Ele está tão perto, e seu cheiro me atordoa como uma descarga de adrenalina em meu corpo.
― Qual o seu nome? ― Ele pergunta ofegante, seu olhar selvagem me perfurando.
Sinto meu estômago embrulhar ao ouvir sua voz tão perto.
― L-Louis.
― Louis.
É de tal magnetismo que tenho a impressão de que roubou minha voz. Ele ocupa todo o meu espaço, tira meu oxigênio e não consigo entender por que meu coração está batendo tão rápido, por que estou tremendo apesar do fato de estar muito quente. A única parte do meu corpo que sinto é aquela que ele está tocando.
Eu me contorço em busca de socorro, e então olho para Niall, que está bem atrás dele, com os olhos arregalados assim como os outros da platéia.
― Louis Tomlinson. ― Niall diz, e entrega à ele um pequeno papel contendo números em grafite de maneira natural. Como resposta vejo Harry pegar o papel lentamente, o mesmo franze os lábios e olha para mim.
― Louis Tomlinson. ― Somente dizendo meu nome é como se ele tivesse acabado de foder meu nome na minha frente. E na frente de Niall. E na frente de outras pessoas.
Sua língua acaricia grosseiramente essas duas palavrinhas, sua voz é profunda e sedutora demais, é como um alimento que você não deve comer, mas também é incapaz de resistir uma mordida. Meu desejo cresce. Seu olhar é quente, ele me encara como se eu fosse sua propriedade. Ninguém nunca tinha feito isso antes.
Ele dá um passo à frente e coloca a mão na parte de trás do meu pescoço. Então ele inclina a cabeça e coloca um beijo rápido em meus lábios. Meu coração está explodindo. É como se ele estivesse me marcando. Como se ele estivesse me preparando para algo incrível que poderia mudar minha vida. Ou destruí-la.
― Louis... ― Ele diz suavemente novamente, afastando-se de mim com um sorriso.― Eu sou Harry.
Quando chego em casa, ainda sinto suas mãos em mim. Seus lábios nos meus. A delicadeza daquele beijo continua a me tirar o fôlego. Estou encolhido no canto do banco traseiro do táxi como uma cobra enrolada. Observo sem ver as luzes da cidade que passam pela janela, e tenho um desejo desesperado de desabafar as sensações que se agitam dentro de mim. Infelizmente, só posso fazer isso com Niall.
― Foi muito intenso.― Diz ele, sentado ao meu lado, quase sem fôlego.
Eu balanço minha cabeça.
― O que diabos aconteceu? Aquele cara me beijou em público! Você percebeu que havia pessoas que estavam nos filmando com seus celulares?
― Louis, Harry é tão sexy que todos querem fotografá-lo. Ainda estou chocada com a forma como ele te seguiu, e ele te beijou! Nunca vi um homem se comportarem assim. Porra, é meio pornô... mas romântico.
― Cala a boca, Niall. ― murmuro. ―Há uma razão pela qual o expulsaram dos circuitos oficiais de boxe. Ele é claramente perigoso, ou louco, ou ambos.
Eu estou emocionado. Ainda sinto seus olhos em mim, sem vergonha e gananciosos. Eu me sinto sujo. Os cabelos da minha nuca se endireitam, onde ele me tocou com a palma molhada. Eu me esfrego, mas não para de coçar, meu corpo não se acalma. Não vou me acalmar.
― E não acredito que deu meu número para ele. ― Digo a Niall que simplesmente dera de ombros antes de virar-se para mim.
― Ok, sério, você precisa deixar ir, Louis. Harry Styles pode ter um nome ruim, mas ele é sexy como o inferno. Sim, ele foi desqualificado por má conduta porque isso é uma coisa ruim. Quem se importa. Alguns artigos saíram nos jornais, mas agora ninguém mais fala deles. Ele é a estrela da liga underground, o ídolo de todos os clubes de luta. Os assentos estão cheios de mulheres e homens quando ele está lá.
Acreditar como ele olhou para mim, como ele me viu entre todas aquelas pessoas gritando. Quando penso nisso, fico furioso. Ele me olhou com ambos os olhos em emoção, e eu não quero olhares loucos de emoção. Eu não quero ele e qualquer outro homem. Eu só quero um emprego. Acabei de terminar meu estágio durante a faculdade e fui entrevistado como o melhor para o centro de reabilitação esportiva da cidade. Mas já se passaram duas semanas e eles ainda não entraram em contato comigo. Estou deprimido, ninguém nunca vai me ligar. Estou mais do que frustrado agora.
― Niall, olhe para mim. ― Eu digo. ― Eu pareço uma vadia para você?
― Não querido. Você era de longe o cara mais elegante da sala.
― Eu me vesti assim para evitar ser notado por caras como ele.
― Então talvez você devesse começar a se vestir um pouco mais provocante e se misturar com os outros...― Ele responde com um sorriso, e eu imediatamente franzo a testa.
― Eu te odeio. Eu nunca vou a um lugar assim com você novamente.
― Mas não... Você não me odeia. Vamos, me abrace.― Eu me entrego ao seu abraço e o aperto suavemente, então me lembro do que ele fez.
― Como você pôde dar a ele meu número? ―Volto ao assunto. ― Não sabemos nada sobre ele! Você quer me mandar para um homem me matar em um beco escuro, despedaçado e jogado na lata de lixo?
― É impossível, você fez muitos cursos de autodefesa.
Suspiro e balanço a cabeça, mas Niall responde com um lindo sorriso. Não sou capaz de ficar com raiva dele por muito tempo.
― Louis, você tem que se reinventar. ―Meu amigo sussurra, lendo minha mente. ― O novo Louis será melhor, mas ele terá que fazer sexo de vez em quando. Você gostou quando o viu competir. Confesse.
A imagem de Harry nu aparece de repente em minha mente, é tão emocionante que começo a tremer no banco, chateado balançando a cabeça. O que mais me irrita é que é preciso apenas a imaginação.
Não sou avesso ao sexo, mas os relacionamentos são complicados e não estou emocionalmente pronto para lidar com um agora. Não me recuperei totalmente da minha lesão e estou tentando construir uma nova vida.
Há um vídeo terrível meu no YouTube, intitulado "Tomlinson, sua vida acabou!" fora gravado durante as provas olímpicas. Ele teve um número razoável de visualizações (como todos os vídeos com pessoas humilhadas, afinal). Foi imortalizado no exato momento em que minha vida foi destruída e o mundo pode assisti-lo repetidamente, apenas por diversão. Ele mostra o segundo exato em que meu quadríceps salta e tropeça, o instante em que o ligamento cruzado anterior se rompe e o joelho cede.
Dura cerca de quatro minutos, durante os quais meu diretor anônimo manteve as lentes fixas em mim. Ao fundo você pode ouvir a voz dele: "Porra, a vida dele acabou." Daí o título.
Nesse tipo de reality show amador, eu pulo para fora da pista de dor e começo a chorar. Eu choro não pela dor no meu joelho, mas pelo meu fracasso. Só quero que a terra me sugue, quero morrer, porque sei que treinei para nada. Mas em vez de um abismo que se abre abaixo de mim e me engole, há alguém que está me levando de volta.
Os comentários ao vídeo estão frescos na minha memória. Algumas pessoas me desejaram sorte em meus projetos futuros e disseram que era uma pena que isso acontecesse. Outros, por outro lado, riam e zombavam de mim, me ridicularizando pela queda. Essas palavras, dia e noite, me encheram de dúvidas. Nesse meio tempo, pensei naqueles dois dias me perguntando o que havia dado errado. Digo "aqueles dois dias" porque rompi o ligamento do joelho pela segunda vez há dois anos, quando, recusando-me a aceitar que "minha vida acabou", tentei teimosamente voltar a competir. Nunca entendi onde errei, a única certeza é que desde então tem sido fisicamente impossível para mim tentar novamente.
Por isso, agora estou dando o meu melhor para seguir em frente, ignorando o que sempre foi o objetivo mais importante da minha vida: competir nas Olimpíadas. Então, a última coisa que preciso é de um homem para roubar o tempo que eu poderia dedicar à construção de um novo futuro profissional.
Minha irmã Lottie é quemé a romântica e apaixonada. Apesar de não ter nem vinte e um anos, apenas três mais nova do que eu, ela é a mulher que conquiesta os corações, sei disso pois ela sempre me manda mensagens aleatórias alegando ter um namorado novo.
E quanto a mim? Fui eu que passei a adolescência treinando até a exaustão para realizar o sonho de ganhar uma medalha de ouro. Mas meu corpo cedeu antes de minha alma, e eu nunca consegui romper.
Aceitar a ideia de que seu corpo não pode mais fazer o que você quer talvez seja mais doloroso do que a própria lesão. Eu provavelmente ainda estaria deprimido e zangado se não recebesse a ajuda de que precisava. Por isso quero me dedicar à reabilitação, ajudando jovens atletas a se recuperarem. E então eu quero um emprego no qual ser bem sucedido com isso.
Mas esta noite não consigo adormecer e, estranhamente, não penso na minha irmã, nem na minha nova carreira, nem naquele dia terrível em que as Olimpíadas se tornaram inatingíveis. A única coisa em que penso é naquele diabo de olhos verdes que colocou seus lábios nos meus.
Capítulo revisado