Após todas as aulas acabarem, Amelie encontro Timothée em frente a escola, conversando com Gilbert Blythe, um garoto que Ruby era totalmente apaixonada. Amelie já tentou falar com o mesmo diversas vezes, mas sempre suas amigas vinham com a mesma ladainha...
Ela não podia nem chegar perto dele, que Ruby começava a chorar, ela não a culpava, mas não deixava de ser insuportável.
Antes de seguir seu caminho para casa, ouviu passos ao seu lado, vendo Timothée que a acompanhava em total silêncio. O que era estranho, já que foi um pouco grossa hoje mais cedo.
— Está me seguindo? — Ela poderia estar sendo indelicada, mas não tinha se acostumado com a presença do menino ainda.
— Oh, não! Desculpe se te deixei desconfortável, este é o caminho para minha casa também. — Ele sorriu... e Amelie corou de vergonha, se xingando mentalmente por isso.
Ela ficou em silêncio o caminho inteiro, era muito orgulhosa para ceder e se desculpar com Timothée, sabia que tinha errado hoje cedo, por ser tão egoísta e infantil.
Ao final do caminho, eles foram para lados diferentes, se despedindo apenas com um aceno e um sorriso por educação. Amelie foi o resto da caminhada até a sua casa, inteira pensando como idiota foi, como sua mãe reagiria ao saber que dispensou ajuda de um menino rico e bonito? Com certeza série deserdada.
ao pisar no batente da porta, ouviu sua mãe dizer para tirar suas botas para não sujar a casa de terra. Então assim o fez, tirou seus sapatos entrando em casa, vendo sua mãe costurando um lindo vestido branco com detalhes em vermelhos e laranjas.
Amelie colocou seus materiais em cima da mesa, se sentando ao lado de sua mãe na cadeira vaga.
— como foi a escola hoje, querida? — Ela perguntou com um sorriso no rosto. —
— ótima. — Amelie não iria dizer que foi agarrada por Billy, salva por um garoto francês, rico e lindo, e que invés de agradecer a salvação, apenas foi egoísta e grossa.
— fico feliz. Eu fiz a comida, está dentro daquela panela, já está morno. — Ela a avisou continuando a bordar uma pequena flor no vestido.— Estou fazendo este para você, o que acha das cores?
— Maravilhosas, Mãe. — Amelie sorriu —
Desde que seu pai faleceu, sua mãe vem tentando a agradar com as mínimas coisas que conseguia, até um pequeno pedaço de torta de maçã. E Amelie amava isso, gostava de ver sua mãe lutando contra o luto que carrega, faria de tudo para trazer seu pai de volta e ver sua mãe feliz, mas como não é possível, ela tenta ser uma pessoa que a mesma se orgulhe.
— o que está fazendo parada aí? Suba e troque de roupa para comer. — Amelie iria subir, mas sua mãe a impediu. — Esqueci de te perguntar, querida. Viu os novos moradores? Soube que são podres de ricos e são franceses, pelo o que eu me lembra são os... cha... cha, você entendeu.
Amelie encarou a mais velha, tentando buscar na sua mente alguém... até chegar em Timothée, esse pensamento a fez revirar os olhos. Mas a curiosidade falou mais alto, foi até a janela, vendo o enorme casarão um pouco distante, cercado por árvores um pouco altas e flores de diversas cores. Amelie suspirou em negação.
— Eu fiquei surpresa em saber também. É um pouco difícil famílias ricas virem para Avonlea. — Ela concluiu — Eles tem um filho, é um amor de pessoa, super educado, veio me entregar temperos da frança e alguns muffins. Inclusive acho que está estudando em sua escola. Não o viu ainda?
O corpo da garota gelou, sua mãe não suportava mentiras... e se ela descobrisse a verdade? Mas como ela iria descobrir? Antes de qualquer coisa, a seguinte frase saiu dos lábios dela:
— não.
sua mãe a encarou estranha, mas deixou passar. Quando se lembrou de algo.
— Aí amor. Eu acabei me esquecendo completamente.
ela se levantou indo até o forno, onde saiu uma torta quentinha de frutas vermelhas. Uma das especialidades de sua mãe era cozinhar.
— poderia levar está torta aos novos moradores? — Ela sorriu, colocando a torta dentro de uma cesta.
— para os Chalamet? — Amelie a encarou, torcendo para que a mãe mudasse de ideia, não queria encarar o par de olhos verdes tão cedo.
— Isso! Não sei pronunciar o nome direito, querida. Mas nem pense que vai com está roupa, coloque algo mais elegante, como aquele seu vestido rosa e branco com mangas bufantes. Precisamos passar uma boa impressão.
Amelie bufou, subindo para o seu quarto, procurando o tal do vestido com mangas bufantes em meio de tantos vestidos costurados pela Mãe.
Ela desceu já vestida para a cozinha, ajeitando seu chapéu e os cabelos ruivos. Meg entregou a cesta para filha, dando as instruções do que deveria fazer.
e assim ela saiu de casa, batendo suas botas marrons desgastadas no chão, enquanto se sentia ridícula, indo com esse vestido — que não era feio, apenas vergonhoso — encontrar o garoto que foi grossa.
demorou alguns minutos para chegar, já que Amelie foi andando o mais devagar que conseguia, parando em alguns lugares para catar flores e colocá-las em seu chapéu. Quando percebeu, estava em frente ao casarão dos Chalamet, a famosa família francesa de Avonlea.
Amelie bateu na porta cuidadosamente, enquanto esperava, ficou observando as flores bonitas no chão. Quando a porta finalmente foi aberta por uma mulher, que enxugava suas mãos em seu avental. Ela sorriu ao ver Amelie.
— Olá senhorita. — Ela respondeu simpática. — Sou a Ashley, o que deseja?
Antes que ela pudesse abrir a boca para responder, ouviu uma voz masculina se aproximando, quando viu, era Timothée, ele segurava um livro com capa de couro, e usava roupas diferentes das que foi para a escola. Ele dispensou Ashley com um jeito educado de sempre, pairando seus olhos em Amelie. Timothée sorriu, de como a garota estava adorável com o chapéu cheio de flores de diversas cores diferentes.
— Oh, vejamos quem é. — Ele brincou, se apoiando na porta. — Amelie Laurence, que surpresa te ver. O que deseja?
A educação e o jeito galanteador do rapaz com certeza deixava Amelie surpreendida e até sem jeito.
— Minha mãe pediu para te entregar isto. — Ela tirou a torta de frutas vermelhas da cestinha a entregando para Timothée. — Como forma de agradecimento pelos temperos franceses e os muffins.
— Sabor de frutas vermelhas são o meu sabor favorito para uma torta. — Ele comentou
E o silêncio constrangedor pairou, Amelie não sabia como começar a pedir desculpas e Timothée a esperava dizer alguma coisa.
— Me desculpe. — Ela falou de vez, sentindo seu orgulho ser furado aos poucos. O garoto a encarou curioso e com dúvida. — Me desculpe por hoje na escola. Não foi minha intenção ser grossa... na verdade, foi sim. Mas acho que fui imatura e infantil, você me ajudou e eu fui egoísta.
Timothée sorriu com o pedido desajeitado de desculpas da garota ruiva em sua frente.
— Está tudo bem Amelie. Eu realmente te entendo. E não fiquei magoado ou coisa do tipo.
— Jura? Eu... eu demorei tanto tempo para pensar no que dizer... — Ela procurou palavras, mas nenhuma veio a sua mente.
— Você não precisa pensar muito em pedidos de desculpas. Apenas fale os fatos e se desculpe pelo o que errou. — Ele disse simples. — Mas está tudo bem, eu juro.
Amelie sorriu aliviada.
agora o silêncio se instalou, mas dessa vez um silêncio confortável, de como duas pessoas se resolveram rápido e sem brigar, já que tanto Amelie e Timothée odiavam brigas, talvez seja pelo jeito orgulhoso e tímido de Amelie e pelo jeito calmo e sereno de Timothée.
— Eu nunca te perguntei isso, mas hoje quando nos conhecemos na escola, você estava com sua mão pintada de verde. O que aconteceu? — Ele pegou na mão da garota, notando as pequenas manchas coloridas nas palmas das mãos.
— Ah! São tintas. Demoram para sair completamente da pele. — Ela explicou.
— Então quer dizer que você pinta? — Timothée parecia realmente interessado, o que a deixava animada.
Amelie passou alguns minutos conversando sobre pinturas com o garoto, quando infelizmente, seu pai chegou por trás do mesmo, o obrigando a voltar para as aulas de piano. Ele se despediu um pouco chateado, e agradeceu pela torta e finalmente a porta foi fechada. Antes de sair, ela continuou por alguns momentos encarando a porta, sentindo a brisa de Avonlea balançando seus cabelos.