O Segredo na Torre

By Joao314

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Os muros caíram. Um exército de imortais caminha pelas ruas da cidade. Sem opções ou tempo, o último Guardião... More

Parte 1 - Capítulo 1: Um Guerreiro
Capítulo 2: Uma Ladra
Capítulo 3: Uma Queda
Capítulo 4: Um Tirano
Capítulo 5: Uma Execução
Capítulo 6: Uma Casa Quebrada
Capítulo 7: Uma Fuga
Parte 2 - Capítulo 8: Um Acordo
Capítulo 9: Uma Muralha
Capítulo 11: Democracia
Capítulo 12: Um plano
Capítulo 13: Uma 'Fortaleza'
Capítulo 14: Um Escritório
Capítulo 15: Telhados
Parte 3 - Capítulo 16: Um Novo Dia
Capítulo 17: Uma Pausa
Capítulo 18: Mais Democracia
Capítulo 19 - Um Zé Ninguém
Capítulo 20 - Um Primeiro Passo
Capítulo 21 - Um Traidor
Capítulo 22 - Uma Distração
Capítulo 23 - Um Feitiço
Capítulo 24 - Um Templo
Parte 4 - Capítulo 25 - O Raiar do Sol
Capítulo 26 - Uma Mentira

Capítulo 10: Um salão

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By Joao314


Ana recusou a ajuda da pele verde e se pôs de pé sozinha, um erro, dado a dor nas costas:

--...E agora?

--Bem, o plano original é que vocês viessem de noite...--ela revirou uma sacola no canto da sala de paredes cruas--...Mas a guarda dos muros foi dissolvida depois que encontraram nosso homem.

--Encontraram o Albius?

Oliwia parou o que fazia e o encarou em silêncio por um momento. O guardião suspirou e sentou no chão, trazendo as mãos à nuca. A arqueira, por sua vez, voltou para a sacola e logo tirou um imenso vestido azul que ela pôs sobre suas roupas, tirou então um lenço vermelho com bolinhas brancas e passou ao redor da cabeça:

--Que lindo!--disse Ana no tom mais sarcástico que conseguiu

--Obrigado,...--ela disse tirando um outro vestido, idêntico ao seu a exceção de ser menor... e rosa... com um lenço rosa pontilhado de corações brancos para acompanhar--...esse é o seu!

Engoliu a seco e vestiu o disfarce enquanto Amis continuava onde estava, encarando o infinito. Oliwia o sacudiu pela mão:

--Eu sei o que você está passando, sei o que você está sentindo, mas precisamos sair daqui.

--...Ok...--tomou fôlego--...Ok.

Se recompôs, deu um beijo em Oliwia e saltou porta à fora, gritando:

--É um belo dia, filhos da égua!

Oliwia botou a mochila nas costas, pôs a orelha na porta e aguardou os sons de espadas e flechas se afastarem. Na primeira oportunidade, agarrou Ana e a arrastou para o apartamento ao lado onde se encontraram com algumas camas de palha esticadas no chão com material de costura:

--Já entendi.--disse Ana, pegando um novilho de lã, uma agulha e misturando os dois enquanto a pele verde trabalhava num boné de bebê azul--...você costura?

--Ehh, quando tenho tempo...--se concentrou num ponto particularmente difícil--...Ele te deu o bracelete?

--...Ahhhh, foi você que deu para ele!?

Ela riu um pouco:

--"Ah, eu não vou precisar". "Eu consigo fazer sozinho." Piada. Hahaha... vou atazanar muito a cabeça dele com isso...

--...Sei...--percebeu que havia prendido o dedo no novilho

Continuaram "costurando" até que um chute abriu a porta, dois imortais quarto a dentro, empesteando o ar com o aroma de saliva, suor e tinta branca:

--Cadê eles!? Cadê eles!?

--Mursia! Wu palakau vris! Visso mursia! Visso mursia!--gritou Oliwia de joelhos

--Cala a boca!--disse o imortal chutando-lhe a barriga

Oliwia caiu sobre Ana, que a segurou como se fosse sua mãe enquanto eles iam de um lado para outro no apartamento quase vazio:

--Nada aqui!--e ambos saíram, sem fechar a porta, diga-se de passagem

Uma vez fora do campo de visão dos ocupantes, Oliwia se recompôs, se assegurou de que o corredor estava vazio e desapareceu porta a fora antes de retornar alguns segundos mais tarde:

--Vai ficar aí?

Ainda um pouco perdida, a ladra seguiu sua "colega de quarto" pelos corredores de tijolo até as escadas de concreto seco. De início, seguiam acompanhadas apenas do cheiro de tijolos e seus próprios passos, quando Ana ouviu um berro ecoando escadas acima:

--PEIXES! PEIXES FRESCOS!

--Aff! Esses vendedores!--comentou Oliwia sem dar muita atenção

Ele não estava só. A cada rol de escada, podiam distinguir mais vozes, ruídos, aromas, isso sem nem contar a própria altura do prédio! Foram preciso sete (sete!) rols de escada antes que chegassem num estreito corredor iluminado apenas pela rua:

--Deuses!!!

Por onde começar? A altura dos prédios? As fachadas imaculadamente brancas? Os telhados caprichosamente vermelhos? Os detalhes coloridos ao redor das janelas? As fontes jorrando água cris-...

--CUIDADO, GAROTA!--gritou Oliwia arrancando-a de onde estava

Tão logo conseguiu entender o que ocorrera, Ana avistou um mamute albino pilotado por dois ramarim de vestes azuis arrastando um casa-carroça verde logo atrás de si:

--Eu nunca tinha vis-...

--SAI DA FRENTE!--gritou uma senhora de pele rosa e roupas caras empurrando Ana e Oliwia para o lado

--Cebolas frescas!--gritou o pele azul de roupas negras com um saco de vegetais nas costas

--Panelas! Panelas! Inoxidáveis! Cerâmica! É promoção! 2 por 1! Já está acabando!--dizia a jovem de pele vermelha e vestido amarelo na frente da loja

--A GALINHA! PEGA A GALINHA!--gritavam um idoso de pele vermelha e casaco azul, sacudindo a bengala no ar enquanto seus empregados corriam atrás do animal

--TÁ ME OUVINDO!?--gritou Oliwia sacudindo Ana

--S-sim! Desculpe eu...

--Só vem comigo! Deuses! É cada uma...

Tentou imitar o estilo natural de Oliwia, mas cada passo, cada virada de cabeça, cada esquina: roupas,  sotaques, prédios, animais, até mesmo cores de pele que ela nunca tinha visto. Num momento, teve que dar passagem a dois karius de pele branca carregando uma mesa para fora de uma marcenaria, em outro, observou uma dama zontari de pele cinza e longos cabelos negros bailando em plena rua enquanto um pele laranja (provavelmente do Mar Norte) tocava flauta e recolhias as doações, em mais outro momento, pode ver dois aramitas de pele vermelha caindo ao chão a socos e tapas enquanto suas esposas tentavam separá-los. A confusão era apenas reforçada pela cacofonia de aromas: suor dos trabalhadores,  galinha frita dos restaurantes, saliva dos vendedores, perfumes das nobres damas, terra encharcada, cerveja quente, doces velhos...

--...alguma coisa queimada...

Viu a carcaça negra de um templo. Pelas colunas, um Templo ao Sol, pelas altura, um templo menor, antigo, muito antigo. Altares vazios, cercados pelas ruínas das estátuas que um dia acomodaram. Oposto às ruínas, um sacerdote, ainda com suas roupas cerimonias, agora sujas, como sua barba e cabelos longos, observando o cadáver de sua casa, sem se mover, sem piscar, deitado na rua.

--Algum problema?--se virou para encontrar dois lanceiros faixa branca e um arqueiro faixa amarela que, num tom ainda mais áspero, reforçou--... Eu perguntei se tinham algum problema.

--Eu...--apontou para a parede brevemente--... só senti o cheiro de queimado e..

--E?

--...

--...

--Nada. Eu... Só me confundi...--ela disse começando a andar quando sentiu a mão do arqueiro em seu ombro

--...Qual o seu nome?

--Meu... 

--Garota! O que está fazendo!?--agarrou Ana pela orelha e arrastou para perto de si--...Desculpe, senhor oficial! A mãe dela pediu para ficar de olho, mas ela fica perambulando por aí, como uma vaca pastando!--sacudiu Ana pela orelha, resultando em mais de um grito-- Já estamos indo! Mil perdões! Mil perdões!...

Mesmo sem olhar para trás, Oliwia sabia que o "oficial" ainda estava de olho nelas quando desapareceram na próxima esquina dando-lhe a oportunidade que tanto queria. Ainda agarrando-a pela orelha, puxou a garota para o primeiro beco que encontrou e sussurrou o mais alto que podia:

--TEM COCÔ NA CABEÇA!? QUER NOS MATAR!?

--Eu...

--Cala a boca! Juntinho de mim. Sem perder tempo, ok?

A arqueira soltou a sua orelha e as duas seguiram pelas ruas gradativamente menos comerciais. Dividindo sua atenção entre os trios de imortais vagando pelas ruas e arquitetura. Ao poucos, a estrangeira podia ver os arranha-céus de dez andares dando lugar as vendas e armazéns de três ou quatro pisos, o quais logo deram lugar a minúsculas casinhas coloridas (azul, verde, rosa, amarelo) espremidas umas contra outras. As ruas logo se tornaram mais calmas, a multidão cedendo espaço as donas de casa conversando ou fazendo suas tarefas diárias enquanto suas crias brincavam de bolinha de gude na rua:

--Deuses, até aqui?--pensou Ana vendo um grupo de lanceiros imortais virando a esquina

Continuaram pelas ruas paulatinamente mais estreitas até que estas se tornaram vielas de casas pobremente coloridas de branco com telhados faltando telhas, foi quando Ana ouviu algo. De início, não passava de um múrmuro, mas, alguns passos mais tarde, já podia distinguir palavras, ritmo, uma cantiga:

"...a reputação vai estar aonde ele for..."

--Música de violão!?

O desprezo naquelas palavras mal se aproximava do choque que levou ao virar a esquina apenas para dar de frente com o que parecia ser uma praça tornada pista de dança. Garçons serviam as mesas dos botecos próximos enquanto espectadores de todas as idades assistiam os casais rodopiando em pleno céu aberto e os músicos derramando sua canção do coreto:

"...a reputação vai estar aonde eu for..."

--Deuses....--disse a hisamita, horrorizada não apenas pela letra profana, não apenas pelo ritmo vulgar, não apenas pelas roupas justas das mulheres, não apenas pelo jeito que os homens as agarravam em público, mas, acima de tudo, pelo fato de que, ao girar na pista de dança, por alguns segundos...--...Eu posso ver os joelhos delas! Essas mulheres não tem decência!?

--É, é, eu sei...--disse Oliwia levemente empática--...mas é domingo, sabe como é...

As duas seguiram pelos cantos do tumulto até um boteco cuja clientela de idosos e paredes emboloradas não transmitiam muita confiança:

--Olika!--disse o idoso de pele vermelha enrugada, casaco marrom, dois copos de cerveja em mãos e um sorriso no rosto--...trouxe a encomenda?

--Não, querido, só vim trazer a Marcele para conhecer o local.--ela disse num tom jovial olhando discretamente para trás.

O homem notou a garota de pele amarela tornada levemente ruborizada pela indecência na praça (apesar de não tirar seus olhos dela, é claro):

--Ahh.... por que vocês não vão lá trás, que eu já as acompanho? Vou só chamar a Valéria!

Contornando o balcão e atravessando a cozinha quente, embolorada e poerenta, seguiram escada acima até uma sala de cal branca habitada por alguns caixotes, barris de cerveja e uma única janela a qual Ana instintivamente quis inspecionar, quando foi pega de surpresa pela velocidade com que Oliwia arrancou o disfarce:

--Escuta aqui: Qual o seu problema!?!? Já não basta eles estarem por todo lado!? Ainda tem que chamar atenção?

--...eu...

--Sorte nossa que ele não nos seguiu! Deuses! Droga! Que que você tem na cabeça!?

--...eu nunca saí de Hisam.

--...

--...

--...Olha...--sentou no chão, ergueu a mão como se fosse dizer algo, mas logo baixou--...Eu entendo...Só... As coisas não estão fáceis, ok? Eu entendo que também não estão pra você...--ela disse apontando para o braço dela--...Mas não dá para vacilar, entende?

--Sim... É que... Sempre que me falavam de Aram e... sinceramente eu nunca pensei que...

--É eu sei...--ela riu de uma maneira estranha, leve e empática, tudo ao mesmo tempo--...é de tirar o fôlego. Me lembro  quando vi pela primeira vez...

--Você não é aramita?

--"Oliwia" parece aramita para você? Eu venho lááááá de Selukiram.--Ana a encarou confusa--...Nunca ouviu falar, né?--disse a selukita, cruzando as pernas no chão, esticando os membros e bocejando um pouco--...É uma terrinha abandonada pelos deuses entre o nada e o coisa nenhuma pra láááá de depois das montanhas. A maior cidade não dá nemmm esse bairro e olhe lá! Aí, aí... mas também, com aquelas árvores que mais parecem uns gravetos em cima uns dos outros não ia dar em outra coisa, né?

--Quão depois das montanhas?--disse a hisamita, tirando o disfarce

--Ahhh! Semanas! Só a floresta Dakali pode levar um mês para cruzar.

--Um mês...--ela disse, matutando as 2 horas de distância entre os Portões Sul e Norte de Hisam

--Grande, né, moleca de cidade pequena?

Já des-desfaçarda, ela se voltou furiosa para a pele verde:

--Eu não sou garota de cidade pequena!

--Desculpe! Não quis ofender! Eu só...

--Para que me trouxe aqui afinal de contas? Estamos perdendo tempo!

--...Você é daqueles tipos com personalidaaaade, não é isso?...--bocejou--... Não se preocupe, eles devem estar...--virou a cabeça e trouxe a mão para junto a orelha--...viu!? Aí vem o Cícero.

A porta se abriu e um homem de meia idade, pele enrugada e roupas marrons discretas apareceu carregando um saco nas costas e um sorriso

--Quem é viva aparece!--disse numa voz velha mas animada logo antes de ver a hisamita--... Olha só! Se não é nossa ladra!

--Pode me chamar de Ana.

--Ah sim! Sim! Perdoe meus modos! Geralmente quando eu falo com gente do seu tipo, vocês estão do outro lado das grades! --ele disse estendendo sua mão para Ana--...Cícero Galba Augustus, Ministro da Saúde, Cirurgião Geral do Hospital Central e Professor da Universidade de Phísica....

--Ela não precisa do seu currículo, Cícero.

--Só me apresentando! Já imaginou dizer todo o meu currículo toda vez que eu me apresentasse? Eu nunca iria iniciar uma conversa!

--Ana Mastos.--ela disse caçando algo para acrescentar enquanto apertava sua mão--....Ladra.... Do Grei Mastos. Servos do Grei Anari.

--Uau! Que exótico! Como é que é Hisam!? É verdade que tem corpos nas ruas?

Não havia nenhuma maldade naquela pergunta e isso só a irritava mais:

--Não.

--Ahhh...--havia tanto desapontamento quanto alívio naquele suspiro--...É faz sentido, se não haveria epidemias o tempo todo.

--Sim, é claro...--ela disse tentando imaginar a conexão entre as duas coisas.

--Mas me fale de você, minha dama!--parou rapidamente para checar o seu relógio de bolso--...É verdade que...

Passos na escada. 

O médico imediatamente girou o corpo, tirou um martelo tingido de rubro de sabe lá onde e se preparou para o combate:

--É só a Hadriana, Cícero, calma!--disse Oliwia se pondo de pé

Tão logo veio o nome, a porta se abriu revelando um pele vermelha, quase dois metros de altura, cabelo negro como a armadura e olhos gélidos. Ele foi seguido por dois outros semelhantes antes de darem passagem a uma senhora de pele vermelha de vestido púrpura com detalhes dourados esbanjando uma nobreza rivalizada apenas pela escova de prata reluzente com que ajeitava sua juba branca a medida que seus olhos esquadrinhavam o ambiente:

--Arqueira. Doutor. Ahh! Nossa profissional!--estudou a pele amarela a medida que guardava a escova e estendia sua mão--...Hadriana Galiana, Secretária Geral da União Mascate Aramita a seu dispor. Então, foi você quem orquestrou aquele roubou incrível das cartas da embaixada verão retrasado?

--Eh...Sim. Na verdade foi.--disse com certo orgulho--É claro, minha família me ajudou. Meu pai conseguiu encontrar uns podres de um membro da embaixada então fica mais fácil. Mas a ideia e a organização foram minhas!

--As cartas eram minhas.

--...

--Me custou muito dinheiro.

--...

--...Bem, pelo menos sei que estou falando com uma profissional...--olhou-a de cima a baixo--...Mas também, de um buraco daqueles tinha que sair algo de bom, estou errada?

--EPA!--ela disse sem nem notar os três homens de dois metros trazendo as mãos para os facões em seus cinturões--...QUEM TE DEU DIREITO DE FALAR ISSO, SUA MERETRIZ!?

Hadriana ergueu a sobrancelha e bufou com meio sorriso:

--Ah, me desculpe, então está me dizendo que as ruas de Hisam foram pavimentadas? Que os crimes foram controlados? Que as casas de pau-a-pique foram reformadas para que a água das chuvas não pingue mais nas suas cabecinhas amarelas quando chove?

--OLHA AQUI SUA...--deu dois passos a frente quando sentiu a ponta do facão de um dos seguranças contra sua garganta

--Pessoal! Vamos manter a calma!--disse o médico com ambas as mãos no ar, de forma a acalmar o olhar fulminante dos gigantes rubros--...Hadriana! Por favor, não vamos complicar as coisas!

--Ahhh, você quer que eu limite meu direito de expressão, para acomodar as sensibilidades dela! Daqui a pouca vai pedir...

--Típica megerisse mascate!--foi quando a porta se abriu para revelar um pele roxa usando um macacão vermelho-tijolo e camisa branca, ambos manchados de negro e empesteados pelo cheiro de carvão, suor e comida gordurosa. Não tardou, seis ou sete homens vestidos da mesma maneira atravessaram a porta formando uma mini multidão fazendo frente à parede de armaduras negras que agora se formava entre eles e Hadriana--...Vocês não podem por seus olhos em uma única membra da massa de manobra que vocês mascates criam e logo precisam humilhar! Não basta roubar, manipular, monopolizar, precisa humilhar!

--ÉÉÉÉÉ!!!!--gritaram os outros seis homens 

--Oi, Gracchi.--murmurou Oliwia do outro lado do cômodo, olhando pela janela

--Toda, santa, vez...--murmurou o ministro coçando a nuca.

--Me diga, você é a Ana Mastos, correto?--disse contornando, cuidadosamente, os seguranças

--Sim...--ela disse preventivamente estendendo a mão

--Ora, deixe dessa formalidade mascate, minha irmã! Lukas Gracchi, ao seu dispor! Sou o Representante da Liga Trabalhista e esses são meus colegas!--ele disse tirando maço de folhetos de dentro do macacão e estendendo um para ela--... Leia! Quando tudo isso acabar, você deveria vir em uma de nossas reuniões! Os trabalhadores de Hisam se beneficiariam da palavra da verdade! Ainda mais de uma heroína da luta do povo contra o monopólio mascate! Roubando dos ricos aquilo que pertence aos artífices e assalariados!

--...eu... roubava coisas para as pessoas mais ricas de Hisam.

--...

--...

--...Porque era o emprego que lhe estava disponível. Por causa deles! E... 

--Deuses, Gracchi!--disse Hadriana--... Vou te falar, você se superou! Essa ladra literalmente confessa na sua cara que trabalhava para a nata do buraco mais sujo do mundo e você acha um jeito de criar uma heroína! Batam palmas pessoal! Palmas! Ele merece!--os seguranças obedeceram

--Vai te catar, megera!

--Vai você, vagabundo!

--Vai você, megera, meretriz!

--Vai você, seu vagabundo, aproveitador!

--Vai você, megera, meretriz, mal amada, sem verg...

A essa altura, Ana já estava começando a se questionar se a distância entre a janela e o piso térreo era o suficiente para matá-la quando ouviu Oliwia dizendo:

--Até que enfim!

Nem cinco segundos se passaram antes que a porta se abrisse revelando um jovem pele vermelha, roupas de operário, ombros largos, braços musculosos, cabelo castanho bem cortado, queixo quadrado como um tijolo e olhos azuis claros como um farol:

--Deuses...--pensou Ana estudando o rosto do jovem sem nem notar o "ramarim" envolto em vestes azuis ao seu lado--....que barba ridícula!--ela completou observando os cabelos arrepiados que iam de orelha à orelha ocupando toda a área abaixo do queixo assim como o espaço entre nariz e boca

--Doutor! Rápido! Rápido!--foi tudo que o jovem teve tempo de dizer antes do guardião cair de cara no chão, três manchas de sangue se espalhando pelo azul do disfarce.

Como um raio, o ministro abriu caminho pela multidão, se jogou ao chão, virou o corpo, mediu a pressão, a temperatura, a respiração; fez um cálculo mental, tirou um frasco de líquido negro de dentro do bolso e derramou duas gotas de 10.3 miligramas cada garganta abaixo.

Por um instante, silêncio:

--Coff! Coff!... Minhas costas!

--Deuses, irmão, não nos assuste!--disse o trabalhista

--Para de chamar as pessoas de "irmãos"!--disse a Secretária

--Calem a boca, vocês dois!--disse a esposa casualmente abrindo espaço pela multidão e se ajoelhando ao lado do marido--...Melhor?

--Sim, sim... AÍ! Minhas costas...--olhou para o doutor, o qual ainda o estava estudando--...só duas gotas?

--Cada frasco custa um ano de salário! Acha que a vida é fácil?

--Blah, blah...--ele disse tentando se sentar com a ajuda de Oliwia--...Filho da égua!  Deuses!....Tudo girando....

--Você perdeu muito sangue! Vai demorar até regenerar tudo.

--Desculpe, senhor Marcos...--disse o rapaz, perdendo o foco por um segundo ao ver Ana no canto da sala, como se tivessem pingado colírio em seus olhos--... euuuu... eu tive que tirar as flechas se não o disfarce....

--Ele entende, Augustus, pode relaxar.

A sala aguardou enquanto o Guardião retomava a si e, com alguma dificuldade, se punha de pé, sustentado pelos ombros da esposa:

--Então... --olhou para Ana--...já conheceu todo mundo?--ela acenou tentando ignorar o bálsamo férrico do sangue--...ótimo. Primeiro Ministro?

Os olhos da multidão logo recaíram ao Doutor, o qual, passados alguns segundos, relembrou seu outro cargo:

--Sim, sim! Perdão eu....--limpou a garganta, sua pele tornada levemente pálida pela memória de ser o único ministro sobrevivente da República de Aram--...eh... vamos começar pelo início...

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