— Leve isso pra ela, ela precisa comer algo e descansar. - Anikka disse após colocar uma jarra de vidro pequena sobre a bandeja que preparou para Jade.
Ela coçou a cabeça pensativa e mexeu os lábios num bico, pensativa. Não sabia se Jade comeria tudo aquilo, ou se estava mandando os alimentos certos para ela. Na bandeja havia alguns morangos, sanduíche de peito de peru com queijo suco de laranja e quatro pedaços de brownie. Pelo que se lembrava Jade era apaixonada por sanduíche de peito de peru.
— Certeza que a pressão dela abaixou por que ela não comeu? Pra mim isso parece ser outra coisa. - Andrea, a amiga de Anikka comentou num tom desconfiado. - Alguma coisa a deixou surpresa.
— Surpresa com o que? - Perrie indagou parecendo desinteressada, olhos fixos no celular em sua mãos e cotovelos apoiados no balcão.
Na verdade ela estava prestes a ter um enfarto ao perceber que nos últimos cinco meses Jade tentou de todas as maneiras se comunicar com ela, e ela não viu nenhuma mensagem ou ligação por que o celular que ela usou em Los Tenis foi outro. Ela não era boba, sabia que a primeira coisa que Anikka faria depois que ela voltasse para casa era procurar por algo suspeito, então usou durante - toda -, a viagem um modelo antigo de celular, que nós últimos meses ficou guardado, esquecido dentro da bolsa.
Perrie também não era boba de deixa- lo em casa para que Anikka visse, e muito menos para dar um fim no aparelho, ela poderia precisar.
— Por que está com esse celular, não é o modelo antigo? — Andrea perguntou chamando a atenção de Anikka para Perrie e o aparelho em suas mãos.
— Coisa de trabalho, Andrea. - Perrie se levantou e guardou o celular no bolso, prendeu o cabelo num coque no topo da cabeça enquanto caminhava até Anikka.
— Quer que eu leve enquanto você receber os outros convidados amor?
Anikka assentiu sorrindo. Não que ela não quisesse cuidar de Jade, ver como ela estava, mas achava que receber suas outras amigas podia ser mais importante. Jade já havia ganhado atenção demais, agora era sua vez. Com um beijo rápido Anikka se despediu da noiva e saiu rapidamente da cozinha, deixando Andrea e Perrie sozinha. A morena de olhos verdes então encarou Perrie por um tempo, não parecendo nada amigável. Devagar ela desceu da bancada e caminhou até Perrie pagando poucos centímetros para trás.
— Eu não sou Anikka, você não me engana Perrie, eu não caí naquela história de pressão baixa. Notei os olhares entre vocês duas. — disse, encarando Perrie.
Perrie estremeceu. Anikka não podia se quer sonhar com sua traição caso contrário ela nunca a perdoaria e Perrie nunca se tornaria presidente da empresa do sogro. Por isso, mesmo que quisesse explodir, ela deu seu sorriso mais cínico e se fez de desentendida.
— Não sei do que está falando, Andrea. - pegou a bandeja em suas mãos. - Vou isso pra... Como é o nome dela? — franziu o cenho, fingindo esquecimento.
— Jade. — Andrea respondeu entre dentes.
— Isso. — Perrie sorriu. — Para a Jade. E você pare de criar histórias na sua cabeça. Eu vou me casar com a Anikka e já está mais que na hora de você aceitar que foi jogada para escanteio Andrea. - com um sorrisinho provocante, Perrie saiu da cozinha carregando a bandeja deixando Andrea vermelha de raiva.
Andrea, durante anos de sua vida - quase toda ela na verdade -, foi apaixonada por Anikka, desde a mínima qualidade até seu maior defeito. Anikka era seu sonho não realizado. Desde que conheceu Perrie, a loira nunca teve olhos para mais ninguém e isso fez com que Andrea desistisse de uma vez por todas de conquistar Anikka. Mas algo em seu coração gritava que se não fosse por Perrie ela é quem iria se casar com Anikka, e ela sim a faria feliz.
Algo em Perrie era estranho. Algo nela era suspeito e Andrea sabia de suas escapadas, sabia que faltava sentimento ali, sabia que amor não era o que movia aquela união, não por parte de Perrie pelo menos. Mas avisar Anikka não funcionava, ela parecia não querer ver a realidade e Perrie era bem discreta com suas traições, por isso Andrea não tinha como prova absolutamente nada.
Andrea se viu sem saída, suspirou para manter- se calma e caminhou devagar para a varanda junto com as outras amigas, mas ela não desistiria fácil. Algo em Perrie e Jade era estranho, a surpresa nos olhos de Perrie quando à viu, ninguém notou, mas Andrea percebeu o balançar sutil de cabeça confirmando algo, e ela iria descobrir o que era.
Já na escadas, rumo ao segundo andar da casa Perrie tinha as pernas bambas como galhos finos de árvores numa tempestade, a cada passo seu coração batia mais e mais forte. Não era possível que aquele bebê era dela, era? Que bobagem, ela sabia que sim. As mensagens de voz desesperadas de Jade para ela nos últimos meses deixava isso muito claro, límpido como água.
Mas ela pretendia tirar aquela história a limpo naquele momento.
Com um pouco de dificuldade abriu a porta do quarto, e para a sua surpresa, e aliviar um pouco as batidas de seu coração, ele e estava vazio, nenhum sinal de Jade por ali. Mas ela sabia que aquele quarto era dela, suas malas - que ela mesma ajudou a tirar do carro -, estavam todas no chão ao lado da cama. Ela entrou devagar e empurrou a porta com o pé para que se fechasse.
- Jade? - chamou um pouco baixo, olhando ao redor. Deixou a bandeja na mesa redonda da sacada do quarto, e pode ver rapidamente Anikka, Andrea e as outras amigas na areia da praia caminhando rumo ao mar.
Para a sorte de Perrie - ou não -, quando Andrea estava ao lado de Anikka não prestava atenção em mais nada.
Sem obter nenhuma resposta, Perrie começou a caminhar devagar até o banheiro, e quando viu a porta entreaberta seu coração voltou a bater forte. Ela foi o mais silenciosa que podia andando quase na ponta dos pés até chegar a porta, se encostou ali e viu a cena que considerou a mais linda de todas.
Jade tinha acabado de sair do banho, o cabelo estava preso, úmido, num coque no topo de sua cabeça, e ela cantarolava baixo, passando óleo em sua barriga. Perrie sorriu pequeno. Era o seu bebê ali, ela sempre sonhou ser mãe, e agora, mesmo que de uma forma muito errada ela iria ser, seu bebê estava bem ali, sendo gerado por Jade.
Naquele momento Perrie se lembrou da noite que tiveram juntas na boate, o cheiro de baunilha, aquele mesmo cheiro estava presente no banheiro. Seu corpo agora estava diferente, com alguns quilos a mais, ela não podia negar, marcas que antes - pelo que pode reparar -, não estavam ali, mas disso deixou Jade menos linda ou atraente, pelo contrário. Perrie já conseguia sentir seu corpo esquentar. Mas aquela não era a hora.
Jade sentiu algo estranho, um olhar pairando sobre ela. Franziu o cenho e levou os olhos para a porta sentindo o coração acelerar ao ver aqueles olhos azuis a encarando, prestando atenção em casa detalhe do seu corpo, principalmente na barriga dela, aonde os bebês dela estavam sendo gerados e tão desejados, até mesmo por Perrie que descobrira há poucas horas.
- Desculpe eu só vim trazer algo pra comer... - Perrie disse quando os olhares se encontraram, suas bochechas estavam vermelhas de vergonha.
Jade se cobriu o mais rápido que pôde. Perrie era noiva de sua amiga, aquilo não deveria estar acontecendo. Mas admitia a si mesmo que se fosse em outra ocasião, adoraria ter os olhos azuis em seu corpo, e não conseguia não pensar nisso, por mais errado que fosse. Afinal, ela conheceu Perrie como Louise, uma mulher linda e solteira.
- Você está tão linda. - Perrie sussurou, mas Jade não conseguiu ouvir. Seus olhos voltaram para a barriga, agora coberta por uma toalha laranja.
- Não fuja de mim de novo Louise, eu preciso falar com você. - Jade disse seria, caminhou firme até a porta e bateu no rosto de Perrie.
Perrie sentou- se na cama de Jade e colocou as mãos sobre as pernas. Ela estava ansiosa para falar sobre aquilo, ansiosa para ser mãe, mas nervosa ao pensar em como lidaria com isso sem acabar com o seu casamento. Terminar com Anikka significava um adeus a sua vida de sucesso como arquiteta, sua ascensão iria por água a baixo e ela acabaria sem dinheiro para manter seu padrão alto de vida, e graças ao pai de Anikka, que não aceitaria o que Perrie fez com sua filha, ela jamais conseguiria um bom emprego novamente, e isso significava ter que voltar para Londres, para a casa dos seus pais.
Isso definitivamente seria o fim para ela, mas o que fazer?
Perrie queria ser mãe, era o seu sonho, mas estava logo depois de ter uma carreira incrível e dinheiro e Anikka trazia isso tão fácil para ela, como recusar, como jogar fora? Era a oportunidade da vida, Perrie não conseguiria. E ela sentia, sentia que seu coração batia forte por Jade, mas acreditava ser nervosismo apenas, e sobre lembrar dela nos últimos cinco meses? Bom, o sexo foi bom e inesperado, essas são lembranças que não deixam a mente de alguém assim tão facilmente.
Jade saiu do banheiro, mas agora estava vestida adequadamente, usando um blusão preto com estampa de desenhos animados, o cabelo estava úmido e solto. O cheiro de baunilha se espalhou pelo quarto, tanto que Perrie já nem sentia mais os dos brownies de Anikka. Amélia caminhou devagar até Perrie e parou na sua frente, tentando não ficar nervosa com os olhos azuis mais intensos que ela já viu em sua vida, fixos em seu rosto gordinho.
- Você fugiu de mim por cinco meses, você não me atendeu, recusou as ligações, mas isso não é nem o pior. - Jade estava sentindo que iria explodir, sua voz já estava mais alta do que ela pretendia, e sentia a raiva saindo pelos poros naquele momento. - Você mentiu que era solteira, mentiu seu nome...
- Tecnicamente, eu ainda me chamo Louise. - respondeu cinicamente. Jade odiava pessoas cínicas.
- Cala a boca! - se exaltou, fechando os olhos por um breve momento.
- Ok. - Perrie sussurou.
- Você é noiva da sua minha amiga de infância, você foi desonesta comigo, mas pior ainda com ela! Nossos pais ainda se conhecem, você... O que eu vou dizer para os pais dela, para os meus pais! Vão todos achar que eu seduzi você, quando você que é a mais errada aqui! E o que vamos fazer, em? Você pretende assumir meus filhos pelo menos depois que nós descermos lá e contarmos para a Nick. - finalizou respirando fundo, ela já estava ficando tonta mais uma vez, por isso se sentou ao lado de Perrie na cama.
Perrie se levantou em desespero assustando Jade. Aquilo não podia acontecer nem nos piores pesadelos de Perrie ou seria o fim de sua vida.
- Nós não vamos falar nada pra Anikka.
Jade a olhou indignada.
- Não podemos por que ela vai acabar com o nosso casamento.
Os ombros se Jade desceram devagar. Antes de tudo, antes de descobrir as mentiras e o quão caótica era a situação em que estava envolvida, Jade tinha esperança, afinal, ela estava levemente apaixonada pela outra mãe de seus bebês, mas agora sabia o quanto aquilo era errado, mas não podia controlar seus sentimentos e muito menos a decepção de ouvir o que ouviu.
- Então você não vai assumir os seus filhos?! - Jade gritou com raiva, levantou mais rápido do que imaginou que conseguia e começou a jogar as almofadas que decoravam a cama em Perrie.
- Para isso, sua louca! - Perrie gritou protegendo o rosto com as mãos, do ataque de fúria de Jade. - Como assim bebês? Eu vou ter dois... Aí! - exclamou quando o controle da televisão bateu em sua perna.
Era possível a situação ficar ainda mais complicada do que já estava? Perrie agora estava se sentindo mal e feliz ao mesmo tempo. Ela teria dois filhos? Isso era incrível, se não fosse tão complicado... Como solucionar isso?
- Louca eu estava quando transei com você! E eu, eu... - Jade deu ênfase.
- Vou ter dois filhos?- indagou com um sorriso.
- Você não vai ter nada! Maldita! Mentirosa!
Perrie correu para dentro do banheiro quando viu Jade com um vaso de flores de vidro nas mãos, jogando as lindas rosas vermelhas que cada madrinha tinha recebido seu quarto, pra desejar boas vindas, na cara de Perrie, com água, vaso e tudo mais. Quando a porta bateu Perrie ouviu o vidro quebrar na parede. Colocou a mão no peito tentando voltar a respirar e raciocinar.
"Além de linda é louca!" Pensou.
- Dois filhos? Meu Deus... - sussurrou para si mesma, o sorriso eu seu rosto crescia. - Eu vou ser mãe de dois bebês. - seus olhos lacrimejaram.
Por um momento ela se esqueceu de toda aquela loucura. A felicidade dominou seu coração e ela queria rir, chorar, pular. Era o seu sonho, ela não desejava nada mais do que aquilo em sua vida - e ser rica não era um desejo para ela, era uma realidade, algo que nada destruiria -, duas pequenas cópias suas, isso era adorável. E agora é que ela precisava se casar com Anikka, tinha que ter dinheiro para sustentar seus dois filhos. Boas escolas, atividades extracurriculares, e uma vida confortável que toda criança merece não saíram barato, e ela poderia se divorciar de Anikka em alguns anos contando alguma mentira.
- Sua cretina! - Jade gritou batendo já porta com os punhos cerrados trazendo Perrie para a realidade.
Ela precisava fazer Jade calar a boca.
Perrie respirou fundo e deixou o medo de lado. Abriu a porta rapidamente e antes de Jade gritasse mais tapou sua boca com as mãos e a carregou para dentro do banheiro, trancou a porta com dificuldade enquanto Jade se remexia sem parar para se soltar de seu aperto. Louise soltou Perrie e colocou a chave dentro do biquíni.
- Para de gritar, por que eu só tiro você daqui se você parar. - disse baixo e séria.
- Acha que eu não tenho coragem de arrancar esse biquíni de você? Em? - disse alterada e ofegante mas sem gritar.
- Se me deixar pelada aqui... - sorriu de lado. - nós só saímos depois que eu fizer você gemer meu nome de novo.
Jade se calou, ficando com o rosto vermelho como um tomate.
- Ótimo. - Perrie prendeu o cabelo num coque e se abanou com as mãos. - Eu não vou deixar você criar os bebês... São dois mesmo? - fez sinal com os dedos sorrindo grande.
- Sim. - Jade conteu o sorriso. Ela já sentia os bebês agitados com toda aquela confusão.
- Você não vai criar eles sozinha, eu vou ser presente e ajudar com tudo. - disse, deixando Jade mais aliviada. - Espera tudo isso acabar, nós voltarmos pra casa e eu conto pra ela. - Perrie mentiu com a cara mais lavada do mundo, sentindo alívio quando a expressão de Jade suavizou. - E eu não recusei suas ligações eu...
- Já ouvi o bastante. E você tem até a próxima segunda para contar a ela. - Jade suspirou. Sentiu um peso sair de seus ombros. - Eu vou embora amanhã cedo, não sei se estou bem para...
- Se você for embora agora vão achar estranho, uma amiga dela já está suspeitando de nós. - Perrie a interrompeu. - Mas se for algo com os meus filhos eu mesma te levo embora.
- Que amiga? - Jade perguntou, franzindo o cenho. Era o que faltava, ser tratada como um traidora.
- Andrea, é complicado. É alguma coisa com os bebês. - se aproximou de Jade tentando tocar sua barriga mas Jade se afastou.
- Não. - respondeu baixo.
- Então fica. Eu vou contar. - afirmou olhando em seus olhos.
Mentir era tão fácil para ela.
- Ok. Abre a porta que eu quero sair, vi que tem uma bandeja ali fora, e eu estou fome. - Jade andou para a porta ficando de costas para a loira.
- Claro. - Perrie tirou as chaves dos seios e abriu a porta. - Vou mandar limparem isso aqui. - disse.
- Faz o que quiser. - Jade respondeu com descaso, indo para a sacada.
Perrie saiu do quarto radiante. A primeira parte do seu plano ainda não formulado por inteiro já estava concluída. Agora ela só precisava fazer Jade acreditar que Anikka sabia e tinha aceitado e quem sabe, daqui há alguns meses Jade não quisesse destruir seu casamento.