Sangue Leal

By AmyDuartte

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Agnes Williams é uma garota comum, que vive uma vida comum como qualquer outra adolescente da sua idade. Isso... More

Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20

Capítulo 1

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By AmyDuartte

— ISSO NÃO PODE ESTÁ ACONTECENDO! — Rebeca gritou em frente ao espelho enquanto analisava o seu reflexo. Pela sua expressão, parecia que o mundo iria acabar no próximo minuto.

Revirei os olhos enquanto tentava conter uma risada. Sentada na cama, passei uma página da revista ao tempo que fingia estar concentrada.

— Não ria Agnes, isso é sério! Olhe para isso. — Ela voltou-se para mim enquanto me mostrava seu rosto de porcelana. Analisei calmamente por alguns segundos até finalmente encontrar o que julguei ser o motivo do seu desespero. — Isso está um desastre. Como irei para aula hoje? Serei caçoada pelo resto do ano. Você sabe que Jonas não perderá a oportunidade.

Virei o rosto para o lado tentando não lhe denunciar o meu divertimento com a cena. Eu já conhecia Rebeca há tempo suficiente para saber quão dramática ela era e ainda assim eu sempre me divertia com isso.

— Deixa de exagero, Rebeca. É só uma espinha. — Disse revirando os olhos, não que isso fosse acalmar seus nervos.

— Está um horror. Além disso, diferentemente de você que é, claramente, o gênio da escola, eu não tenho muito o que aproveitar nessa cabecinha. — Ela pôs o indicador em sua testa. Rebeca pegou um pouco de base no dedo e começou a espalhar pela área onde estava a espinha. — Tenho que zelar pela beleza que me resta antes que não me sobre mais nada.

Rebeca não era tão desprovida de inteligência como ela acreditava ser, mas também não era nenhum destaque em nenhuma matéria. Por outro lado, era uma das mais bonitas do colégio.

— Não está tão ruim assim, e uma espinha não é o suficiente para afetar sua beleza. — Na verdade, era difícil algo realmente conseguir afetar a beleza de Rebeca. Ela era muito bonita. Sua pele de porcelana combinava perfeitamente com seus cabelos loiros que caíam em seus ombros em espiral. Ela era um pouco mais alta que eu e tinha as maçãs do rosto naturalmente avermelhadas. Provavelmente, metade dos rapazes do colégio já teve uma queda por ela, apesar dela não ter ideia da maior parte dos casos.

Levantei-me indo em direção ao closet e, colocando uma calça jeans preta e uma regata branca, peguei meu moletom azul e me pus a sair do quarto.

— Estou esperando lá embaixo. Você tem cinco minutos.

Saí ouvindo suas lamentações, o que também já me acostumara. Desde o primário, quando Rebeca se pôs a chorar porque seu rabo de cavalo estava torto, que as venho escutando.

Diferentemente de mim, Rebeca é extremamente vaidosa. Lembro-me que durante a oitava série, enquanto ela estava visivelmente a minha frente ao que se refere a atributos femininos, já que ao seu lado eu parecia uma criança abarrotada de espinhas, ela se apaixonou perdidamente por Mark Davies, um novato da escola e o seu primeiro amor. Na época, ela traçou como objetivo de vida conquistá-lo, então passou a demorar o triplo do que normalmente demorava se enfeitando para Mark. Infelizmente, Mark não demonstrou muito interesse por ela, o que me surpreendeu. No ano seguinte, Mark saiu da escola e Rebeca passou semanas chorando pela sua perda. Apesar disso, ao contrário do que eu esperava, Rebeca ficou cada vez mais preocupada com sua aparência.

Entrei no carro, um Corsa Wind 2001 branco, do qual apelidei de Urso polar. Não tinha orgulho do nome, mas foi o mais criativo que consegui na época.

Após longos vinte minutos, Rebeca apareceu tão arrumada quanto eu estaria caso estivesse indo para um casamento. Ela adentrou o carro com uma saia um pouco menor do que eu teria coragem de usar, e com um sorriso enorme no rosto.

— O que um pouco de base e uma pitada de talento não resolvem? — Disse entusiasmada. — Eu não darei a Jonas o gostinho da vitória de hoje.

Dei a partida em Urso Polar e saímos.

Anne Stuart School não era uma das melhores escolas da cidade, mas também não era uma das piores. Estava no meio termo. O mesmo se dizia de sua estrutura. O prédio, feito de tijolos acobreados, era de tamanho médio, possui 3 andares e uma placa enorme e chamativa com o nome e o símbolo da escola (um escudo vermelho com uma listra branca o cortando na horizontal).

Estacionei na vaga de sempre, a mais longe da entrada, e entramos na escola. Sentamos na quarta fileira, onde costumeiramente sentávamos.

— Nós quase nos atrasamos. — Reclamei para Rebeca enquanto assistia Mrs. Yang, uma senhora baixinha e de ascendência asiática, adentrar a sala meio minuto após nós termos nos sentado. Ela apenas sorriu para mim como um pedido de desculpas.

A aula era de Matemática, a qual a maioria dos alunos odiava, e para completar Mrs. Yang falava tão baixo que praticamente tínhamos que fazer leitura labial para entendermos a matéria. Metade da sala dormia e a outra metade lutava contra o sono. Eu tinha meus métodos para me sair bem nas provas. Ao tempo que Mrs. Yang ensinava, eu resolvia questões que encontrava no livro sobre o assunto do dia, e isso era o suficiente para eu ter uma média quase perfeita.

Enquanto fazia leitura labial em Mrs. Yang para anotar a atividade para a próxima aula, avistei uma bola de papel repousar em minha mesa. Desdobrei o papel.

"Depois da aula, nos Gardner's, às 17hs? 

Ps: Como você aguenta?"

Olhei, disfarçadamente, para trás e avistei Rebeca revirar os olhos em claro sinal de tédio.

"Claro. Vou anotar na minha agenda.

Ps: Não aguento, não demonstro o quanto estou entediada para conservar a minha boa fama nesta escola."

Devolvi a bolinha, enquanto tentava não chamar muita atenção para a minha pessoa. Não que Mrs. Yang já tivesse demonstrado se importar com que os alunos estavam fazendo em suas aulas, mas para tudo tinha uma primeira vez e eu não queria que fosse logo eu a azarada.

O sinal tocou e saímos para o corredor nos separando. Fui para o meu armário e quando já estava chegando reparei que uma figura indesejada se aproximava com um humor de cão. Olhei para trás na esperança de ainda avistar Rebeca nas proximidades, o que não aconteceu.

— Agnes.  — Clarissa me chamou e eu me virei. —  Pensei que fosse mais inteligente e menos intrometida, querida. — Ela me olhou de cima a baixo com o olhar de sempre, olhar de nojo.

— Não entendi. — Me fiz de desentendida.

— Não finja que não escutou nossa conversa escondida no banheiro. Nós vimos você saindo no corredor logo depois. Você não esperou nem mesmo dois minutos para sair da cabine.

— Ah claro, eu estava muito curiosa para saber que você aumentou dois centímetros de cintura no último trimestre e de como isso não afeta em nada a sua super autoestima. — Revirei os olhos. Me poupe. Ela acha que é o quê? Uma celebridade?

Clarissa ergueu o nariz para mim com um ar de superioridade pairando em cada movimento seu.

— Não me subestime, Agnes. Se contar para alguém sobre isso irá se arrepender. Você sabe que é só um verme nessa escola e eu posso esmagá-la a qualquer momento.

Clarissa saiu assim que terminou de proferir sua ofensa. Ela não perdia uma oportunidade de me rebaixar, por isso eu não achava que ela realmente acreditava que eu iria perder o meu tempo fofocando sobre sua vida ou se incomodasse de verdade com isso. Para mim, ela simplesmente gostava de me ameaçar, gostava de mostrar o quão superior, incrível e popular ela era em relação à mim.

Rebeca me encontrou assim que Clarissa se foi, ela abriu sua boca para falar algo quando uma figura familiar se aproximou.

— Olá, meninas. Como estão? — Jonas mostrou os dentes em um sorriso e olhou para Rebeca.

— O que você quer, Jonas? — Rebeca semicerrou os olhos. 

Jonas deu de ombros e seu sorriso se alargou em seus lábios.

— Só vim convidá-las para a festa no sábado, na minha casa, às 19hs.

Jonas era o típico jogador de futebol popular e bonito, mas que não tinha muito do que se aproveitar de sua massa cinzenta. Ele claramente gostava de Rebeca já fazia, pelo menos, cinco anos, mas tudo que fazia para mostrar os seus sentimentos era provocá-la. Bom, o resultado disso tudo é que ela o odiava.

— Não obrigada, tenho mais o que fazer. — Rebeca cruzou os braços, enquanto fingia analisar suas unhas perfeitamente pintadas de azul.

— Eu sei que você está doida para ir, Pompom, mas tenta disfarçar. — Alguém o chamou e ele virou o rosto para olhar. — Até sábado, então. — Jonas deu um passo em direção ao centro do corredor e começou a se afastar, mas então, olhou para trás novamente, como se tivesse se lembrado de algo, e bradou em alto e bom som: — Ah, eu amei essa sua verruga nova, já deu um nome para ela?

Ouvi Rebeca grunhir ao meu lado.

— EU VOU MATÁ-LO!

Boa parte da escola deve ter escutado, já que estávamos no corredor em horário de saída. Rebeca estava vermelha de raiva e eu segurava uma risada. Era uma cena comum de se vê, Rebeca ameaçava Jonas constantemente e, quanto mais ela fazia isso, mais ele a provocava.

— Como eu o odeio! Ele claramente não tem amor a vida. Todos estão olhando para mim, não estão? — Ela me perguntou fingindo olhar para dentro de meu armário, o qual havia uma foto nossa do natal do ano passado pregada com fita adesiva.

Olhei ao redor, uma meia dúzia de pessoas olharam, mas logo mostraram desinteresse.

— Ninguém está olhando para você agora. Vamos Rebeca, sábado vocês se resolvem. — Eu disse começando a andar em direção à saída.

— Ele, com certeza, não estará mais vivo até lá. Além disso, de forma alguma irei a essa festa.

Revirei os olhos. 

Saímos da escola e partimos em direção ao Gardner's. Enquanto ouvia Rebeca se lamentar de como Jonas estava sempre a irritando e do ódio "mortal" que ela nutria por ele, meu telefone vibrou em meu bolso. Mensagem da mamãe.

16:43 "Querida, você já está vindo?"

16:43 "Estou indo para o Gardner's com Rebeca."

16:44 "Certo. Estou saindo e acho que vou chegar tarde, o Sr. Collins tem uma reunião e pediu para eu ficar."

16:44 "Ok."

Chegamos ao restaurante e escolhemos a mesa mais próxima da janela. O Gardner's era o nosso ponto de encontro há, pelo menos, dois anos. Era um restaurante antigo, tinha uma decoração arcaica em tons preto e cinza. Mas era muito confortável, os bancos eram bem acolchoados, o ambiente agradável e os preços bastante acessíveis.

Um garçom com um corte de cabelo esquisito, como o dos caras das bandas de Rock dos anos oitenta, se aproximou da nossa mesa.

— Bem-vindo ao Gardner's. O que gostariam? — Ele pegou uma caneta em seu bolso e um bloco de notas.

— Um chá gelado e um croissant, por favor. — Rebeca foi a primeira a responder.

— Um café preto, apenas. — Eu disse.

Ele anotou os nossos pedidos e partiu.

— Queria ter o seu controle com a comida. — Rebeca iniciou. — Como você vem a um restaurante e pede apenas um café? — Rebeca indagou enquanto digitava em seu celular.

Olhei pela janela e alguns alunos do segundo ano atravessavam a faixa de pedestre felizes com o fim de mais um dia de aula. Um deles tropeçou e foi chacoteado pelo resto do grupo.

— Estou sem fome. — Respondi.

— Vi Clarissa conversando com você mais cedo. — Rebeca parou de digitar e me analisou por um segundo. — Você está bem?

Remexi na cadeira e desviei o olhar. Rebeca me conhecia o suficiente para saber que a resposta era não. Mas ela também sabia que eu mentiria sobre isso.

— Estou. Só estou de saco cheio dela. — Suspirei.

— Será que ela não cansa de ser chata? Meu Deus! Tem certeza que não tem nenhum motivo para ela te odiar tanto?

O garçom se aproximou novamente e deixou nossos pedidos. Agradeci e tomei um gole do líquido preto quentinho em minha xícara.

— Tenho. — Refleti. Bom, quando eu tinha sete anos, sem querer, prendi um chiclete no cabelo de Clarissa. Não foi nada grave, já que tinha sido em uma mecha pouco visível, e por isso acho difícil esse ser o motivo de tamanha repulsa sua por mim há tanto tempo. — É, acho que não tem nenhum.

— Então ela escolheu você, aleatoriamente, como alvo para descontar as suas frustrações diárias, ou ela tem inveja de você. — Rebeca me falou e eu me engasguei com o café. 

Ok, Rebeca já tinha passado do ponto.

— Inveja? Até parece. O que eu tenho que possa ser invejável à ela?

Tomei outro gole do café, que desceu quentinho pela minha garganta. 

Rebeca me olhou como se a resposta fosse óbvia.

— Você é linda e inteligente. Ela pode até ser bonita, mas com certeza inteligente não é. Suas notas estão abaixo das minhas, o que é algo bem difícil de se conseguir.

Revirei os olhos. Era bastante engraçado para mim Rebeca supor a inveja como o motivo do ódio de Clarissa por minha pessoa, era tão engraçado quanto alguém tropeçando na rua. Não tinha a mínima chance de isso ser verdade. Clarissa era popular, bonita e já teve como namorado todos os rapazes considerados bem acima da média no quesito beleza da Anne Stuart School. Eu não era feia, mas também não era muito bonita e não era popular. E apesar de ser inteligente, se colocássemos meus atributos e os dela em uma balança, ela iria facilmente pender para o lado de Clarissa.

Olhei para as horas em meu celular. Já estava tarde.

Pagamos a conta e saímos do Gardner's. Deixei Rebeca em sua casa e cheguei a minha por volta das cinco e meia da tarde. O capacho me dava as boas-vindas. 

Subi as escadas e adentrei o meu quarto bicolorido. Quando escolhi a sua decoração eu tinha por volta dos sete anos e só pensava em rosa, então ele meio que virou o quarto da Barbie. Entretanto, quando cheguei aos treze, em minha fase de "rebeldia", o preto passou a ter um espaço especial no meu coração de pré-adolescente. Hoje, o meu quarto é uma mistura de preto com rosa. Os móveis pretos, a cama preta e a parede e muitos objetos rosa. Eu já não ligo muito para isso, então o deixo assim como está.

Fui para o banheiro e deixei a água quentinha me fazer esquecer Clarissa e sua implicância comigo. Fiz o dever de matemática e me peguei bocejando perto do fim do exercício. Deitei-me no colchão de mola e a vista da lua acima da copa da árvore do meu quintal acelerou o processo e logo o sono me venceu.

"Senti o coração acelerar assim que avistei a criatura. Estava em um campo aberto em uma noite de lua cheia. O céu estava limpo. Respirei fundo e olhei vagarosamente ao redor tentando não chamar atenção para mim. O animal ainda não havia reparado que eu estava ali. Avistei um casebre a uns quarenta metros de distância. Não estava longe, mas a criatura também não estava. Além disso, eu não sabia o quão veloz ela poderia ser. Que animal era aquele? Eu nunca havia visto algo do tipo, parecia um tigre, mas tinha chifres e um rabo peludo. Sua pele preta era brilhante como um diamante. Olhei para o casebre novamente e uma luz de dentro dele se acendeu. Meu coração disparou. Tinha alguém lá. Alguém que poderia me ajudar. De repente, a criatura olhou para mim. Seus olhos eram de um vermelho vivo, como chamas rebeldes. Fiquei imóvel por um segundo e prendi a respiração, como se esse simples movimento me tornasse invisível à criatura. Mas aquele ser continuou me encarando como se eu fosse a presa mais saborosa e mais desejável que ele já vira. Ele me queria. Eu sentia o seu ardente desejo por mim apenas pelo brilho do seu olhar. Decidi que já estava na hora de sair dali, contei até três e comecei a correr. A criatura rosnou atrás de mim como um leão. Tentei não olhar para trás, mas foi inevitável. O desespero tomou conta de cada partícula minha. A adrenalina rasgava em minhas veias e me pus a correr ainda mais rápido quando me dei conta do quão próxima ela estava de mim. Sua velocidade era assustadoramente rápida e seus dentes, com caninos enormes, a deixavam ainda mais assustadora, o que me fez implorar mentalmente para eu não ceder e desmaiar ali mesmo. Estava a uns dez metros da casa. Só mais um pouco e eu estaria lá, sã e salva. Olhei para trás novamente. Ela estava muito perto. Perto demais. Minhas pernas já estavam cansadas pelo esforço, mas a adrenalina me fazia esquecer esse fato. Quando finalmente cheguei, usei toda força que tinha para forçar a maçaneta da porta, mas não adiantou, estava trancada. Olhei para trás e como último vislumbre avistei a fera parada a minha frente. Estranhamente, ela parecia sorrir, como se tivesse se divertindo com meu desespero."

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