In The Embers

By amendoline

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Um jovem policial tem um encontro ocasional com um médico de um dos maiores hospitais de Hong Kong. Desse enc... More

Introdução à fanfic
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9 [+ EXTRA: HUALIAN]
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16 [+EXTRA HUALIAN]
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20 [+EXTRA HUALIAN]
Capítulo 21
Capítulo 22 [EXTRA HUALIAN]
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25 [+EXTRA HUALIAN]
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35

Capítulo 30

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By amendoline

The line, it is drawn

The curse, it is cast

The slow one now will later be fast

As the present now will later be past

The order is rapidly fading

And the first one now will later be last

For the times, they are a-changin

The Times They Are A-Changin - Bob Dylan

[30 anos antes]

"Você acha que vamos passar?" O rapaz perguntou ao seu amigo quando eles entraram na loja de conveniência. Era um dia anormalmente quente e eles precisavam de uma bebida.

"Eu não sei. Precisamos esperar o resultado." O outro o respondeu enquanto franzia a testa. Seu amigo, mais baixo e agitado, já estava abrindo a geladeira do local e pegando uma garrafa de cerveja, rasgando o lacre e tomando um gole generoso.

"Arg! Eu queria passar. Não aguento mais a pressão dentro de casa para arrumar um emprego." Disse e suspirou. "Não vai beber?"

"Vou pegar uma água."

"Água? Devíamos comemorar, Ting. Em breve, seremos policiais!"

Hao Ting apenas deu de ombros e caminhou pelas prateleiras da loja. Ele passou a vista por alguns chips e por alguns doces e parou ao ver a prateleira com garrafas de água refrigeradas, mas antes que ele pudesse pegar uma garrafa, ele ouviu uma voz atrás de si direcionada ao seu amigo.

"O senhor não pode beber aqui dentro." A voz doce, mas firme, disse.

"Aya! Eu estou comemorando! Não é como se eu não fosse pagar, gracinha..."

Hao Ting ouviu um suspiro dado pela garota – ele agora havia olhado bem para o rosto jovem e pálido dela – e ela continuou:

"Não importa se vai pagar ou não, você não pode beber aqui dentro".

"Por que você está tão amarga, benzinho, hm? Qual o seu problema?" O que bebia, falou.

"Xing, não a provoque." Ting o falou, fazendo a garota se virar e o olhar, os orbes escuros agitados como flechas disparadas no ar. "Vamos embora."

"Por que?" Ai Xing não teve tempo de responder, pois seu amigo o arrastou para fora do estabelecimento, não sem antes colocar uma cédula em cima do balcão e pronunciar um 'me desculpe' para a atendente. "Você é inacreditável!"

Hao Ting olhou para o horizonte, para o local no meio do nada e pensou no ônibus quente que eles teriam que pegar para retornar para casa. Os olhos vermelhos de expectativa e esperança de sair de uma vida medíocre encarou o amigo ao seu lado, que bebia e falava sem parar sobre o futuro dos dois.

No entanto, antes de eles irem embora daquele lugar estranho e distante, Hao Ting virou o rosto e olhou para dentro da loja de conveniência mais uma vez, para o rosto jovem e afiado da garota. Ela olhava para as coisas do balcão concentrada, e quando viu que ele a estava encarando, virou o rosto para o lado contrário em irritação.

"Gostou dela? Se gostou, vá falar com a garota, não seja molenga!" Ai Xing o disse, tirando-o de sua distração.

"Do que está falando?" Hao Ting respondeu rápido, andando para a estrada direto para o ponto de ônibus, seu amigo rindo atrás de si e abraçando as suas costas.

[Presente]

Yibo não saiu do quarto enquanto Xiao monitorava a instalação do sistema de segurança da porta. Ele ouvia o barulho de furadeira, vozes que explicavam as coisas e muitas perguntas de seu namorado aos técnicos, que prontamente o respondiam. Yibo conhecia esse tipo de sistema muito bem, não havia muito o que desvendar. Xiao estava aprendendo a colocar a senha nele e o policial apenas estava esperando todos os homens irem embora para ele mesmo modificar o código de entrada e saída para um que apenas ele e Xiao tivessem visualizado.

Não que Yibo achasse que isso era suficiente. Ele ainda estava ansioso e assustado e não acreditava que um mero alarme e trava na porta daria segurança para Xiao. Ele não se importava muito consigo mesmo, na verdade, ele nunca se preocupou muito com sua vida desde que teve algum tipo de consciência, então claro que toda a sua paranoia girava em torno do homem que ele amava.

Xiao o observou enquanto Yibo o ensinava sobre mudar o código e ele apenas assentia, dizendo que entendia tudo. Quando eles mudaram a senha para uma menos óbvia do que o aniversário de Xiao, os dois se sentaram na sala e Yibo colocou a mão sobre a testa, acariciando o local. Ele não sentia dor, mas se sentia extremamente lamentável.

Por outro lado, Xiao se via numa situação extremamente complexa, onde não sabia exatamente como proceder. O médico sabia que o seu namorado estava estressado, nervoso e com medo e não tirava as suas razões para isso, mas queria de alguma forma fazê-lo entender que nada aconteceria – ou pelo menos eles tentariam de tudo para que não acontecesse. Eles estavam juntos, afinal. Nem um, nem outro estavam mais sozinhos na vida.

Xiao se aproximou de Yibo no sofá e sentou-se ao seu lado. O policial não o olhou, mas sentiu a mão de seu namorado sobre a sua mão esquerda. Os dedos longos e pálidos acariciaram os seus dedos marcados e pousaram ao redor da aliança que Yibo já usava. Ambos tinham uma no dedo anelar esquerdo agora. Ouvindo um suspiro pesado de Xiao, Yibo finalmente o olhou e entrelaçou as mãos dos dois.

"Eu sei que está preocupado". Xiao o falou. "Mas vai ficar tudo bem."

"Eu não tenho tanta certeza." Yibo disse. "E tudo isso é minha culpa. Você não tinha que estar passando por nada disso."

"Nem você deveria. Nem eu e nem você. Você não é um criminoso, amor, nada disso é sua culpa. Por favor, pare de se torturar."

Xiao se aproximou mais e abraçou o corpo do namorado, apoiando o rosto em seu ombro. Yibo não se afastou, mas manteve-se tenso no abraço. Ele apenas sentiu a mão carinhosa de Xiao em suas costas e sua boca beijando o seu ombro e pescoço. Com os olhos fechados, Yibo murmurou:

"Me desculpa..."

"Não me peça desculpas, amor..."

"Sua segurança, sua vida..."

"Eu nunca me senti tão seguro. Eu tenho você comigo o tempo todo. Eu estou bem."

Yibo virou um pouco o rosto e viu os olhos avermelhados de Xiao lhe encarando. Eles estavam curvados em um sorriso incerto, trêmulo. Yibo sabia que ele estava segurando o choro ali ao seu lado.

"Não sei o que fazer. Eu estou pela primeira vez perdido. Essa investigação nunca esteve tão próxima e tão distante de uma solução... eu nunca estive tão perto de entender o que aconteceu comigo e com minha família, ao mesmo tempo em que eu não sei se quero descobrir... e isso é porque eu tenho agora uma outra vida, uma outra realidade. Antes, eu estava sozinho e eu simplesmente não ligava. Agora, eu tenho você... não posso te perder. Não posso arriscar você."

Xiao aproximou o rosto do de Yibo e beijou o canto de sua boca. Próximo dele, ele o respondeu:

"Não há nada para arriscar, eu estou com você para tudo. Tudo o que vier, tudo o que acontecer."

"Não quero isso."

"Mas eu quero."

"Eu quero que você se sinta bem. Não quero que fique nervoso, não quero que tenha medo. Não quero que durma e acorde pensando na sua segurança ou na minha. Você merece coisa melhor e eu sei que eu estou sendo um..."

Yibo só parou de falar quando ouviu um soluço e viu que Xiao baixou o rosto, encostando a testa em seu ombro. Ele tentou levantá-lo, mas Xiao fez que não com a cabeça e começou a chorar baixinho abraçado ao seu corpo.

"Amor...?"

Xiao ficou calado por muitos minutos, sempre movendo a cabeça negativamente e sem soltar o seu namorado. Ele chorou por um longo tempo, longos e dolorosos minutos que fizeram Yibo sentir seu coração pesado. O policial acariciou a lateral do rosto de seu companheiro e esperou todo o tempo até ele se acalmar um pouco. E foi Xiao quem começou a falar quando isso aconteceu:

"Yibo... eu sei por que você está assim. Sei porque tem medo. Eu entendo perfeitamente... e eu sei que eu tenho culpa nisso."

"Culpa? Amor, do que você está falando? Você não tem culpa de nada."

"Eu tenho sim." Xiao ergueu seu rosto, exibindo a face toda vermelha e molhada. Ele tremia um pouco e Yibo não soube dizer se ele estava em uma crise ou apenas triste. "Eu tenho culpa porque eu agi com você muito mal no começo do nosso relacionamento."

Yibo o encarou sem entender.

"Meu bem, do que você está falando?"

Xiao passou a mão pelo rosto e fungou um pouco e Yibo se virou um pouco para ele, segurando a sua mão.

"Eu sei que eu fui frio com você. Sei que eu fui desagradável e fiz você sentir que havia um sentimento distante meu por você. Sei que eu demorei para assumir que eu te amo e que eu sou uma pessoa um pouco difícil. E eu ainda tenho meus problemas para lidar, os remédios..."

"Amor, isso não tem nada a ver, por favor."

"Tem sim." Xiao o corrigiu. "Tem, porque se eu tivesse te deixado mais seguro, se eu tivesse te demonstrado que meu sentimento era mais sólido, você não iria ficar hesitando o tempo todo em estar comigo. Não iria achar que estando comigo, você me prejudica. Yibo, você não me faz mal, estar com você não ameaça a minha segurança."

"Amor, entenda que eu não estou falando de nossa relação. Eu estou falando de gente perigosa que pode... que pode fazer com você o que sabe lá fizeram com meus pais. Eu não duvido de seus sentimentos. Não é sobre isso, Xiao, eu sei que você me ama. E eu te amo também, é por isso que eu estou morto de medo. É por isso que eu não consigo ter paz."

"Mas e se fosse eu? Se fosse minha vida, se eu tivesse pessoas atrás de mim e não você, você iria aceitar que eu dissesse que você ficaria melhor sem mim?"

"Isso é diferente."

"Por que?"

Yibo entreabriu a boca e a fechou. Xiao deu uma risada curta e falou:

"Amor, eu sinto muito não ter te dado a segurança de que eu estou com você em qualquer situação desde o começo. Eu sinto muito se eu te fiz achar que você carrega esse relacionamento e todo o fardo dele nas costas. Você tem sido minha âncora desde o começo, você me faz tão feliz... Nada, Yibo, nada mesmo vai me fazer sentir seguro se eu não estiver ao seu lado, mesmo numa situação como essa."

Yibo puxou levemente o rosto de Xiao e o deu um beijo breve, o abraçando em seguida. Ele beijou a lateral de seu rosto várias e várias vezes, apertando o seu corpo devagar.

"Diz que não vai para longe de mim." Xiao pediu baixinho dentro do abraço. "Por favor."

"Nunca." Yibo o respondeu. "Eu nunca vou ficar longe de você. Eu prometo."

O médico respirou fundo diante de mais uma promessa. E não era que ele não acreditasse nelas ou que ele não gostasse de ouví-las, ele só... estava cansado de ter que viver em torno delas. Ele queria muito que ele e Yibo tivessem um pouco de paz e que nada viesse a atrapalhar o relacionamento dos dois e se lamentava do fato de que as coisas nunca eram tão simples.

Resignado por pelo menos saber que Yibo era alguém determinado e que não lhe enganava e que lhe amava e respeitava acima de tudo, ele apenas assentiu diante das palavras que ouviu.

"Eu vou cobrar." Xiao disse com pouco humor, mas muita certeza. "Eu realmente vou cobrar..."

Yibo suspirou e apenas permaneceu em silêncio dentro dos braços da única pessoa que ele sabia que tinha domínio sobre sua vontade e para quem ele jamais quebraria uma promessa.

..

[23 anos antes]

Dentro do quarto escuro dava para ouvir o barulho da chuva e do vento batendo nas árvores, movendo as plantas e provavelmente bagunçando as folhas no quintal. O clima frio era comum naquela parte do ano, mas trazia um sentimento muito mais agridoce para a mulher deitada na cama com o filho ao seu lado; ela olhava para a criança de três anos com carinho e dor, demonstrando com os olhos úmidos que estava sofrendo muito.

Os dedos finos da mãe tocaram a testinha da criança, que não se mexeu. Ele tinha demorado a dormir e a mãe se sentia aliviada por vê-lo finalmente descansando. Ele tinha uma sonda no nariz e sua boca estava um pouco aberta e ele respirava de forma rápida e cansada, como se tivesse corrido uma maratona.

Hao Ting via a cena da porta e não conseguia aquietar o seu coração. Não era a primeira vez que ele e a mulher viam o filho mal de saúde, mas nunca era fácil lidar com aquilo. Além do mais, Hao Ting se sentia extremamente culpado e responsável pelos problemas de sua família, mesmo sabendo que o estado de saúde de seu filho nada tinha a ver com a sua vida secreta.

O homem se aproximou da cama e se deitou com cuidado para não acordar a criança, ficando do lado oposto ao que a mulher estava, ambos ao redor do filho. Ele virou de lado e olhou para a esposa e em seu coração, ele realmente quis dizer para ela que tudo ficaria bem, que eles superariam aquilo... mas Hao Ting não tinha mais muita esperança na vida e ele também não era uma pessoa de muitas palavras. Então, lhe restou o silêncio.

Foi a sua esposa quem falou baixinho:

"Querido," ela disse hesitante com a sua voz rouca de tanto chorar, "será que não poderíamos recomeçar a vida em outro lugar? Um lugar mais leve, com o ar mais limpo? Talvez um interior onde tenha muita vegetação e o clima menos úmido e seco?" Ela olhou para o filho e para o marido mais uma vez. "Acho que ele viveria melhor num lugar mais calmo, você não acha?"

O homem suspirou e acariciou o bracinho de seu filho sob as marcas roxas das muitas agulhas que entraram em sua pele. Ele realmente queria. Ele gostaria de poder ir embora e deixar tudo para trás. Ele queria poder fugir das coisas inevitáveis que tinha que fazer. Queria que sua família ficasse livre do fardo que ele carregava por eles.

Viver de uma falsa expectativa dava a Hao Ting pelo menos a impressão de que poderia realizar-se como pessoa, como pai e como marido. Então, às vezes, ele apenas fingia que as coisas estavam bem, que ele tinha domínio da sua própria vida e que poderia um dia ser feliz.

Mesmo que no fundo, em seu íntimo, ele soubesse que não poderia.

Suspirando, vendo o olhar desesperado de sua esposa, ele apenas sorriu tristemente.

"E para onde iríamos?" Ele a questionou. "Em que lugar você pensa?"

A mulher deu uma risada aliviada e começou a falar das muitas cidades onde eles podiam estabelecer uma casinha. Falou da vida pacata e saudável que eles poderiam ter e para seu marido, ela descreveu a vida dos sonhos que nenhum deles jamais conseguiu viver.

[Presente]

Depois de deixar Xiao no hospital, Yibo recebeu uma ligação do agente Song tentando marcar uma reunião com ele para conversarem sobre Ai Xing. Yibo ainda não estava certo de que deveria dividir a informação de que Ai Xing o abordou em sua casa com o colega e acabou não marcando nada. Mesmo preocupado, ele sabia que agir precipitadamente por medo não iria lhe ajudar, então decidiu que deveria pensar antes de fazer qualquer coisa.

Ele foi a sua sessão de terapia, ajustou algumas coisas no período da tarde e conversou com Xiao por ligação para saber se ele estava bem, e quando já estava se arrumando para ir buscar o seu namorado no hospital na parte da noite, ele recebeu uma mensagem de um número que não conhecia em seu telefone.

"..."

A mensagem dizia apenas as palavras me ligue e Yibo franziu a testa. Quem poderia ser, além de Ai Xing? Um pouco tenso, Yibo sentiu a sua respiração falhar e passou a mão pelo rosto antes de clicar em cima do número que aparecia na tela.

Uma chamada. Duas. Na terceira, uma voz conhecida lhe cumprimentou do outro lado da linha, surpreendendo Yibo.

"Agente Wang, quanto tempo!"

"Doutor Cheng?" A voz de Yibo saiu confusa e falha. Ele sentiu até certo alívio, mas ainda estava um pouco curioso sobre aquela ligação. "Em que posso lhe ajudar?"

"Ah, bem. Acho que se surpreendeu com minha mensagem, certo? Eu peguei seu número com Xiao um tempo atrás e nunca tive a chance de falar com você. Está ocupado?"

"Não. Quer dizer, eu estou indo buscá-lo no trabalho."

"Está indo ao hospital? Provavelmente você encontrará com Lian também. Eu gostaria de saber se você poderia me prestar uma visita com o meu amigo. Lian tem me pedido para conversar e eu realmente não sei até que ponto eu posso falar com ele sobre as coisas que conversei com a polícia. Creio que você possa me ajudar, isso é, se for possível."

"Ah, é sobre isso..." Yibo murmurou. "...bem, eu posso ver um dia, com certeza."

"Poderia ser nessa semana?"

"Eu preciso ver com o Xiao. Preciso informar a ele que você também deseja vê-lo."

"Lian já deve ter falado com ele, então espero que realmente dê certo. Agente Wang, eu espero a sua visita em breve. Eu realmente preciso falar com você."

"Claro." Yibo desligou a ligação e olhou para a tela do celular com a testa franzida.

Ainda enquanto saía de casa e caminhava para pegar um táxi até o hospital, Yibo ficou pensando naquela chamada e no pedido do doutor Cheng. Xiao já o havia pedido para falar com Hua Cheng e também Xie Lian, mas ele não pensava muito no assunto. Na verdade, Yibo tinha pouco interesse no caso de Hua Cheng em si, a única coisa que lhe deixava perturbado sobre o assunto era o atentado ter acontecido com alguém num cargo que Xiao ocupava no presente. Yibo não gostava de pensar que o cargo e os tiros tinham alguma relação, mas se havia a mínima chance de haver, ele estava a postos para evitar que qualquer coisa acontecesse ao seu namorado.

Quando ele chegou ao hospital, Xiao já estava na recepção e Xie Lian estava ao seu lado. Eles conversavam com um grupo de profissionais do hospital, e quando viram Yibo, o chamaram com a mão.

Xiao apresentou Yibo para um círculo pequeno de pessoas rapidamente e se despediu deles. Os dois, de mãos dadas, foram seguidos por Xie Lian, que os olhava com as sobrancelhas quase alcançando o meio do couro cabeludo.

"Qual vai ser o comentário inconveniente da vez?" Xiao virou para o seu amigo quando eles já estavam atravessando a pista.

"Vocês meio que me dão nos nervos agindo assim."

"Assim como?" Yibo perguntou dessa vez e Xie Lian parou na frente deles.

"Assim ó." Ele apontou para as mãos entrelaçadas dos dois. "E o que é essa aliança aí? Meu deus, sério? Aliança? Vocês agora são, blergh, casados?"

"Lian, você ama o Yibo e deu todo o incentivo para que eu estivesse num relacionamento com ele. Você também está num relacionamento sério com Hua Cheng, não sei por que está tão atacado hoje."

"Eu e Hua Cheng somos gays, mas não tanto quanto vocês."

Xiao riu e eles atravessaram a plataforma de metrô. O médico olhou para o namorado, que parecia querer falar algo e então ele sussurrou ao pé de seu ouvido, perguntando se havia acontecido alguma coisa. Yibo apenas fez que não e Xie Lian notou.

"Parem de ser nojentos na minha frente, é sério."

"Não estamos—" Xiao parou e riu. "Eu vou parar de te dar atenção, Lian. Talvez você esteja assim porque está carente e precisa que Cheng lhe faça um carinho."

"Como ele está?" Yibo perguntou de repente antes que Xie Lian pudesse responder a Xiao. O enfermeiro suspirou e rolou os olhos.

"Vaso ruim não quebra e aquele vaso é de titânio, aparentemente." Disse, fazendo Xiao rir um pouco mais. "Ele está bem, se recuperando muito rápido. Os pais dele estão em cima dele também, tem uma enfermeira à disposição o tempo todo e o pai dele é médico aposentado."

"Já sabem algo sobre o que aconteceu com ele?"

"Irmãozinho Wang, você sabe que não. Por isso que eu queria que você falasse com ele e sei lá, tentasse ver se tirava alguma informação daquela peste. Eu sei que ele esconde algo, sei que tem algo que ele não quer contar e eu não sei por que ele faz isso. Não sei se é por medo ou por culpa, mas ele esconde algo, sabe? Eu sinto isso. Eu conheço aquele homem infernal e sei quando ele não está me contando as coisas."

"Podemos visitar ele um dia, se estiver tudo bem, não é amor?"

"Claro." Xiao assentiu. "Quando ele estiver melhor."

"Seria ótimo!" Xie Lian sorriu. "Sério, seria a melhor coisa. Se vocês pudessem... se o irmãozinho Wang pudesse ir e conversar com ele? Talvez eu e Zhan-ge podíamos no dia combinar de sair do quarto dele discretamente e então você dá o bote e interroga ele com vontade!"

"Eu não vou interrogar seu namorado." Yibo riu sem graça. "Eu só vou conversar com ele."

"Interrogue ele, irmãozinho Wang, eu deixo!" Xie Lian lhe falou determinado. O metrô parou e algumas pessoas desceram e eles esperaram o fluxo parar para poder entrar no transporte. O enfermeiro então completou: "Eu sei que você é determinado e o melhor agente. Sei que vai ser a pessoa que vai tirar a informação do Hua Cheng que ele esconde. Eu confio em você, Yibo."

Yibo apenas sorriu e não disse mais nada, vendo o assunto mudar rapidamente logo depois.

[27 anos antes]

O café estava cheio de policiais tomando desjejum e de jovens que voltavam de farras. Ainda eram seis da manhã, mas a cidade parecia particularmente agitada para uma segunda-feira. Dentre essas pessoas, numa mesa bem ao fundo, um homem mexia a sua xícara de café intocada enquanto esperava.

Hao Ting estava com o coração partido em muitos pedaços, mas estava muito mais certo da decisão que havia tomado do que nunca. Ele amava Cai Yi mais do que tudo, a mulher era tudo em sua vida. Na realidade, ela era a única coisa boa que ele ainda sentia que existia na sua rotina, mas ele sabia que não havia espaço para ela numa vida desgraçada como a sua.

O seu relacionamento era sério e ele já havia conhecido a família da garota, mas ele sabia que ela merecia coisa melhor. Lhe doía mais do que tudo ter que tomar uma decisão tão horrível como arrancá-la de sua vida sem explicação alguma, mas ele havia ensaiado inúmeras formas de fazê-la entender que ele não queria mais ser seu companheiro de vida como outrora prometera.

Quando o sino da porta avisou uma nova cliente no lugar, ele logo ergueu a cabeça. Cai Yi tinha o costume de ser muito pontual e não tinha sido diferente daquela vez. A garota moveu a cabeça algumas vezes para os lados em ansiedade e quando o viu, suspirou aliviada, quase correndo para a mesa onde o homem estava.

"Ting." Ela disse. Ele notou que ela estava um pouco suada, como se tivesse andado apressadamente até o local. Do seu pescoço fino escorria suor e molhava o vestido florido de mangas curtas e ele não pôde deixar de reparar no relicário que ela carregava no pescoço – presente de Hao Ting para ela poucos meses depois que eles iniciaram o relacionamento. No relicário, havia uma foto dos dois no primeiro encontro deles.

"Por que você parece cansada? Veio andando da sua casa até aqui?"

"Uhum." Ela disse e levantou o braço para a garçonete. "Uma água, por favor?"

"Não quer comer nada?" Hao Ting a perguntou e ela apenas negou. A garçonete se afastou da mesa e os deixou sozinhos por poucos segundos, voltando com um copo de água e deixando-o em cima da mesa em frente a garota. "Precisamos conversar."

"Sim." Cai Yi afirmou e então respirou fundo. Ela pegou o copo de água e tomou um gole, o colocando de volta na mesa com um pouco mais de força que o necessário. "Sim, precisamos."

"Eu..." Hao Ting começou e colocou os cotovelos na mesa. Ele olhou para as palmas de suas mãos procurando uma forma de começar com o discurso que ensaiou tantas vezes, mas agora parecia difícil com a namorada em sua frente.

"Você...?"

"Cai Yi, eu—"

"Eu estou grávida." A garota falou mais rápido e atropelando as palavras de Hao Ting. O homem, quando a ouviu, arregalou os olhos, assustado.

"O que!?"

"Ting." A garota parecia começar a ruir aos poucos. "Eu... eu estou..."

"Você... você disse... grávida?"

Ela afirmou com a cabeça e seus olhos logo estavam cheios de lágrimas. Chorando sem mais dizer uma palavra, ela tomou um pouco mais de água e soluçou por alguns minutos em que Hao Ting também não emitiu nenhum som.

O policial escorregou pelos cotovelos da mesa e seu olhar ficou perdido e extremamente chocado. Uma criança. Sua namorada, o amor de sua vida, estava carregando uma criança sua. Ele estava em completo pânico e sem saber como proceder.

O silêncio dele foi interpretado de forma completamente equivocada por sua namorada e ela chorou ainda mais enquanto olhava para o rosto do policial.

"Ting, eu vou ter esse bebê. Mesmo que você não queira, eu vou ter o bebê." Ela repetiu isso algumas vezes e só então Hao Ting notou o estado em que ela se encontrava: suada, pálida e talvez mais assustada do que ele próprio.

Tentando se recuperar de alguma forma da notícia que recebeu, o homem levantou de sua cadeira e ficou ao lado da garota, se abaixando ao seu lado.

"Querida, amor." Ele disse baixo e então segurou as mãos dela que estavam repousando em cima de suas coxas. "Está tudo bem, eu vou assumir a responsabilidade."

"Eu não quero te forçar, eu não queria isso, eu juro..."

"Amor, está tudo bem." Ting beijou o rosto da garota e a fez o olhar. "Eu amo você. De verdade, eu realmente amo você. Eu e você vamos fazer isso juntos, ok?" Ele escorregou a sua mão para a barriga da garota, que sorriu em meio às lágrimas. "Vamos ser bons pais para esse bebê, tudo bem?"

Cai Yi sorriu e abraçou o namorado e trocou juras de amor com ele enquanto eles celebravam aquele pequeno momento de felicidade repentino. E mesmo em meio ao medo e ao receio de iniciar uma família em seu caos particular, Hao Ting sentiu em seu coração uma felicidade agridoce, como uma pequena esperança em seu coração que não tinha mais nenhuma a muito tempo.

[Presente]

Depois de dias lidando com uma rotina meio caótica e assustadora, Xiao e Yibo finalmente conseguiram respirar um pouco e equilibrar o dia a dia. O médico tinha a maior responsabilidade nisso, pois realmente se esforçou para que seu namorado mudasse o seu foco para outras coisas além de pensar em conferir o alarme da porta o tempo todo ou lhe ligar o dia inteiro cheio de preocupação.

Quando Xiao sugeriu a Yibo que eles deveriam assistir a um filme e foi buscar com ele a televisão que estava parada em sua casa, os dois passaram um dia extremamente atípico; desde cedo, eles riram, comeram juntos, fizeram carinho um no outro e então, se deitaram na cama deles para ver um filme qualquer escolhido aleatoriamente enquanto conversavam aos sussurros.

Yibo deitou em cima da barriga de Xiao, olhando para a TV, enquanto o seu namorado passava os dedos entre os seus cabelos. Ele sorria e beijava por cima da barriga de Xiao algumas vezes e o olhava de soslaio também, e nessas horas, eles não precisavam dizer nada, pois as palavras realmente já não eram necessárias.

Os dois acabaram cochilando durante esse momento de lazer e acordaram no fim da tarde, com Xiao dizendo que iria lhes preparar uma refeição noturna. Enquanto o médico beijava Yibo e se levantava, no entanto, ele recebeu uma mensagem de Xie Lian lhe chamando para visitá-lo na casa de Hua Cheng naquele mesmo dia.

"Ah, eu não sei se eu quero ir." Xiao comentou com a voz arrastada, esticando a coluna enquanto ia para a cozinha. "Queria comer algo com você, curtir um pouco mais o nosso dia, namorar um pouco..."

Yibo apenas riu e abraçou as costas de Xiao e, beijando a sua nuca, ele disse baixinho:

"Então não vamos."

"Mas eles nos convidaram a um tempo já..."

"Não vamos mesmo assim." Yibo afirmou e Xiao virou o rosto para ele ainda dentro do abraço com um sorriso indagador.

"É uma ordem, senhor policial?"

"Uhum." Yibo o apertou um pouco no abraço e Xiao deu uma risada. "E você vai me obedecer."

"E se eu não obedecer?" O médico questionou, já jogando a cabeça para trás, deixando o seu pescoço livre para Yibo, que logo o beijou várias vezes enquanto o respondia com a voz arrastada:

"Eu torço para você não me obedecer." Xiao apenas ofegou e se virou, o beijando quase de forma desesperada. O movimento fez Yibo o puxar e encostar Xiao na parede da cozinha, e este segurou na nuca de Yibo para se apoiar.

O beijo era quente e escorregadio e eles encaixavam perfeitamente um no outro depois de se conhecerem tão bem. Enquanto caminhavam, ainda com as bocas coladas, de volta para o quarto, Yibo apenas sentia Xiao amolecer em seus braços e agir da forma que ele simplesmente adorava: com olhos vívidos, com a voz determinada, mas com o corpo completamente entregue para si.

Eles se deitaram na cama com urgência, parte das roupas já arrancadas no caminho. A TV estava ligada ainda, com a proteção de tela rodando de um canto para o outro, dando uma iluminação parcial no quarto; os dois, rindo, se abraçavam e se tocavam e sentiam aquela batida conhecida do coração quando estavam naqueles momentos íntimos, e depois de tantos dias tensos, os dois corações com certeza batiam bem mais descompassados e a ansiedade era sentida por eles em cada pedaço de pele à mostra, em cada beijo que era trocado e em cada carícia que eles davam um no outro.

Eles não perderam tempo e não se preocuparam com mais nada, apenas com os corpos juntos palpitando enquanto os olhos se encaravam. E Yibo encarou o rosto de Xiao por cada segundo em que se empurrava para dentro com proteção e cuidado, adorando vê-lo morder a boca e demonstrar satisfação por ser preenchido.

Não havia motivos para eles trocarem palavras de amor enquanto transavam em dias ordinários, especialmente quando era uma transa assim, ocasional, mas eles sempre diziam aos sussurros perto do ouvido do outro o quanto eles se amavam. Tinha vezes em que faziam isso no ápice, em outras, eles decidiam por falar muito antes ou muito depois, mas as palavras sempre estavam ali em algum lugar.

Desta vez, no entanto, enquanto segurava o rosto de Xiao depois de um beijo, Yibo trocou os seus costumeiros 'eu te amo' por outras palavras. Ele beijou todo o rosto do namorado e sua boca outras vezes mais e lhe disse devagar e perto, para que ele entendesse cada palavra:

"Eu sempre vou escolher você, amor, sempre vai ser você."

E Xiao, ouvindo, apenas sorriu enquanto sentia espasmos pelo corpo, pois ele não precisava de explicação para aquelas palavras, porque ele também havia escolhido Yibo, sempre e para sempre e entendia perfeitamente o que aquilo significava.

..

Xiao sorria enquanto arrumava a gola da camisa de Yibo no quarto. Eles estavam conversando sobre algo que viram no filme que assistiram dias antes e discordavam de algumas coisas, mas não havia realmente uma discussão. O policial abraçou o namorado, os dois papearam ainda um pouco mais para passar o tempo e então, depois que Xiao olhou para o relógio, eles decidiram que era hora de sair.

"Vai ser bom ver Hua Cheng, faz semanas que eu não falo com ele." Xiao disse quando eles já saíam pela porta. Ele esperou Yibo ligar o alarme e então lhe estendeu a mão e eles pegaram o táxi que os aguardava do lado de fora.

"Sim, acho que adiamos demais."

"Sim, você sempre arrumava uma desculpa para não sair de casa." Xiao riu e Yibo apertou a sua mão no táxi e eles pegaram o caminho para encontrar os seus amigos.

Eles realmente haviam adiado muito a visita, até porque não consideravam conveniente visitar Hua Cheng em seus dias de adaptação em sua nova vida agora com proteção policial e reabilitação depois dos tiros. O médico passava todos os dias por uma série de coisas, como tratamento com fisioterapeuta, com massagistas e sempre recebia alguns especialistas que consultavam suas taxas para saber como andava a sua saúde.

Então, quando atravessaram a porta e Xie Lian a abriu com uma cara irônica, o casal não estranhou. Na verdade, eles até meio que esperavam certa cena vinda do enfermeiro.

"Ah, nossa, vocês finalmente resolveram que tem tempo para ver os amigos!" Lian falou alto e Xiao o deu um tapa no braço, passando para dentro. Ele sorriu quando viu os pais de Hua Cheng e os cumprimentou, sendo seguido por Yibo. Todos fizeram pouca sala para o casal visitante, pois Hua Cheng estava no quarto sozinho e eles logo os encaminharam para vê-lo.

Xiao, quando viu o seu amigo, ficou feliz e o abraçou, e Yibo o cumprimentou à distância, ambos sentando em cadeiras no quarto para conversar um pouco com o visitado.

"Achei que não vinham mais." Hua Cheng brincou e olhou para Xie Lian, que estava sentado na cama ao seu lado. "Eu e Lian estávamos sempre falando de vocês. Ele me contou as novidades, parabéns pelo casamento."

"Nós não casamos realmente." Xiao disse e olhou para Yibo. "Bem, não é possível casar, você sabe. Nós só... nós decidimos que estamos realmente juntos e que é definitivo."

"Bem, se isso não é casamento, o que é casamento, então?" Hua Cheng indagou e todos riram. "Fico feliz por vocês. O agente Wang realmente fisgou o coração do meu amigo, isso foi muito impressionante e realmente me agrada que eu tenha visto o começo de tudo."

"Eles sabem que não estariam juntos se não fosse por mim." Lian afirmou, fazendo Yibo erguer as sobrancelhas.

"Sim, claro." O policial disse e Lian o provocou ainda mais:

"Se você tiver a audácia de falar que eu não tive responsabilidade nisso, eu nem sei o que eu sou capaz de fazer!"

Eles conversaram sobre a recuperação de Hua Cheng e tudo o que estava acontecendo naquele apartamento em sua vida. Quando chegaram, Xiao e Yibo viram o policial que estava à paisana do lado de fora da casa e quando entraram, também notaram que haviam muitas câmeras de segurança dentro da residência. Hua Cheng parecia viver dentro de uma redoma de segurança, como se a qualquer momento algo pudesse acontecer contra ele e Yibo nem culpava quem quer que fosse responsável por tantas precauções assim: depois de sobreviver ao que o médico sobreviveu, ele tinha sorte de poder ainda estar vivo e evitando novas surpresas.

"Eu estou com um pouco de fome." Lian disse a certa altura e olhou para Xiao, piscando os olhos. "Vamos, Zhan-ge, providenciar alguma coisa para a gente comer, tem um mercado numa rua próxima." Ele se levantou e piscou mais ainda os olhos em direção à Yibo, fazendo movimento com a cabeça em direção a Hua Cheng e movendo com a boca sem emitir som algo que Yibo entendeu como "o interrogue agora!".

Xiao riu, beijou o rosto de Yibo, disse que voltaria logo e ele saiu com Xie Lian do quarto, deixando Hua Cheng sozinho com o policial. Yibo encarou a porta sendo fechada e depois olhou para o médico deitado na cama, que ria um pouco da situação.

"Viu como Lian é discreto? Nem pareceu que ele queria desesperadamente que eu ficasse sozinho com você." Ele disse a Yibo, dando gargalhadas. "Ele pediu para você arrancar respostas de mim?"

"Ele está preocupado." Yibo o esclareceu. "Ele gosta muito de você."

"Eu sei que ele me ama." Hua Cheng falou e respirou fundo. "Eu também o amo, eu o amo mais que tudo. Ele é a pessoa mais importante para mim."

"Ainda assim, você o esconde coisas." Yibo o respondeu, o que fez Hua Cheng apenas dar um sorriso lateral.

"Sempre direto, meu amigo agente Wang." Falou. "Mas me diga você, você fala tudo para o meu amigo Xiao? Não guarda nenhum segredo dele?"

"Eu não escondo coisas do Xiao."

"Tem certeza?"

"Eu não preciso mentir para meu companheiro. Eu não tenho porque mentir para ele sobre nada, não tenho nada a esconder."

"Mesmo que isso significasse que você o estaria protegendo se não o contasse sobre certas coisas?"

Yibo se remexeu na cadeira e passou a palma de suas mãos pela sua calça jeans. Ele franziu a testa, encarando Hua Cheng agora de forma incomodada.

"O que você queria falar comigo quando me ligou naquele dia?" O questionou, falando direto mais uma vez. "Seu tom de conversa e o caminho pelo qual você está indo enquanto fala comigo me faz entender que você está apenas dando voltas enquanto já sabe muito bem sobre o que quer falar."

"Bem, você tem razão."

"Então pare de me fazer perder tempo." Yibo o pediu sem paciência.

"Quer saber por que eu levei esses tiros, agente Wang?" Hua Cheng o perguntou e Yibo apenas meneou a cabeça.

"Não necessariamente, mas provavelmente há algo sobre isso que você considera me falar."

Hua Cheng o olhou por alguns segundos e Yibo sentiu que ele estava sendo analisado. Ele manteve o olhar diretamente no de Hua Cheng, sem desviá-lo por nenhum momento e esperou o momento em que o médico falaria algo para si. Yibo o viu suspirar algumas vezes e pensar um pouco, e depois Hua Cheng recomeçou a falar:

"Uma pessoa estava internada no Hospital Geral sob meus cuidados umas semanas atrás. Ele era um paciente especial."

"Especial como?"

"Ele não estava nos registros."

Yibo piscou os olhos e passou as unhas de suas mãos pela sua calça.

"A polícia sabe disso?"

"Pelo menos um policial sabe agora." Hua Cheng o respondeu em um tom de brincadeira, que Yibo não comprou.

"E por que você não falou para eles e decidiu que falaria para mim?"

"Você é o parceiro do meu melhor amigo, não é motivo o suficiente?"

"Não acredito que seja por isso." Yibo respondeu. "Você não me conhece o suficiente, não sabe se eu não sairei daqui e falarei disso para meus colegas policiais."

"Eu sei sim, agente Wang. Eu com certeza sei que você não vai falar com ninguém."

"Por que tem tanta certeza disso?"

"Porque o paciente que estava internado aos meus cuidados naquele hospital era Ai Xing."

Yibo se levantou da cadeira e seu rosto ficou completamente transtornado. Ele olhou para Hua Cheng como se tivesse sido ofendido e provocado pela mera menção do nome do seu antigo parceiro e se aproximou mais dele na cama, dando alguns passos.

"O que você sabe sobre ele? O que você fez?"

"Me diga você, agente Wang, o que você fez com Ai Xing para ele agonizar o seu nome durante todos os dias em que esteve internado numa cama de hospital?"

Yibo deu uma risada debochada para Hua Cheng e andou de um lado para o outro no quarto. Ele, então, se aproximou da porta e a trancou por dentro, o olhando mais uma vez.

"Quem diabos é você e o que você tem a ver com Ai Xing?" Yibo o perguntou entredentes. "Me fale antes que eu esqueça que você está se recuperando nessa cama!"

Hua Cheng riu e então, Yibo entendeu isso realmente como um desdém para a sua pergunta e ele então se aproximou da cama, ficando de joelhos nela e segurou Hua Cheng pela gola da camisa que ele vestia.

"Me diga agora, porra, o que você sabe sobre Ai Xing! Me responda!" Yibo gritou e bateu as costas do médico contra a cabeceira da cama.

"Cheng? Filho? Está tudo bem?" A mãe de Hua Cheng perguntou do lado de fora, enquanto tentava abrir a porta trancada. "Filho?"

"Está tudo bem, mãe! Nada aconteceu, fique tranquila!" Cheng respondeu alto e então olhou para Yibo, que tinha o rosto próximo ao seu. "Me solte." Ele pediu baixo e Yibo largou a sua camisa.

"Responda."

"Tudo o que eu sei é que aquele cara mencionou seu nome e o nome do meu amigo Xiao enquanto estava se recuperando de um monte de tiros no hospital, e que dias depois, eu mesmo sofri um atentado. Ele falou sobre Xiao correr perigo enquanto estava com você."

"Mentira!" Yibo respondeu, totalmente descompensado. "Besteira!"

"Agente Wang, você está colocando a vida de Xiao em risco por alguma coisa que você fez e que não conta a ninguém? Quem diabos é você? O que diabos você e aquele policial velho fizeram?!"

Yibo se afastou da cama de Hua Cheng e colocou as mãos em sua cabeça. Ele estava desorientado e seu coração batia tão forte contra o peito que ele podia sentir o movimento em sua caixa torácica. Ele olhou para o médico mais uma vez e fechou sua mão em punho, e, enquanto respirava desregulamente, abriu a porta, vendo a mãe do rapaz o olhando espantada do lado de fora e passou por ela e pelo pai de Hua Cheng, saindo do apartamento rápido e sem olhar para os lados.

Quando Yibo já estava do lado de fora do apartamento, na rua, ele andou pelos quarteirões com a cabeça zonza, olhando para os lados como se estivesse tentando entender o que estava acontecendo. Ai Xing foi o responsável pelos tiros em Hua Cheng? Se não ele, quem foi? E por que Ai Xing mencionou Xiao enquanto estava internado?

O policial parou de andar e respirou fundo, colocando as mãos nos joelhos enquanto tentava se acalmar. Ele fechou os olhos, e tudo o que veio em sua mente foi Xiao e seu enorme sorriso e os momentos felizes que eles viveram juntos. Yibo gemeu e sentiu algo subindo em sua garganta e então vomitou na calçada, se encostando em um poste para poder não cair.

Enquanto tentava se recuperar, ele sentiu seu telefone vibrar no bolso e o pegou, achando que poderia ser Xiao, afinal, ele havia saído do apartamento sem o avisar, o deixando para trás. Mas quando viu a tela do aparelho, havia a mensagem de que era um número restrito lhe ligando.

Yibo, então, atendeu a chamada. Ele ficou em silêncio quando a atendeu e então apenas escutou um suspirar ao fundo e logo, a voz que lhe disse:

"Yibo, eu te falei que era melhor você ter me dado aquela pasta quando eu pedi."

"Xing..." Yibo respondeu baixo. Ele ergueu o rosto e olhou para os lados, para ver se conseguia encontrar o homem em algum lugar ao seu redor. "Seu..."

"Acho que agora você já sabe a gravidade da situação, não é? Sabe o quanto você está arriscando, não estou certo? Por que você só não me dá a maldita pasta e vive a sua vida cor de rosa com o seu maldito namorado e nós seguimos o nosso caminho?"

"Filho da puta!" Yibo gritou na rua olhando para os lados. "Eu vou te matar! Ai Xing, eu vou encontrar você e eu vou te matar, eu vou dar um tiro na sua cara, não importa quando... eu... eu vou te matar!"

"Você nem sabe aonde eu estou, seu idiota." Ai Xing o respondeu e riu. "Mas eu sei exatamente onde você está. Eu estou sempre um passo à frente de você. Ah, limpe a sua boca, criança, ela ainda está suja de vômito."

Ai Xing desligou o telefone e Yibo gritou mais uma vez, jogando seu aparelho na pista e segurando seu rosto, comprimindo a sua testa. Depois de alguns minutos, ele apanhou o celular do chão todo trincado e o apertou em sua mão, tão forte que a película de vidro penetrou na sua palma, fazendo ela sangrar. Yibo olhou para aquilo como os olhos vidrados, sem se importar de verdade, e saiu andando pela rua, parando um táxi e entrando nele, seguindo um caminho que ele agora sabia que era inevitável seguir.

[26 anos antes]

"Ah, que porcaria! Que bagunça!" Ai Xing reclamava dentro do carro enquanto se limpava com uma toalha. Ele olhou para Hao Ting ao seu lado, que estava estático e sujo, com uma toalha na mão que não usava para se limpar também. "Vamos, Ting, você não pode chegar em casa assim."

O homem o ouviu e apenas virou o rosto. Ai Xing, no entanto, continuou reclamando e esfregando o tecido claro em seu rosto e pescoço, se queixando do cheiro forte que estava no carro e que eles sequer podiam abrir as janelas para sair o odor.

Hao Ting olhou para o pedaço de pano em suas mãos e finalmente o esfregou contra o rosto, olhando para ele depois e vendo que o tecido limpo logo estava todo sujo de sangue. Com os olhos avermelhados, ele esfregou o pano em sua face várias vezes, tantas que chegou a sentir a pele doer, mas para ele, aquilo não significava nada. Nada perto do que ele merecia, Ting pensava.

Quando os dois pararam o carro no meio da estrada perto de um rio, eles tentaram limpar mais a sujeira de suas peles às cegas na noite escura e Ai Xing acabou avistando uma cabine telefônica no meio do nada. Ele falou para o amigo que iria fazer uma ligação para casa e sugeriu que ele também ligasse para sua esposa, mas enquanto Ai Xing ligava, ele pareceu receber uma notícia um pouco assustadora e desligou o telefone, olhando para o amigo com os olhos arregalados.

"Ting... A... Cai Yi."

Hao Ting, que estava apático encostado no carro, logo ergueu a vista para o seu colega.

"O que tem ela?"

"Seu filho... ela foi para o hospital. Ela foi dar à luz."

Hao Ting largou o pano que segurava no chão e entrou no carro, vendo que a chave estava na ignição. Ai Xing ainda tentou correr para alcançá-lo, e até bateu no vidro do veículo fechado, mas Hao Ting acelerou e pegou a estrada, deixando Ai Xing gritando para trás.

Seu coração estava batendo tão forte e estava tão apertado no peito que ele sentia falta de ar. Hao Ting estava nervoso, desesperado e precisava ver a sua esposa e o seu filho e estar com ela naquele momento, especialmente depois daquele maldito dia em que ele teve que fazer coisas que ele não gostaria de pensar. Não naquele momento. Não quando ele sabia que o seu garoto estava por vir neste mundo.

O policial parou o carro em frente ao hospital de qualquer jeito e entrou porta adentro sem se importar com nada. As pessoas ao seu redor o olhavam, mas ele exigia, aos gritos, saber em que sala a sua esposa estava. E ele só parou de gritar no meio do hospital quando soube o que queria, correndo para alcançar o número da sala onde poderia ver sua família.

Quando finalmente alcançou o andar saindo do elevador, ele pôde ouvir um movimento de pessoas vindo de uma sala. Ele ouvia também a voz de sua esposa que, nervosa, perguntava algo ao médico:

"Ele está bem? Por que ele não está chorando? Por que eu não consigo ouvir o choro do meu filho?" Ela questionava alto, e antes que Ting, ainda do lado de fora, deixasse seu coração cair no chão, ele ouviu a resposta dada para sua esposa:

"Seu filho está bem, veja, ele está com os olhinhos abertos. Esse rapazinho é forte e não chorou ao nascer. Ele é um pequeno lutador."

Hao Ting fechou os olhos aliviado e sentiu sua vista embaçar de lágrimas. Ele sorriu e caminhou até em frente à sala onde estava sua esposa e pôde vê-la segurar o pequeno recém-nascido nos braços com o seu rosto emocionado, suado e coberto de lágrimas de felicidade.

Então, como se tivesse notado a presença alheia na sala, Cai Yi, com o filho nos braços, encarou o seu marido e o seu sorriso tocante do rosto se transformou instantaneamente em um rosto completamente apavorado. Encarando Hao Ting, a mulher ofegou e, com os lábios tremendo, ela lhe perguntou:

"Ting, meu Deus, o que você fez?!"

________________________________________________________

Olá! Olá! Quanta saudade de vocês!

Gostaria de agradecer por cada mensagem maravilhosa que vocês leitores do comecinho e também os novos deixam aqui para mim. Gente, eu nunca tive a intenção de demorar tanto a escrever In The Embers, mas é a história que eu mais me dedico e se eu sinto que ela não está boa o suficiente, eu não a posto! Espero que gostem do novo capítulo! Desculpem pela demora!

Tenho algumas novidades para vocês! A primeira delas é que eu vou publicar um livro pela Editora Mikrokosmos. Quem me conhece do twitter (meu user lá é amendoline) talvez tenha ouvido sobre a histórinha que eu fiz do gigolô, e bem, ela já está em processo de transformação para um original e ano que vem sairá o livrinho físico. Espero contar com vocês para me apoiar nesse momento muito especial para mim e eu espero que ele seja o primeiro de muitos outros livros que eu quero publicar (incluindo, se houver demanda, In The Embers).

A outra novidade é que eu pretendo postar uma nova história assim que ITE acabar (porém, somente quando acabar ITE) e o plot já existe e já há todo um desenvolvimento dele na minha cabeça. Torçam por mim pelo amor de Xie Lian para q tudo dê certo.

Sobre In The Embers, quem tem twitter, me marca lá nos comentários com a hashtag #InTheEmbers30 e falem o que acharam do capítulo e sobre o que esperam do futuro. O cap 31 já está em processo de criação e eu garanto para vcs fortíssimas emoções, afinal, a história finalmente alcançou a parte de toooooooooodo o suspense que gira em torno da vida do Yibinho.

me sigam no twitter> twitter.com/amendoline  

quem quiser me perguntar algo> curiouscat.qa/amendoline

para apoiar a autora que vos fala pagando um cafezin pra ela> ko.fi.com/amendoline

Geeeeeeeeeeeeeeente eu estava tao doida de saudade disso aqui, sériooooo! Vcs não sabem como eu amo In The Embers e como essa história tem sido uma grande felicidade pra minha vida. Mais de um ano a escrevendo, que grande aventura.

E ela irá chegar sim a um fim, prometo a vcs! 

Até a próxima!


essa é a música do capítulo

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