Blood Moons - Segundo Livro

Door Montcioli

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Harry se recusava a ser tratado como uma aberração. Tinha se habituado a ser chamado de monstro, desprezível... Meer

Capítulo 1 - Os Castigos de Petúnia
Capítulo 3 - A Toca
Capítulo 4 - Sinto Saudades
Capítulo 5 - Estranheza
Capítulo 6 - Queda por loiros
Capítulo 7 - Desabando
Capítulo 8 - Ford Voador
Capítulo 9 - Não se acostume
Capítulo 10 - O certo é "idiotinha"
Capítulo 11 - Sujeitinha de Sangue Ruim
Capítulo 12 - Maldito seja Ronald Weasley
Capítulo 13 - Pequeno Príncipe
Capítulo 14 - Herdeiro de Slytherin
Capítulo 15 - O inicio do declínio
Capítulo 16 - Todo assustadinho
Capítulo 17 - Ansiedade
Capítulo 18 - Remus Lupin
Capítulo 19 - Segundo Ataque
Capítulo 20 - Assustado, Potter?
Capítulo 21 - Não mexa com cobras gigantes, Erus
Capítulo 22 - Não fale como se ele tivesse morrido
Capítulo 23 - Por Favor
Capítulo 24 - Quando chove, é sempre Billie Holiday
Capítulo 25 - Texugos e Cobras
Capítulo 26 - Mau Pressentimento
Capítulo 27 - O seu esqueleto jazerá na câmara
Capítulo 28 - Harry Potter, com sentimentos?
Capítulo 29 - Pinguins são animais fiéis

Capítulo 2 - Perigo Mortal

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Door Montcioli

20 de Agosto de 1992

"Perigo Mortal"


Harry recuou.

A pequena criatura em sua cama tinha grandes e esbugalhados olhos verdes brilhantes e enormes orelhas pontudas, sua pele era meio pálida e parecia descuidada, um pouco machucada e frágil demais. Tinha uma vaga lembrança de ver algo parecido carregando magicamente as malas de Draco no dia que eles se "despediram".

Não demorou muito para perceber que era aquela criaturinha que estava o observando entre os arbustos da cerca.

Estavam em um silêncio estranho e agoniante, já que o serzinho não fazia nada além de olhar para Harry com uma tremenda admiração. Harry conseguiu ouvir claramente quando Duda disse do andar debaixo: "Posso guardar seus casacos, senhor e senhora Mason?"

A criaturinha de orelhas pontudas escorregou desajeitadamente da cama e fez uma reverência exagerada, como se Harry fosse um rei ou um Deus. Ela vestia uma fronha encardida e surrada que tinha buracos malfeitos para poder passar os braços e as pernas.

— Quem é você? – Harry perguntou, chegando mais perto da porta — Como entrou aqui?

— Harry Potter! – A criaturinha exclamou animadamente. Tinha uma voz muito fininha que fazia os ouvidos sensíveis de Harry doerem — Há tanto tempo que Dobby queria conhecê-lo, meu senhor! É uma grande honra

— Hm... – Murmurou, olhando para trás para ter certeza se tinha fechado a porta — Sei... Obrigado?

Não tinham saídas possíveis. Todas as suas rotas de fugas estavam fechadas. Grades na janela e a porta atrás dele dava acesso ao andar de baixo e aos Dursley. Não sairia inteiro em nenhuma das suas tentativas de fugir da criaturinha peculiar que entrou magicamente em seu quarto.

Darius, que dormia debaixo de sua cama, acordou com o barulho da voz que ele não conhecia e rastejou protetoramente até Harry. Leonis dormia tranquilamente em sua espaçosa gaiola.

— Quem é você? – Harry repetiu a pergunta. Darius se enrolou em seu tornozelo.

— Dobby, meu senhor – Respondeu rapidamente — Apenas Dobby. Dobby, o elfo doméstico.

— Sei – Harry respondeu, ainda se mantendo afastado — Bom te conhecer, mas é uma péssima hora para você estar aqui.

O elfo abaixou a cabeça, deprimido. Harry quase choramingou de impaciência. Conseguia ouvir toda a baboseira que seus tios estavam conversando no andar debaixo e sua paciência não estava – e nunca foi – uma das melhores coisas nele.

— Você é do mundo bruxo – Harry observou, sendo muito óbvio — O que está fazendo no meu quarto?

Dobby levantou a cabeça, o olhando esperançoso. Seus olhos grandes brilharam.

— Dobby veio dizer ao senhor... é muito difícil – Ele disse, remexendo as mãos — Dobby não sabe nem por onde começar!

— Pelo começo – Foi sarcástico, mas a criaturinha não pareceu entender o seu tom. Ele suspirou, passando a mão no cabelo — Por que não se senta?

Para seu desespero pessoal, o elfo começou a chorar muito alto.

Harry achava fielmente que há tinha tido o desprazer de ouvir os sons mais agonizantes do mundo – de unhas riscando um quadro negro até o apito estrondoso do trem – mas nada se comparava ao choro de Dobby. Era estridente e alto.

Sentar! – O elfo disse com dificuldade no meio do choro. Harry ouviu quando as vozes do andar de baixo ficaram mais baixas e tio Walter disse algo sobre a televisão de Duda ter ficado ligada — Nunca... na minha vida inteira! – ele gaguejou e voltou a soluçar.

— Preciso que pare de chorar! – Harry disse firme, correndo até o guarda-roupa do seu quarto e o abrindo, afastando o pequeno montinho de roupas antigas de Duda para o lado. Se seu tio ameaçasse subir no primeiro andar, ele esconderia o elfo ali dentro.

— Desculpe, meu senhor – Ele disse, enxugando os grandes olhos com a pontinha da fronha que usava como roupa — Dobby nunca foi convidado a se sentar por um bruxo – ele estava quase voltando a chorar — Como um igual.

— Pare de chorar – Harry pediu pela milésima vez. Dobby obedeceu, mesmo que seu queixo estivesse tremendo e seus olhos estivessem lacrimejando. Harry conseguiu ficar mais relaxado depois daquilo.

Eles conseguiram conversar depois que Dobby se sentou na cama, estando mais tranquilo para dialogar.

— Não deve ter encontrado bruxos muito decentes – Harry murmurou. Se recordava de ter lido sobre elfos domésticos em algum lugar quando estava em Hogwarts, mas nunca tinham informações muito detalhadas sobre eles. Apenas que serviam seus mestres ou famílias que os tivessem como "propriedade". Eles também eram descritos com um imenso poder.

Harry cruzou os braços, ainda se mantendo distante de Dobby. Tirou Darius de seu tornozelo e o colocou em seu pescoço, porque adorava como ele parecia um colar assustador e mortífero.

Dobby afirmou vagamente com a cabeça, fungando e, de repente, ele parecia muito assustado com os olhos esbugalhados. Se levantou muito rápido e começou a bater a cabeça na janela com toda a sua força.

O barulho de vidro quebrando chamaria a atenção dos Dursley,

— Pare! – Harry mandou, usando uma das mãos para segurar um dos braços finos do elfo. Dobby não parava de gritar "Dobby mal! Dobby Mal!" e tentava se machucar — Eu disse para parar!

Ele parou, porque o tom de voz de Harry tinha sido assustador.

— Que merda pensa que está fazendo? – Questionou e o Elfo se encolheu.

Leonis acordou com a barulheira e piou alto, batendo as asas furiosamente.

— Dobby deve se castigar, meu senhor – Explicou. Harry soltou seu braço — Dobby quase falou mal da sua própria família. E o meu Amo é muito bom, é sim! Voltou muito melhor.

— Quem é o seu Amo?

— Dobby é obrigado a servir uma casa e uma família para sempre. Todos os elfos são – Ele disse, não respondendo à pergunta de Harry.

— Sei disso – murmurou — Vou adivinhar que sua família não sabe que está aqui – Dobby estremeceu, parecendo muito assustado. Harry suspirou — O que veio fazer aqui, Dobby?

— Dobby terá que se castigar da pior maneira por ter vindo até aqui, senhor! Se os pais do meu Amo descobrirem... – ele hesitou, olhando para qualquer lugar, menos para Harry — Meu Amo também não sabe que Dobby veio, mas contou muito sobre o senhor. Contou sim.

— Dobby – Harry chamou, seriamente — O que veio fazer aqui?

— Dobby ouviu dizer, meu senhor – Ele começou a sussurrar — Que Harry Potter encontrou com o lorde das trevas pela segunda vez e se safou.

Harry deu de ombros.

— Bem... sim.

O elfo pareceu ficar radiantemente alegre.

— Harry Potter é valente e petulante! Foi o que meu Amo disse – Harry franziu o cenho. Não lidava muito bem com pessoas desconhecidas o elogiando, mas o fato importante era saber quem era o "dono" de Dobby e por que falava tanto nele — Dobby sabe que Harry Potter sabe se defender, mas Dobby veio proteger o senhor, meu senhor – ele pareceu ficar muito aflito, encarando Harry com aqueles grandes olhos — Harry Potter não deve voltar Hogwarts esse ano.

— O que? – Harry perguntou devagar — Por que não?

— Harry Potter deve ficar onde é seguro. O senhor é bom demais para morrer.

— Aqui não é seguro – Harry retrucou entredentes.

— Se Harry Potter voltar a Hogwarts irá encontrar um perigo mortal.

— Que tipo de perigo mortal?

— Dobby não pode contar, meu senhor!

Harry suspirou, impaciente. Detestava a ideia de um "perigo mortal" o esperando na escola, mas não podia ficar com os Dursley por mais tempo. Mais alguns dias convivendo com eles e Harry não poderia ser responsabilizado por seus atos violentos contra eles ou contra si mesmo.

— Há uma trama, Harry Potter. Uma trama para fazer coisas terríveis acontecerem em Hogwarts – Dobby insistiu, parecendo tremer de medo. Harry teve receio que ele quisesse se jogar para a janela mais uma vez — Dobby sabe disso a meses! Harry Potter não pode se expor ao perigo.

— Eu já estou em perigo aqui – Harry insistiu — Se não posso estar em Hogwarts, tenho que estar no mundo bruxo.

— Dobby não sabe se pode ajudar com isso, senhor. Dobby não conhece muitos bruxos.

— Eu me viro – Harry disse — Mas preciso saber se é Voldemort que está planejando essas tais "coisas terríveis"

Dobby soltou um barulho estridente e engasgado, tapando as orelhas com força e olhando com temor ao redor do quarto.

— Não diga esse nome, meu senhor! Não diga!

Harry revisou os olhos.

— Harry Potter promete que não vai para a escola esse ano? – Ele ficou receoso quando Harry não disse nada — É mesmo sério, senhor. Nem mesmo o melhor dos bruxos estão prontos para o que vem, meu senhor – Ele disse, assustado — Nem mesmo o senhor ou Dumbledore, o pai de meu Amo...

Antes que Harry pudesse perceber, o elfo tinha se levantado da cama e agarrado o abajur da escrivaninha. Ele se golpeava enlouquecidamente e soltava gritos finos de dor.

Harry o olhou enfurecido, se levantando e puxando brutalmente o abajur. As vozes do andar de baixo cessaram e tia Petúnia tinha dado uma desculpa qualquer para os barulhos altos.

— Entra na porra do guarda-roupa – Harry mandou, sombrio. Dobby engoliu em seco e estalou os dedos. Ele sumiu da vista de Harry.

Harry correu apressado para deitar na cama e fingiu que estava dormindo. Quando a porta do quarto foi aberta violentamente, sua tia vasculhou o quarto inteiro com o olhar.

— Não ache que consegue me enganar – ela brigou, entre sussurros — convivi com sua mãe por tempo suficiente para saber quando alguém finge dormir – ela disse — Mais um barulhinho sequer e você vai desejar não ter nascido.

Ela fechou a porta e saiu soltando uma risada forçada para os convidados. Harry sentou na cama, seus ombros caídos e a expressão cansada.

— A família de Harry Potter é estranha – Dobby disse, aparecendo em um estalar de dedos.

— Eles não são minha família – Ele retrucou com a voz firme — Eu preciso estar longe daqui, Dobby. Preciso estar com Draco e Faw. Eu não aguento mais esse inferno.

Dobby olhou nervosamente para os lados. Seu coração estava acelerado – Harry conseguiu ouvir muito bem.

— Precisa estar com amigos que nem escrevem para Harry Potter? – Dobby gaguejou, dando dois passos para trás quando Harry virou o rosto para ele.

— Como você sabe disso? – Perguntou ameaçador, se levantando da cama. Dobby foi andando para trás até bater as costas contra o guarda-roupa.

— Harry Potter não deve ficar bravo com Dobby – Ele pediu — Dobby fez isso só para ajudar.

— Mexeu nas minhas cartas? – Questionou entredentes, sentindo uma veia saltar em seu pescoço.

Tinha passado todos os dias esperando que uma coruja entregasse alguma carta – o mínimo bilhetinho que fosse – só para ter certeza que seus amigos se importavam. Todos os pensamentos ruins sobre a amizade deles não ser tão forte quanto imaginava.

Ele esperava receber pelo menos um "Oi" de Draco.

Talvez um mínimo bilhete de Faw.

— Dobby está com elas aqui, meu senhor – Ele se apressou em responder, puxando um maço muito grosso de envelopes de cores variadas por uma fitinha marrom de dentro de um bolso improvisado na fronha que usava como roupa.

Harry puxou o maço de cartas, rasgando a fita com as mãos. De carta em carta, foi capaz de reconhecer as letras de quase todo mundo. Hermione lhe escreveu nove cartas – todas em folhas verdes – Ron lhe escreveu doze; Neville, sete; e Faw quase vinte cartas enormes.

Draco não tinha enviado nenhuma.

Harry não sabia como se sentir. O último momento em que ele e Draco tinham se visto foi muito rápido, nem se despediram direito. Esperava que pelo menos um cartão de aniversário com a letra caprichosa de Draco pudesse estar perdida por ali, mas não tinha absolutamente nada dele.

Mas Remus tinha lhe mandado uma carta de aniversário e isso o deixava menos irritado.

Dobby o olhava ansiosamente, temendo o que ele faria.

— Harry Potter não deve se zangar com Dobby – Ele repetiu, receoso. Harry já estava zangado — Dobby tinha esperanças de Harry Potter desistir de Hogwarts se pensasse que não tinha amigos.

Harry deixou as cartas em cima da cama. Mais de trinta delas. Quase sentiu vontade de chorar.

— Vamos jogar um jogo – Harry propôs e Dobby aceitou imediatamente — A família que você serve... É puro-sangue?

— Sim senhor.

Harry começou a pensar nas famílias puro-sangue que conhecia. Chegou a quase descartar a família Malfoy, porque, baseado no modo com que Draco tinha ido embora, Harry achava muito improvável que ele falasse a alguém que convivesse em sua casa sobre suas novas amizades em Hogwarts.

Sua irritação diminuiu ao pensar que esse podia ser um dos motivos para não haver carta alguma de Draco.

— Fawley? Zabini? Nott? Parkinson? Longbottom? Spier? Nelson? Spring? – Harry arriscou sem parar — Wood? – Dobby nem piscou — Mitchell? Abbott? Malfoy?

Dobby deu um passo receoso para trás. Harry sorriu levemente de lado.

— Malfoy? Malfoy! Você serve o Draco! – Exclamou e Dobby foi perigosamente para perto da parede. Harry o puxou de volta, o impedindo de se bater — Como ele está? Foi ele que te falou sobre mim? O que ele disse?

Dobby soltou um gritinho desesperado.

— Dobby não pode dizer, meu senhor! Não pode! O Mestre Draco não deixa que Dobby conte a ninguém.

— Certo, certo – Harry murmurou um pouco mais desanimado, passando as mãos nos cabelos embaraçados — Então ele não esqueceu de mim, certo? – perguntou baixinho, um pouco tímido.

— Esquecer o senhor, meu senhor? – Dobby perguntou, chocado — Nunca, meu senhor! O Mestre Draco não parou de falar sobre o senhor.

Harry sentiu suas bochechas esquentarem um pouco e forçou uma tosse.

— Prometa a Dobby que não vai para Hogwarts esse ano – Dobby voltou ao assunto.

— Detesto a ideia do "perigo mortal" – Harry confessou — Mas eu não posso ficar aqui, Dobby. Eu não consigo aturar um ano inteiro com esses filhos da puta.

— Meu senhor! – Dobby repreendeu, cobrindo as orelhas — Não fale assim da sua família, meu senhor.

Harry fechou a expressão.

— Eles não são minha família – Disse ríspido.

— Harry Potter tem que prometer que não vai voltar!

— Eu não posso ficar.

O elfo o olhou tristemente.

— Dobby sente muito, meu senhor. Sente muito mesmo.

Ele desapareceu em um estalo de dedos e reapareceu perto da porta. Saindo com cuidado do quarto e olhando ao redor. Harry revirou impacientemente os olhos e esfregou as mãos no rosto, sentindo a textura de suas cicatrizes. Seus óculos quase quebraram no processo.

Conseguiu ouvir facilmente os passinhos de Dobby pela escada.

Harry desceu as escadas devagar, conseguindo ouvir ainda mais alto a entediante conversa dos adultos. Se esgueirou furtivamente pelas paredes, tendo certeza de correr e se trancar no quarto se Petúnia ameaçasse quebrar todos os pratos na cabeça dele

Dobby estava escondido atrás do balcão da cozinha e, acima dele, a enorme montanha de creme flutuava junto ao teto. Os adultos ainda conversavam sobre investimentos.

— Nem pense nisso – Harry murmurou ameaçador, ficando o mais escondido que conseguia. Dobby nunca falaria o quão assustador ele estava naquele momento.

— Harry Potter promete que não vai voltar? – Ele perguntou e a montanha de creme estremeceu. Ela estava em cima de um prato de vidro grande e estiloso que tinha sido um presente de casamento de tia Petúnia.

— Não me faça quebrar você ao meio, Dobby

O elfo estremeceu. Nunca entenderia como Harry Potter era tão gentil e tão ameaçador ao mesmo tempo.

— Dobby pede desculpas, meu senhor.

O prato com creme estremeceu e Harry foi o primeiro a sair correndo o mais rápido e silencioso que conseguia. Estava tropeçando nos últimos degraus quando ouviu o barulho seco de vidro estilhaçando e as exclamações surpresas de Petúnia, Walter e os convidados

Harry correu para a cama e se cobriu por inteiro, fingindo que dormia. Seus óculos ainda estavam em seu rosto e estavam quase quebrando por estarem imprensados contra o travesseiro.

Ninguém veio atrás de Harry nos primeiros momentos, mas ele permaneceu deitado e sem se mexer. Tudo parecia normal no andar de baixo, eles conversavam e tentavam esquecer o estranho ocorrido com a sobremesa e tio Walter quase acreditou que fecharia o contrato.

Houve um grito e barulhos de confusão logo antes da porta da frente ser fechada com um baque ensurdecedor. Harry foi "acordado" pelo seu tio o balançando violentamente de um lado para o outro. Ele estava com um brilho assustadoramente feliz para quem tinha acabado de perder um contrato importante.

Ele estava segurando uma carta nas mãos.

— Leia isso! – Ele gritou, sacudindo a carta na frente de Harry — Vamos! Leia isso!

Prezado Senhor Harry Potter,

Fomos informados que um feitiço de levitação foi usado esta noite em seu local de residência (Privet Drive número 4, Little Whingeing, Condado de Surrey) às nove e doze da noite.

Como o senhor deve saber, bruxos menores de idade não tem permissão de realizar feitiços fora da escola e, se continuar com esta prática, o senhor poderá ser expulso da referida escola, de acordo com o decreto para restrição racional de prática de bruxaria por menores, 1875, parágrafo C.

Qualquer atividade mágica que possa chamar a atenção da comunidade não-mágica é uma grave infração, conforme a seção 13 do Estatuto de Sigilo em Magia da Confederação Internacional de Bruxos.

Atenciosamente, Mafalda Hopkirk

Escritório de Controle do Uso Indevido de Magia – Ministério da Magia

Harry ergueu os olhos da carta e o olhou debochadamente.

Sabia que os Dursley ficariam furiosos quando descobrissem que todas as ameaças de Harry relacionadas a magia não passam de meros blefes muito bem feitos. Estava preparado para as consequências.

Petúnia ligou a luz do quarto, fazendo os olhos sensíveis de Harry arderem por causa da claridade.

— Ah... – Harry disse — Devo ter esquecido de mencionar isso

— Pois bem, tenho uma novidade para você, seu monstrinho – Ele disse, erguendo Harry pelos cabelos. Harry teria o mordido se não estivesse cansado e sem paciência para lidar com o drama que viria depois — Vou prendê-lo. Nunca mais voltará para aquela escola.

Ele e Petúnia trancaram o quarto pelo lado de fora quando saíram.

Harry nunca entendeu o motivo de seu tio às vezes demonstrar o odiar mais do que Petúnia odiava. Ele era um cara estranho.

Harry passou a madrugada inteira lendo todas as cartas. Dobby não apareceu mais e a noite foi desoladora, tinha comido muito pouco e estava cansado, mas se recusou a dormir até que tivesse lido todas as cartas.

Rony, em quase todas, lhe convidava para ir visitá-lo. Neville perguntava como ele estava e falava sobre novas plantinhas. Hermione parecia preocupada por ele não estar mandando notícias – então ele presumiu que ela e Ron estavam se falando durante as férias – Faw contava como tinha sido o dia dele na casa dos Weasleys, normalmente os dias eram divertidos e não tinham uma rotina certa, e ele adorava. Ele também atualizou sobre as coisas com George – não teve progresso algum, mas disse que estava começando a perceber que era um idiotia por não ter percebido os próprios sentimentos antes. Aparentemente, ele e George estavam muito mais próximos que antes – Remus apenas perguntava como ele estava e contava um pouco como foi o dia, era sempre muito vago, mas aparentemente ele trabalhava e estudava muito

De manhã, Walter e Petúnia pareciam satisfeitos em instalar uma portinhola na porta do quarto de Harry para que pudessem empurrar pequenas quantidades de comida para dentro. Eles só soltavam Harry duas vezes ao dia para usar o banheiro, além disso, ele não tinha permissão de sair.

Três dias depois, os Dursley continuavam a não dar sinais de desistência da tortura física e psicológica que estavam fazendo com o próprio sobrinho – com uma criança – e Harry não via outra saída a não ser ler e reler centenas de vezes o livro que Draco tinha lhe dado de natal e rever as cartas que tinham lhe enviado.

Agora ele sentia falta de comida. Achava que morreria de fome e, sinceramente, preferia ter morrido nas mãos de Voldemort à passar mais alguns dias trancafiado.

A noite chegou e o quarto de Harry pareceu brutalmente avassalador. Marcas de garras cobriam as paredes – lembranças de suas transformações passadas – e ele, Leonis e Darius tinham que se contentar e dividir alguns raros legumes que sobravam do jantar.

Darius reclamava sobre o quão magro ele estava parecendo

Harry conseguia facilmente sentir suas costelas, mesmo que suas mãos só estivessem apoiadas em seu corpo. Se forçou a cair no sono, porque preferia ter seus recorrentes pesadelos onde Voldemort aparecia ou que se via matando Quirrell do que aguentar toda aquela situação.

Estava tendo um desses pesadelos quando acordou assustado pelo barulho incomum de um carro antigo. Leonis piou, olhando para o lado de fora, e Harry se obrigou a espiar por entre as grades de sua janela.

Primeiro, viu um carro azul dando voltas e voltas na casa. Depois viu o relance de cabelos ruivos e sardas, logo antes de reconhecer o cabelo castanho e encaracolado de Faw.

Eles pararam o carro na frente da sua janela e Callum, que dirigia, sorriu bem largo para ele.

Harry temeu que ele visse o estado caótico e destruído que aquele quarto estava.

— Oi campeão!

Harry piscou, meio atordoado. Eles estavam dentro de um Ford Anglia voador.

— Oi Harry! – Rony, que estava no banco de trás, cumprimentou animado.

— Precisa de ajuda, apanhador? – George perguntou. Ele estava servindo como co-piloto para Callum.

— Sério, Harry, não respondeu nenhuma das cartas! Quase morremos do coração – Ron tagarelou — Papai chegou em casa dizendo que você tinha recebido uma advertência oficial por usar magia na frente de trouxas.

Harry não respondeu. Estava a quase três meses sem ter nenhum contato humano amigável, sentia que tinha regredido socialmente.

— Pare com a conversa – Ele foi direto — Me tirem daqui.

Fred, que estava ao lado de Ron, riu.

— Gosto de como você é direto nas coisas – Ele disse e puxou algo do chão do carro. Quando abriu a porta, entregou para Harry uma corda muito grossa presa a um gancho de reboque.

— Não acha que vai arrancar essas barras na marra, acha? – Harry questionou, meio ácido, e devolveu a corda para ele — Não estamos em um filme, caralho. Eles vão acordar. Estacionem o carro lá embaixo e eu dou um jeito com as portas.

— Estraga prazeres! – Fred brincou, guardando a corda.

— Como vai abrir as portas? – Ron questionou, com o cenho franzido.

Harry deu de ombros.

— Só preciso de um grampo.

Fred e George sorriram muito largo.

— É sério, Harry, adoro como sua mente funciona – George elogiou. Faw tirou um grampo que estava prendendo sua franja e deu uma leve ré no carro para entregá-lo.

Harry não deixou de perceber que Faw estava o analisando demais por trás das grades da janela.

Harry pegou a gaiola de Leonis, enrolou Darius em seu pescoço e juntou rapidamente os poucos livros que estavam com ele. Fez um montinho com as cartas e as colocou dentro de uma trouxinha de lençol junto com as outras coisas.

O carro foi descendo devagar enquanto Harry se preocupava em abrir as portas e escapar.

Ele conseguia aprender muitas coisas úteis apenas ouvindo e observando os meninos de Crunchen Hall conversando. Muitos achariam que saber como abrir portas era um conhecimento um tanto inútil, mas Harry sempre achou o máximo.

A porta fez um clique e rangeu quando Harry a abriu. Ele saiu sorrateiramente do quarto.

Conseguiu arrombar a porta da frente depois de um tempo, porque Walter tinha adicionado mais três fechaduras na porta, para impedir que Harry conseguisse passar – o que, obviamente, não tinha adiantado de absolutamente nada.

Fred já estava parado em frente à porta quando Harry conseguiu abrir a porta e pegou a gaiola de Leonis e a trouxinha de lençol. Harry correu na ponta dos pés para abrir a porta do quartinho embaixo da escada

Seu antigo quarto não tinha nada de agradável. Sempre foi terrivelmente pequeno e abafado, mas Harry estava maior do que no verão passado, então tudo parecia terrivelmente pequeno.

Os brinquedos velhos e quebrados de Duda que foram dados a Harry quando seu primo não queria mais, teias de aranhas por todos o teto e entre as prateleiras cheias de produtos de limpeza e o seu colchão velho e esfarrapado, jogando de qualquer jeito e todo cheio de poeira. No meio daquele caos estava o malão de Harry, bem no meio do quarto.

Ele não tinha nada novo, nada a acrescentar no malão. Não tinha roupas novas, ou livros novos. A plantinha que Neville tinha lhe dado estava no chão, meio murcha, meio mal cuidada. Harry a pegou como se pudesse quebrar a qualquer momento e segurou o malão com uma mão só, começando a andar.

— Deixa que eu ajudo – Fred disse, aparecendo na porta do quartinho. Ele tinha que se curvar muito para não bater a cabeça no teto. Ele olhou em volta — Que lugar apertado. Eu teria arrepios claustrofóbicos se vivesse aqui — Ele pegou uma ponta da mala de Harry — A mala é pesada para carregar sozinho. Vamos, antes que seus tios acordem.

A mala não era pesada, mas Harry conseguiu fingir que estava fazendo muito esforço. George saiu do carro para ajudar a colocar as coisas no porta malas do carro, eles só precisavam entrar e dar partida no carro.

— Pegou tudo, Harry? – Faw perguntou e Harry quase respondeu que sim, inclusive, até começou a afirmar de leve com a cabeça, mas parou e franziu o cenho.

Faltava o casaco. O moletom amarelo de Faw. Petúnia tinha o colocado para lavar naquela manhã e estava na secadora de roupas (que ficava na área de serviço, nos fundos da casa e depois da cozinha) desde cedo, porque todos ficaram muito ocupados com o jantar para sequer lembrar das outras coisas acontecendo dentro de casa.

— Que cara é essa? – George perguntou.

— Eu esqueci uma coisa – Harry disse baixo — É importante. Fiquem aqui, eu vou buscar.

E entrou correndo sorrateiramente dentro de casa. Na ponta dos pés, tentando desviar das madeiras do chão que rangiam, tentando não esbarrar nos móveis enquanto andava no escuro. Quando finalmente conseguiu chegar até a secadora de roupas e tirar o moletom amarelo de dentro, ouviu a porta da geladeira abrindo e uma luz amarelada inundando a cozinha.

Duda estava a cinco passos de Harry, parecendo muito acordado enquanto pegava uma garrafa d'água.

Harry tentou se esconder no escuro. Mas a porta da frente estava aberta – ele não fazia ideia de como seu primo não tinha visto a porta, porque ela literalmente fica na frente das escadas que levam ao primeiro andar – e o barulho do motor do carro estava alto.

Alto o suficiente para até Duda, que desprovia de muita inteligência, estranhar.

No mesmo momento que seu primo olhava estranho em direção a porta, Harry ia tentando se esconder mais na escuridão da área de serviço. O seu erro tinha sido não fechar a tampa da secadora.

Quando ele deu mais um passo para trás, sua perna bateu com tudo na tampa da máquina, que fechou com um baque surdo. Duda derrubou a garrafa d'água no chão por causa do susto e, quando viu quem era, começou a gritar.

Harry correu em sua direção, o empurrando para o lado e correu o máximo que conseguiu para a saída.

— Papai! Papai! Ele está fugindo! – Duda gritava em plenos pulmões, correndo atrás de Harry — ELE ESTÁ FUGINDO!

— Entrem no carro! – Harry gritou, agarrando com força o casaco de Faw. Os meninos correram para dentro do Ford (Fred batendo a cabeça no processo) e Harry escorregou pelo banco, fechando a porta bem quando seu primo conseguiu o alcançar.

— Acelera Faw! – Rony gritou quando viu Walter saindo cambaleando de dentro de casa. O rosto amassado por ter acordado recentemente, mas a expressão enfurecida vendo o Ford acelerando pela rua. Até foram atrás dele, gritando coisas ruins para Harry, mas Faw clicou em um botão no painel antigo do carro e ele começou a planar. Indo cada vez mais alto.

— VAI SE FODER! – Harry gritou em plenos pulmões, usando a energia mental e física que ele nem tinha mais.

Walter e seus xingamentos ficaram para trás.

Harry conseguiu respirar melhor, afundando no banco. Darius, que ainda estava em seu pescoço, se enroscou ainda mais nele, tentando o confortar.

Harry pegou a gaiola de Leonis que estava no colo de Rony e soltou sua coruja. Ela merecia um passeio depois de ter ficado tanto tempo presa e impedida de voar.

— Família encantadora – Faw disse, sarcástico, tentando amenizar o clima — Como você está?

— Normal – Murmurou. De repente, estar naquele carro parecia muito estranho. Não achava que merecia que alguém percorresse meio mundo apenas para o resgatar. Era estranho pensar nisso.

— Papai trabalha no Ministério. Ele que contou sobre você – Rony comentou — Você sabe que não podemos usar magia fora de Hogwarts, Harry.

— Olha quem fala – Harry disse, sarcástico, abrindo a janela do carro voador.

— Isso não conta – Ron se defendeu — É do papai. Não fomos nós que enfeitiçamos. Apenas... pegamos emprestado.

— Sem o consentimento dele – Fred adicionou, risonho.

— Mamãe vai nos matar – George disse, parecendo se divertir muito — Mas valeu a pena, certo, Harry?

Harry não respondeu. Não achava que conseguiria.

— Em todo caso – Rony disse, tocando animadamente o ombro de Harry repetidas vezes. Harry o olhou feio, se afastando do toque. Rony não pareceu ofendido, já estava acostumado com o jeito de Harry — Que bom que está inteiro. Começamos a ficar preocupados por não responder nossas cartas.

— Achamos que tinha sido culpa de Errol – George disse, prestando atenção numa bússola que estava no painel do carro. Faw dirigia muito concentrado, vez ou outra desviando de pássaros no caminho — Nossa coruja, sabe? Ele é bem velhinho. Tentamos pedir o Hermes emprestado.

— É a coruja de Percy – Fred explicou — Ele a ganhou de presente depois de ter se tornado monitor. Mas ele disse que precisava dele.

— Percy está estranho. Mais do que o normal – George comentou, despreocupado — Tem mandado um monte de cartas para alguém e anda polindo diversas vezes o distintivo de monitor – ele olhou para a bússola mais uma vez — Ley, você está saindo da rota.

Harry sorriu pequeno quando notou a voz mais carinhosa de George se dirigindo a Faw. Fingiu que não viu Call ficando desconcertado pelo apelido, quase pisando com tudo no acelerador do carro.

Faw girou a mão no volante, tentando se manter no rumo certo

— Papai vai amar falar com você, Harry – Fred disse — Ele é fascinado por tudo que é trouxa. Ele desmonta um objeto, enfeitiça e monta de novo. Até faz com que rádios funcionem dentro de Hogwarts.

Rony riu ao lado de Harry, se curvando para frente no banco para ouvir melhor a conversa. O vento forte que entrava pelas janelas abertas atrapalhava.

— Se ele revistasse a nossa casa teria que se dar ordem de prisão – Rony comentou e os outros três riram.

— Tio Arth trabalha na seção de Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas no Ministério da Magia – Faw explicou. Harry meneou a cabeça em concordância.

Era aquilo que incomodava. Aqueles quatro tinham histórias e piadinhas internas que eles tinham que explicar a Harry. O sentimento de não fazer parte de algo tão perto dele o sufocava, o deixava mal e inseguro.

Sentiu vontade de se jogar daquele carro.

— Estaremos lá em dez minutos – George garantiu, pondo a cabeça para fora da janela e olhando para baixo — Está muito cedo. Espero que mamãe ainda esteja dormindo.

Faw foi descendo com o carro e, aos poucos, Harry conseguiu se esticar e ver árvores e terrenos abertos ao longe.

— Chegamos a Ottery St. Catchpole – Fred, que estava do outro lado de Harry, disse. Chegando para trás do banco para Harry poder de inclinar e ver tudo.

Pouco depois, com um solavanco meio brusco, eles chegaram ao chão. Rony foi o primeiro a descer do carro e Harry deslizou pelo banco até sair também. Faw saiu se esticando e movimentando o braço para tentar relaxar os músculos tensos, George falava algo com ele, algo que Harry não se preocupou em prestar atenção. Tinha algo a ver com "o plano para mais tarde ainda está de pé?" e Harry não queria ouvir, então foi andando mais para longe.

Eles tinham pousado ao lado de uma garagem meio acabada, num pequeno quintal. Rony, que seguia Harry, estava com as bochechas sardentas vermelhas de vergonha.

— Essa é minha casa – Ele apontou, bem tímido.



______________

Notas:

Olá!!

Como estão? Espero que bem!

De certo vou começar a atualizar nos fins de semana, fica muito melhor para mim hehehe

O que acharam desse capitulo? Espero que tenham curtido. Minhas partes favoritas foram o Dobby falando que o Draco não parava de falar do Harry e o Faw, George, Ron e Fred indo resgatar o Harry.

Pode parecer algo sutil (mas, como sempre) fiquem de olho em TODO e qualquer sinal que eu coloco nos meus personagens. Eu amo o conceito e a teoria do Efeito Borboleta, não consigo viver sem ele. A partir do próximo capitulo, vou colocar avisos de possíveis gatilhos na área das mídias, o segundo livro é o começo de muitas coisas acontecendo. Espero que estejam preparados por tudo que está por vir (tanto coisas boas, quanto ruins)


Um beijo, se quiserem, claro!

E até  <3

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