Depois da Meia-Noite (Bubblin...

By TersyGabrielle

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Marceline e Bonnibel foram um casal durante o ensino médio. E como todo casal adolescente, estavam certas de... More

Prólogo
Capítulo 1 - Tudo ou Nada
Capítulo 2 - O Baixo e o Sangue
Capítulo 3 - Os Motivos Pelos Quais Eu Deveria Odiar Você
Capítulo 4 - O Céu Nos Olhos Dela
Capítulo 5 - Canela
Capítulo 7 - Deixe Para Lá
Capítulo 8 - Quando Agosto Acabar
Capítulo 9 - Bonnibel, A Sensível
Capítulo 10 - Uma Garota Não Tão Boa
Capítulo 11 - Andrea
Capítulo 12 - O Começo do Fim
Capítulo 13 - O Lugar Que Você Deixou Vazio
Capítulo 14 - Depois Dela, É Minha Vez
Capítulo 15 - O Horizonte Tenta, Mas Não Se Compara
Capítulo 16 - Rosas Pretas e Cor-de-rosa
Capítulo 17 - Um Vislumbre de Nós
Capítulo 18 - Sangue & Lágrimas Azuis
Capítulo 19 - Cartão Postal
Capítulo 20 - Um Passo Atrás
Capítulo 21 - Papai, Cadê Sua Dignidade?
Capítulo 22 - Chuva a Meia-Noite
Epílogo
Notas Finais e Agradecimentos.

Capítulo 6 - Espaços Vazios

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By TersyGabrielle

Olá, jovens!

Sei que dei uma sumida, as coisas estão meio doidas pra mim ultimamente. Estou tentando botar elas no lugar, espero conseguir logo.

Bem, vamos ao capítulo.

Boa leitura!
~•~•~•~•~•~•~•~♪~•~•~•~•~•~•~•~•~•~

He wondered what's my sin
I maculated angelical spirits
Trying to fill this empty spaces
I've lost months, years, ages

- Faixa 3 : Empty Spaces
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

A sala nebulada com a fumaça, um cinzeiro que ela não esvaziava a algum tempo, cheio de uma mistura de cinzas de cigarro e maconha.

Uma perna jogada no braço do sofá e a outra jogada ao lado, o pé apoiado no chão batendo ao som da música que tocava da Alexa, no outro lado da sala. O short e a calcinha, ela não fazia questão de saber onde estavam. A camiseta larga já tinha sido desenrolada do lugar acima dos seios onde havia ficado, e ela já havia acendido outro baseado.

Ash saiu do banheiro ainda terminando de vestir a camiseta, tentando continuar a conversa no telefone. Alguma coisa sobre um show para o qual tinha sido chamado como baterista substituto de última hora.

Pegou a carteira e a chave do carro. Desligou o telefone e não saiu sem antes se despedir de Marceline da maneira correta.

Não, nada de selinhos ou abraços. Ela arrancaria um braço dele se tentasse. Um high five e um soquinho. Nada além de um high five e um soquinho.

— Vejo você amanhã na gravadora? - perguntou ele, já indo até a porta.

— Fazer o quê, preciso apresentar as músicas que já estão prontas. Eu juro que vai dar merda se eles pedirem uma mudança que seja.

— Relaxa, contrato é contrato. Você aceita o livro e eles não se metem na produção, é o combinado. E qualquer coisa, eu e Keila vamos estar lá pro barraco.

Marceline riu e o dispensou com a mão, fazendo o homem sair rindo também. Quando a porta se fechou, ela mandou Alexa parar a reprodução e se permitiu uns minutos no silêncio.

Uns anos antes, quando percebeu que Ash gostava dela, achou que era uma boa oportunidade de usar alguém para uns amassos sem compromisso. E enquanto a amizade deles se fortalecia, ela quase se arrependia da frieza que empregava naquilo.

Quase.

Mas no final, o próprio Ash entendeu o terreno que estava pisando. Entre o coração de Marceline e qualquer um que fosse, havia uma muralha de concreto. Foram precisas apenas algumas semanas para ele saber que não seria capaz de derruba-la, então entrou na brincadeira.

Ash tinha uma maneira muito peculiar de amar Marceline intensamente e não ter paixão alguma por ela. Não havia dúvidas de que ele se jogaria na frente de um tiro por ela.

E não havia dúvidas de que ele não entraria num relacionamento com ela nem se ela mudasse de ideia.

Os anos colocaram os dois numa posição em que o romantismo não podia caber. Mas o carnal cabia de forma confortável.

No fundo, ela sabia que era mais prático, para ele, ocupar os espaços da carência física dela do que arrasta-la para fora de um clube bêbada e drogada, direto para uma clínica para outro exame de IST's.

Depois de tanto tempo tentando evitar que ela entrasse naquele ciclo de auto destruição, de novo e de novo, Ash já tinha criado mil e um mecanismos práticos de controle de danos. Não que aquela parte em específico o incomodasse, - longe disso - mas era de certa forma só mais uma das acomodações que ele fazia para cuidar dela sem ter que parar a vida por isso.

Se ela queria fumar, fumava com ele. Se queria dropar alguma coisa, dropava com ele. Se ela queria beber e chorar, o fazia com ele.

E, bem. Se queria transar...

Na cabeça dela, aquilo era ridiculamente engraçado e triste para um caralho ao mesmo tempo. Mas ainda assim reconfortante.

Ash havia aprendido a ceder sem ser omisso, pelo cansaço. Ele já tinha gastado uma energia gigantesca tentando evitar que Marceline virasse uma bagunça.

E quando ficou claro que nada entraria naquela cabecinha dura, ele mudou de abordagem. Que ela fosse um caos então. Mas um caos controlado. Um caos que não fosse parar nos tablóides. E deu certo.

Dentro das paredes da intimidade dela, Marceline podia ser tão louca quanto quisesse, mas não sem supervisão. Sempre tinha um olho nela. Nem sempre era o de Ash, na verdade, pois Keila e Simon também tinham desenvolvido seus próprios meios para mantê-la sob o radar.

E enquanto terminava de fumar, Marceline tentava não pensar demais na forma como a vida e o tempo iam passando, a idade se acumulava nas costas, nas juntas, nos joelhos e nas marcas novas ao redor de seus olhos... E mesmo assim, ela não funcionava sem ser assistida por um adulto de verdade.

Isso não costumava a preocupar tanto antes. Mas agora tinha uma preocupação nova borbulhando na boca do estômago.

Marceline não queria que ela soubesse disso.


•~•~♪~•~•


Caderno no colo, celular gravando na mesa. Uma Bonnibel um pouco menos sonolenta do que das últimas vezes, e uma Marceline um tanto quanto mais quieta.


— A gente precisa seguir em ordem cronológica dos fatos?

— Não. Você pode contar sobre o que estiver pensando hoje, e quando for hora de colocar no manuscrito, nós ajustamos a ordem.

— Certo. Bem, Bonnibel, hoje eu estava pensando no começo da minha carreira.

— E como foi?

Marceline deu uma encarada de canto de olho. Era uma pergunta idiota. Muito idiota.

Bonnibel sabia muito bem o caos que havia se instalado nela quando pisou os pés pela primeira vez no prédio da Fueled By Ramen Records.

Mas elas tinham aquele acordo silencioso de fingir que não faziam ideia do que tinha acontecido. Que nada havia acontecido de fato. Então Marceline só respondeu.

— Uma sequência de atitudes idiotas para preencher espaços vazios que nunca se enchiam de fato.

Bonnibel engoliu em seco. E continuou anotando, como se não tivesse sido atropelada pelas palavras. E Marceline continuou falando, como se as palavras não pesassem uma tonelada na ponta da língua.

Tinha muita coisa doce no meio de todo aquele azedo, se Marceline fosse honesta. Aquela foi a fase de conhecer Simon, de fazer umas apresentações um pouquinho mais profissionais por entre os bares de Los Angeles, de ganhar bem mais do que esperava e viver uma vida com os confortos que ela não tinha no interior.

Mas, bem. Também foi a fase da menina de dezoito anos sozinha numa cidade estranha, tentando ocupar a mente de todas as formas que podia.

Marceline começou a beber muito rápido. O mundo da música (principalmente dos aspirantes à grandes artistas) era um tanto sem lei. Ela nunca precisou apresentar um documento para sair de um bar trôpega de tão bêbada. E as drogas eram de acesso igualmente fácil.

E por dois anos, ela foi uma imagem muito próxima da estrela do rock nos anos 70 ou 80. Magra, alta, meio agressiva, muito talentosa. E, quase sempre, completamente chapada. Talvez a única coisa que ela tenha passado longe tenha sido o pó, a heroína e qualquer coisa que seus dealers dissessem que tinha efeito parecido. Ela ainda tinha um foco muito forte pela frente, e achava que podia controlar até que ponto àquelas substâncias estariam no controle se ela soubesse "escolher o menor risco".

Bobagens.

Aos vinte, ela já era muito próxima de Simon, e tinha os esboços de um álbum. Foi quando, por intermédio dele, conseguiu um contrato na Fueled By Ramen.

Aquela era, provavelmente, a única parte do relato onde Bonnibel poderia ver um sorrisinho brincar no rosto de Marceline. Estar relativamente perto de artistas que amava, em um estúdio de verdade e trabalhar em um projeto por horas: aquilo era o sonho virando realidade da forma mais insana possível.

E ainda assim, não fazia ela se sentir inteira. Nem chegava perto.

Quando o processo de composição estava quase pronto e Simon já estava dando início ao processo de gravação e produção, um rosto diferente apareceu por ali. Ash.

Ele tinha um cabelo platinado um pouco comprido e arrepiado, meio anos 2000 demais para o início dos anos 2010, mas que lhe caia bem. Também era muito novo, muito metido a aventureiro, e talvez por isso tenha caído nas graças da tão distante Marceline logo de cara.

De início, como qualquer jovem abobalhado diante de uma presença tão notável quanto ela, ele ficou meio mexido. Interessado.

Foram precisas apenas algumas semanas seguindo Marceline pelos bares da cidade e alguns desabafos bêbados sobre um passado nada distante para que ele soubesse que não tinha espaço para ele ali. Não romanticamente falando, pelo menos. Mas ele gostava do espaço onde podia ficar.

As semanas viraram meses, que viraram anos. Muitos álbuns e muitas turnês depois, o comportamento caótico dela era a única coisa o impedindo de ter Marceline como uma irmã. Era ela quem tomava a iniciativa, talvez porque ele estava sempre ali, tão fácil e descomplicado; talvez porque ele já a conhecia bem o bastante para saber que nada daquilo levaria a lugar nenhum, e ela não queria ter que passar mais uma vez pelo constrangimento de rejeitar o afeto que vinha depois.

Provavelmente era essa a razão das coisas nunca terem tomado o mesmo caminho com Keila, por mais que as oportunidades tenham surgido. Talvez fosse só sua natureza feminina, a inclinação natural por ser um pouco mais afeto e menos lascívia, que fazia com que ela quase sempre pisasse fora da linha muito tênue que Marceline desenhava entre uma foda e algo a mais. Depois de um tempo, só parou de acontecer. Keila não poderia empregar a frieza necessária àquilo.

Mas não era exatamente com alegria que Marceline se acomodava naquela dinâmica. Tinha um amigo preocupado ali, tentando colocar alguma ordem na casa, e ela não era idiota: podia ver nos olhos dele quando ela fazia mais uma vez algo que não devia, e ele ficava de saco cheio. Sabia muito bem o peso que estava colocando nas costas dele.

Um dia, ele poderia muito bem entrar num relacionamento, começar a viver dentro de alguma normalidade, e aí seria ela por ela. E era nesses momentos que ela se perguntava se ele já não tinha flertado com a possibilidade, e desistido.

Por causa dela.

E se a resposta fosse sim, todo o ressentimento ia acabar caindo na cabeça dela, cedo ou tarde. E então ela pensava em acabar com tudo aquilo.

Nunca o fazia de fato. Por desespero ou egoísmo, bastava se ver sozinha com Ash depois de uma crise qualquer e pronto: a válvula de escape rápida sempre soava mais atraente do que qualquer outra que fosse a tática disponível.

Enquanto falava, Marceline manteve o olhar longe de Bonnibel quase o tempo todo. Mas nos momentos que pegava ela de relance pelo canto do olho, sentia um aperto.

Numa sala de reuniões, Bonnibel normalmente era uma postura firme, um olhar cortante e uma manta de arrogância sobre os ombros, o que a mantinha afastada de uma imagem específica que Marceline queria evitar.

Mas alí, no meio da madrugada e abrindo mão de certas facetas sociais por mero cansaço, ela ia se diluindo um pouco nela mesma. Aquele rabo de cavalo meio bagunçado, o óculos de armação no lugar das lente, o moletom um pouco grande demais: ela parecia menos Bonnibel Andrews; se parecia demais com Bonnie.


~•~•♪•~•~

"As vezes eu me arrependo de ter deixado você sair com a minha mochila naquele dia na biblioteca, Marcy" - resmungou Bonnibel, rindo.

Já passava da meia noite e, mesmo sendo madrugada de sábado, Bonnibel não queria estar tão longe assim da própria cama.

O céu estava muito limpo naquela noite. Marceline ainda era um pouquinho maluca por invadir um espaço do camping só pelo prazer de estacionar a picape de sua mãe em um espaço aberto e ficar observando as estrelas, mas não podia negar que era uma vista linda.

As duas jogaram seus sacos de dormir no chão e deitaram, observando as estrelas. E como era de se esperar, em uma questão de minutos Bonnibel estava nomeando as constelações, tentando identificar quais corpos celestes eram visíveis dali, comentando que seria incrível se ela tivesse um telescópio para olhar com mais precisão e...

... aí o silêncio de Marceline ficou meio constrangedor.

Ela olhou de canto de olho. Marceline observava o céu com uma expressão tão perdida; era impossível não perceber que a atenção dela estava em qualquer outro lugar, menos ali.

— Eles brigaram outra vez?

— É. E a mamãe tá tão doente essa semana, mas ele não dá a mínima. Ele nunca dá.

O olhar de Bonnibel transbordava preocupação. Marceline se perdeu ali um segundo.

Quando foi que ela se aproximou tanto?

— Tem alguma coisa que eu possa fazer pra ajudar? Qualquer coisa? Odeio te ver assim, Marcy.

Marceline engoliu em seco. Os olhos escaneando os detalhes do rosto de Bonnie: da raiz ruiva do cabelo que começava a tomar o espaço do rosa às sobrancelhas não pintadas, do nariz pequeno às bochechas avermelhadas pelo atrito do vento, o arco do cupido com um desenho perfeito demais para ser real e a boca que ela não conseguia tirar da cabeça pelo próprio bem.

Sim. Tinha uma coisa que ela poderia fazer, sim.

Mas Marceline sabia não era aceitável que ela pedisse aquilo.

Bonnibel não era ela.

— Só de você ter vindo já ajuda mais do que imagina, Bon.

Bonnibel não era assim.

— Tem certeza?

Bonnibel era só uma garotinha.

— De boa, deixa isso pra lá. Aqui, vou pegar meu baixo no carro, quero te mostrar uma coisa que eu andei escrevendo.

Bonnibel era uma boa garota.


~•~•♪•~•~

Enquanto ia falando, Marceline não podia deixar de observar o rosto dela.

Olhos fixo no papel. Algumas poucas vezes olhava para Marceline, provavelmente procurando indicativos de sentimento na sua linguagem corporal, nas suas expressões, para poder dar o ar devido àqueles relatos quando estivessem no manuscrito.

Mas, de modo geral, sua própria postura era bem neutra.

Como se o que quer que ouvisse não tivesse muito peso.

Como se Marceline não tivesse muito peso na mente dela.

Bonnibel sempre tinha sido a racional entre as duas, mas nunca tinha deixado de ser preocupada. E talvez por não ser comum que ela fosse acometida por um sentimento forte, era péssima em disfarçar quando acontecia.

Quando foi que as coisas mudaram tanto? Quando foi que ela parou de se importar?

Bem, no fundo ela achava que sabia exatamente quando. E não queria pensar muito nisso.

Mas talvez devesse ter acontecido antes.

Enquanto rasgava de novo cicatrizes que ela achava que já tinham fechado há muito tempo, Marceline continuava empurrando aquele pensamento para o fundo da cabeça.

Talvez fosse culpa dela. Nada daquilo teria acontecido se ela tivesse deixado Bonnibel como era.

Só uma boa garota.

~•~•~•~•~•~•~•~•~•~♪~•~•~•~•~•~•~•~•~•~

Bem, por hoje é isso, pessoal.

Não esqueçam de comentar, e deixar um voto caso tenham gostado!

Vejo vocês em breve,

- Tersy 🥀

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