Julgamento ao Amanhecer - Zum...

By Hazel90ss

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Por sobrevivência ela enganou a morte Por liberdade ela se tornará uma arma ☢︎︎Reviravoltas extremas, não se... More

𝑫𝒆𝒅𝒊𝒄𝒂𝒕𝒐𝒓𝒊𝒂
1.Life
2.Sign
3.Destination
4.Run more
5.War
6.New frontier
7.Plan
8.Hunt
9.Leardeship
10.Hope
11.Pass military
12.CCD
13.Explosion
14.Changes
15.Depth
16.Noodles
17.Uncovered
18.Decisions
19.Overturning
20.Communications
21.Lies
22.Sacrificed
23.HAZEL
24.Things Hazel
•Personagens |
27.Higher
28.Scarcity
29.Revenge
30.Uterus
31.Collide
32.Dance
•Personagens ||
33.Swamp
34.Dead
35.Confusion
36.Abusive
37.Depression
38.Resurge
39.Torture
40.Fire
41.Church
42.Village
43.Anarchy
44.Purpose
45.Delirium
47.Surprise
48.Arena
49. Laments
50.Airdrop
51. Energized
52. Order
53. Viseras
54. Faith
55. Redemption
56. Unknown
•Personagens |||
57. Trap
58. Foreign
59. Declaration
60. Mutation
61. WalkTalk
62. Excitement
63. Cravin
•Personagens ||||
65. Burden
66. Sheep
68. Karma
69. Limits
•Personagens||||
70. Drame
71. Survive
72. Departure
73. Cannibal
74. Calm
75. Anxiety
76. Analphabète
77. Macabre
78. Broken
79. Relatives
80. Misunderstandings

67. Volatile

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By Hazel90ss

As circunstâncias nós tornam tão moldais, podem aflorar um talento, podem sucumbir um dom, nosso ambiente é deliberado e maquiavélico, ele pode te encher de cicatrizes, ele pode te levar aonde você quer chegar, mas quem você é, sua essencial não morre, seu caráter se molda, seus valores mudam, até a perspectiva sobre a vida pode mudar, porém o que você é, o que você realmente nasceu para ser não morre, não sucumbi não delibera, ele fica numa parte que no momento certo irá ser usado, você vai errar por mais sagaz que se ache, vai errar, mas se quiser continuar vai ser com sua correção ao erro que você vai aprender, aprender e recuperar sua essência guardada para aquele momento, não vai ser tão ruim, nunca foi, e quando estiver pronto, quando seu cérebro estiver pronto, seu coração poderá assumir.

KENNA

A cada dia que passava sentia minha paixão por Druig mais forte, era como se todos os problemas que tive até agora valessem apena para finalmente eu estar aqui com ele.
Estávamos sempre juntos curtindo o momento, as pessoas sempre nos olhavam, ou pelo menos me olhavam de um jeito estranho, mas meu mundo estava tão concentrado nele, nunca senti isso, era intenso e poderia durar a vida toda. Hazel não gostava dele, apesar do aval dela sobre nós, ela não mantinha contato como antes, não me procurava mais, estava distante, Tank dizia que ela só estava concentrada para missão, mas sei que Hazel tinha receio de eu desistir, no fundo eu fazia por ela, por tudo que ela me fez, porém gostaria de vez em quando pensar em mim, Druig me fazia pensar em mim e dizia que deveria me colocar como prioridade, e eu também acho.

— Shhhhh faça silêncio, eles não podem nos ouvir - Druig sussurrava em meio a imensidão aquática.

— Será que vamos conseguir mata-los? - Perguntei.

— Claro, assim que pegar o acerte na cabeça uma vez com força e precisão, você sabe, já fez isso antes.

— Na verdade não, eu nunca nem tentei.

— Acho que estou sentindo um.
Druig puxava a linha da vara de pesca, junto vinha um enorme peixe, era um fim de tarde ensolarado, e estávamos no meio do enorme rio abaixo da ponte principal —  Vai Kenna, acerta ele.

Meio sem jeito, mas precisa o apanhei pelo rabo, ele se debatia agressivamente com insistência como se lutasse pela vida mesmo fora de seu mundo.

— Vamos Kenna, se não ele vai pular pra fora.

Com uma facada acertei sua cabeça, a fincando, ele foi parando aos poucos e permaneci ali por algum tempo olhando seus detalhes da escama que brilhavam ao sol, voltei a mim quando senti meu sangue na mão descer sobre aquele peixe, agora morto.

— Kenna você está sangrando, deixa eu ver - Druig passou pelo barco até onde estava na outra ponta e pegou em minhas mãos, onde havia um corte raso, mas que sangrava muito — Acho que o rabo do peixe de cortou.

Com delicadeza passou água sobre o ferimento e enfaixou com parte de sua camisa a rasgando.

— Não precisa, eu tô bem.

— Se ficar sangrando por aí, vai por mim, vai ser pior.

Enquanto ele cuidava de mim, sentia estar no melhor lugar do mundo, era uma sensação de acolhimento e amor inigualável, seus olhos azuis resplandeciam como as escamas daquele peixe, seu cabelo escuro secava ao sol depois de um mergulho mais cedo, eu poderia ficar ali pra sempre, mas já era hora de voltar.

— Sabia que eu nunca tive alguém.

Ele deu uma risada e se ajeitou a minha frente inclinado o rosto, olhando pra minha boca.

— E eu nunca tive alguém como você.

Desviei o olhar, acho que nunca me acostumaria com essas coisas.

— O que? Uma menina sem experiência?

— Não, alguém com tamanha experiência.

— Eu sei que já esteve com Atena...

Agora era a vez dele desviar o olhar num suspiro impaciente recolhendo a vara esticada na embarcação.

— ... O que houve com vocês? Ela parece que ainda sente algo por você e eu perto dela não sou grande coisa.

— Kenna, você é totalmente diferente de qualquer pessoa que eu já estive.

— Diz isso para todas?

— Talvez, mas para você é verdade.

Nada modesto.

— Então me diga, o que houve realmente com você e Atena.

Ele revirou o olhar e abaixou o olhar elevando suas mãos coçando a cabeça.

— Eu tive momentos com Atena, momentos bons realmente, ela foi minha parceira desde antes disso, quase nós casamos.

— E aí? O que aconteceu com essa tamanha união. - Inclinei meu corpo, prestando mais atenção.

— Depois de um tempo, algumas coisas ruins aconteceram, uma seguida da outra, e quando não conseguimos mais sustentar a dor um do outro, eu a abandonei, não a trai, não a machuquei, só me afastei para evitar algo pior.

— Não a machucou? Ela parece um pouco diferente agora.

— A menina doce que eu conheci, não existe mais, deu lugar a mulher ardilosa e que faz de tudo para passar por cima de quem entrar no seu caminho.

— Mas por que se afastou? - Retomava a pergunta, que lhe incomodava mais uma vez.

— Senti que nossos caminhos eram diferentes, nossos valores, ela não aceitou muito bem, mas segui com esse rancor dela.

Eu observava suas palavras, não sei se confiava, e toda vez que acontecia lembrava da voz da Hazel intragada me relembrando a não acreditar na primeira resposta expontanêa de alguém, eu gostava dele, mas isso não me impedia de ter um olhar crítico ao mesmo tempo.

— Acho melhor a gente voltar. - Indaguei.

Ele me mirou imediatamente.

— Eu fiz alguma coisa?

— Só está escurecendo, já temos o suficiente de peixe. - Empurrei o balde cheio de peixes pescados mais cedo e virei para o outro lado.

Ele engoliu a seco e começou a ajeitar o remo nós puxando para margem. Após alguns metros pulamos para fora com as calças erguidas e empurramos o barco até terra firme, Druig o amarrou e partimos atravessando a floresta densa, não havia mortos ali, alguns corpos em decomposição, mas nada realmente ameaçador. De repente ouvimos barulho ao nosso redor de galhos sendo quebrados, o som vinha junto com a brisa gelada que arrepiava meu pescoço.

— Tem alguém aqui. - Pensei alto.

Nós agachamos rente a uma árvore e seguimos com os olhos a cada arbusto que se movía, assim que nos levantamos para continuarmos fomos parados por dois homens, que conheciam Druig.

— Então o cão de caça está saindo sem seu dono? - Disse um homem de aparência assustadora com metade do rosto deformado por queimadura.

Druig passou a minha frente me levando para trás com as mãos.

— O que querem? - Disse ele em tom alto e rústico.

— Olha Freddy, ele não está sozinho, tem uma cadela com ele - Começaram a nós rondar.

— O que disse seu cão sarnento? - Retruquei passando por Druig que me segurava mais uma vez.

— Uou a cachorrinha até que morde rumm - Um deles rosnou para mim pensando que recuaria.

— Deixa ela em paz Sam, não precisamos ter mais mortos por aqui.

Sam o mais instável sacou o facão de trás das costas e fincou a um tronco a frente.

— Diz isso para o Klaim, aquele filho da puta - O mesmo retirou o facão agora posto no ombro — Quer saber, vou fazer você mesmo dizer isso a ele, mas depois que eu estuprar sua namoradinha, junto com o Freddy, não é Freddy?

— É Sam, espero que não tenha comido ela ainda Druig, deixa essa para eu mostrar o que é um homem de verdade.

— Se tocar nela, não vai ter olhos para ver o que vou fazer com o resto do seu corpo - Druig me apertou, enquanto rolava aquela reciprocidade, preparei a adaga que Hazel havia me dado, ela era perfeita para golpes rápidos, já vi Hazel ter grande precisão e chegar a arrancar a cabeça de vários zumbis com ela. O problema é que eu não era ela, por mais que tenha me ensinado tanto, nada era como na prática.

Ali encurralados por dois inimigos que logo deferiram o primeiro golpe, fui jogada para trás e Druig começou um confronto com um deles, eu entrei em choque comecei a descer lentamente rente ao tronco da árvore, os dois violentamente atacavam Druig que incrivelmente tinha certa leveza com a faca e a cada passada era um golpe certeiro e preciso, que abateu um deles caindo, até que por um descuido o último acertou suas costas, ele se ajoelhou e quando vi o machado sendo erguido por um deles, lembrei de tudo que aprendi até aquele momento, a adrenalina me impulsionou, senti meu sangue ir para partes do meu corpo que fariam eu ter a precisão que Hazel me ensinou, assobiei e friamente a deferi em suas costas na parte direita ao seu braço, perdendo as forças no nervo agora para fora que foi trazido pela ponta da adaga retrátil, ele ainda tentava estancar a jorração de sangue que era muita, ele cambaleou algumas passos a frente e caiu como um pássaro que colide com o avião.

Num estado de fúria ainda pude ouvir seu respirar, passei por Druig que tentou ainda me segurar, mas continuei de encontro a Sam, chutei seu corpo para que se virasse e me olhasse de baixo, ele sufocava em seu próprio sangue, mas ainda teve a forças para dizer sua última maldade.

— Acho que ... Eu ainda... Consigo de fuder. - Cuspia sangue.

Não senti pena, na verdade não senti nada por ele, e finquei a arma eu seu órgão, subi em cima dele e ainda vivo sussurrei em seu ouvido, enquanto o mesmo já desfalecia.

— Eu vou te fazer sentir algo.

Dali em diante definhei tantas facadas que mesmo sem forças ainda cortava seu rosto o deixando irreconhecível, parei quando Druig me tirou de cima dele e me segurou para longe, eu tremia e chorava e por ali ficamos por um tempo.

HAZEL

Já estávamos a quase 2 semanas naquele lugar, a criatura já dava sinais que estava nas redondezas, sem alimentos e com toque de recolher bem mais cedo, Klaim não dizia nada para mim e achava que poderia me esconder, Benício se recuperava bem e ele era a causa de eu ainda estar com tempo de pensar num plano. Naquele final de tarde fui até Klaim que me chamou para conhecer meu transporte até o local.

— Cavalos?

— O melhor transporte, não é mesmo Apollo?

— Sim senhor, silenciosos e rápidos. - Concordou a pessoa responsável pelo recinto.

Confusa apoiei minhas mãos na cintura molhando os lábios, naquele estábulo.

— E qual vai ser o meu?

Klaim apontou para um dos ranchos, me aproximei com as mãos cruzadas, o mesmo confirmou com os olhos.

Indignada franzi a testa e retruquei.
— Vai me dar um cavalo doente? Para morrer no meio do caminho?

— Chamamos de cavalos de sacrifício, usamos em missões não tão longes, mas perigosas, podemos usá-los de iscas ou deixar largados por aí, não vão sair do lugar mesmo.

Klaim riu e Apollo responsável pelo local se juntou a basbaquice sem fim.

— Não. Muito obrigada, normalmente eu uso humanos nisso, inclusive só estou aceitando Druig por isso.

Apoiado a porteira Klaim fechou o rosto e se virou a mim.

— Sabe do nosso acordo, e sabe bem que se ele não voltar muita gente não vai gostar, inclusive seu ratinho de laboratório.

— Já disse que não ia ser babá de ninguém, e isso inclui correr riscos individualmente.

— É o que temos. É pegar ou largar. - Disse em tom provocativo, após isso passou por mim me deixando lá.

Fiquei vendo aquele pobre cavalo no canto, Apollo falou.

— Ele se chama Coyote, foi um bom cavalo a um tempo, na verdade o melhor, depois que seu dono morreu, parece que se sente culpado e vive pelos cantos, talvez esperando a morte.

— Sei como se sente.

— O que? - Confuso disse Apollo.

— Nada não, diz para o Klaim que vou usar ele, mas não me responsabilizo por nenhuma morte.

Sai do local que me trazia pensamentos traumáticos com passos firmes de volta a casa preparar as coisas para o dia seguinte, quando reparei que ao longe Tank ria com Atena. Me apoiei rente a cerca de uma plantação, me escondendo ao longe atrás de uns agricultores e enquanto do outro lado Tank trabalhava cortando lenha, ele estava suado com sua regata e as tatuagens amostra, lembro de ter falado com ele de manhã e já de tarde ele ainda permanecia ajudando o grupo responsável pela guarda das cercas.
As dores de cabeça tinham voltado mais fortes, por isso não fui até Tank, resolvi ir logo para casa, mas de longe se ouvia a gargalhada de Atena, confesso que tive ciúmes, Tank normalmente não me dizia coisas tão engraçadas ou acho que eu não tinha muito o senso de animação.
No decorrer do caminho, um dos cara de Klaim disse que era para encontrar ele em meia meia hora, perguntei do que se tratava e o mesmo só se virou indo embora, todos eram bem sérios e ocupados em manter aquele local em ordem por mais que isso não fosse possível por muito tempo, o meu pensamento desses locais era o mesmo, fique o mínimo possível, eram todos quase iguais, primeiro delimitavam uma área,  limpavam os mortos e vivia em conjunto, o efeito manada do instinto humano era permanente, sempre criaríamos grupos para de alguma forma nos sentirmos seguros, talvez pensem que existem muitas pessoas nestes locais, mas não, quando cheguei eram 50 já morreram 7 pessoas de modos diferentes em 1 semana, a menor taxa, doenças, zumbis, suicídios que era a grande parcela, nos desintegrávamos aos poucos nunca vi um grupo ser maior que 50, o final era igual para todos e queria ir o mais rápido possível daquela utopia que tentavam viver.

(...)

— Pediu para que eu viesse, o que quer Klaim?

Ele estava falando com algumas pessoas e parou a conversa para me atender.

— Depois vemos isso, podem ir...

Confesso que ele me intrigava, não via muito ativo durante o dia, não sabia bem o que fazia, mas nunca estava aqui.

— ... Hazel eu preciso que você venha comigo, é a única que sinto ser capaz de me ajudar.

Confusa e intimidada de alguma forma perguntei.

— Nossa, estou me sentindo até importante agora.

— Mas você é.. - Minhas bochechas coraram, a conversa era subjetiva, na verdade Klaim sempre foi subjetivo comigo — É a única capaz de me ajudar a matar os sapos, porque já esteve cara a cara e pegar os mantimentos, não tivemos opção, falta suprimentos e só naquele lugar tem.

Meus ombros tensos, logo relaxaram.

— Por que não pede para Atena então?!

— Ela não tem experiência com eles. Pedi para que ela ajudasse os meninos com a lenha e na manutenção das cercas, a criatura já dá sinais.

— Eu vi, ela está servindo de grande ajuda sim - Ironizei.

Ele ajeitou o coldre e empolgado do seu jeito sem extravagância, balburdiou.

— Vá até o padre e peça a arma que quiser, depois me encontre no estábulo, leva uma blusa de frio.

Ele partiu sem mesmo ouvir se eu concordaria, lidar com voláteis não era minha praia, eram criaturas imprevisíveis, surpresa e mirando o nada, me recompus e fui até a igreja, não ia muito lá desde a última conversa e a sensação estranha que o padre me passava.

Abri aquelas portas de madeira rangidas, meus passos até o altar ecoavam o local silencioso e iluminado.

— O bom filho a casa torna.

O padre parecia saber da minha presença, pois assim que parei em frente ao altar para encontrá-lo, o mesmo surgiu de trás de uma estante de livros ao fundo.
Fazia calor e os raios varavam as janelas naquela tarde ensolarada, iluminando a pele negra do Padre que vestia vestes agora casuais marcando seu corpo robusto.

— Klaim pediu para que eu viesse pegar uma arma com o senhor.

— Então venha! É por aqui.

Desconfortável me pus a segui-lo, descemos uma escadaria nos fundos da igreja em formato de S, eram feitas de pedra, comum nas igrejas mais antigas, chamavam de cripta, usada para enterrar pessoas do alto clero e aristocratas ricos, no intuído de acreditar estarem mais perto do céu, mas na real eram todos podres de alma que mesmo que estivessem diante do todo poderoso estariam ainda longe da gloria eterna que tanto pagavam.

— Pensei que nunca mais ia te ver.

Na tentativa de não voltar aquela conversa que tivemos e não me sentir mais daquela maneira, mudei o assunto.

— Por que guardam armas aqui?

— Não é o melhor local? Estão na benção divina.

Parei na metade da escadaria e ele percebeu se voltando a mim.

— Estou brincando criança, quem é que procuraria armas numa igreja.

— Faz sentido, mas por que mantém uma igreja no meio disso tudo?

Ele apoiou as mãos nas paredes de pedregulhos.

— Temos que alimentar essas pessoas.

— Você quer dizer, esconder delas o que está acontecendo.

— Ninguém aqui é cego Hazel, todos sabem o que está acontecendo...

— E querem fingir que não está acontecendo.

— Você contesta feito uma criança - Ele riu e juntou as mãos a frente — A fé é nosso combustível Hazel, acreditar nela não é se iludir é se manter são e firme no propósito.

— Que propósito? O mundo acabou.

— Você não acredita nisso, você mesma está na busca da cura, e pra isso exercita sua fé, sem fé você não continuaria, não faria sentido.

— Não tenho fé a um tempo.

Ele se aproximou vagarosamente na minha direção subindo um degrau.

— Claro que tem, pode dizer que faz isso para se sentir viva, por extinto, por ter prometido para pessoas que ama, mas no fim a maior força que vem de você vem daqui... - Ele apontou para meu coração — Sua fé é exercitada quando você acredita e busca isso independente como você se motiva, a fé é como o oxigênio, se não tiver você sucumbi, não tem sentido viver sem ter propósitos e propósitos tem como fundamento a fé, não estou falando de fé religiosa, estou falando de algo que nasceu consigo, você acorda todos os dias por algum motivo, mesmo que seja para escovar os dentes, sua fé te move para isso porque acredita que precisa.

— Então essas pessoas precisam de um sentido para acordar todo os dias?!

— Sim, elas precisam de um motivo para escovar os dentes.

Ele retornou a descer o restante da escada, o Padre empurrou um móvel com base removível e pude ver um grande arsenal desde metralhadoras a pistolas.

— Aonde conseguiram tantas armas assim?

— Estamos nos Estados Unidos querida, agora escolha a sua espada.

Fui mais a frente, pegando em uma Glock e me contentando.

— Pega mais uma - O padre insistiu.
Me sentía estranha perto dele, como se pudesse ouvir meus pensamentos.

Agarrei uma MP5, e em um movimento rápido troquei seu cabo e adicionei acessórios como mira e lanterna quase a transformando na versão N daquela aberração.

— Você é agiu nisso, a mais competente que vi, mas deixa eu te ensinar...

Ele pegou a arma de minhas mãos e no mesmo movimento mais rapido removeu a coronha e adicionou outra.

— ...Assim, vai sentir mais leveza e menos recuo, coisas raras em armas.

Meio reclusa em mim, pude ver que ele não era apena um simples padre.

— O que você fazia antes disso?

Ele me olhou como se passasse um filme em seu olhar, ele riu e mirou o chão, indo colocar a bandoleira na arma.

— Eu já fui alguém que a sociedade julga como herói, mas que não sabem o monstro que alimenta.

— Atendente de telemarketing?

— Navy Seals.

Navy Seals era a principal forças de operações especiais da Marinha dos Estados Unidos e um componente do Comando Naval de Operações Especiais (NSWC), atuavam em terra, mar e céu, o grupo mais desprovido de sentimentos que já vi, entretanto o padre parecia ainda possuir simpatia.

— E o que aconteceu?

Ele respirou fundo e me devolveu a arma que a cruzei nas costas.

— Um dia você se perde em tanto sangue, e encontra luz, escolhendo se afogar em algo menos vermelho.

— Não parece menos pior agora.

— Acredite prefiro lidar com os mortos do que os vivos. - Afirmou ele agora menos sorridente como costumava ser.

— Bom, nesta parte eu concordo.

Agora em uníssono sorrimos um para o outro.

— A algo em você diferente dos outros.

— Não deve ser a roupa. - Brinquei.

— A luz atrás de você. Pelo jeito que Kenna falou de você, parece que está sempre dos dois lados.

— Não tenho medo de estar.

— E nem precisa, tem alguém que te protege na escuridão e alguém que gosta de você na luz, por algum motivo. - Ele me observa como se visse isso mesmo em mim.

— Que bom ter ajuda dos dois lados.

— Na sua posição não é muito favorável, torça para não ser a favorita de Deus, não é bom estar entre a cruz e a espada.

— O que está dizendo é loucura - Me virei para pegar as munições e sair logo dali.

— Não ache que Deus é um ser tão bonzinho quanto na história, os pecados só são proibidos porque um dia ele também os cometeu.

— Está me dizendo que ele se iguala a nós?

— O homem é a sua semelhança, e não estamos falando de aparência, a ganância existe dos dois lados céu e inferno.

— Está dizendo que sou um desafio para Deus e o Diabo? - Provoquei pela última vez antes de ir embora com sarcasmo, e de uma forma intrínseca e seria me respondeu.

— Você é o prêmio.

O mirei por certos segundos e quando vi que o mesmo dizia com seriedade, partir rapidamente o deixando parado lá em baixo, ainda pude sentir seu olhar me seguindo.
Senti um arrepio na nuca quando ao sair e me virar para fechar as portas ele já estava no altar em pé com as mãos a frente do corpo ainda me secando.

Respirei fundo naquela paranoia aleatória que tive e fui ao encontro de Klaim, no caminho ainda pude ver Tank com Atena agora a ensinando a cortar um fecho de lenha, resolvi então avisá-lo que estava saindo e ver o que estava acontecendo.

— Estou atrapalhando alguma coisa?

Tank suado, secou seu rosto com a camisa e Atena mal disfarçou em olhar de propósito.

— Oi Hazel, eu estava ensinando ela a terminar as estacas que vamos colocar lá na frente.

Ela se intrometeu num tom de voz risonho e doce, bem diferente de como falava com outros.

— Ele só estava me ensinado, faz tempo que não faço isso andava muito ocupada com o Klaim, mas agora ele está ocupado com você não é?.

Tank fechou a cara e fincou o machado no tronco.

— Que historia é essa? - Tank nunca fez a linha ciumento, mas desta vez ele se irritou.

— Vou ajudar o Klaim a pegar suprimentos.

Tank se virou para mais perto de mim e disse.

— E ele não podia pedir para outra pessoa?

Franzi a testa e cruzei os braços.

— Pergunta a ele, não foi eu quem me ofereci, ao contrário de algumas pessoas.

Atena continuava sorrindo e fazendo a sonsa

— E você não ia me contar?.

Nesta hora me irritei com a secura de Tank a mim.

— Ia te contar, mas Atena se intrometeu primeiro.

Vendo o conflito instalado Atena jogou mais lenha na fogueira, como ela sempre fazia.

— Calma Hazel, Tank não deu em cima de mim, mas o senso de humor dele é incomparável - Ela olhou a ele de forma apaixonada o tocando no ombro, Tank recuou, mas ela continuava tendo contato — Não sei como uma pessoa sem sal como você pode estar com ele.

Atena era tão ardilosa e corajosa a ponto de provocar alguém armado, num impulso dei um passo bruto para frente e Tank se jogou na frente segundo meus dois braços.

— Não Hazel.

— Tira as mãos de mim. - Estava estagnada com a situação, o mesmo retirou suas mãos, mas ainda ficou entre nós.

— Vocês não tem aquele lance de sororiedade entre mulheres? - Falou Tank com temor na voz.

Atena provocou mais uma vez.

— Foi isso que falei a ele Hazel, o que a gente tem não pode sobressair nossa irmandade. - A mesma fez um gesto de bater no peito sinalizando algum tipo de pacto que tínhamos por sermos mulheres.

Me voltei aos quase dois metros de Tank.

— Sororiedade Tank? Neste mundo? Vá a merda, o mundo é uma batalha seja ou homem ou seja mulher, quem pisar no meu caminho vai morrer, inclusive quem não sair dele.

Descontente dei as costas a ele que então entrou em estado de raiva dando machadadas na lenha. Se Atena queria conflito ela havia conseguido.

(...)

— Pegue seu cavalo, está pronta? - Klaim trouxe um cavalo avido e saudável, acariciei sua crista.

— Esse cavalo é muito bonito.

— É meu, se chama Zeus.

Confusa revirei o olhar rápido.

— Vai deixar que eu o use?

— Com ele vou ter certeza que nada vai acontecer com você.

— Não confia em mim?

— Não... nem um pouco... - Ele novamente olhou para minha boca como se prestasse atenção em minha fala, toda vez ele fazia isso, com tom de voz suave na última frase.

Abaixei a cabeça e segurei no cavalo para subir, quando Klaim segurou em minha cintura, senti algo inapropriado, não precisava de ajuda, mas também não reclamei, após subir ele acariciou a barriga do cavalo e ajustou meus pés com firmeza.

Ao subir no seu, seguimos para fora dos portões.

(...)

Depois de algum tempo de cavalgadas, chegamos ao destino, já estava anoitecendo, horário perfeito para não encontrar voláteis no local.

— Aqui? - Sussurrei ainda na porta.

Estávamos numa espécie de fabrica de alumínio, era gigantesca, de fora já podíamos ver as máquinas que extraiam a bauxita, mas ainda muito claro, provavelmente mais ao fundo era a parte escura onde os voláteis se mantinham durante o dia, por estarmos longe das cidade e rodeado de grandes espaços verdes.

— Sim, vamos amarrar os cavalos aqui dentro desse deposito e deixar alguma comida, até voltarmos.

Klaim pegou os cavalos e eu só mirava aquela imensidão de fabrica para somente duas pessoas.

— Por que quis que só eu viesse? - Indaguei.

O mesmo fechou as portas do galpão onde os cavalos estariam seguros.

— Queria ser rápido, e também ver como se sai em operação, só precisamos de algumas coisas.

Senti que não era só isso, mas não fiz uma de menina inocente.

Fomos nos esgueirando rente aos muros e máquinas até chegar na linha do sol que diminuía a cada minuto e dava acesso aos dormitório dos trabalhadores, segundo ele, cheios de comida.

— Hazel daqui em diante vamos esperar o anoitecer, sabe como se comportam, ficam em roda como morcegos inertes, se haver um barulho se quer, não vamos ver a luz do sol antes de nós dilacerarem. Toma - Ele me segurou pela mão e me entregou um capacete de óculos noturno junto com 2 granadas de luz — Use isso quando estiver encurralada, os óculos são por fótons você sabe como funciona, já foi do exército.

Ao acoplar aqueles equipamento me deu um dejavu bem forte, trouxe a arma para frente a empunhando, com a viseira erguida até não ver completamente nada, continuamos dentro de um banheiro pequeno ao meio da fábrica com janela na porta, assim que escurecesse completamente, íamos ver a manada sair.

Com as granadas acopladas em minha cintura, as segurava toda vez que ouvia um barulho na janela atrás de nós.

18H30
Era a hora da completa escuridão, o céu deu lugar a uma lua cheia iluminada e de ar limpo, meu coração se acelerava, éramos só dois contra mais de 50 ou mais ali naquele lugar.

Vendo meu nervosismo Klaim sussurrou demasiado perto.

— Se fomos mortos, pelo menos a lua está linda hoje.

O observei me encolhendo mais ainda na parede.

— Se fomos mortos hoje, saiba que eu não quis vir.

— Bom, pelo menos vou morrer ao lado de uma pessoa que fica bonita a luz da lua.

Nessa hora me fechei e abaixei a viseira ligando a luz noturna.
De repente pudemos ouvir os pequenos passos e barulhos ecoosos no local, no escuro absoluto surgia os primeiros corpos em podridão e força incomparável ressurgindo para mais uma noite de caça, desajeitados alguns andavam como animais outros já se erguiam eretos e posturados, apenas quando o líder saiu os outros correram atrás como pássaros em deslocamento aos montes revirando tudo do local. Quando finalmente o silêncio se instalou e pudemos ver pela outra janela de fora os voláteis correrem em direção ao vale e floresta, saímos.
Meu dedo estava no gatilho o tempo todo, e o silenciador instalado, o local onde permaneciam fedia a putrefação, carnes espalhadas, dejetos junto a animais e seres humanos arrastados uma cena horrível, para todo lado vermes até nas paredes, a vontade de vomitar era inevitável.
Klaim ia na frente com colete, sempre fatiando cada centímetro, ao final da parte escura estava a parte de dormitórios e a cozinha dos trabalhadores.

— Hazel é aqui! Eu vou abrir e você atira no que se mover.

Me posturei e esperei qualquer movimento, não houve e pude respirar mais uma vez. Até que atrás do enorme fogão industrial pudemos ouvir um chiado, na verdade como se algo estivesse comendo.

Klaim foi por um lado e eu por outro, quando acendemos a lanterna vimos uma mulher suja com um zumbi agachada comendo algumas peças de carne deixada pelos voláteis.

— Quem é você? - Disse eu ferozmente.

A mulher não tirou o olhar de Klaim e me mirou através da luz ainda mastigando o que parecia ser o fígado de alguém.

— Levanta! - Exclamei.

O mulher continuou a comer, me entreolhei com meu companheiro, e ele fez um movimento com a cabeça para irmos. Abaixei a mira e fomos em direção ao deposito de comida, havia muita coisa ali enlatados, leite, cereais, ninguém nunca havia chegado ali pelos voláteis.

— A quanto tempo estava pensando neste plano? - Perguntei.

Klaim abriu a bolsa e foi colocando tudo dentro das duas bolsas e fiz o mesmo.

— Desde que um dos nossos morreu para vir aqui - Disse em tom de melancolia.

— Essa pessoa parecia ser importante para você, e ainda quis vir?

— Eu só estava esperando a pessoa certa para me dar coragem.

Naquele momento pude refletir que mesmo o mais aparente corajoso possuía sua covardia.

— Não sou a melhor pessoa para dar coragem a alguém.

Ele segurou a lata de milho da mão gesticulou.

— É a única que consegue segurar uma arma e apertar o gatilho, trouxe você porque se eu não sair, quero que me dê um tiro e fuja, diga a todos que tentei.

— Trouxe eu para ser sua carrasca?

— Trouxe você porque...

Mal pude terminar a frase indulgente quando ouvimos grunhidos muito perto. Jogamos as mochilas nas costas e saímos, Klaim foi a frente, quando sai esbarrei nele que permaneceu estático, um volátil menor estava bem a nossa vista, tomei a frente e atirei, a espécie era ágil, desviou dos tiros e correu em nossa direção, corremos a uma sala próxima e nos trancamos em um dos dormitório, a criatura batia com toda força na porta de aço, fazendo um barulho ensurdecedor, atraindo outros.

— O que vamos fazer? - Elevando as mãos na cabeça Klaim perguntou.

— Não tem janelas aqui, droga. - Coloquei as mãos na cintura e andei de um lado a outro — Tenho uma ideia, vamos abrir a porta e jogar a granada de luz, corremos e abaixamos a viseira.

— Não vai dar certo, eles já devem estar na porta.

— Tem algo melhor? - Elevei os braços em desacordo.

— Foi minha mulher que morreu aqui.
Num estado de nervos, Klaim desabafou.

definhei a sua persona, surpresa com tamanha situação, me pus a dar um empurrão nele por ter me levado a estar ali por problemas pessoais indiferentes a mim.

— E porque voltou aqui? Era uma cilada? É isso? -
Comecei a bater em seu peito, ele me segurou e com gesto rapido me beijou suavemente enquanto dezenas de mortos chegavam ao nosso encontro, ao parar retirei meus lábios do dele e lhe dei um tapa.

Ele moveu o maxilar, e agora minha marca estava em seu rosto.

— Desculpa, me desculpa Hazel, eu merecia isso, não sei o que estava na minha cabeça.

— Nunca mais faça isso, não me enxergue como alguém que possa olhar para você da mesma forma que um dia sua mulher olhou, eu não sou ela, nem sou seu motivo de se redimir do passado. Sabe que eu tenho alguém me esperando.

— Me perdoa, não sei o que deu em mim, estar aqui e ver o cadáver dela...

Klaim começou a engolir o choro e travar a voz ao falar de sua esposa.

— Que cadáver? - Ele havia visto o corpo de sua esposa e não tinha dito nada, talvez por isso o descontrole.

— Não importa agora, vamos lá.

— Klaim me diga...

E sem terminar a frase, Klaim abriu a porta atirou no volátil e jogou a granada, logo em seguida foi minha vez, o único problema é que ela não disparou na hora, só quando abaixamos a viseira de visão noturna isso aconteceu, o flash foi tamanho que quase nós cegou e acendeu um clarão que poderia ser visto de longe, correndo e passando pela cozinha, desnorteada acabei esbarrando em algumas panelas  caindo em cima de um corpo verminoso, meu rosto encharcou de sangue e larvas senti engolir algumas.
A criatura desesperada pelo meu cheiro correu em minha direção como um animal desgovernado, me joguei para trás, saquei a pistola e descarreguei o pente, ela caiu antes que me alcançasse, e só pude ouvir Klaim gritar la de fora.

— HAZEL CORRE DAI!!!
Não dava tempo de sair pela parte principal, seus passos estavam próximos a cada metro, a única solução foi me jogar pela janela alta, e assim fiz, cai do outro lado da fábrica, tirei o capacete noturno me contorcendo de dor e com estilhaços de vidro por toda parte.
Corri ao relento aquele vasto terreno de grama alta, até chegar na floresta, lá subi em uma árvore e tirando os vidros que me incomodavam das mãos permaneci por um tempo.

Após alguns minutos as criaturas saíram novamente para caça, eu não tinha muito tempo já ia amanhecer, tinha que procurar Klaim e pegar os cavalos.

Corri o mais rápido que pude, sorrateiramente entrei pelo começo e fui seguindo até a cozinha industrial ao final para ver se encontrava Klaim, sem sucesso até mesmo a mulher que estava lá não se encontrava mais. Sai do local e comecei a procurar pelos lados, Klaim surgiu de trás do deposito.

— Onde você estava? Temos que ir.

Não.

— Do que está falando? Temos que ir, falta meia hora para eles voltarem não vamos conseguir pegar as coisas até tirar os cavalos.

Ele tinha o fenótipo triste e orgulho.

— Vamos fazer uma última coisa.

Afastada dele pronta para derruba-lo em qualquer movimento brusco falei.

— Eu não sei o que você tem com esse local, mas me escuta, temos que ir, eles vão voltar e assim que o leste estiver iluminado, não vamos poder fazer nada.

— Vai ser rápido vem comigo.

Ele saiu na frente entrando novamente na fábrica, bati o pé serrei o punho e fui atrás.

Na parte onde eles ficavam pois não batia a luz do sol em nenhum momento do dia, Klaim acoplou C4.

— O que você pensa que está fazendo Klaim?

— Eu vou explodir isso daqui.

Ansiosa toquei em seu braço o impedindo daquilo.

— Você está louco? Vai atrair a cidade inteira e até a criatura quando isso começar a pegar fogo.

— Eu não ligo, não vou deixar mais ninguém morrer para essas coisas.

— Klaim olha para mim - Segurei em seu rosto quente e logo em seguida em suas mãos — Você não vai salvar ninguém desse jeito, vai matar a todos, sua esposa nunca ia querer isso.

— Ela ia sim, ela está comigo agora.

Ele olhou sobre meu ombro, e aquela mulher que tínhamos visto antes se ergueu de trás do fogão industrial. Era um zumbi.

Ao mirar sobre sua cabeça, ela não ameaçava como os outros, não foi violenta.

— Não precisa Hazel, ela está acorrentada.

— Porque ela não está nos atacando? - Ainda permanecia com a mira em seu crânio.

— Porque ela ainda me reconhece - Meu coração disparou com tamanha estranheza — Veja. - Disse ele se aproximando.

Do outro lado do balcão Klaim ficou ao meu lado e a frente dela, a mesma não reagia e não desviava o olhar dele.

— Oi amor, eu estou aqui, eu trouxe alguém que vai te fazer descansar finalmente.

— Você me trouxe aqui para isso?

Ao que parecia Klaim não me convenceu a vir para pegar suprimentos, trouxe porque não tinha coragem de matar sua mulher mesmo depois de morta.

— Você é a única que apertaria o gatilho, a única que sinto ser mais corajosa para isso - Ele secava as lágrimas com o antebraço — Por favor, não faça por mim, faça por ela.

— Eu corajosa? - Juntava as sobrancelhas pasma.

Em toda minha jornada nunca tinha visto algo igual, o que passava em minha mente era, como era possível? Como ela tinha consciência que era ele? A mesma não tirava os olhos dele, não o machucava ao se aproximar, isso era o amor reinando sobre a doença, ou o primeiro estágio do vírus? A primeira opção era a mais bonita, se o que nos tornava humano fosse nossa a salvação, então não seríamos salvos, pois eram raros os sentimentos demonstrados, estávamos muito preocupados em matar ao invés de amar, sempre diziam que o amor era uma droga e se fosse medicinal?

Peguei sua mão que queria toca-la e o afastei dela, pedi para que fosse para um lado e eu a por outro, atrai sua atenção e saquei minha adaga, mirei o fundo de seus olhos e senti que ela estava lá presa gritando por ajuda, senti muito por salvar aquela vida a dando a morte.

Em um movimento perfurei seu crânio, a mesma caiu e Klaim a segurou caindo junto a ela, ele ajeitou em suas pernas e ficou sentado acariciando seus cabelos, ela era o amor da vida dele e aquilo cortava o coração, queria chorar a cada pensamento que tinha se isso acontecesse com Tank, eu acho que não aguentaria tamanha dor.
Após um tempo ele levou seu corpo para fora e voltou para me ouvir.

— Já que quer acabar com eles, faça de um jeito que não leve ninguém junto.

— Como quer fazer?

— Vamos esperar até o amanhecer, assim que eles se juntarem fechamos as portas e colocamos um móvel na janela quebrada e trancamos as portas, jogamos uma C4 no teto alto, que vai se quebrar e cair em cima deles, abrindo com o sol direto neles.

— Uou, você é estrategista demais Hazel.

— Eu tento.

Colocamos o plano em execução, assim que vimos os primeiros raios de luz a horda voltou para dentro, assim que fecharíamos a primeira porta por onde entramos de ferro girando a manivela por fora, os trancaríamos, as janelas eram bem altas e pequenas na fábrica, as que tinham na cozinha foram fechadas comigo e Klaim por móveis e mesmo assim quando o teto de concreto cedesse esmagaria a todos.

— Está pronto? - Perguntei a ele, que escondidos surgimos um de cada lado, só tínhamos uma chance e tinha que ser rápido antes que eles ouvissem o barulho.

— Sim. Obrigado.

Consenti com a cabeça e começamos a girar, o enorme portão começou a descer, lá no fundo pudemos ouvir os rosnados e grunhidos, alguns se arriscavam a passar pela parte iluminada, mas recuavam assim que queimava a pela, até que o líder começou a correr desesperadamente.

— Vamos Klaim mais rápido...

Ordenei gritando eufórica, coloquei ali todos meus músculos do braço para trabalharem, até que quando faltou uma fresta o volátil se esgueirou por baixo barrando o fechamento total, chutei sua cabeça que quase levava meu pé junto, os outros começaram a rosnar e a querer a seguir o líder.

— Vai desgraçado sai daí... - E continuava chutando, Klaim me afastou e deu um chute mais forte que afundou seu coturno dentro no crânio do volátil.
E assim conseguimos fechar totalmente a parte da frente.

— Toma Hazel! - Ele me entregava as C4.

— Liga elas e joga o mais longe que puder no teto da fábrica.

Duas foram suficientes, para romper o concreto da edificação e destruir tudo que estava lá dentro, os barulhos cessaram e os que não morreram sucumbiram ao sol da Califórnia.

(...)

Klaim enterrou sua amada em um local de girassóis, eu permanecia em pé o aguardando, enquanto o mesmo cavou e jogou a terra sozinho por sua escolha, por último jogou um maço de higanbana que tinham um significado bonito e perfeito para a situação. Após todo processo ele permaneceu parado diante na cova, me aproximei e apoiei a cabeça em seu braço e ali ficamos por um tempo.

— Quando conheci Elizabeth, eu nunca pensei que ia me sentir totalmente consumido por uma pessoa, até ela chegar, ela pegou na minha mão e me tirou da escuridão, me mostrou que não importa do que nossas almas são feitas a minha e a dela são a mesma. Se não podemos ficar juntos nessa vida... vou esperar ela na próxima.

(...)

Quando cavalgávamos de volta Klaim arredou o cavalo para que parasse.
— Ah, antes que me esqueça, toma.

— O que é isso? - Ele me entregava uma cartela de oxicodona, fazia tempo que não via minha droga favorita.

— Você reclamou de dor de cabeça, mais cedo, esse remédio vai te aliviar, ele é bom, peguei lá.

— Eu conheço ele, não tomo a um tempo, nem sei se devo.

— Dependência? - Perguntou depois que cavalgávamos agora lentamente.

— Vício!

— Entendo, se quiser me devolver.

— Eu vou ficar, obrigada, acho que não fico mais viciada.

— É porque se ficar vai ter que passar pelos voláteis novamente para isso.

— Tenho certeza que não vou.

Rimos durante o caminho inteiro, Klaim era uma figura bem diferente quando íntimo, a postura de mal era validada apenas aos outros, ele parecia a vontade comigo.

(...)

Quando voltamos para casa desci do cavalo rapidamente quando vi Kenna em volta de algumas pessoas, suas roupas estavam encharcadas de sangue.

— Mas o que aconteceu?
Hanna me olhou impaciente e retornou a enfaixar a de Kenna,  Druig que estava ao lado dela se levantou erguendo a cabeça.

Num momento de tensão fui para cima dele segurando por sua gola e o precisando contra o chão, o mesmo não revidava.

— O que você fez com ela seu desgraçado.

As pessoas tentavam me afastar dele sem sucesso.

— Hazel, ele não me fez nada. - Disse Kenna com tom de voz choroso.

O larguei dando atenção a ela.

— O que é isso porque está toda ensanguentada?

— Uns caras nós encurralaram e ... - Ela começou a chorar enquanto falava.

— O que aconteceu Druig? - Disse Klaim em tom rústico e de volta a liderança.

Druig passou por mim para falar em particular.

Me sentei ao lado de Kenna.

— Eles começaram a falar coisas horríveis para mim Hazel eu eu só matei um deles.

Ela me olhou com olhos vermelhos, a aconcheguei em meu colo.

— Eu disse pra você não sair de perto do Tank. Esse Druig não é certo para você Kenna.

Ela se afastou e começou a se enfurecer.

— Não foi culpa dele, eu já disse foram aqueles caras, pelos céus Hazel.

Logo levantei e fiquei a sua frente.

— Não é para você sair daqui, eu já disse mil vezes.

— Qual é Hazel, não posso fazer coisas normais?

— Você NÃO É NORMAL KENNA  - Num surto evidenciei meu ponto, enquanto todos tinham atenção naquela situação — Você não é normal - Indaguei com olhar baixo — Você leva, consigo algo que ninguem mais tem. - Terminei com voz quase falhando de gritar com ela, a mesma se levantou com ar imponente e com a face coberta de sangue como eu a um tempo atrás.

— Posso até não ser normal Hazel, mas o que você quer comigo também não pode ser, essa sua fixação por mim não é nada normal.

— Eu queria te dizer que isso não vai mais acontecer Kenna, mas estaria mentindo, vai acontecer diversas vezes é por isso que eu te entrego tudo que sei, para não terminar... vazia... como eu fiquei.

— Você é vazia naturalmente Hazel, precisa de um esforço enorme para demostrar alguma coisa, quando voltar da missão, não se preocupe, vou ficar com Druig.

Hanna tentava apaziguar mas aquelas palavras me endureceram mais ainda.

— Vai ter que escolher um lado então. - Respondi friamente, ela se virou ja uma ultima vez dando as costas.

— Eu vou ficar em cima do muro.

— Na guerra não tem essa de estar em cima do muro, vai ser alvejada dos dois lados.

Em um descontentamento e um passo largo voltou a me enfrentar.

— Está dizendo que vai me dar tiro se eu não ficar do seu lado? Então faça isso agora e acabe com esse dilema.

Kenna estava quase da minha altura, era uma agora uma mulher bem diferente da menina assustada de antigamente, seus trejeitos eram firmes ainda que com medo em seu olhar, tinha criado mais que uma sobrevivente, mais a frente o tempo dirá o seu papel aqui.

— Sabe que se eu ir com ele, um de nós não vai voltar... Não pode.
- Eu sabia que quando voltasse, Kenna poderia abrir mão de tudo, mas também desconfiava que Druig não iria apenas assegurar minha missão ou mesmo amar a Kenna como ela pensava.

— Então eu quero que você morra.
Ela passou por mim me esbarrando, meu olhar ainda permaneceu fixo onde antes era sua presença, aquilo me surpreendeu e provavelmente mudou tudo daqui em diante.

🥀

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