Sangue Leal

By AmyDuartte

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Agnes Williams é uma garota comum, que vive uma vida comum como qualquer outra adolescente da sua idade. Isso... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20

Capítulo 8

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By AmyDuartte

Mark apareceu em sua Rocket 3R, enquanto eu o esperava do lado de fora.

— Desculpa o atraso. — Ele falou. — Clair me ligou quando eu estava saindo. Parece que os Harrisons descobriram algo. Ela quer falar conosco depois da escola.

Subi na moto e me acomodei. Antes que eu pudesse fazer algo, Mark segurou meus braços e pôs em volta de sua cintura.

— Só para garantir que eu chegue à escola vestido. — Engraçadinho.

Revirei os olhos.

Mark percorreu as ruas da cidade tão veloz quanto um criminoso fugindo da polícia. Fiquei com os olhos fechados a maior parte do trajeto, ou então ficaria enjoada. Quando chegamos à Anne Stuart School, minhas pernas estavam trêmulas, mas eu já havia quase me acostumado com a velocidade absurda com que Mark dirigia.

— Você participa de rachas ou algo do tipo? — Indaguei.

Ele apenas sorriu para mim. Minhas pernas bambearam um pouco mais, e eu as forcei a permanecerem em pé.

— Sério, você tem potencial. Deveria investir nisso, não nas competições ilegais, é claro. Mas você ganharia uma boa grana com esses tipos de corridas.

Caminhamos até a sala de aula e eu sentia os olhares quentes sobre nós. Meu Deus! Quando isso iria acabar? Como Mark sobreviveu durante tanto tempo a essa tortura? Alguém à minha esquerda comentou algo inconveniente sobre mim, mas eu ignorei. Mark, no entanto, olhou para a garota com um olhar duro. Ela engoliu em seco e saiu em disparada pelo corredor.

Faltavam dois minutos para a aula começar e Rebeca ainda não tinha aparecido. Era impossível eu não estar preocupada, principalmente depois do que acontecera ontem. Será que Rebeca havia tido algum problema? Será que Alisson havia cometido algum erro ao mexer na cabeça de minha amiga? Enviei uma mensagem para Rebeca, mas ela não me respondeu. Eu olhava para o relógio a cada segundo.

Faltando pouco para a aula começar, Rebeca surgiu apressada sala adentro, sentou-se na cadeira ao meu lado e virou-se para mim. Suor escorria de seu rosto.

— Havia esquecido que seu carro estava quebrado. — Disse-me ofegante, me tranquilizando. — Saí atrasada e perdi o primeiro ônibus.

Aparentemente, ela havia corrido até a sala para não levar advertência.

Olhei para o seu rosto procurando por algo que estivesse errado. Enquanto Mrs. Yang entrava na sala, Rebeca tirou um espelho e um gloss labial da bolsa, passou o gloss sobre os lábios finos e fez biquinho para o seu reflexo. Um sorriso brotou em meus lábios. Minha amiga parecia a mesma de sempre. Ao que tudo indica, Alisson havia feito um ótimo trabalho. Tinha que me lembrar de agradecê-la da próxima vez que eu me encontrasse com ela. 

Tive mais uma aula com Mark e percebi que ele praticamente não olhava para mim. Só vez ou outra seu olhar se direcionava em minha direção, apenas quando realmente era necessário me dizer algo.

No refeitório ele sentou-se novamente no lugar que costumava ocupar quando chegou à Anne Stuart School. Visualizei a conversa amistosa que ele parecia ter com Jonas. Eles pareciam animados. Em certo momento, Tina se aproximou com uma caixa nas mãos e um sorriso nos lábios, ela disse algo para Mark, inclinou-se para perto dele e...

— Vocês brigaram? — Rebeca me perguntou.

Virei-me para ela instantaneamente.

— Não. — Respondi. Rebeca ergueu as sobrancelhas.

— Desde segunda vocês parecem meio distantes um do outro. — Comentou.

Clarissa apareceu com sua minissaia em meu campo de visão. Ela passou por de trás de Rebeca e seguiu reto, sem nem olhar em minha direção.

— O que aconteceu com Clarissa? — Perguntei, indicando-a com a cabeça. — Ela nem repara mais que eu existo. Parece até que se esqueceu do seu surto no início da semana.

— Mark. Foi isso que aconteceu. — Rebeca mordeu um pedaço de sua pizza.

— Como assim Mark?

Ela revirou os olhos.

— Você é tão ingênua.

— Do que você está falando?

— Pergunte a ele. — Do que Rebeca falava?

Virei-me para olhá-lo novamente, mas Mark já não estava mais lá.

O sinal tocou, e eu retornei para a sala. Na aula de literatura, Dom Quixote e Sancho Pança me fizeram companhia. Uma mistura de comédia e tragédia, o retrato de um homem de meia idade que enlouquecera e se convencera de que era um cavaleiro em busca de provar o seu amor pela sua amada. Eu não precisaria me esforçar para lê-lo. Um resumo para casa de quinze a vinte linhas de Dom Quixote de La Mancha foi o que Mrs. Connor requereu. Obviamente, não leríamos o livro original, ou não conseguiríamos entregá-lo na próxima aula. Talvez só no próximo ano.

Cinco minutos era o que faltava para a aula terminar. Guardei meu material na bolsa disfarçadamente, mas era o que todos faziam naquele momento. Não devia ter mais do que dois exemplares de Dom Quixote na biblioteca da escola, e um seria meu durante a próxima semana. Por isso, assim o sinal tocou eu corri como uma maratonista pelo corredor da escola. Cerca de meia dúzia de alunos competiam comigo, o resto desistira do exemplar antes mesmo de começar a competir por ele. Eu havia me sentado na cadeira mais próxima da saída de forma intencional, e fui a primeira a sair da sala, ainda assim fui ultrapassada por um garoto da minha turma. É nisso que dá ter pernas curtas, um exemplar já era. Aumentei os passos, e meio segundo depois, eu procurava o livro na estante dos livros que começavam com a letra "D". Uma garota de cabelos presos em uma trança e um garoto com um cavanhaque estranho competiam comigo. O outro garoto, que me ultrapassara mais cedo, já havia desfilado na minha frente com um dos livros na mão há um minuto.

— Achei. — O garoto do cavanhaque falou. Droga.

Eu não queira ler em PDF. Minha vista não estava das melhores. A miopia queria fazer parte da minha vida, mas eu me recusava a passar o resto dela dependente de um objeto para viver.

Aproximei-me do garoto.

— Te pago um sorvete de chocolate se você me entregar. — Ofereci.

Ele me olhou estranho.

— Morango? — Tentei novamente. — Eu prefiro o de chocolate, mas se você não preferir, eu não te julgo.

O garoto abraçou o livro e saiu em direção à bibliotecária.

Fui para o corredor desanimada e parei em frente ao meu armário. Eu estava com raiva de mim mesma por ser uma sedentária. Se ao menos eu tivesse o hábito de fazer corridas matinais sabáticas, como fiz durante as férias de verão do ano retrasado, teria tido mais chances. Poderia até mesmo estar agora com um sorriso no rosto e Dom Quixote na mão. Bufei em frustração.

Destranquei meu armário. No fundo, havia uma carta e algumas trufas de chocolate que não estavam lá antes. Na frente da carta, haviam escrito em letra cursiva:

"Para Agnes.
De seu maior admirador."

Abri. Havia um poema tão ruim quanto o anterior:

"Tão belo quanto as alvoradas
Tão sufocante quanto as noites frias
Esta é o minha paixão por ti
Como uma chama ardida."

Max continuaria a fazer-me poemas? Pensei que ele fosse parar. Ele poderia, ao menos, procurar algum já feito na Internet, em vez de tentar criar os seus. Claramente, ele não era bom nas escolhas de palavras. Acho que uma paixão sufocante é, no mínimo, assustadora e isso não me animava a ter algo com ele. Não que eu quisesse isso, mas se eu fosse outra garota do qual ele estivesse apaixonado, iria fugir de Max somente por conta de seus poemas.

Reli aquela péssima obra, Max havia circulado as palavras "sufocante" e "chama", para reforçar a sua paixão avassaladora por mim. Eu mereço.

Saí dali e fui para o estacionamento da escola. Mark me esperava encostado em sua moto.

— Muitos pretendentes? — Ele perguntou ao ver os chocolates.

— Infelizmente. Esse é o preço que pago pela sua beleza. Você não podia, de repente, desalinhar um pouco mais o cabelo, pôr roupas mais desconexas, deixar a barba crescer? Ninguém repararia mais em você e também deixariam de reparar em mim.

— Como o nosso professor de História faz? — Mr. Taylor fazia exatamente isso, se vestia como um nerd dos filmes adolescentes.

— Seria por um curto período de tempo. — Mark subiu em sua moto. — Não chegaria a afetar sua autoestima.

Mark sorriu. Um sorriso autoconsciente de que nem se ele se fantasiasse de mendigo, isso afetaria sua autoestima. Mark continuaria como um galã de novela mexicana.

— Vou pensar no seu caso. — Isso já era algo.

— Você quer? — Ofereci os chocolates. — Planejava jogar no lixo, mas se você quiser pode ficar com eles.

— O lixo é o melhor lugar para eles.

Joguei os chocolates fora e me acomodei na garupa da moto. Mark repetiu o processo de colocar minhas mãos ao redor de si.

Durante o percurso, Mark estava mais atento ao que ocorria ao nosso redor do que das outras vezes, principalmente quando parávamos em algum sinal. O episódio de ontem o havia deixado mais alerta.

— Os Harrisons descobriram que Vicenti está pagando cem mil dólares para quem conseguir matá-la. — Informou Clair quando estávamos em seu escritório.

Meu coração deu um salto no peito, e meu estômago embrulhou.

— Eles descobriram o motivo? — Mark perguntou com certa irritação na voz.

— Ainda não, mas acredito que logo descobrirão. Pelo que me disseram, Marcus aparenta saber mais do que nos contou, só precisamos molhar um pouco mais a sua mão. A questão aqui é que o caso da Agnes é pior do que imaginávamos. — Clair parecia agitada.

— Eu sei. — Mark disse. — Percebi isso ontem quando nos atacaram em pleno dia em uma avenida movimentada. Não fariam isso se não fosse algo tão urgente.

Minhas mãos estavam frias e eu estava com uma leve vontade de colocar todo o meu almoço para fora.

— Temos que reforçar ainda mais a segurança dela e enviar alguns homens para rondarem a escola quando estivermos por lá. — Mark sugeriu. Ele também estava agitado. — Os Harrisons também têm que acelerar o trabalho. Precisamos, com urgência, descobrir o motivo disso tudo.

Clair juntou as mãos em cima da mesa e olhou para mim.

— O que você fez para eles? — Indagou.

— Eu não fiz nada. — Respondi. Já havia lhe informado isso antes, mas ela duvidara.

— Você está mentindo. — Acusou-me com aspereza.  — Não tem como eles cobrarem tanto por uma garota que nem sabe o que pode ter feito. — A irritação causava um leve rubor em seu rosto, o que era fácil de notar devido à sua pele pálida.

— Clair, ela realmente não sabe. — Mark interviu.

— Como tem tanta certeza? — Ela desviou seu olhar de mim para Mark. — Quem garante que ela não está mentindo somente para se proteger de alguma idiotice que fez à Vicenti? Ela deve está só nos usando. — Clair estreitou os olhos para mim. Se apenas com o olhar ela pudesse me machucar, eu já estaria cheia de feridas pelo corpo.

A raiva que outrora eu havia controlado veio como um tsunami de dentro de mim. Quem Clair achava que era para me julgar dessa forma? Não bastava as vezes que quase morri como prova de que eu não tinha a mínima ideia do por quê disso tudo estar acontecendo comigo?

Olhei para Clair com a mesma intensidade com a qual ela me olhava.

— Eu já disse que não sei. Se você quiser tirar a prova, fique à vontade para fazer Alisson entrar em minha cabeça e descobrir toda a verdade. — Esbravejei.

Clair me olhou com surpresa. Provavelmente, porque na maioria das vezes me via como uma ovelha muda, ela não esperava que eu tivesse essa ousadia.

— Não vai ser necessário. — Declarou. — Adiantaremos os testes para amanhã. Nosso tempo é curto, e temos que agir rápido. Quanto à sua segurança, reforçarei o mais breve possível.

— Você quer entrar? — Perguntei a Mark assim que chegamos à minha casa. Eu planejava lhe fazer algumas perguntas.

Mark concordou.

Nós entramos e eu deslizei para o sofá junto dele. Encarei-o por alguns segundos antes de iniciar.

— Você sabe algo mais que eu não sei? — Fui direto ao ponto.

Eu estava ficando cansada de colocar a minha vida na dependência dos outros. Eu sabia que não podia fazer muito por mim mesma, mas queria ao menos me esforçar.

Mark respirou fundo.

— Porque está me perguntando isso?

— Por que não quero ficar de fora sobre a minha real situação. É minha vida que está em jogo e eu não sei quase nada a respeito. — Mark me olhava com certo receio. — Por favor. — Pedi.

Ele concordou.

— O que sei a mais são os nomes das pessoas envolvidas. Somente isso.

Suspirei. Isso não me seria muito útil, além de eu não querer saber os nomes dos envolvidos. Eu iria para o segundo ponto. Havia muitas dúvidas na minha cabeça e eu queria me livrar de todas elas.

— Por que se aproximou de repente de mim na escola? Você nem falava comigo.

Ele me olhou por um momento. Mark parecia indeciso se contava ou não.

— Não preciso dizer que você não pode contar a ninguém nada do que vai ouvir, não é?

— Não se preocupe com isso. — Eu respondi.

— Eu entrei em Anne Stuart School porque obtivemos informações de que a Gangue estava vigiando a escola. Clair me enviou para descobrir o que estava acontecendo por lá. Assim que cheguei, fiquei de olho em qualquer comportamento suspeito. Foi durante a aula de educação física que vi Brian escondido na arquibancada enquanto tentava te matar. Brian é um telepata habilidoso, ele tem o poder de mexer na mente das pessoas, lhes causando dor, sensações de morte, coisas do tipo. Ele mexe no seu cérebro fazendo você acreditar que está morrendo, até o ponto de que você realmente morre.

Mark avançou o corpo, descansando os cotovelos sobre as coxas.

— Desgraçado! — Praguejei. — Foi horrível. Eu mal conseguia respirar, devo ter ficado roxa. — Falei.

— É, eu lembro bem disso. Você estava péssima.

Olhei para Mark.

— Sabe, eu fiquei chateada por você não ter me ajudado.

— Se eu não tivesse ido atrás de Brian você teria morrido. Não adiantaria de nada eu ir te socorrer e os poderes de Brian ainda estarem sufocando você.

— Isso faz todo sentido agora, mas na hora não fez. Estar quase sendo morta por um telepata assassino não era uma possibilidade para mim naquele momento. — Remexi-me em meu lugar. — E vocês não o capturaram?

— Não. Acreditamos que ele tinha suporte.

Lembrei-me da sensação que senti naqueles minutos: a falta de ar, o medo de morrer. Não queria nunca mais sentir algo parecido com aquilo.

— Bom, — Mark retornou. — Depois disso, me aproximei de você e tentei descobrir no que estava envolvida. Mas nunca havia pensado na possibilidade de você ser uma humana, sem habilidades e sem conexão alguma com a Gangue. Isso ainda não faz muito sentido para mim.

Ele voltou apoiar as costas no encosto do sofá.

— No sábado, eu sabia que iriam tentar matá-la novamente e a segui.

Lembrei-me do que Mark me dissera quando lhe perguntei sobre o que ele queria falar comigo. "Não agora. Talvez depois", ele havia me respondido. Mark estava me sondando, buscando primeiro descobrir quem eu era.

— Mais cedo ouvi Clair mencionar Marcus, dizendo que ele tinha informações. Quem é Marcus?

Mark segurou um porta-retrato meu que estava em cima da mesinha. Nele tinha uma foto minha na praia, de quando eu era criança. Meu sorriso mostrava a falta de alguns dentes de leite.

— Marcus é dono de um Bar subterrâneo localizado no centro norte da cidade, na avenida 4th. É muito comum habilidosos fazerem negócios por lá, e Marcus acaba obtendo informações valiosas que geralmente vende para nós.

— Um bar subterrâneo? — Ergui uma sobrancelha.

Mark contornou com o indicador a minha imagem na foto.

— Sim. São para pessoas como nós, então não pode ser algo muito visível. Eu fui lá uma vez, lembro-me que tinha uma placa com um "H" pintado de azul ao lado da escada que nos levava para o bar. Fomos investigar o desaparecimento de um dos nossos agentes. Não conseguimos muitas pistas por lá, mas logo descobrimos que ele estava morto e Vicenti estava envolvido.

Um calafrio me subiu a espinha.

— Porque é tão estranho eles buscarem matar alguém como eu? Tudo bem que eu não fiz nada. Mas o que o fato de eu ter habilidades ou não muda nisso tudo?

Mark colocou o porta-retrato de volta no lugar e olhou para mim.

— A questão não é eles quererem matar você. Vez ou outra, algum humano azarado acaba desaparecido. Sinceramente, é muito fácil sumir com um de vocês. O ponto de tudo isso é a forma como eles estão agindo. Vicenti geralmente faz sumir uma pessoa em um estalar de dedos e não deixa vestígio algum. Contudo, com você está sendo diferente. Não estão tentando matá-la do jeito convencional. Estão investindo muito em você. Oferecer cem mil pela cabeça de um humano não é algo que eu já tenha visto em todo o meu tempo trabalhando na organização. Isso tudo é muito estranho.

Encostei a minha cabeça no sofá e suspirei. Segurar o choro e fingir ser forte já estava virando algo comum para mim.

— Eu realmente não consigo pensar em nada que eu possa ter feito. Minha vida sempre foi muito normal.

— Tudo bem. Uma hora nós vamos descobrir a resposta para isso.

Sinceramente, descobrir a resposta me causava tanto medo quanto não saber.

— Sabe, quando criança eu queria ser normal. — Mark retomou. — Quer dizer, eu gostava de poder movimentar as coisas com a mente, mas o que vinha acompanhado disso tudo é que era o problema. Depois da minha mãe, sou eu quem assumirá a organização e isso tudo é um pouco sufocante, principalmente para uma criança.

Mark olhava para cima, como se isso o ajudasse a se lembrar do seu passado.

— E você não pode recusar a posição? — Perguntei a ele.

— Não posso. Para alguém assumir a liderança é necessário que um pacto de sangue seja feito através de um objeto mágico chamado Pistós, que perpetua sua posição somente aos seus descendentes. Como eu não tenho irmãos, sou o único que pode assumir. — Ele me explicou.

— Por que isso é necessário? É um fardo muito grande para alguém carregar.

— Por vários motivos: geralmente quem assume a posição tem um nível de habilidade consideravelmente alto, e levando em consideração que isso está relacionado aos seus genes, os seus descendentes também tendem a ser assim. Além disso, o filho de um líder tende a ser preparado desde criança para isso.

— Sinto muito por isso. — Disse, com sinceridade.

Mark apenas me olhou e sorriu.

Para mim, era muito triste não poder decidir acerca do seu próprio futuro. 

Olhei Mark por algum tempo. Ele não era nem de longe o cara o qual eu construíra em minha mente. Mark era uma pessoa totalmente diferente daquilo que eu imaginei. Ele havia me protegido, salvado a minha vida e se preocupado comigo. Ainda que, como parte da organização, ele tivesse o dever de me proteger, ele havia feito mais do que isso. Havia se importado de verdade comigo. Eu era muito grata a Mark por tudo. Ele não agiu somente como um profissional, agiu também como um amigo.

— O que foi? — Mark me perguntou ao perceber que eu o encarava.

— Obrigada. — Respondi.

— Pelo o que? — Sua expressão demonstrava confusão.

— Você tem sido muito bom para mim. Eu não acho que aguentaria passar por isso tudo sem sua ajuda.

Ele sorriu. Um sorriso largo que mostrava as suas covinhas. Meu coração falhou. Minhas pernas ficaram bambas, a minha sorte era que eu estava sentada. Meu rosto começou a ficar vermelho.

O que estava acontecendo comigo? Porque eu estava agindo assim? Isso não era normal, eu parecia uma boba.

Eu sabia que isso era um efeito colateral que Mark causava nas mulheres em geral, mas comigo era diferente. Eu era bem mais racional do que sentimental e isso não costumava me atingir. Pelo menos não até agora.

Ouvi um barulho de chave e a porta foi aberta. Mamãe entrou e olhou em nossa direção. Droga! Perdi as horas enquanto conversava com Mark.

— Agnes? Trouxe visita, filha?

Mark se levantou do sofá na mesma hora e virou-se para mamãe.

— Eu sou Mark Davies. Estudo com a Agnes na Anne Stuart School. Desculpe-me estar aqui sem a sua presença.

Mamãe sorriu. Ah não! sei onde isso vai dar.

— Não tem problema. Eu sou Sara Willams, mãe da Agnes. Você está na mesma série que minha filha? — Perguntou a Mark.

Mamãe pôs a bolsa no cabide e foi em direção à poltrona. Ela apontou para o sofá, indicando que Mark devia se sentar novamente, e ele prontamente obedeceu.

— Sim. Nós fazemos algumas aulas juntos. Além disso, Agnes está me dando aulas particulares de Matemática.

— Sério? Ela não me contou isso. — Mamãe olhou para mim e levantou uma sobrancelha.

— Você tem namorada, Mark?

— MÃE! — Berrei. Eu não sabia onde enfiar a cabeça. Cobri o rosto com as mãos.

— Não tenho, não. — Ele respondeu sereno.

— Olha, Mark, acho que já está na hora você ir. — Eu disse, levantando-me.

Mark me imitou.

— Foi um prazer conhecê-la, Sra. Willams.

— O prazer foi todo meu. Na sexta faremos um jantar em família. Eu convidei um amigo. Está convidado caso esteja livre.

— Ele vai está ocupado. — Respondi por Mark.

— Na verdade, na sexta eu estou livre. Adoraria comparecer ao jantar.

Fuzilei Mark com o olhar. Ele fingiu não notar.

— Ok, hora de ir embora.

Andamos até a porta. Já era noite e a lua emergia de uma nuvem, trazendo um brilho prateado à Rocket 3R estacionada ali fora.

Fechei a porta atrás de nós.

— Você pode esquecer esses últimos cinco minutos? — Perguntei.

Mark me olhou com um olhar divertido.

— Não posso. Eu adorei a conversa que tive com sua mãe.

— Ela ama me envergonhar em público.

— Eu gostei dela.

— E ela de você. — Respondi, revirando os olhos.

Mark se foi em sua moto e eu teria uma longa conversa com mamãe naquela noite.

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