou escapar um suspiro trêmulo.

No segundo seguinte, as duas estavam em um abraço desajustado, num choro copioso e quebrado.

Elas teriam outros trezentos e trinta e cinco dias até o próximo aniversário da morte de Andrea para se odiarem. Naquele momento, as duas decidiram por levantar suas bandeiras brancas.

Quase sua própria versão da trégua de natal em meio às trincheiras da primeira guerra.

Algum tempo depois, Bonnibel dirigia até o aeroporto, suas malas e às de Marceline no porta malas, rumo à Ohio.

Elas chegaram pela noite e dormiram num hotel. Bem, não exatamente.

A noite foi passada na varanda do quarto, outra vez passando a garrafa de vinho de um lado para o outro, só que dessa vez num silêncio mórbido que nada tinha a ver com suas versões falantes do início do mês.

Quando o relógio bateu meia noite, quando era oficialmente dia vinte e cinco, as duas compartilharam um choro silencioso que se estendeu pela madrugada.

Pela manhã, as duas alugaram um carro e dirigiram, ainda em silêncio, para o cemitério onde Andrea Abadeer havia sido enterrada em 2014.

Nos anos anteriores, uma estranha estratégia de evitação havia se formado. Hunson deixava um buquê de flores uma semana antes do aniversário, assim não veria a filha. Marceline chegava no dia exato, encontrava o rastro do pai e deixava seu próprio buquê. Uma semana depois, chegava Bonnibel, fugindo dos dois e encontrando apenas as evidências de que eles haviam estado ali.

Era como se a morte de Andrea tivesse deixado um rastro de pequenas tragédias na sua travessia para a não-existência, como se todos os laços que ela havia deixado para trás tivessem entrado em decomposição junto com ela.

Quando viu os dois buquês sendo deixados sobre o túmulo, um ao lado do outro, Marceline quis acreditar que aquilo alegraria a mãe, ao menos um pouco.

Ela sempre depositava tanta fé nas duas, o que fazia com que, as vezes, Marceline fosse grata ao fato de que ela não estava lá para ver o completo fracasso que elas se tornaram.

As duas se sentaram ao chão, em frente ao túmulo, Uma foto dela tão sorridente quanto sempre fora, e então a gravação na lápide.

Andrea W. Abadeer

1976 ★ - 2014 †

Filha querida, esposa amada e mãe adorada.

E, depois de quase vinte e quatro horas de um silêncio interrompido apenas para dizer o meramente necessário, as duas se puseram a falar.

Falaram sobre as coisas que ela fazia, as coisas que ela dizia. Relembraram uma boa dúzia das brigas que ela ganhava contra Hunson, cavando à força uma trilha de liberdade no meio da vida onde ela havia sido presa quando era nova demais para saber onde estava se enfiando.

Recontaram todas as histórias onde Andrea era a vitoriosa, todos os pequenos embates que ela tinha saído por cima. Cada boba noite que ela havia conseguido colocar Bonnibel para dentro sem que o marido percebesse. Cada uma das vezes que inventou uma desculpa para dirigir, com Marceline no banco do carona, até o seu próximo pequeno show.

As vezes em que seu sorriso, que ainda achava um jeito de viver perfeitamente imitado pelos lábios da filha, havia se espalhado por seu rosto de forma tão genuína, que fazia Marceline acreditar que seria capaz de fazer todas as partes ruins valerem a pena.

E dava a ela a verdadeira motivação para ser um sucesso: não só o reconhecido, não só a possibilidade de mostrar do que era capaz.

Mas a possibilidade de levar a mãe embora, de mostrar para ela todo o mundo que ela nunca pode ver, todos os lugares que lhe foram roubados, todas as aventuras que ela deixou de saborear.

E então ela teve uma gripe forte. A gripe virou uma pneumonia e em questão de quarenta e oito horas, Andrea se foi sem que nada disso tivesse se cumprido.

E talvez fosse por isso que, às vezes, Marceline olhava para seus certificados de platina, seus Grammys e seus charts, e eles não significavam nada.

Olhava para todo o dinheiro que ganhava e não sentia vontade de fazer nada dele.

Porque, independente de quão gigante ela fosse, nunca seria grande o bastante para cumprir o que tinha prometido à si mesma.

Andrea não estava lá, nunca mais estaria, e não tinha muito mais que ela pudesse fazer a não ser odiar o universo por isso.

Odiar alguém por isso. Precisava de um objeto real para depositar toda a raiva e sensação de injustiça que ela acumulava.

Talvez, fosse por isso que tivesse lançado seu ultimato no colo de Bonnibel. Sabia que elas já tinham um plano. Ela sabia como Bonnibel era com seus objetivos.

No fundo, Marceline sabia muito bem que Bonnibel não iria embora com ela.

E quando ela realmente não foi, Marceline pode finalmente odiar alguém com todas as forças que ela odiava a ideia abstrata do universo que havia levado sua mãe embora tão, tão perto da data da sua libertação.

Podia culpar alguém por toda a solidão que ela não conseguia atribuir a ninguém. Quando não soube lidar com aquela sensação tão figurada de abandono, ela dominou o jogo até Bonnibel estar numa posição em que a forma como ela via o mundo a faria abandonar Marceline.

E pronto. Agora ela tinha um alvo viável. E por oito anos, ela foi esse alvo, mesmo quando estava longe demais para ser responsável por qualquer coisa. Marceline ainda achava um meio de culpa-la por qualquer inconveniente.

Agora ela estava de volta, e Marceline estava começando a entrar em desespero, porque estava ficando mais difícil manter Bonnibel na sua posição de bode expiatório.

Quase uma hora depois, Marceline respirou fundo, e se levantou para ir embora. Elas ainda tinham um vôo a pegar.

- Você... se importa de ir na frente? Quero ficar mais um pouco - disse Bonnibel, baixinho.

Algo na mente de Marceline ainda não aceitava muito bem que Bonnibel abraçasse tanto essa dor quanto ela, mas era capaz de entender que, depois de tantos anos cumprindo aquele ritual sozinha, Bonnibel tivesse criado seus próprios consolos e não quisesse compartilhar com ela.

- Claro. Espero você no carro.

Quando teve certeza que Marceline estava longe, Bonnibel se aproximou da lápide, ficou de joelhos em sua frente e, com um cuidado quase excessivo, encostou a testa nela.

E então desabou em choro.

Tinha um sentimento não amargo dentro dela, uma sensação tão putrida de culpa e vergonha, uma sensação tão pesada que fazia com que Bonnibel tivesse voltado de cavar I'm buraco ao lado dela e já ficar por ali.

Quando conseguiu recobrar um pouco o controle, Bonnibel tentou controlar a respiração e repetiu, mais uma vez, a mesma coisa que repetia todos os anos.

- Me desculpa. Desculpa, Andrea.

Ela quase voltou a chorar, mas conseguiu controlar desse vez.

- Sei que digo isso todo maldito ano, mas... Mas agora estou tendo que lidar com isso de cara. E não é como se eu já não soubesse, mas é tão, tão pior do que eu pensava.

Ela respirou fundo, voltou a tocar na lápide e disse, num fio de voz que mal se fazia audível:

- Perdão por quebrar minha promessa. Eu deixei ela se tornar tão, tão pior, Andrea. Deixei ela afundar tão mais que você. Perdão.

~•~•~•~•~•~•~•~•~♪~•~•~•~•~•~•~•~•~•

Aiai isso me lembra os longínquos tempos de Agridoce (pré capítulo 21), quando tinha até abaixo assinado pra me matar nos comentários por só foder com a vida dos personagens.

Bons tempos, bons tempos.

Enfim, não esqueçam de comentar, e não esqueçam de deixar um voto se tiverem gostado!

Vejo vocês no próximo capítulo,

- Tersy 🥀

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