— Por que está me olhando assim? – Brandon diz mediante o meu choque. — Pensei que você fosse me linchar. Foi assustador ver você esmurrar a janela do carro. — mesmo diante da situação, ele sorri um pouco.
Continuo sem palavras por um momento, então analiso o carro e Brandon antes de dizer:
— Era você! — é uma afirmação, afinal tudo faz sentido.
— O quê? — ele parece confuso, casualmente enfiando a mão nos bolsos da calça jeans. Observo que ele está de camiseta preta, e a cor combina muito com ele.
Ignoro minha apreciação e volto a manter o semblante firme.
— O stalker?
— Stalker? Tem-me em tão baixo julgamento?
— Não brinque, Brandon. Sei que você é o cara que estacionava um carro preto nesse mesmo lugar, há muitos meses atrás; esse mesmo carro que estou vendo agora.
Nunca vi Brandon dirigindo esse carro antes. Ele geralmente dirige um carro de outra marca, mas igualmente luxuoso.
Ele nem nega, então olha para baixo antes de me encarar.
— Sim. Você tem razão.
— Como não percebi? No início, não fazia ideia de que era você, mas agora tudo faz sentido. Você já me conhecia antes que eu entrasse na Greene Marshall, não é? Por que me espionava?
Ele respira fundo antes de confessar: — Depois do acidente, fiquei curioso sobre a família de Esteban. Foi assim que descobri onde você morava com sua mãe. Meu pai descobriu seu endereço facilmente com a polícia e sem ele saber, passei a espionar sua casa. Foi assim que te conheci.
Fico sem reação por um momento. É estranho imaginar Brandon me espiando do seu carro. Provavelmente estava cheio de ódio na época, considerando o caos que sua vida tinha se tornando com o acidente.
E isso também me faz chegar à conclusão de que ele já sabia quem eu era, assim que entrei em sua escola. Por isso, o bullying não demorou a vir. Lembro-me que naquele mesmo dia Brandon me confrontou e não entendi absolutamente nada. Agora entendo.
— Nunca te vi dirigindo esse carro. — murmuro calmamente.
— Ele ficou aposentado por um tempo. Ganhei do meu avô. — engole em seco. — Mas voltei a usá-lo agora. Na verdade, tenho vários. Esse é apenas um deles.
É claro que ele tem vários. Brandon Scott é podre de rico.
Ele observa meu rosto atentamente, como se esperasse que eu falasse algo, mas apenas o observo de volta. Sinto a faísca de sentimento reprimido cortando o ar e de repente me sinto sufocada.
Desvio o olhar, recuando alguns passos.
— Ah... Eu vou voltar para minha casa então. Tchau, Brandon.
— Espera!
Paro de caminhar, encarando-o enquanto ele parece procurar algo dentro do carro. Ele reaparece com uma caixinha escura e meio brilhante e estende em minha direção. Aproximo-me o suficiente para pegá-la, e estou prestes a dizer algo quando ele me corta.
— Não estou tentando te comprar nem nada do tipo. É apenas um presente.
Deve ter custado uma fortuna, imagino mesmo desconhecendo o conteúdo da caixa. Passo a mão sobre a superfície e sinto o veludo contra meus dedos.
— Não posso aceitar.
— Não aceito devolução. — entra no carro antes que eu possa devolver e fecha a porta, olhando-me pela janela agora aberta. — Vá para casa, Jéssica. Vou te observar daqui enquanto você entra em segurança. Depois vou embora.
— Eu... — ele espera minhas palavras e parece ansioso. — É que... hm, obrigada por isso. — ergo a caixinha e ele sorri, acenando com a cabeça. E que sorriso!
— Não precisa. Não há maior forma de agradecimento do que ter tido a chance de olhar pra você mais uma vez, Jéssica. – diz a última parte com a voz carregada de sentimentos, e estremeço, mas não pelo frio.
— Ok. Eu... eu vou indo. — saio dali antes que decida fazer uma besteira, como beijá-lo até perder os sentidos.
Ouço sua risada baixa atrás de mim enquanto corro para minha casa e tranco a porta logo depois.
Em seguida, o barulho suave do motor do carro fica nítido e algo me diz que Brandon já foi embora.
***
Entro na escola durante a sexta-feira e estranho a forma como algumas pessoas me olham. Como se soubessem de algo que não faço ideia.
Estreito os olhos quando Matthew Williams se aproxima de mim e enfia uma espécie de bilhete em minha mão antes que eu possa reagir.
Vejo-o se afastar e leio o conteúdo do papel com o cenho franzido.
Vá para o ginásio de basquete agora! Nathaly está sendo intimidada nesse exato momento por Pamela e Amy.
Amplio meus olhos, alarmada, e nem penso duas vezes antes de correr para lá. O bilhete cai no processo e nem me preocupo em pegá-lo de volta.
Até imagino a tortura mental que Pamela e Amy devem estar infringindo contra minha amiga e me desespero.
Empurro a porta enorme, percebendo que está destrancada, e me surpreendo logo em seguida.
O ginásio aparentemente deserto está cheio de balões em formato de coração. São vermelhos e de tamanhos variados.
Um sorriso involuntário surge em meus lábios, mas me forço a escondê-lo imediatamente.
Além dos balões, meus olhos se surpreendem quando percebo que junto com os balões, que são muitos, há fotografias penduradas entre eles.
Então a história sobre a intimidação de Nathaly era só uma mentira para me atrair para cá? E é por isso que muita gente me olhou estranho, minutos atrás?
Eu me aproximo com o coração acelerado, percebendo o conteúdo das fotografias. Eu e Brandon estamos nelas. Juntos e sorridentes. Lembro-me de quanto tiramos essas fotos. Não recordo algumas e provavelmente foram tiradas quando eu estava distraída.
De toda forma não consigo odiar a surpresa e já tenho uma ideia de quem fez isso. Deve ter dado um trabalhão enfeitar tudo isso...
Toco o urso enorme e fofo no centro dos balões e toco em seu centro, percebendo uma pequena protuberância em seu peito. Tomo um pequeno susto ao tocá-la e perceber que o urso emite um som.
— Eu te amo, Jéssica. — uma voz fofa sai do urso, e o sorriso se alarga em meu rosto, enquanto sinto as lágrimas virem à tona.
Sinto a presença masculina atrás de mim antes que possa me virar.
— Eu não espero que você me perdoe depois disso. — é Brandon, e continuo de costas, sentindo meu coração a mil. — Mas isso não apaga meu anseio de ser perdoado. Eu só queria te fazer sorrir. Queria te dar um motivo para isso e acho que consegui, não é?
Eu me viro, ainda agarrada ao urso enorme e fungo, tentando esconder as lágrimas.
— Sim, amei o ursinho.
— Só o ursinho? — parece meio decepcionado.
Na verdade eu amei tudo, mas não vou dar o braço a torcer. Não por enquanto, pelo menos.
— Gostei de tudo. — decido confessar logo de uma vez. — Mas ainda não posso te perdoar, Brandon. Não sei se posso acreditar que mudou.
Ele acena com a cabeça, um pouco frustrado.
— Ainda. Posso ter esperanças então?
Fico em silêncio e olho para baixo meio sem jeito. Uma parte enorme de mim quer apagar tudo e abraçar Brandon nesse momento, mas outra está tomada pela dúvida.
Ele decide falar antes que eu rebata:
— Está bem. Eu... — passa a mão no cabelo, meio sem jeito. — Eu vou respeitar seu tempo, Jéssica. Espero que possa confiar em mim e acreditar que realmente mudei. Vou tentar ser paciente e compreensível. Isso é difícil pra cacete, mas vou tentar.
Penso em dizer algo, mas Brandon me deixa sem palavras ao beijar minha bochecha.
Congelo, apreciando o toque e ele recua.
— Eu vou indo, linda. — diz e se afasta.
Quase o chamo de volta. Quase.
***
Observo os brincos novos em minha orelha e sorrio involuntariamente ao notar mais uma vez o quanto são bonitos. Eu os ganhei de Brandon e decidi esperar alguns dias para estrear. Quase duas semanas na verdade. Só espero que aquele garoto não fique convencido ao me ver usando.
Dessa forma, coloco meu uniforme e sigo para a escola na segunda-feira.
A chuva recente deixou o asfalto molhado e desço do ônibus, seguindo calmamente em direção ao prédio escolar.
Cumprimento o porteiro gentil e procuro o meu armário. Pego os livros que vou precisar durante as próximas horas e me viro.
Brandon está bem na minha frente agora e estremeço.
Fico levemente chocada, mas disfarço.
Seus olhos castanhos estudam minhas orelhas e fico acanhada diante do seu olhar perscrutador.
— Pensei que não fosse usá-los. Gostou? — chega cada vez mais perto e meu coração dispara no peito.
O que ele está fazendo? Já consigo notar alguns olhares curiosos sobre a gente.
— Sim. São lindos, mas não faça isso outra vez.
— Isso o quê? — ele agora está com o rosto muito próximo ao meu, tão próximo que sou capaz de ouvir sua respiração tão ofegante quanto a minha.
— Me dar presentes. Não faça isso de novo.
— Por que não? Gosto de dar presentes para as pessoas que admiro. E vou ser sincero, Jéssica, meu sentimento por você vai muito além de admiração.
— Brandon... por que está tão perto assim? — suspiro, e meu subconsciente me alerta para empurrá-lo, mas por que não estou sentindo a mínima vontade?
— O que foi? Não posso? Isso te deixa nervosa? — sussurra.
Só então volto a pensar como alguém normal e coloco alguma distância entre nós ao conseguir passar por baixo do seu braço.
Ele me observa atentamente quando digo.
— Gostei da surpresa de dias atrás e dos brincos, mas isso não te dá motivo para se aproximar demais.
— E o que pode me dar motivos, hein Jéssica? — questiona torturado e fico sem palavras. — O que você quer que eu faça para ter o seu perdão e confiança de volta? Quer que eu implore, é isso?
— Brandon...
Paro de falar e meus olhos se arregalam quando Brandon faz o impensável e fica de joelhos bem na minha frente.
Brandon Scott, o garoto que não abaixa a cabeça para ninguém, está nesse exato momento me deixando sem palavras com sua atitude inusitada e surpreendente.
Ouço sussurros chocados a minha volta e percebo que muitos alunos se aproximaram igualmente surpresos com a cena.
Ouço frases do tipo:
"— Brandon está se humilhando para uma garota?"
"— Meu Deus, eu vivi para ver isso. Inacreditável!"
"— Caramba, ela é tão sortuda!"
(...)
Continuo sem palavras, olhando nos olhos de Brandon, então desvio o olhar apenas para perceber que Pamela e sua turminha também se aproximaram, assim como minhas amigas. Nathaly está com os olhos arregalados, assim como as outras meninas. Ao contrário delas, Pamela exala ódio pelos poros enquanto observa a cena.
Percebo flashes de câmera e tenho certeza que estão tirando fotos ou filmando a situação.
E Brandon continua de joelhos.
— Olha só, Jéssica... — ele me encara com um olhar que me deixa sem fôlego. Minhas mãos estão suando de nervosismo. — Eu nunca me rebaixei a ninguém antes, nem mesmo ao meu pai. Mas por você... por você eu sou capaz de qualquer coisa.
Prendo a respiração enquanto meu coração dispara, prestes a sair pela boca.
Nesse momento, realmente me encontro em um sério dilema enquanto minhas emoções explodem em meu interior.
💣🔥🔥🔥💣
E aí, pessoal?
Vocês acham que Jéssica deve perdoar Brandon?
As opiniões de vocês aqui vão determinar as cenas do próximo capítulo, então comentem muito, porque apenas assim vou poder publicar o próximo.
Beijos😘