Um mês se passou, dando início a mais uma estação do ano: o verão.
Junho começou ensolarado em Seul e apesar da pouca ventania, os coreanos sentiam-se calorentos, além de que as praias, piscinas, bebidas bem geladas e sorvetes cairiam bem.
Taehyung estava na cafeteria quando a filha chegou animada com um quadro em mãos. A ômega tinha um sorriso largo nos lábios rosados, feliz, por ter ganhado a competição no ateliê. O ômega mais velho parabenizou a adolescente com um abraço e pediu para ver, o qual a garota mostrou com orgulho.
— A mulher queria que colocássemos um momento feliz da nossa vida, meio que era o tema. Infância, mas também queria que dissemos através da arte, nossa inspiração. — falou rapidamente, ansiosa. — Foi difícil, papai, eu não sabia o que escolher, eu só tinha certeza de uma coisa: aquarela.
Taehyung observava a filha comentar os detalhes, seja da curta viagem ou das suas muitas ideias do que fazer.
— Eu queria mostrar ao meu velho também, mas ele está no trabalho, então eu chamei ele para ir lá em casa ver, tem problema? — assim que a mais nova perguntou, Taehyung não deixou de sentir-se nervoso, como também não se impediu de ter a imagem do beijo que deu no alfa.
Naquela mesma tarde, o alfa Seo Kyung Jin apareceu no trabalho do ômega, acabando por conhecer a filha do mesmo. Dizer que Taehyung gostou da presença do menino, seria uma mentira, mas como era um cliente, ele só podia sorrir gentilmente.
— Papai, o senhor pode fazer aquele cafezinho que só você sabe fazer?! — a mais jovem pediu, manhosa.
— Você e seu pai com esse negócio de cafezinho que só eu sei fazer. — revirou os olhos e foi fazer o expresso para a filha.
— Seu café é incrível, papai!
— Sei.
— É verdade, ué, pergunte ao papai, ele vai dizer a mesma coisa. — replicou e Taehyung sorriu ladino, porém sem a filha ver.
Kyung Jin estava próximo encarou fixamente a ômega, logo reparando sua grande semelhança com a do ômega mais velho.
— Tem certeza que ela é filha daquele tal Jeon, não vejo nada parecido. — comentou um tanto evasivo, ao que teazia a atenção dos dois para si.
Contudo o mais velho não gostou do comentário do outro, seja intencional ou não, já Jihyo o encarou de cima a baixo e fez uma careta.
— Não fale "tal Jeon" com tanto desprezo, ele é meu pai. — a adolescente falou séria, defendendo o pai alfa, fazendo o alfa a encarar surpreso pela acidez no tom.
— Me desculpe, não foi intencional.
A garota o encarou firme, com aquele olhar semelhante ao do ômega, porém com intensidade do pai alfa. A menina não gostou daquele comentário, muito menos da pessoa em si, então somente ignorou a presença do homem, que deixava claro seu interesse em seu pai ômega.
— Aliás, eu sou Kyung Jin. Seo Kyung Jin. — o mesmo estendeu a mão, educado, entretanto a ômega ignorou.
— Jeon Ji Hyo. — respondeu simples e o envergonhado de ter sido ignorado, sorriu levemente.
— Seu pai já falou de você.
— Hum.
Taehyung, que atendia um casal de clientes que tinha acabado de chegar, tentou não rir do jeito da sua filha.
Claro que ela estava sendo mal-educada com ele, coisa que Taehyung e nem Jeongguk tolera, mas ele sabia que a mais nova quando não gostava de alguém - pois segundo ela, quando o santo não bate, é porque tem coisa ali -, não tinha quem a convencesse do contrário.
— Ah que coisa, ele não falou de você. Pena. — desdenhou. — Não é muito difícil saber o que quer. — comentou e sorriu irônica. — Seu jeito conquistador está bem nítido. — o mesmo arregalou os olhos, encarando-a incrédula.
Que menina afiada – pensou.
— Preste bem atenção, eu vou deixar uma coisa bem clara… — a mais nova se aproximou do mesmo e sorriu falsa. — Você não tem chance! Não contra meu pai, Seo… Kyung… Jin!
Apesar da explícita "ameaça" - se é que se pode chamar assim -, o alfa somente sorriu falso e acenou com a cabeça.
[...]
— Filha, Jeongguk já está aqui, então se apresse, por favor. — Taehyung falou em uma mistura de ansiedade e nervosismo. Ansioso para saber o que pode ser ou quem é a inspiração da filha, e nervoso pela presença do alfa, esse que estava calado até o momento, porém compartilhando dos mesmos pensamentos e sentimentos.
— Calma, coroa, eu preciso dar o meu discurso ainda. — ambos os adultos riram do jeito que a filha chamou ao ômega de 'coroa'.
— Coroa?
— Sim, eu chamo o meu pai de meu velho, então nada mais justo que chamar o senhor de coroa, aliás os dois têm a mesma idade, não?! — retrucou.
— Okay, meu amor, não enrole, eu preciso sair ainda. — assim que falou, os dois ômegas olharam na direção do alfa.
— Sair? Para onde? — Taehyung nem ao menos percebeu o que falou e só foi se tocar, quando Jeongguk o olhou com a sobrancelha erguida. — Quer dizer… Ele tem razão, filha, eu passei a tarde toda esperando, não me deixe esperar mais. — desconversou.
— Sair? — perguntou confusa, logo soltando um 'ah' longo. — É mesmo, o senhor vai se encontrar com aquele rapaz?
— Aham.
— Sério? — questionou emburrecida.
— Sim, filha, eu não posso ser grosseiro ao ponto de negar o pedido da pessoa. — Jeon sorriu com o ciúmes da filha.
Taehyung olhava para os dois confusos, ao que questionava-se do que eles falavam.
O que é isso que está sentindo, Taehyung? Vocês não tem nada, então porque está incomodado por ele sair com alguém?
— Na verdade, o senhor pode sim, é só dizer não. — retrucou a adolescente, fazendo Jeon a encarar sério.
O alfa na época estava - quase - entrando no cio, faltando só alguns dias para entrar, o que explicava sua impaciência, seriedade e odor de menta com chocolate forte, talvez o que aconteceu ontem com o ômega, tenha mexido demais, trazendo a tona seu cio.
— Só espero que não passe o cio com ele. — sussurrou.
— Já chega, Jihyo! — o alfa repreendeu a filha, sério e duro. — Por favor, seja rápida, ainda tenho que passar em casa.
Taehyung coçou a garganta, chamando atenção deles, já que viu a filha estremecer levemente e a falta de paciência no alfa.
— Nos mostre seu desenho, meu amor. — pediu Kim, gentilmente.
A adolescente assentiu e foi até o quarto pegar o quadro, deixando os mais velhos na sala. Os dois permaneceram calados até que a filha voltasse.
— A organizadora nos deu um tema, como falei antes, sobre nossa infância. Um momento feliz e marcante. — começou e sorriu levemente, quando teve atenção completa dos pais — Foi difícil escolher, mas essa pintura que irei mostrar, foi o dia mais importante da minha vida.
Aos poucos, a menina tirou a "tampa" de cima da tela, revelando aos pais, a imagem deles mesmo, ou melhor, das suas silhuetas.
A tela branca tinha a pintura de um campo de girassol, todos os detalhes em cores verde e amarelo, junto com o azul do céu. Na mesma tela, havia dois adultos - Taehyung e Jeongguk - sentados no chão, um ao lado do outro, de costas, suas silhuetas estavam pintadas de dia e noite. Taehyung tinha o corpo com detalhes de um campo com um lindo pôr-do-sol, enquanto o alfa estava de cores escuras retratando uma noite estrelada, com pequenas constelações e uma lua no centro com reflexo no mar, e na frente de ambos uma garotinha pequena e gordinha com a imagem de um eclipse em sua silhueta.
— Eu fiz essa representação, porque vocês se assemelham ao sol e à lua. O senhor, papai, é tão quentinho, radiante e bonito quando o sol, o dia… E o senhor, pai, é tão iluminado quanto a noite mais estrelada, a brisa que nos faz se sentir protegidos. A grande estrela é sempre a que guarda nossos segredos, seus olhos parecem uma galáxia, tão lindos e únicos. — disse sorrindo, fazendo os pais a acompanharem. — E o eclipse, sou eu, uma representação de uma amor passageiro de vocês, uma combinação especial e de se admirar. — suspirou e encarou a tela. — Vocês são minhas inspirações, são tudo para mim, especiais demais e não os troco por nada.
Taehyung sorriu emocionado e foi até a filha, a abraçando caloroso.
— Obrigado, minha pequena.
Jeongguk sorriu também, orgulhoso da sua cerejinha.
Sua pequena e eterna cerejinha.
Após aquela noite, Jeongguk saiu para seu encontro e em seguida foi para casa, pois a qualquer momento, seu cio iria chegar, e como decidiu anos atrás, o passaria sozinho e dopado. Já Taehyung foi o contrário, ele não parava de pensar nesse tal encontro e no cio que o amigo passaria. O ômega podia enganar a filha, o alfa e a si mesmo - ou tenta, no caso -, já que o mesmo não conseguia evitar de se sentir enciumado com toda aquela história.
얄둘
Era uma terça de junho, a pouca brisa balançava as folhas dos galhos das árvores, uns passarinhos assobiavam, ou simplesmente, deitava-se em seus ninhos enquanto mais um dia se passava.
Taehyung estava arrumando a sala, quando a porta de casa se abriu, o assustando, e por ela Jihyo passou com o rosto avermelhado e olhos inchados. Imediatamente, o ômega largou o espanador e foi até a mesma, mas antes que chegasse, a garota correu para o quarto fazendo ele ficar - momentaneamente - confuso com o alfa, que olhava para o mesmo.
— O que aconteceu? Por que ela estava chorando? Brigou com ela? — perguntou preocupado. — Jeongguk, me responde!
— Calma, Tae! E não, eu não briguei com ela. — respondeu ainda da porta. — Eu fui buscar ela na casa da Minhee, como você me pediu, porém ao chegar lá, eu a vi chorando e quando fui questionar, ela não quis me dizer e só me pediu para vir pra cá.
Taehyung o encarou sério e logo em seguida suspirou.
— Não se preocupe, Taehyung, ela vai contar a qualquer momento.
— Não me peça para não me preocupar, Jeongguk, sabe que não funciona. — retrucou. — E se tiverem feito uma brincadeira de mal gosto com ela? A batido?
— Acredito que não seja esse o motivo. — disse o alfa, querendo tranquilizá-lo. — Eu não a vi machucada e se fosse, creio que a amiga dela teria me falado, então pode ser outra coisa. — continuou o mais velho, também preocupado. — Vamos deixá-la se acalmar, tudo bem, e depois perguntamos o que aconteceu.
— Acho que o melhor é isso mesmo. — suspirou e passou a observar o alfa.
Jeongguk estava mais despojado, diferente de como sempre vinha. O mesmo usava uma bermuda jeans, blusa de gola 'v' e uma sandália, além de usar um boné.
O alfa era um pouco mais alto que Taehyung, fazendo o mesmo levantar o queixo para olhá-lo diretamente.
Kim não queria ter reparado em como o alfa estava relaxado e mais forte que anos atrás, talvez, por ter se aproximado nos últimos dias - mesmo que não tenham evoluído muito ou rolado mais algum beijo -, os dois estavam progredindo aos poucos, o que deixa o ômega cada vez mais confuso em relação ao que sente.
— Eu vou indo, então, talvez ela converse com você. — disse simplista. — Ela não quis falar comido, então deixo em suas mãos.
— Mas já?!
— Sim, eu estou ocupado e creio que ela não vá querer falar comigo, não agora, mas qualquer coisa me diga, sim?
— Tudo bem. — assentiu e o alfa se aproximou, plantando um selar rápido na bochecha alheia.
Ousado? Um pouquinho. – pensou Taehyung.
— Boa noite, Tae!
— Boa noite, Jeongguk. — retribuiu e viu o alfa se afastar, antes de fechar a porta.
O mesmo soltou uma respiração profunda e tocou o rosto, especificamente, onde o alfa tocou os lábios e sorriu tímido.
Taehyung preferiu deixar a filha se acalmar, para então ir falar com ela e perguntar o que houve, porém algo lhe dizia que isso tinha haver com o tal garoto que a mesma gostava. Kim saiu de seus pensamentos ao ouvir o som de notificação do celular e o pegou do bolso de canguru, do avental.
Oi, Tae, ocupado? – uma mensagem do Kyung Jin, o que fez o mesmo revirar os olhos.
Até hoje o ômega não sabia como o mais novo conseguiu seu número, ele só sabe que já faz duas semanas que recebe mensagem do mesmo, o qual não era sacrifício ignorar. Como todas as vezes, ele somente guardou o aparelho e voltou seus afazeres, não antes de silenciar o mesmo.
— Depois de um mês, ele ainda tenta alguma coisa?! — riu sarcástico. — Vamos ver o quanto ele aguenta ficar sendo ignorado… Ou eu só posso, simplesmente, bloqueá-lo. — murmurou para si mesmo enquanto acertava os travesseiros no sofá.
Após arrumar todo o cômodo, ele fez lámen de galinha caipira, para ele e a filha, porém a adolescente se negou a comer e muito menos abrir a porta, o que deixou o pai ômega mais que preocupado.
A filha negar comida, significa que a coisa foi bem feia, o que só lhe resta esperar o momento da mesma.
O restante da noite, ele conversou com os amigos, tanto sobre o universitário perseguidor quanto sobre a filha, o quão ele estava preocupado, assim como conversou com o outro pai dela, mas somente da Jihyo e algumas mensagens - um tanto sublinhar -, coisa que acontecia naturalmente, porém Taehyung não se dava conta dos flertes quase imperceptíveis.
E assim se resumiu o fim da noite e o restante da semana.
A filha chegava da escola e se trancava no quarto, mal comia, se negava sair com os amigos ou ir para Jeongguk, e também não dizia nada aos mais velhos, o que está deixando os adultos apreensivos pelo o comportamento da garota.
Com o tempo, as coisas se ajeitam, é só questão de tempo. E paciência! – Taehyung pensava.
***
Notas finais:
Atrasada estou, atrasada estou, me desculpem kkk
Bom, o capítulo de hoje foi algo simples, mas o que será que aconteceu com a nossa cerejinha? Saberemos no próximo capítulo 🤭
Eu não sei muito o que falar aqui, mas quero agradecer pelo os 'boas sortes' que me deram, obrigada mesmo ❤
Até a próxima ~
Abraços e Kissus 😘💜