i choose you.

By comethrzu

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Harry Styles tem uma vida perfeita. Dono de um charme inato para conquistar mulheres, ainda não conheceu uma... More

um.
dois.
três.
quatro.
cinco.
sete.
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nove.
dez.
onze.
doze.
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quatorze.
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dezesseis.
dezessete.
dezoito.
dezenove.
vinte.
vinte e um.
vinte e dois.
vinte e três.
vinte e quatro.

seis.

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By comethrzu

LOUIS.

   ERA óbvio que Harry tinha bom gosto e muito orgulho de sua casa. Não era enorme nem superluxuosa, mas era bonita e limpa, e cada cômodo tinha certos detalhes que o tornavam agradável e aconchegante.

   Assim como a cozinha, cada cômodo que vi parecia um cenário de Hollywood. As paredes da sala de jantar eram pintadas de azul-claro acinzentado, e havia um vaso prateado e brilhante cheio de flores brancas sobre a mesa comprida e retangular. Depois ficava a sala de estar, onde grossos tapetes brancos cobriam o piso e grandes poltronas e sofás de cores neutras estavam dispostos ao redor de uma grande otomana. Havia várias fotografias emolduradas sobre o aparador branco da lareira de tijolos da sala, e fui até lá para olhar mais de perto.

  Sorri ao ver uma foto de Harry e Gemma quando crianças. Ele parecia
ter uns dez anos; ela, talvez metade dessa idade. Outro garoto, um pouco mais baixo que Harry, estava entre eles, e me perguntei se haveria um terceiro irmão. Os três usavam roupas de banho e sorriam abertamente, apertando os olhos sob o sol. Todos tinham pelo menos um dente faltando.

  Havia outras fotos de família, tiradas em formaturas e Natais e no casamento de alguém – do outro irmão, talvez? Parece que Harry tinha
sido padrinho. Eu imaginava se ele já fora casado, ou se estava namorando. Provavelmente. Que cara da idade dele, que fosse tão bonito e obviamente gentil, inteligente e bem-sucedido, ainda estaria solteiro?

   – Está pronto.

   Ao som de sua voz, me virei.

   – Estava vendo suas fotos. Posso perguntar quem são essas pessoas?

   – Claro. – Ele veio para a sala e parou ao meu lado, enfiando as mãos nos bolsos.

   – Além de uma irmã, você também tem um irmão?

   – Sim. Niall. Dois anos mais novo. – Apontou para a foto deles em ternos escuros formais. Niall era mais baixo que Harry, mas não tinha a mesma beleza rústica. – Esta foi no casamento dele, três anos atrás. Ele e a esposa moram em San Diego e têm um bebê de seis meses, Gavin.

  – É este aqui? – indiquei a foto de Harry segurando um bebê nos braços.

   – É. Isso foi no batizado dele. Sou o padrinho. – Um tom de orgulho soou em sua voz, o que me fez sorrir. – Enfim… quer comer?

   – Se quero!

    Voltamos para a cozinha, onde Harry havia posto a mesa para mim, com direito a jogo americano e guardanapo de tecido, faca de carne à direita e garfo à esquerda. Um copo de água gelada também havia sido posto para mim.

    – É como se eu estivesse em um restaurante cinco estrelas – disse ao me sentar, colocando o guardanapo sobre as pernas. – Sinto que não
estou vestido de forma apropriada ou algo assim.

   – Besteira. É que tenho um problema com guardanapos de papel. Detesto. – Ele pôs o prato em minha frente, e eu quase chorei de tão gostoso que parecia: um bife perfeitamente temperado e ao ponto e uma salada verde fresca. Simples, mas perfeito.

   Comecei a comer imediatamente. Harry arrumou a cozinha, depois trouxe sua taça de vinho para a mesa, sentando-se na cadeira à minha frente.

   – Uau. Você estava mesmo com fome.

   Sorri timidamente e cortei mais um pedaço do que restava do bife.

   – Meus avós cresceram em tempos difíceis e me ensinaram a jamais sair da mesa enquanto houver comida no prato, pois nunca se sabe se conseguirá fazer uma boa refeição no dia seguinte. E, além disso, está delicioso.

   – O bife está no ponto certo?

   – Perfeito.

   – Ótimo. Acho que eu deveria ter perguntado antes como você prefere comer.

   Congelei por um segundo com o garfo no ar a caminho da boca
antes de me recuperar. Deixe de ser pervertido. Ele estava falando do bife.

   – Gosto assim, como você preparou – garanti. Mas eu não conseguia levantar os olhos do prato e, enquanto mastigava, me sentia constrangido. Então engoli antes do que devia e tive que tomar um grande gole de água para fazer a comida descer.

   – É sua primeira vez nos Estados Unidos? – ele perguntou, cruzando os braços sobre o peito.

   – Segunda. Fui a Nova York três anos
atrás.

   – Vai ficar por quanto tempo?

   Decidi ser sincero. Na Inglaterra, as pessoas acreditam que dá azar falar
de planos que ainda não se concretizaram, é como jogar uma espécie de maldição, mas algo em
Harry me fez querer confiar nele.

   – Espero que para sempre.

   – Sério? Quer imigrar?

   – Sim.

   – E você pode? Quer dizer, é permitido?

   – Sim e não. É complicado. – Terminei o bife e tomei outro gole de
água. – Tenho permissão para ficar seis meses por causa do meu visto. Depois disso, veremos.

   – Você não parece estar muito preocupado. Está?

   – Na verdade, não. – Dei de ombros. – Farei o que for preciso.

   – Pode ser difícil.

   – Sem dúvida, será difícil. E provavelmente arriscado, mas não me importo. Gosto de correr riscos. Na Inglaterra, costumamos dizer que “quem não se arrisca, não toma champanhe”.

   Ele concordou pensativo.

   – Aqui dizemos “ quem não arrisca, não petisca”. A ideia é a mesma.

   – Exatamente.

   – Você tem uma família grande na Inglaterra? Não sentirá falta dela? –
Ele parecia genuinamente curioso. Pensei em minha mãe, recém-divorciada pela segunda vez e lutando para sustentar a si mesma e a Daisy, e senti uma pontada de culpa.

   – Sim, sentirei falta da minha família. Detesto sentir como se eu tivesse abandonado minha mãe e minha irmã. Mas minha mãe entende
o motivo de eu ter vindo para cá.

   – E que motivo é esse? – Ele pegou a taça.

   – Quero ser roteirista em Hollywood. E lá não conseguiria me desfazer da medicina, e nem ser de Hollywood!

   Ele deu uma risadinha.

   – Médico... roterista, então acho que está no lugar certo. Já escreveu algum roteiro?

   – Comecei uns cinquenta, mas nunca terminei nenhum – admiti. – Quero fazer alguns cursos aqui. Já fiz alguns on-line, mas acho que estar na mesma sala que o professor e outros alunos será muito melhor, principalmente para o meu inglês americano.

   – Seu inglês já é bom pra caramba. Que tipo de trabalho você fazia na Inglaterra?

   – Obrigado. Eu era médico cirurgião. Era um bom emprego, mas nunca foi minha verdadeira paixão. E você faz o quê?

   Ele tomou mais um gole e pôs a taça sobre a mesa.

   – Desenvolvo projetos de empreendimento imobiliário para a empresa do meu pai.

   – Gosta do que faz?

   – Acho que sim.

   – Mas não é sua paixão?

   Ele deu de ombros.

   – Não sei se tenho uma paixão, não como a sua. – Então, ele deu um sorriso irônico, erguendo as sobrancelhas. – Sabe, para ser sincero, fiquei surpreso quando o encontrei. Esperava alguém totalmente diferente.

   – Sério? Como quem, por exemplo?
 
  Ele recuou embaraçado, mas então começou a rir.

   – Como Boris Yeltsin. Usando um daqueles chapéus ingleses, ou fumando um charuto. E nada de olhos azuis.

   Ri também.

   – Que decepção eu devo ter sido pra você.

   Ele recostou-se na cadeira, com um sorriso ainda no canto dos lábios.

   – De jeito nenhum.

   Meu coração acelerou um pouco no peito. Era bom ficar sentado à mesa com ele, sendo o único foco de sua atenção, fazendo-o sorrir. Eu gostava da determinação em sua voz, do jeito tranquilo como ele se recostava na cadeira, das covinhas que se formavam ao redor dos lábios quando ele ria. Eu gostava de seu peito largo, dos lábios avermelhados, da forma que ele me olhava naquele instante, quase como se dividíssemos um segredo. Eu queria escrever tudo aquilo no meu caderno para me lembrar dos detalhes daquela noite para sempre.

   – Vou deixá-lo descansar um pouco. – Levantando-se, Harry pegou meu prato e o colocou na pia. Levei meu copo até lá e ele enxaguou as coisas e as colocou na lava-louças.

   – Onde coloco o guardanapo? – perguntei, segurando o objeto.

   – Oh, aqui. – Ele pegou o guardanapo da minha mão e nossos dedos se tocaram. – Vou levar para a área de serviço.

   Ele desapareceu pelo corredor dos fundos. Pouco depois, voltou à cozinha e esticou o braço na direção do interruptor, às minhas costas, para apagar as luzes. Por um instante, ficamos parados no escuro, nenhum de nós se mexeu. Ele estava tão perto que dava para ver seu peito subindo e descendo, ouvir a respiração, perto o suficiente para que eu me pegasse pensando em duas palavrinhas perigosas – e se?

  Então ele passou por mim.

  – Você deve estar exausto. Vamos subir. Vou mostrar seu quarto e depois desço para apagar o resto das luzes.

   Sem dizer nada, eu o segui pela sala de jantar e pela sala de estar até o andar de cima. Eu estava exausto – tão exausto que minha mente estava me pregando peças. Fazendo com que eu imaginasse loucuras. Porque, por um segundo, quase achei que Harry fosse me beijar.

   Vá dormir, Louis. Você está delirando.

   Depois de chegar ao topo da escada, Harry virou à esquerda.

   – O banheiro de hóspedes fica aqui à direita – disse, abrindo uma porta no corredor e acendendo a luz. – As toalhas ficam aqui na pia, e… – Ele abriu uma gaveta e pegou pasta e escova de dente, ainda em suas embalagens. – Pode usar estas.

   Eu estava do lado de fora do banheiro, espiando.

   – É incrível. Na Inglaterra, geralmente temos um único banheiro em casa, que é usado por todos os membros da família.

   – Parece disputado. – Ele abriu a porta do box como se fosse verificar se faltava algo. – Tem xampu e condicionador aqui.

   – Obrigado.

    Ele saiu do banheiro e eu me afastei para que ele passasse, mas seu ombro roçou no meu peito. Senti um frio na barriga – fazia tempo que não me sentia tão atraído por alguém.

   – E você pode dormir neste quarto – ele disse, abrindo a porta seguinte no corredor. Entrou no quarto e acendeu a luz.

    Havia uma grande cama de casal muito arrumada com uma colcha
listrada, uma cômoda de madeira escura sob um enorme espelho com
moldura e mesinhas de cabeceira combinando, encimadas por abajures
idênticos. Assim como todos os cômodos do andar inferior, havia
pequenos toques pessoais que tornavam o quarto de hóspedes ainda
mais aconchegante – quadros nas paredes. Velas. Plantas nas janelas.

   Uma garrafa d’água na mesinha de cabeceira. Meia dúzia de travesseiros sobre a cama, e um deles dizia “ Durma Bem”.

   – É lindo – eu disse.

   – Sei que você provavelmente preferiria ficar num hotel, mas espero que se sinta à vontade.

   – Bobagem. – Balancei a cabeça, incrédulo. – Aqui é muito melhor que um hotel.

   Ele deu de ombros como se não fosse grande coisa e enfiou as mãos nos bolsos.

   – Precisa de mais alguma coisa? Posso lhe arranjar um pijama, se quiser. Ou algo para vestir amanhã?

   Em outra ocasião, eu teria recusado a oferta, mas a ideia de vestir algo do Harry era muito tentadora.

   – Se não for muito incômodo. Parece que estou usando esta roupa há dias.

   – Incômodo algum. Espere um pouco. – Ele saiu do quarto, e eu fiquei lá parado me sentindo culpado.
 
   Poucas horas antes, eu não queria nem aceitar quando ele me convidou para dormir em sua casa. E agora estava querendo as roupas dele? Você não precisa dessas roupas, droga. Pare com isso.

   Mas, quando ele voltou e colocou uma pilha de roupas sobre a cama, meu coração acelerou.

   – Obrigado.

   – Se precisar de mais alguma coisa, é só dizer. Meu quarto fica bem
em frente.

Ah, meu Deus..

   – OK.

   Ele enfiou as mãos nos bolsos de novo.

   – Amanhã, provavelmente você vai querer dormir. Vou sair cedo para
ir à academia, mas tentarei não te acordar. Volto lá pelas nove.

   Concordei com um aceno de cabeça, mas mal ouvi o que ele disse. Estava ocupado demais tentando não pensar no quarto dele bem em frente ao meu.

   – Se você acordar e quiser tomar café da manhã, prepare o que quiser
na cozinha. – Ele ergueu os ombros. – Acho que é isso.

   Não vá embora.

   – Harry, agradeço mais uma vez por tudo.

   – Disponha. – Ele foi até a porta. – Boa noite.

   – Boa noite.

  Ele fechou a porta atrás de si, e eu fui até a cama, sentei perto das roupas que ele havia trazido e coloquei a mão sobre a pilha.

   Disse a mim mesmo que ele era gentil com todo mundo. Disse a mim mesmo que eu não era especial – ele estava apenas fazendo um favor à irmã. Disse a mim mesmo que havia imaginado a tensão entre nós no
escuro lá embaixo.

    Mas queria que não fosse assim.

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