☀︎︎ 𝕷𝖎𝖑𝖎𝖙𝖍 𝕳𝖊𝖑𝖆 ☀︎︎
Estranho.
Essa era a definição do meu namorado nessa semana.
Depôs da noite em que o sexo foi diferente, Vinnie ficou estranho. Já passou pela minha cabeça que o ato foi tão íntimo que assustou ele, mas Angel apaziguou a ideia dizendo que uma pessoa que ameaça todos os homens da faculdade a não encostar um dedo em mim, não se assustaria em fazer amor com sua namorada. Pode ser viagem da minha cabeça, mas ele estava estranho. Nunca foi segredo que ele ama jogar no seu tempo livre, mas como estamos juntos, tudo foi muito bem ajustado para que pudéssemos curtir um ao outro, ele joga por um tempo, eu faço minha caminhada, danço um pouco e depois nos temos um momento só para nós: filme, série, um jogo diferente, karaokê, sexo e até mesmo ficar deitados apenas na presença um do outro, mas isso mudou nessa semana. Depois das nossas aulas o Vinnie começa a jogar e vai até às duas da manhã, logo depois banha e deita ao meu lado, por duas vezes eu o peguei me encarando por longo minutos, como se quisesse ler meus pensamentos através disso.
- Lilith, não viaja - Angel revirou os olhos enquanto no restaurante nós comiamos de frente uma para outra. - O Vinnie lambe o chão que você passa.
- Ele. Está. Estranho. - Pontuei mordendo um pedaço do pepino da minha salada.
- Do nada? - Ela olhou para a mesa a frente onde Julie sentava com Morgan. Depôs daquele dia na praia as duas se tornaram inseparáveis.
- Do nada - Suspirei fundo. - Eu juro que se aquele encantado estiver feito aquilo tudo pra me deixar morta de apaixonada para depois pisar em mim, eu corto o pau dele - afastei a bandeja de comida.
- Ah não - Angel mudou a feição e me fez virar para ver quem estava entrando. Brittney balançava seus cabelos loiros e lisos enquanto andava provocativa pelo pátio do local, vindo em minha direção. - Como é possível?
- Não faço ideia - Dei de ombros, fingindo não sentir o cheiro de problema. - Os fantasmas estão voltando a me atormentar. - rolei os olhos. A minha prima não deveria estar aqui.
Uma mulher magoada é capaz de tudo, eu bem sei.
- Que bom que encontrei vocês! - ela sorriu abertamente mas seu olhar entregava o ódio.
- Nossa, que bom! - Angel Ironizou rolando os olhos.
- Lilith, isso é um sonho! - foi estridente e falsamente feliz por me ver. - Eu consegui!
- Conseguiu um passeio para conhecer as faculdades que você vai aplicar no próximo ano? - Perguntei torcendo para ser isso.
- Não sua boba - Ela sentou ao meu lado. - Eu venci o concurso de bolsa para jovens gênios, eu gabaritei a prova de matemática e física - Quase cuspo meu suco na cara dela.
O concurso de jovens gênios da nossa escola é o mais difícil de toda a Califórnia. Impossível a garota que só sabia viver em função do namoro com um jogador de hóquei, ganhar isso, visto que eu dei aula de reforço nessas matérias para ela não reprovar esse ano.
- Como você conseguiu essa proeza? - Angel cruzou os braços.
- Me dediquei muito, ué - olhou com desdém para minha amiga. - Lilith soube bem me ensinar a ser ótima nos estudos e uma puta fora da escola - Me olhou cinicamente e eu rolei os olhos sorrindo. Aí está a Brittney que eu deixei para trás naquela escola de merda. A Brittney que evitava nos compromissos de família.
- Então vejo que você não aprendeu nada, vindo aqui fazer esse papel patético para me afetar - Bebi meu suco. - Sabemos que você não gosta de mim e sinceramente eu não sinto nada por você além de indiferença, então porque fingir que somos colegas nos reencontrando? - Atirei a sinceridade.
- Quero fazer amizade, afinal faremos o mesmo curso e temos sangue Montgomery correndo por nossas veias - Ela me olhou com um sorriso maléfico e eu tive que revidar para controlar a vontade de manda ela tomar no cu. O silêncio se estendeu para a conversa e ficamos encarando uma a outra, ela com desdém e eu com indiferença.
A presença do capitão do time de baseball, meu namorado, e seu time, atraiu os olhares de todos naquele restaurante. Vinnie parecia amadurecer rápido a cada semana que se passava, apesar de ter apenas 18 anos, as tatuagens, cabelos longos e o porte físico dava a ele no mínino quatro anos a mais. Meu corpo entrou em alerta quando Brittney olhou para eles e fixou o olhar no meu loirinho. Ao contrário de mim, que nunca me vi namorando um capitão de time qualquer, pois para mim, a maioria é fútil e ignorante, ela se deliciava com esse tipo.
- Quem é? - virou para mim e mordeu o lábio. Meu sangue pareceu borbulhar quando olhei seus olhos brilhando de desejo.
- Capitão do time de baseball - Angel respondeu com um sorriso divertido.
- Solteiro? - indagou sem tirar os olhos.
- Quer perguntar a ele? - Olhei para ela e posteriormente para ele. Vinnie já estava me olhando com uma mistura de felicidade e desconfiança. Ele tem me olhado assim a uma semana.
- Ele vai vi aqui? - Um sorriso brotou em seus lábios perversos e eu cerrei os dentes.
- Oh... Ele vai - Sorri maliciosa. - Talvez você tenha chamado atenção dele - o brilho de seus olhos aumentaram.
- Lilith, não iluda a garota - Angel disse olhando para as próprias unhas. - Ele namora, Brittney.
- Com qual líder de torcida loira e magra? - Apontou para o grupo de garotas e eu ri. - Esse tipo de garoto adora meninas assim, iguais a mim - Ela pensa que está em um filme adolescente.
- Ele namora comigo - sorri de lado e ela me olhou no olhos não crendo. - E veja só - Sorri de lado - Não sou loira, nem magra e muito menos branca. - Ela rolou os olhos. Meu pai é branco, olhos verdes totalmente diferente de mim, que sai com muitas características de minha mãe.
- Você não está mais namorando o pai do seu bebê? - Perguntou com a voz carregada de deboche, enquanto levava a mão ao peito. - Isso é uma pena, Lilith - Piscou com aqueles cílios alongados.
- Não tem bebê nenhum e Aaron não deve ser mensionado por você - Gruni vendo Angel ficar desconfortável em lembrar do irmão e da história. - Você já fez estrago suficiente.
- Eu te entendo, apenas dezessete anos e uma vida toda pela frente - Ela balançou a cabeça e fingiu se compadecer - Aaron já era um cara de faculdade - continuou despejando merda pela boca me fazendo sentir uma arrepio quando Vinnie começou a vir em minha direção.
- Esses não foram os meus motivos para...
- Matar um bebê?
- Cala a boca, Brittney. Eu não admito que minha história esteja saindo dessa sua boca imunda - Gruni cravando as minha unhas na coxa descoberta dela.
- Tira as unhas de mim ou eu vou...
- Apanhar? - Debochei.
- Contar ao seu namorado? - Ela sorriu de lado.
- Bom dia, contar o que? - Vinnie disse chegando a frente sem cadeira da mesa. Brittney me olhou com ódio e fingiu sorrir para Vinnie. - Tudo bem, amor?! Acordei sem você no quarto - Se curvou um pouco para beijar minha testa.
- Por enquanto sim - Sorri. Se fosse qualquer outra pessoa nesse inferno de mundo eu apresentaria o homem porque quem estou apaixonada. Mas essa criatura desprezível não merece isso.
- Não vai me apresentar, Lili? - Ela levantou.
- Não - Respondi suave bebendo outro gole.
- Eu mesma faço isso então.- Vinnie Fraziu o cenho achando aquilo vergonhoso e Angel revirou os olhos. Ela deu a volta para ficar a frente dele. - Eu sou Brittney Montgomery, estudei com Lilith por dois anos e somos primas - Entendeu a mão e Vinnie a pegou tentando sorrir o mais educado possível.
- Eu sou Vinnie, namorado dela - Me olhou com os olhos arregalados quando a garota beijou a bochecha dele.
- Capitão do time de baseball, não?! - Eu posso chutar que os olhos dela estavam brilhando enquanto olhava para ele.
- Sim, mas isso não é grande coisa, afinal - Ele riu fraco.
- É muita coisa sim - Ela abriu um sorriso malicioso.
- Bom, foi um prazer - Pela cara dele não foi não. - Mas eu preciso ir treinar, vejo você na aula - Vinnie disse para mim e logo me deu um selinho rápido se afastando com o rosto nitidamente confuso e envergonhado . - Angel, você está incrivelmente ridícula hoje, não sei como consegue - ele piscou para minha amiga e ela lhe deu dedo.
- Meus parabéns, lili.
- Meu aniversário já passou, neném. - Foda-se se eu estava sendo infantil.
- Você tem o cara mais bonito que eu já vi - Brittney me olhou novamente e eu juro que senti a minha bile querer sair pela minha boca.- Até quando eu não sei. Talvez um dia ele a troque por uma vadia qualquer que entrou na sua casa fingindo lhe ajudar.
- Como Jackson fez com você? - perguntei com desdém cruzando os braços.
- Jackson foi seduzido por você e pode ter certeza que eu vou fazer de tudo para que Vinnie seja também... Por mim - Segurei o riso.
Rivalidades feminina era a coisa mais ridícula do mundo.
- Eu duvido muito... e se isso acontecer, não terá muita emoção. Eu lhe dou ele de presente na hora - Encarei minha unhas dando de ombros.
- Vamos ver se na prática a teoria será essa - Foi a última coisa que ela disse antes de sair andando para fora do local.
- Ela realmente ainda acha que Jackson é a vítima? - Angel me perguntou espantada. - Até quando você vai ficar calada sobre isso?
- Isso não é importante - dei de ombros - Não é a primeira vez que um homem tenta abusar de mim e eu saio como a vadia. Estou acostumada com essa merda - Levantei arrumando meus cabelos.
- Ela não parece querer esquecer isso - Angel levantou também.
- Esse não é o meu problema - Peguei na mão da minha amiga e passei a puxa- A menos que ela volte a mencionar aquela história.
"- você tem certeza? - Angel me perguntou temerosa já que eu não parava de chorar um segundo.
- Eu queria não ter - Disse em meio ao choro - Eu não posso ser mãe, Angel. Não posso gerar uma criança sem riscos, sem medo. Eu não quero ser a mãe que vai deixá-la na escola prometendo comer cookie no lanche da tarde e voltar dentro de um caixão. Eu não consigo - Desabei em lágrimas novamente. - Sei que Aaron jamais vai me perdoar, mas isso não é só por mim e sim por esse feto. Ele não merece uma vida órfão. Isso não é um conto de fadas adolescente. Eu sou doente fodidamente doente, eu estou morrendo.
- Ei - Ela acariciou minha costas - Eu estou aqui e sempre irei apoiá-la. - Beijou minha bochecha molhada.
- Lilith Hela Montgomery? - A enfermeira me chamou. Levantei a mão relutante e respirei fundo. - Tudo bem? - Ela perguntou educadamente e eu assenti enxugando a lágrima. - Está de cinco semanas? - Assenti novamente. - É sua única companhia? - Apontou para Angel.
- Sim, ela é a única - Olhei com um sorriso triste para minha amiga.
- Tudo bem. - ela verificou algo na ficha - Você pode sentir mal estar, tontura, vertigem e vômito, mas é normal, seria bom vocês chamarem mais alguém - Sorriu simples.
- Ela tem a mim também - A voz de Aaron reverberou no corredor quase vazio. Meu coração disparou. Olhei agora ele com os olhos teimando a encher de lágrimas, mas segurei e pigarrei.
- Vamos? - A enfermeira me olhou.
- Sim - Levantei para segui-la mas Aaron segurou meu braço me fazendo encara-lo.
- Desculpe a demora. Eu só precisava de um tempo para aceitar sua decisão, é seu corpo, eu sei, respeito isso - Me disse com os olhos buscando os meus.
- Tudo bem, me espere aqui - Dei outro sorriso doloroso.
- Claro - Ele me correspondeu e beijou minha testa. Olhei para o corredor e para a porta onde a enfermeira me esperava.
Me perdoe, mãe! "
𓆙𝖁𝖎𝖓𝖓𝖎𝖊 𝕳𝖆𝖈𝖐𝖊𝖗𓆙
Tem algo que não sei e isso está me corroendo. Meu coração diz isso toda vez que olho para Lilith. Sei que sua mãe morreu bem nova e ela se criou somente com o pai a partir disso, mas isso não é suficiente quando olho nos olhos dela, eles me mostram felicidade, mas ao mesmo tempo me transmitem dor, medo, incerteza. Posso estar sendo um idiota que desconfia de tudo, mas a algo que ela ainda não quer contar.
Tentei não ser envenenado por Morgan na nossa última discussão, mas parece que não funcionou. Saber que Lilith já sabia da traição me magoou um pouco, eu sei que não éramos nada naquele momento, além de colegas de quarto que se alfinetavam, mas acho que ela poderia ter me dito antes, ou apenas me direcionar mais cedo. É muito para mim pensar que foi tudo pensado por ela, visando me ter, em minha humilde opinião, eu a quis primeiro, eu a desejei primeiro, eu me apaixonei primeiro, e tudo que fiz foi para afastá-la e não sucumbir a isso.
- Quem é aquela gostosa ali na arquibancada? - Victor veio em minha direção e apontou descaradamente para o local. A tal Brittney estava sentada com as pernas encruzadas e cara de malícia. Minha primeira impressão sobre ela é que tenta se parecer muito com Lilith, na forma de se comportar, mas isso não está combinando muito com ela.
- Brittney, prima de Lilith - Respondi voltando a segurar o taco na posição correta para rebater algumas bolas que Edward estava lançando. - Verifica se ela é solteira e vai fundo - dei de ombros rebatendo a primeira.
- Amigo, eu super quero, mas acho que ela está afim de você - Riu anasalado e pôs a mão em meu ombro.
- Espero que seu achismo esteja errado, eu sou um homem comprometido - Torci o lábio em um sorriso convencido. - Muito bem, por sinal.
- Isso não podemos negar - Ele falou malicioso. - Acho que o capitão me deu carta branca, essa gatinha vai para minha cama - Ele piscou para mim e olhou para ela por longos segundos. Brittney arrumou a postura e jogou os cabelos para trás da mesma forma que Lilith faz. Balancei minha cabeça e foquei no treino.
O tempo passou voando e logo eu já estava limpo para próxima aula. Ao sair do vestiário encontrei a Brittney no corredor olhando para suas unhas longas e afiadas pintadas de vermelho. Ela levantou a cabeça e me olhou sorrindo.
- Olá, Vinnie - Ela me olhou de baixo para cima e eu engoli seco desconfortável. - Só fiquei para dizer que de longe você é o melhor jogador. - enrolou um mexa no cabelo nos dedos. Eu só arremessei e testei algumas saídas correndo, não foi um ensaio para um jogo e ela já tirou essa conclusão.
- Obrigado - Forcei um sorriso. O silêncio se tornou constrangedor.
- Eu estava pesando se você poderia me ajudar a chegar a minha aula - abriu um sorriso e piscou os olhos várias vezes forçadamente. Odeio ter que dizer que ela era forçada demais.
- Claro, qual o curso? - Enfiei minhas mãos no bolso da calça jeans.
- Engenharia e preciso chegar a aula de cálculo integral - Aquilo me cheirou a encrenca Imediatamente.
- Então vamos para a mesma aula - Começei a andar e ela veio atrás.
- Isso vai ser bom - comentou animada e eu dei um meio sorriso. - Você namora a Lilith - Começou a dizer - Posso apostar que ela é a garota mais adorada por todos homens e algumas mulheres aqui.
- Talvez sim - Dei de ombros.
- Ela é assim mesmo e por mais que fique com vários, parece inalcançável.
- Ela não é inalcançável, eu a namoro... Então.
- Está brincando?! Você é o capitão do time, é claro que ela não recusaria. - Riu.
- Estamos juntos bem antes disso, na verdade dividimos o mesmo dormitório e eu não era um cara conhecido assim.
- Faz sentido - Ela pareceu pensar em algo - Ela gosta de coisas fora do padrão, assim como namorar um cara que já estava já na faculdade enquanto ela ainda tinha apenas 16 anos - Me virei instantâneamente. Lilith havia me dito que jamais namorou um homem antes de mim, Luna foi sua única namorada e não mora mais aqui na Califórnia.
- Na faculdade... Que louco! - Tentei parecer casual para que ela não visse que eu nunca fiquei sabendo disso.
- Aaron Liebregts é bem mais velho, cinco ou quatro anos se não me engano - Ela deu de ombros - Você deve saber, é o irmão de Angel - Lilith disse que tinha sido seu primeiro homem e não namorado.
- Conheço sim, é um cara legal - Ele era mesmo. Depois bebemos e conversámos um pouco sobre jogos, esportes e até mesmo tatuagens.
- Então ele melhorou agora, porque quando Lilith engravidou, ele não lidou bem com a escolha dela em abortar. - Eu estanquei no lugar. Todo o sangue do meu corpo pareceu ir para os pés.
- O que?! - Minha garganta secou.
- Por algum motivo ela não quis ter o bebê com ele e tomou essa decisão, mas era o corpo dela, ele não podia decidir sobre isso - Ela falou sem se virar - Ele implorou, disse que queria o bebê, que assumiria, mas Lilith foi irredutível, jovem e bonita e possivelmente seria bailarina, ela não queria estragar seu corpo com um bebê, e me desculpe a expressão, mas acho que foi isso que ela disse a ele. Me admiro ver ela tão bem depois disso tudo, foi a mais ou menos um ano, mas Lilith é fria e sabe o que quer, admiro a determinação dela, eu ficaria péssima após um abor...- Continuou tagarelando mas notou que eu estava parado. - Vinnie, está tudo bem? Você está bem pálido - Me olhou confusa. - Você não sabia? Meu Deus, o que eu fiz! - Levou a mão a boca e arregalou os olhos.
- Eu não estou entendendo - Foi o que eu consegui pronunciar.
- Me desculpe. Foi um erro - foi se afastando de mim - Espero que Lilith conte um dia a você, eu não posso falar mais nada - Brittney saiu correndo me deixando no meio do corredor estático.
Namoro com Aaron Liebregts.
Grávidez.
Aborto.
Mais um segredo, uma mentira, um acontecimento marcante escondido de mim.
Que merda é essa?
O que mais Lilith esconde?
Como eu vou engolir isso e agir normal?