Ascensão e queda de Camila Ca...

By bolonguinha

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Camila Cabello é uma bruxa que estuda numa escola de magia na Inglaterra. Profecias dizem que ela é a Escolhi... More

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By bolonguinha

Camila

Retorno para nosso quarto assim que as aulas do dia terminam, mas Lauren não está lá. Suas roupas estão no guarda-roupa. Sua cama está arrumada. Seus potes e vidros estão de volta na pia do banheiro.

Eu abro as janelas, apesar de estar congelando lá fora; estive superaquecendo o dia todo. Dinah teve praticamente que me segurar durante o café da manhã. Eu queria correr até Lauren e exigir saber onde ela esteve. Eu queria... Acho que só queria me certificar de que era ela mesmo. Digo... obviamente, é ela.

Lauren está de volta.

Lauren está viva. Ou tão viva quanto é possível estar.

Ela parecia péssima hoje, ainda mais pálida do que o habitual. Está mais magra também, e tem algo estranho no jeito como ela se move – um arrastar. Como se ela tivesse pedras de pesos diferentes presas a cada membro.

Eu só quero acabar com ela, derrubá-la e descobrir tudo. Qual o problema com ela. Onde é que ela estava...

Espero em nosso quarto até a hora do jantar, mas Lauren não volta. Aí ela me ignora no refeitório.

Ela também ignora Ariana. (Ela a encara tanto quanto eu – mas não creio que ela esteja tão preocupada com a possibilidade de ela ter voltado para matá-la.) Ela está sozinha numa mesa, e eu não consigo me decidir se isso me deixa triste ou brava. Se a própria Ariana me deixa triste ou brava. Ou até mesmo o que eu deveria estar sentindo em relação a ela. Eu não consigo pensar neste momento.

– Estava pensando que podíamos estudar na biblioteca essa noite. – diz Dinah durante o jantar, como se eu não estivesse literalmente fumegando.

– Vou ter que conversar com ela em algum momento. – digo.

– Não vai, não. – diz ela. – E quando é que vocês duas conversam, afinal?

– Eu tenho que enfrentar Lauren.

Ela se debruça por cima da torta de queijo.

– É com isso que estou preocupada, Camila. Você precisa esfriar a cabeça antes.

– Já esfriei.

– Camila. Você nunca está fria.

– Isso magoa, Dinah.

– Não deveria. É um dos motivos pelos quais eu te amo.

– Eu só... Eu preciso saber onde ela andou...

– Bem, ela não vai te contar.

– Talvez me conte algo sem intenção, no processo de não me contar. O que está aprontando, afinal? Ela parece ter estado em alguma prisão de filme de terror americano.

– Talvez estivesse doente.

Raios, eu não tinha pensado nisso. Todo cenário imaginado por mim contava com Lauren escondida, tramando em algum canto. Talvez ela estivesse doente e tramando...

– Não importa qual seja a verdade, – diz Dinah – arrumar briga com ela não vai ajudar em nada.

– Eu não vou arrumar briga.

– Camila, é o que você faz. Todo ano. Assim que a vê. E eu acho que você não deveria desta vez. Algo está acontecendo. Algo maior do que Lauren. O Mago praticamente desapareceu, e Premal está em uma tarefa secreta há semanas. Minha mãe diz que ele parou de responder às mensagens de texto dela.

– Ela está preocupada com ele?

– Está sempre preocupada com Premal.

– Você está preocupada com ele?

Dinah baixa os olhos.

– Sim.

– Me desculpe. Será que deveríamos tentar encontrá-lo?

Ela volta a olhar para mim, severa.

– Minha mãe diz que não. Diz que precisamos esperar e prestar atenção. Acho que ela e meu pai estão fazendo perguntas disfarçadamente, e não quer que a gente chame atenção para eles. E é por isso que preciso que você esfrie a cabeça. Apenas... mantenha os olhos abertos. Observe. Não derrube os móveis nem mate nada.

– Você sempre fala isso. – suspiro. – Mas quando é entre eles ou nós, você sempre quer que eu mate alguma coisa.

– Eu nunca quero que você mate, Camila.

– Eu nunca sinto que tenho uma escolha.

– Eu sei. – Ela sorri para mim. Triste. – Não mate Lauren essa noite.

– Não matarei.

Mas provavelmente vou ter que matá-la algum dia, e nós duas sabemos disso.

*****

Dinah me deixa voltar para o meu quarto depois do jantar, e não tenta me seguir – ela está presa com Trixie e a namorada dela, agora que Lauren está de volta.

Quando chego ao topo da escadaria, estou nervosa. Ainda não sei o que vou dizer a ela.

Nada. – ouço Dinah declarar em minha mente. – Faça seu dever de casa, vá para a cama.

Como se algum dia fosse fácil assim.

Dividir o quarto com a pessoa que você mais odeia é como dividir o quarto com uma sirene. Você não pode ignorar a pessoa, e nunca consegue se acostumar a ela. Nunca deixa de ser doloroso.

Lauren e eu passamos sete anos fazendo caretas e rosnando uma para a outra. (Ela com as caretas, eu com os rosnados.) Ambas ficamos longe do quarto o máximo que conseguimos quando sabemos que a outra está lá, e quando não podemos mais nos evitar, fazemos o máximo para não haver contato visual. Eu não converso com ela. Não falo na frente dela. Nunca permito que ela veja nada que possa contar para aquela vaca da tia dela, Fiona.

Eu procuro não xingar outras mulheres, mas Fiona, a tia de Lauren, uma vez prendeu meus pés no chão com um feitiço. Eu sei que foi ela; escutei quando ela disse "Criando raiz!".

E eu a flagrei duas vezes tentando entrar escondida no escritório do Mago.

– É o escritório da minha irmã. – ela disse. – Eu só tenho vontade de visitá-lo às vezes.

Ela podia estar dizendo a verdade. Ou podia estar tentando depor o Mago.

E esse é o problema com todos os Pitches e seus aliados: é impossível distinguir quando estão aprontando de quando estão simplesmente sendo pessoas normais.

Houve alguns anos em que eu pensei que talvez pudesse descobrir qual era o plano deles se prestasse bastante atenção em Lauren. (Quinto ano.) E anos em que resolvi que morar com ela era doloroso o bastante, que eu não precisava, além disso, ficar de olho nela o tempo todo. (Ano passado.)

Nos primeiros dias, não havia qualquer estratégia ou decisão. Apenas nós duas brigando pelos corredores e chutando uma a outra duas ou três vezes por ano.

Eu implorava ao Mago por uma nova colega de quarto, mas não é assim que funciona. O Cadinho colocou Lauren e eu juntas no primeiro dia de aula.

Todos os alunos do primeiro ano passam por isso. O Mago acende uma fogueira no pátio, os alunos dos últimos anos ajudam, e os pequeninos fazem um círculo ao redor da fogueira. O Mago coloca o Cadinho – é um cadinho de verdade, uma relíquia da fundação da escola – no meio da fogueira e recita o encantamento; a seguir, todos esperam até que o ferro lá dentro se derreta.

É a sensação mais esquisita quando a magia começa a agir em você. Eu estava com receio de que ela não fosse funcionar comigo, porque eu era uma forasteira. Todas as outras crianças começaram a se mover na direção umas das outras, e eu não sentia nada. Pensei em fingir, mas não queria ser pega e expulsa.

E aí eu senti a magia, como um gancho em minha barriga.

Tropecei adiante e olhei ao redor, e Lauren caminhava na minha direção. Parecendo tão descolada. Como se estivesse vindo até mim porque queria, não porque houvesse um ímã místico em suas entranhas.

A magia não para até que você e seu novo colega de quarto se deem as mãos. Eu estendi a minha para Lauren de imediato. Ela, porém, ficou ali pelo máximo de tempo que aguentou. Não sei como ela resistiu aos puxões; eu sentia como se meus intestinos fossem explodir e dar voltas em torno dele.

– Cabello. – disse ela.

– É. – falei, agitando a mão. – Aqui.

– A Herdeira do Mago.

Assenti, mas nem sabia o que isso significava na época. O Mago fez de mim sua herdeira para eu ter um lugar assegurado em Watford. É por isso também que eu possuo a sua espada. É uma arma histórica, costumava ser presenteada ao Herdeiro do Mago, nos tempos em que o título de Mago era passado através das famílias em vez de apontado pela Irmandade.

O Mago também me deu uma varinha – de osso, com cabo de madeira, fora do pai dele – de modo que eu tivesse meu próprio instrumento mágico. Você precisa ter magia em si e um meio para extraí-la de si; é o requisito básico de Watford e uma exigência elementar para ser um bruxo. Todo bruxo herda algum artefato da família. Lauren tem uma varinha, como eu; todos os Pitches trabalham com varinhas. Dinah, no entanto, tem um anel. E Shawn tem uma fivela de cinto. (É bastante inconveniente – ele tem que arremeter para a frente com o quadril sempre que quer lançar um feitiço. Ele parece achar picaresco, mas só ele acha isso.)

Dinah crê que minha varinha de segunda mão é parte do motivo pelo qual meus feitiços são tão ruins – minha varinha não está presa a mim pelo sangue. Ela não sabe o que fazer comigo. Depois de sete anos no Mundo dos Bruxos, ainda procuro antes por minha espada; sei que ela virá quando eu chamar. Minha varinha vem; no entanto, metade do tempo ela se finge de morta.

A primeira vez que eu pedi uma nova colega de quarto para o Mago foi alguns meses depois de começar a morar com Lauren. O Mago não quis nem ouvir – apesar de saber quem era Lauren, e saber melhor do que eu que os Pitches eram serpentes traiçoeiras.

– Ser emparelhado com seu colega de quarto é uma tradição sagrada em Watford. – disse ele. Sua voz era gentil, porém firme. – O Cadinho colocou vocês juntas, Camila. Vocês devem cuidar uma da outra, conhecer uma a outra tão bem quanto irmãs.

– É, mas, senhor... – Eu estava sentada naquela poltrona gigante de couro no escritório dele, aquela com três chifres presos no topo. – O Cadinho deve ter cometido um engano. Minha colega de quarto é uma cretina total. Ela pode até ser do mal. Na semana passada, alguém fechou meu notebook com um feitiço, e eu sei que foi ela. Ela estava praticamente gargalhando.

O Mago apenas ficou sentado em sua escrivaninha, afagando a barba.

– O Cadinho emparelhou vocês duas, Camila. Você deve cuidar dela.

Ele continuou a responder sempre da mesma maneira até eu desistir de pedir. Me disse não até mesmo na vez em que havia provas de que Lauren tentara me dar de comer a uma quimera.

Lauren admitiu, depois argumentou que o fato de ter falhado era punição suficiente. E o Mago concordou com ela!

Às vezes o Mago não faz nenhum sentido para mim...

Apenas nos anos mais recentes que percebi que o Mago me faz ficar com Lauren para mantê-la sob controle. O que significa, espero – acho –, que o Mago confia em mim. Ele acredita que eu estou à altura do serviço.

Resolvo tomar um banho e tirar minha sobrancelha enquanto Lauren ainda está fora. Só me machuco duas vezes, o que é melhor do que o usual. Quando saio, vestindo um pijama de flanela e uma toalha ao redor do cabelo, Lauren está perto de sua cama, tirando as coisas de dentro da mochila.

Sua cabeça se vira de súbito e seu rosto está todo contorcido. Pela sua aparência, é como se eu já tivesse soltado os cachorros em cima dela.

– O que você está fazendo? – ela rosna, entredentes.

– Tomando um banho. Qual é o seu problema?

– Você. – diz ela, jogando a mochila para baixo. – Sempre você.

– Oi, Lauren. Bem-vinda de volta.

Ela desvia o olhar.

– Cadê o seu colar? – Sua voz é baixa.

– Meu o quê?

Não posso ver seu rosto por completo, mas parece que sua mandíbula está trabalhando.

Sua cruz.

Minha mão voa até a garganta. Minha cruz. Eu a retirei há semanas.

Corro até minha cama e a encontro, mas não a coloco. Em vez disso, dou a volta em Lauren e continuo em seu espaço pessoal até que ela seja obrigada a olhar para mim. Ela olha. Seus dentes estão cerrados e sua cabeça está inclinada para trás e para o lado, como se ela estivesse apenas esperando que eu fizesse o primeiro movimento.

Eu seguro a cruz entre as duas mãos, mostrando-a para ela. Quero que ela reconheça o que é, o que aquilo significa. Então a levanto sobre minha cabeça e deixo que repouse gentilmente ao redor do pescoço. Meus olhos estão travados com os de Lauren, e ela não desvia o olhar, apesar de suas narinas se inflarem.

Quando a cruz está de novo ao redor do meu pescoço, as pálpebras dela se abaixam e ela endireita os ombros.

– Por onde você andou? – pergunto.

Os olhos dela voltam aos meus.

– Não é. Da sua. Conta.

Sinto minha magia crescer e tento contê-la.

– Você está horrível, sabe.

Ela parece ainda pior agora que posso vê-la de perto. Há uma camada cinzenta sobre ela – até sobre seus olhos, que são sempre cinza.

Seus olhos são normalmente o tipo de cinza que ocorre quando se mistura azul escuro com verde escuro. Um cinza de água profunda. Hoje, estão da cor de asfalto molhado.

Lauren solta uma risada.

– Obrigada, Cabello. Você também está mirrada e acabada.

Estou mesmo, e é culpa dela. Como é que eu poderia comer e dormir sabendo que ela estava por aí, tramando contra mim? E agora ela está aqui, e se não vai me dizer nada de útil, eu poderia muito bem esganá-la por ter me feito passar por isso.

Ou... eu poderia fazer minhas lições.

Vou fazer minhas lições.

Eu tento. Eu me sento à escrivaninha e Lauren se senta em sua cama. Em algum momento, ela sai sem dizer nada, e eu sei que está indo para as Catacumbas para caçar ratos. Ou para a Floresta para caçar esquilos.

E eu sei que uma vez ela matou e drenou um licareno, mas não sei o motivo – o corpo do bicho apareceu na margem do fosso. (Eu odeio os licarenos tanto quanto Lauren. Eles não são inteligentes, acho que não, mas ainda assim são maus.)

Vou para a cama depois que Lauren sai, mas não adormeço. Ela só está de volta há um dia, e eu já sinto que preciso saber onde ela está a todo o momento. É o quinto ano, tudo de novo.

Quando ela finalmente retorna ao nosso quarto, cheirando a poeira e decomposição, eu fecho os olhos.

É nesse momento que me lembro da mãe dela.

_______

eaê?

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