Ascensão e queda de Camila Ca...

By bolonguinha

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Camila Cabello é uma bruxa que estuda numa escola de magia na Inglaterra. Profecias dizem que ela é a Escolhi... More

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By bolonguinha

Ariana

Watford é um lugar quieto se você não está namorando Camila Cabello – e se você passou tantos anos com Camila Cabello, que nunca se preocupou em fazer outras amizades.

Eu não tenho uma colega de quarto. A colega de quarto que o Cadinho me deu, Philippa, adoeceu no quinto ano e foi para casa.

Camila diz que Lauren fez algo a ela. Papai diz que ela teve uma laringite súbita e traumática, "Uma tragédia para um bruxo".

– Isso seria uma tragédia para qualquer um. – comentei. – Os Normais também falam.

Na verdade, não sinto saudades de Philippa. Ela tinha um ciúme mortal do fato de Camila gostar de mim. E ela ria dos meus feitiços. Além do mais, sempre pintava as unhas sem abrir a janela.

Eu tenho amigas, amigas de verdade, lá em casa, mas não tenho permissão de contar a elas sobre Watford. Tampouco sou capaz de contar a elas – papai me enfeitiçou depois de me flagrar reclamando para minha melhor amiga, Minty, sobre minha varinha.

Eu só disse que é um saco ficar carregando a varinha para todo canto! Sequer mencionei que era mágica!

Ah, pelo amor das serpentes, Ariana. – disse papai.

Minha mãe ficou furiosa.

Você tem que fazer isso.

Então papai apontou sua varinha para mim:

Nem um piotford!

É um feitiço sério. Só membros da Irmandade têm permissão para usá-lo. Mas suponho que aquela era uma situação séria: se você contar aos Normais sobre a magia, eles terão de ser rastreados e apagados. E se isso não for possível, você tem de se mudar.

Agora Minty (nós nos conhecemos na escola primária, e esse é o nome dela de verdade, não é o máximo?) pensa que eu frequento um internato super-religioso que não permite acesso à internet. O que é a pura verdade, no que me toca.

Magia é uma religião.

Porém não existe algo como "não praticante" – ou apenas cumprir as tarefas obrigatórias na Páscoa e no Natal. Sua vida toda tem que girar em torno de magia, o tempo todo. Se você nasceu com magia, está presa a guerras que nunca terminam, porque as pessoas sequer sabem quando elas começaram.

Eu não falo assim com meus pais.

Ou com Camila e Dinah.

Nem um pio sobre meus sentimentos.

*****

Lauren está atravessando o pátio sozinha. Nós não conversamos desde que ela voltou.

Nós nunca conversamos de verdade, acho. Mesmo daquela vez, na Floresta. Camila surgiu antes que pudéssemos chegar a algum lugar, e aí Camila saiu de novo.

(Bem quando você acha que está tendo uma cena sem a Camila, ela surge para te relembrar que todo mundo é só um personagem coadjuvante na catástrofe dela.)

Assim que Camila e Dinah desapareceram naquele dia, Lauren soltou minhas mãos.

Mas que porra acabou de acontecer com a Cabello?

Essas foram as últimas palavras dela para mim.

Porém, ela ainda me observa no refeitório. Isso deixa Camila doida. Hoje de manhã, ela ficou de saco cheio e bateu o garfo na mesa com força, e quando eu olhei para Lauren, ela piscou.

Eu corro para acompanhá-la. O sol está se pondo, o que faz com que sua pele cinzenta pareça quase cálida. Eu sei que está incendiando meu cabelo.

– Lauren. – digo, fria, sorrindo como se seu nome fosse um segredo.

Ela vira a cabeça de leve para me ver.

– Grande. – Ela parece cansada.

– Não conversamos desde que você voltou. – digo.

– Nós conversamos antes disso?

Resolvo ser ousada.

– Não tanto quanto eu gostaria.

Ela suspira.

– Por Crowley, Grande, deve haver um jeito melhor de chamar a atenção dos seus pais.

– O quê?

– Nada. – diz ela, seguindo em frente.

– Lauren, eu pensei... pensei que você pudesse precisar de alguém com quem conversar.

– Não, eu estou bem.

– Mas...

Ela para e suspira, esfregando os olhos.

– Olha... Ariana. Nós duas sabemos que seja lá qual for o motivo pelo qual você e a Cabello estão brigando, logo vão se acertar e se unir em seu destino dourado. Não complique as coisas.

– Mas nós não estamos...

Lauren havia recomeçado a caminhar. Está mancando um pouco. Talvez seja por isso que não está jogando futebol. Eu continuo a segui-la.

– Talvez eu não queira um destino dourado. – digo.

– Quando você descobrir como driblar o destino, me avise. – Ela caminha o mais rápido que consegue com sua coxeadura, e eu decido não correr para acompanhá-la. Isso seria deplorável.

– Talvez eu queira algo mais interessante! – grito.

– Eu não sou mais interessante! – responde ela, em outro grito, sem virar para trás. – Sou simplesmente errada para você. Aprenda a diferença.

Mordo meu lábio inferior e tento não cruzar os braços como uma criança de seis anos.

Como é que ela sabe que é errada para mim?

Por que todo mundo acha que sabe onde é o meu lugar?

Lauren

Cabello tem olhado fixamente para mim o dia todo – faz semanas já –, e eu realmente não tô no clima. Talvez tia Fiona tenha razão; eu deveria ter ficado mais tempo em casa repousando. Eu me sinto uma merda.

Como se não conseguisse encher a barriga nem me aquecer – e, na noite passada, sofri algo como um ataque nas Catacumbas. É escuro pra cacete lá embaixo. E embora eu possa enxergar no escuro, me senti como se estivesse de volta naquela porra de caixão dos lorpas.

Eu não pude mais ficar no subterrâneo. Apanhei seis ratos, bati a cabeça deles no chão, amarrei os rabos em um nó, depois os trouxe para cima e os drenei no pátio, sob a luz das estrelas. Podia ter enviado um anúncio por escrito para a escola toda, contando que sou uma vampira. Uma vampira que tem medo do escuro, pelo amor de Crowley!

Joguei as carcaças dos ratos para os licarenos. (Eles são piores do que ratos. Eu drenaria cada um deles, se o gosto não ficasse na boca por semanas. Como carne de caça e de peixe, ao mesmo tempo.)

Em seguida, dormi como um cadáver por nove horas, e ainda não foi o bastante. Estou morta em pé desde a hora do almoço, e não posso subir ao meu quarto para uma soneca. Cabello provavelmente se sentaria diante de mim e observaria.

Ela está me seguindo por todo canto desde que eu voltei. Não fora persistente assim desde nosso quinto ano – ontem ela me seguiu até o banheiro e fingiu que só precisava lavar as mãos.

Não tenho forças para isso.

Sinto-me com quinze anos de novo, como se fosse ceder caso ela se aproxime demais – e beijá-la ou mordê-la. A única razão para eu conseguir suportar aquele ano foi eu não ser capaz de decidir qual dessas opções iria finalmente pôr um fim ao meu sofrimento.

Provavelmente, Cabello acabaria com o meu sofrimento se eu tentasse qualquer uma das duas.

Essas eram minhas fantasias no quinto ano: beijos, sangue e Cabello livrando o mundo de mim.

Eu assisti o treino de futebol hoje à tarde, só para ter uma desculpa para me sentar, depois escapuli do time quando todo mundo foi jantar.

Grande me pega no pátio e tenta me arrastar para o seu drama de donzela em perigo, mas eu não tenho tempo para o sofrimento. Ouço a Senhorita Possivelfa dizer que o Mago está voltando para Watford amanhã – e eu ainda não entrei escondido em seu escritório. (Provavelmente, porque é uma ideia idiota.) Mas se eu subir lá e pegar alguma coisa, isso ao menos vai tirar Fiona do meu pé por algum tempo.

Arrasto-me até a Torre Chorona e troco a escadaria em espiral pelo elevador dos funcionários para ir até o topo.

Passo diante da porta que leva aos aposentos do diretor. Quando minha mãe era a diretora, eu morava aqui com ela. Eu era só uma criança de colo. Papai vinha na maioria dos fins de semana, e todos nós íamos para a casa em Hampshire nos verões.

Minha mãe me deixava brincar em seu escritório enquanto trabalhava. Ela vinha me apanhar na creche e eu espalhava meus bloquinhos Lego no tapete.

Quando chego ao escritório do diretor, a porta se abre com facilidade – o Mago nunca retirou as proteções que minha mãe lançou para permitir minha entrada. Também tenho acesso aos aposentos dele. (Entrei furtivamente uma vez e me vi vomitando no banheiro.) Se dependesse de Fiona, eu inspecionaria os aposentos toda noite, mas eu disse a ela que precisávamos guardar esse truque até que fosse realmente necessário. Até que pudéssemos utilizá-lo. E não apenas para deixar sacos fumegantes de bosta sobre a cama.

Além do mais, Fiona, não vou cagar numa sacola.

Eu é que vou, sua besta; pode ser meu cocô.

Meu estômago se contrai quando entro no escritório. Quando vejo a escrivaninha da minha mãe. Está escuro – as cortinas estão fechadas –, então eu acendo um fogo na palma da mão e estendo-a à minha frente.

Minha madrasta fica apavorada quando eu faço isso.

Lauren, não! Você é inflamável.

Mas, para mim, criar fogo é tão fácil quanto respirar; quase não consome magia, e sempre me sinto totalmente no controle. Posso fazer o fogo se contorcer entre meus dedos como uma cobra.

Igualzinha a Natasha. – meu pai sempre diz. – Ela tem mais fogo que um demônio.

(Embora papai tenha estabelecido um limite rígido quando me pegou fumando cigarros na garagem. "Pelo amor de Crowley, Laur, você é inflamável".)

O escritório do diretor parece o mesmo de quando eu brincava aqui. Era de se pensar que o Mago tivesse jogado fora todas as coisas da minha mãe e pendurado cartazes do Che Guevara, mas não.

Há poeira na cadeira dele. Na cadeira de minha mãe. E uma grossa camada sobre o teclado do computador – acho que ele nem usa o computador. Ele não é do tipo que senta e digita, o Mago. Está sempre andando por aí ou empunhando uma espada, ou fazendo algo para justificar sua fantasia de Robin Hood.

Abro a primeira gaveta de cima com minha varinha. Nada aqui... Material de escritório ressecado. Um carregador de celular.

Minha mãe guardava chá, barras de chocolate mentolado Aero e balas de cravo nessa gaveta. Eu me debruço para ver se consigo sentir o cheiro delas – consigo farejar coisas que outras pessoas não conseguem. (Posso farejar coisas que nenhuma pessoa consegue.) (Porque eu não sou uma pessoa.)

A gaveta cheira a madeira e couro. A sala cheira a couro e aço e floresta, como o próprio Mago. Abro as outras gavetas com minha varinha. Não há nenhuma armadilha. Nada pessoal. Nem sei o que pegar para Fiona. Um livro, talvez.

Seguro minha chama no alto junto das prateleiras de livros e penso em soprar, simplesmente botar fogo na sala. Mas então percebo que os livros estão todos fora de ordem. Obviamente fora de ordem. Empilhados, em vez de ajeitados nas prateleiras – alguns deles caídos em pilhas no chão. Tenho vontade de colocá-los de volta, separando-os por assunto, do jeito que minha mãe fazia. (Sempre tive permissão para tocar nos livros dela. Eu tinha permissão para ler qualquer livro, desde que o devolvesse ao seu lugar e prometesse perguntar se algo me confundisse ou assustasse.)

Talvez eu devesse tirar vantagem do fato de que os livros estão desorganizados: ninguém vai reparar se um desaparecer – ou vários. Estendo a mão para um com um dragão gravado na lombada; a boca do dragão está aberta, e fogo escapa dali, formando o título: Chamas e labaredas – A arte de queimar.

Um facho de luz se amplia na prateleira diante de mim e eu me viro de supetão, fazendo com que o livro saia voando, as páginas se abrindo. Algo escapa quando o livro atinge o chão.

Cabello está de pé perto da porta.

– O que você está fazendo aqui? – ela exige saber. Sua espada já está desembainhada.

Eu já vi essa espada em ação vezes suficientes; era de se pensar que eu estivesse apavorada – em vez disso, é tranquilizante. Já lidei com isso – com Cabello – antes.

Eu devo estar realmente exaurida, porque digo a ela a verdade:

– Estou procurando por um dos livros da minha mãe.

– Você não deveria estar aqui. – diz ela, as duas mãos na espada.

Eu ergo minha luz e me afasto das estantes.

– Não estou estragando nada. Só quero um livro.

– Por quê? – Ela olha para o livro caído entre nós e se adianta depressa, abandonando sua posição para alcançá-lo antes de mim. Eu me recosto contra as estantes e cruzo um tornozelo sobre o outro. Cabello está agachada em cima do livro. Provavelmente, acha que se trata de uma pista, o detalhe que vai expor toda a minha conspiração.

Ela se levanta de novo, encarando um pedacinho de papel em sua mão. Parece estar chateada.

– Aqui. – diz ela, suavemente, estendendo o papel para mim. – Eu... me desculpe.

Pego o papel, uma fotografia, e ela me observa. Fico tentada a enfiar a foto no bolso e olhar para ela mais tarde, mas a curiosidade me domina, e eu a levanto...

Sou eu.

Na creche, acho. (Watford tinha uma creche e uma escolinha maternal para os funcionários; foi onde os vampiros atacaram.)

Sou apenas um bebê na foto. Três ou quatro anos, vestindo um macacãozinho macio cinza com um shortinho e botinhas de couro branco. Minha pele é o que choca mais: um dourado avermelhado contrastando com minha blusinha de colarinho branco e as meias brancas. Estou sorrindo para a câmera, e alguém está segurando meus dedos...

Eu reconheço a aliança da minha mãe. Reconheço sua mão áspera e grossa.

E então consigo me lembrar da mão dela. Pousada em minha perna quando ela queria que eu ficasse parada. Segurando sua varinha precisamente no ar. Deslizando para dentro de uma gaveta da escrivaninha para pegar uma bala e jogá-la na boca.

Suas mãos arranham. – eu dizia, quando ela colocava uma em volta da minha bochecha.

São mãos de quem segura o fogo. – dizia ela. – Lança-chamas.

As mãos de minha mãe arranhando minha bochecha. Colocando meu cabelo atrás da orelha.

As mãos de minha mãe erguidas no alto – ateando fogo no ar da creche enquanto um monstro com pele de giz cravava os dentes em minha garganta.

– Laur... – diz Cabello. Ela apanha o livro e o estende para mim.

Eu o seguro.

– Preciso te contar uma coisa. – diz ela.

– O quê?

Desde quando Cabello e eu temos alguma coisa para dizer uma a outra?

– Preciso conversar com você.

Eu empino o queixo.

– Converse, então.

– Aqui não. – Ela embainha a espada. – Não deveríamos estar aqui, e... o que eu tenho a te dizer é meio que particular.

Por um momento – nem sequer isso, um centésimo de segundo –, eu a imagino dizendo: "A verdade é que me sinto terrivelmente atraída por você". E então eu me imagino cuspindo na cara dela. E aí eu me imagino lambendo o rosto dela e a beijando. (Porque eu sou perturbada. Pode perguntar a qualquer um.)

Conjuro um Faça um pedido! para apagar a chama de minha mão, guardo a foto dentro do livro e o livro debaixo do braço.

– Para nossa sorte – digo –, temos nossa própria suíte no topo de um torreão. Isso é particular o bastante pra você?

Ela assente, envergonhada, e gesticula para eu ir à frente.

– Vamos. – diz ela.

Eu vou.

_______

eaê?

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