Alguém filmou e vazou um vídeo meu explodindo na boate. Meu pai joga um livro no chão, furioso comigo. Estou em pé no seu escritório de casa, ele de terno por ter saído do trabalho somente para dizer como fui incompetente em ter sido impulsiva ao jorrar bebida alcoólica na cara de um filhinho de papai assediador.
Questiono se meu pai arremessaria esse livro em mim. Papai nunca me bateu ou na mamãe, porém este questionamento surge em minha mente. É como se, aos poucos, eu estivesse perdendo a confiança nele. Como se eu estivesse acordando de uma mentira, porque meu pai anda mais nervoso desde que decidiu se candidatar à presidência na próxima eleição. Eu sei que ele, como talvez futuro presidente, não pode ter relações com pessoas publicamente problemáticas, entretanto, não precisa agir como se eu tivesse tido um escândalo que manchará toda a sua reputação.
Eu sempre consegui esconder meu estilo de vida mais... 'fora do que a mídia-política quer de mim', digamos assim. Não atuo como uma recatada para o público. Apenas tem umas coisas que meus pais precisam pagar por sigilo. Na polêmica de ontem à noite, não teve como eles pagarem, pois quem quer que tenha vazado o vídeo não se intimida com minha família. Isto me deixa curiosa mais do que preocupada.
Sexo e drogas fazem parte da vida dos políticos, mas Magdala Delacorte não pode mostrar tão abertamente essas coisas. Curta festas e namore vários rapazes (somente aqueles que a mídia-política acha um exemplo, ok?), só tenha cuidado para não ser filmada ou fotografada fazendo besteira.
Este pensamento me leva a Ettore D'Angelo, que não tem nada que agrada a mídia-política além de ser um futuro herdeiro de diversas empresas, filho de um famoso bilionário.
Ettore é incrivelmente estiloso. Delineador, sombra nos olhos, batom ou brilho labial, glitter, pedrinhas strass, brincos e piercings de orelha, anéis, pulseiras, colares, gargantilha, cinta-liga, cropped, saia, vestido... Sempre com looks interessantes. Ele é um dos caras mais atraentes que já vi na vida. Totalmente diferente dos caras que tenho que me relacionar, que sempre parecem vestir a mesma roupa e se comportar da mesma maneira. Até seu nome me soa diferente.
"Ê Tô Ri," experimentei a pronúncia na boca quando ele foi embora após elogiar meus brincos.
O cara é um porra-louca. Todo mundo adora dele, todo mundo odeia ele. Adorando ou odiando, todo mundo é fascinado por ele. Posso me considerar neutra em relação ao herdeiro. Tenho coisas demais para fazer do que acompanhar cada coisa dele. Eu sou a celebridade que dá conteúdo ao público. Ele é apenas um hobby que as pessoas têm.
O conteúdo que foi gerado por mim na boate está recebendo críticas da mídia-política e elogios do público, que gostou da minha atitude de salvar a garota. Enquanto meu pai reclama e reclama, quero é agradecer a pessoa que vazou o vídeo. Pela primeira vez, sinto que meu pai mereceu.
"Você está me ouvindo, Magdala?!"
"Sim, papai," respondo no automático. "O efeito do álcool mexeu comigo e eu explodi. Desculpa. Não irá se repetir."
"Que bom, minha filha," ele recupera a compostura do dia a dia. "Sabe que não me meto na sua vida, porque quero que se sinta livre. Porém, também sabe que temos que seguir umas regras. Essa eleição é importante para a nossa família."
"Eu sei, papai."
Ele vem até mim, segura meu rosto e beija minha testa. Eu nunca tive vontade de limpar um beijo dele. Esse despertar pode me fazer cair aos pedaços.
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