Acordes e Outras Coisas Desaf...

By btschaos

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[CONCLUÍDA] O amor vem de todos os lados, lugares, de todas as pessoas e formas. Vem de onde desejamos e de q... More

01 PRÓLOGO | Paixão Desafinada
02 | Reencontros Desafinados
03 | Suposições Desafinadas
05 | Temporais Desafinados
06 | Insegurança Desafinada
07 | Confissões Desafinadas
08 EPÍLOGO | Amor Desafinado

04 | Ciúme Desafinado

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By btschaos

Como podem ter reparado, os títulos dos capítulos mudaram! Não são mais as notas musicais, decidi associá-los mais ao nome da fic! Porém os capítulos continuam iguais.

Votem, comentem e boa leitura! <3

Desde a noite anterior que não parava de chover. Eu e Yoongi dividiamos o guarda-chuva depois de eu sair do meu bloco e o buscar no dele. Apesar de não ser muito longe ele não tinha como se proteger da chuva.

Enquanto eu segurava o chapéu acima de nós, ele se segurava no meu braço, passando o pouco do seu calor para o meu corpo.

Era possível que Yoongi sentisse o meu coração daquele jeito? Batia tão forte que eu não duvidaria.

— Ah, finalmente. – Suspirou aliviado quando entrámos no meu bloco, saindo de debaixo do chapéu e sacundido as gotas que lhe tinham molhado um pouco do cabelo e casaco. – Espero que este tempo passe logo...

— Eu até gosto... – Murmurei.

— Você é um caso à parte.

Eu gosto de ficar agarrado a você. Esse é o meu caso à parte. E no calor é impossível fazê-lo.

Deixei o chapéu no suporte à entrada e guiei Yoongi escadaria acima, atravessando os corredores calmamente entre alguns alunos e outros professores que iam para as trocas de aulas ou embora.

Enquanto planejavamos o nosso projeto, descobrimos ter um professor em comum na avaliação. O Professor Chinhwa.

Assim que entramos na sala onde nos disseram que ele estaria, encontrámo-lo em frente ao computador digitando com tanta concentração que nem deu pela nossa chegada. Descemos o auditório até junto dele, que acabou por nos notar.

— Oh, Jeon, Min! Que surpresa. – Ele olhou o relógio no pulso e voltou a nos encarar. – Precisam de algo? Ainda não está no horário.

— Sim, na verdade queriamos falar com o professor sobre o trabalho de final de ano. – Comecei vendo-o franzir a testa em curiosidade.

— Oh, certo! Podem dizer. Alguma dúvida?

— É mais um pedido. – Disse Yoongi, tomando as rédeas da conversa como tínhamos combinado antes. – Há uns dias atrás eu estava pensando e depois conversei com o Jungkook...

Yoongi explicou tudo do início ao fim.

Ele era bom com palavras, conseguia fazer um discurso limpo e direto. Se fosse eu, teria me embolado, perdido e provavelmente engasgado em algum momento.

O nosso objetivo era: Em conjunto criariamos uma história. Já tínhamos vários temas separados, apenas precisavam ser escolhidos. E depois eu trataria de os desenhar enquanto Yoongi tratava da produção sonora e a letra que queria que eu cantasse.

Gravariamos tudo, eu editaria a animação com o áudio, do jeito que aprendi e BAM! TCHARAM!

Parecia bem, certo?

— Isso é uma ideia incrível. – O professor disse quando Yoongi terminou de explicar. – Mas lamento, não vos posso deixar fazê-lo.

— O quê? – Me desanimei. – Porquê?

— Jeon, vocês não podem consiliar os dois cursos, por muito bonito que seja. Poderíamos abrir uma exceção, mas isso nos levaria a concelho de turma e já não há tempo! – Explicou. – Lamento, garotos.

— Nem se...

— Mesmo que eu vos deixasse fazer isso – O professor interveio. – Poderíamos todos ter graves problemas depois. Os outros estudantes podiam achar que vos demos benefícios, toda a gente vai fazer os trabalhos individuais. Entendem?

— Sim... – Concordamos em coro, tínhamos entendido. Sabíamos que seria difícil, mas até ali havia uma esperança que foi devastada.

— Se já tiverem começado podem continuar a trabalhar juntos, nada vos impede disso. – Acrescentou. – Mas no dia da entrega e da apresentação não o podem fazer.

— Mas eu ia cantar. – Falei. – O hyung não pode fazer isso.

— O importante no trabalho do Sr. Min é a produção, não o canto. Você pode cantar de qualquer forma desde que seja produzido por ele, mas não beneficiará a você em nada.

— Entendi.

— Boa sorte. – Sorriu. – Tenho a certeza de que vão fazer trabalhos incríveis. Jeon, Min, vocês são dois alunos de excelência! Não se massacrem muito sobre isso, pode ser?

Agradecemos com uma reverência antes de irmos embora.

O silêncio perdurou entre nós durante um bocado, até sairmos do bloco, atravessarmos o campus e chegarmos aos dormitórios.

— Entrem. – Jimin sorriu ao abrir a porta do seu quarto. – Taehyung e Hoseok estão comigo.

Hoseok estava sentado no chão, com um livro de medicina virado ao contrário no colo e Taehyung encarava o teto deitado na cama do melhor amigo.

Resolvi fazer companhia a Hoseok quando Yoongi empurrou as pernas de Taehyung para o lado e se sentou na cama.

— Não estão com muito boa cara. – Constatou o Kim. – O que aconteceu?

— Vocês brigaram? – Jimin Indagou. – Vocês nunca brigam.

— Brigaram? – Questionou Hoseok me olhando.

Todo o alvoroço em redor daquele assunto era bastante compreensível. Depois da época em que nos tornámos amigos nunca houve brigas com a exceção de um exlusivo dia em que eu, sem querer, derrubei o teclado de Yoongi. Foi realmente um acontecimento infeliz. Irritá-lo de verdade era difícil, mas naquele dia eu estava insuportável e acabei derrubando a coisa mais cara que ele tinha e de maior importância para si. Não quebrou, para minha sorte, mas foi tenso. Desencadeamos uma discussão sobre bens-materiais, pessoas e relações humanas. E de algum modo aquilo terminou connosco sem nos falarmos por uma semana.

Depois de um abraço e um choramingo meu acompanhado de conversa, nunca mais brigamos. Seria preocupante se o fizessemos.

Por vezes aconteciam pequenos desentendimentos ou chamadas de atenção e choques de opiniões, mas isso era saudável e necessário. Além de termos outra mentalidade para resolver tudo.

— Não. – Grunhi num choramingo. – Vou trancar a faculdade...

— O QUÊ?! – Indagaram os três numa sinfonia desesperada e desafinada, com os olhos postos em mim.

— Calma, é só um jeito de falar! - Ri. - Credo.

— Acham que ele estaria vivo se fosse trancar a faculdade? – Yoongi indagou fazendo-se um silêncio óbvio. – Exatamente.

— Então o que aconteceu? – Jimin estava sentado na sua cadeira em frente à secretária, voltado na nossa direção. – O que fizeram?

— E o que te faz pensar que a gente fez algo? - Emburrado, arqueei uma sobrancelha, mas antes que Jimin me pudesse responder (já de punho levantado e um beiço enorme) Yoongi falou mais alto, projetando as atenções para si.

— Vamos precisar mudar todo o nosso projeto de final de ano. Mas não há-de ser nada de mais, Koo. – Explicou tentando me dar algum incentivo.

Podia ser coisa da minha cabeça, mas jurei escutar Hoseok copiando o apelido que só Yoongi me chamava. Muito mais baixo e que fora audível por mim por estar encostado ao seu corpo. Vi-o sorrir para o livro e resolvi ignorar, deveria estar alucinando.

— Além de que – Prosseguiu. – Mal temos o que fazer. Não é como se fossemos jogar todo um trabalho para o lixo e o refazer.

— É, acho que você tem razão. – Concordei. Apesar de continuar desanimado sobre aquilo, pensar no que ainda tínhamos para fazer era muito mais deprimente. – Vamos mudar de assunto. O que estão fazendo todos aqui?

— Oh, estávamos falando de v...

— Videogames. – Hoseok interrompeu mostrando um sorriso amarelo, estranho e suspeito. Pegou o livro que teve ao colo todo aquele tempo e ergueu-o em frente ao rosto, fingindo que o lia. Ele acha que eu sou idiota?

— Que videogames? – Me fiz de tolo.

— O Jimin está pensando em comprar um console, para jogar nos tempos livres. – Taehyung se apressou em dizer. – O que você acha?

Que vocês são uns mentirosos do piorio.

— Boa ideia. – Sorri. – Mas quais tempos livres?

Parecia que eu tinha tacado pedrinhas na mais recente ferida aberta. O olho de Jimin piscou involuntariamente, num tique nervoso.

Olhei para Yoongi atrás de mim, que estava suspeitosamente quieto demais.

Ele desceu as mãos por entre os meus cabelos, com um sorriso pequeno e doce do seu jeito. Até chegar ao meu queixo e depois os meus ombros, massanjando-os para me encostar no meio das suas pernas.

— Porque estão agindo mais estranho que o normal?

— Não estamos. – Jimin esganiçou. Dando as costas se dirigiu para o banheiro do quarto.

Alguma coisa estava acontecendo entre eles. Todos pareciam saber menos eu. Até mesmo Yoongi com aquelas mãos sorrateiras de falsa calmaria que me atravessavam a pele e anestesiavam de qualquer coisa no mundo.

ㅡ ♪ ㅡ

— Vocês têm esse hábito de andar sempre pelados em casa? – Indaguei assim que entrei no quarto do meu melhor amigo.

Combinamos que todos os finais de semana nos encontraríamos para trabalhar juntos, visto que durante a semana nos veriamos na faculdade ou não teríamos tempo e também precisávamos de nos focar na parte individual.

Era a segunda vez que passava por casa de Yoongi e via Eunwoo pelado. Não completamente, e eu sei que ele está na casa dele, mas aquilo era um hábito? E era estranho eu estar curioso sobre isso? Não era da minha conta, mas também não era agradável.

— Boa tarde para você também! – Yoongi sorriu com a mão erguida num "olá".

— Oi, hyung. – Sorri. – Vocês andam sempre pelados? Eu nunca te vi pelado. Por aqui, quero dizer. Não- quer dizer- eu nunca vi mas- Você entendeu!

— Entendi? – Riu. – Acho que não entendi.

Nem eu tinha entendido.

— Cada vez que eu entro na sua casa sim que estou entrando num clube de nudismo. – Não seria uma reclamação, em outras circunstâncias. Yoongi observou os meus lábios prensandos antes de olhar para os meus olhos com alguma graça neles. — Olá. – Repeti me sentando à sua frente, na cama, mudando de assunto. – Progressos?

— Tenho duas melodias e não gosto de nenhuma. – Contou de lábios prensados, não sei se conformado ou frustrado. Talvez conformado com a frustração.

— Posso ouvir?

— Pode... – Deu de ombros, tirando os auscultadores e os estendendo para mim.

A primeira faixa era boa, mas entendia o porquê de Yoongi não gostar. Além de não ser o seu estilo de música, não era aquilo que nós tínhamos acordado entre nós na semana anterior.

A segunda, bem, não era ruim. Só parecia que Yoongi tinha produzido aquilo depois de não dormir por três semanas e sem conseguir identificar direito as teclas que apertava no computador.

— Nós vamos conseguir algo! – Encorajei.

Ainda nos faltavam dois meses para a data de entrega. Não era tanto como gostaríamos que fosse, mas iriamos conseguir. Yoongi vai se formar com uma nota incrível e eu vou passar para o último ano com outra nota incrível. Sim.

E agora que precisamos adaptar a nossa parceria para duas coisas, já que não podemos realmente apresentar juntos. Por isso, dobro do trabalho.

— Trouxe os seus desenhos?

Assenti ao puxar a mochila e a abrir, tirei o laptop de dentro dela e estendi para Yoongi o pegar. Apenas depois de ele o fazer e começar a levantar a tela é que eu me recordei de tão ter fechado os meus arquivos.

Assim que a tela acendeu, a imagem que eu fazia de si desde há dias apareceu. Grande. Gigante. Numa proximidade exorbitante que fez os meus olhos se arregalarem e quase saltarem para fora do meu crânio. Mas não tão grande quanto o desespero que me levou a saltar do colchão e lhe arrancar o aparelho das mãos, começando a apertar todos os botões que serviam de escape.

— Quem é? – Indagou, um sorriso formava-se no canto dos seus lábios de maneira interessada.

— Ninguém! – Respondi quase no mesmo instante, tão alto que Eunwoo devia ter escutado. – Ninguém... – Repeti mais baixo.

— Se não é ninguém, qual é o problema de eu ver?

Fica calado, desgraçado.

— É... – Pigarreei entrecalando o olhar entre o meu amigo e a página que não queria fechar na tela. – Porque...

— Você está ficando vermelho. – Riu. – O que foi? Koo, relaxa, eu quase nem olhei o que tinha aí de qualquer forma.

— Não era para ter visto nada! – A minha voz soou mais alta do que eu gostaria e só me apercebi disso quando Yoongi parou de se mexer na cadeira, com o olhar confuso na minha direção. – Desculpa, hyung.

Soltei todo o ar que tinha segurado até ali e inspirei fundo vendo que finalmente aquela porcaria tinha sumido.

O negócio agora é voltar aos tempos em que eu desenhava no ibispaint x pro hackeado através do celular. É isso. Regresso à pré-história. Segurança em primeiro lugar. Afinal, não podia parar de dar asas à imaginação.

Viva a pirataria!

Yaa – Chamou baixo e arrastado, atraindo o meu olhar para si. Aquele maldito sorriso ladino não lhe saía da boca, que foi seguido por palavras que me chacualharam da serenidade recente: — Era eu, por acaso?

— Você é completamente alucinado, hyung! Com. ple. ta. mente. – Gargalhei, dei a volta a cama e me deixei estar numa posição em que o meu rosto não pudesse ser visto e me entregasse. – Claro que não. – ri nervoso. – Não é ninguém, eu já disse.

— Se não é ninguém então eu quero ver no final.

— Tarde demais, já deletei. – Menti. – Era só uma coisa idiota, que eu faço quando estou entediado.

Ou quando você não me sai da cabeça.
Ou quando não consigo pensar em nada além de você.
Ou quando não quero pensar em algo além de você.
Ou quando...

— Tudo bem, não insisto mais. – Ergueu as mãos rendido. Batendo-as sobre as coxas, para onde o meu olhar caiu, antes de se levantar e vir para o meu lado. – Me mostre o que preparou.

— Certo. – Arrastei o cursor tendo a certeza de que escolhia a pasta correta e então os desenhos apareceram. – Ainda não colori nada, mas como concordámos que seria algo calmo e melancólico eu pensei em tons de roxo, preto, branco...

Deixei a frase em aberto, esperando por alguma reação.

Não era mais do que o esboço de um garoto, uma mistura de nós dois. Traços faciais de ambos, as porções corporais de Yoongi – cintura não tão fina quanto a minha, os ombros mais largos – mas alto como eu e ainda faltava os detalhes da roupa. Por tanto, precisava de opiniões, sugestões e talvez instruções.

Os cabelos ficavam presos para trás, apenas com a franja solta pouco em frente aos olhos.

— Azul escuro? – Sugeriu. Passava as imagens para o lado, até que chegou ao fim.

— Vou deixar anotado. – Sorri em concordância.

Azul era uma boa cor. E Yoongi adorava azul, todos os tons dele. E tentava sempre inseri-lo em qualquer coisa. Como a pulseirinha que usava em meio às calças bege e o moletom preto.

— Acho que o estilo casual combina com ele. – Começou. – Digo, eu imagino alguém que não quer chamar atenção por isso...

— Vou desenhar alguns looks e depois vemos o que encaixa melhor. – Assenti enquanto falava. – Mas, hyung, eu tinha pensado em algo mais... fantasioso?

— Como assim?

Ali estava algo que eu detestava: Explicar coisas por palavras. Para mim, não era fácil como para ele. Na hora de falar o vocabulário enrolava-se na minha língua e eu acabava por não dizer coisa com coisa. Era sempre difícil de expressar os meus pensamentos em imagens para palavras descritivas e claras, criava confusão e eu me cansava de tentar explicar até simplesmente assentir e dizer a alguém sim é isso, mesmo que não fosse nada daquilo.

— Tipo... – Pensei alto, desviando o olhar para o teto enquanto gesticulava. – Ele é essa pessoa discreta, mas há algo de especial sabe? Tem um charme escondido, uma coisa que é notável mas que não se consegue explicar.

— Como por exemplo?

— Ah... - Analisei o rosto de Yoongi, com a boca levemente aberta ainda emitindo o som prolongado enquanto pensava em algo. – Tipo os seus dedos.

— Os meus dedos?

Certo, eu sei que foi um exemplo horrível. Ficou avisado que eu sou péssimo em me expressar.

— Sei lá, hyung! As suas mãos são bonitas... – Tentei explicar, sentia as bochechas esquentarem. – Eu facilmente agradeceria se você me desse um tapa. Isso é um charme, certo?

— Não... sei. – Semicerrou os olhos na minha direção, rindo baixinho. – Algo que chama a atenção? É isso que você quer dizer? Um encanto?

Segui os seus dedos quando fez aspas com eles.

— É.

Fez-se silêncio enquanto um sorriso convencido e provocador crescia nos lábios de Yoongi. Não sei se ele tinha gostado da ideia, se tinha gostado do elogio ou se estava pensando sobre o facto de eu ter sugerido agradecer caso apanhasse dele.

— Os meus dedos te atraem?

— Eles... são bonitos, hyung.

Se antes eu estava corado agora tinha virado um pimentão. Estava prestes a entrar em combustão, sentia o meu sangue subir e se concentras nas estúpidas das minhas bochechas e as pontinhas das minhas orelhas que eu tinha vontade de agarrar e esconder.

— Você é uma gracinha. – E então apertou as minhas bochechas entre os dedos. Longos, magros, bem desenhados e tão claros que tal como nas mãos era possível ver as suas veias.

Verdes e roxas, por vezes azuis me fazendo questionar se aquela cor era normal. Yoongi tinha sangue de príncipe, talvez a coisa do sangue azul fosse mais do que uma metáfora.

— Hyung. – Afastei os seus braços para longe, puxei o laptop do seu colo e me voltei de costas para si ficando deitado de barriga para baixo.

Senti o colchão subir mas não me virei para ver onde ele tinha ido. Também não demorou muito até que se atira-se para o meu lado, na mesma posição que eu, com o seu caderno e uma esferográfica entre o indicador e o dedo do meio enquanto a balançava neles.

Ele fazia questão de numa cama quase de tamanho de rei ficar encostado a mim. Empurrei-o preguiçosamente para o lado mas não deu dois segundos para ver um sorrisinho crescer novamente e ter o seu ombro contra o meu.

— Você é tão chato... – Murmurei abafado por ter o queixo apoiado na palma da mão.

Yoongi riu mas não me respondeu, continuou ao meu lado, escrevendo e rabiscando as páginas do caderno.

Olhando de esgueira podia ver alguns desenhinhos pequenos nos cantos das folhas, formas desconexas, algumas tentativas de rostos pequenos, um coração aqui e ali mas a maioria partidos ou riscados.

Aquele caderno tinha anos. Lembro-me dele desde a época do ensino médio, quando eu entrei para lá e Yoongi já frequentava a minha casa. A forma como ele carregava aquilo consigo e não deixava que ninguém tocasse era irritante, hoje eu entendia.

Yoongi sempre foi adepto da escrita, mas só à beira de ingressar na faculdade é que descobriu – ou que resolveu encarar o seu talento – a sua vontade de ser compositor e de mostrar algumas das suas escrituras ao mundo. Mesmo que ainda fosse um mundo restrito.

A primeira coisa que eu li dele foi o gatilho para o começo da nossa amizade.

Há muitas folhas soltas naquele caderno, devido a ser velho, e uma delas caiu. Acabei por a encontrar no corredor de casa, entre a porta do meu quarto e a do meu irmão – onde ele estava – e por isso li quando a peguei.

Ele não ficou feliz quando me viu com ela na mão. Ficou atrapalhado, nervoso, envergonhado e claramente descontente. Me mandou não mexer naquilo que não me diz respeito, mas mais tarde, quando estavamos sozinhos, ele me pediu desculpa pedindo que não contasse nada ao meu irmão sobre aquilo que tinha lido.

"Você deveria deixar que as pessoas lêssem essas coisas, é muito lindo, hyung." Foi a partir daí que passamos a conversar com certa regularidade. Primeiro, Yoongi me explicou a história do poema – que depois eu descobri ser uma canção – e eu como um bom falador intrometido enchi-o de perguntas.

E ele não conseguiu mais viver sem a minha cusquisse. É um facto.

— Olha – Chamei-o para lhe mostrar a primeira roupa do nosso protagonista. – O que acha?

— Muito simples, mas está bonito.

— Posso adicionar uma corrente aqui. – Desenhei rápidamente. – Talvez, uhm... Alguns acessórios? Vou fazer umas ondas no cabelo.

— Devia ser algo simbólico. Não?

— Como vai a música? – Espreitei a sua letra sem ler realmente mas Yoongi não se importou e passou o caderno para a minha frente.

Entre montes de riscos e frases cortadas havia dois versos limpos.

There's no such thing as miracles for me
My wishes are just -

— Quais são os seus desejos?

— Quais são os seus?

Yoongi era incrível a fugir de perguntas. Da mesma forma como eu fazia de tudo para não as responder, porém, por vezes, era inevitável. E talvez não fosse assim tão ruim.

— Tenho vários. – Comecei. – Neste contexto... – O contexto amoroso, era o que tínhamos escolhido. – Quero ser visto por algumas pessoas?

Algumas? – Indagou questionando o plural.

— Sim, bem... Talvez uma mais do que as outras. – Evitei de o olhar, pois a minha voz estremecia apenas de pensar em me confessar. – Mas incluindo eu mesmo, sabe?

— No sentido de amor próprio?

— Sim. Acho que é isso. – Assenti. – Eu imagino essa história como um garoto que tem muito para dar mas se mantém escondido, principalmente na questão do amor, devido a algo que o deixa inseguro. Não apenas as inseguranças que a gente tem normalmente...

Era ali que entrava a parte da fantasia que eu tinha criado.

— Vamos supôr que ele tem um dom! – Estalei os dedos com a ideia. – Mas esse dom pode não ser bem aceite, por isso ele esconde isso de todos. Mas aquilo é uma grande parte de si então acaba por se esconder também... Faz sentido?

— Faz, sim. – O olhar atento de Yoongi enquanto eu falava era algo que me fazia amolecer. Com a bochecha contra mão e a cabeça levemente inclinada, além do corpo junto ao meu, e o olhar que andava sempre afiado agora era meigo. Eu era completamente tolo por ele. — Posso escrever algo metafórico.

— E os seus desejos?

— Na onda dos seus. – Eu sabia que aquilo não era tudo. Yoongi era alguém cheio de sonhos e desejos, muito mais do que eu. Ele tinha um caminho maior que o meu pela frente.

Me inclinei contra ele depois de lhe devolver o caderno, voltando a atenção para a tela com algumas ideias em mente.

Rapidamente o som da esferográfica precorrendo o papel regressou aos meus ouvidos. Aquilo era uma melodia terapeutica para mim. Um dos poucos momentos em que o mundo não soava desafinado e os meus pensamentos se alinhavam, como uma noite à janela na companhia da lua.

A minha atenção balanceva entre os tons escuros e os sons asperos. A voz de Yoongi piguarreava vez ou outra, ele tossia para afastar o pó da garganta e cantarolava alguma melodia que lhe ia na cabeça enquanto escrevinhava.

— Vocês estão com algum problema na máquina de lavar roupa? – Indaguei quando Eunwoo saiu da cozinha e já não me podia escutar, com os braços cruzados e um copo de água na mão encostado ao balcão. Yoongi me olhou com as sobrancelhas franzidas. O que eu podia dizer? Nem estava calor. — O Jae sabe consertar essas coisas, posso pedir a ele para vir aqui se quiser.

— Primeiro, nós nem temos máquina de lavar roupa. A gente leva na lavandaria ao fundo da rua, é muito mais barato. - Apontou. - Segundo... Qual é o seu problema com ele andar desse jeito? Desde quando isso?

Dei de ombros contorcendo os lábios.

— O seu não é nenhum, pelos vistos. – Acusei deixando o copo na pia, revirando os olhos quando Yoongi não podia ver.

Antes que saísse da cozinha ele me puxou pela baínha da blusa, estalando o tecido barato.

Não me virei para trás mas olhei para ele, que estava demasiado perto. Mais do que imaginei que estaria. Desci o olhar sério pelo seu rosto, até a sua boca, acompanhando os movimentos da mesma enquanto falava.

— Estou começando a achar que você gosta de mim.

— O quê?! – Indaguei quase escandaloso. Seria escandaloso se o meu espírito não tivesse me abandonado como um belo covarde naquele segundo, acho que a minha pressão caiu.

— Você anda muito ciumento, Kookie. – Apontou batendo a palma no meu queixo antes de passar por mim e desaparecer no corredor, me deixando especado na porta da cozinha.

Um som estalado chamou a minha atenção para o lado. Parei de andar e virei a cabeça no mesmo instante encontrando, encostado ao batente da porta da sala, Eunwoo, de pernas cruzadas uma na frente da outra, um braço ao peito enquanto o outro segurava um copo ao nível do rosto com aquele sorriso provocador horrível. O estalo vinha da sua língua contra o céu da boca, diversas vezes, enquanto negava com a cabeça.

— Não precisa ter ciúmes. – Sussurrou. – A menos que não se garanta...

— Eu não tenho ciúmes. – Neguei com uma careta, cruzando os braços. – E é claro que eu me garanto, ora essa...

— O Yoongi não gosta de mim. – Prosseguiu ignorando o que eu tinha dito. Se desencostou do batente e deu dois passos na minha direção. – Mas você devia investir mais nele, por que há quem o faça e é muito fácil mudar os sentimentos dos outros de direção, Jeon.

— Ya, isso é o quê?!

— Um aviso. De amigo. – A forma como ele piscou o olho para mim antes de dar meia volta e entrar na sala me fez querer socá-lo.

Quem ele pensa que é, afinal?

— Você gosta dele? Já o beijou? Por acaso vocês estão em algum tipo de relação? – Disparei assim que entrei no quarto, Yoongi nem ao menos me olhou. Vi-o levantar a cabeça indicando que me escutava, mas não me olhou e pude imaginar com clareza a sua cara de tédio. — É ele o seu amante secreto? Hyung, você pode me dizer.

— Eu já te disse que não tenho ninguém. – Repetiu com um sorriso puxado. – Muito menos o Eunwoo. Que fixação é essa?

— Não sei. – Dei de ombros birrento. – Talvez eu goste de você.

Era muito mais fácil contar os sentimentos quando sabíamos que a outra pessoa não os ia levar a sério, os encarava como uma brincadeira pirracenta de criança (eu) e apenas ria baixinho.

Suspirando frustrado entrei no banheiro e me fechei lá. Lavei o rosto e então voltei ao quarto, me joguei do seu lado e passei um braço por cima dos seus ombros observando-o escrever com o queixo apoiado no seu ombro.

Yoongi se inclinou contra o meu corpo, como um verdadeiro gatinho, ao toque. Por vezes questionava o seu ADN.

— Para de cuscar.

— Não estou. – Fechei os olhos de imediato.

— Uhm... – Pelos seus movimentos percebi que se tinha curvado para me olhar.

Continuei de olhos fechados, com medo da proximidade.

— Hyung! – Bati no seu braço em reflexo ao beijo que me dera na bochecha.

— Tolo.

— Pervertido.

— Achei que quisesse demonstrações de afeto.

— Admita que gosta de mim! – O cutuquei.

Yoongi voltou a olhar para o papel, rabiscando coisas desconexas na lateral da folha, escondendo um sorriso nas bochechas gordas.

Em momentos assim eu percebia que Yoongi era tudo para mim. E não me importava de o ter daquela forma. De algum modo ele estava lá, ainda que não da mesma forma que eu e mesmo sabendo que um dia ele encontraria alguém e que aquele contacto tão próximo dele acabaria, eventualmente. Era bom tê-lo desprevenido e desafinado, como eu.

desculpem não ter att mais cedo kk
a minha vida tem estado uma confusão e uma correria últimamente.

fiz algumas alterações nessa cap mixuruca desde a última vez que o att, mas nada redical. espero que tenham gostado.

obrigada a todos que têm votado, é muito importante para mim e me deixa feliz.

até a próxima <3

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