Depois da Meia-Noite (Bubblin...

By TersyGabrielle

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Marceline e Bonnibel foram um casal durante o ensino médio. E como todo casal adolescente, estavam certas de... More

Prólogo
Capítulo 1 - Tudo ou Nada
Capítulo 2 - O Baixo e o Sangue
Capítulo 3 - Os Motivos Pelos Quais Eu Deveria Odiar Você
Capítulo 4 - O Céu Nos Olhos Dela
Capítulo 5 - Canela
Capítulo 6 - Espaços Vazios
Capítulo 7 - Deixe Para Lá
Capítulo 9 - Bonnibel, A Sensível
Capítulo 10 - Uma Garota Não Tão Boa
Capítulo 11 - Andrea
Capítulo 12 - O Começo do Fim
Capítulo 13 - O Lugar Que Você Deixou Vazio
Capítulo 14 - Depois Dela, É Minha Vez
Capítulo 15 - O Horizonte Tenta, Mas Não Se Compara
Capítulo 16 - Rosas Pretas e Cor-de-rosa
Capítulo 17 - Um Vislumbre de Nós
Capítulo 18 - Sangue & Lágrimas Azuis
Capítulo 19 - Cartão Postal
Capítulo 20 - Um Passo Atrás
Capítulo 21 - Papai, Cadê Sua Dignidade?
Capítulo 22 - Chuva a Meia-Noite
Epílogo
Notas Finais e Agradecimentos.

Capítulo 8 - Quando Agosto Acabar

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By TersyGabrielle

Ok, eu sei que eu disse sábado passado.

Em minha defesa, era meu aniversário e eu passei seis horas dele trabalhando e outras quatro presa num fretado, então acho que dessa vez vocês podem deixar passar :P

(e as peças que eu precisava pra usar meu notebook só chegaram na quarta, então...)

Bem, fiquem com o capítulo de hoje, meus amores.

Boa leitura!

~•~•~•~•~•~•~•~♪~•~•~•~•~•~•~•~•~•~

Truth is I'm not as strong as I may
And I don't wanna deal with the things you made
Let me rephrase that one old say
'Wake me up when august ends'

- Faixa 4: When August Ends
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

No meio de reuniões, compromissos e o excesso de tensão mal resolvida, nenhuma das duas prestou muita atenção no decorrer dos dias.

Até aquela tarde, quando Bonnibel foi colocar um lembrete para a reunião do dia seguinte no calendário.

Quatro de agosto.

Era agosto outra vez.

Um suspiro fundo e o empurrar a vida com a barriga com o qual ela era tão habituada.

Não era exatamente fã do mês de agosto.

Dirigir até o condomínio de Marceline naquela madrugada foi um exercício um pouco mais complicado dessa vez. Pela primeira vez, no que agora já haviam se tornado dois meses de trabalho, Bonnibel se via contemplando a ideia de cair fora.

Talvez houvesse, sim, um limite para até onde ela estava disposta a ir por um marco no currículo e uns milhares de dólares no bolso. E talvez esse fosse o limite.

Quando Marceline abriu a porta, pela primeira vez visivelmente drogada, reduzida a um riso infantil e inebriado, ela soube.

Marceline também detestava o mês de agosto. E definitivamente não gostava mais dele com Bonnibel por perto.

- Você tem certeza que quer fazer isso hoje? Eu posso remarcar pra amanhã.

- Nah, larga de besteira. Eu tô bem. E eu não vou ter tempo amanhã. Entra aí, Andrews.

Bonnibel a seguiu casa adentro, ressabiada. A sua caneca de café já estava servida na mesa.

Marceline passou reto pela cafeteira, abriu o pequeno armário de bebidas, pegou uma garrafa de whisky caro e virou direto do gargalo.

Bonnibel sabia uma ou outra coisa sobre Marceline quando alterada. E uma delas era que o dito "bebida entra, verdade sai" era bem real por parte dela, ou pelo menos havia sido uns anos antes. Sabia lá Deus quão intensificado podia ser o efeito considerando a mistura de álcool e qualquer que fosse o entorpecente na corrente sanguínea dela.

Respirou fundo outra vez, bebericou o café, e começou a se despedir internamente de todos os pequenos planos que havia feito com a bolada que aquele trabalho renderia.

- Tem problema se a gente ficar na sala mesmo?

- Por que quer trabalhar na sala?

- Eu realmente não tô afim de me trancafiar naquele escritório hoje, Bonnibel. Dá a sensação de que até o final da noite não vai sobrar nada da gente além de exaustão e ressentimento encubado.

Marceline só passou por ela e foi até a sala. Não estava aberto para discussão, então.

Longa noite.

Marceline se jogou no sofá, e ficou observando Bonnibel sentar na poltrona ao lado. Do jeito que os móveis estavam dispostos, parecia que ela estava em um divã para ser analisada pela mulher. Tão irônico.

- Posso dar uma lida no que você já tem aí?

- Claro.

Bonnibel entregou o notebook para Marceline, que o pegou com um cuidado nada típico dela. Como se fosse algo importante, muito importante.

Marceline gastou alguns minutos lendo os esboços do que viria a ser o manuscrito final da sua biografia, tentando evitar a sensação de que aquilo era muito estranho.

De repente, ela se sentou e ficou encarando a tela. Um trecho específico, com um olhar indecifrável que deixava Bonnibel gradativamente mais ansiosa.

- "Com dezoito anos de idade, Marceline é uma força natural não catalogada. É o quinto elemento, tão indispensável e insubstituível no que se dispõe a fazer, que não se deixar contagiar se torna um trabalho digno de Missão Impossível" - ela leu em voz alta, numa cadência meio trancada na garganta, como se não tivesse muita noção de como falar daquela maneira de si mesma.

Bonnibel sentiu o calor subir ao rosto, se arrependendo de imediato sobre cada vírgula daquele trecho.

- Você acha mesmo isso?

- Não estou sendo paga pra mentir, Marceline. O texto funcionaria perfeitamente sem qualquer percepção pessoal nele. Se está aí, é porque acho.

Marceline olhou para ela, e pela primeira vez a pergunta ficou estampada nos olhos dela, agitada demais para poder disfarçar.

Então porque diabos você sumiu, Andrews?

- Você sabe que é ridiculamente boa no que faz, não sabe?

- É o que dizem.

- Olha onde você chegou, Marceline. Não é só o que dizem.

- Você sabe que tem muita gente bem medíocre que é gigante no mercado, né?

- Sei, sim. E nenhum deles se chama Marceline Abadeer. Você não passa nem perto da mediocridade, garota.

- Ei, olha o tom!

A essa altura, Bonnibel já tinha o notebook de volta em seu colo, mexendo em uma ou outra coisa do texto. Sua resposta se limitou, inicialmente, a um olhar por cima da armação do óculos, de repente cortante, um ar de ameaça quase imperceptível - se você não tivesse repertório o suficiente.

- Perdão?

Foi como ter o ar da sala sugado de um segundo para o outro. Marceline tinha baixado a guarda. Muito mais do que deveria.

As memórias felizes, o jeito como elas se diluíam em tristeza quando Marceline lembrava onde elas culminavam: aquilo já era complicado, mas controlável.

Mas o jeito como Bonnibel começou a dançar livre, quase de forma selvagem na memória dela... Aquilo era somente perigoso.

Muito perigoso.

Conhecia aquele tom de desafio, e ela sempre havia sido tão fraca por ele.

Nunca saberia dizer de onde tirou forças para resmungar qualquer coisa e se limitar à um gole a mais no whisky esquecido na mesa de centro.

Depois de um tempo, ela afastou a mesa de centro e se deitou no chão, com as pernas jogadas no sofá. Soltou um suspiro derrotado.

- Andrews?

- Sim?

- Acho que não estou no clima pra trabalhar agora. Eu sinto muito.

- Tudo bem. Estamos com um ritmo bom, você pode descansar hoje.

Bonnibel fechou o notebook, e fez um movimento como se fosse se levantar para ir embora.

- Ei.

- Oi, Marceline.

- Vem cá.

Dois tapinhas no chão, ao lado dela.

- Vai dormir, garota. Você provavelmente tem um dia cheio amanhã.

- Me chamar de garota não funciona mais, Andrews. Venha aqui. Vamos conversar.

- Sobre?

Marceline pensou um pouco. Já não estava intoxicada o bastante.

- Sobre a NYU. Eu vejo você de uma a duas vezes na semana tem dois meses, você já sabe um monte de merdas sobre o que eu andei fazendo nos últimos anos, e eu nem sei como você foi na faculdade.

- E por que você quer saber?

- Você fez parecer a coisa mais importante do mundo. Só quero saber se foi mesmo.

Bonnibel estava com o "não" na ponta da língua, mas tinha um quê de tristeza no olhar dela, alguma coisa que ela não estava dizendo.

Algo na linha do "você me deve pelo menos isso".

E talvez ela devesse mesmo.

Bonnibel respirou fundo, deitou no chão e ficou encarando o teto por um momento, sem saber por onde deveria começar.

Tentou lembrar que qualquer coisa sobre setembro de 2014 que não fosse sobre a ressaca, o luto e a sensação de vazio que haviam sobrado de agosto. Não achou.

Então decidiu começar pela memória menos arriscada, aquela que poderia levar Marceline a pensar que o responsável por todas as coisas que foram difíceis no começo fosse outro fator.

- Bem, pra começar: na primeira semana de aulas, eu tive que começar as usar os fones bloqueadores de ruidos quase o tempo inteiro.

~•~•♪•~•~

Um pequeno salto temporal aqui: de meados de 2012 para agosto de 2014.

Marceline e Bonnibel já são um casal a dois anos. A mãe de Marceline parece estar razoavelmente bem, em comparação com os últimos anos de saúde debilitada. Hunson não tem se metido tanto na vida delas. Os pais de Bonnibel gostam de Marceline.

E a vida é boa.

Só que ninguém teria desconfiado de que seria a última vez que ela seria boa assim.


Salt air and the rust on your door
I never needed anything more
Whispers of: Are you sure?
Never have I ever before

O mês de agosto começou com o conhecido gosto de férias e o desconhecido aroma do futuro esperando na próxima esquina. Bonnibel já tinha tudo planejado desde os 11 anos de idade, era uma pura bola de energia e animação com o futuro.

Marceline já não tinha tanta certeza, nem estava tão preocupada de imediato. Talvez tirasse um ano sabático, focasse em montar um projeto musical. Ou talvez passasse o ano estudando para tentar a sorte em alguma escola de artes (talvez Julliard?) para continuar perto de Bonnie. Bem, ela não tinha aplicado para nenhuma faculdade, então ela tinha um ano para decidir.

But I can see us lost in the memory
August slipped away into a moment in time
'Cause it was never mine
And I can see us twisted in bedsheets
August sipped away like a bottle of wine
'Cause you were never mine

Agosto foi o mês de fingir que aquela tensão silenciosa não estava ali, a sutil implicação de que as suas escolhas não estavam levando as duas para o mesmo lugar.

Foi o mês de fugir de madrugada e ir parar naquele mesmo ponto escondido no camping onde tudo havia começado, tomar sorvete e comer naquele mesmo restaurante um pouco ruim que todos os casais iam se encontrar, andar de carro e cantar as músicas do rádio a plenos pulmões.

Foi o mês de ensaios cancelados para uma, grupos de estudos cancelados pela outra. Sabe, só para o caso dela ligar.

Your back beneath the Sun
Wishin' I could write my name on it
Will you call when you're back at school?
I remember thinkin' I had you

Afinal, qual era a pior coisa que poderia acontecer? Bonnie ir pra faculdade primeiro?

Ela poderia ligar. Marcy poderia ir de tempos em tempos passar um tempinho em Nova York. O recesso de natal nem estava tão longe assim, e era só um ano letivo.

Elas tinham uma a outra ali, no momento, e nada daria a entender que isso mudaria.

Não tão rápido quanto mudou.

But I can see us lost in the memory
August slipped away into a moment in time
'Cause it was never mine
And I can see us twisted in bedsheets
August sipped away like a bottle of wine
'Cause you were never mine

Back when we were still changin' for the better
Wanting was enough
For me, it was enough
To live for the hope of it all
Canceled plans just in case you'd call
And say: Meet me behind the mall
So much for summer love and saying us
'Cause you weren't mine to lose
You weren't mine to lose, oh

Agosto foi o mês de ficar olhando de rabo de olho para o celular em cima da cama, tentar se concentrar inutilmente em qualquer coisa, esperando que ele tocasse.

Foi o mês de sorrisos enormes quando ele finalmente tocava, de correr para o não tão grandioso shopping center da cidade e esperar o carro dela virar na entrada do estacionamento.

Foi o mês de ser feliz demais sem nem saber disso, não antes de ser tarde demais.

But I can see us lost in the memory
August slipped away into a moment in time
'Cause it was never mine
And I can see us twisted in bedsheets
August sipped away like a bottle of wine
'Cause you were never mine

'Cause you were never mine
Never mine
But do you remember?

Agosto de 2014 era uma memória amarga porque era um amontoado de memórias muito alegres e muito infantis que não se encaixavam com o que vinha em seguida: o vazio, a quebra da normalidade, o universo levando embora algo que nenhuma das duas aceitava perder (por mais que a dor fosse tão obviamente maior em Marceline) e uma sucessão de atitudes que enterrariam toda a alegria de agosto sob sete palmos sem a menor cerimônia.

Remember when I pulled up and said: Get in the car
And then canceled my plans just in case you'd call?
Back when I was livin' for the hope of it all, for the hope of it all
Meet me behind the mall

Remember when I pulled up and said: Get in the car
And then canceled my plans just in case you'd call?
Back when I was livin' for the hope of it all (for the hope of it all)
For the hope of it all, for the hope of it all
(For the hope of it all, for the hope of it all)

Nenhuma delas gostava de pensar naquele mês, não só porque era uma nostalgia dolorosa lembrar da última vez que tinham sido feliz daquele jeito.

Mas porque o que deveria ficar gravado como as férias perfeitas virou um pesadelo aos quarenta e cinco do segundo tempo. Porque o mês de agosto virou o aniversário da tragédia que nenhuma delas poderia ter evitado, a tragédia que ditaria toda as tragédias que elas viriam a se tornar.

O começo do mês de agosto era sempre angustiante, desde então. Mas nem de longe tão desesperador quanto o final.


~•~•♪•~•~


Deitada no chão da sala de Marceline, Bonnibel relembrava os anos de faculdade. E enquanto ia mexendo naquele arquivo pouco revisitado, ia ficando mais claro que aqueles anos tinham sido muito mais solitários e cansativos do que ela gostava de lembrar.

Talvez houvesse um quê de alívio ou de sensação vitória em Marceline ouvindo aquelas histórias, mas se havia, não demonstrou.

Se limitou a sorrir com as histórias boas, rir das engraçadas e se compadecer das complicadas. Principalmente a última parte. Talvez seu eu sóbrio não quisesse que Bonnibel soubesse, mas naquele momento não houve tentativa de disfarçar a preocupação com as dificuldades que a garota sempre teve, e que as vezes Marceline parecia a única que, se não entendia plenamente, sempre fazia o esforço de tentar entender, e agir de acordo.

Algumas horas se passaram em meio a conversa fiada, até Bonnibel perceber o olhar de Marceline perdido no teto. Houve um silêncio não tão confortável antes dela falar.

- Aquele tempo foi muito assustador pra mim, sabia? Los Angeles parecia gigante e pronta pra me comer viva. E eu nunca me senti tão sozinha na vida.

Mais um breve silêncio.

- Se te serve de consolo, Abadeer, não foi tão diferente assim pra mim. Os meus objetivos cobraram um preço alto. Foram quatro anos solitários pra caralho.

- Quer saber de uma coisa, Andrews? Na verdade, me consola um pouquinho sim. Só que bem menos do que eu achei que faria.

Bonnibel virou a cabeça para poder olhar para ela. Tinha um brilho úmido nos olhos de Marceline, e foi quando percebeu, não com alívio como se esperaria, mas com uma mistura de desepero e tristeza profunda: a melancolia de Marceline naquela noite nada tinha a ver com ela.

E pela primeira vez em dois meses, Marceline ficou feliz por Bonnibel estar ali. Por mais que odiasse admitir, Bonnibel era a única pessoa que havia restado para entender o quanto aquilo tudo era pesado e inadmissível e horrível, era a única que talvez se importasse de verdade, que talvez também sentisse aquela dor excruciante em algum nível.

Bonnibel era a única outra pessoa capaz de compreender o horror de reviver o final de agosto.

- Marceline?

-Eu sinto tanto, tanto a falta dela, Bonnibel.

~•~•~•~•~•~•~•~•~•~♪~•~•~•~•~•~•~•~•~•~

aiai dor e sofrimento no mundinho Tersy Escritas LTDA.

Não se esqueçam de comentar e deixar um voto caso tenham gostado!

Vejo todos vocês em breve,

Tersy 🥀

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Com ela eu caso, construo família, dispenso todas e morro casadão.